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Por Henrique Packter 08/10/2020 - 17:26 Atualizado em 08/10/2020 - 17:27

Em Urupema

CHATÔ como já se disse, era bom de cama. Deitou e imediatamente ferrou no sono, roncando adoidado até 5 e meia da manhã numa cama improvisada. Acordado com fortes safanões, conhece o guia André, providenciado por Thibes, um polaco louro, mas rústico  como um bugre escreveria Chatô  Seria sua companhia até Urupema. Chatô não pode  deixar de rir-se da própria indumentária, vestida até com certa elegância. Entre os acessórios  estavam chapéu de aba larga, presente do engenheiro Baldassini, construtor de seu jornal no RJ, uma capa azul da Casa Burberry, Londres, ambos nunca antes usados. Montam e somem na escuridão.

Inicia a longa cavalgada

Chove o tempo todo. Homens e animais sobem a serra por 9 horas  seguidas. Cerca das 2 da tarde Chatô estava descadeirado  e tinha nádegas e pernas assadas pelo atrito com os arreios.

Chegam à fazenda de Maneco Arruda,  uma vez que Jango  Mattos, indicado por Rupp, falecera em acidente com arma de caça. Almoçados fartamente com carne  de caça, o dia ainda não escurecera quando guia e jornalista caem sobre camas às pressas arranjadas. Despertados às 4 da manhã fazem rápida refeição.   Chuva inclemente continuava sem dar tréguas e Chatô usava emplastros providenciados pela mulher de Arruda para aliviar as virilhas em carne viva  pela cavalgada. Antes do dia clarear  estão em Painel. Dali em diante seria guiado por Dinarte Couto Arruda, fazendeiro e presidente do Partido Republicano na região.

Chatô fica sabendo que o novo guia seria sua companhia até Monte Alegre. Dali a São Joaquim, era uma reta de 2 léguas que percorreria sozinho. Coisa de uma hora a cavalo.

Chateaubriand em São Joaquim

O chefe local da Aliança em São Joaquim era João Palma, a  cidade totalmente favorável ao golpe de 30, getulista, portanto. Chico Palma, terceiro dos irmãos Palma, tinha um arsenal em mãos, mais de 80 armas de fogo. Já no dia 4, sabedores que a revolução começara em POA,  cercaram o alojamento de madeira de 10 soldados comandados por um tenente. Eles se renderam a 100 civis armados,  sem esboçar reação.  O autoproclamado major Bibiano Rodrigues Lima comandava um destacamento, distribuindo patentes militares de capitão e tenente revolucionário a seus homens de confiança. Quando Chatô chega à cidade, ela estava sob total domínio das forças  getulistas. Situada a uma altitude de 1.354 metros tem população estimada em 2019 de 26.952 habitantes. Situada no Planalto Serrano, dista 85 km de Lages e 232 km de Florianópolis. A cidade conta com uma grande diversidade étnica, composta principalmente por descendentes de portugueses, alemães, italianos, japoneses e indígenas. Grande parte da população migrou de outros estados, principalmente do RS.

Chatô chega a São Joaquim sem as cartas de recomendação escritas por Rupp Júnior, sem documentos, sem dinheiro. Chega debaixo de chuva que teimava em continuar já fazia três dias. O tempo era frio quase insuportável e a capa azul não protegia do tempo inclemente. Ademais, obrigava-se a caminhar com as pernas bem arqueadas: as assaduras provocavam sensação muito dolorosa ao andar. Já fazia três dias de uma viagem programada para poucas horas. Bate à porta do farmacêutico Hilário Blayer, a quem conta suas desditas. Para quem ouvia, a coisa toda era inverossímil. Deixa Chatô diante do balcão da botica e parte em busca dos três irmãos Palma, que logo chegam. O Major Bibiano também vem a reboque mais capitães e tenentes. Todos armados até os dentes e má catadura, o que assustou Chatô, obrigado a repetir sua história.  Bibiano  era um paisano sanguinário, ansioso por vingar o pai, morto em Lages, num dos tantos entreveros políticos da região.  Chatô viu sua história ser ouvida com incredulidade e desdém.

Por Henrique Packter 05/10/2020 - 12:05

Já vimos que o jornalista Assis Chateaubriand embarcou a 3.10.1930 no RJ, noventa anos atrás,  em hidroavião da empresa Condor, pilotado por dois aviadores alemães, com destino a POA para se juntar às tropas revolucionárias comandadas por Getúlio Vargas e Góis Monteiro. Marchava o RS rumo ao RJ para derrubar o governo do presidente Washington Luís. A viagem de Chatô teria duração de poucas horas com escala prevista em Florianópolis. O terrível mau tempo, as chuvas incessantes e a revolução em marcha interrompem o voo na capital catarinense, onde Chatô soube que sua prisão fora decretada pelo governado Fúlvio Aducci, leal ao governo federal. Chatô procura Nereu Ramos (que estava em POA) e depois Henrique Rupp Jr.

Rupp  oferece refúgio em sítio seu, próximo a Florianópolis, coisa que CHATÔ recusa. Só aceita solução que o leve a POA. Então, de Florianópolis viajaria de carro a Bom Retiro (3 horas e meia), Dali a cavalo pelos altos da Serra do Mar a Urubici (37 km) e, sempre a cavalo, até São Joaquim (61 km). Onze horas de noite escura, CHATÔ mais motorista são embarcados por Rupp rumo a Bom Retiro. CHATÔ vestia batina negra.

Dois carros participam da fuga. Num dos carros vão motorista desarmado e CHATÔ. No carro de trás 3 homens armados davam proteção. Faltando 15 minutos para a meia-noite Rupp entrega 3 cartas a CHATÔ. Uma delas para Gerôncio Thibes  em Bom Retiro que forneceria meios para que alcançasse São Joaquim. A segunda e terceira  para João e Antônio Palma e ao farmacêutico Hilário Blayer,  todos conspiradores da Aliança Liberal,  liderada por Vargas.

Batina  sobre o terno, nas mãos  capa e chapéu, começa a viagem debaixo de chuva que  enlameava a estrada. O motorista para  o carro e coloca correntes nas rodas. O mesmo fez o carro de segurança 5 km atrás. Perto das 3 horas da manhã próximos a Bom Retiro dois troncos atravessados na estrada impedem a passagem do     carro. Era tosco posto policial, guardado por dois soldados armados de fuzil. Eles indagam se poderiam dar notícia do jornalista Assis Chateaubriand  cuja prisão fora decretada pelo governador. Teriam cruzado com algum veículo suspeito? CHATÔ pediu para ler o telegrama assinado por Marinho Lobo , chefe de polícia. Documento lido, CHATÔ denuncia o carro de segurança como possível viatura que estaria dando fuga ao jornalista. Passam a correr pela estrada estreita e sinuosa, parando adiante para derrubar o poste de telégrafo que foi atravessado na estrada com o fio   cortado. Chegam em Bom Retiro então vilazinha de meia dúzia de casas, igreja protestante, hospedaria, botequim e farmácia.. Acordam morador que os atende, lamparina numa das mãos, fuzil na outra. Dá o endereço de Gerôncio Thibes, morador numa chácara.

Hóspede de Thibes em Bom Retiro

Apresentada e lida a carta de Rupp Júnior, Chatô queima as cartas de apresentação de Rupp para São Joaquim,  mais a batina. 

Thibes explica que a trilha entre Urubici e São Joaquim fora destruída pelas chuvas incessantes. Precisava usar caminho alternativo, duas vezes mais longo, para São Joaquim. Melhor, aconselhou, era sair de Bom Retiro a cavalo até Canoa e Urupema. A cavalo porque a essa altura o carro utilizado já fora identificado pelos legalistas. Dormiria em Urupema seguindo até Painel onde atravessaria o rio e a serra do Lava-Tudo, só então chegando a São Joaquim

Por Henrique Packter 29/09/2020 - 19:35

O jornalista FRANCISCO DE ASSIS CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELLO (Chatô) dono do poderoso DIÁRIOS ASSOCIADOS, chega ao aeroporto do cais Pharoux, RJ, para apanhar o hidroavião que o levaria a juntar-se às forças revolucionárias gaúchas. Inicia viagem RJ-POA às 5,30 horas de chuvosa sexta-feira, 3.10.1930, embarcando no Junkers G-24 da CONDOR. Soubesse ele dos dissabores que o esperavam nos 7 dias seguintes, esqueceria a viagem.
Era proibido fumar em qualquer momento do voo ou portar arma de fogo nos hidroaviões. CHATÔ entregou revólver e charutos.
Más condições meteorológicas obrigam o piloto Heinz Puetz voar a 50 m de altura com 9 passageiros, enfrentando tempo terrível no avião lotado.  Vencem os 300 km até Santos em 4 angustiantes horas.

Reabastecido, o avião decola e  avança menos de 150 km. Tempo ruim, teto precário faz Puetz pousar na estreita faixa entre Ilha Comprida e continente. Voa os 50 km seguintes com os flutuadores esquiando sobre as águas do canal. Pelo meio-dia piora o tempo que já era ruim, Puetz desliga os motores e o avião flutua diante de Cananéia e seus dois canhões coloniais. Às 3 da tarde, quando deveria sobrevoar POA, Puetz decola, avisando que avançariam 70 km até Paranaguá, onde pernoitariam.

Chegam às 17 horas  e partem às 6,30 da manhã seguinte com sol e tudo, mas ainda sem notícias do movimento revolucionário. Puetz calcula em duas horas a viagem a POA com rápida escala em Florianópolis. Aqui, telegrama em alemão aguarda o piloto: a situação está muito difícil em POA, única frase que CHATÔ consegue ler. Cancelado restante do voo, a viagem terminava em Florianópolis. O pior estava por vir. Em São Joaquim, a 120 km, a cidade preparava-se para acontecimentos verdadeiramente inacreditáveis na história da revolução e do país. 

O império de Chatô

Começa a montar seu império jornalístico a partir do final dos anos 20. Reúne sob seu comando mais de 100 jornais, revistas, estações de rádio e TV. Nos anos 40 e 50, é um dos homens mais influentes do país, temido pelas campanhas jornalísticas que encabeça como aquela contrária à criação da Petrobrás. Pioneiro na transmissão do sinal de televisão no país, cria a TV Tupi em 1950. No Estado Novo, consegue de Getúlio Vargas a promulgação de decreto que lhe dá direito à guarda da filha, após separar-se da mulher. Na ocasião, cunhou a frase: Se a lei é contra mim, vamos mudar a lei. Criou o Museu de Arte de São Paulo (Masp) (1947) com Pietro Maria Bardi. Senador pela Paraíba (1952) e pelo Maranhão (1955), redigia seus artigos a lápis, exceto após trombose  que o deixou tetraplégico(1960).  Trabalha até o final da vida e morre em São Paulo (1968). 

Por Henrique Packter 23/09/2020 - 07:35

A trajetória dos Diários Associados começa em 1924 quando o jornalista Assis Chateaubriand contava 32 anos e adquire O Jornal, diário que circulava no RJ  desde 1919. Depois, com a aquisição de outras empresas de mídia impressa, rádio e TV o grupo se torna o mais importante do Brasil. Em 1925, compra o jornal paulista Diário da Noite. Em 1928, funda a empresa gráfica O Cruzeiro e, em 1934, adquire revista mensal A Cigarra. Em MG compra o jornal Estado de Minas (1929). Ainda em 1929 funda o Diário de São Paulo. Diário da Tarde nasce em 1931. Chatô criou ainda, no RJ, a Agência Meridional e a Rádio Tupi. A elas se juntariam a Rádio Tupi de SP  e a Rádio Educadora, rebatizada Rádio Tamoio, RJ.  A televisão vem em 1950 com a TV Tupi de SP, primeiro canal de TV da América Latina. Neste ano da graça de 2020 a TV brasileira comemora 70 anos de atividades.

Ícone da imprensa

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello o Chatô (4.10.1892-4.4.1968), foi jornalista, empresário, mecenas, político, advogado, professor de direito, escritor, empresário, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras.  Um dos homens públicos mais influentes do Brasil nas décadas de 40, 50 e 60, magnata das comunicações no Brasil, justamente esse homem estava prestes a ser fuzilado em São Joaquim, SC, em outubro de 1930. 

Dono dos Diários Associados, o maior conglomerado de mídia da América Latina, no seu auge contou com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica. Chegou a editar 34 jornais no país, além de possuir 36 estações de rádio, 18 de televisão, uma agência de notícias, várias revistas infantis e a Editora O Cruzeiro, com a revista semanal do mesmo nome, periódico de maior circulação na América Latina. Senador pela Paraíba e pelo Maranhão, renunciou a este último mandato quando designado embaixador em Londres por JK (1957-1960). Escreveu livros e tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 37.

Odiado e temido, polêmico e controverso, Chateaubriand, o Cidadão Kane brasileiro, foi acusado de inescrupuloso, antiético, por supostamente chantagear empresas não anunciantes em seus veículos. Também por insultar empresários com inverdades, como aquelas assacadas contra o industrial Francisco Matarazzo Jr. Seu império parecia construído com base em interesses e compromissos políticos, incluindo proximidade turbulenta, mas proveitosa, com o Presidente Vargas.

Criador e fundador do Museu de Arte de SP com Pietro Maria Bardi (1947), em 4.10.1968, data da morte de Chateaubriand e trinta e oito anos após o episódio sobre o qual escrevo, Pietro Maria Bardi, pendurou três obras-primas na câmara ardente onde Chatô era velado: Banhista com o Cão Grifo, nu gigantesco de Renoir, o Retrato do Cardeal Cristófaro Madruzzo, de Ticiano, e Don Juan António Llorente, de Goya, majestoso retrato do secretário da Inquisição espanhola. Direção dos Associados considerou ofensiva tal exposição no velório (duas telas religiosas e um nu artístico). Exige a retirada das obras, mas Bardi bate o pé:

- Mas dottore, é minha última homenagem a Chatô. Nesta parede, estão as três coisas que ele mais amou na vida: o poder, a arte e mulher pelada. É a última frase do livro Chatô, o rei do Brasil, 695 páginas – que Fernando Moraes lembrou, ao ver o filme homônimo de Guilherme Fontes que retrata com humor e sarcasmo homem patologicamente obcecado pelo poder, mulheres.  e o sonho de construir museus para civilizar o Brasil. 

CHATÔ foi escrito baseado em entrevistas sobre Assis Chateaubriand.

Por Henrique Packter 16/09/2020 - 08:45

Dia 25 de setembro, data natalícia de Roquette-Pinto,  o Pai do Rádio Brasileiro, é o Dia do Rádio, o veículo de comunicação mais utilizado no Brasil.

O físico escocês James Maxwell (1860) descobriu as ondas de rádio. Não há consenso sobre quem inventor a radiodifusão. Pleiteiam essa condição o italiano Gulgielmo Marconi, que patenteou a transmissão-recepção eletrônica utilizando sinais telegráficos em código Morse  (1896), e o norte-americano Nikola Tesla.

Por que existe esta controvérsia?

Existe porque Marconi utilizou em sua invenção mais de 20 equipamentos patenteados por Tesla. Vai daí, em 1915 o norte-americano reivindica na Justiça dos EUA a patente da invenção do rádio. Em 1943, quase 30 anos depois, a Suprema Corte americana reconhece Tesla como o inventor do rádio!

O brasileiro Roberto Landell de Moura, padre gaúcho, teria realizado (1) transmissões de rádio em 1893 (dois anos antes de Marconi), e (2) a primeira transmissão de voz humana no Brasil, em 1899. Ele patenteou um sistema de transmissão no Brasil, em 1901. O rádio, tal como o conhecemos hoje, foi possível pela contribuição de todos esses participantes, cada um com seu experimento distinto.

A primeira transmissão de rádio ocorreu num evento esportivo na regata de Kingstown, para jornal de Dublin. As primeiras utilizações foram para manter contato com navios em alto-mar. Mas, na época, o rádio era incapaz de transmitir a fala; enviava mensagens em código Morse, ligando navios a estações em terra.

Durante a Primeira Guerra Mundial o rádio alcançou seu maior momento de utilização. Os litigantes usavam o rádio para transmitir mensagens militares na frente de batalha. Finalizada a guerra, com o crescimento dos receptores de rádio, a transmissão começa na Europa e EUA.

Oficialmente, a transmissão de voz ocorre em 1921 e foi introduzida às ondas curtas 98 anos atrás (1922).

A primeira transmissão oficial radiofônica no Brasil aconteceu em 1922, RJ, comemorativa ao centenário da nossa independência, sendo presidente Epitácio Pessoa No ano seguinte foi fundada por Roquette-Pinto a primeira emissora de rádio do país: a Rádio Sociedade do RJ.

Em 1938 o Brasil acompanhou as transmissões dos jogos da Copa do Mundo, da França, e se rendeu ao jornalismo radiofônico que noticiava os temores da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1940 o noticiário radiofônico Repórter Esso (1941) é  o programa que melhor sintetiza a importância do  rádio na vida das pessoas.. Surgem as primeiras emissoras em frequência modulada (FM), com qualidade de som melhor que as AM. No início, FMs operavam apenas com música instrumental, ideal para salas de espera e interiores.

Chatô

Começa a montar seu império jornalístico a partir do final dos anos 20. Reúne sob seu comando mais de 100 jornais, revistas, estações de rádio e TV. Nos anos 40 e 50, é um dos homens mais influentes do país, temido pelas campanhas jornalísticas que encabeça como aquela contrária à criação da Petrobrás. Pioneiro na transmissão do sinal de televisão no país, cria a TV Tupi em 1950. No Estado Novo, consegue de Getúlio Vargas a promulgação de decreto que lhe dá direito à guarda da filha, após separar-se da mulher. Na ocasião, cunhou a frase: Se a lei é contra mim, vamos mudar a lei. Criou o Museu de Arte de São Paulo (Masp) (1947). Senador pela Paraíba (1952) e pelo Maranhão (1955), redigia seus artigos a lápis, exceção após trombose  que o deixou tetraplégico(1960).  Trabalha até o final da vida e morre em São Paulo (1968). 

Por Henrique Packter 12/09/2020 - 07:35

Rupp  oferece refúgio em sítio seu próximo a Florianópolis, coisa que CHATÔ recusa. Só aceita solução que o leve a POA. De Florianópolis viaja de carro a Bom Retiro (3 horas e meia), Dali a cavalo pelos altos da Serra do Mar até Urubici (37 km) e dali, sempre a cavalo, até São Joaquim (61 km). Onze horas de noite escura, Rupp vai de carro buscar CHATÔ, que vestia uma batina negra.

Dois carros participam da sofisticada fuga. Num dos carros vão motorista desarmado e CHATÔ. No carro de trás 3 homens armados davam proteção. Faltando 15 minutos para a meia-noite Rupp entrega 3cartas a CHATÔ. Uma delas para Gerôncio Thibes  de Bom Retiro que forneceria meios para que alcançasse São Joaquim. A segunda e terceira  para os joaquinenses  João e Antônio Palma e para o farmacêutico Hilário Blayer, também em São Joaquim), todos conspiradores da Aliança Liberal,  liderada por Vargas.

Batina  sobre o terno, nas mãos  capa e chapéu, começa a viagem debaixo de chuva enlameando a estrada. O motorista freia o carro para colocar correntes nas rodas. O mesmo fez o carro de segurança 5 km atrás. Perto das 3 horas da manhã próximos a Bom Retiro dois troncos atravessados na estrada impedem a passagem do carro.    

Era pequeno posto policial guardado por dois soldados armados de fuzil que indagaram aos dois ocupantes do carro se podiam dar notícia do jornalista Assis Chateaubriand  cuja prisão fora decretada pelo governador. Haviam cruzado com algum veículo suspeito? CHATÔ pediu para ler o telegrama assinado por Marinho Lobo , chefe de polícia. Terminada a leitura do documento CHATÔ denunciou o carro de segurança como possível carro que estaria dando fuga ao jornalista. Passaram a correr pela estrada estreita e sinuosa, parando mais adiante para derrubar o poste de telégrafo que foi atravessado na estrada com o fio   cortado. Em Bom Retiro então vilazinha de meia dúzia de casas, igreja protestante, hospedaria, botequim e farmácia.. Morador acordado, lamparina numa das mãos, fuzil na outra, dá o endereço de Gerôncio Thibes, morador numa chácara.

HÓSPEDE DE THIBES EM BOM RETIRO

Apresentada a carta de Rupp Júnior as coisas andam com facilidade. Neste local, CHATÔ  queimou as cartas de apresentação de Rupp para São Joaquim,  mais a batina. 

Thibes explica que a trilha entre Urubici e São Joaquim fora destruída pelas chuvas incessantes. Precisava usar caminho alternativo, duas vezes mais longo, para São Joaquim. Melhor, aconselhou, era sair de Bom Retiro a cavalo até Canoa e Urupema. A cavalo porque a essa altura o carro utilizado já fora identificado pelos legalistas. Dormiria em Urupema seguindo até Painel onde atravessaria o rio e a serra do Lava-Tudo e só então chegar a São Joaquim.

EM URUPEMA

CHATÔ como já disse, era bom de cama. Deitou e imediatamente conciliou o sono, roncando adoidado até 5 e meia da manhã numa cama improvisada. Acordado com fortes safanões conhece o guia André, providenciado por Thibes: “um polaco louro, mas rústico  como um bugre”.  Seria sua companhia até Urupema. Chatô não pode  deixar de rir-se da indumentária que vestia até com certa elegância. Entre os acessórios  estavam chapéu de aba larga, presente do engenheiro Baldassini construtor de seu jornal no RJ, uma capa azul da Casa Burberry, Londres, nunca antes usados. Montam e somem na escuridão.

Por Henrique Packter 08/09/2020 - 09:35

Dia 4 de outubro de 1930 é a data de início da revolução de 30 no Brasil, encerrada com a vitória dos revolucionários, gaúchos, mineiros e paraibanos. O movimento durou 20 dias, período no qual a imprensa esteve censurada. 

Notável característica de CHATÔ era a capacidade de dormir e dormir bem em qualquer situação. Foi o que aconteceu viajando para POA em hidroavião da Condor, viagem tumultuada pelo mau tempo. Ao cabo de um dia do embarque no RJ ainda está em hotel de Paranaguá, PR, onde  acorda com fortes golpes na porta, às 6  da manhã de dia ensolarado,  de atmosfera límpida e cristalina e de céu luminoso. A escala prevista em Florianópolis seria breve assegurava o comandante alemão Puetz, aquecendo os motores às 6,30 horas da manhã.

Em Florianópolis telegrama da sede da Condor no RJ, redigido em alemão, aguarda Puetz. CHATÔ era fluente em alemão. Por cima dos ombros  dos pilotos consegue ler: “a situação está muito difícil em POA”. Esta linguagem, posso garantir, não se referia à calamitosa situação do Grêmio no campeonato brasileiro. Significava, que a viagem terminava em Florianópolis. Sem hesitar CHATÔ reúne-se com os3 tripulantes na cabine de comando, mais Paes Leme e revela que às 5,30 horas da tarde do dia anterior revolução de caráter nacional explodira em POA, Belo Horizonte e Paraíba. Disse mais: estava envolvido com a conspiração e corria a POA para alistar-se como voluntário e lutar ao lado de Getúlio,  Leme, logo depois e reservadamente, estende uma pasta contendo vinte contos de réis a CHATÔ que dispunha de um conto e 500 réis. Com esta importância tentam corromper o comandante Puetz  para levar CHATÔ até Torres, RS, pouco mais de uma hora de voo. Lá, estaria a salvo. Do contrário, permanecendo em  SC (que apoiava o governo de Washington Luís), poderia ser aprisionado ou coisa pior a qualquer momento.

Quanto estavam oferecendo a Puetz pelo voo de uma hora até Torres? Um conto de réis em 1930 valia R$ 123.000,00 donde Puetz recusou debaixo de pesados impropérios cerca de R$ 2.700.000,00 ou 21 contos e quinhentos.

Em Florianópolis, ignorando o que ocorria, Chatô sentia-se um animal  acuado. Como chegar a POA? Pensou em procurar Nereu Ramos, jornalista, ex-deputado federal, de rica família de estancieiros lageanos. Nereu,  fazia 4 dias estava em POA. Lembrou do nome de homem de confiança de Nereu em Florianópolis e vai atrás de Henrique Rupp Jr, jornalista e ex-deputado, alemão troncudo de meia idade, cabelo escovinha. Rupp sabia do que estava ocorrendo em POA. Estradas e portos em SC estavam bloqueados por tropas do exército, informou. Governador catarinense Fúlvio  Aducci, perfilado no exército de Washington Luís,   contava com total simpatia e confiança do governo central legalista. A ponto da Presidência da República deslocar  a sede da 5ª  Região Militar no Paraná para SC, nomeando para comandá-la o general Nepumoceno Costa.

Por Henrique Packter 04/09/2020 - 07:10 Atualizado em 04/09/2020 - 07:11

(Baseado em CHATÔ O REI DO BRASIL de FERNANDO  MORAIS e em prosas no CAFÉ SÃO PAULO)

Às 5 e meia horas da manhã  chuvosa de  sexta –feira, 3 de outubro de 1930, dia escuro, cerração baixa e úmida,  FRANCISCO de ASSIS CHATEAUBRIAND BANDEIRA de MELLO (CHATÔ) chega ao  cais Pharoux  no centro do RJ e embarca no hidroavião Junkers G-24 da Condor, com destino a POA onde explodia a Revolução de 30 que levaria Getúlio Vargas ao poder. A aeronave dispunha de 3 motores de 110 cavalos cada e  voava com a velocidade de 180 km/h, mas,  obrigada pelo mau tempo, voaria a, ou melhor deslizaria sobre as águas a 40, 50 quilômetros horários.

Voo  tinha  duração prevista de 8 horas, incluídas as escalas em Santos e Floripa. Às 3 e meia da tarde estaria pousando nas águas do Guaíba, centro de POA. Pilotava o hidroavião comandante alemão Heinz Puetz que, devido às condições climáticas, obrigava-se a voar pouco mais de 50 metros de altitude! Nove passageiro a bordo lotavam a pequena aeronave. Até Santos, 300 quilômetros distante, normalmente menos de 2 horas de voo, foram quase 4 longas e sofridas horas.

Reabastecida a aeronave decolam rumo a Floripa, mas, 150 quilômetros depois, nevoeiro fecha e são obrigados a pousar em Iguape,  entre a ilha Comprida e o continente. Os  59 quilômetros seguintes são vencidos com o hidroavião esquiando os flutuadores sobre as águas do  canal. 

Perto  do meio dia a neblina desce ao nível das águas tornando impossível ver além de 5 metros do bico da aeronave. Motores desligados, flutuam por 4 horas diante de Cananeia e seus dois canhões coloniais apontados para o mar; impossível prosseguir viagem. Aparentemente, ninguém a bordo sabia que o país estava à  beira de uma revolução. Chatô trocava ideias com seu vizinho de assento, o industrial e engenheiro  

Luís Betim Paes Leme. Era conversa interminável sobre o papel do carvão na siderurgia brasileira. 

UMA VIAGEM AÉREA (QUASE)  ATÉ POA, ANOS 30 

Às 3 da tarde, quando deveriam estar sobrevoando POA a aeronave decola. Puetz informa, contudo, que voariam até Paranaguá, 70 quilômetros ao sul onde pernoitariam. Caia garoa fina de céu encoberto por nuvens Pela manhã prosseguiriam viagem até Florianópolis. Em Paranaguá onde jantou grandes camarões fritos, não ouviu qualquer notícia sobre a revolução. Teria sido abortada? CHATÔ não sabia, mas naquele exato momento, POA  já se achava em mãos  rebeldes. As 5,30 horas da tarde, Osvaldo Aranha, José Antonio Flores da Cunha mais 50 homens fortemente armados tinham tomado de assalto o  quartel-general da 3ª Região Militar gaúcha. Após luta intensa, quartel e o maior arsenal do exército no sul do país caem em mãos dos rebeldes. Em Belo Horizonte não foi diferente. Apenas na Paraíba, por equívoco de comunicação, a revolução começa no dia 4 de outubro, quando Juárez Távora toma o quartel do22º Batalhão de Infantaria.

No RJ, alheios aos fatos, parlamentares discutem abobrinhas no Palácio Tiradentes. Já Washington Luís decretava a prisão de CHATÔ, que (era sabido), fugira para o sul. A imprensa  estaria censurada de 4 a 24 de outubro, os exatos 20 dias de duração do golpe de 30. 3.162

Por Henrique Packter 29/08/2020 - 10:13

Seguem caminhões às 6 horas da manhã alcançando Urussanga às 10, onde entram, apreendendo algumas armas da PM. Prendem o capitão Mello da Força Pública, comandante do destacamento de cinco homens. Pelas más condições da Estrada de rodagem, continuam a marcha por ferrovia. De trem em Urussanga, seguem para Tubarão, chegando às 5 horas da tarde, tomando tudo sem oposição alguma. Capitão Trifino fica na estação da Estrada de Ferro e Ernesto com mais 8 homens vão à Prefeitura onde o Prefeito Otto Feuerschuette e auxiliares aguardavam para entrega das chaves da cidade. Após as formalidades usuais nomeadas as autoridades, demite-se da ação militar. (Esta data também marca a retirada de OTTO para sua fazenda, período que se estende até 1935. Na fazenda, OTTO recebe intimação para entregar 3 reses destinadas à alimentação das tropas revolucionárias, animais escolhidos a dedo pelos militares, na fazenda Campestre e levadas para abate. Ernesto Lacombe informado, constatou a excelente qualidade do gado e mandou devolvê-lo, declarando: devolvo ao Dr. OTTO os animais; são de qualidade para exposição e não para serem abatidas. Otto foi o segundo médico em  Tubarão e o primeiro  tubaronense a formar-se em Medicina e voltar à terrinha.

LACOMBE X TRIFINO

Em manifesto, LACOMBE procura esclarecer o relacionamento problemático com TRIFINO e o motivo das discórdias entre ambos.

“Desde meu primeiro contato com Trifino Corrêa, verifiquei que ele não tinha competência militar, educação necessária, nem era portador de conduta ilibada como seu posto exigia. Dada a influência que conquistei quando da campanha eleitoral da Aliança Liberal nos municípios do sul, só a mim queriam obedecer as forças que estavam se formando e as que se haviam já incorporado desde Araranguá. Não querendo eu estabelecer qualquer conflito de mando e justamente porque meu objetivo era bem mais elevado do que obter glórias esparsas, agradeci aos amigos o pedido que me faziam de comandar as colunas em organização, deixei que capitão Trifino agisse livremente.

Começa em Tubarão a série de disparates e erros de Trifino Corrêa. Em documento imperioso, escrito pelo coronel João Alberto, se ordenava a Trifino que as forças invasoras marchassem sempre desde a tomada de Araranguá até ocupar a Garganta de Anitápolis, sem preocupação da retaguarda. Trifino, entretanto, desobedecendo essas ordens julgou mais acertado ficar em Tubarão, e por dois dias estacionou completamente.

Numa exposição ao coronel João Alberto e ao General Miguel Costa, frisei a necessidade imperiosa de ocupar imediatamente Laguna e Imbituba, logo depois de tomarmos Tubarão. Trifino se opôs a isso dizendo que só tinha instruções para tomar a Garganta de Anitápolis.

Na tarde de 4.10 corre a notícia de que destroier se aproximava de Imbituba para desembarcar 300 homens. Trifino, incontinente, manda tropa, já diminuída para 30 homens, embarcar no trem e pernoitar a 4 km da cidade, dentro dos vagões, abandonando a ótima posição tomada e permanece durante a noite sem ficar exposta a qualquer inimigo.
Entram em Tubarão com apenas 29 homens porque Trifino Corrêa, quando do embarque em Urussanga, onde eram 50, mandou voltar quatro caminhões com vinte e um homens, para, segundo dizia, requisitar nas colônias!

Entram em Tubarão com apenas 29 homens porque Trifino Corrêa, quando do embarque em Urussanga, onde eram 50, mandou voltar quatro caminhões com vinte e um homens, para, segundo dizia, requisitar nas colônias!

Por Henrique Packter 25/08/2020 - 08:44 Atualizado em 25/08/2020 - 08:52

A REVOLUÇÃO DE 30

Movimento armado de 3.10.1930, liderado por MG, PB e RS, terminou com a deposição do presidente da República Washington Luís em 24.10.1930, impedindo a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pondo fim à República Velha. A revolução de 30 durou 21 dias.

A quebra da Bolsa de Nova Iorque (outubro de 1929), detona crise econômica em escala mundial, esmagando todas as economias participativas do mercado internacional, caso do café brasileiro.  Em 1929, lideranças oligárquicas paulistas rompem a aliança com os mineiros (a política do café com leite), e indicam o paulista Júlio Prestes candidato à presidência da República. Diante isso, o presidente de MG, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada passa a apoiar a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas.

Realizam-se em 1.3.1930 as eleições para presidência da República vitoriando-se o candidato governista,  presidente  de SP, Júlio Prestes. Não chega a  tomar posse em virtude do golpe de estado de 3.10.1930. Exilado, Júlio Prestes foi o único político eleito presidente do Brasil pelo voto popular, impedido de tomar posse. Getúlio Vargas assume a chefia do Governo Provisório em 3.11.1930, data que assinala o fim da República Velha no Brasil.

CHATÔ, O REI DO BRASI (Fernando Morais), prosas no CAFÉ SÃO PAULO e ERNESTO LACOMBE

Ernesto Lacombe, 51 anos em 1930, 71 anos em 1951 ao falecer (Jaguarão, 29.6.1879 – Criciúma, 14.2.1951), industrial, jornalista e político, mudou-se para Tubarão, onde montou charqueada e fábrica de banha, morando com a família na Fazenda Revoredo. Dirigiu em Tubarão O Liberal. Getulista, propagava antes da Revolução de 30 as ideias da Aliança Liberal.

ÚNICO DOCUMENTO DA INVASÃO DO SUL CATARINENSE PELO LESTE, ESCRITO POR SEU CHEFE

Ernesto Lacombe redigiu, logo após a revolução, o manifesto Invasão de SC pelo Setor Leste. Seria o único documento existente sobre o assunto (Este meu Tubarão …! Walter Zumblick, 1º Vol. Edição do autor, Tubarão, 1974).

A REVOLUÇÃO EM CRICIÚMA

Em 10.10.1930, cinco dias após tomar posse como prefeito de Criciúma e uma semana após eclodir a revolução de 30, Cincinato Naspolini enviou correspondência aos munícipes, requisitando material de consumo, veículos e outros. Documentos da época reclamam das condições em que veículos foram devolvidos a seus donos (Gregório Michels, em 10.10.1930, relaciona as peças levadas de seu Ford typo A, total de 847 mil réis). Egydio A. da Silva, de São Bento Baixo, teve requisitado seu caminhão Ford número 10 para transporte de tropa de Torres a Araranguá. Santi Vaccari, governador civil em Araranguá, escreveu em 19.10.1930, no verso do documento que requisitava o caminhão, carregado para o norte do estado, pelo capitão Otelo Frota, comandante da Legião Osvaldo Aranha,

Também Henrique Waterkemper, de São Bento Baixo, teve seu automóvel Chevrolet requisitado, assim como Basílio Aguiar, de Nova Veneza, que emprestou seu caminhão Chevrolet com cabine, 6 cilindros, placa número 15 e Giácomo Búrigo, de Mãe Luzia, que perdeu o caminhão Chevrolet, modelo 1929, placa número 10. Em 12.10 requisitou-se 311,5 caixas de gasolina, 14 galões de óleo à Standard Oil Company of Brazil de Criciúma.

João Targhetta, proprietário do Hotel Brasil, teve pendurada conta de mais de trezentos e vinte mil réis, hospedagem de revolucionários. Calote também contemplou os hoteleiros Lodetti (Café São Paulo) e Angeloni.

Prefeito Cincinato Naspolini em duas folhas de papel almaço ordenou as dívidas que deveriam ser quitadas pela municipalidade e que somavam pequena fortuna. 3530

Por Henrique Packter 18/08/2020 - 08:10

Henrique Dauro Martignago no Café São Paulo

Na sua biografia autorizada, HENRIQUE DAURO MARTIGNAGO faz referência a roubo e a contos do vigário que levaram joalharias da cidade a prejuízos ruinosos. Roubos verificados em Criciúma nesses estabelecimentos  foram vários nos anos 60, alguns com  desfecho feliz, como aquele  sofrido pela desaparecida Óptica Rosil, da rua 6 de janeiro.  (RO do Rosil é de Rui Vante Rovaris e Sil é de Primo  Silvestre). A mãe de um dos proprietários da óptica, afanada em joias e relógios, ouviu de dona de Pensão  que indivíduo suspeito lá se hospedara com uma daquelas malas de papelão marrom,  então comuns entre pessoas mais carentes. Vante vai lá e recupera joias e relógios surripiados.

Já outros nunca se recuperaram econômica e/ou emocionalmente de afanos, como Valmor Crema, com comércio de joias (1964 a 1992). O roubo executado pelo telhado, acesso facilitado pela ausência de forro concretado, levou o proprietário a encerrar os negócios. Outros se deram bem graças a bons padrinhos. É o caso de Gilson da Silva,  motorista da família Guglielmi por cinco anos. Os recursos que obteve rescindindo contrato de trabalho com os Guglielmi permitiu que adquirisse instrumental e material suficiente para criar a Juner (1981). Em  1982 com a ajuda de Reginaldo Guglielmi estabeleceu-se  na Travessa Padre Pedro Baldoncini.  Vai estudar Direito na ULBRA em Torres, RS. Auxiliado por ADHEMAR PALADINI GHISI, grande político catarinense e depois Ministro e Presidente do Tribunal de Contas da União, transfere-se para a UNISUL de Araranguá, formando-se em  2002.

Há pouco tempo SC lamentava o falecimento de Alcidino Eduardo Fernandes, fundador das Ópticas Alcidino. De começo modesto em Santa Rosa do Sul, SC (1961), já em 1969 está com  loja em Araranguá  e a 26.10.1976 em Criciúma. Desde os difíceis tempos iniciais têm como gerente em Criciúma, Paulo da Rosa. As lojas (fevereiro de 1982) alcançam Tubarão (gerente Eliane da R. Fernandes), e em 1989 com a inauguração do Shopping Della nele inauguram outra Óptica em Criciúma, cuidada pela outra filha, Elizane. Em 1989 a primeira-loja em Santa Rosa é desativada e transferida para Sombrio.Com a abertura de outra loja em Florianópolis já são 7 as Ópticas Alcidino.

Em 1954 Osvaldo Silvestre instala-se com Joalharia, Relojoaria e Óptica passando a loja para o irmão Altino (1978).

Óptica Pioneira

Muitas outras ópticas se  instalaram entre nós, mas, qual teria sido a primeira de todas?

A RELOJOARIA DE DONA LIDUÍNA  ZAPPELLINI, no longínquo ano de 1939. Era mãe de Dona Idalina, sempre tratada como Vita. Em 1935,  Affonso Silvestre casado com Liduína Zappellini,  muda-se de Orleans para Criciúma. Em 1958 a viúva Liduína vende a joalharia, relojoaria e óptica aos cunhados Altino, Felisberto (Félix) e Carmela. Félix logo sai. Altino segue o negócio com o sobrinho Valmor Carrer, filho de Carmela. Valmor e Félix  falecem prematuramente. Affonso nascido em Canela Grande, Tubarão (1907), vem a morrer em Criciúma em 4.7.1948 aos 41 anos.

A família Silvestre nos anos 60 liderava o comércio de joias, relógios e de óptica em Criciúma com, pelo menos , quatro estabelecimentos do gênero. Todo esse pessoal, profissionais joalheiros, relojoeiros e ópticos, gravitavam em torno do Café São Paulo e do Café Rio. Suas lojas estavam na Conselheiro João Zanette, 6 de janeiro, João Pessoa (início), Travessa Padre Pedro Baldoncini (início). No pico do horário comercial não arredavam pé de seus negócios; mal o movimento aquietava,  corriam ao Café São Paulo para saber das últimas.

Estas notas nada têm a ver com as histórias contadas por Henrique Dauro Martignago e registradas pela filha,  Dra. Gabriela Gorini Martignago. Trata-se de rumoroso caso dos anos 60, envolvendo o comércio de joias em nossa cidade e que breve contarei.

Por Henrique Packter 11/08/2020 - 10:10

Em 28.10.2010 DAURO presenteou-me com o livro CRICIÚMA: EVOLUÇÃO E SUCESSO. Trata-se de narrativa autobiográfica relatada  à filha Gabriela Gorini Martignago Coral, ex-juíza de Direito, autora da obra.

Quando trata da colonização italiana, a partir da página 35, Dauro descreve a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM CRICIÚMA embora sem demorar-se em datar dados relativos a este aspecto político. Cita o cemitério da cidade que se situava no mesmo local onde, mais tarde, Abílio Paulo construiria  o prédio do  Café São Paulo. Ponto de encontro e de decisões históricas desde a década de 30, o Café São Paulo fecha as portas em 5.9.2007. O edifício Filhinho foi construído em 1946, e é um dos exemplares originais arquitetônicos da época que mais preservam sua característica, hoje referência na cidade.

Localizado na esquina das ruas 6 de janeiro e Conselheiro João Zanette, antes da construção do edifício, o Café São Paulo já existia desde a década de 1920 numa casa no mesmo local, há mais de 80 anos. Propriedade de Henrique Lodetti, este a vendeu para Abílio Paulo, que decidiu pela demolição da casa e construção do edifício Filhinho. O Café São Paulo se manteve no local, ocupando o andar térreo.

Num dos andares superiores, em agosto de 1947, foi instalada central com 50 aparelhos para instalação da primeira rede telefônica em Criciúma. No outro andar, logo após o término da construção, nasceu a Rádio Eldorado. As atividades da rádio acontecem nos altos do Café São Paulo até 1955, quando, adquirida por Diomício Freitas foi transferida para o edifício São Joaquim.

Os cafés São Paulo e Rio eram locais de encontro diário dos trabalhadores, comerciantes, juízes, médicos, advogados, engenheiros e recém-chegados à cidade. Era ali que notícias e informações se espalhavam, e ali, na Praça Nereu Ramos e nos prédios do entorno, todo o processo de expansão, de articulação de apropriação e de identificação acontecem. Desnecessário falar da importância do núcleo inicial de uma cidade e seu processo de desenvolvimento. No centro da cidade está sua primeira área urbana, e é através dela que surgem suas primeiras manifestações históricas, sociais, culturais, políticas, atividades de encontro, lazer, espaços de contemplação.

CONTOS DO VIGÁRIO

A cidade sempre teve seus vigaristas. Alguns executavam golpes mais elaborados, outros eram simples assaltantes. Talvez o mais célebre desses vigaristas tenha sido o Doutorzinho responsável por várias façanhas, sobretudo logo após o movimento militar de 1964. Aproveitando-se do temor da população daqueles dias, apavorada  pelos vizinhos sumidos na calada das noites, levados para prisão, submetidos a  interrogatórios, Doutorzinho geralmente usava fardas militares de coronel fazendo-se acompanhar por cúmplice, um major ou capitão fictício.

Trajados dessa maneira assaltaram seu Teixeira, gerente local da Força e Luz criciumense. Dauro descreve o assalto noturno à casa do idoso cidadão. Divorciado, por questões de repartição dos bens não tinha propriedades imóveis em seu nome, somente moedas estrangeiras rentáveis e joias,  no cofre da moradia. Coronel Doutorzinho é recebido pelo dono da casa, arma em punho. Consegue dissuadi-lo e Teixeira guarda a arma, chama a segunda esposa de sobrenome Gaidzinski para auxiliá-lo. Os militares queriam ver os dólares, supostamente falsificados e que escondia em casa para levá-los à delegacia de polícia onde seriam examinados pelo delegado Helvídio de Castro Veloso Filho. Embarcam no jipe militar de onde Teixeira é arrojado quando se achavam longe da cidade, proximidades de Maracajá. Os ladrões levaram consigo duas fronhas de travesseiro repletas de dólares americanos.   

Segundo Dauro os fatos foram comemorados pelo baixo, médio e alto submundo da cidade no Café São Paulo (pág. 83). Um dos comparsas teria comentado a respeito do assalto ao gerente da Força Elétrica:

- Cobrou em quilowatts e perdeu em quilates!

Por Henrique Packter 06/08/2020 - 09:33

Saí do Banco Inco livre, leve e solto. Então, o tão temido sistema bancário brasileiro era só isso? Mas era uma coisa maravilhosa, a bondade personificada! Terminado o pagamento de minha dívida bancária muitos meses depois,  voltei ao Banco para agradecer a Francisco Corbetta pelo acolhimento, pela concessão do empréstimo de maneira tão humana, tão cordial, sem maiores burocracias.

- Não me agradeça, agradeça a Fidelis Barato!

Caí das nuvens! Claro, àquela altura eu já sabia quem era Fidelis Barato. Natural de Jaraguá do Sul, nascido em 1930, teria portanto à época 30 anos de idade. Casado com Dona Idalina Silvestre (Dona Vita), residia em Criciúma desde 1947. Era contabilista.  Foi diretor da Companhia Carbonífera Catarinense S.A., do Expresso Coletivo Forquilhinha Ltda., do Expresso Rio Maina Ltda., e do Transporte Coletivo São Marcos Ltda. Presidiu o Conselho Deliberativo da SATC. Participava da política (PSD, ARENA, PDS). Vereador de 1960-1972  e presidente da edilidade,  Cidadão Honorário de Criciúma, faleceu em POA (1º.7.1986 aos 56 anos), após laringectomia, cirurgia para remover um câncer de laringe. Corbetta explicou porque eu deveria agradecer  a Fidélis.

- Ele estava atrás de ti quando vieste pedir o empréstimo. Fez um sinal claro que era para emprestar o dinheiro, ele seria avalista. Confidenciou-me ao assinar a papelada do contrato que ficara impressionado com tua magreza vestida de roupas tão baratas.

Nesse ano de 1960, a 27 de janeiro faleceu Osvaldo Aranha, grande político brasileiro e a  21 de março nascia o piloto da Fórmula 1, Ayrton Senna. Foi um ano cheio de novidades. A 1º de janeiro era  lançado o jornal a Folha de São Paulo e a 25 de fevereiro um DC3 da Real Transportes Aéreos chocou-se com um DC-6 da marinha dos EUA sobre a cidade de RJ, precipitando-se sobre a Baia Da Guanabara, matando todas as 66 pessoas a bordo. A 21 de abril o presidente JK declarava inaugurada Brasília, a nova capital brasileira, no novo DF, substituindo o RJ o qual  ficava compreendido no novo estado da Guanabara. A 19 de novembro o pugilista Eder Jofre tornou-se campeão mundial dos pesos galo da Associação Mundial de Boxe ao vencer Eloy Sanchez,  campeão mexicano, em Los Angeles (EUA).  2225

Por Henrique Packter 04/08/2020 - 09:11

Eu não tinha bens em Criciúma, aliás em lugar algum naquele mundo de Deus, fosse casa, apartamento ou automóvel eu nada possuía salvo alguns badulaques de meu modesto equipamento do consultório oftalmológico. Residi por algum tempo no Hotel Brasil, propriedade da família Dal Bó, frente à gare da Estrada de Ferro,  onde hoje está o Buraco do Prefeito. Depois aluguei apartamento frente à Praça Nereu Ramos quando marquei data para meu casamento. O prédio pertencia a Leandro Martignago, pai de Henrique Dauro. O Hotel Brasil existia desde 1950. Quando fui seu hóspede em janeiro de 1960, lá também se hospedava o Dr. João Conrado Leal, já falecido e por muitos anos anestesista do Hospital São João Batista. Era proprietária do hotel a matriarca Augusta Message Dal Bó auxiliada pelos filhos Basílio, José, Lino, Terezinha e Mário. Justamente em 1960 o Hotel foi vendido a Hilário Milanez que tocou o negócio até 1968. Nesse ano foi adquirido por José Raupp e Antonio Augustinho (o Pimenta), e é quando começa a funcionar com restaurante aberto à cidade. O clube de serviço Lions por muito tempo reuniu-se semanalmente nesse local. Em 1976 o hotel  foi adquirido por Ricardo Spillere e sua mãe Alzira Zatta Borges que o mantiveram até 2008.

UM EMPRÉSTIMO BANCÁRIO

- O que é que você quer seu Maneca?

- Pois não vê seu Chico que ando doente, deixei do trabalho na mina, a patroa anda com febre sezão e preciso de algum dinheiro para consertar a carroça e voltar a fazer carreto.

- De quanto precisa?

Era assim. Meio constrangido eu já ia me esquivando, saindo de mansinho, quando ele me olha e indaga:

- E tu?

Meu rosto devia parecer a camisa do glorioso colorado dos pampas e a língua pesava toneladas. Olhei para os lados em busca de ajuda.

- Então?

- Seu Corbetta, sou médico aqui na cidade tem uns seis meses e preciso comprar equipamento para meu consultório no Hospital São José.

As palavras saíram mais baixo que o planejado e tive de repetir o discurso ensaiado por vários dias.

- De quanto precisa?

Disse-lhe a importância. Agora sem olhar em minha direção e sem tirar os olhos do papel que preenchia laboriosamente disse-me que o empréstimo estava concedido, falou a hora para comparecer no dia seguinte, os documentos que deveria trazer e só.

- É só isso?

-Sim. 2.230

Por Henrique Packter 23/07/2020 - 09:37

A praça chama-se Nereu Ramos desde 1946 e foi palco de 1917 a 1931/1933 de valentes disputas futebolísticas contempladas por plácidos animais  que pastavam em seus limites. 

Chico Corbetta no Café São Paulo

No Café São Paulo, no dia mesmo de minha chegada, feriado de 6.1.1960, conheci Giacomo Puggina, Mário Balsini, Ayrton Egídio Brandão, Darci Schmitz, Jacy Fretta, todos engenheiros, todos bebericando seus cafezinhos, botando conversa fora. Eu tomava o meu café na única outra mesa ocupada naquele feriado municipal de Criciúma. Puggina veio até minha mesa e convidou-me para que sentássemos todos juntos. Desse grupo, Jacy Fretta (98 anos feitos a 3.5.2020) e eu, somos os únicos sobreviventes. Cidadão alto, magro, claro, óculos e calva pronunciada entra no café e cumprimenta a todos com genuína alegria. Sumiu quase tão rápido quanto entrara.

- É o Chico Corbetta, gerente do Banco INCO, confidenciam-me.

Chico Corbetta, gerente do Banco Inco

Francisco Corbetta, natural de Tubarão foi  gerente em Criciúma  do Banco Inco durante 28 anos (1940-1968). Membro fundador do Rotary de Criciúma, presidiu aquele clube de serviço (1962/1963). Faleceu na cidade de Florianópolis em 1987. Corbetta era pessoa educada, atenciosa. Residia em nossa cidade na rua Hercílio Luz, 80 numa casa ainda existente entre dois grandes prédios, frente à entrada do Metropolitan.  

Andando duas quadras estava na praça Nereu Ramos para o cafezinho matinal e ouvir as últimas no Café São Paulo. Dali ao banco, localizado onde está o Shopping Bortoluzzi era uma quadra e meia com rápido pit stop no Café Rio para chegar ao trabalho plenamente informado. Tratando-se de feriado municipal, Corbetta certamente apenas cumpria um ritual.

Delicadas negociações para empréstimo bancário

A certa altura da minha vida necessitei conversar com Corbetta sobre negócios. Precisava adquirir equipamento para o consultório. Comecei minha vida profissional em Criciúma (1960) utilizando caixa de prova (aquela primitiva caixa cheia de lentes colocadas numa armação para verificação do grau necessário pelo clienteØ). Fazia-se a medida do grau da lente a receitar com auxílio de espelho côncavo dotado de furo circular central, por onde o oftalmologista observava se a lente colocada na armação era a adequada. Além disso eu tinha um oftalmoscópio para exame do fundo de olho e um aparelhinho chamado Tonômetro de SchiØtz para medida da pressão ocular. Como eu também fazia ouvido, nariz e garganta tinha um material miúdo para exames dessa especialidade. Era tudo.

Tendo pago algumas mortificantes dívidas deixadas para trás em Curitiba, dos tempos de estudante, decidi procurar um banco para poder adquirir consultório mais moderno. Eu ainda o conservo, apenas para exibição. Falar verdade bancos eram instituições perfeitamente desconhecidas para mim. Arranjo feito por meu pai permitia que eu apanhasse com primo médico lá em Curitiba determinada importância mensal para minha manutenção. Estudando na Federal do Paraná e residindo primeiro numa pensão e depois numa república de estudantes, meu dinheiro era pouco, apenas o necessário.

O Banco Inco funcionava onde hoje está o Shopping Bortoluzzi numa casa térrea. O gerente sentava-se à sua mesa do lado direito de quem entrava. Atendia as pessoas atrás de um cercadinho de madeira,  uma pessoa por vez, escolhida por ele na multidão. O confessionário era público. 3.399

Por Henrique Packter 18/07/2020 - 09:17

Meu amigo Jorge Daros escreveu "Padre Estanislau, um líder em seu tempo", livro indispensável para quem se interessa pela nossa cidade e sua gente. Daros começa por estudar a evolução da cidade e região através das décadas e com notável felicidade.

Começa na década de 30 quando o mundo caminhava para sua segunda guerra mundial e regimes totalitários governavam a Europa (Alemanha, Itália, Rússia, Portugal, Espanha). Aguardava sua vez na fila a Iugoslávia do Marechal Tito. Nesta década de 30, em Criciúma era  criado o Grupo Escolar Professor Lapagesse, Urussanga Velha era o primeiro distrito de Criciúma, chegava Faustino Zappelini, para registrar em fotos a história da cidade, Cincinato Naspolini urbanizava e criava o que viria  a ser a  Praça Nereu Ramos (31/33) e Estanislau Cizeski seguia para o Seminário de Brusque , o primeiro convento das Irmãs Escolares de Nossa Senhora no Brasil era fundado em Forquilhinha, , distrito de Criciúma, e era criado o Hospital de Caridade de Nova Veneza.. Surgem as primeiras bicicletas e telefones. Nasce o Hospital São José.

Em 1895 foi erguida uma capela de frente para o campo de futebol e, posteriormente, em função disso e da construção de novas casas, em 1917 o campo deu lugar a uma praça. Inicialmente o espaço da praça era de propriedade particular e só mais tarde passa a ser de uso público. A partir dessa abertura ao público, a área passa a se chamar Praça Etelvina Luz. Vinte anos depois, em 1937, a praça é batizada como Praça Nereu Ramos, nome pelo qual é conhecida até hoje. O marco inicial da cidade de Criciúma é onde se encontra esta praça, espaço de importância para a cidade tanto como estrutura fundiária quanto identidade municipal. Primeira edificação a se instalar no local foi um estabelecimento comercial, ponto de parada para tropeiros. Esse fator atrai outros comerciantes para o entorno da praça  que ali locaram seus estabelecimentos e moradias.

A praça é espaço público de maior importância para a cidade de Criciúma como para quase todas as cidades. Palco de diversos eventos significativos do município e  endereço de órgãos como a primeira prefeitura e a administração da Fundação Educacional de Criciúma – Fucri embrião da UNESC. Inicialmente basicamente residencial, em 1930 as casas foram substituídas por prédios de dois e três pavimentos ou então tiveram suas fachadas adaptadas para alcançar o movimento arquitetônico da época, o Art Deco, que caracterizou o centro da cidade. Nessa mesma época, o desenho da praça foi delimitado pelo ajardinamento e em 1966 o espaço recebeu calçamento.

No início dos anos 1980, em comemoração ao centenário da cidade, o entorno da praça Nereu Ramos teve o pavimento substituído totalmente, impedindo a circulação de veículos. É o início de grande calçadão, que permite a integração, convívio, lazer e entretenimento das pessoas, servindo também como espaço de manifestações culturais, políticas, eventos efêmeros, feiras e estimula a apropriação e as relações sociais.

Por Henrique Packter 11/07/2020 - 11:18

Continua a saga de Ernesto Lacombe, por ele descrita

“Tudo disposto na parte civil por mim e na militar pelo capitão Trifino Corrêa, seguimos em caminhões às 6 horas da manhã alcançando Urussanga às 10 do mesmo dia, onde entramos, apreendendo algumas armas da Polícia Catarinense. Prendemos o capitão Mello da Força Pública, comandante do destacamento de cinco homens. Pelas más condições da Estrada de rodagem, continuamos a marcha por ferrovia. De trem em Urussanga, seguimos para Tubarão chegando às 5 horas da tarde, tomando tudo sem oposição alguma. Capitão Trifino ficou na estação da Estrada de Ferro e eu com mais 8 homens nos dirigimos à Prefeitura onde o Prefeito Otto Feuerschuette e auxiliares nos aguardavam para entrega das chaves da cidade. Após as formalidades usuais nomeei autoridades, dispus tudo na parte civil e demiti-me da ação militar que vinha desempenhando”.

(Esta data também marca a retirada de OTTO para sua fazenda, abandonando a prática da Medicina, período que se estende até 1935. Na fazenda, OTTO recebe intimação para entregar 3 reses destinadas à alimentação das tropas revolucionárias. Os animais foram escolhidos a dedo pelos militares, na fazenda Campestre e levadas para abate. Ernesto Lacombe informado, constatou a excelente qualidade do gado e mandou devolvê-lo: devolvo ao Dr. OTTO os animais; são de qualidade para exposição e não para serem abatidas).

Enquanto isso...

Durante a Revolução de 1930, ASSIS CHATEAUBRIAND foi uma das figuras de vanguarda na imprensa brasileira. Nascido pobre, cresceu na vida como jornalista e empresário na TV, rádio, e mídia impressa. Sempre preferiu atalhos, o caminho mais curto, como titular de um império jornalístico (os Diários Associados), oferecendo seu apoio a políticos detentores do comando.

Em 1930, Chateaubriand, anteviu a conquista do poder por Getúlio Vargas, oferece-lhe apoio imediato e incondicional. Irrompida a Revolução de 30 em POA, logo contagiando o país, resolve para lá deslocar-se por hidroavião que tem escala em Florianópolis, como já vimos. Chatô falava alemão e surpreende diálogo dos pilotos comentando mensagem recebida logo do pouso. A mensagem descrevia-o e decretava sua prisão. Foge e com o auxílio de Henrique Raupp vai a São Joaquim a cavalo, onde chega sem documentos (não sabia quem estava no poder na cidade), vestido de padre, batina e tudo mais. É preso e levado ao hotel da cidade com guarda armado à porta.

O delegado da cidade decide que ele deve ser executado, sobretudo após Chatô ter declinado sua identidade.

- Assis Chateaubriand? Em São Joaquim?

Pronto para o pelotão, alguém lembra de César Martorano, garoto da localidade que vendia assinaturas de O Jornal. Quem sabe, poderia desmistificar o embusteiro que se fazia passar pelo jornalista paraibano?

César tinha uma carteirinha funcional que o autorizava a colher assinaturas e a cobrá-las. A carteira tinha a assinatura de Chatô. Vão ao hotel conferir no livro de hóspedes a falsidade da assinatura. Não é que era verdade, tratava-se mesmo de Assis Chateaubriand!

Chatô, claro, nunca esqueceu o episódio.  

O jornalista Rogério Martorano, filho de César Martorana, hoje residindo em Florianópolis, conta do apreço de Chatô para com seus familiares  e São Joaquim, a partir de então. As visitas de Chateaubriand, tornam-se frequentes e ele destina muitos recursos à cultura da cidade. Rogério foi levado por Chatô ao RJ. Hospeda-o em sua residência na Avenida Atlântica. Rogério inicia-se no jornalismo e vem a miúde à cidade natal. No retorno, traz fotos, muitas fotos das nevascas na serra catarinense para o jornal carioca,

Por esta razão torna-se conhecido como o Abominável Monstro das Neves.

São Joaquim, cidade mais fria do Brasil possui em seu Museu Histórico honroso Espaço Assis Chateaubriand. 3.779

Por Henrique Packter 09/07/2020 - 10:35

Próprios e Chasques (recados)

“Em Torres, Trifino Corrêa incumbido de chefiar militarmente a coluna, entendeu-se com o Cel. Krás Borges, Superintendente daquele Município. As confabulações terminaram tarde (uma e meia da manhã), Krás Borges atendeu as instruções recebidas, enviando próprios e chasques a todos os distritos de Torres.

No dia 3.10, sexta feira, pela manhã, tomei caminhão e segui com meu filho Ernesto às imediações de Araranguá, onde cheguei ás 11 horas. Chamei nossos companheiros Fontoura Borges e Pompílio Bento prevenindo-os de que, naquele dia, às 5 da tarde, invadiríamos o município e pedia-lhes conseguissem reunir grupo de amigos para nos auxiliar na ocupação da vila. Tudo consertado, regressei a Torres onde cheguei 1,30 horas da tarde. O coronel Krás Borges reuniu até 3 horas apenas 18 homens e com esse grupo, oitenta carabinas, uma metralhadora e dez mil tiros, saímos de Torres transpondo o Mampituba rumo a Araranguá. Consta que em Torres havia em depósito 300 armas e 30 mil tiros. Os fuzis (Manlicher) engraxados e sujos, não funcionavam regularmente. De cada dez, seis não disparavam. Por isso, apenas nos servimos de oitenta armas, escolhidas entre o lote existente.

Precisamente ás cinco horas da tarde de 3.10.1930, nos achávamos a 9 km de Araranguá onde Fontoura Borges, Pompílio Bento, Pacífico Nunes (...), e mais vinte e cinco homens, a cavalo, nos esperavam entre aclamações e contentamento.

Às 6 da tarde entrávamos na vila sem encontrar resistência. Tomamos o Telégrafo, todas as repartições estaduais e federais e com o resto dos companheiros incorporados naquela vila, completamos 50 homens. Ali, consoante acordo que fizéramos em POA com o Cel. João Alberto e Oswaldo Aranha, assumi eu a chefia civil do movimento do Sul de SC, nomeando nosso valoroso companheiro Fontoura Borges, para Prefeito do município”.

Por um lado revolução é bom, por outro tem Trifino Corrêa 

Ás 10 horas da noite, ficando Fontoura Borges em Araranguá com finalidade específica de reunir mais gente para nos auxiliar e engrossar nossas fileiras, seguimos com 50 homens para Criciúma, ocupada às 3,30 horas da manhã de 4.10, sem resistência.

Um parêntesis no manifesto: A revolução em Criciúma

Em 10.10.1930, cinco dias após tomar posse como prefeito de Criciúma, Cincinato Naspolini enviou correspondência aos habitantes do município, requisitando material de consumo, veículos e outros. Documentos da época reclamam das condições em que veículos foram devolvidos a seus donos (Gregório Michels, em 10.10.1930, relaciona as peças levadas de seu Ford typo A, num total de 847 mil réis). Egydio A. da Silva, de São Bento Baixo, teve requisitado seu caminhão Ford número 10 para transporte de tropa de Torres a Araranguá. Santi Vaccari, governador civil em Araranguá, escreveu em 19.10.1939, no verso do documento que requisitava o caminhão, carregado para o norte do estado a serviço da Legião, pelo capitão Otelo Frota, comandante da Legião Osvaldo Aranha,

Também Henrique Waterkemper, de São Bento Baixo, teve seu automóvel Chevrolet requisitado, assim como Basílio Aguiar, de Nova Veneza, que emprestou seu caminhão Chevrolet com cabine, 6 cilindros, placa número 15 e Giácomo Búrigo, de Mãe Luzia, que perdeu o caminhão Chevrolet, modelo 1929, placa número 10. Em 12.10 requisitou-se 311,5 caixas de gasolina, 14 galões de óleo à Standard Oil Company of Brazil de Criciúma.

João Targhetta, proprietário do Hotel Brasil, teve pendurada uma conta de mais de trezentos e vinte mil réis, hospedagem de revolucionários. Calote também contemplou os hoteleiros Lodetti e Angeloni.

O prefeito Cincinato Naspolini em duas folhas de papel almaço ordenou as dívidas que deveriam ser quitadas pela municipalidade e   que somavam quase 60 mil réis. 3.949

Por Henrique Packter 30/06/2020 - 09:35

Em 1960 o Botafogo está em Criciúma para medir forças com o Atlético Operário. Filas imensas no Café São Paulo disputavam os ingressos. Listas de espera por desistências enchiam folhas e mais folhas de papel almaço. Muita gente ilustre de Criciúma nas listas. Os créditos de alguns dos nossos cidadãos não eram suficientemente confiáveis e, por isso, alguns foram retidos por divergências cadastrais.

Olavo de Assis Sartori e João Pellegrim, da Radiolândia, botafoguenses intimoratos, deslumbram-se. Garrincha, colecionador de passarinhos, ganha alguns, hospedados em gaiola requintada. Sartori, médico ginecologista e obstetra do Hospital São José, posa para foto com o zagueiro Tomé; foto que ficará pela vida de Sartori emoldurada, enfeitando uma das paredes de seu consultório. A presença do Botafogo na cidade que tinha menos de 30 mil habitantes na área urbana, incendeia a cidade. O técnico Paulo Amaral, preparador físico da seleção brasileira, campeã mundial em 1958, vai ao Café São Paulo levando alguns craques: Nilton Santos,.Paulistinha, Pampolini, Didi, Tião Macalé, Garrincha, Quarentinha, Amarildo, Zagalo, Paulinho Valentim, Amoroso, foram alguns nomes anotados.

Até hoje, o Metropol é considerado por muitos como o grande clube da história esportiva de SC. No seu auge, foi campeão estadual cinco vezes, nos anos de 1960, 61, 62, 67 e 69. Excursionou, marcando época com grandes craques e célebres confrontos no velho continente, o que valeu ao time criciumense uma condecoração especial da Confederação Brasileira de Desportos.

Em 68, o Metropol participou de uma polêmica nacional. Enfrentava o Botafogo nas quartas de final da Taça Brasil, a principal competição nacional de clubes na ocasião. Perdeu por 6 a 1 no RJ. A volta foi disputada em Florianópolis, e o Metropol ganhou por 1 a 0.

No terceiro e decisivo confronto,  houve empate em 1 a 1. Chovia muito no RJ. O jogo foi encerrado e a CBD mandou o Metropol retornar para Criciúma, até que nova data para o complemento do jogo fosse agendada. A data realmente foi definida, mas o Metropol não teve tempo para viajar, avisado na véspera. Assim, o Botafogo foi considerado vencedor e posteriormente sagrou-se campeão.

O Metropol sempre mandou seus jogos no antigo Estádio Euvaldo Lodi, denominado João Estevão de Souza desde 1976. Entre os grandes craques da história do clube, estão o goleiro Rubens, jogador que mais defendeu o Metropol, com 271 partidas, seguido pelo lateral Tenente, com 202 jogos, e pelo zagueiro Hamilton, que atuou 183 vezes. Idésio, o Tanque, foi o maior artilheiro, com 140 gols, seguido por Nilso, com 83.

O Metropol tem parte da sua estrutura administrada pela Carbonífera Criciúma, mas o ginásio de esporte do clube está em estado de abandono.

Já que se falou em Olavo de Assis Sartori, talvez o mais leal e fervoroso torcedor que o clube já teve em sua história, não é demais lembrar que a Copa Libertadores da América de 1981 foi competição de futebol realizada anualmente pela Confederação Sul-Americana de Futebol. Equipes das dez associações sul-americanas participavam do torneio.

O Flamengo do RJ conquistou seu primeiro título na competição ao superar o Cobreloa do Chile, num jogo de desempate no Estádio Centenário, Uruguai, por 2–0, gols de Zico. Com a conquista, o clube pôde disputar a Copa Intercontinental, dezembro do mesmo ano, no Japão, contra o Liverpool, da Inglaterra, campeão da Liga dos Campeões da Europa 1980-81. Segundo a Conmebol, o Rubro-negro registrou público de 516.382 espectadores nos seis jogos que disputou no Maracanã, o maior público já registrado numa edição da Copa Libertadores da América.

Sabendo que para Sartori só existia o Botafogo e seu maior desafeto era o Flamengo, antes do jogo do desconhecido Cobreloa chileno  contra o Flamengo, inticávamos:

- Sartori, agora o Flamengo é o Brasil! Vais torcer para o Flamengo, certo?

Sartori, da sua trincheira:

- Sou Cobreloa desde pequenininho!  3.916

Por Henrique Packter 27/06/2020 - 09:35

O Metropol de Criciúma, lendária equipe de SC, cerrou os portões em 1969, mas continua a exercer fascinação entre os adeptos do futebol. Desapareceu justamente no ano de sua sagração como campeão catarinense, chegando às quartas-de-final da Taça Brasil. Fundado em 15.11.1945 para abafar uma greve de mineiros da Carbonífera Metropolitana e aproximar empregados e patrões pelo futebol, o Esporte Clube Metropol completou este ano 75 anos de existência.

Foi o clube de maior sucesso entre na década de 1960 em SC. O Metropol elevou o nome da cidade, tornando-a conhecida no Brasil inteiro. O Metropol, até 1959, fora equipe criada para entretenimento dos trabalhadores do carvão nos torneios da Liga Atlética da Região Mineira, entra para a história nos anos 1960 quando, durante uma greve dos mineiros, José Francione, então com 30 anos, decidiu reforçar o time de futebol, aumentar seu poder competitivo e esfriar por quase dez anos movimentos grevistas.

É desta época o carneiro, mascote do time, porque a inconformada torcida adversária, obrigava-se a digerir as derrotas e afirmava que os mineiros-jogadores não passavam de uma carneirada. Essa carneirada, o Esporte Clube Metropol, ao cabo de 466 partidas de toda sua existência, conquistou 265 vitórias, 113 empates e apenas 88 derrotas.

Capitaneado por José Francioni de Freitas (o Dite), filho de Dimício Freitas, mega-empresário da indústria carbonífera, Dite Freitas manteve a hegemonia do futebol catarinense durante toda a década e conseguiu importantes títulos para a cidade e para o Estado. Tinha ao lado Gilberto J. de Oliveira que gerenciava o futebol, contratando os craques (com carteira profissional  e tudo), na condição de mineiros no sub-solo.

Dizem, eu não afirmo, que seu Gilberto costumava lembrar a jogadores displicentes, pouco aplicados, que a continuar assim e com a falta de braços lá no fundo da mina... Durante toda a sua atividade no futebol profissional, que se estendeu até 69, o Metropol foi administrado pelo grupo Freitas/Guglielmi.

Seu Gilberto trabalhou (muito) comigo na Fundação Cultural de Criciúma e dificilmente se verá pessoa mais correta e competente no exercício de qualquer atividade profissional. Ele costumava me dizer:

- Se o senhor permitir vamos fazer aqui na Fundação como seu Diomício fazia comigo. Medidas duras deixa que eu transmito ao pessoal. Eles virão reclamar ao senhor. Diga então como  fazia seu Diomício:

- Vocês conhecem o Gilberto. Ele é um tanto quanto exagerado. Deixem que eu vou ver o que é possível fazer.

Um mordia e o outro assoprava.

Perguntei como conhecera Diomício Freitas. Gilberto era funcionário da VARIG no aeroporto de Florianópolis e sempre se destacava pelo atendimento cortez, fidalgo que dispensava a todos, mas especialmente aos mineradores da região sul catarinense, que conhecia um a um e pelo nome. Houve um dia em que recebeu oferta de trabalho em empresa carbonífera de Criciúma. Ficou nas empresas de Diomício até aposentar-se. No dia do falecimento do garnde capitão de indústria, num apartamento do Hospital São José, apenas eu e seu Gilberto presenciamos a dolorosa e silente morte de Diomício. Dite, chamado às pressas, acabara de sair diante do fato que tudo estava bem.

Apesar de seu desempenho futebolístico, o clube vai terminar quando a sociedade Freitas-Guglielmi que mantinha o time chega ao fim e quando da eliminação para o Botafogo na Taça Brasil de 1968. Naquela época apenas os campeões estaduais disputavam a mais importante competição nacional – a Taça do Brasil – e o Metropol era um campeão irretocável.. A equipe já vencera o Água Verde, campeão paranaense, e o Grêmio, grande heptacampeão gaúcho. No caminho do Metropol encontrava-se agora o fantástico Botafogo, do goleiro Manga, depois Nacional de Montevidéu e Internacional de POA. 3.801

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