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Alexandre Herculano de Freitas, dos primeiros dentistas de Criciúma

Por Henrique Packter 11/05/2021 - 07:17 Atualizado em 11/05/2021 - 07:19

Não eram das melhores as relações entre ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, o mais célebre de alguns dos espirituosos habitantes criciumenses dos anos 60, e o exército americano. O dentista Alexandre era crítico feroz de alguns aspectos da história militar americana. Costumava dizer que as memórias de guerra de antanho ocorriam sem a morte de nenhum general. Salvo, acrescentava, por duas honrosas exceções, contemplando morte de general por bala:

- Teve um que foi ver se a arma estava carregada. Estava. E o outro morreu engasgado com uma bala Piper...

 

ANTIGAMENTE O TEMPO PASSAVA MAIS DEVAGAR

População de Criciúma início década de 1960: 48.000 habitantes, sendo 26.499 na área urbana e 21.551 na área rural (IBGE, 1960).  As distâncias pareciam imensas: Criciúma-Lages 204 km, Criciúma-POA 281km. Distância entre Criciúma-Tubarão 61km.

CAFÉ SÃO PAULO , TEMPLO E FÓRUM

Era onde o gênio de Alexandre  Herculano de Freitas mais brilhava. Demolido em 05.09.2007, foi local dos recitais de Fiobo Minato. Era legitimador de grandes e pequenos negócios, reduto político, central de achados e perdidos. 

Ponto de encontro e de decisões históricas desde a década de 30, o Café São Paulo fechou as portas para abrigar uma sapataria. Com o Café, somam-se três os pontos comerciais históricos que deixam o entorno da Nereu Ramos: Radiolândia na Seis de Janeiro e, na João Pessoa cerra as portas o Armazém Zilli. Os sobrados Art Deco possuíam uma característica especial quando construídos em esquinas: elas eram chanfradas de modo que a esquina ficasse marcada através da arquitetura e se tornasse ponto de referência na cidade. Em meio aos edifícios que tiveram essa tipologia, destacam-se dois: o Edifício Filhinho e o Edifício São Joaquim, que tinham no térreo os principais cafés da cidade, Café São Paulo e Café Rio, respectivamente.

O edifício Filhinho foi construído em 1946, e é um dos exemplares originais da época que mais preservam a sua característica original, transformando-se em referência na cidade. Localizado na esquina das ruas 6 de janeiro e Conselheiro João Zanette, antes da construção do edifício, o Café São Paulo já existia desde a década de 1920 numa casa no mesmo local, há mais de 80 anos. Propriedade de Henrique Lodetti, este a vendeu para Abílio Paulo, que então decidiu pela demolição da casa e construção do edifício Filhinho. O Café São Paulo se manteve no local, ocupando o andar térreo. Num dos andares superiores, em agosto de 1947 foi instalada central com 50 aparelhos para instalação da primeira rede telefônica em Criciúma. No outro andar, logo após o término da construção, nasceu a Rádio Eldorado. As atividades da rádio acontecem nos altos do Café São Paulo até 1955, quando, adquirida por Diomício Freitas, foi transferida para o edifício São Joaquim. Os cafés São Paulo e Rio eram locais de encontro diário dos trabalhadores, comerciantes, juízes, médicos, advogados, engenheiros e recém-chegados à cidade. Era ali que notícias e informações se espalhavam, e ali, na Praça Nereu Ramos e nos prédios do entorno que todo o processo de expansão, de articulação, de apropriação e de identificação aconteceu. Uma cidade tem no centro a sua primeira área urbana, e é através dele que surgem os primeiros manifestos sociais, culturais, tecnológicos e espaciais, assim como atividades de lazer, espaços de contemplação e de encontro e também aspectos de poder, tanto políticos quanto ideológicos.

No caso da Praça Nereu Ramos, a vida urbana está diretamente conectada com as edificações do entorno sendo transformadas, junto da praça e pela própria população, em protagonistas do núcleo central. Preservar essas edificações históricas é fundamental para que a memória e a identidade da cidade se mantenham acesas.

Preservar as construções representativas da herança urbana é preciso. Edifícios são referências dentro da cidade, fundamentais para que a população se identifique com o espaço, evocando memórias.

Transferência da Rádio Eldorado dos altos do Edifício Filhinho – onde funcionava, no térreo, o Café São Paulo, extinto em 2007 – para os altos do Edifício Dom Joaquim foi grande impulso para popularizar o Café Rio. A Eldorado ali instalada, no começo dos anos 50, com ela vai o público atrás dos programas de auditório, radialistas, artistas. Os cantores dos programas e o público, batiam ponto no café, antes e depois das apresentações. Era o grande point do nosso  passado. A rivalidade entre os dois principais cafés do Centro envolvia divisões políticas. A turma da UDN frequentava o Café São Paulo e a turma do PSD vinha para o Café Rio. Sem ser regra, acontecia ao natural. Por ser perto da igreja, o Café Rio tinha também o público da missa, antes e depois do santo ritual.

ALEXANDRE NO CAFÉ SÃO PAULO

Foi ali que em 1960, quando cheguei a Criciúma, que reinava absoluto o gênio satírico de Alexandre Herculano de Freitas, dentista e inventor de causos. Perguntado numa roda de café se era natural de Criciúma, respondeu:

-Eu não mereci. Dito isso, com espírito contrito garantia:

-Nasci em Oxford, onde fiz meus primeiros estudos!

Oxford, bem entendido, bairro de São Bento do Sul.

 

NO CAFÉ SÃO PAULO ALEXANDRE E DAVID BOIANOWSKI TORNARAM-SE AMIGOS

-Dr. Davidi!

- O d é mudo!

- Muito prazer Dr. Avid!

Alexandre dizia:            

- Quando a mão lava a outra em geral as duas estão sujas

 

Alexandre e o cartorário Irê Guimarães espalharam a história do guarda roupa do corte da Próspera.

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