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Por Henrique Packter 29/04/2022 - 12:45 Atualizado em 29/04/2022 - 12:50

Há personagens que parecem representar papel secundário em nossa história. Vistos mais de perto adquirem vulto maior, chamam a atenção. Tornam-se indispensáveis.  FÁBIO TOMAZ DA SILVA é um desses vultos, mas sua memória já vai se apagando das lembranças criciumenses.

OS SETE DE OUROS DA EMANCIPAÇÃO DE CRICIÚMA

Sete personagens indispensáveis para nossa emancipação, quase todos caídos no esquecimento, mas, um deles alcançando prestígio estadual como soldado e guerreiro, combatendo na revolução de 30, FÁBIO THOMAZ DA SILVA 

CORONEL PEDRO BENEDET

Nasceu na Itália na província de Treviso em 05.01.1864. Filho de Lorenzo Benedet e de Regina Sônego. Chega aos 15 anos de idade em Criciúma na primeira leva de colonos que aqui aportou. Casado com Antônia Martinello, tiveram 13 filhos, mulheres 8 deles. Agente postal, empenhou-se na criação de nosso município, presidindo o primeiro Conselho Municipal, de 1º.01.1926 a 09.01.1928. Em 1926 funda o pioneiro jornal O MINEIRO com Marcos Rovaris e Frederico Minatto. Explorou o carvão mineral como sócio cotista da Sociedade Carbonífera Próspera S.A. Viajante contumaz, do Vêneto, província do Beluno, enviou em setembro de 1927 grande sino de bronze para a Igreja Matriz São José. Faleceu com 77 anos em 08.01.1941.

FREDERICO MINATTO

Natural do Vêneto, província de Treviso, onde nasceu a 1º.12.1863. Chega ao Brasil em 1877 com 14 anos de idade. Casado com Narcisa Dandolini teve o casal 7 filhos. Foi pai de Fiovo Minatto, figura folclórica da região e também avô de Genésia Minatto, casada com o engenheiro Ayrton Egídio Brandão e primeira mulher a advogar em Criciúma.

Frederico teve loja, fábricas de banha e de cerveja. Um dos pioneiros na indústria do carvão, criou em 1917, associado ao engenheiro Manoel Pio Corrêa, Cia Carbonífera A COLÔNIA. Depois, com o aporte acionário de Marcos Rovaris e Francisco Meller, é a Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. Subdelegado e delegado da polícia, morre em Criciúma aos 92 anos (09.09.1955).

GABRIEL ARNS

Gabriel Arns, nasceu em São Martinho, 1890.  Casado com Helena Steiner tiveram 13 filhos. Pai de ZILDA ARNS e de DOM PAULO EVARISTO ARNS, Gabriel fixa residência em 1902 na Forquilhinha, então distrito de Criciúma, uma das 3 primeiras famílias a colonizar a região. Dos principais líderes para emancipação de Criciúma, em 1962 é Cidadão Honorário de Criciúma e no mesmo ano é pioneiro nº 1 do Distrito de Forquilhinha. Faleceu em 1965 em Curitiba, onde ZILDA ARNS residia.

OLIVÉRIO NUEREMBERG

Nasceu em Braço do Norte, 1899.  Pai de 8 filhos em dois casamentos (Vitória Canela e Cecília Canela). Graduado em 1930 no Curso Politécnico de Florianópolis como dentista. Sócio fundador das Carboníferas Rio Maina, Catarinense e São Marcos. Vereador em 1936, vice-presidente da nossa Câmara Municipal, faleceu em Nova Veneza, 1977.

MARCOS ROVARIS

Nasceu na província de Bérgamo, Itália, 10.05.1873 chegando ao Brasil em 1892 aos 19 anos de idade. Estabeleceu-se inicialmente no Cocal com casa comercial e fábrica de banha. Do primeiro casamento com Maria Nichele teve 9 filhos. Depois, morrendo a primeira esposa, consorciou-se com Celestina Zilli com a qual teve mais 6 filhos. Total: 15 filhos. Na rua que leva seu nome em Criciúma, teve uma serraria, oficina mecânica, descascador de arroz, moinho de cereais, locomóvel fornecedor de energia elétrica gratuita para toda a população. Iniciou a colonização do Turvo. Associado a outros foi sócio cotista pela Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. Em 1909 era vereador em Araranguá de que Criciúma era o 6º distrito. Destacou-se na luta pela nossa emancipação político-administrativa, obtida pela Lei nº 1516, sancionada pelo governo estadual em 31.10.1925. Em 06.12.1925 é nosso primeiro Superintendente empossado em 1º.01.1926. Em 04.10.1930 é deposto pelas forças revolucionárias gaúchas e substituído por Cincinato Naspolini. Cofundador do jornal O MINEIRO, tendo como redator chefe o Prof. Adolpho Campos. Participou da comissão encarregada de erigir o Hospital São José.  Faleceu em Florianópolis aos 63 anos, em 28.12.1936.

HENRIQUE DAL SASSO

Nasceu em Veneza, na Itália, em 03.08.1881. Veio ao Brasil em 1911 estabelecendo-se na vila de Nova Veneza. Pai de 8 filhos. Comerciante e contador, participou do primeiro Conselho Municipal de Criciúma. Faleceu em 06.02. 1960 em Nova Veneza.    

FÁBIO TOMAZ DA SILVA

Nasceu em Tubarão em 11.05.1883. Casado com Maria Soares da Silva, o casal teve oito filhos. Antonio Tomaz, um dos filhos, foi duas vezes prefeito de Araranguá.  Em 1918 muda-se para Criciúma estabelecendo-se com armazém de secos e molhados na Operária Velha. Foi delegado de polícia, feitor de estradas e representante do Ministério Público na área de educação. Secretário do primeiro Conselho Municipal de Criciúma que teve Pedro Benedet como presidente, sendo composto por Gabriel Arns, Henrique Dal Sasso e Olivério Nueremberg. Este Conselho elegeu Marcos Rovaris para Superintendente (Prefeito), empossando-o em 1º.01.1906. Faleceu em Nova Veneza em 1960. 5.012

FÁBIO SILVA: FIGURA IMPOLUTA, CARÁTER  SEM JAÇA

FÁBIO era amigo pessoal do célebre Dr. OTTO FEUERSCHUTTE, segundo médico em Tubarão e três vezes prefeito da Cidade Azul. Transferindo-se para Criciúma, Fábio adquiriu pequeno prédio que foi hotel, Hospital São José e depois concentração do E.C. METROPOL, ali na Avenida Centenário, na época passagem para os trilhos da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina. O prédio ficava bem próximo ao Banco Santander.

Foi vereador de 1926 a 1928 construindo, nas horas vagas, a rodovia Florianópolis-Anitápolis. Quando eclode a REVOLUÇÃO DE 30, 6 quilômetros da estrada já se achavam concluídos.

Comerciante atilado, em 1925 participa da comitiva que vai a Florianópolis lutar pela emancipação de Criciúma, então, distrito de Araranguá. Parlamentam com o governador Antonio Pereira da Silva e Oliveira. Foram 8 dias de luta contra o Cel. João Fernandes, ex-prefeito da cidade das avenidas. Victor Konder, irmão de Adolpho Konder e próximo governador de SC, nosso grande advogado, elabora a Lei 04.11.1925, criando o município de Criciúma, instalado em 1º.01.1926, logo-logo um século. Fábio foi secretário do Conselho Municipal. (Cont.)

Por Henrique Packter 17/04/2022 - 08:30 Atualizado em 18/04/2022 - 11:50

VÉSPERA DE PÁSCOA DE 1966      

DOUTORZINHO prestou serviço militar na área de saúde da Base Aérea de Canoas no RS. Do período passado no vizinho estado poucas lembranças escritas existem. O que se sabe chegou até nós e é por nós sabido por suas bravatas, especialmente nos períodos em que este na prisão em São Bento do Sul, Curitiba e Criciúma. Helvídio de Castro Veloso Filho contou-me que estando Doutorzinho preso, é por ele chamado para dizer:

- Doutor Helvídio, pedi que viesse e agradeço pela sua vinda e pela maneira pela qual sou tratado em sua cadeia.  Aqui, ninguém me surra ou tortura, posso tomar meus banhos de sol e comer sossegado minhas refeições. Até fumar eu fumo. O senhor sabe que sempre consegui escapar das prisões em que estive trancafiado e desta vez não será diferente.

Em sinal de agradecimento pela sua acolhida, quero convida-lo para assistir à Copa do Mundo da Inglaterra de 1966 em minha companhia, com o dinheiro do Nelson Teixeira!

Esse relato, o delegado levou ao conhecimento do juiz Francisco May Filho, porque o baiano Helvídio de Castro Veloso Filho não era de dormir de touca.

E em Canoas?

Diz-se que um primeiro tenente recém-chegado de capital nordestina fora designado para atuar como bioquímico na Base Aérea de Canoas. Bota o olho em Egon Schneider e o escolhe para datilografar os laudos dos exames (poucos) que realizava. Doutorzinho trabalha de má vontade em serviço no qual não punha interesse algum. Ocorre que, certo dia, ditando o tenente                                                                                                                                        os resultados para serem datilografados, como de hábito, diz:

-  Senhora Ana Carolina Machado, Glicemia, 4 cruzes (++++).

- Mas, tenente, atalha Schneider, essa daí é a mulher do coronel- comandante!

O tenente titubeia por um instante, enquanto Schneider observa-o disfarçadamente, com expressão divertida. Aguardava, sabendo que o número de cruzes expressava maior ou menor gravidade das doenças. Uma cruz após Glicemia não era tão grave assim, mas com 3 ou 4, a história era outra. Schneider passa a tirar uma poeira imaginária da imaculada mesa da máquina de escrever, auxiliando o procedimento com providenciais sopros. Parecia extremamente ocupado nessa tarefa de transcendental importância.

-  Quer dizer que é a mulher...  começa o tenente, para em seguida proclamar:

- Então bota uma cruz só!      

Era, também, véspera de Páscoa.

Por Henrique Packter 15/04/2022 - 07:35

Essa é antiga, mas vale a pena ler de novo...

- Papai, o que é Páscoa?

- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!

- Igual ao Natal?

- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

- Ressurreição?

- É, ressurreição. Marta vem cá!

- Sim?

- Explica prá esse garoto o que é ressurreição prá eu poder ler o meu jornal.

- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu ?

- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

- O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas ! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos
domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã ! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus ?

- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

- O Espírito Santo também é Deus?

- É sim.

- E Minas Gerais?

- Sacrilégio!!!

- É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

- Coelho bota ovo?

- Chega ! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

- Era... era melhor, sim... ou então urubu.

- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?

- Que dia ele morreu?

- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

- Que dia e que mês?

- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.

- Um dia depois!

- Não três dias depois.

- Então morreu na Quarta-feira.

- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!

- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

- É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no sábado?

- Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!

- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

- Ui...

- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

- Cristo. Jesus Cristo.

- Só?

- Que eu saiba sim, por quê?

- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Ai coitada!

- Coitada de quem?

- Da sua professora de catecismo!

Luiz Fernando Veríssimo

Por Henrique Packter 14/04/2022 - 13:05 Atualizado em 14/04/2022 - 13:09

VÉSPERA DE PÁSCOA DE 1966      

DOUTORZINHO prestou serviço militar na área de saúde da Base Aérea de Canoas no RS. Do período passado no vizinho estado poucas lembranças escritas existem. O que se sabe chegou até nós e é por nós sabido por suas bravatas, especialmente nos períodos em que esteve na prisão em São Bento do Sul, Curitiba e Criciúma. Helvídio de Castro Veloso Filho contou-me que estando Doutorzinho preso, é por ele chamado:

- Doutor Helvídio, pedi que viesse e agradeço pela sua vinda e pela maneira pela qual sou tratado em sua cadeia.  Aqui, ninguém me surra ou tortura, posso tomar meus banhos de sol e comer sossegado minhas refeições. Até fumar eu fumo. O senhor sabe que sempre consegui escapar das prisões em que estive trancafiado e desta vez não será diferente.

Em sinal de agradecimento pela sua acolhida, quero convida-lo para assistir à Copa do Mundo da Inglaterra de 1966 em minha companhia, com o dinheiro do Nelson Teixeira!

Esse relato, o delegado levou ao conhecimento do juiz Francisco May Filho, porque o baiano Helvídio de Castro Veloso Filho não era de dormir de touca.

E em Canoas?

Diz-se que um primeiro tenente recém-chegado de capital nordestina fora designado para atuar como bioquímico na Base Aérea de Canoas. Bota o olho em Egon Schneider e o escolhe para datilografar os laudos dos exames (poucos) que realizava. Doutorzinho trabalha de má vontade em serviço no qual não punha interesse algum. Ocorre que, certo dia, ditando o tenente os resultados para serem datilografados, como de hábito, diz:

-  Senhora Ana Carolina Machado, Glicemia, 4 cruzes (++++).

- Mas, tenente, atalha Schneider, essa daí é a mulher do coronel- comandante!

O tenente titubeia por um instante, enquanto Schneider observa-o disfarçadamente, com expressão divertida. Aguardava, sabendo que o número de cruzes expressava maior ou menor gravidade das doenças. Uma cruz após Glicemia não era tão grave assim, mas com 3 ou 4, a história era outra. Schneider passa a tirar uma poeira imaginária da imaculada mesa da máquina de escrever, auxiliando o procedimento com providenciais sopros. Parecia extremamente ocupado nessa tarefa de transcendental importância.

-  Quer dizer que é a mulher...  começa o tenente, para em seguida proclamar:

- Então bota uma cruz só!     

Era, também, véspera de Páscoa.

Por Henrique Packter 12/04/2022 - 07:30

No final da vida se você não tiver do que se arrepender, você não viveu.
Egon Schneider, Adair Klein, Romeu Bordini, ou simplesmente Dr. HUGO – um escroque em ação no SÃO BENTO do SUL, SC (1964)

Final de maio, início de junho de 64, aparece em São Bento do Sul bem-falante e bem-apessoado  personagem, apresentando-se como adido militar, delegado pelo comando da revolução para a cidade. De idade indefinida, talvez uns 35 anos, chamava-se, dizia ele, Egon Schneider, Major do Exército Brasileiro.

Isso já o catapultou à condição de plena aceitação nos círculos mais respeitáveis da crédula elite são-bentense, quase todos seus integrantes entusiastas da revolução, responsável – diziam todos -  por livrar o Brasil do jugo comunista.

Circunstanciar como o dito major se insinuou e se infiltrou nos mais finos e refinados lares-, maiúsculos ornamentos sociais da urbe -, não é fácil. Isto, porque muitos e muitos anos depois, décadas até, ninguém na cidade queria comentar o ocorrido; de como foram todos estupidamente burlados. Além disso, quando tais fatos se desenrolaram, foi justamente no período em que Tribuna da Serra, único jornal da cidade, deixou de circular pela transferência da sua oficina gráfica de Mafra para São Bento.

Aparentemente o major era pessoa relativamente culta, fluente em diversos assuntos e até falava um pouco de alemão; falava alemão como quem cospe pedra. Esta habilidade linguística somada ao nome e prenome francamente germanos, contava muitos pontos nos altos círculos da germanófila São Bento. Mas, bem examinada, exibia cultura de Seleções do Reader's Digest, de onde possivelmente tenha copiado o figurino de famoso impostor americano da década de 1920, Stanley Clifford Weyman (Stanley Jacob Weinberg). As estripulias de Weyman foram descritas em detalhe pela revista panfletária americanófila, talvez fonte de inspiração para Schneider.

Major Schneider, como passou a ser conhecido, foi rapidamente aceito pela elite empresarial da cidade, nela passando a circular com desenvoltura. Além disso, apresentava-se impecavelmente trajado, terno bem talhado, boas gravatas, sem nunca envergar farda do exército, que dizia representar. Proeminentes figuras da sociedade local disputavam a honra de convida-lo para toda a sorte de eventos, jantares e reuniões, aí incluídas figuras notáveis do judiciário como o Juiz de Direito da Comarca.

Nosso personagem era frequentador do Fury’s Bar, choparia point da cidade, na época. O proprietário do estabelecimento, Aldo Emilio “Furis” Jungton, confidenciava que nosso herói jamais lá pagara contas, sempre patrocinadas pelos bem-sucedidos empresários e autoridades locais. 

Não há registro de que tenha chegado a aplicar algum golpe, de que tenha lesado financeiramente algum cidadão são-bentense. No máximo, imagina-se, tenha ficado devendo a despesa das diárias no hotel (Stelter) em que ficou hospedado no período no qual circulara.

Por outro lado, é de se supor que a maiúscula figura – expressão ímpar da revolução brasileira – logo passe a ser assediado pelo jet set feminino local. Teve acesso facilitado a moças, moçoilas, senhoritas, senhoras e damas da sociedade local. O quanto se aproveitou dessas facilidades é coisa  a ser relacionada no rol das conjecturas, pois esse também é um dos motivos que tornaram esse assunto proibido, tabu, por muito tempo na cidade.

As coisas corriam bem para o Major, que se regalava confortavelmente nas benesses recebidas e por uns dois meses. Mas, princípio de agosto de 1964, outra figura local, que fazia às vezes de informante do exército, ficou intrigado com o tal major. Tratava-se de Paulo Dalvio Mallon, que prestara serviço militar na PE – Policia do Exército do RJ e que tinha estreito contato com o Coronel Ventura. Mallon resolveu investigar. A pergunta era: a quem estava realmente ligado esse tal Major Egon Schneider?

Apenas dois ou três telefonemas interurbanos para descobrir o embuste. Mesmo assim era operação bem mais complicada do que seria hoje em dia. Naquele tempo as ligações interurbanas eram feitas na base de telefonistas, que espetavam aqueles pinos-banana na mesa da central telefônica da cidade para conectar uma das cinco linhas externas disponíveis. A central telefônica de interurbanos só funcionava de dia, no horário comercial. Se alguém quisesse fazer ligação interurbana à noite, só em caso de emergência e indo chamar a operadora para abrir a agencia e fazer a ligação, como de fato aconteceu nesse caso.

O próprio autor da descoberta, Dalvio Mallon, fez questão de participar, liderar, a operação de prender o farsante. Com o delegado de polícia juntou pequena comitiva e autuaram o falso major. Preso, foi encaminhado ao Batalhão do Exército de Rio Negro, no Paraná. Ficou detido alguns dias ali e depois liberado, pois não se produziram provas contundentes contra o acusado. Ninguém fora lesado, não havia provas por falta de denunciantes, todos silentes... nada. As moças e senhoras da sociedade local negavam qualquer envolvimento com o falso militar.

O jornal Tribuna da Serra voltara a circular por aqueles dias, e, em sua edição de 09.08.1964 publicou Pássaro na gaiola, lacônica nota relativa ao fato.

Por Henrique Packter 08/04/2022 - 09:15

No livro biográfico ditado por Henrique Dauro Martignago, CRICIÚMA, EVOLUÇÃO E SUCESSO, há uma história envolvendo notório vigarista dos anos 50-60 com personagem da sociedade carvoeira e alto funcionário da empresa distribuidora da energia elétrica entre nós. Autor do golpe teria sido o célebre Doutorzinho, personagem marginal de nossa história e que servira no setor de saúde na base da Aeronautica em Canoas, RS.  Dauro esclarece tratar-se de homem de origem alemã, bem apessoado, e que após a baixa viera para Tubarão onde teria exercido ilegalmente a Medicina e até sócio fora no Laboratório de Análises Clínicas de Alfredo Nuernberg! Recebido pela melhor sociedade tubaronense, requisitadíssimo pelas famílias com moças casadouras, frequentava o ambiente hospitalar com desenvoltura.

Era época de revolução de 31 de março de 1964. O medo assaltava todas as pessoas, temerosas de alguma denúncia que levasse pessoas comuns a serem detidas, interrogadas e até a serem presas. Pois não estavam bem vivas nas memórias de todos os casos do Drs. Dauro e Manif; do Vânio Faracco e do Amadeu Luz? Uma noite, altas horas, a população dormindo, um jipe militar estaciona frente à residência de Nelson Teixeira. Dele saem dois militares, um capitão e um tenente. O que queriam eles?

Vinham atrás do Nelson. Ele era desquitado da primeira mulher e, para evitar que seus bens, arduamente conquistados, fossem divididos com sua ex-cara-metade, comprava dólares, joias e coisas assim, fáceis de serem convertidas em moeda corrente, caso necessário fosse. Os militares, foi o que eles disseram, vinham conferir esses haveres, pois alguém denunciara que muitos desses bens seriam falsificações ou (ora, vejam só!), roubadas.

Nelson abriu o cofre e mostrou tudo aos militares que, aparentemente satisfeitos, anunciaram que levariam tudo à delegacia de polícia, onde o delegado Helvídio de Castro Veloso Filho aguardava para lavrar a ocorrência e absolver das falsas acusações um preocupado Nelson Teixeira. Mas, outro foi o destino tomado. Logo Nelson soube que era tudo um golpe, uma vigarice, os meliante abandonando-o sobre a ponte do rio Araranguá.  

O resultado do assalto realizado em Criciúma deveria ser dividido com outros comparsas, coisa que Doutorzinho esqueceu de fazer. Acaba por deixar as  amenidades sociais da vida tubaronense e vai se homiziar em Assunção, Paraguai, onde era proprietário de modesto hotel.

Repercussão no Café São Paulo

Agita-se o café, caixa de ressonância da boataria municipal, com esses assaltos e roubos a joalherias. Da Próspera chegam notícias enigmáticas. Instalara-se no populoso e tradicional bairro criciumense, madame baiana que pregara na porta de sua habilitação-casa de negócio: MANICURE E VIDENTE. Parece que era bastante eficiente nas duas atividades. Segundo sobrinha da mulher do  prefeito, cliente do estabelecimento, ela alertara para outras atividades criminosas do bando, incluindo sequestros e afinal a morte dos cabeças do bando pela Polícia Militar.

Alexandre Herculano de Freitas -, dentista, analista político do café e crítico de trivialidades em geral, avaliava as notícias do dia, atribuindo a cada uma  delas seu peso real. Corria o ano de 1963, último ano de vida de Alexandre que morreria em acidente com seu Candango na localidade de 7 Pontes, próxima a Florianópolis. Também em 1963, a 22/11, o Presidente dos EUA, John F. Kennedy seria assassinado em Dallas no Texas aos 66 anos de idade. A 3/6  morre João 23, talvez o mais extraordinário Papa da Igreja Católica em todos os tempos (1958 a 1963). Morre Édith Piaf, cantora francesa, a 11/10 aos 48 anos. Também morreria Aldou Huxley, escritor inglês, aos 69 anos de idade, autor de Contraponto e Admirável Mundo Novo. 

O juiz Raul Tavares da Cunha Mello prestou depoimento sobre as tropelias do bando de Doutorzinho. Reconheceu que Doutorzinho aproximava-se de autoridades civis para proteção e saber com quem estava o dinheiro.  O conhecimento obtido auxiliava no planejamento dos golpes aplicados. Teria se aproximado de juiz de direito da Comarca do Turvo que dedicava bom tempo das suas horas de lazer à pescaria. Convidado, Egon Schneider acompanhou-o numa delas. Testemunhas dizem que o capitão Doutorzinho pedia ao juiz para espetar  a minhoca na isca porque teria nojo daquele anelídeo.  

Ainda no Turvo, lembra um caso, envolvendo o conhecido criminoso. “Lá no Sul tinha o famoso Doutorzinho, que na época da Revolução se fardava de capitão do exército, adotando o nome de capitão Egon Schneider. Seu comparsa, o Chumbinho, se vestia de tenente. Usavam um jipe verde, roubado, apresentavam-se como militares, agentes da revolução e confiscavam as armas dos colonos, aproveitando-se da ingenuidade daquele bom povo interiorano. Curioso, é que eles eram bem recebidos e até circulavam nas altas rodas da sociedade local. Na verdade, faziam parte de uma quadrilha de roubo de carros, que envolvia até delegados. Com eles, ninguém se metia e muita gente deles sabia. Depois de muitos crimes, a quadrilha se refugiou no Paraguai. Um dos assaltantes era da cidade de Meleiro, no Sul de SC, o Cláudio Casagrande. Houve um desentendimento entre o grupo, porque Casagrande se sentiu lesado pelo Doutorzinho, que teria levado para o Paraguai  todo o dinheiro do assalto por eles praticado.

Tempos depois Cláudio convence Doutorzinho a voltar para SC a fim de participar de outro grande assalto. Na verdade, Casagrande pretendia tocaia-lo, o que conseguiu, terminando por assassinar Doutorzinho e Chumbinho. Este foi enterrado num arrozal e Doutorzinho nas areias da praia do Morro dos Conventos, Araranguá. Quem achou seu corpo foi o então juiz Urbano Salles, quando jogava futebol com grupo de amigos naquela praia. Ao buscar a bola que caíra próximo a umas dunas, acabou encontrando o corpo do criminoso, apenas com a cabeça desenterrada.  Raul acrescenta, ainda, que presidiu o Tribunal do Júri que condenou Casagrande.  

DAURO diz que eles se encontraram com morador de Jundiá no Turvo, na Vila de São João, divisa de SC com RS, onde foram assassinados. Chumbinho foi enterrado próximo à residência onde estava hospedado e Doutorzinho entre Morro dos Conventos e Arroio do Silva. A versão de DAURO é que por coincidência ele, Dino Gorini, Claudio Bratti e Bruno Tasso  caçavam codornas na fazenda de Oscar Réus, no litoral sul.  Um carro fora deixado à beira mar  e, no final da tarde, numa depressão de dunas encontraram cadáver identificado como de Doutorzinho.

Desta forma, terminam tragicamente as vidas terrenas de Doutorzinho e Chumbinho.

Por Henrique Packter 06/04/2022 - 09:20 Atualizado em 06/04/2022 - 09:20

O PURAN T4

- Tem esse outro aqui, o PURAN T4, para o tratamento de pacientes com hipotireoidismo, produção insuficiente de hormônio pela glândula tireoide. É o chamado cretinismo na infância, pela deficiência de hormônios da tireoide na fase fetal. Da falta de hormônio  da tireoide tem também o mixedema, expresso na pele seca e áspera, lábios inchados, nariz espessado.

Dona Rose pergunta:

- Como funciona o Puran T4, doutor?

- Puran T4 é hormônio fabricado pelo organismo, na glândula tireoide.

- O remédio tem contraindicações?
- Dona Rose, Puran T4 não deve ser utilizado em caso de infarto do miocárdio recente (o seu caso), atividade excessiva da tireoide (tireotoxicose não tratada). Isso resulta em níveis elevados de hormônio tireoidiano, insuficiência da suprarrenal (glândula sobre os rins), e hipertireoidismo não tratado.
- Dona Rose, sabe quais os efeitos de tomar Puran T4 com outros remédios?

Hormônios tireoidianos aumentam os efeitos dos anticoagulantes orais, contraceptivos orais, aspirina, antidiabéticos.  Pode levar a aumento do açúcar no sangue, e em pacientes diabéticos, pode ser necessário ajustar a dose dos antidiabéticos orais ou da insulina..

- Sou diabética e também tomo Puran. Isso exige cuidados?

Cuidado com pacientes recebendo administração concomitante de levotiroxina e medicamentos que podem afetar a função da tireoide (tais como amiodarona, salicilatos e furosemida em altas doses). Durante terapia com levotiroxina em mulheres pós-menopáusicas com risco aumentado de osteoporose (fraqueza nos ossos), a dosagem de levotiroxina sódica deve ser ajustada para o nível eficaz mais baixo possível.

- Preciso tomar cuidados com o hormônio da tireoide por ter sofrido do coração?

A levotiroxina deve ser usada com extremo cuidado em pacientes com distúrbios do coração e circulação, incluindo angina pectoris, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e pressão alta. Receitar hormônios da tireoide pode precipitar problemas das glândulas suprarrenais ou hipófise caso não seja feito adequado tratamento com corticosona.

Em recém-nascidos prematuros com baixo peso, o tratamento com levotiroxina deve ser realizado com grande cautela pois pode ocorrer colapso circulatório, coração e vasos não sendo capazes de irrigar todos os tecidos do corpo com oxigénio suficiente, pela imaturidade da função suprarrenal.

- O hormônio da tireoide pode ser usado em pessoas que já tiveram epilepsia?

Pois é. em criança sofri de convulsões, e eu nem  me lembrava mais.  O hormônio tiroidiano em pacientes com histórico de epilepsia, pode aumentar o risco de convulsões, secundárias a descargas elétricas cerebrais. Isso, sem falar no risco de reações de alergia ou intolerância, causando risco de vida (imediatamente ou vários dias após tomar o medicamento). Tempestade tireoidiana (crise tireoidiana causada pelo aumento da quantidade de hormônios da tireoide na corrente sanguínea), convulsões (contrações súbitas e involuntárias dos músculos secundárias a descargas elétricas cerebrais),

- E quanto aos ossos?
Tomar levotiroxina está ligado a risco de perda óssea, a osteoporose (fraqueza nos ossos) e fraturas. Isso foi observado em mulheres na pós menopausa, em carcinoma diferenciado de tireoide. Em geral, reações adversas da levotiroxina estão associadas a dosagem excessiva e correspondem aos sintomas do hipertireoidismo (produção excessiva de hormônio pela tireoide). Fraqueza muscular, cãibras e osteoporose (fraqueza nos ossos) em doses supressivas de levotiroxina.

- E, quanto ao coração?           
Hormônios tireoidianos podem ocasionar: palpitações (percepção dos batimentos do coração), taquicardia (aceleração do ritmo cardíaco), arritmias cardíacas (descompasso dos batimentos do coração) e dor de angina (dor no peito). Arritmias cardíacas (descompasso dos batimentos do coração), redução da função cardíaca (batimento mais fracos), coma e morte.

- Observei problemas na minha pela pelo uso de hormônios da tiroide, pode ser?
É possível. Pode haver angiodema (inchaço em região subcutânea ou em mucosas, de origem alérgica), rash (erupções na pele), urticária (erupção na pele, de origem alérgica, que causa coceira), e suor excessivo. Rush (erupções na pele), coceira, dificuldade em respirar, falta de ar, inchaço da face, lábios, garganta ou língua.

- Tive insônia, nervosismo, excitabilidade (agitação), fogachos (súbita sensação de calor), colapso circulatório, problemas gastrointestinais: febre, diarreia e vômitos, cefaleia, tremores, pressão alta dentro da cabeça, cefaleia, náusea, alterações visuais, zumbido e calor.
- Há medicamentos administrados por via oral que podem reduzir a absorção do hormônio ttireoidiano?
Sim, sais de ferro; o sulfato ferroso reduz a absorção da levotiroxina do trato gastrintestinal. Não esquecer o café. Tomar Puran T4 com café, pode reduzir a absorção da levotiroxina pelo intestino. Após tomar Puran T4 esperar pelo menos 1 hora antes do café ou 2 horas após o café da manhã ou ingestão de alimento), a fim de aumentar sua absorção.
 
É só gente! Na próxima semana: Professor MÁRIO BRAGA DE ABREU.

Por Henrique Packter 28/03/2022 - 07:45

1.Vale Tudo, Tim Maia

Vale, vale tudo
Vale o que vier
Vale o que quiser
Só não vale
Dançar homem com homem
Nem mulher com mulher
O resto vale
Vale, vale tudo

- Estou vendo em sua relação de medicamentos mais esse aqui: PROMESTIENO e tem este outro aqui, o PURAN T4.

- Pois é. Como quase todo o mundo, ou como quase todas as mulheres idosas de hoje em dia, tomo regular  número de drogas, diariamente.  Era prá informar se apresentasse alguma condição como formação de coágulos no sangue, os tais trombos. Sinal de alerta era inchaço dolorido da perna ou dor repentina do peito e dificuldade para respirar. Isso poderia estar associado a formação de coagulo dentro da veia, impedindo a circulação do sangue. O promestrieno é destinado a uso por mulheres adultas. Não existem restrições para o uso por pacientes idosas. O promestrieno é indicado para o tratamento de atrofia vulvovaginal decorrente de deficiência do hormônio estrogenio. O promestrieno também é indicado no caso de retardo da cicatrização vaginal. O medicamento usado sob a forma de creme, seria bem menos perigoso para a saúde que os ovulos,embora complicações possam ocorrer.

Num dia de folga Dona Rose senta na cadeira de balanço para ler a bula de Promestieno, que utilizava como óvulos e também ingerido.

- Gente, quase caí de costas! O remédio relacionava-se com vários problemas de saúde, estando conectado com pressão alta arterial, doenças no fígado – (o adenoma hepático). No caso de Dona Rose, tumor benigno do fígado. Diabetes mellitus com ou sem envolvimento circulatório, doença metabólica caracterizada por aumento anormal do açúcar ou glicose no sangue; formação de pedras, cálculos na vesícula; enxaqueca ou dor de cabeça intensa; Lúpus eritematoso sistêmico (doença inflamatória autoimune).

- Se eu apresentasse Icterícia (cor amarelada da pele e mucosas pela bile), ou deterioração do funcionamento do fígado; aumento importante da pressão sanguínea poderia ser necessário interromper o tratamento com Promestrieno. Também histórico de hiperplasia endometrial, asma, otoesclerose (bem que falavam que eu estava escutando mal!), e epilepsia! Epilepsia é condição que piora com o uso do medicamento! E, de epilepsia, eu entendo, pois tive crises epilépticas em criança, depois nunca mais! Mas, agora, voltei a ter crises após usar o medicamento. Falei pro doutor e ele disse para não me preocupar. Só isso.

Epilepsia não é uma doença mental, expliquei para Dona Rose,  mas, doença ligada ao funcionamento do cérebro. Um curto-circuito cerebral, uma ativação anormal cerebral. A crise pode ser uma alteração visual, uma saída fora do ar, sensação esquisita, a mão ficar tremendo. Motivação mais ampla pega todo o cérebro e pode ocorrer uma convulsão. O doentinho cai, se debate, baba, arroxeia, morde a língua. Dependendo da região cerebral ativada a pessoa pode ter pequena desligada e depois voltar ao normal, meio aparvalhada; às vezes o olhar fica meio perdido, não responde ao chamado, faz movimentos sem propósito com as mãos.

- Por que as pessoas sofrem crises convulsivas, indaga Dona Rose.

Respondo que pode ser por problema congênito, uma lesão cerebral, trauma, hemorragia, infecção, álcool, droga.

- Aprendi com minha breve leitura que epilepsia não tem cura, mas tem controle diz Dona Rose.  

- Não havendo registro de novas crises  por 10 anos, sendo 5 deles sem o uso de medicamento para controle, a epilepsia é considerada resolvida.

Ainda nesta semana: o Puran T4 tomado com outros medicamentos!

Por Henrique Packter 21/03/2022 - 06:45

Às vezes é bom ler a bula dos medicamentos receitados e que vamos utilizar.

Dona ROSE é minha cliente desde os tempos em que seu marido era gerente de banco em pequeno município do sul catarinense. Tinha um casal de filhos e a filha, que era estrábica, também consultava comigo.

Mais tarde, marido já falecido, passa a residir em Florianópolis, visitando-me quase que anualmente, exceto por esse período pandêmico. Como se recorda, atendo clientes em Floripa dois dias por semana.

Na última consulta ainda em 2019, durante a anamnese, relatou queixas que despertaram minha curiosidade de médico. Retorna agora, esfriada o auge da onda covídica, ainda com as mesmas queixas. Pergunto-lhe dos remédios que utiliza. Desfia então, longa relação de drogas:

- Uso DIOVAN, RECONTER, MANIVASC, ALDACTONE, ILUDRAL, CONCOR, PROMESTIENO.

- E o que a senhora sente ou tem, mesmo com os medicamentos que utiliza, além deste sinal que é um cisto palpebral no olho direito?

Dona Rose abre sua bolsinha e de lá retira amassada folha, cheia de garatujas, que passa a consultar.

- Tenho alergia cutânea (prurido, coceira), rush, urticária, às vezes com febre, dor nas juntas, dor muscular, ínguas, sintomas de gripe; manchas vermelhas-arroxeadas na pele, sinais de inflamação nas veias, sobretudo nas pernas. Já operei as varizes, mas dor, ardume nas pernas, continua. Dizem que é vasculite. Tenho também sangramentos anormais, hematomas.

- Pois dona Rose, tudo que a senhora falou consta nas complicações do DIOVAN, medicamento utilizado para tratamento de pressão alta, insuficiência cardíaca e pós infarto do miocárdio.

- Já tive episódios de arritmia cardíaca, observados no eletrocardiograma. Para isso, uso RECONTER, mas andei lendo por aí que não devo tomar RECONTER se estiver em uso de medicamentos para tratar arritmia cardíaca ou que podem afetar o ritmo cardíaco.

- E quanto ao MANIVASC?

- Uso, embora sofra de problemas coronarianos e no ventrículo esquerdo. Tenho também problemas de intolerância a alguns tipos de açúcar (como, lactose). Parece que Manivasc não combina com esse meu problema...

- Usa a senhora ALDACTONE? Ele produz cistos palpebrais como esse que está pendurado aí na pálpebra superior do seu olho direito. ALDACTONE origina neoplasmas benignos, malignos e não específicos (incluindo cistos e pólipos nas pálpebras); neoplasma benigno de mama. Pode acarretar leucopenia (baixa do número de glóbulos brancos, incluindo agranulocitose), e baixo número de plaquetas. Tenho excesso de potássio no sangue, e sei que tudo isso pode ser consequência do ALDACTONE.

Tenho dor e aumento das mamas, distúrbios menstruais, mal-estar, sonolência, cansaço, cefaleia, fraqueza, fadiga, perda de apetite, depressão, hostilidade, agressividade, insônia, nervosismo, irritabilidade. Tudo isso não é nada perto do que me aconteceu após começar uso de ILUDRAL. Tive   convulsão, distúrbio do equilíbrio, tontura, tremores, vertigem (sentindo estar rodando), tosse, dor abdominal, diarreia, indigestão, vômito, náusea.

Tenho Rush (prurido, erupção na pele), eczema, aumento de peso, instabilidade emocional/mudança de humor, agitação. Amnésia (perda de memória), coordenação anormal (impedimento dos movimentos coordenados), distúrbio de atenção (perda de concentração), prejuízo de memória. Tive às vezes diplopia (visão dupla), visão borrada.

Mialgia (dores musculares), infecções, distúrbios de personalidade, pensamentos anormais, hiperatividade, número reduzido das células do sangue e plaquetas, redução acentuada de granulócitos (um tipo de glóbulo branco), baixa taxa de sódio no sangue. Em outras vezes tive perda de peso.

Fui encaminhada ao psiquiatra por distúrbios psicóticos, alterações do comportamento, alucinação, ira, delírio, ansiedade, confusão, pânico! Tudo por conta dos remédios! Com ILUDRAL tive sensação de formigamento, passei por movimentos repetitivos involuntários contínuos, uniformes, lentos e rápidos, letargia, andar estranho, agravamento das crises epilépticas.

- Este medicamento parece que ataca o fígado...

- Nem lhe conto! Tive teste anormal da função hepática, quase falência hepática, hepatite, perda de cabelo, pancreatite, dano renal agudo. Precisei usar CONCOR e meu médico quis saber se tenho diabetes ou doenças cardíacas como perturbações do ritmo cardíaco, problemas do fígado ou rins, problemas menos graves de circulação sanguínea nos membros. Concor é medicamento a ser evitado em pacientes com doenças obstrutivas pulmonares, a menos que existam razões clínicas relevantes para seu uso. Isso tudo, para evitar complicações. Também Psoríase ou histórico de psoríase (doença da pele em que aparecem manchas vermelhas, frequentemente com escamas de cor prateada); doenças da tiroide -, pode haver surgimento ou piora. O doutor queria saber se eu estava para ser submetida a terapia de dessensibilização (vacinas para alergias), pois Concor® pode aumentar a probabilidade de ter reação alérgica ou que essa reação seja mais grave; anestesia (por exemplo, para cirurgia): Concor® pode influenciar o modo como seu organismo reage a estas situações.

Por Henrique Packter 15/03/2022 - 16:43 Atualizado em 15/03/2022 - 16:43

CAÇANDO NA SERRA

Nos anos 60 e 70  muitas personalidades criciumenses, nas épocas em que a prática da caça a animais dos altiplanos era permitida, subiam em caravanas a Serra do Rio do Rastro para embrenhar-se nos matos e matas em busca do prazer trazido pelo esporte de reis. O percurso era  sempre o mesmo e as personagens também. Entre os mais assíduos caçadores vou destacar o médico Dino Gorini e o juiz Francisco May Filho.

O ROTEIRO

Criciúma a Lauro Muller = 51km

Lauro Muller a Bom Jardim da Serra = 35km

Bom Jardim da Serra a São Joaquim = 46km

Descer (ou subir) a Serra do Rio do Rastro sempre foi uma aventura. O trecho ultrassinuoso da SC-438, com 284 curvas, fica entre Lauro Müller e Bom Jardim da Serra de 23 km. A partir de Lauro Müller, os primeiros 16 km são asfaltados. Nos outros 7 km (total 23km), em concreto, a emoção é outra: subidas íngremes e curvas de 180°. Há vários mirantes para admirar o visual.

São Joaquim é próxima das cidades de Bom Jardim da Serra (46 km), Urubici (60 km) e Urupema (78 km). Bom Jardim 1232ms, São Joaquim 1354ms. Com 2.993,80 m de altitude o Pico da Neblina é o ponto mais alto do Brasil.

A serra do Rio do Rastro localiza-se no município de Lauro Müller, 220m de altitude, alcançando mais de 1421 metros de altitude em apenas 23 km. O ponto mais elevado, próximo da sua descida a sudeste, é o morro da Ronda, possibilita o acesso pela rodovia, a sul (cerca de 500 m da SC-438) que leva ao interior de Bom Jardim da Serra, junto aos Aparados da Serra e tem 1507 m de altitude. Dele, avista-se o ponto mais elevado do RS (Monte Negro com 1398 m), dias claros, sempre olhando ao S. Ao N-NW, avista-se um dos três pontos mais elevados de SC, o Morro da Igreja com 1822 m.

A rodovia SC-390 tem subidas íngremes e curvas fechadas. Coberta pela mata Atlântica, fauna diversificada, com felinos de pequeno, médio e grande portes, fauna de macacos, quatis, pacas, mãos-peladas, tatus, tamanduás e iraras. Tem avifauna de águias chilenas, tiês-sangue, tucanos, araras, papagaios. A rodovia SC-390 que atravessa a Serra do Rio do Rastro é a Carretera Asombrosa (Estrada Espetacular) de revista espanhola.

O DIFÍCIL CENÁRIO ECONÔMICO SERRANO DA ÉPOCA

Época difícil, araucárias em desaparição, serrarias  minguando, população serrana defende-se como pode. Economia chega a  extremos. Mesas para refeições têm gavetas onde a família esconde os pratos, mal apontava na estrada possível visita. Compadre Onofre vai visitar compadre Honorato. Pratos são escondidos nas respectivas gavetas, a visita deixando-se ficar. Chega hora de dormir. Tradicional bacia d´água quente é levada ao quarto da visita para que, descalçadas as botas e meias grossas, os pés pudessem ser lavados. Compadre-visita, atônito, parece não saber o que fazer:

- Compadre, não vai lavar os pés para dormir?

- Num fará mal lavar os pés em  jejum?     

Por Henrique Packter 07/03/2022 - 06:30

Carlos Pinto Sampaio (24.3.1894) desde a década de 20 residia em Criciúma vindo de Tubarão, era casado com Ladislava Angulski. 

JOÃO BALESTRO herdou a Farmácia Sampaio, em plena Praça Nereu Ramos; impossível lugar mais central em Criciúma.  Nascido em Guaporé, RS, 6.11.1922, Balestro era filho de Vitório e de Judite Boratieri. Casou com Wolynira (Volly) Sampaio, filha de Carlos Pinto Sampaio e Ladislava Angulski (Dona Ladi), que se apresentava como Oficial de Farmácia.

No dia 5 de Setembro é comemorado o Dia do Oficial de Farmácia.

SURGIMENTO DA PROFISSÃO
Na época das boticas, Medicina e Farmácia eram tidas como uma só profissão, ou seja, não havia distinção entre boticários e médicos. 
Somente após reformulação no curso de ensino médico (1832), foi criado o curso farmacêutico, vinculado às faculdades de medicina do RJ e Bahia.

Depois, por decreto (1857), boticas passaram a ser chamadas de Farmácias.

Por fim, no século 18 houve a separação da Medicina e da Farmácia, possibilitando então a separação das profissões.

O QUE FAZ UM OFICIAL DE FARMÁCIA?
O oficial de farmácia pode atuar como responsável técnico em drogarias e também como auxiliar do farmacêutico em farmácias.

É preciso diferenciar farmácias de drogarias. Farmácias são autorizadas a manipular e formular medicamentos, já drogarias apenas comercializam esses medicamentos, já embalados e fechados sem qualquer manipulação.

No caso das Farmácias, o responsável técnico seria o Farmacêutico, que atua na produção dos medicamentos. Dessa forma, os oficiais de farmácia atuam como auxiliares, mas não atuam diretamente na manipulação dos remédios.

Já no caso das Drogarias, nas quais não há manipulação ou produção dos medicamentos, os oficiais de farmácia podem atuar como responsáveis técnicos, inclusive no atendimento aos clientes.

COMO TORNAR-SE UM OFICIAL DE FARMÁCIA?

É necessário ter formação especializada na área. Há escolas aprovadas e certificadas por órgãos federais que oferecem cursos para esta formação profissional. Após a certificação, basta inscrever-se no Conselho Regional de Farmácia, que autorizará o Oficial de Farmácia a exercer a profissão, cadastrando-o na região desejada.

VOLTANDO À VACA FRIA       

João Balestro e Volly tiveram dois filhos:  Carlos João e Rita de Cássia, esta casada com Júlio César da Silva Mandelli.

Carlos João (1949 e cedo falecido), filho de João Balestro, durante bom tempo foi tabagista inveterado e sofreu de asma em criança.

Outros filhos de Carlos Pinto Sampaio foram Vítor Luiz  Angulski Sampaio (14.11.1934-13.9.1993), bioquímico, casado com Maria Walewska Sampaio e Vânio Carlos, farmacêutico, casado com Odila Arns Sampaio. Impressiona o número de familiares de Carlos Sampaio e de Balestro dedicados à profissão farmacêutica. Volly, casada com João Balestro, era irmã de Vânio Carlos.

  

25.9.2013, Dia Internacional do Farmacêutico

Diário Oficial da União. Com a nova regulamentação, farmacêuticos vão poder receitar, por exemplo, analgésicos, medicamentos tópicos e fitoterápicos.

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de SP (CRF-SP), Pedro Menegasso, a medida vai formalizar o que já era hábito. A partir da data em epígrafe, profissionais da categoria em todo o país vão poder receitar medicamentos que não exigem prescrição médica. A resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) foi publicada no Diário Oficial da União. A partir do Dia Internacional do Farmacêutico, profissionais da categoria em todo o país vão poder receitar medicamentos que não exigem prescrição médica. A resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) publicada no Diário Oficial da União, regulamenta o que farmacêuticos vão poder receitar. Farmácias estão obrigadas a ter um farmacêutico.

Remendos feitos por Dilma Rousseff à Lei do Ato Médico preveem que o ato de prescrever tratamentos não é exclusiva para formados em Medicina!

Todo medicamento oferece riscos. O farmacêutico, teoricamente, é o profissional que melhor pode orientar os clientes, é seu campo de estudo.

MAIS NOVIDADES NA SEARA DAS FARMÁCIAS E DROGARIAS

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de SP, Pedro Menegasso, a medida formalizará o que era usual. Para o primeiro-secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), Desiré Callegari, a lei que regulamenta a profissão do farmacêutico não prevê o diagnóstico de doenças e a prescrição de tratamentos.

O OFÍCIO DE JOÃO BALESTRO EM CRICIÚMA

JOÃO BALESTRO era a primeira opção em se tratando de assistência médica. Não era raro observar-se filas de pacientes diante de seu concorrido estabelecimento. O cliente  dizia o que sentia e, ambos, tateavam em busca de um diagnóstico e tratamento. A clientela era variada, de operários das minas de carvão e suas  famílias a mineradores e até a médicos, dizia-se a boca pequena.

É quando se instala ao lado da Igreja São José na Praça Nereu Ramos, um cearense vendendo suas vistosas e coloridas redes, obras-primas do artesanato das gentes das praias de Iracema. Na época, ainda  sem calçadão, circulavam ali caminhões carregados de carvão mineral e de pirita, especialmente na lateral da igreja que dá para a rua Getúlio Vargas. A poeira era muita e olhos mais sensíveis lacrimejavam copiosamente. O cearense vem ao meu consultório com os olhos em situação lastimável: avermelhados, remelados. Procurava limpar os olhos esfregando-os com algo parecido com um lenço, de cor indefinida.

Imediatamente tirei o lenço de suas mãos jogando-o na lixeira. Ele chegou a esboçar um movimento para salvá-lo, mas já era tarde. Contou sua história na qual avultava como principal responsável por sua desdita oftalmológia a poeira  levantada por veículos automotores. Fiz ver que a situação melhoraria em muito trocando seu local de trabalho, coisa imediatamente recusada: o ponto, ao lado da Igreja, era o melhor da cidade. Nem pensar. Pegou a receita e saiu às pressas para o trabalho. Passam-se os dias e, num sábado à tarde, estando eu sozinho em casa, toca a campainha. Vou espiar quem seria, através da cortina, sem dar-me a conhecer. É o cearense vendendo seu produto agora de casa em casa. Vou até ele.

Conversa vai, conversa vem, compro uma rede que ainda tenho, e, ao cabo de demoradas negociações acertamos o preço justo da laboriosa compra. Ao final delas, pergunto casualmente como estão seus olhos.

Arregala os olhos, reconhecendo-me.

-É o doutor que me atendeu?

Fiz que sim e ele continuou:

-  O remédio que o doutor me deu era pura porcaria. Eu pingava nos olhos e não sentia nada. Joguei fora e procurei o doutor Balestro.Ele me deu um remédio que, quando eu pingava, os olhos ardiam de subir paredes. Aquele remédio é que era bom: ele bulia com a doença.

Conclusão minha: remédio bom é o que bole com a doença!

Por Henrique Packter 01/03/2022 - 06:55 Atualizado em 01/03/2022 - 07:05

Segundo Kant todo conhecimento vem da experiência.

PESSOA ATENDIDA NA EMERGÊNCIA COM DORES INTENSAS                        

Relato popular no meio médico, dá conta de cliente que procura atendimento de emergência mostrando que tocar qualquer parte do próprio corpo com o indicador da mão direita, despertava dores atrozes. Sentia dores no corpo todo. O médico avalia com cuidado a situação e faz o diagnóstico: fratura de ossos do indicador da mão direita.

UMA HISTÓRIA DE LUIZ FERNANDO DA FONSECA GYRÃO

Cirurgião-geral, nasceu em 1932 em Niterói, RJ, falecendo em Criciúma, 1983. A esposa Emília é filha do falecido general José Lopes Bragança. Pai de 6 filhos, Mariza é casada com o arquiteto Décio Gomes Góes, ex-prefeito de Criciúma e do Balneário Rincão. Nei, é médico. Trabalhou em Criciúma desde 1967 no Hospital São José.

É bom não se deixar enganar pelas aparências. Luiz Fernando da Fonseca Gyrão, bom e leal amigo, contava que um jovem residente de hospital-escola, enviado para examinar e informar da situação de um acidentado, volta rápido com a informação:

- Tá ótimo! Tá até rindo!

O professor vai dar uma espiada, por via das dúvidas. Era fato, estava rindo sim. Mas o riso, era o conhecido riso sardônico, do tétano.

UMA HISTÓRIA DO FILÓSOFO CLÍNICO LÚCIO PACKTER                                                 

Estava eu, boca da noite, trabalhando em meu consultório quando Nestor, então zelador do prédio de consultórios médicos no qual ainda labuto em Criciúma, entrou em minha sala de exames e anunciou à sua maneira:

- PIPINO, doutor. Chegou uma moça que ficou cega de repente. Atendemo’ ou mandamo’ para o Pronto Socorro?  Tem mais: saíram de casa tão ligeiro que nem DICUMENTO têm.

Parei um instante para pensar. Ainda tinha vários pacientes para ver. Só se....

Lembrei-me que Lúcio meu filho estava em Criciúma para passar alguns dias. Resolvi chamá-lo. Já era tempo de tirar a febre desta tal de Filosofia Clínica, pensei. Juntos, Lúcio e eu, ouvimos o início da história.

Era mulher, aí pelos 35 anos de idade. Fora à discoteca com o namorado. Se desentenderam, voltara sozinha para casa e mal pusera o pé na soleira da porta, PRONTO, ficara cega! Trazida pela mãe, deixei Filósofo Clínico, recém-cega e mãe numa das salas do consultório e fui tratar da vida na sala ao lado. Encerrado meu trabalho diário retornei ao local no qual deveriam estar o Lúcio, cliente e mãe. O local estava deserto. Desci para a portaria do prédio onde Nestor fazia um pequeno e inflamado comício para pequena multidão entre atenta e sonolenta.

Eram taxistas do ponto de automóveis que servia a um tempo hospital e prédio de consultórios. Também um que outro médico retardatário e alguns passantes da rua ouviam. Enquanto descia as escadas do 1o andar podia ouvir trechos da arenga:

- O homem   é milagroso.....chegou cega..... o pai é fichinha perto dele.....não levou meia hora.....parece que é professor em Porto Alegre, mas já morou em São Paulo e no estrangeiro....  As vozes se calaram respeitosas quando passei em busca do carro e depois, deferentes pelo filho que produzi:

- ‘noite!

Passados alguns meses, era Sábado e eu estava em casa. Toca o telefone:

- Doutor, quem fala é a mãe da moça que seu filho atendeu faz uns tempos e que ficou cega de repente. O senhor lembra?

Lembrava. Ela continuou:

- Pois é, ela voltou a ficar cega hoje. De novo, barbaridade! Informei:

- Sinto muito, mas meu filho Lúcio não está em Criciúma. Só sua mãe, Deus, e talvez a porta da geladeira saibam de seu paradeiro.

- Não carece não, doutor. Só queria dizer prá ele que eu fiz tudo igual como ele fez da primeira vez e ela já ficou boa! 

Por Henrique Packter 25/02/2022 - 12:15

Carnaval é uma das festas populares mais conhecidas no mundo ocidental, sendo a maior festividade do Brasil. O Carnaval transformou-se na principal festa popular brasileira a partir da década de 1930 e, atualmente, conta com os blocos de rua e as escolas de samba que desfilam nas ruas  dos grandes centros do país. O desfile das escolas de samba foi oficializado por volta de 1967. É acompanhado de folguedos populares promovidos habitualmente nos três dias anteriores ao início da Quaresma. Mas, a folia carnavalesca se apresenta com características distintas nos diferentes lugares em que se popularizou. Destaca-se o desfile carnavalesco, este fazendo parte do chamado Carnaval de rua, em oposição a um Carnaval fechado, realizado em clubes.

Para muitos, o carnaval teria uma origem obscura, talvez com feição religiosa.

Entre os anos de 1900-1901, as práticas carnavalescas passaram a ter maior repercussão no Brasil. Surgiam nesse momento as assim chamadas Músicas de Carnaval, de grande sucesso: Não vai, não vai e Adeus carnaval, de autores desconhecidos.

Elas  vão desempenhar grande papel na área da atração turística nacional e internacional.

Apesar do forte secularismo presente no Carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a Quaresma. Os festejos relativos ao  Carnaval remontam à Antiguidade.

Carnaval vem da expressão latina carnis levale, significando “retirar a carne”, sentido relacionado ao jejum, obedecido durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres da carne.

Para alguns, Carnaval seria festa cristã, sua origem tendo relação direta com o jejum quaresmal. Mas, na Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como Carnaval. As Sacéias, celebração em que prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se  e  alimentando-se  como tal. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois justiçado.

Outro rito, agora realizado pelo rei no período do ano novo na Mesopotâmia, ocorria no templo do deus Marduk. Então, o rei perdia seus emblemas de poder, sendo surrado diante da estátua de Marduk. Essa humilhação demonstrava a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele reassumia o trono.

Comum nas duas festas e ligado ao Carnaval era o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao seu deus. A subversão de papéis sociais no Carnaval, os homens vestindo-se de mulheres e outras práticas que tais, decorria dessa tradição mesopotâmica.

Associação entre o Carnaval e as orgias pode ainda relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas gregas). Dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcados pela embriaguez e entrega aos prazeres da carne.

Havia ainda, em Roma, a Saturnália (dezembro) e a Lupercália (fevereiro). As festas duravam dias, com comidas, bebidas e danças. Os papéis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.

Cristianismo e Carnaval

Essas festas eram, claro, celebrações pagãs muito populares, na antiguidade. A Igreja Católica procurou dar às festas sentido mais cristão. Durante a Alta Idade Média, foi criada a Quaresma — período de 40 dias antes da Páscoa caracterizado pelo jejum. Mais tarde as festividades realizadas pelo povo foram concentradas nesse período.

Carnaval na Europa medieval e moderna

O Carnaval medieval era marcado por festas, banquetes e brincadeiras.

Durante os carnavais medievais, homens jovens fantasiavam-se de mulheres, saíam às ruas e aos campos. Durante o Renascimento, nas cidades italianas, surgia a commedia dell'arte, teatros improvisados muito populares. Em Florença, canções foram criadas para acompanhar os desfiles, que contavam ainda com carros decorados, os trionfi. Em Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, além de chapéus de três pontas e máscara branca.

Na Itália renascentista era comum a realização de bailes de máscara durante o Carnaval.

As festas da Antiguidade eram regidas pela intenção de virar o mundo de cabeça para baixo. Era inversão proposital da ordem, com as restrições das vidas das pessoas abolidas e os papéis que existiam naquela sociedade, invertidos.

Já na descoberta do Brasil, houve iniciativas de impor o controle sobre as festas carnavalescas no continente, reação aos conflitos religiosos europeus da época, e forma de impor controle social. Ou pelo conservadorismo vigente que buscava demonizar as festas populares.

Carnaval no Brasil

O Carnaval chegou ao Brasil durante a colonização e transformou-se na maior festa popular do país.

A história do Carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial com o entrudo, brincadeira de origem portuguesa, praticada na colônia pelos escravos. Nela, as pessoas ganhavam as ruas sujando umas às outras jogando lama, urina. O entrudo foi proibido em 1841, mas continuou até bem pouco.

Depois surgem os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos, e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus passam a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil.

É notório que há um crescimento turístico durante o carnaval, mas também, grande crescimento cultural das práticas carnavalescas, onde se percebe não só o aparecimento das escolas de Samba em 1930, como os grandes bailes de carnavais, as festas de rua que ocorrem até  hoje no nordeste brasileiro (com o Frevo e suas passeatas pelas ruas, com os foliões fantasiados); as marchas carnavalescas com Chiquinha Gonzaga a partir de 1902, com a música Abre alas.

O carnaval teve grandes nomes e movimentos que lutaram pela sua realização. Dentre os grandes nomes, se destaca a esposa de Getúlio Vargas, dona  Darcy Vargas, que organizou grande baile a fantasias em 1932 com grupo de personalidades ligadas ao governo. Foi O Primeiro Baile de Gala no Teatro Municipal, que perduraram até 1975.

Festas/brincadeiras e folguedos

Hoje, quais são as festas populares de expressão em Criciúma?

Atualmente, o município festeja três festas: A FESTA DAS ETNIAS (de 1989), o CARNAVAL e a FESTA DE SANTA BÁRBARA. Encontramos também outras festas de caráter religioso em várias localidades. No centro da cidade, a festa de São José realizada em março e a festa da Rota da Imigração, em julho, na comunidade de Morro Albino. O Festival Internacional de Coros apresenta-se como outro evento oficial.

A Festa das Etnias, de 1989, começou como iniciativa do Lions e Rotary objetivando angariar fundos para entidades filantrópicas. A ideia era de Ademar Costa, criando a Festa da Primavera.

Carnaval em Criciúma

Esta comemoração tem tudo a ver com a Sociedade Recreativa Mampituba e sua  história. Já o Carnaval de Rua, descontinuado durante o governo municipal de Altair Guidi, reviveu com o prefeito Eduardo Pinho Moreira, através da Fundação Cultural de Criciúma, organizadora do evento, no final dos anos 90.                                                      

Bailes de carnaval começaram a fazer parte da programação anual do Mampituba na década de 1930. No princípio, os foliões festejavam por quatro noites, sendo a guerra de confetes o momento mais aguardado da festa

A Sociedade Recreativa Mampituba surgiu do Mampituba Foot Ball Club, em 18.05.1924. Liderado pelo jovem Abílio Paulo, reuniu 52 pessoas de Criciúma e região. Mampituba foi o nome escolhido. No início, o futebol era a principal modalidade praticada no clube, porém, com o passar do tempo e o aumento do número de associados, novos esportes foram implantados.

Por Henrique Packter 20/02/2022 - 13:52 Atualizado em 20/02/2022 - 13:53

Penso na morte como ela, ciosa, pensa mim. Todo dia, digo e repito, tem alguém conhecido que nos deixou. Leio o pouco que entendo da difícil arte do obituário, na qual os britânicos ainda detêm medalha de ouro, constatando, na companhia fiel de minhas mazelas que ela ainda nivela desigualdades. Continuemos a verter nossas lágrimas às ocultas, pois importante não é a morte, é o que ela nos tira

LEITURA DE LIVROS INFLUENCIANDO A ESCOLHA PROFISSIONAL

Considero 2 livros  responsáveis pela escolha da Medicina como minha atividade profissonal para a vida: a leitura de O LIVRO DE SAN MICHELE de Axel Münthe e de A CIDADELA de A.  J. CRONIN (1937), médico escocês, morto aos 84 anos em 1981.

A CIDADELA

Desde que li A CIDADELA, aí pelos 15 anos de idade, o exercício da Medicina tornou-se meu objetivo maior, uma obsessão. O livro de Cronin influenciou gerações a estudar Medicina. Ele e seu alter ego, ANDREW MASON, ecoam no livro o drama das escolhas éticas na prática da Medicina e são hoje (talvez por isso), as mais célebres das pessoas esquecidas. Quem lembra deles? Num mundo invadido pela banalidade e pelo virtual, é preciso lê-los com filtros próprios e raciocínio singular.

Cronin narra a história (quase autobiográfica) de jovem médico iniciando sua vida profissional em cidade carvoeira de Gales do Sul, anos 30. Siderurgias e minas de carvão atraiam, então, grande número de imigrantes, especialmente para os vales a norte de Cardiff, hoje a capital do país. Mason dedica-se intensamente ao trabalho onde a morte era protagonista diária pelas desumanas condições de trabalho e de vida dos mineiros e suas famílias, os casos de febre tifoide se multiplicando. Profissional honesto, mas ambicioso, casa-se com a professorinha que o auxilia na investigação da pneumoconiose, patologia respiratória comum nos operários das minas, além de pneumonias e gastroenterites.

Cidadela é drama coletivo comunitário mineiro e -, de casal, buscando sobreviver com dignidade nesse meio. Depois, eles partirão para Londres onde convivem com sua poderosa classe médica, dedicada ao tratamento dos mais ricos. Não era difícil enriquecer em Londres exercendo atividade médica. Injeções inócuas e quase inofensivas de água destilada, regiamente pagas por doentes sem doença, doentes imaginários. Ele se envolverá nestes esquemas de dinheiro fácil, deixando de lado escrúpulos e princípios. Mas, A CIDADELA permanece imutável em seus valores morais.

EPISÓDIO FUNDAMENTAL

O jovem médico Andrew Mason chega à aldeia mineira para trabalhar; é seu primeiro emprego de médico vindo de família pobre. Anda da estação ferroviária até a pensão, pontos extremos da única rua da aldeia. Presencia tentativa de remoção de doente com problemas mentais a sanatório, depósito sanitário para entes humanos. A remoção equivalia a sentença de morte coletiva familiar. Internado, o paciente não era medicado, alimentado ou vestido. Abandonado, à própria sorte, logo morreria. Sua família teria o mesmo fim, dizimada pela fome.

Mulher e filhos do mineiro choram e agarram-se desesperadamente a ele na tentativa de impedir a remoção. Os menores abraçam-se aos joelhos e pernas do pai. Andrew Mason vai saber do que se trata, sendo informado que o trabalhador tinha enlouquecido.

Aproxima-se para ver melhor. OBSERVA,  INSPECIONA-O a curta distância. 

Terminada a INSPEÇÃO declara que ele não está louco, na verdade tem hipotireoidismo; com medicação adequada, ingerindo iodo, logo ficará bem!
O QUE MASON VIU?

Um homem cansado (ar de grande cansaço), esgotado, rosto inchado, disforme, calvo, manchas na pele seca, obeso (evidente e exagerado ganho de peso). Hipotireoidianos se mexem menos, armazenam gorduras, ganham peso.  O hormônio tireoidiano controla os níveis de energia. Baixo nível de hormônio tireoidiano faz fígado, músculo, tecidos adiposos não queimarem calorias. Até em repouso queimamos calorias, deixando-nos aquecidos. Hipotireoidismo traz alergias cutâneas, rubor ou inchaço. 

Na vila, médicos expõem seus nomes na recepção de diminuto ambulatório, em pequenas placas munidas de uma espécie de gancho. Neste gancho, mineiros colocam as plaquetas, indicando a escolha de médico para sua família. Grande número de fichas indica prestígio e tamanho da clínica.

Como Mason chegou ao diagnóstico apenas pela inspeção do operário? Em Medicina, diagnóstico é parte do atendimento médico voltada à identificação das doenças. Médicos analisam conjunto de dados formado a partir da inspeção, anamnese (histórico clínico), sinais e sintomas, exames físicos e complementares (laboratoriais, de imagem, traçados gráficos). A base da elaboração do diagnóstico médico é a consulta médica, hoje apoiada por crescente número de técnicas complementares.

A TIREOIDE

A TIREOIDE participa do metabolismo e fornecimento de energia para o funcionamento corporal, desenvolvimento normal dos tecidos do cérebro, regulamento do batimento cardíaco e do ciclo menstrual.

Sintomas de doença tireoidiana: inapetência, cansaço, queda de cabelo, dificuldade para perder peso.

SINAIS E SINTOMAS INDICATIVOS DE ALTERAÇÃO DA TIREOIDE:

·         Dificuldade para emagrecer ou ganho de peso fácil e rápido; Inchaço;
·         Cansaço excessivo; Fraqueza;
·         Aumento do apetite;
·         Queda de cabelo, pele seca e unhas frágeis;
·         Alteração do ciclo menstrual;
·         Alteração dos batimentos cardíacos.

Valores hormonais tireoidianos acima do valor de referência: hipertireoidismo; já valores mais baixos: hipotireoidismo.

O IODO é indispensável para que a tireoide possa sintetizar e liberar na circulação dois hormônios: Tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3). O consumo de sal iodado, agora obrigatório por decreto-lei, obrigou empresas a acrescentar iodo ao sal para ajudar a evitar os males da tireoide.

Desde 1995 (faz 27 anos), o Programa Nacional de Sal Iodado funciona para toda a população. Sem o iodo a população pode apresentar distúrbios como bócio; crianças com deficiência congênita de tireoide: causas de surdo-mudez, e debilidade mental.

Falta de iodo  (Hipotireoidismo) leva a declínio mental com repetição de ano escolar. Ingere-se iodo pelo sal iodado e alimentos: repolho, carnes defumadas, embutidos, frios, enlatados e frutas enlatadas, conservas, molho de soja, peixes, frutos do mar, algas, gema de ovo, maionese, laticínios, pães industrializados, cereais em caixas, agrião, aipo, couve de Bruxelas.

Já no Hipertireoidismo, excesso de iodo na alimentação redunda em hiperatividade da tireoide. O desequilíbrio eleva a concentração dos hormônios e aumenta a velocidade do metabolismo orgânico.

HIPERTIREOIDIANOS e HIPOTIREOIDIANOS do mundo: uni-vos!

Por Henrique Packter 11/02/2022 - 09:04 Atualizado em 11/02/2022 - 10:27

Morreu em Criciúma em 4 de fevereiro deste ano, meu amigo Labienno Cavalvanti. Ele era ex-funcionário da CSN e faleceu aos 89 anos. A morte de Labienno repercutiu intensamente em toda a cidade onde era figura extremamente estimada.

Nascido em 12/08/1932 em Braço do Norte, era filho de Pedro Cavalcanti e Carolina Antunes. Foi conterrâneo e contemporâneo do grande advogado e político catarinense Adhemar Paladini Ghisi, ex-ministro e ex-presidente do TCU (24/12/1930  — Lisboa, 2/06/2008).

Quando falávamos de nossos respectivos municípios natais, LABIENNO dizia:

-É COMPLICADO! PRÁ COMEÇAR, SOU DE COLAÇÓPOLIS!

Colaçópolis foi antigo nome de Braço do Norte.

Sobre Colaçópolis e a vida de Labienno

Somente em 1870, com a chegada de colonos alemães, levados a São Ludgero pelo Padre Guilherme Röher, teve início o desenvolvimento de Braço do Norte. Estes colonizadores, emigrados para o Brasil em 1860, achavam-se anteriormente fixados nas localidades catarinenses de Anitápolis, Salto e Capivari. Todavia, por julgarem desfavoráveis aquelas regiões, conseguiram do Imperador D. Pedro II, através do Padre Röher, a doação de outras glebas, com maiores possibilidades de colonização, as quais se achavam situadas onde hoje se encontram São Ludgero, Rio Fortuna, São José, Armazém e Vargem do Cedro.

Foi a vinda de sessenta famílias de colonos alemães, a maioria delas estabelecidas no núcleo de São Ludgero, que impulsionou o desenvolvimento da localidade. Incalculáveis os obstáculos que tiveram que ser vencidos por estes imigrantes alemães. Basta citar que, sendo em sua maior parte católicos, apenas uma vez por ano recebiam assistência religiosa.

Distrito criado com a denominação de Braço do Norte, decreto estadual de 17/05/1892, subordinado de Tubarão, ainda em 1911, em divisão administrativa, o distrito de Braço do Norte figura no município de Tubarão.

Lei municipal de 21/06/1958, desmembra do município de Braço Forte o distrito de Rio Fortuna, elevado à categoria de município em agosto de 1922.

Tinha algumas frases de predileção que repetia com uma certa alegria, como uma do Barão de Itararé: de onde menos se espera, daí  é que não sai nada mesmo.

Colaçópolis tem o nome alterado para Braço do Norte por lei municipal de 26/06/1928. Por um triz, Labienno e Adhemar Paladini Ghisi não nascem em Colaçópolis!

Labienno foi casado por 59 anos com Benedita Garcia Cavalcanti, agente do futuro INPS em Criciúma, sucessor do IAPETEC, a partir de 1966, com a unificação dos IAPs. Foram eles pais de Maria Carolina, Marilúcia Garcia Cavalcanti, Labieno José, de Miriam Regina Garcia Cavalcanti (juíza de Direito) e Micheline. Labienno era orgulhoso avô de oito netos, sempre citados e elogiados no decorrer das consultas médicas. Aposentou-se como técnico em contabilidade da Companhia Siderúrgica Nacional.

Foi meu cliente desde seus 32 anos, em 1964. Era dotado de um bom humor natural, realçado por discreta gagueira. Em 06/07/1998 e depois em 03/07/2000, operei-o de catarata em ambos os olhos. Em 2006, comunicou-me com grande orgulho da filha, juíza de direito em Forquilhinha.

Toda a vida Labienno e Benedita lutaram contra problemas circulatórios, pressão arterial elevada, obstrução de vasos e ela acabou por ser acometida de infarto do miocárdio. Nesse particular Labienno travou luta acirrada, tenaz, contra teimosa obstrução de carótida comum direita. Seu último exame em minha clínica foi a 21/02/2020 e, de dona Benedita, foi em 08/01/2007.

Tinha algumas frases de predileção que repetia com uma certa alegria, como uma do Barão de Itararé: de onde menos se espera, daí  é que não sai nada mesmo.

O sepultamento de Labienno foi realizado no Cemitério Municipal do bairro São Luiz, em Criciúma.

 

Ouça no Programa Adelor Lessa: 

Por Henrique Packter 04/02/2022 - 09:28 Atualizado em 04/02/2022 - 09:29

Morre em Florianópolis aos quase 90 anos este médico formado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (FMUFPR) em 1959. Foi meu colega da turma que também formou ZILDA ARNS NEUMANN e WALDYR MENDES ARCOVERDE, este ex-ministro da Saúde. Nesta mesma turma médica despontaram LINO LIMA LENZ, professor da UNI-RIO na cadeira de Urologia e falecido neste mês de janeiro que passou, no Rio de Janeiro. Era natural de São Francisco de do Sul. Esta mesma turma médica formou também AFONSO ANTONIUK e CORIOLANO CALDAS SILVEIRA MOTTA, professores aposentados na FMUFPR, o primeiro na cadeira de Neurocirurgia. SÉRGIO LUIZ FRANCALACCI, natural de Tubarão é professor aposentado da cadeira de NEFROLOGIA na UFSC e dirigiu o setor de hemodiálise do Hospital de Caridade em Florianópolis. A Associação Catarinense de Medicina divulgou nota de pesar, destacando sua atuação profissional, o pioneirismo no ensino e assistência em nefrologia, a dedicação ao magistério por mais de 30 anos e as pesquisas realizadas no setor.

Tinha a nota o seguinte teor:

“A Associação Catarinense de Medicina (ACM) comunica com profundo pesar o falecimento do nefrologista SÉRGIO LUIZ FRANCALACCI, aos 88 anos, ocorrido em 7.07.2021 Florianópolis. Nascido em Tubarão, foi pioneiro na implantação da Nefrologia em SC. Formou-se em 1959, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e realizou especialização no Hospital de Servidores do Estado do RJ. Em 1962, publicou o primeiro trabalho nacional sobre diálise peritoneal e foi incentivador de vários serviços na especialidade, como a terapia renal substitutiva e o tratamento de insuficiência renal crônica, em todo o estado. A atividade docente foi uma de suas paixões, a qual se dedicou por quase 30 anos, como professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi criador e chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Governador Celso Ramos e terminou suas atividades como médico no Hospital de Caridade. Participou de diversas diretorias da ACM e integrou o Conselho de Administração da então Unicred Florianópolis. Praticante de esportes, criou o Departamento Médico do Avaí Futebol Clube, sendo seu primeiro diretor. Por fim, foi membro titular da Academia de Medicina do Estado de Santa Catarina (Acamesc), desde 1996.

Por tudo isso, foi respeitado e admirado pelos que acompanharam sua trajetória, pela grande capacidade, pela defesa da ética profissional e expressivo saber científico. Deixa um exemplo de vida dedicada à medicina e grande saudade aos familiares, amigos e colegas, a quem a Diretoria da ACM registra sua solidariedade e homenagem.”

Nossa Turma de Medicina notabilizou-se pelo número de  professores que legou à história da Medicina Brasileira.  Nossos ex-colegas, ANTÔNIO PELISON e ANTONIO CARLOS SPRENGER lecionaram CLÍNICA CIRÚRGICA e WILSON CIDRAL, lecionou OTOLOGIA, todos na Federal do Paraná. Já MÁXIMO GONZALES DONOSO lecionou CIRUGIA PLÁSTICA na Faculdade Estadual de Medicina de Londrina, PR. INGEBORG CHRISTA LAUN foi chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital do IPASE no RJ e professora desta cadeira na Faculdade de Medicina de Petrópolis, RJ.

Outra colega nossa, ÉLIA GOMES, natural de Florianópolis, pediatra em SP, era orientadora e professora na USP. Padre JOSÉ  RAUL MATTE, abnegado médico e padre, dedicou sua vida a cuidar dos índios da  Amazônia brasileira. Já falecido, doava parte de seu modesto aposento de dois salários mínimos a esta obra que abraçou e à qual serviu em jornadas com voluntários, buscando aldeias de indígenas ao longo do Rio Negro, entregando-lhes vestuários, alimentos, medicamentos e concertos de música de solos de flauta-doce. “Nunca tive plateia mais atenta e respeitosa”, dizia. NEON DE MELLO E OLIVEIRA foi outro colega nosso a dedicar-se ao ensino em São José do Rio Preto, onde ocupou a cadeira de OTTORINOLARINGOLOGIA. Já JOAQUIM DE PAULA BARRETO FONSECA, anestesista de especialidade, não só lecionou, mas também criou a Faculdade de Medicina da UNICAMP em Campinas, SP. Há outros, cujas vidas abordarei em outra ocasião, se Deus quiser.                                                                                                                             

E quanto a EGÍDIO MARTORANO NETO, PAI DO CIRURGIÃO PLÁSTICO EGÍDIO MARTORANO FILHO?

Sempre fomos muito ligados, embora nos últimos anos tenhamos nos afastado por questões de trabalho. Egídio nasceu em 25.10.1932, em São Joaquim/SC. Filho de Domingos Martorano e de Alzina Vieira Martorano, seu antepassado, Domingo Martorano (1841-1923), natural de Casteluccio, Basilicata, Itália, filho de Egídio e de Mariana Gioia, foi pioneiro da colonização italiana em São Joaquim (1880).

Meu colega, Egídio Martorano Neto, ex-Deputado estadual, cursou o ginasial e o colegial no Colégio Catarinense, em Florianópolis/SC. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, especializou-se em Clínica Geral e Cirurgia Geral, em Porto Alegre/RS. 

Casou com Leda M. Couto Martorano e é pai de Egídio Martorano Filho (conhecido cirurgião-plástico em Florianópolis), Simone, Fabrício e Fabiano.

Elegeu-se duas vezes Prefeito de São Joaquim, em 1966 e em 1972. A iniciativa de atrair japoneses, instalados em SP, para São Joaquim  afim de dedicar-se ao plantio e cultivo de maçãs é atribuída a Egídio, quando prefeito, datando da década de 70. As florestas de Araucária estavam dizimadas pelas serrarias que funcionavam 24 horas por dia;  urgia substituir esta cultura de terra arrasada por outra que trouxesse empregos, respeitando e preservando  o meio ambiente.

Foi Diretor do Hospital Coração de Jesus de São Joaquim, Chefe da Unidade Sanitária no mesmo município, médico da Companhia de Águas e Saneamento do Estado de Santa Catarina (CASAN) e Diretor-Presidente da CLINIMED, Florianópolis.

Nas eleições de 1978, concorreu ao cargo de Deputado Estadual pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), elegendo-se com 12.392 votos, tomando posse à 9ª Legislatura (1979-1983).

Em 1979, dirigiu a Divisão Hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de Santa Catarina e em 1981, exerceu as funções de Vice-Governador do Estado (14 a 23 de julho e de 28 de agosto a 21 de setembro).

Buscou por mais duas vezes a reeleição a Deputado Estadual no Parlamento catarinense, sem reeleger-se. Em 1982, pelo Partido Democrático Social (PDS), obteve 14.256 votos e, em 1986, pelo Partido da Frente Liberal (PFL), obteve 3.777 votos. EGÍDIO e  JORGE KONDER BORNHAUSEN sempre foram ligados por amizade pessoal além do vínculo marcante estabelecido por política partidária.

Pai  amoroso, marido dedicado, profissional correto, EGÍDIO deixa lacuna difícil de ser preenchida e grande pesar em todos nós que o admirávamos e por quem nutríamos  amizade inabalável. Vai com Deus, amigo Egídio, até breve!

Por Henrique Packter 31/01/2022 - 09:09 Atualizado em 31/01/2022 - 09:09

Morre em Florianópolis aos quase 90 anos este médico formado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (FMUFPR) em 1959. Foi meu colega da turma que também formou ZILDA ARNS NEUMANN e WALDYR MENDES ARCOVERDE, este ex-ministro da Saúde. Nesta mesma turma médica despontaram LINO LIMA LENZ, professor da UERJ na cadeira de Urologia e falecido neste mês de janeiro que passou, no Rio de Janeiro. Era natural de São Francisco de do Sul. Esta mesma turma médica formou também AFONSO ANTONIUK e CORIOLANO CALDAS SILVEIRA MOTTA, professores aposentados na FMUFPR, o primeiro na cadeira de Neurocirurgia.

Esta Turma de Medicina notabilizou-se pelo número de  professores que legou à história da Medicina Brasileira.  Nossos ex-colegas, ANTÔNIO PELISON e ANTONIO CARLOS SPRENGER lecionaram CLÍNICA CIRÚRGICA e WILSON CIDRAL, lecionou OTOLOGIA, todos na Federal do Paraná. Já MÁXIMO GONZALES DONOSO lecionou CIRUGIA PLÁSTICA na Faculdade Estadual de Medicina de Londrina, PR. INGEBORG CHRISTA LAUN foi chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital do IPASE no RJ e professora desta cadeira na Faculdade de Medicina de Petrópolis, RJ.

Outros colegas nossos, ÉLIA GOMES, natural de Florianópolis, pediatra em SP, era orientadora e professora na USP. Padre JOSÉ  RAUL MATTE, abnegado médico e padre, dedicou sua vida a cuidar dos índios da  Amazônia brasileira. Já falecido, doava parte de seu modesto aposento de dois salários mínimos a esta obra que abraçou e à qual serviu em jornadas com voluntários, buscando aldeias de indígenas ao longo do Rio Negro, entregando-lhes vestuários, alimentos, medicamentos e concertos de música de solos de flauta-doce. “Nunca tive plateia mais atenta e respeitosa”, dizia. NEON DE MELLO E OLIVEIRA foi outro colega nosso a dedicar-se ao ensino em São José do Rio Preto, onde ocupou a cadeira de OTTORINOLARINGOLOGIA. Já JOAQUIM DE PAULA BARRETO FONSECA, anestesista de especialidade, não só lecionou, mas também criou a Faculdade de Medicina da UNICAMP em Campinas, SP. Há outros, cujas vidas abordarei em outra ocasião, se Deus quiser. 

E quanto a EGÍDIO MARTORANO NETO, PAI DO CIRURGIÃO PLÁSTICO EGÍDIO MARTORANO FILHO?

Sempre fomos muito ligados, embora nos últimos anos tenhamos nos afastado por questões de trabalho. Egídio nasceu em 25.10.1932, em São Joaquim/SC. Filho de Domingos Martorano e de Alzina Vieira Martorano, seu antepassado, Domingo Martorano (1841-1923), natural de Casteluccio, Basilicata, Itália, filho de Egídio e de Mariana Gioia, foi pioneiro da colonização italiana em São Joaquim (1880).

Meu colega, Egídio Martorano Neto, ex-Deputado estadual, cursou o ginasial e o colegial no Colégio Catarinense, em Florianópolis/SC, formando-se em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, especializando-se em Clínica Geral e Cirurgia Geral, em Porto Alegre/RS.

Casou com Leda M. Couto Martorano e é pai de Egídio Martorano Filho (conhecido médico cirurgião-plástico), Simone, Fabrício e Fabiano.

Elegeu-se duas vezes Prefeito de São Joaquim, em 1966 e em 1972. A iniciativa de atrair japoneses, instalados em SP, para São Joaquim  afim de dedicar-se ao plantio e cultivo de maçãs é atribuída a Egídio, quando prefeito. As florestas de Araucária estavam dizimadas pelas serrarias que funcionavam 24 horas por dia,  urgia substituir esta cultura de terra arrasada por outra que trouxesse empregos, respeitando e preservando  o meio ambiente.

Foi Diretor do Hospital Coração de Jesus de São Joaquim, Chefe da Unidade Sanitária no mesmo município, médico da Companhia de Águas e Saneamento do Estado de Santa Catarina (CASAN) e Diretor-Presidente da CLINIMED, Florianópolis.

Nas eleições de 1978, concorreu ao cargo de Deputado Estadual pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), elegendo-se com 12.392 votos, tomando posse à 9ª Legislatura (1979-1983).

Em 1979, dirigiu a Divisão Hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado de Santa Catarina e em 1981, exerceu as funções de Vice-Governador do Estado (14 a 23 de julho e de 28 de agosto a 21 de setembro).

Buscou por duas vezes a reeleição de Deputado Estadual no Parlamento catarinense, mas não se elegeu. Em 1982, pelo Partido Democrático Social (PDS), obteve 14.256 votos e, em 1986, pelo Partido da Frente Liberal (PFL), obteve 3.777 votos. EGÍDIO e  JORGE KONDER BORNHAUSEN sempre foram ligados por amizade pessoal e político-partidária marcante.

Pai amoroso, marido dedicado, profissional correto, EGÍDIO deixa lacuna difícil de ser preenchida e grande pesar em todos nós que o admirávamos e por quem nutríamos  amizade inabalável. Vai com Deus, amigo Egídio, até breve!

Por Henrique Packter 24/01/2022 - 09:25 Atualizado em 24/01/2022 - 09:28

Sartori envelhecia. Beirava os 80 anos. Nova guerra ensanguentava a humanidade. Forte como velha árvore, conservava plena lucidez de espírito,mas sofria duas modificações opostas: no trato com os homens, a bondade e a tolerância cada vez mais se sublimavam; na análise política, extremava-se cada vez mais. Passou, dessa época em diante, a atender quase que exclusivamente à clientela que não podia pagar. Fornecia medicamentos a quase todos esses clientes, amostras sobretudo. Se alguém de melhores posses o procurasse, mandava consultar médico mais jovem “que conhecia a medicina mais moderna”. Assaltado por profundo ceticismo terapêutico passa a receitar chás da medicina popular, ervas que conheceu em seu contato com os selvícolas.

- Essas – dizia – pelo menos não fazem mal ao paciente. Já anos antes correra o boato de que não enxergava bem e que, por isso, operava mal. Operava de óculos! Era o maior argumento dos concorrentes. Estava, então, em plena posse de sua técnica. Esse juízo abalou profundamente o rijo lutador.

O artista atingido em sua sensibilidade! Talvez aí a explicação de seu triunfo como cirurgião: não ser um mecânico de bisturi, mas artista sensível, vivendo sua obra. Fazia com prazer a cirurgia reconstrutora e tinha quase aversão à cirurgia destruidora, às amputações e mutilações obrigtórias!

No pequeno consultório entra em manhã de inverno um cliente. muitos anos fora tratado, com a família, gratuitamente por Sartori. Não podia mesmo pagar àquele tempo. Enriqueceu com herança inesperada. Endinheirado agora, procura o velho médico.

- Vim aqui, doutor, para lhe pedir um conselho e não para consulta.  Como o senhor vê, já posso pagar. Quero me tratar agora  com o Prof. Miguel Couto, no Rio. Antes eu não podia ir. O senhor bem sabe... Vim aqui ainda incomodá-lo porque o senhor é viajado e poderá dar-me umas informações.

Ao antigo cliente gratuito não ocorrera, nem por sombras, pagar o trabalho atrasado do médico. É dos mais estranhos hábitos, esse de se retribuir geralmente todos os serviços, menos o do médico. Talvez isso provenha do fim do século 19, em que o médico da família tratava-a de graça e dela recebia seu sustento cotidiano. Ou então do tempo em que a Medicina era exercida por escravos.

Sartori consultou papéis, tomou algumas notas: - O senhor primeiro tomará um auto até o porto. Depois pegará vapor até o Rio. Lá esperará uns 10 dias até poder consultar o professor. Pagará os cem mil réis  da consulta e ele lhe pedirá exames. Daí um semana o senhor voltará para saber que deve continuar o tratamento da sífilis que o senhor herdou do bisavô, do avô e do pai. Mas, para isso, caro cliente agradecido, já que seu antigo médico não serve mais para nada, o senhor (esticou então o braço indicando incisivo), comece saindo por aquela porta ali.

O FIM

Ia alta a madrugada. O frio do inverno lageano penetrava pelas frinchas das janelas. Batem à porta de Sartori. Batem mais. Ele já há tempo não atendia mais chamados. A preta velha estava doente, muito doente. Lá longe, no Banhado. Era pobre. Não podia pagar médico. Ele se levanta e vai. Voltou com calafrios. Depois veio a febre e a pneumonia. Os remédios não surtem efeito. E saiu para a grande viagem, poucos dias depois, na madrugada fria, quando a Estrela D’alva brilhava escandolasamente no céu azul escuro.

Morre em 12.7.1945 da pneumonia que contraiu. Seu enterro preito de todas as classes sociais, especialmente das mais modestas, teve caixão, por expressa vontade sua, carregado por membros da comunidade negra e dos pobres da cidade.

Seus contemporâneos não chegaram a reconhecer-lhe o valor. Não passava, para grande parte da população, de um excêntrico. O povo, porém, o adorava. Pediu que fosse enterrado em caixão de tábuas nuas, carregado pelos negros que tanto admirava, em lugar desconhecido, sem barulho, no meio da mata. Não lhe fizeram esta última vontade. Seu enterro foi consagração popular. Jornais teceram vastos necrológios. Foi perpetuado em bronze que reproduz com perfeição sua fisionomia austera e boa.

Assim, morre esse mestre da cirurgia, vivendo incógnito numa cidadezinha, esponteamente isolado dos grandes centros, onde, certamente, se imporia pela força dos conhecimentos, grandeza de caráter e perfeição técnica. Alguém em visita ao busto do Mestre ouviu comentarem com simplicidade:

-Está igualzinho. Até aquelas verruguinhas!

(Baseado em REVELAÇÕES DE UM MÉDICO, 2ª edição, Editora 

Por Henrique Packter 18/01/2022 - 19:39 Atualizado em 18/01/2022 - 19:41

Cesar Sartori não limitou sua atuação médica a Lages e Urussanga. Generoso, aventureiro, humanitário atendia os índios, deslocando-se para as lonjuras de Chapecó.

Antonio Selistre de Campos foi nomeado pelo governo catarinense como inspetor escolar em Lages de1912 a 1913, no Grupo Escolar Vidal Ramos; é quando conhece Sartori.

No jornal A Voz de Chapecó artigos do Juiz de Direito Antônio Selistre de Campos, chamam a atenção sobre os Kaingáng e para o tema saúde dos indígenas. Cesar Sartori vai de Lages/SC, a cavalo, até o oeste catarinense para atendê-los. Índios morriam em penúria à mingua de recursos. Dizem-lhe: o mal que os vai dizimando é a febre, uma espécie de tifo. 

Pensava solucionar o problema destinando parcela de qualquer verba, para que alguns médicos, funcionários públicos do Departamentos de Saúde (no Sul, Centro o Norte do País), com gratificação especial, visitassem os toldos indígenas. Ao menos em tempos de surtos epidêmicos.

A febre, uma espécie de tifo referida por Antônio Selistre de Campos, foi doença contraída pós-contato, para a qual os indígenas não tinham adquirido imunidade. Porém, atendimento não vinha dos órgãos oficiais o acolhimento vinha pela medicina tradicional das ervas, conhecida e praticada pelos indígenas, e por alguns não-indígenas.  O curandeiro Ricardo nessa emergência dolorosa de sofrimento e desamparo trazia conforto aos morituros. Humilde curandeiro, Ricardo, preto, velho, analfabeto, era mais pobre do que os índios, que se iam extinguindo, na indigência. Morador do sertão, léguas longe dos enfermos, condenados à morte, nesse transe irremediável, lhes traz a solidariedade de ser humano, nessa última esperança de medicação ilusória.

Antônio Selistre de Campos critica o Serviço de Proteção aos Índios/SPI, que, depois de 1930 não é mais dirigido pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, e sim por funcionários públicos admitidos pelo Departamento Administrativo do Serviço Público/DASP.

Em 10.03.1941, sob o título Índios IV, Antonio Selistre de Campos informava no jornal sobre a visita do Dr. Cesar Sartori fornecendo pequena biografia do médico italiano. Sartori contava então 80 anos! Há mais de quarenta anos residia em Lages. Estimado e acatado dado seu espírito humanitário e competência de cientista já visitara índios em Go, Pa, MS, PR, RS. Visitou toldos de Jacu e Banhado Grande.

Escreve ao Dr. Roquete Pinto (médico, escritor, radialista, antropologista), mostrando a condição de vida dos índios. Escreve também ao General Rondon e ao Presidente do país, pedindo a criação de assistência medica permanente aos índios brasileiros. Sobretudo para combater moléstias endêmicas e epidêmicas, que os vitimam há quatrocentos anos.

Selistre de Campos afirma ser certo que em Chapecó, cidade, sede de município importante, até há dois anos atrás (1939) não havia médico ou farmacêutico.

A 20.04.1941, em Índios, Antônio Selistre de Campos: o Posto precisa cumprir sua finalidade, isto é, a proteção dos Índios. Que se consiga ao menos, periodicamente, ida de médico aos toldos (...), pois, a permanência efetiva de um clinico, como sugere, por espírito de humanidade, o Dr. Cesar Sartori, é ideal quase irrealizável.

Quatro anos depois o problema persistia; em 06.04.1945, Selistre de Campos reclama em carta ao encarregado do posto, Francisco Siqueira Fortes, a persistência do problema. Em 1948, três anos depois, (...) Selistre de Campos publica artigo relatando a precariedade do atendimento à saúde e sobre duas mortes de índios idosos: Os Índios estão morrendo.

Fundado em 1939, o jornal de Chapecó circulava aos domingos na cidade e região. A última edição localizada do jornal foi de dezembro de 1957.

Selistre de Campos nasceu em Sto. Antônio da Patrulha/RS (1881); muda-se para POA /RS, onde cursa a Faculdade de Direito (1904). Formado em 1909, foi Juiz Estadual na comarca de Campos Novos/SC (1914). Após 1931 assume em definitivo a comarca de Chapecó. Falece a 05.12.1957 de pneumonia. Kaigángs levam o caixão acompanhando a pé o cortejo fúnebre.

Por Henrique Packter 07/01/2022 - 08:55 Atualizado em 07/01/2022 - 08:55

Deixa casa e consultório, bengala de junco ao ombro, chapéu Borsalino de grande aba larga e gravatinha branca de tope, habitualmente usada.  E lá se ia, bamboleando o corpo grandalhão, gingar de marinheiro, olhos semicerrados, pequenos, vivos, perdidos muitas vezes em elocubrações. César Avila  já estava pronto e lá se ia, rua 15 de novembro acima, rumo ao hospital, o velho convento de pedras. Seis e meia da manhã e já se preparavam na sala pequena, onde o sol ensaiava entrar pela janela.

Seu escovar era um dilúvio de espuma e água. Antes, pince nez a cavaleiro no nariz, tesoura em punho, cortava as próprias unhas e examinava as de seus assistentes. Está ali com as calças arregaçadas até o meio das canelas. A lavagem das mãos durava os longos 15 minutos clássicos.

Sartori sempre cumpriu escrupulosamente, com rigor fanático os detalhes mínimos da técnica. Era intransigentemente exigente em relação à lavagem das mãos e à desinfecção do campo operatório, a assepsia e a antissepsia. Ao executar uma cesariana seu jeito desengonçado se transfigura na cirurgia. A cabeça irradia autoridade e aquelas mãos que pareciam pesadas, adejam leves, manejando o bisturi. É um artista operando. A calma que vem da segurança em si. O entusiasmo jovem não diminuiu, mesmo tendo Sartori emagrecido pela velhice, a face sulcada de rugas. Um homem consciente da responsabilidade do ato cirúrgico.

A sala de operações era um Templo onde se ciciava. Mas, se algo não corresse bem, pobre do assistente ou da enfermeira.

Deus romano tonitroante acordava numa tempestade de palavras e palavrões, mistura de italiano e português, blasfemando em duas ou mais línguas...

Terminado o ato cirúrgico, passava a tempestade, era o primeiro a cumprimentar a todos e a pedir críticas. Jamais atingiu a autossuficiência e, por isso, sempre foi moço.  Tinha a tortura da perfeição. Na véspera relera a familiar anatomia topográfica daquela operação,   tão sua conhecida e tantas vezes praticada. Hábil escultor, sabia que estava esculpindo o frágil material que é o corpo humano, sempre um grande risco. Era, a um tempo, mestre-parteiro, grande clínico, grande cirurgião, grande coração.

César Sartori e César Ávila voltam para casa, sempre conversando. E, nessa volta param cinco a seis vezes. Parados, ele bate no ombro do interlocutor para sublinhar o raciocínio. Parados alguns minutos várias vezes no calor da conversa, a volta do hospital dura, assim, perto de uma hora.

Para, bate no ombro e diz: -“Hóstia! Veja a inteligência do Povo. Puseram apelido de bicho numa porção de gente. Quando sonham com um desses, jogam no bicho correspondente. Sturgo é o cachorro. Caetano é o pavão.  E eu, diga-me: com que bicho sou parecido? Olha! Sou o urso. O urso do polo. E sou parecido mesmo”.

Na casa almoçam a imbatível culinária, cardápio de dois mundos, responsável por sua obesidade. Macarrão de vários tipos. Salada de feijão branco e alho. Fumegantes assados. Paca, perdiz, polenta. Tudo regado a vinho.

Com gesto autoritário, dedo em riste, exigia repetissem várias vezes a taça de vinho ou o copo de cerveja: “Semel in anno insanire potes.” (Uma vez por ano podes ficar maluco, diziam os latinos). Beba “que te fa bene”.  E assim, várias vezes por mês seguiam o preceito anual dos latinos. Café, vermute. Depois dormia religiosamente a sesta. Dona Senhorinha e Matilde preparavam-lhe o almoço e cuidavam de seu sono reparador pós-prandial.

O Consultório

Três degraus. Corredor estreito. Na porta o horário de anúncio de jornal: Consultório Dr. César Sartori, médico, operador e parteiro. Entrava-se por uma porta ao lado. O consultório de Sartori era peça pequena e modesta em sua residência particular. Um esqueleto humano completo a um canto, pendurado na parede. Dois grandes armários com livros.

Mesas pequenas lembravam um museu. Havia, entre outras coisas, queixada de piranha do interior do Mato Grosso, minérios de ouro colhidos por suas próprias mãos nas galerias de Morro Velho, arcos e flexas de muitas tribos, dois crânios de indígenas e outros, de animais. Um grande couro de jibóia contornava a peça, paralelo ao teto. Antigos recortes de jornais e de revistas nas janelas de vidro dos armários: Stalin, a Passionária, Plutarco, Luiz Carlos Prestes, fotos de crianças, colegas, amigos.

E livros: bíblias e livros comunistas ao lado de manuais de cirurgia e de obras de Biologia. Tudo lido. Tudo anotado. Em outra peça, seu arquivo. Eram de contas que quase nunca mandava e ficavam ali à inútil espera de pagamento com tudo em ordem, dia e hora do atendimento. Algumas pitorescas. Esquecera o primeiro nome do paciente e especificara como lembrete:”Santos (o sem orelha) 10 injeções de 914 semanalmente de 2.6.1925 a 4 de agosto".

Ali examina doentes com cuidado e técnica, aflorando o diagnóstico acima dos sintomas, com aquele sexto sentido que dá ao clínico a intuição da doença, qualidade nele hipertrofiada. Depois das consultas, estuda, escreve. À noitinha sai e visita amigos; ao pé da lareira transborda o formidável causeur. Penosamente, surge, caleidoscopicamente, suas aventuras pelos caminhos do mundo.

Profissão de fé

Orador de mão cheia, assim sintetizou num discurso de saudação, sua vinda a Lages:

“Deixa que tudo isso te diga, um médico do interior, que chega aqui, vindo de Urussanga, consumindo 8 dias a cavalo, 41 anos atrás. Médico que cobria distâncias imensas em transportes muitas vezes incômodos, sem horas de descanso, escalando montes em noites de temporal, enfrentando as mais duras intempéries pelas caladas da noite, sem repouso para o físico e sem tréguas para o espírito. Transportado no lombo das mulas, ao frio, ao vento, à neve.  Esperando na noite negra, que baixasse a água do rio para poder vadeá-lo. Dormindo ao relento ou no catre duro, tendo travesseiro como única roupa, onde, uma vez, estava escrito:” Duma bem e viva a República.” O dramático, o trágico, o cômico, tudo misturado. Precisava ser enciclopédia viva, um improvisador, médico e enfermeiro, parteiro e dentista; muita vez batizei crianças agonizantes. Fiz minha primeira operação cesárea em Lages, no quarto da paciente, assistido por Hermelino Ribeiro e Antônio Amorim".

Antifascista

Levanta-se num banquete pedindo a palavra para condenar a invasão da Abissínia pelas tropas de Mussolini. Na guerra de 14 vai à Itália. Ainda não naturalizado brasileiro dirige parte de um hospital e não aceita remuneração ou posto de oficial. Sartori levava a extremos sua ética profissional. Por princípio, adversário de qualquer guerra, não queria tirar proveito daquela.

Sofreu o que a Itália sofria com o domínio de Mussolini. Recalcou suas tendências políticas, denunciado que foi por colega cônsul italiano, como antifascista. Tinha familiares na Itália e suas atitudes, no Brasil, podiam vir a prejudicá-los, comprometê-los. Recebe carta de um parente, catedrático em Milão, o professor Colosi, enviada clandestinamente da Suiça, em pleno período fascista: “...Caríssimo tio, não sublinhe nada em suas cartas. Não escreva a palavra LIBERDADE. Não fale nem na Democracia brasileira. Evite tudo isso. Poderemos sofrer muito!” Um a um seus parentes vão morrendo.

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