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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Dr. Renato Matos 06/04/2022 - 21:10 Atualizado em 06/04/2022 - 21:12

Quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 na China, parecia mais uma daquelas doenças raras que ficariam por lá. 

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi oficialmente alertada sobre vários casos de pneumonia atípica na cidade de Wuhan. 

Um mês depois, declarou que o surto do novo coronavírus constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional.

Após 500 milhões de casos e mais de 6 milhões de mortes confirmadas no mundo, o que aprendemos?

As medidas de isolamento social foram fundamentais para salvar milhares de vidas, principalmente no início da pandemia.
As máscaras, quando adequadamente usadas, são extremamente eficientes.
Imunidade de rebanho não se aplica para essa doença. 

A variante Ômicron, que reinfectou boa parte dos que já haviam contraído a doença anteriormente, enterrou de vez essa teoria.
As vacinas confirmaram, na prática, a eficácia e segurança mostradas nos ensaios clínicos feitos com milhares de pessoas.
Temos, hoje, uma outra doença naqueles com esquema vacinal completo - agora sim, uma gripezinha.

Os inúteis medicamentos do kit Covid – cloroquina, ivermectina e azitromicina - definitivamente não têm nenhum lugar na condução dos casos. 
O estudo TOGETHER, publicado na edição de 30 de março passado na New England Journal of Medicine, mostrou mais uma vez a total ineficácia da Ivermectina quando utilizada nos primeiros 7 dias de sintomas.

Mas já temos medicamentos preventivos de verdade. 
Há poucos dias, a ANVISA aprovou para uso emergencial o PAXLOVID, medicamento da Pfizer que, se tomado nos primeiros 5 dias da doença, reduz a necessidade de internação em aproximadamente 90%.

Era o que precisávamos para lidar com aquelas pessoas mais vulneráveis, com potencial de evolução desfavorável.
De certa forma, como o Tamiflu na gripe, mas muito mais eficaz.

Em relação a novas mutantes do coronavírus, apesar de novas subvariantes da Ômicron, como a BA.2 e, mais recentemente, a XE (mistura de material genético da BA.1 com a BA.2), nenhuma mostrou escape vacinal significativo.

QUARTA DOSE

Apesar de incertezas quanto à necessidade de um segundo reforço vacinal na população em geral, elas já são indicadas para imunodeprimidos e pessoas acima de 80 anos.

Recentemente, o FDA passou a recomendar essa dose para indivíduos acima de 50 anos, quatro meses após seu reforço inicial.

Um artigo publicado também na New England, agora, em 05 de abril, mostrou que a quarta dose reduziu em 3,5 vezes o número de casos graves da Covid quando aplicada em indivíduos acima de 60 anos em Israel.

A Organização Mundial da Saúde mantém o objetivo de vacinar pelo menos 70% da população mundial até meados de 2022, mas também admitiu que ajustes à meta de 70% estão sendo considerados – talvez sejam necessários mais vacinados para que seja reduzido de forma significativa o aparecimento de novas variantes de preocupação.

No entanto, de acordo com Our World In Data, apenas 14,7% das pessoas em países de baixa renda receberam pelo menos uma dose de vacina contra a SARS-CoV-2. 

Essas desigualdades podem trazer ainda alguns capítulos para essa história.

Por Dr. Renato Matos 30/03/2022 - 11:30 Atualizado em 30/03/2022 - 11:39

Ao longo da história, as doenças infecciosas acompanharam e aumentaram o sofrimento das guerras.
As privações, aglomerações em espaços pouco ventilados, movimentações em massa e a destruição dos sistemas de saúde são caldos de cultura para o desenvolvimento de doenças transmissíveis.

Antes do surgimento de tratamentos apropriados, morriam mais pessoas de doenças infecciosas do que propriamente das perdas diretas das batalhas.
Essas doenças ficaram conhecidas como o "terceiro exército".

Entre as enfermidades que costumam crescer durante as guerras, salienta-se a tuberculose, transmitida por via aérea.
Sua peculiaridade é que pessoas que tiveram contato com doentes podem infectar-se sem manifestar a doença - a chamada tuberculose latente.

Em situações de redução da imunidade – e a guerra é cheia delas – esses infectados tornam-se doentes.
No Brasil, onde a doença é endêmica, estima-se que 1/3 da população tem a tuberculose em sua forma latente.
Apenas de 5% a 10% desses infectados irão ficar doentes ao longo de suas vidas, a imensa maioria por reativação da infecção prévia.

A tuberculose matou mais pessoas que qualquer outro agente infeccioso na história. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, 10 milhões de pessoas adoeçam de tuberculose no mundo, com aproximadamente 1,5 milhões de mortes.

É uma doença negligenciada, diretamente relacionada à pobreza. 
Apenas oito países representam dois terços do total do número de casos, com a Índia liderando a contagem. 
Pelos dados do Banco Mundial, enquanto a incidência (número de casos novos/ano) de tuberculose nos EUA é de 2 casos por 100.000 habitantes, no Gabão atinge 527 por 100.000.

O absurdo desses números é que a tuberculose é uma doença curável e passível de prevenção.
 O diagnóstico habitualmente é simples e há medicamentos eficazes e baratos disponíveis desde meados do século passado.

Nas últimas décadas, têm surgido formas resistentes da bactéria que causa a tuberculose, com índices de cura muito inferiores ao da tuberculose “normal”.
Entre os países mais afetados por essa forma grave estão os da extinta União Soviética.
A Ucrânia ocupa posição de destaque.

A OMS estima que, entre os casos confirmados de tuberculose naquele país, em 2018, 29% tinham formas multirresistentes. 
Dos que já haviam sido tratados anteriormente, 46%.
Para comparação: no Brasil, entre os 67 mil casos novos notificados em 2020, pouco menos de 2% tinham a forma resistente a drogas.

A tuberculose é curada com medicamentos seguros e de baixo custo. O tratamento tem duração de 6 meses. 
Nas formas resistentes, os tratamentos arrastam-se por anos, as drogas são caras e os índices de cura ficam apenas em torno de 50%.
Há um compromisso entre os países signatários da OMS em erradicar a tuberculose até 2035.

A Covid já tornou essa meta menos realista.
Na Ucrânia, com seus altíssimos níveis de multirresistência, a guerra deverá enterrar de vez esse sonho.

Por Dr. Renato Matos 24/03/2022 - 09:20 Atualizado em 24/03/2022 - 09:23

Os términos das pandemias modernas costumam ter data marcada. 
A da gripe H1N1 foi no dia 10 de agosto de 2020 - aproximadamente 8 meses após ter sido declarada uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 
De acordo com a OMS, na época, “o monitoramento epidemiológico mostrou que o vírus H1N1 não sofreu mutação para formas mais letais, a resistência ao antiviral fosfato de oseltamivir não se desenvolveu de forma importante e a vacina se mostrou uma medida eficaz para proteger a população”.

Talvez estejamos nos aproximando de uma situação semelhante com a pandemia da Covid.
Mas, apesar da melhora do cenário dos últimos meses, com a variante Ômicron mostrando-se menos letal naquelas populações com altos níveis de vacinação – reforço, inclusive – a OMS ainda não sinalizou que pretenda retirar da Covid o rótulo de Emergência de Saúde Pública, declarado em 30 de janeiro de 2020.

A discrepância de cobertura vacinal em diferentes países e a recrudescência de casos em países europeus e asiáticos - alguns mostrando, também, aumento na mortalidade - aumentou a sua relutância.
Assim como a declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional cabe, por lei, ao Diretor da Organização Mundial da Saúde, o mesmo vale para a sua revogação.
Tal declaração não teria apenas um valor simbólico ou sinalizaria de uma vez por todas o fim das máscaras.

Suas implicações vão muito além.

Na prática, a medida pode impactar da quantidade de vacinas disponíveis até benefícios trabalhistas, passando por processos de compras públicas.
Em nosso país, um levantamento preliminar mostrou que, somente na área da saúde, há pelo menos 168 portarias cujos efeitos estão vinculados ao estado de emergência e que seriam invalidadas caso ele fosse finalizado.

Alguns imunizantes, como o da Janssen e a Coronavac, poderiam perder o aval da Anvisa - a autorização tem previsão de durar somente durante o estado emergencial. 
Do mesmo modo, poderiam ser impactadas as esperadas autorizações para medicamentos antivirais que já provaram sua eficácia quando usados de forma precoce em pacientes de maior risco. 
A Pfizer e a Merck, fabricantes desses medicamentos, concordaram em permitir em alguns países a fabricação de genéricos de seus produtos “até que a pandemia termine”.

O próprio preço das vacinas poderá ser reajustado – esses valores “camaradas” também são para esse período excepcional.
A autorização do Conselho Federal de Medicina sobre a prática da telemedicina pode cair, já que ficou condicionada à mesma emergência na saúde pública.
O fim de uma pandemia não depende apenas de aspectos médicos, vinculados ao número de casos, à mortalidade, à disponibilidade de medicamentos e às vacinas eficazes. 

Há aspectos políticos, sociais e econômicos a serem considerados.
Decretar o fim da pandemia não é tão simples assim.

Por Dr. Renato Matos 15/03/2022 - 16:36 Atualizado em 15/03/2022 - 16:36

Costumamos ligar o câncer de pulmão ao tabagismo – aproximadamente 90% dos casos apresentam essa associação, comprovadamente causal.

Mas o que provoca a doença nos 10% restantes?

Além das ainda insondáveis causas genéticas e outros fatores ambientais e biológicos (como alguns vírus), boa parte das vezes, os agentes que desencadeiam alterações no DNA que levam ao câncer são as radiações ionizantes – por definição, aquelas que tem energia suficiente para gerar espécies químicas carregadas eletricamente.

Essas substâncias causam danos genéticos durante toda a vida, de forma cumulativa.

As evidências epidemiológicas existentes foram suficientes para que a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) considere essas radiações como cancerígenas em humanos e em animais – no mais alto grau de sua classificação.

A mais importante fonte de radiação ionizante de origem natural é o radônio, um gás desprendido do solo e das rochas, pouco popular entre nós, mas já conhecido desde 1900.

Inodoro, insípido e incolor, não pode ser percebido pelos sentidos. Inalado, pode transferir toda a sua energia para os tecidos pulmonares.

A infiltração do gás pelo solo é a mais importante fonte de radônio em ambientes internos.

O gás radônio escapa facilmente das rochas e do solo para o ar e tende a se concentrar em espaços fechados, como prédios e residências.

É a segunda causa de câncer de pulmão, perdendo apenas para o tabagismo.

As estimativas atuais sobre a proporção de casos de câncer de pulmão atribuíveis ao radônio variam entre 3% e 14%. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA calcula que ele é responsável por mais de 20.000 mortes anuais pela doença naquele país.

Ter a sua casa testada é a única forma de determinar se você e a sua família estão em risco. 

Segundo o Manual da Organização Mundial da Saúde sobre radônio em ambientes internos, as suas medições são relativamente simples de realizar.

Estudo recente, realizado em imóveis localizados na região metropolitana da cidade de São Paulo, apontam que de 70 ambientes analisados, cerca de 11%, apresentaram concentração de radônio acima dos limites recomendados.

Há programas do governo federal que se propõem a fazer um mapeamento das áreas com maiores concentrações de radônio, com resultados ainda não disponibilizados.

Nos EUA, kits para medição são encontrados facilmente, com produtos para uso doméstico que custam em torno de 30 dólares (Amazon).

Por aqui, numa pesquisa via Google, não encontramos nenhum equipamento disponível.

Estratégias relativamente simples de ventilação e construção podem solucionar o problema.

Não existe um limite mínimo conhecido em que a exposição ao radônio não apresente risco.

Mas quanto menor a sua concentração em uma casa, menor o risco.

Por Dr. Renato Matos 02/03/2022 - 09:55

Plausível, hipótese interessante, talvez.
Essas são algumas caracterizações utilizadas por pesquisadores quando são confrontados com a história da chamada gripe russa e sua relação com a nossa pandemia de Covid-19.
Em 1889, apareceu uma nova doença respiratória que se espalhou pelo mundo e causou supostos 1 milhão de mortos – os primeiros casos teriam surgido no mês de maio, em pessoas que viviam em Bukhara, uma cidade que fazia parte do, então, Império Russo. 
O que parecia ser mais uma das recorrentes epidemias de influenza apresentava algumas características peculiares: além dos sintomas habituais da gripe, havia comprometimento do aparelho digestivo e neurológico, entre eles a perda de olfato e paladar, não encontrados em quadros tradicionais da doença.
Também foi notada uma incidência muito baixa de manifestações em crianças e a permanência dos sintomas por meses, principalmente a fadiga.
A gripe russa acabou alguns anos mais tarde, após pelo menos três ondas de infecção.

Existem, até agora, 32 espécies conhecidas de coronavírus em animais. Infectam porcos, cães, gatos, roedores, vacas, cavalos, camelos, baleias beluga, pássaros e, principalmente, morcegos.
Em humanos, há 7 espécies. 
Além daquelas que provocaram doenças graves nas últimas décadas - a SARS-CoV1, MERS e a atual SARS-CoV2 - são conhecidas outras 4 espécies capazes de infectar humanos.
Elas são conhecidas desde a década de 60 e causam sintomas leves de vias aéreas superiores, como um resfriado comum. 
Entre elas, a OC43, a principal suspeita de causar a gripe russa.
A hipótese dos pesquisadores é que a OC43 surgiu em 1889 como um novo vírus, desconhecido do sistema imunológico dos seres humanos da época, motivando a gravidade da pandemia.
Abrandado pelo tempo e, agora, reconhecido pelo nosso sistema de defesa, hoje é um vírus comum, “leve”.
Se aceitarmos a hipótese de que a gripe russa era uma epidemia anterior de coronavírus, sua dinâmica pode nos dar algumas pistas sobre o futuro da Covid-19.
Com a indispensável ajuda das vacinas se transformará numa doença como o resfriado comum?
Ou, como a Influenza, terá mutações frequentes que exigirão reforços vacinais anuais e ainda causarão muitas mortes?
Esperemos os próximos capítulos.

Por Dr. Renato Matos 21/02/2022 - 15:44 Atualizado em 21/02/2022 - 15:45

Temos, agora, os dados sobre o novo medicamento da Pfizer revisados por pares e publicado numa revista de ponta – a New England Journal of Medicine, edição de 16 de fevereiro de 2022.
“Revisão por pares” significa que o trabalho publicado passou pelo crivo de outros pesquisadores com experiência, da mesma área, que não tiveram nenhuma participação naquele estudo.
Os resultados de um trabalho científico, com múltiplas pegadinhas metodológicas e estatísticas, podem conter erros – involuntários ou não – que devem ser detectados antes que o trabalho se torne oficialmente publicado. 
A revisão por pares serve como um “detector de bobagens”, fundamental nessa época em que os estudos são tornados públicos por redes sociais, sem nenhum julgamento da qualidade.
Vimos isso aos montes durante esses anos de pandemia - um dos icônicos foi o “estudo” da Prevent Senior sobre o kit Covid.
Publicação após revisão por pares é a comunicação apropriada da ciência.
Não está isenta de erros, mas reduz a sua ocorrência.
O prestígio de revistas científicas está atrelado à qualidade de seus revisores. 

Nirmatrelvir – O Tamiflu da Covid?

Oral Nirmatrelvir for High-Risk, Nonhospitalized Adults with Covid-19 analisa o uso da associação desse novo antiviral com o ritonavir, um outro antiviral usado no tratamento da AIDS desde 1996.
Avaliou, num ensaio duplo-cego, aleatório e controlado, um total de 2246 pacientes: 1120 pacientes receberam Nirmatrelvir, enquanto 1126 receberam placebo. 
Todos adultos, sintomáticos, não vacinados, não hospitalizados, mas com elevado risco de progressão da Covid-19.
A grande vantagem do novo medicamento é que é utilizado por via oral, durante 5 dias – como o Tamiflu, que usamos em casos de Influenza.
Ao final da análise, a redução do risco relativo (uma medida de probabilidade) de internação por Covid ou morte ao final de 28 dias foi de 88,9% no grupo Nirmatrelvir em relação ao grupo placebo.
Os números foram semelhantes para aqueles que iniciaram o medicamento 3 ou 5 dias após o início dos sintomas.
Das 13 mortes que ocorreram durante o estudo, todas se deram no grupo placebo.
A incidência de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos.
A Anvisa recebeu (em 16/2) o pedido de uso emergencial do novo medicamento, já batizado como Paxlovid.
A Pfizer já anunciou preços diferenciados e a possibilidade de renunciar à patente do Paxlovid para países de baixa renda.
Até agora, infelizmente, esse acordo excluiu o Brasil.
Onde já está comercializado, seu preço gira em torno de 500 dólares.
Esses medicamentos não substituem de forma alguma as vacinas.
Mas são um grande passo em direção a uma vida mais normal.

Por Dr. Renato Matos 17/02/2022 - 09:58 Atualizado em 17/02/2022 - 09:59

A Ômicron nos mostrou que variantes podem escapar à imunidade, tanto induzida por vacinas quanto por infecção prévia.

Já aprendemos a não fazer previsões sobre o futuro próximo da pandemia da Covid-19. Mas também sabemos que, enquanto houver grande circulação viral, a possibilidade de novas variantes que possam escapar à proteção dada pela vacina é real.

Segundo o Our World in Data, já foram administradas 10,35 bilhões de doses de vacinas no mundo, mas apenas 10,6% das pessoas vivendo em países pobres recebeu pelo menos uma dose.

Dentro dessa incerteza, qual o posicionamento das entidades médicas em relação à quarta dose?

Em relação aos imunodeprimidos, parece não haver dúvidas de que ela é indicada – e já aplicada - em muitos países, Brasil inclusive.

Mas para aqueles com seu sistema imunológico preservado?

Enquanto alguns países, como Israel e Chile, já iniciaram a administração da quarta dose para grupos específicos de imunocompetentes, ainda não há consenso quanto a sua utilidade.
 

Posicionamento da Sociedade Brasileira de Infectologia

Em nota informativa sobre reforço das vacinas Covid-19, elaborada em 10/02/2022, a Sociedade Brasileira de Infectologia dá seu parecer.

“O Brasil tem nesse momento 76% das pessoas elegíveis vacinadas com o esquema básico, e apenas 33% da população vacinável com a dose de reforço”. 

“Diversos trabalhos científicos publicados demonstram que contra a variante Ômicron é necessário o esquema com três doses para melhor proteção dos indivíduos. Portanto, a medida mais urgente em termos de vacinação para o país é avançar no percentual de pessoas que já completaram o esquema básico com dose de reforço”.

As vacinas atuais ainda utilizam a sequência do vírus original de Wuhan. Desde então, já foram descritas mais de 5 mil variantes, felizmente apenas poucas elevadas à categoria “de preocupação”.

“As vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna) segundo informações serão atualizadas proximamente para a variante Ômicron, sendo este outro aspecto a ser considerado para a utilização da 4ª dose de forma nacional neste momento”.

Resumindo: ainda não temos dados sólidos para que seja recomendada a quarta dose para a população em geral, com exceção dos imunossuprimidos.

Porém, em poucas semanas, tudo pode mudar.
 

Por Dr. Renato Matos 07/02/2022 - 09:04 Atualizado em 07/02/2022 - 09:04

O Dia Mundial do Combate ao Câncer, 4 de fevereiro, é uma iniciativa global com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). 
Tem como objetivo aumentar a conscientização e a educação mundial sobre a doença, além de influenciar governos e indivíduos para que se mobilizem pelo seu controle.
Em 2021, segundo a Organização Mundial da Saúde, 20 milhões de pessoas foram diagnosticadas com câncer e 10 milhões morreram.
Todos os tipos de câncer podem ser tratados. Muitos deles, prevenidos e curados.
Como em tantas doenças, o acesso a um tratamento adequado reflete as desigualdades do nosso mundo. 
A distinção mais clara é entre países ricos e pobres.
Segundo a OMS, “um tratamento alegadamente abrangente é disponível em mais de 90% dos países de alta renda, mas em menos de 15% dos países de pobres”.
Pior: “a sobrevivência das crianças diagnosticadas com câncer é superior a 80% nos países de alta renda e inferior a 30% nos países de baixo e médio rendimento”.
Assim como no acesso as vacinas contra a Covid, as desigualdades são imensas.
O incompreensível é que o país que dispõe dos melhores centros de tratamento para câncer do mundo – os EUA – seja também o país com maior número de mortes comprovadamente secundárias à Covid.
Atingiram impensáveis 900 mil mortes.
Acesso à tecnologia não é tudo.
É preciso informação de qualidade.
Os EUA, líder de mortes por Covid, também são campeões de negacionistas e antivacinas. 

Por Dr. Renato Matos 03/02/2022 - 09:05 Atualizado em 03/02/2022 - 09:07

Em artigo publicado em “O Globo”, de 29/01/2022, o geneticista Salmo Ralkin, traz informações compiladas diretamente dos dados do Ministério da Saúde pelo infectologista pediátrico Dr. Marco Aurelio Safadi, Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Presidente do Departamento de Doenças Infecciosas da Sociedade Brasileira de Pediatria.

“Até 2021, 34 mil menores de 19 anos de idade foram hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave pela Covid-19. Destes, 2,6 mil foram a óbito, implicando em uma letalidade entre crianças hospitalizadas de 7,2%, cerca de dez vezes maior do que nos EUA (de 0,5% a 1%)”.

“Ao contrário do que se desinforma, entre as que foram a óbito, 40% não tinham comorbidades”. 

“Uma complicação da Covid-19 em crianças, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, prevenível por vacinação, ocorre em uma a cada quatro mil crianças infectadas, tem letalidade de 6% no Brasil, e metade das mortes ocorreu justamente no grupo entre 5 e 11 anos de idade”.

Estamos vendo que a variante Ômicron, amplamente predominante no país, não é tão “mansinha” assim, nem veio para acabar com a pandemia.

Já temos variantes da variante Ômicron.

Além dos recordes diários de casos no país, as mortes que, em dezembro, estavam pouco acima de 100 ao dia, já estão alcançando quase 700. 
A maioria entre os incompletamente vacinados ou não vacinados – situação das crianças.

Nunca nos perdoaremos se algum filho – ou neto - nosso tiver complicações ou morrer infectado pelo SARS-CoV-2, com todas as informações que já temos sobre a segurança e eficiência das vacinas.

Não tenha dúvidas.

Vale muito a pena.

Por Dr. Renato Matos 31/01/2022 - 08:36 Atualizado em 31/01/2022 - 08:36

Assistimos neste domingo a uma das finais mais emocionantes de Grand Slam – os quatro principais torneios do tênis mundial: Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open.

Num jogo em que cada ponto era disputado ao limite - contra o russo Medvedev, 10 anos mais novo que Nadal, jogando o seu melhor tênis - a vitória do espanhol Rafael Nadal chegou após extenuantes 5 horas.

Com isso, Nadal tornou-se o maior vencedor de Grand Slam da história.

Esse recorde poderia ter sido alcançado na Austrália por Novak Djokovic, que já venceu por 9 vezes o torneio de Melbourne.

Mas ele resolveu jogar no time dos antivacinas e encontrou um país sério e que não abre exceções para estrelas quando o assunto é combater a disseminação da Covid.

Para piorar a imagem do tenista sérvio foi divulgado que é cofundador e sócio majoritário da QuantBioRes, empresa dinamarquesa de biotecnologia que pretende criar um remédio para tratar a Covid-19.

Seria ele o futuro garoto propaganda não vacinado?

O feito de Rafael Nadal ganha destaque quando lembramos que ele teve sérios problemas físicos no ano passado e foi recentemente infectado com a Covid-19.

Devidamente vacinado e protegido, teve fôlego suficiente para ganhar do jovem Medvedev.

Nadal já marcou sua posição: “eu acredito no que dizem as pessoas que sabem de medicina. E se dizem que precisamos nos vacinar, temos de nos vacinar. É a minha opinião.”

Alguns são bons atletas.

Outros viram lendas.

Por Dr. Renato Matos 26/01/2022 - 08:23 Atualizado em 26/01/2022 - 08:26

Eric Topol, cardiologista norte-americano, é um dos 10 pesquisadores mais citados da área médica. Acompanha, como poucos, o desenrolar da pandemia, com postagens baseadas nas melhores evidências disponíveis. Uma excelente indicação para quem gosta de ciência e do Twitter.

Publicou há poucos dias um interessante artigo no seu site Ground Truths. 
“Qual é a nossa situação em relação à Ômicron? 
Os dados, a matemática, os padrões, e a saída”

Daí, saem as informações abaixo.

Enquanto as doses de reforço com as vacinas mRNA (Pfizer e Moderna) e de vetor viral (AstraZeneca) restauram a proteção contra infecções sintomáticas provocadas pela variante Delta num patamar acima de 90%, o mesmo não acontece contra a variante Ômicron.

Nesse caso, o reforço vacinal aumentou a proteção (contra infecções sintomáticas) para pouco mais de 50%. 

Deixaram de funcionar?

Claro que não.

Estão cumprindo o prometido – redução das hospitalizações e mortes.

Há 3 estudos avaliando esse tópico, com surpreendente consistência entre eles – 88%, 89% e 90% de eficácia do reforço contra complicações da Ômicron.
Valores muito acima do observado entre aqueles que ainda não fizeram o reforço, apesar da indicação: 44% a 68%.

A dose de reforço não só multiplica os anticorpos neutralizantes, já conhecidos dos leitores, mas expande as células de memória, estas, sim, mais importantes contra as formas graves da doença – e relacionadas à duração da resposta imune.
Na dúvida, Israel já começou a aplicar a segunda dose de reforço naqueles com mais de 60 anos. Aguardemos os resultados.

Enquanto alguns torcem para que a Ômicron seja a última parada da pandemia, “parece estar claro que estamos longe de conter o vírus neste momento”. 
Pior, “esta alta circulação viral poderá resultar em novas variantes, inclusive com maior evasão vacinal”. 

Precisamos de novas vacinas, capazes de reduzir ainda mais a transmissão.

E que, idealmente, resultem em uma vacina universal, capaz de proteger contra muitas – ou todas – as variantes do SARS-CoV-2.
“Talvez este dia não chegue tão cedo”, escreveu Eric Topol, citando um editorial do The Washington Post.

Por Dr. Renato Matos 24/01/2022 - 09:35 Atualizado em 24/01/2022 - 09:35

O Colegiado dos Professores Titulares da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo publicou uma nota de solidariedade e apoio ao Professor Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, Coordenador da Disciplina de Pneumologia daquela entidade.

Carlos Carvalho foi o coordenador do Grupo de Trabalho instituído a pedido do Ministério da Saúde, que reuniu inúmeros especialistas, representantes de diversas Sociedades Médicas, para redigir as diretrizes para tratamento ambulatorial da Covid-19.

Depois de descartável e inútil consulta pública, o documento foi aprovado pela CONITEC, apesar de insensata votação contrária dirigida por entidades politicamente enviesadas.

Como de praxe, o documento foi enviado à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, do Ministério da Saúde – que, até onde sabemos, nunca rejeitou uma diretriz aprovada pela CONITEC.

Porém, em publicação assinada pelo oftalmologista Helio Angotti Neto, a diretriz para tratamento da Covid-19 foi rejeitada.

Ficou famosa uma tabela apresentada na página 24 do documento.

Entre outras bobagens, afirma que há ensaios clínicos randomizados e controlados provando a eficácia da Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, enquanto não existiriam tais estudos para as vacinas.

Repetindo: vacinas não seriam eficazes, nem seguras, pelo posicionamento da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde.

A Hidroxicloroquina, sim.

Estudantes de medicina e profissionais de saúde que tenham aprendido a avaliar publicações médicas sabem como é injustificável essa posição.

Não se discute mais o papel da Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 há muito tempo, no mundo todo – não há mais dúvidas quanto a falta de eficácia nesse contexto. Não é opinião – é fato.

Ainda perplexo, um grupo de docentes, profissionais de saúde e pesquisadores brasileiros criou um abaixo assinado contra a nota antivacina e a rejeição do documento da CONITEC.

A velocidade com que se multiplicam as assinaturas mostra o repúdio daqueles que desde o início da pandemia vêm buscando oferecer aos brasileiros o melhor que a ciência produziu.

No corpo do documento, palavras duras, fruto da desilusão com a forma que a pandemia vem sendo conduzida a nível federal: “causa enorme preocupação o fato de que as rédeas do Ministério da Saúde estejam sob a posse da ideologia, da desinformação e, principalmente, da ignorância. O comportamento do Ministério da Saúde transgride não somente os princípios da boa Ciência, mas avança a passos largos para consolidar a prática sistemática de destruição de todo um sistema de saúde”. 

Aos interessados, acesso via chng.it/nqvhYtfG, via @change_br.

Já assinei.

Por Dr. Renato Matos 19/01/2022 - 08:42 Atualizado em 19/01/2022 - 08:44

Frente à imensa eficiência e segurança das vacinas contra a Covid-19, na falta de melhores argumentos, uma das alegações repetidas pelos desinformados (às vezes, mal-intencionados) antivacinas é que estamos usando imunizantes “experimentais”.

Um pouquinho de história.

Katalin Karikó, búlgara, doutora pela Universidade de Szeged, uma das tradicionais daquele país, emigrou para os Estados Unidos em 1985 para um pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia.
Seu objeto de pesquisa era o RNA mensageiro (mRNA), já conhecido há algumas décadas.

Na época, todas as atenções na área estavam focadas no Projeto Genoma Humano - empreendimento multinacional que buscava decifrar o “livro da vida” - iniciado em 1990 e completado em 2003.

O RNA, sigla para ácido ribonucleico, era considerado secundário – uma molécula que “apenas” copia as informações do DNA no núcleo e transmite esses dados para outras estruturas produzirem proteínas.

Persistente, acreditando no potencial terapêutico de suas pesquisas, Karikó começou, no início da década de 90, a aplicar em animais sequências de RNA mensageiro através de injeções intramusculares.

O objetivo era que essas moléculas, uma vez dentro das células, começassem a produzir proteínas conforme a “receita” preparada pela pesquisadora.

Mas falhava repetidamente: as moléculas de mRNA sintetizadas pela cientista eram reconhecidas como estranhas pelo sistema imunológico e rapidamente eliminadas.

Em 2004, com mudanças na formulação do mRNA, os resultados começaram a aparecer. 

Vislumbrando seu potencial, a Universidade da Pensilvânia logo patenteou os achados de Karikó.

Em 2010, um grupo de arrojados cientistas, saídos das melhores universidades norte americanas, comprou esses direitos e fundou a ModeRNA – acrômio para Modifiyng RNA - pioneira nas vacinas mRNA, que mudaram a história da nossa pandemia.

Em 2013, Katalin Karikó começou a trabalhar na empresa BioNTech, onde atualmente é vice-presidente.

A BioNTech é a parceira da Pfizer na produção das também vencedoras vacinas contra o SARS-CoV-2, que usam a mesma plataforma mRNA.

Katalin Karikó é uma das fortes candidatas a prêmio Nobel de química deste ano.

O que a pandemia fez foi liberar os bilhões de dólares necessários para que a vacina saísse do laboratório.

Depois de 30 anos de incontáveis experimentações.
 

Por Dr. Renato Matos 17/01/2022 - 08:29 Atualizado em 17/01/2022 - 08:32

O coração possui 3 camadas: a mais interna é o delgado endocárdio, a média é o musculoso miocárdio e o revestimento externo é um saco fibroso, chamado pericárdio.
Miocardite e pericardite são processos inflamatórios envolvendo essas estruturas.

A frequência de miocardite na população em geral não é bem definida, uma vez que a apresentação clínica é variável e não existe um teste relativamente acurado que possa confirmar o diagnóstico.
Para termos um padrão de comparação, no relatório do Global Burden of Disease, de 2019, a taxa de miocardite entre 35 e 39 anos foi de 6,1 por 100.000 habitantes nos homens e 4,4 por 100.000 nas mulheres.

Na edição de 14 de dezembro passado, o periódico Nature Medicine, um dos de maior prestígio da área, traz números que mostram a associação entre miocardite, pericardite e arritmias cardíacas relacionadas à vacina e à infecção pelo SARS-CoV-2.

Foram avaliadas pessoas acima de 16 anos de idade vacinadas contra a Covid-19 na Inglaterra, entre dezembro de 2020 e agosto de 2021.
Os dados se referem a quase 40 milhões de vacinados.

O aumento do risco após a primeira dose da vacina da Oxford/AstraZeneca foi de 1 evento por milhão de vacinados. 
Com a vacina da Pfizer, 6 casos adicionais por milhão.
Após a segunda dose, 10 casos extras.
Naqueles infectados pelo SARS-CoV-2, QUARENTA casos adicionais por milhão.

Miocardite após vacina da Pfizer em crianças

Como com qualquer vacina, são comuns efeitos leves após a vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos – dor no local da aplicação, leve mal-estar, cefaleia e, eventualmente, febre.
A preocupação são efeitos colaterais graves.

Recentemente, o Centro para Controle de Doenças e Prevenção dos EUA (CDC) liberou dados referentes à vacinação de 8,7 milhão de crianças entre 5 e 11 anos de idade.
A única vacina aprovada nos EUA para essa faixa etária é a da Pfizer, liberada para aplicação naquele país desde outubro de 2021.
Altíssimo perfil de segurança.

Em relação a miocardite, foram relatados 11 casos suspeitos.

Destes, 8 preencheram os critérios pré-definidos para a doença – menos de 1 caso por milhão.
Nenhum caso grave, nenhum óbito.

Eficácia superior a 90%.
Sejamos racionais. 

Não há nenhuma razão lógica para deixarmos de vacinar nossos filhos.

Por Dr. Renato Matos 10/01/2022 - 19:04 Atualizado em 10/01/2022 - 19:10

Existem diversos esquemas de tempo de isolamento (para aqueles infectados) e de quarentena (para aqueles que tiveram contato sem proteção com um caso suspeito).
Começamos a pandemia com 10 dias de isolamento e 14 dias de quarentena, sem apoio de exames, esquema ainda preconizado pelo Ministério da Saúde.

Agora, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, numa controversa decisão, reduziu o tempo de isolamento para 5 dias, sem necessidade de testes adicionais.

Esse posicionamento foi criticado pela Associação Médica Americana: “De acordo com a própria fundamentação do CDC para reduzir o tempo de isolamento para o público em geral, estima-se que 31% das pessoas permanecem infecciosas 5 dias após um teste Covid-19 positivo. Com centenas de milhares de novos casos ocorrendo diariamente, dezenas de milhares - potencialmente centenas de milhares de pessoas - poderiam regressar ao trabalho e à escola ainda transmitindo a doença se seguissem as novas orientações do CDC sobre o fim do isolamento após cinco dias sem um teste negativo”. 
"Deve ser exigido um teste de antígeno negativo para terminar o isolamento após um teste positivo para a Covid-19”.

O CDC também atualizou as suas orientações quanto à quarentena após exposições a casos conhecidos de Covid-19. 
Os indivíduos que não estejam totalmente vacinados, assintomáticos, devem ficar em quarentena durante 5 dias após a exposição, seguidos de uma rigorosa utilização de máscara durante mais 5 dias. 

Os indivíduos totalmente vacinados não necessitam submeter-se à quarentena após uma exposição, desde que permaneçam assintomáticos; no entanto, devem usar uma máscara em público durante 10 dias.

Em caso de sintomas, devem ser imediatamente testados, colocando-se em isolamento até a definição do quadro.

A Organização Mundial da Saúde continua preconizando 14 dias de quarentena.

O Ministério da Saúde está estudando essas modificações de protocolos, algumas, inclusive já adotadas por alguns estados, para definir novas regras.

Como os testes são de difícil acesso para a população em geral, talvez tenhamos que optar por uma posição mais prudente.

Por Dr. Renato Matos 07/01/2022 - 11:39 Atualizado em 07/01/2022 - 11:39

Aconteceu.

Você se cuidou durante meses, fez as vacinas recomendadas, evitou aglomerações (ou não?), mas depois de 2 anos com convívio social restrito e uma grande redução do número de casos de Covid, acabou baixando a guarda no final do ano.

Poucos dias depois, começou a sentir uma irritação na garganta, um pouco de tosse, febre baixa, dores musculares.

Segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina, o número de casos novos de Covid aumentou 560% em nosso estado nos últimos 7 dias, e há circulação comunitária da Influenza A H3N2.

Então, o que fazer?

Primeiro, parta do princípio de que seja Covid: em vacinados, os sintomas são geralmente mais leves e a nova variante Ômicron costuma acometer mais as vias aéreas superiores, como um resfriado, ou, como os pacientes costumam dizer, “sinusite”.

Até que a situação fique esclarecida, mantenha-se isolado. Se tiver que sair, use máscara, de preferência as N95, bem ajustadas. 

Procure comprovar se a infecção é pelo SARS-CoV-2, fazendo os testes que buscam o vírus nas vias aéreas – o “exame do cotonete”. O teste mais acessível é o de antígeno.

Apesar de menos sensível do que o RT- PCR – pois pode gerar mais falsos negativos - é um bom exame.

Se você foi exposto a pessoas supostamente infectadas pela Covid-19, a Food and Drug Administration (FDA) recomenda que seja testado de 3 a 5 dias após o contato suspeito.

Se o teste inicial for negativo, mas a suspeita permanecer, repita o teste em torno de 48 horas após o teste inicial. Até lá, mantenha o isolamento.

Após 5 a 7 dias do início dos sintomas, a carga viral costuma cair e o teste de antígeno tem maior possibilidade de resultar num falso negativo. Nesse caso, o RT- PCR passa a ser o indicado. Ou, caso tenha acesso, usá-lo como exame inicial.

Se houver oportunidade, principalmente se você apresentar maiores riscos, seria interessante também testar para Influenza. Os sintomas podem ser semelhantes aos da Covid, mas geralmente iniciam de forma mais abrupta, com febre alta.

Como tratar

Se você não apresenta comorbidades, é jovem, com sintomas leves, não precisa procurar imediatamente um pronto socorro ou uma unidade de saúde.

Fique isolado, controle a temperatura e, se possível, a saturação de oxigênio – com o acessível oxímetro. Use apenas medicação sintomática.

As “Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com Covid-19” - já com aprovação do Conselho Nacional de Saúde e em sintonia com as orientações das maiores sociedades médicas do mundo – contraindicam o uso do chamado kit Covid. 

Havendo comorbidades, o uso de Tamiflu está indicado naqueles pacientes com Influenza – mas seu benefício maior ocorre quando usado nas primeiras 48 horas, após o início dos sintomas.

Se a febre persistir, o estado geral piorar e, principalmente, se houver desconforto respiratório ou queda da saturação, procure imediatamente um serviço de saúde. Sempre que possível converse com um bom médico – ele lhe orientará corretamente.

Por Dr. Renato Matos 29/12/2021 - 08:23 Atualizado em 29/12/2021 - 08:25

A Associação Médica Brasileira, AMB, por meio do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19, o CEM COVID_ AMB, vem a público manifestar-se integralmente a favor da vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. Empenhamos nossa mensagem tranquilizadora às famílias brasileiras, baseada à luz das melhores evidências científicas.

Destacamos que a autorização da imunização na infância segue o mesmo rigor e normas de eficácia e segurança das demais faixas etárias. Atende de forma plena aos critérios exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, para vacinação de todos os públicos. Critérios estes foram igualmente adotados pela European Medicines Agency, EMA, Food and Drug Administration dos Estados Unidos, FDA, pela Divisão de Alimentos e Produtos para a Saúde do Canadá (HPFB), e outros órgãos similares de vários países de todo o mundo.

Lembramos que a liberação por parte da Anvisa, neste e em quaisquer casos/faixas etárias, somente ocorre após rigorosos estudos clínicos, tendo como voluntários milhares de indivíduos, com o objetivo de garantir a segurança e eficácia.

Especificamente quanto ao público infantil, dados de efetividade, em mundo real, vêm dos Estados Unidos, onde mais de 7 milhões de crianças já receberam a vacina da Pfizer, sendo que 2 milhões delas já receberam a segunda dose.

Infelizmente, já registramos cerca de 300 óbitos na faixa etária de 5 e 11 anos desde o início da pandemia: média de 150 ao ano. Novas mortes são absolutamente evitáveis e temos obrigação de trabalhar nesse sentido.

Enfatizamos que crianças podem também ser acometidas pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica associada ao SARS-Cov-2; desenvolver sequelas e Covid longa. Portanto, a vacinação é essencial para reduzir/evitar sofrimento, hospitalizações e mortes.

Além disso, a imunização é indispensável para reduzir a transmissão, em particular por enfrentarmos uma doença com ciclos inesperados e o surgimento de novas variantes. Vemos agora novas ondas na Europa e nos Estados Unidos, atingindo, proporcionalmente, muito mais crianças e adolescentes do que há dois anos. Faz-se necessária a urgente aquisição das doses pediátricas pelo Ministério da Saúde.

Cabe ainda ressaltar que os critérios para introdução de uma vacina num programa público não se resumem ao número de mortes relacionadas à doença contra a qual se deseja uma intervenção. Por exemplo, gripe, diarreia por rotavírus, varicela, caxumba, rubéola, hepatite A, entre outras doenças, faziam muito menos vítimas do que a Covid-19 em pediatria e não hesitamos em recomendar a vacinação contra todas essas doenças.

Vacina-se para prevenir hospitalizações, sequelas, uso de antibióticos, visitas aos serviços de saúde, ocupação de leitos em UTI, entre outros.

Lembramos que a perda de uma vida de uma criança tem um significado muito maior que a de adulto, em cálculos de farmacoeconomia, conceitua-se como anos de vida perdidos. Além de tudo isso, o aspecto da proteção indireta, reduzindo casos secundários é sempre considerado.

Pelo exposto, assim como por questões éticas, epidemiológicas e sanitárias, conclamamos todos os pais e/ou responsáveis a, quando as vacinas estiverem disponíveis, vacinarem seus filhos. Vacina é vida. E vacinar é um ato de amor!

São Paulo, 27 de dezembro de 2021.

Associação Médica Brasileira - AMB
Associação Brasileira de Alergia e Imunologia - ASBAI
Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular - ABHH
Associação Brasileira de Medicina de Emergência - ABRAMEDE
Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação - ABMFR
Associação de Medicina Intensiva Brasileira - AMIB
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO 
Sociedade Brasileira De Clínica Médica - SBCM
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG
Sociedade Brasileira de Infectologia - SBI
Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade – SBMFC
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial – SBPC/ML
Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - SBPT
Sociedade Brasileira de Reumatologia - SBR

Por Dr. Renato Matos 27/12/2021 - 10:18 Atualizado em 27/12/2021 - 10:21

Milhares de crianças na faixa etária dos 5 aos 11 anos já foram vacinadas no mundo, com índices irrisórios de complicações.

Mesmo os casos de pericardite e miocardite, inflamações dos tecidos cardíacos, raros e não fatais em adolescentes, são praticamente inexistentes nesta faixa etária.

Cada morte ou sequelas em crianças torna-se inaceitável quando temos vacinas seguras e eficazes.

Diversas entidades médicas, que inclusive foram ouvidas pela ANVISA, já se posicionaram a favor da vacinação das crianças.

A Sociedade Brasileira de Pediatria é enfática:
"Ao contrário do que afirmou recentemente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o número de hospitalizações e de mortes motivadas pela covid-19 na população pediátrica, de forma geral, incluindo o grupo de crianças de 5-11 anos, não está em patamares aceitáveis"
"Infelizmente, as taxas de mortalidade e de letalidade em crianças no Brasil estão entre as mais altas do mundo."

 A instituição destacou que, desde o início da pandemia, 2.500 pessoas de zero a 19 anos morreram por conta da doença, mais de 300 delas confirmadas no grupo de 5 a 11 anos.

O Brasil figura no segundo lugar do ranking de crianças vítimas da covid no mundo, atrás somente do Peru. A cada 1 milhão de crianças de zero a nove anos existentes no País, 32 perderam a vida para a doença.

Nas últimas semanas, nos EUA, cerca de 800 crianças tem sido admitidas diariamente em hospitais, infectadas pelo SARS-CoV-2 – todas não vacinadas.

Além disso, como salienta Márcio Bittencourt, epidemiologista da USP: “O que mais preocupa nesta discussão é a falta de compreensão que a vacinação contra a COVID-19 nas crianças é também uma estratégia comunitária de redução da circulação viral”.
“Cada um sem vacina é mais um que ajuda o vírus a circular – não é só a criança, mas o convívio delas.”
Sejamos racionais – vacinemos nossos filhos o mais rapidamente possível.

Que tenhamos um saudável 2022.

 

Por Dr. Renato Matos 20/12/2021 - 09:25 Atualizado em 20/12/2021 - 09:25

A gripe é uma doença respiratória que infecta entre 5% e 15% da população mundial, anualmente. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que essas infecções resultem em até 650 mil mortes por ano – o que tivemos de óbitos até agora pela Covid em nosso país.

Existem dezenas de vírus Influenza circulando no mundo, mas a cada temporada alguns se sobressaem.
Com a chegada do SARS-CoV-2, eles ficaram em segundo plano, ocupado pequenos percentuais dos casos que evoluíram para formas graves que exigiram hospitalização ou causaram mortes.

Com a marcada (temporária?) redução dos casos de Covid, o vírus da Influenza voltou a ocupar o palco.

A cepa da vez é a H3N2, subtipo de Influenza A, que foi detectada pela primeira vez em humanos em 1968, causando uma pandemia que provocou mais de um milhão de mortes em todo o mundo.

Foi denominada na época A/Hong Kong/1/1968, conforme a nomenclatura adotada pela OMS: tipo do vírus/ local onde foi inicialmente isolada/ número da cepa/ ano de isolamento.

Desde então, sofreu diversas mutações, levando a OMS a mudar 28 vezes a composição das vacinas para acompanhar sua evolução.

A OMS reúne-se duas vezes por ano para recomendar as cepas que serão incluídas na vacina contra a gripe sazonal.

A vacina contra gripe que recebemos este ano – e está sendo aplicada no hemisfério norte agora – contém a cepa A/Hong Kong/2671/2019.

A que está chegando é diferente – descoberta numa cidade australiana chamada Darwin - por isso A/Darwin/9/2021.

Já está prevista para fazer parte da vacina que será utilizada por aqui no próximo ano.

Já sabemos que a eficácia da vacina da gripe, normalmente moderada, ficará ainda menor contra a variante Darwin.

Mas boa parte dos especialistas pensa que, apesar disso, ainda vale a pena apostar na vacina “velha” – esperando que a chamada imunidade cruzada nos traga alguma proteção, pelo menos contra casos graves e mortes.
 

Por Dr. Renato Matos 13/12/2021 - 08:17 Atualizado em 13/12/2021 - 08:18

Durante esses quase 2 anos da pandemia de Covid, quase não víamos mais casos de gripe “tradicional”.

Agora que os números de SARS-CoV-2 vem caindo, resultado da eficiente vacinação, voltamos a ouvir falar dela.
No Rio de Janeiro, tecnicamente, já existe uma epidemia de Influenza A H3N2.

Segundo Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, da Fiocruz, a tendência é que o vírus se espalhe pelo país – como costuma acontecer com as viroses de transmissão respiratória - num horizonte de semanas.

Chamamos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) aqueles quadros gripais que evoluem com falta de ar e queda dos níveis de oxigênio.

Desde agosto deste ano, o Rio de Janeiro, assim como a maior parte do país, vinha com quedas no número de internações por SRAG.
 
Entre o fim de outubro e o início de dezembro, aquele estado teve um aumento de 71% nos casos da síndrome respiratória grave segundo dados da Fiocruz, já frutos do H3N2.

Os cuidados para evitá-la são exatamente os mesmos que já conhecemos contra a Covid. 

Quanto maior o risco potencial apresentado pelo indivíduo (imunossupressão, gestação, comorbidades), maior deve ser a aderência aos protocolos, máscaras inclusive.
Vale também a vacinação, que deve ser anual.

Aqueles que receberam a vacina da gripe durante a campanha nacional, entre abril e junho, tem sua parcela de proteção, que é moderada – as vacinas contra a Influenza, tradicionalmente, são menos eficazes do que as vacinas contra a Covid.

Nós, médicos, temos que voltar a pensar em gripe, que tem sintomas muito semelhantes aos da Covid, principalmente naqueles vacinados - até para pensar em voltar a usar o Tamiflu quando houver indicação.

A boa notícia é que a vacina da gripe disponibilizada neste ano, tanto em instituições públicas quanto privadas, tem a cepa da Influenza A H3N2 na sua composição.

Quem ainda não recebeu a vacina, deveria procurá-la o mais rapidamente possível. 
Ainda é tempo.

Apesar da menor eficiência, protege contra internações e mortes.

Um bom negócio.

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