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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Aderbal Machado 05/10/2024 - 08:16 Atualizado em 05/10/2024 - 08:17

Cada um é livre para fazer como quer, mas pessoalmente acho ridículo alguém, idoso, querer disfarçar a velhice com mil procedimentos cirúrgicos. Tem gente, e não são poucos, que pioram muito suas rugas naturais e as trocam por rugas falsas. Como se a velhice fosse questão de aparência. Vamos assumir com dignidade esta derradeira fase da vida! Com dignidade e convicção de que é assim mesmo e fim. Fim, MESMO.

Eu não disfarço. Afinal, sei das enormes dificuldades, percalços e pedras que tive de quebrar e os obstáculos que briguei muito para afastar da trajetória. E, de repente, anulo tudo com uma vontade doida, maluca, deletéria, de querer voltar a ser o que já fui?

Pra quê, me digam?

E assim disse e não me arrependo de nada. Nem dos erros, pois eles temperam a vida e nos conduzem à busca dos acertos. Diz um ditado que o rio não enfrenta os obstáculos - ele os contorna e vai em frente. Até outra.

Por Aderbal Machado 07/09/2024 - 16:33

O mês de setembro é pródigo em aniversários na família: mano Aimberê (falecido) em 28 de setembro, Icleia (mana) e Paulinho (filho) em 8 de setembro e Tuca (Maria Augusta) em 7 de setembro. Deveria render uma bela festa, mas juntar todos é impossível pela obviedade da ausência perene e por tantas circunstâncias outras, impeditivas e infelizes (distância, choque de impossibilidades temporais, geográficas e de ocupação - enfim, uma droga). Sempre me questiono sobre as limitações da vida. De repente, parte-se de um tudo para um nada a uma velocidade estonteante. De repente, tão perto e tão longe. De repente, tão possível e tão impossível. Isso deixa a gente meio abilolado. Eu fico. 


Em todo caso, rendo homenagens merecidas a todos. Aimberê foi o mano precioso de tantos momentos só nossos e cujos enredos poderei contar alguns e jamais contarei outros. Icleia foi a mana sempre receptiva, solidária, próxima, caridosa e operosa. O filho Paulinho conviveu comigo uma série de episódios muito doidos e acabamos como hoje - amigos acima de tudo, mais do que o vínculo sanguíneo direto. A Tuca é a sobrinha que todo tio pediu a Deus - sempre forjando suas admirações escancaradas por mim. Como a Icleia, solidária, presente, disposta a fazer o melhor por todos.


E neste momento fico alegre e triste ao mesmo tempo. Não deveria ser assim, mas é. A vida tem suas vicissitudes ingratas.

Por Aderbal Machado 10/08/2024 - 12:55 Atualizado em 10/08/2024 - 12:57

Jamais deixo de homenageá-lo nas datas simbólicas, como o Dia dos Pais, seu aniversário de nascimento e o dia fatídico de sua morte. Tenho as datas, circunstâncias e ocasiões indelevelmente marcadas em mim.

Foi um pai severo e disciplinador sem jamais ter dado um tapa num filho. "Ralhava" com método: apenas pausava a voz e a impunha grave o suficiente, sem gritar, ao admoestar-nos. Ou bastava aquele olhar agudo como uma flecha flamejante e pronto.

Dentre suas outras "especialidades" estava a de ensinar: em dúvidas sobre significados de palavras, por exemplo, embora soubesse, nos encaminhava para o dicionário. Entretanto, o maior ensinamento captado por todos os filhos foi a conduta no seu simbolismo mais puro. Praticava caridade sem peias e sem limites. Exigia sempre verdades, mesmo se doloridas. Até a elegância ou o bem vestir nos ensinou. Dá pra contar nos dedos de uma mão - e sobra dedo - as ocasiões em que o vi ir á rua sem paletó e gravata em temperaturas normais. Apenas nos verões ferozes não o fazia. Mesmo assim, vestindo camisa social impecável. Barba, sempre escanhoada. Sapatos tinindo de brilho - e quem os engraxava era eu mesmo. Todos os dias. 

Seus hábitos alimentares tinham o que hoje se chama dieta ideal: muita fruta, verdura e alimentos sem sal (sempre, desde que eu soube discernir), absolutamente insossos. Todos os dias, consumia cebola a rodo na alimentação e entornava um copo de água com alho esmagado dentro. E nos obrigava a fazer também. Exercia homeopatia, sem ser especialista. Ministrava seus medicamentos em nós e em quem precisasse ou solicitasse. Lembro de nomes como "veratum viridi" e a indefectível noz-moscada. 

Advogado solicitador ou não formado, no entanto era um mestre, consultado até por juízes e promotores, que recorriam à sua formidável biblioteca jurídica cujas estantes cobriam três paredes do seu enorme escritório na nossa inesquecível casa da Praça Hercílio Luz do Araranguá. E ainda guardo seu português impecável nas escritas, sua caligrafia que parecia um tipo gráfico de tão perfeita e sua profecia: "A vida nos cobra caro a ousadia de viver; só com valentia e persistência se vencerá".
Pois, após 64 anos de sua morte, sua presença é ainda marcante. Vejo-o e o sinto todos os dias aqui mesmo, me olhando severo e colocando suas mãos sobre meus ombros, em gesto de proteção.

Por Aderbal Machado 03/08/2024 - 07:10 Atualizado em 03/08/2024 - 07:28

Acometido por uma forte pneumonia desde a sexta-feira, 30 de julho, fui atendido numa emergência, mas só na terça pela manhã porque, supondo apenas uma gripe mais forte, fiquei me automedicando com comprimidos e chás. Até que a coisa agravou e não comia, desânimo, dor forte no peito e nas costas a cada tossida, apelei a um amigo pra me levar. 

Lá houve o diagnóstico quase imediato de uma jovem médica, sob um raio-x ultrarrápido. 

Fiquei por lá umas seis horas, ante uma bateria de outros exames e tomando um enorme soro para reidratar. Estava realmente ruim. A ponto de, durante a aplicação, desmaiar na sala, sozinho, ante o susto da enfermeira quando chegou. Imaginem: eu me assustei. 

Pois conto isso por detalhes: o desmaio - e a burrice brasileira de se automedicar. Poderia ter sido pior, com mais um pouco de demora, se o torniquete não tivesse apertado. 

E ali também provei o valor de amizades profundas de colegas – dois, justamente os meus chefes- , ficaram lá de 9 da manhã até 15 horas, com leves saídas (e numa dessas saídas foi que desmaiei) enquanto durou a aplicação e se aguardava os resultados dos exames, até o encaminhamento final da médica. 

E se mede assim também os valores e as fragilidades da vida. Tá aqui, daqui a pouco não está mais. Sim, exagero. Não foi pra tanto. Porém a questão é o tempo. Mais um pouco ou menos um pouco. 

Em todo caso, agora me recupero e espero estar já bom pro batente na segunda. 

Arrivederci.

Por Aderbal Machado 13/07/2024 - 10:06 Atualizado em 13/07/2024 - 10:07

O ano era 1961. Eu, nomeado para ser servidor da secretaria de Obras de Criciúma, cujo escritório ficava no Edifício Martignago, ao lado da antiga prefeitura, na Praça Nereu Ramos. Gestão do prefeito Nery Rosa. E então resolveram contratar um engenheiro de Tubarão como secretário. Era da Rede Ferroviária e especialista em saneamento. Logo ao chegar, defendeu a canalização do rio Criciúma, na época escancarado por entre as edificações do centro urbano, mas já tomado por alicerces de prédios construídos. O nome do engenheiro: Dagoberto Octávio Gaio, jovem ruivo e cheio de ideias. Lembro dele colocando um mapa da cidade no chão e apontando os detalhes do projeto ao prefeito e ao Aryovaldo, meu irmão e chefe de gabinete de Nery Rosa. Questionado se não era ousadia de mais, sentenciou: "É obra para ser lembrada daqui a 50 anos". Pois não canalizaram e os resultados foram muito ao longo dos tempos. E lá se vão 63 anos.

Dagoberto pode nem mais estar por aqui, mas mostrou - e as ideias permanecem - a visão futura de forma esplendorosa. Depois, outro engenheiro mostrou a visão de como transformar estruturalmente uma cidade e modernizá-la pensando no futuro: Altair Guidi, discípulo de Jaime Lerner.  Por justiça, relembro outros dois: Algemiro Manique Barreto (Avenida Centenário) e Eduardo Pinho Moreira (sistema de transporte coletivo integrado).

Relembrar isto me faz pensar em eleição, escolher pessoas certas para gerir cidades, independente de partidos e ideologias. Aqui e acolá. 

A preocupação é com a cabeça dos eleitores.

Por Aderbal Machado 06/07/2024 - 11:06 Atualizado em 06/07/2024 - 11:08

Numa entrevista na Rádio Câmara de Balneário Camboriú, sem imaginar, retornei ao passado em Criciúma. Falei com duas personagens de estudos afro-brasileiros da UDESC, núcleo de Balneário Camboriú: as professoras Daniele Lima Chaves Lopes e Maria Helena Tomaz. 

Após a entrevista e eu citar o exemplo da convivência e contribuição africana para o progresso de Criciúma, onde permaneci por mais de 20 anos, a entrevistada Maria Helena Tomaz aguardou o final do programa e revelou ser de Criciúma e, surpresa: é sobrinha da saudosa professora Clotildes Martins Lalau (irmã de sua mãe) e, por afinidade, de Vilson Lalau, também professor e tenor do Coral da cidade. Casal que tive a honra de ter como amigo, ambos falecidos.

Clotildes, inclusive, foi professora de Dona Sonia, no Rio Maina. Vejam quanta coisa ligada num só instante feliz. Foi uma alegria imensa, risadas de lembrança e o registro do momento, aqui estampado. As coisas, felizmente, nos trazem emoções muito alegres e gostosas. Adorei.

Por Aderbal Machado 29/06/2024 - 09:24 Atualizado em 29/06/2024 - 10:46

Dois personagens do Araranguá (Romário e Campolino) e um de Criciúma (Valério). 

Quem eram? São do meu tempo de guri pequeno. 

Valério era o entregador de pães da Padaria Brasil. Num balaio forrado com uma toalha, ele corria as ruas de Criciúma, levando os pães aos clientes “cadastrados”. Eles pagavam no final do mês. Impensável hoje, pelas exigências sanitárias. Mais tarde, essas entregas eram também feitas numa carroça, com o leite e até carne. Doidice da época.  

Romário era um caboclo, amicíssimo do meu falecido irmão mais velho Adherbal Telésforo, que morreu afogado no rio Araranguá em 16 de agosto de 1943. Por isso, ele era reconhecido como filho por meu pai, pois vestiu a “coberta d’alma” de Adherbal. O que era? Ele foi escolhido por papai (era um tipo de tradição) para vestir, no velório e sepultamento, uma roupa do falecido e, assim, homenageá-lo. Romário vendia lenha acomodada num carro de bois pelas ruas do Araranguá. E mamãe era cliente dele. Todo sábado, ele aparecia e fornecia lenha pro nosso fogão, única forma de cozinhar  daqueles tempos. 

Campolino era um esmoleiro das ruas do Araranguá. O mais tradicional da época. E naqueles tempos só era permitido pedir esmola aos sábados. Virou costume. Então papai, um benemérito compulsivo, trocava dinheiro, colocava uma mesinha e cadeiras na frente de casa e dava uma moeda ou cédula de dinheiro para cada um. Faziam fila. Mas a doação era limitada a uns 10 ou 20. Quem chegasse primeiro. 

O Campolino foi especial porque, além da esmola, ele sentava e ficava trolando com papai. No meio dos papos, soltavam sonoras gargalhadas. E eu nunca soube do que falavam. Campolino era um cidadão analfabeto e papai emérito advogado. Isso jamais embotou a relação de ambos. Eram amigos e parceiros de contações de histórias. 

Essa realidade, hoje, parece uma utopia. Entretanto, saudosas lembranças marcaram bem aqueles episódios. Saudades eu tenho...

Por Aderbal Machado 22/06/2024 - 08:02

Eu sou, mesmo, um cara muito estranho. Profissional do rádio há mais de 60 anos e até hoje detesto ouvir rádio e assistir televisão. Só quando há algo muito atrativo. Algo que me chame a atenção com muita força. Do contrário, nem chego perto. Minha mulher Sonia é testemunha. Há perguntas: "Como pode? Você é um profissional de rádio!!". Ora, pode podendo, diria um araranguaense da cepa, como eu. 

Eu ouço os meus programas rigorosamente na marra, porque me obrigo a usar fones, ainda mais agora, quando, na Rádio Câmara, trabalhamos em dupla. Outra coisa: detesto minha própria voz quando a ouço. 

Talvez haja resquícios de loucura nisso, sei lá. Já tentei me explicar e quase enlouqueci.

Entretanto não é caso único na família: o mano Aimberê virou bancário (Banco do Brasil) e lá ficou por 25 anos. E detestava a rotina de banco. Só aguentou porque o permitia sobreviver com alguma folga. E acabou se aposentando antes do tempo, pela agonia de sair logo e cair no mundo. Literalmente. Viajou por dezenas de países várias vezes. E entrou na literatura, produzindo livros com essência político-ideológica e reminiscência de sua juventude e infância.

Queria o que eu sempre quis: viver em paz comigo mesmo. Dando e levando uns sopapos da vida. Mas indo adiante. Acabo sendo um fracassado de sucesso. E ferrenhamente ranzinza. Que Deus me proteja e nos guarde a todos.

Por Aderbal Machado 08/06/2024 - 09:06 Atualizado em 08/06/2024 - 09:14

Pois os nomes mais tradicionais de meu tempo de guri, conforme minha lembrança vai mandando: Padaria do Zacaron (Brasil), em Criciúma; posto do Júlio Gaidzinski (Criciúma); Lojas Renner (Criciúma, de Sinval Rosário Bohrer; A Brasileira (loja de Max Finster, com Mário Belolli na gerência, ainda novinho); Sapataria do Zé Kilisque (Araranguá); loja do Elaine Garcia (bicicletas e outras coisas mais, no Araranguá); Armazém de "Secos & Molhados" do Luiz Wendhausen (Araranguá); Posto do André Wendhausen (Araranguá, bem ao lado de nossa casa, na beira do rio); Café Ouro Preto (Criciúma); Sapataria Lurdete (Criciúma); Casa Ouro (Criciúma).

Há mais? Bota mais nisso. Mas fico com a derradeira: Gruta Azul, na subida da João Zanette, quase ao lado do Hotel Brasil, em Criciúma, com um pastel divino e uma batida (depois chamada vitamina) de banana com pitadas de chocolate e a Churrascaria OK, na rua Seis de Janeiro, em Criciúma.

Fico por aqui. Amplexos a todos.

Por Aderbal Machado 01/06/2024 - 09:03 Atualizado em 01/06/2024 - 09:05

Não faço a mínima ideia de como estão cidades onde vivi por tanto tempo. Só sei por ouvir dizer. Perdi a conta de minha ausência, premida por circunstâncias geográficas e, claro, operacionais, digamos assim. Criciúma, Florianópolis e Araranguá tiveram de mim uma intensa convivência e vice-versa. Foram 18 anos (Araranguá), 22 anos (Criciúma) e 10 anos (Florianópolis). Cinquenta anos cravados. Foram muitas emoções, diria Roberto Carlos. E foram. Tropeços, avanços, alegria, tristezas, enfrentamentos, abraços e proximidades inesquecíveis, cada uma coisa no seu patamar próprio - de lamentos ou de júbilos. 

A velocidade urbanística e progressista (sei lá), desfigurou minhas referências telúricas. Muito do que vi e vivi se foi. Talvez, indo lá, nem lembre do original de meu tempo.

Isso não fere as bonomias daqueles tempos. Eram outros tempos, definitivamente. Nada dos avanços tecnológicos, por exemplo, existiam. Vivia-se com o que havia para exercer a profissão e, enfim, para usufruir a vida pública e até em família. 

Muitos amigos meus já foram embora para os eternos campos de caça. Parentes principalmente.

E prefiro nem mexer nessas lembranças. Prefiro mantê-las nos meus relicários sentimentais.

Quero ir lá - e irei - numa vilegiatura quem sabe derradeira. Pois as raízes não se desmancharam.

O tempo é danado.

Buenas.

Por Aderbal Machado 25/05/2024 - 09:43 Atualizado em 25/05/2024 - 09:47

Fomos muito próximos por mais tempo nas relações familiares entre irmãos, da cota masculina. A Icleia, única mana, teve convivência mais assídua, pois até moramos em casas contíguas em Araranguá, mas não havia a mesma preferência por coisas como, por exemplo, debates sobre política, cultura e vida cotidiana. Aimberê foi mestre nisso. Discordávamos muito, sem radicalizações.


Ele tinha um jeito singular: acreditava nas conquistas por valores próprios. Mirava um objetivo e ia. Enquanto corria mundo como funcionário do Banco do Brasil: Araranguá, Criciúma, Brasília, Porto Alegre, Blumenau, estudava. Formou-se em Direito. Não quis advogar e mantinha a inscrição na OAB juntando-se a outros colegas em ações mínimas por ano, uma imposição regulamentar (não sei se isso se  mantém). Terminou a vida jubilado na OAB, pela idade.


Já falei: Aimberê foi ferrenhamente comunista. Desde os 15 ou 16 anos, estudante do primário ou do secundário. Foi líder estudantil. Seus pendores ideológicos se baseavam em fundos estudos. Dirão: como pode? Podia. Ele tinha sólidas bases de discussão. Uma capacidade imensa. Discordei dele a vida inteira neste aspecto e, por isso, evitávamos discutir sobre. Ele lá e eu cá, conservador na medula. Nossa fraternidade nunca se misturou a isso.


Poderia discorrer sobre alguns detalhes outros de nossa convivência, no âmbito da saudade. Fico no mais singular dos seus atributos: ele tinha por mim uma admiração que, mesmo sendo irmão, nem eu entendia. Era profundo nisso e expunha sempre. E vice-versa. 


A sua morte deixou para trás muitas conversas não reveladas, muitos palavrórios ditos nos encontros solos. Coisa que ninguém testemunhou e nem testemunhará. Ficou só pra nós. E irão embora comigo, quando o Aimberê e eu nos encontrarmos novamente e marcarmos uma visita à Boa Vistinha – ainda Araranguá quando nascemos -, só pra matar saudades da terra mãe.

Por Aderbal Machado 11/05/2024 - 10:32 Atualizado em 11/05/2024 - 11:33

Casimiro de Abreu ensejou os versos maravilhosos de “Meus oito anos” (Oh, que saudades que tenho...). Eu vou além: “Meus oitenta anos”. É o ciclo fechado e empacotado neste 10 de maio de 2024. Oitenta? Puta que pariu!! Tá doido, meu!
Mas...
O matutar de minuto em minuto é: como cheguei até aqui? Ih, não convém tentar explicar. Arrumaria serviço pra uns dez anos. Foram fases vividas e sentidas em boa parte desse estado de Santa Catarina. Os primeiros verdores do tempo foram no Araranguá – até 17 anos. Depois, 22 anos em Criciúma. Ali forjei a profissão. Depois, uma universidade de tudo e o aperfeiçoamento, digamos assim, em Florianópolis. Passagens aqui e ali e finalmente ancorado em Balneário Camboriú, meu porto seguro e lindo até hoje: 27 anos. Desde 22 de agosto de 1997. Sob os auspícios generosos de Silvano Silva, na época gerente da Rádio Menina, hoje chefão supremo regional do ND+. Poderoso. E fui recomendado pra cá por outro saudoso amigo: Eno Steiner. Uma coisa gostosamente inesperada.
Esta cidade acolhedora me favoreceu, fazendo-me cidadão pleno dela. Pleno mesmo. Me sinto parte dos seus cenários. 
Pois, porém, contudo, entretanto, todavia – auguro a todos os amigos, cujas homenagens recebi de muitas formas, diretas e indiretas, presenciais ou distantes, uma pilha incontável de gratidões.
O fundamento é a família, meu sustentáculo e meu sustento emocional e cardíaco. Aqui meu coração repousa, meio pifando, sustentado a vitaminas e travas e meias travas medicinais, mas vívido. Enquanto não resolver parar, esse filho de uma égua, vou levando. 
Assim é e assim será. Espero muito mais homenagens nos meus sólidos 160 anos. Não demorará muito. Aguardem.

Por Aderbal Machado 27/04/2024 - 07:08

Semana passada falhei na coluna por uma razão desagradável: faleceu meu sogro.

Falarei dele. Noé Moraes Mariani, gaúcho, torcedor do Grêmio, motorista aposentado das carboníferas Criciúma e Catarinense (onde lidou com Miguel Medeiros Esmeraldino e Fidélis Barato como seus chefes), se foi aos 97 anos, após longo período de enfermidade e reveses provenientes da idade. No entanto, sempre teve vida saudável e tinha mobilidade e capacidade de trabalho. Morou conosco por 11 anos, em Criciúma, Jaraguá do Sul e em Balneário Camboriú. Depois, migrou para a casa da filha Beti, em Florianópolis. Antes disso, residiu sozinho num quartinho modesto no Bairro Monte Alegre, de Camboriú, sob nossos cuidados e por escolha própria.

Finalmente, os filhos Soraya e Carlos o levaram para Curitiba e lá viveu até morrer na sexta, 19 de abril, Dia do Índio. Seus vínculos conosco sempre foram muito fortes, até pela sua condição de homem só, dependente de viver com filhos e familiares.

Ainda recordo, e sempre recordarei, dos seus cuidados com nossa casa, remendando, consertando e criando coisas e cuidando dos nossos bichos – quatro caninos herdados do cunhado Carlinhos e uma cadelinha – Laica – adotada por nós ainda bebê em Jaraguá do Sul. Três morreram idosas – Brisa, Laica e Tara e um, o John Lennon, um fila enorme, teve uma doença grave e faleceu em Jaraguá do Sul. Desconfiamos ter sido por falta de espaço pra exercitar-se, embora Noé passeasse com ele e as demais todos os dias.

Essas coisas são inevitáveis em todas as famílias: entes queridos (animais de estimação inclusive)  que se vão e deixam um vazio. Sempre absorvemos obrigatoriamente, sendo difícil entender, sempre. A vida é tão simples e tão complicada de a gente mentalizar e compreender a natureza fatal: nascer, viver, morrer. Cabe um “né” sem nenhum voluntarismo e até com simplicidade.

Por Aderbal Machado 13/04/2024 - 11:37 Atualizado em 13/04/2024 - 11:38

Saudade das noites de muita conversa e risada pelas esquinas ou nos bares de Criciúma e Araranguá, no fogo da juventude, misturado a tantos amigos mais ou menos velhos. Naquele tempo, o mano Aimberê me levava a tiracolo nessas tertúlias, como a querer me ensinar os meneios da vida. Os jovens daquele tempo fugiam dos hábitos atuais: poucos se embebedavam nessas ocasiões e os papos circulavam entre política, coisas mundanas, a vida dos outros, mulheres. Não necessariamente nesta ordem.
Nessas ocasiões, destacavam-se alguns personagens típicos da época. Difícil nominá-los todos, pela distância esmagadora dos tempos, com meu juízo já afogado em esquecimentos pontuais. 
Houve ocasiões de cruzarmos noites e noites praticando ações práticas, como aos sábados em Criciúma, editando o Jornal de Criciúma, semanário inventado pelo mano Aryovaldo e pelo então prefeito Nery Rosa. O jornal tinha impressão em máquina impressora vertical (página por página), montado com tipos móveis, impressão dupla da capa (porque as manchetes eram coloridas e os textos em preto). Os textos principais eram do Aryovaldo, depois do Nery (um artigo), eu tinha uma coluna (“De tudo um pouco”) e o Aimberê revisava e escrevia uma coluna sobre História, sua predileção. 
Passávamos as noites de sábado, até o raiar do sol de domingo dormindo sobre resmas de papel e acordando como soldados em guarda: de duas em duas horas para revisar páginas. 
Primeiro a gráfica do Dilto Rovaris (cunhado de Aryovaldo), contratada para o serviço, ficava num beco indo da Praça Nereu Ramos até o terreno da oficina da empresa São Cristóvão (rua Floriano Peixoto), atrás do famoso Carlitos Bar. E onde hoje está o Shopping  Dellagiustina. 
Depois, foi para a esquina da Rua Pedro Benedet com a Travessa Engenheiro Boa Nova. Um prédio pequeno pertencente ao dentista Alexandre Herculano de Freitas, falecido anos depois num acidente de trânsito indo para Florianópolis. No mesmo local funcionou durante muito tempo um laboratório de análises clínicas. 
Tempo bom. Hoje jornalistas se baseiam em recursos de informática, com corretores automáticos de texto, recebem informações de mão-beijada e ainda reclamam da falta de detalhes, de fotos, de filmagens. Se mal feitas, então, o mundo cai. Precisariam ter convivido com um cara que nem o Paulo de Lima, que madrugava nos plantões de polícia para pegar as ocorrências e transmiti-las, fresquinhas, às sete da manhã. E saia com um gravador pendurado no ombro à caça de novidades pela cidade – e sempre encontrava um “furo”.
É. Já foi. Já era.

Por Aderbal Machado 03/04/2024 - 07:58 Atualizado em 03/04/2024 - 08:05

Nasci no velho Araranguá, aquele Araranguá com a abrangência gigantesca de praticamente todo o extremo sul do Estado, quando tudo até o limite com o Rio Grande do Sul pertencia a Araranguá, inclusive Criciúma. Tudo. Corria o ano de 1944, num maio poderoso e benfazejo, um dia 10 de um taurino cheio de viço, moreno açodado na sua juventude, crente na sua linhagem, mistura de cabocla bugra de Dona Amarfilina e do imponente Doutor Telésforo. Ela, analfabeta; ele, advogado, poliglota, professor e eminente orador. Isso tudo está em mim, em maior ou menos escala. Tudo se deve, porém, à nata rica do chão natal. Onde aprendi a ser o que sou. 

Pois o Araranguá, neste 3 de abril, completando 144 de emancipação política. Poderia enunciar mil palavras aqui de exaltação à cidade d’hoje. Mil não: milhões. Não posso. Vejo-a, há muitos anos, apenas por imagens esparsas de fotografias mandadas por amigos ou captadas em publicações aqui e ali. Então remonto à cidade do meu tempo, com as imagens ainda guardadas nas retinas como se fossem muito atuais. E não os farei perder tempo com minhas peripécias de infância e juventude por lá. São preciosas para mim, mas desimportantes para outros. 

As imagens são de José Genaro Salvador, o mitológico fotógrafo da cidade, captadas ao longo do tempo por favores de conhecidos ou por estarem em meus alfarrábios de saudade. 

Parabéns, minha terra natal. Estamos aqui. Um dia esmagarei esta saudade danada indo até aí. Espero seja breve. Muito breve. Então, até lá.

Um abraço do Nego Deba. 

E, de inesquecível em inesquecível, uso e abuso de trecho poético e musical:

Todo mundo canta sua terra
Eu também vou cantar a minha
Modéstia à parte, seu moço
Minha terra é uma belezinha
...
Minha terra tem beleza
Que em versos não sei dizer
Mesmo porque não tem graça
Só se vendo pode crer
(Versos da música “Todos cantam sua terra”, interpretada por Alcione)
...

(AS IMAGENS SÃO DE 1956, QUANDO MEUS DOZE ANOS FLORESCIAM AO REDOR DA PRAÇA HERCÍLIO LUZ)

  • A foto com legendas afixadas é do ponto onde moramos durante anos e anos;
  • A outra foto da cidade é exatamente a visão do ponto em que morávamos, na direção leste;
  • A terceira foto é do coreto da praça, em cujo térreo funcionava a Biblioteca Municipal, criminosamente demolido para dar lugar a nada.
Por Aderbal Machado 30/03/2024 - 08:52 Atualizado em 30/03/2024 - 09:57

O desejo meu é homenagear os irmãos jornalistas – César, Aryovaldo, Agilmar -, precursores da saga familiar inspirados nos ditames éticos, culturais e profissionais do Velho Telésforo, como o chamavam todos os irmãos, incluindo-se Aimberê e Icleia, também dois jornalistas e radialistas eventuais em vários momentos, sem profissionalizar-se ou consagrar-se à carreira. Eu, nem tanto. Ao menos enquanto ele viveu. Nunca me referi como Velho Telésforo, apenas pai. Afinal, ele se foi quando completei 15 anos (1959). 

Em tantos instantes, mentalizo o estilo de cada um, César (Attahualpa César Machado), Aryovaldo (Aryovaldo Huascar Machado) e Agilmar Machado (e somos ambos, ele e eu, donos de apenas nome e sobrenome, sem enfeites nos meios. Coincidência cabalística: 7 letras (Aderbal e Agilmar) e 7 letras (Machado).

Pois César tinha seu estilo fino, castiço, sem meneios maiores, objetivo, direto. Polemista, chegava forte na primeira investida. Metralhava de uma só vez. Ou demolia num tiro só ou encerrava a polêmica ali. 

Já Aryovaldo, caprichoso também com o português, tinha uma habilidade única: caprichava em terminologias poéticas e citações históricas, ávido leitor vívido que foi. Cáustico ao extremo. Em suas polêmicas profissionais via rádio, jornal ou televisão, curtia o tempo, ia cercando o opositor, jogando-o para campo aberto e então aplicava o torniquete final – guardava as balas de prata para os derradeiros ataques ou contra-ataques.

O Agilmar seguia uma linha diferenciada. Tinha seus arroubos de chegar forte também pelos flancos do “adversário”, fustigando devagar e forte. Culminava com ironias e cozinhava em banho lento, o banho-maria, até ferver. E então batia pra derrubar.

Por mim, nem cheguei a aproximar de todos, porém reuni um pouco do estilo de cada um. Mais do Aryovaldo, meu padrinho como profissional. Foi ele quem me conduziu ao rádio e ao jornal. E, mais adiante, eu o conduzi para a televisão. Com ele aprendi referenciais interessantes de redação e de locução. Na televisão, sem falsa modéstia, o superei, cuidando para manter a devida humildade. Afinal, lidava com meu mestre. 

Conto essa história familiar circunstanciando um jeito de agraciar lições a quem interessar. É importante absorver aprendizados práticos. Mesmo sem desejar, mesmo sem programar. Eu soube disso muito depois. Foi na base do piloto automático. Talvez porque isso já estivesse em mim, por atavismo. Depois de apanhar um monte.

Um detalhe: o único a permanecer na atividade fui eu. E aqui estou ainda, me esfregando nos 80 anos de idade e beirando os 60 anos de exercício profissional, como aprendiz ou como “carteira assinada” e devidos registros profissionais como radialista e jornalista. 

E olha rapaziada da profissão: esta merda passa rápido demais, sô!

Termino citando Quintana, traduzindo isto tudo, muito apropriadamente:

“A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”

Aprendam a lição. Ou se arrependerão muito depois. E tarde demais.

Por Aderbal Machado 23/03/2024 - 07:12 Atualizado em 23/03/2024 - 07:14

Uma pena a tentativa – ou fato irreversível – de alterar a aparência da Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no meu Araranguá. A intenção e suas explicações dos inventores dessa excrescência histórico-cultural beiram o ridículo.
Imagino aqui os países europeus como Itália, Portugal ou França alterarem seus símbolos históricos – ou o Vaticano, vá lá – à guisa de modernizá-los. Meter uma tinta nova e diferente e uma alegoria fantasiosa na Torre de Belém. Pendurar umas limalhas na Torre Eiffel. Colocar imagens simbólicas modernas no Arco do Triunfo. Ou remontar com concreto as arenas milenares de Roma. Lá não se mexe nesses símbolos. É uma heresia.
O ruim foi lá atrás, em 1957, quando, ao inaugurar a “nova” matriz, derrubaram a anterior à sua frente. Ruim foi lá atrás, quando derrubaram, simples e criminosamente, o coreto da Praça Hercílio Luz. Outra época - é verdade –; as compreensões disso ainda eram superficiais ou nem tanto graves como hoje. Mesmo assim, o exemplo de países europeus (ou Peru, ou Bolívia) vem de longe, de séculos, não de ontem ou d’hoje.
Mas o pior de tudo é lidar com a indiferença, o quase sarcasmo de quem insiste nisso, como se fossem os donos da arbitrariedade e a usarão como bem querem ou entendem, sem interessar o sentimento geral.
A Matriz atual do Araranguá eu vi surgir. Conheci a anterior, por dentro e por fora. Mamãe me levou em ambas dezenas de vezes, eu guri rebelde e carregado quase pelo pescoço pra ir, mas ia. Não ousava contrariar mamãe.
Querer enfiar ali uma alteração visual ou estrutural é desalentador. Um tabefe na cara.
Estão de brincadeira. Letal, vergonhosa, fedorenta, despudorada.
"Desculpem o mau jeito, mas, apesar de longe fisicamente, o Araranguá está no meu coração. Fugi das minhas elucubrações sentimentais e cotidianas e cheguei a este desabafo. Há coisas assim e não consegui calar".

Por Aderbal Machado 16/03/2024 - 08:00

O tema Gervásio

Professor do Colégio Marista de Criciúma na década de 70/80 e depois de um curso particular intensivo na cidade e mais tarde professor em Jaraguá do Sul, Gervásio Oesckler me ensinou uma regrinha simples jamais esquecida e, também, serve até hoje pra demonstrar as simplicidades óbvias. Basta captá-las por aí.

Na aula de geografia, perguntou qual a ordem dos planetas a partir do Sol. Hoje o Google resolveria, mas naqueles tempos ou sabia ou ficava a ver navios. A gente até dizia, mas precisava pensar um bocado, rememorando a ordem planetária.
Então ele proclamou: “me ve te ma ju sa u ne plu” ((Mercúrio, Venus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão). O Plutão tá meio falido, mas continua assim.

O tema código

Todos os artigos vendidos em lojas comerciais tinham na época o preço inscrito e um código de letras logo abaixo. Achava aquilo esquisito até descobrir a razão: o preço era o de venda e o código de letras o de custo. Como? As letras eram dez letras diferentes entre si, de modo ser a primeira representativa do 1 e a última representativa do zero. Assim, o comerciante sabia dos valores entre elas e, ao ser consultado sobre eventuais descontos ao freguês, fazia a leitura e determinava a possibilidade ou não e de quanto poderia ser.

Esse código alfa poderia ser uma sequência aleatória fácil de captar ou uma palavra. 
Duas eu cheguei a conhecer, por vias transversas. O da famosa Casa Ouro, do Esperandino Damiani e da dona Loli: era “depurativo”. O das Casas Pernambucanas era bem óbvio: “Pernambuco”. Dez letras diferentes entre si. 
Cheguei a ir várias vezes lá só pra conferir os preços e os lucros deles.  E eles jamais sonharam ou souberam de meu segredo.
Em compensação, este meu conhecimento jamais serviu pra titica nenhuma. Uma inutilidade completa.

Por Aderbal Machado 02/03/2024 - 10:28 Atualizado em 03/03/2024 - 20:34

O confronto diário com as realidades criam choques e surpresas. Com vividos quase 80 anos, a impressão de ainda não ter visto tudo se revigora a cada momento. Encontro por aqui pessoas as quais conheci ao longo dos anos passados. Até um ex-soldado do Exército cujo serviço se deu no mesmo quartel, o 14º Batalhão de Caçadores de Florianópolis, nos idos de 1963-1964. E a cada encontro, desfilam diante dos meus olhos episódios saudosos. No Exército, na flor dos meus 19 anos, integrei as mobilizações do movimento militar de 1964, correndo o estado sobre carroçarias de caminhões basculantes do Estado, chamados “tombadeiras”, convenientemente forrados com colchões de palha pra gente se confortar um bocadinho. E assim estivemos guarnecendo ou cumprindo missões em Laguna, Imbituba, Criciúma, Tubarão e na região Serrana. Nada de mais extraordinário houve entre nós ou conosco, mas prevaleceu a vivência das carências de locais para descansar, por exemplo. A alimentação convencional do Exército deu lugar a ofertas espontâneas da população, através de restaurantes locais e mesmo famílias. Assim fortalecemos laços com a comunidade local, cujo respeito por nosso trabalho sempre se mostrou evidente e forte.
Muitas filosofias podem ser tiradas daí. A mais forte é a capacidade de resistência até inimaginada por nós mesmos. O jeito de se adaptar a situações complicadas, muitas vezes, até com ares de graça, pois a nós nos parecia uma diversão, por mais contraditório que pareça.
Outro fator era a convicção do poder sentido, quando se saía pelas ruas reverenciados por todos. Dava uma sensação de segurança o fato de se andar paramentado com armamento, cintos de guarnição e a pose cívica. 
O Exército foi uma escola e tanto, com reflexos até hoje, 60 anos depois. Por isso, jamais alguém engraxou meus sapatos, por exemplo. Nunca me barbeio em barbearias. Minha roupa, por uma quase gentileza, minha esposa Sonia passa a ferro. Mas se for preciso, eu o faço sem dificuldade ou queixa. Porque no Exército isso era normal. A barba era diária e não barbear-se rendia até punição. Roupa desabotoada também. Coturnos sujos, nem pensar. 
O principal reflexo do Exército, contudo, foi a disciplina. Nos compromissos, nas atividades profissionais, nos horários e nos tempos das coisas (isto também se reforçou com a atividade de rádio e televisão).
Afinal, fui um soldado “caxias” (de alta disciplina e cumpridor dos regulamentos), com nenhuma punição durante a incorporação e até uma Menção Honrosa na baixa do serviço. 
Saí cabo apto a promoção a terceiro sargento, se convocado após sair (durante o interregno de cinco anos). 
Companhia, sentido! Descansar!

Por Aderbal Machado 24/02/2024 - 10:05 Atualizado em 24/02/2024 - 10:07

Uma breve lembrança.

Os “remédios” e tratamentos de antigamente nos fazem pensar. Mamãe usava “escalda pés” contra uma porção de coisas: bexiga presa, febre, dor nas costas, dor de cabeça, gripe. Mais ainda, aplicava um emplastro carregado de produtos pra mim ainda desconhecidos, aquecidos (bem aquecidos) no fogo, enfiados num pedaço de pano e colocado sobre as dores, como compressa. E passava. Havia unguentos para curar feridas, feitos de plantas do quintal.

Dona Mariquinha, esposa de Otávio Ramiro, sogra de meu irmão mais velho, benzia contra cobreiro. O cobreiro seria decorrente do contato de aranhas com a pena da gente, diziam. Ou da roupa por onde uma aranha passou. Experimentava de tudo: pomadas, álcool, vinagre e sei mais. Agente ia na Dona Mariquinha e ela, a seco, mandava baixar a calça e ia no ponto, geralmente nas partes íntimas. Com um pedaço de um mato qualquer, sei lá qual, ficava balançando aquilo e cochichando uma reza esquisita. Depois, mandava embora, sem cobrar nada. Era “missão”. No outro dia, o cobreiro estava seco. Comprovem os mais antigos, também viventes desse tipo de “medicina”.

Papai nos fez ingerir um copo de água com alho curtido, ali esmagado pela manhã e durável até a noite. Todos os dias. Todos. Reforçava as defesas do organismo. Por isso, até hoje, gripe custa muito a me pegar. Nem as comuns e nem as famosas.

Há, por certo, muitos depoimentos por aí sobre essas experiências dos tempos antigos. Muitas experiências. Tem quem saiba mais do que eu, certamente.

Digo isso tudo pra representar os melodramas atuais sobre tratamentos disso ou daquilo.

Me despeço aqui. Vou ali tomar minha água tônica com quinino. E passar pomada Minâncora numa pereba aqui.

Tchau.

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