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Devaneios vernaculares

Por Henrique Packter 31/05/2021 - 09:49 Atualizado em 31/05/2021 - 09:51

Remexendo meu baú encontro muitas vezes algumas esquecidas pérolas. Algumas nem título tem, a maioria não tem autor. Esta aqui é uma delas, mas desconfio, pelo estilo, que se trate de coisa do falecido médico, professor, jornalista, hipnotizador e eutanásico escritor, OSMARD DE ANDRADE FARIA.        

Como certos músicos amadores autodidatas, escrevo de ouvido.

Tais devaneios me assombram após ter lido no jornal Estado de S. Paulo, artigo assinado por economista aborígene sobre o mau uso da língua-pátria por brasileiros. Como vocês veem, até economista entende mais de gramática do que nós. Queixava-se ele  -  e engrosso o coro  -  que nunca antes neste país se americanizou de tal forma o idioma pátrio. Citava a estupefação de amigo seu, norte americano, fluente em português pois nos visita com certa assiduidade, que trocando pernas pelas ruas da paulicéia, sentia-se como se estivesse em Nova York. Dizia: aqui, já não mais se estaciona, faz-se parking, liquidações são sales, descontos nos preços, offs, pizzarias fazem delivery, edifícios agora são buildings, Towers and Centers, coisas que tais. O que, porém, mais chamou sua atenção foi um novo edifício paulista punido como Augusta High Living, já que esse termo, high, nos EUA é usado para referir-se a alguém drogado ou embriagado.

Lembrei-me do que vejo acontecer no meu entorno em Floripa. Além de macaquearem a língua alheia, ainda a usam com erros crassos. Próximo ao meu banco há um restaurante chamado  Squina´s que não pertence a nenhum Sr. Esquina. Do outro lado da rua, um salão de beleza oferece up-to-date hair designs. E, mais adiante, uma casa vende carimbos com o gracioso título Carimbo´s.  O restaurante na Lagoa da Conceição era gloriosamente conhecido como o Lagoa´s.

Ainda não é o pior. Suponho, aquelas denominações partiram de pessoas consideradas desprovidas de melhores  atributos culturais. Temos na cidade um moderno hospital, bilingue de nascimento e batizado de Baía Sul Medical Center. Por que não Centro Médico Baía Sul? Ou então, logo de uma vez, South Bay Medical Center? Ocorre o mesmo com seu irmão gêmeo de besteirol, o Celso Ramos Medical Center.

Reclama ainda o ecônomo-linguista supra epigrafado do desordenado uso de metáforas, ditados e parâmetros vulgares nos artigos de imprensa. Como: trocar seis por meia-dúzia, misturar alhos com bugalhos (que seriam bugalhos?), heróicos soldados do fogo, no frigir dos ovos, o que cair na rede é peixe, calcanhar de Aquiles, adentrar o gramado, chover a cântaros (que seriam cântaros?), calor abrasador, forte como um touro, cautela e caldo de galinha, antes tarde do que nunca, enquanto há vida há esperança, quem espera sempre alcança e outros que tantos.

E após algumas outras oportunas considerações, o articulista cita alguns conselhos do escritor George Orwell  para o bem escrever, não só da dele mas também da nossa culta e bela flor amorosa de três raças tristes, o castigado português. Eis oito dessas proveitosas lições:

         1. Nunca use uma metáfora, símile ou outra figura de linguagem que está acostumado a ver na imprensa;

         2. Nunca use uma palavra longa quando uma curta dará conta do recado. (Escorregão do autor na regra anterior usando metáfora vulgar).

         3. Se é possível cortar uma palavra, corte-a!

         4. Nunca use a voz passiva quando pode usar a ativa;

         5. Nunca use uma expressão estrangeira, uma palavra científica ou um jargão se puder pensar num equivalente do português usual;

         6. Infrinja qualquer uma destas regras antes de dizer alguma coisa totalmente bárbara;

         7. Evite frases longas, dessas que dobram a esquina;

         8. Evite a prolixidade e as explicações logorreicas usadas para mostrar falsa erudição;

Finaliza transcrevendo ensinamento colhido em Jacques Barzun: escrever é reescrever e cortar palavras desnecessárias, sobretudo pletóricos adjetivos.

Diante do exposto  e absorvidos os ensinamentos, saio do  consultório para pagar uma conta pendurada quando encontro conhecido colunista citadino, cercado por plateia de seguidores. Justo quando anunciava: brothers, vou a Floripa para drinques e comemorar o weekend dilatado no The Sins, Blues Velvet, Scuna Bar, Fields Floripa ou Jivago Lounge. Que tal?

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