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Um naufrágio no Morro dos Conventos, anos 60

Por Henrique Packter 31/03/2021 - 07:10 Atualizado em 31/03/2021 - 07:14

Quantos lembrarão do advogado HELMUT ANTON SCHAARSMIDT, nome de rua na Próspera, que brilhou nas lides jurídicas em Criciúma nos anos 60, 70 e 80? Atuou na área trabalhista, não deixando de brilhar também no crime. Era natural de Guaíba, na grande POA/RS. Aqui chegando, logo passa a advogar para o grupo Diomício Freitas, chegando a ocupar uma diretoria na CECRISA (Cerâmica Criciúma S.A.). Depois, trabalhou no TRT em Florianópolis, cidade onde faleceu prematuramente, últimos anos do século 20.

Pouco antes de vir a falecer, esteve em Criciúma para ser homenageado pela Fundação Cultural (FCC), por mim presidida à época. Trouxe trabalhos artísticos que executara em parceria com artista criciumense: versos seus emoldurados por belas paisagens. Foi uma noite nostálgica, casarão da rua Pedro Benedet lotado e havia um brilho particular naquela noite destinada a confidências. Helmut mostrou mágoa ao relatar que certos trabalhos seus em prol da comunidade haviam sido ignorados pelas autoridades. Estava doente, sabia que sua morte não tardaria e, diante da morte quase todos falamos a verdade. O Helmut brincalhão que conhecêramos não mais existia, víamos um homem amargo e até certo ponto desiludido. Não era segredo para ninguém que ele muito lutara e apoiara a esposa, dona Marlene, que sofreu por anos de moléstia que a impedia de apanhar o sol do Morro dos Conventos em Araranguá.

Torcedor do Grêmio Portoalegrense ficou famoso pelo vigor que emprestava às suas atuações nas mesmas areias araranguaienses, em ensolaradas tardes futebolísticas de sábado. Ganhou mesmo, pelas suas atuações, o apelido de Baidek, truculento zagueiro do tricolor gaúcho das antigas. Tempo houve em que o balneário Morro dos Conventos, era o favorito das famílias criciumenses. Fins dos anos 60 tinham moradias de veraneio naquele balneário David Luis Boianowski, Adhemar e Beverly Godoy Costa, Boris Pakter, Henrique Packter, Jacy Eustachio Fretta, Dino Gorini, Helmut Schaarsmidt, a família de Vánio Sampaio da Farmácia Sampaio, Giácomo João Puggina - e outros mais.

O CACHORRO DE HELMUT

Em Criciúma sempre morei na rua Lauro Müller e Helmut na rua José Tarquínio Balsini, a rua do Criciúma Clube. Vizinhávamos, portanto. Tinha ele um cão de guarda portentoso, acho que um Dog Alemão que frequentemente fugia da coleira e punha o bairro em polvorosa. Era dono de porte soberbo, cabeça sempre  elevada, rabo empinado, sem aqueles balanços amistosos. Ladrava alto e forte, assustando a pacífica gente do bairro. Eu também tinha um Dog alemão, porém dócil, amistoso, apesar do porte, da aparência. Nossos cães tinham um veterinário comum, AMADEU LUZ, eterno candidato pelo PCB a vereador, deputado, senador ou governador. Que eu saiba, nunca se elegeu, mas por conta de sua filiação partidária esteve preso e chegou a ser torturado em Curitiba. Era funcionário do cartório ALDO LUZ, de seu irmão.  Na verdade, Amadeu era  um veterinário não ex-offício. Tinha muitos cães num canil caseiro e, graças a isso adquiriu grande conhecimento no trato de doenças  de cães sendo uma autoridade inquestionável e respeitada na área. Certo dia,  Amadeu saia de minha casa após atender meu cão, o Blue. Com a mão ainda no portão semi-aberto chamou o cão do Helmut que passava pela calçada oposta com pose de rei da Inglaterra. Amadeu chamou-o pelo nome com seu vozeirão  de grande fumante. O cachorro nem olhou: colocando o rabo entre as pernas, cabeça baixa, escafedeu-se velozmente.

HELMUT, JUIZ CLASSISTA

Em 20.12.1989 foram nomeados juízes classistas temporários, Helmut Anton Schaarschmidt (representante dos empregadores), e Amauri Izaías Lúcio, representante dos empregados, e seus respectivos suplentes, Telmo Joaquim Nunes e João Carlos Nunes Mota, que tomaram posse em Sessão Solene no dia 18.1.1990. O final de 1989 assinala o fim das atividades em Criciúma de Helmut.

O COMODORO HELMUT SCHAARSMIDT

Helmut decide-se por adquirir uma vistosa lancha e pilotá-la em alto mar. Para isso precisava fazer curso na Capitania dos Portos de Laguna, do Ministério da Marinha. A lancha já fora adquirida e após curto espaço de tempo Helmut anuncia a conclusão do curso, detendo, portanto, plena capacitação para pilotar a embarcação.

Era novamente verão e um dos sábados da temporada foi destinado à chegada de Helmut, pilotando sua lancha, A Rainha dos Mares, vinda da Laguna. A praia estava lotada de gente. Lá pelo farol, verdadeira multidão, munida de fogos de artifício,  aguardava o momento da grande chegada na foz do rio Araranguá. Grande alarido se ouviu quando foi anunciado, pelos espectadores munidos de binóculos  que a lancha fora avistada. O céu claro e sem nuvens daquele belo dia de verão enegreceu-se com o fumo dos rojões, piorado por barulho ensurdecedor. O barco apontou na curva do rio.  De repente, ó surpresa! Agora, um silêncio perturbador e afinal, gritos por toda a parte. Era a embarcação  que adernava perigosamente, fazendo água e depois de poucos instantes, afundava! A tripulação chegou à praia a nado. Helmut nunca mais tocou no assunto. Todos nós outros, prudentemente, também esquecemos o naufrágio após refletir sobre as qualidades do zagueirão Helmut que dividia todas nas peladas. Melhor deixar as coisas assim mesmo.

Seu Otavinho, morador nas proximidades e que cuidava de nossas propriedades no balneário e que muito ouvia e muito repetia os ditos de DIOMÍCIO FREITAS, proprietário do único hotel da praia e de quase todos os seus terrenos, contava o acontecido para quem quisesse ouvir, acrescentando:

- Não há o que não haja! 

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