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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 05/03/2021 - 07:58 Atualizado em 05/03/2021 - 07:59

Foi em 17.6.1959, no estádio Santiago Bernabeu, Madrid, diante de 70.000 pessoas, jogo amistoso arbitrado pelo holandes Leo Horn. No Santos jogava Pelé,  jovem campeão do mundo (1958) aos 19 anos incompletos e o time espanhol, verdadeira legião estrangeira, tinha o veterano craque argentino Alfredo Di Stefano, 32 anos, em final de carreira.

1959 foi o ano  de minha formatura na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Graduado em dezembro, aproveitei as férias de julho para vir a Criciúma e conhecer a cidade onde iria trabalhar e onde resido até os dias de hoje. No dia 31.7.1959, no consultório do Dr. David Raskin, Hospital São José de Criciúma (ele atualmente reside em POA), atendi ao Dr. Sebastião Toledo dos Santos, nascido em 8.9.1932, Paraisópolis, MG. Engenheiro civil, foi sócio em Criciúma dos empresários João Zanette e Jorge Cechinel. Faleceu súbita e precocemente no aeroporto de Congonhas, SP, aguardando voo para Criciúma, aos 49 anos de idade em 1981.

Em 15.12.1959 houve concorrida reunião em Criciúma, na S.R. Mampituba, centro da cidade, convocada pela FIESC, então presidida pelo Dr. Celso Ramos, futuro governador de SC. Sebastião Toledo dos Santos era presidente da Comissão Permanente do Sindicato dos Mineradores e como tal participou da reunião.

Depois, atendi-o em 27.4.1961, no mesmo consultório, quando David Raskin já transferira residência para POA.

Do primeiro atendimento guardo na memória história que Toledo me contou. Ele, mais um grupo  de mineradores da nossa bacia carbonífera, buscavam na Europa adquirir navios para transportar nosso carvão mineral. Seus colegas de viagem ficaram sabendo do jogo Real Madrid x Santos e conseguiram ingressos para todos com imensa dificuldade. Sebastião Toledo dos Santos foi praticamente coagido a ir ao estádio: não gostava e nem sequer havia presenciado jogo de futebol em toda sua vida. Mal se acomodara no assento, entra o Santos em campo. Aplausos aqui e ali. Toledo quer saber:

- Quem é o Pelé?

Alguém informa:

- Camisa branca, número 10 às costas.

Toledo dá-se conta que não via nem o número dez pintado na camisa de Pelé nem o número de qualquer outro jogador. Mal retorna da viagem de negócios procura o consultório de Raskin para submeter-se a exame de olhos. 

Pré-jogo

O amistoso ocorreu duas semanas depois do Real Madrid conquistar seu quarto título europeu. O Santos, campeão paulista, excursionava pela Europa tendo vencido 11 de 13 jogos disputados. Nas últimas três partidas, a equipe paulista vencera o Hamburgo, campeão alemão daquele ano por 6x0, o Hanover por 7 a 1 e o Twente por 5 a 0. Arrasador, o Santos acumulava escore agregado de 18 a 1 nos últimos 3 jogos.

A partida com o Real Madrid homenageava Miguel Muñoz, que encerrava sua carreira. A crônica espanhola via a peleja como confronto entre Alfredo Di Stéfano (32 anos), considerado o maior jogador do futebol europeu e o jovem Pelé (18 anos), campeão do mundo na Copa do Mundo FIFA de 1958 na Suécia.

A delegação santista hospedada no antigo hotel Alexandra chegava cercada de expectativas na capital espanhola. O técnico Lula advertiu contra o clima de já ganhou. “Recomendou que tivéssemos cuidado com o ataque do Real Madrid, principalmente com Alfredo Di Stéfano. O time deles era quase perfeito”, relembra Pelé. O Jornal dos Sports, dia anterior ao jogo, chamou-o de “autêntica final de campeonato mundial de clubes".

O JOGO

Logo aos 10 minutos, Pelé acerta forte chute de fora da área, abrindo o marcador. Porém, em 20 minutos o Santos sofreu três gols do atacante Enrique Mateos aproveitando três notáveis assistências de Alfredo Di Stéfano. No segundo tempo, reação brasileira. Pepe marcou, em violenta cobrança de pênalti, sofrido por Pelé. Os donos da casa ampliaram com Ferenc Puskás: mergulho de peixinho testando a bola, dentro da área. Major Puskas, do exército magiar, foi estrela maior da grande seleção húngara de 1954, vice-campeã mundial na Suiça. Mas, Pelé chutou forte, o goleiro espalmou e o rebote ficou com Coutinho, 16 anos recém-completados, que empurrou para as redes: 4x3! Aos 38 minutos, Di Stéfano realiza sua última e quarta assistência. Avança pelo meio e lança passe milimétrico para Gento fechar o placar: 5x3!

PÓS-JOGO

O argentino Luis Carniglia, treinador do Real Madrid, elogiou Pelé: "mostrou grande facilidade de chutar, muita malícia, malandragem. Carrega a bola muito bem e infiltra perigosamente. Mas foi muito bem marcado”.  Presidente do clube merengue, Santiago Bernabéu passou pelo hotel Alexandra para visitar a delegação santista; embora encantado com o futebol de Pelé, concluiu que ele ainda era muito jovem! Já para o Marca, o jogo mostrou que Alfredo Di Stéfano era o melhor jogador do mundo. Descreveu o "grande trabalho de Alfredo Di Stéfano, um maestro, capaz de literalmente destruir um rival lento e pretensioso.” Conclusão espanhola: o Santos tinha quatro grandes atacantes (Pepe, Pelé, Pagão e Coutinho), mas uma defesa lenta e fraca. E Pelé era grande promessa, embora muito individualista. Diferente de Alfredo Di Stéfano: “no Santos, o time joga para Pelé. No Madrid, Alfredo Di Stéfano joga para o time”, analisou Agustín Gaínza.

Por Henrique Packter 02/03/2021 - 11:05 Atualizado em 02/03/2021 - 11:05

Vai fazer 3 anos em março, sessão do STF foi suspensa, duas horas depois de iniciada,  após entrevero entre dois ministros, Luiz Roberto Barroso e Gilmar Mendes, por troca de acusações.

Barroso reagiu às críticas proferidas por Gilmar Mendes por decisões do STF. Principalmente àquela que proibiu empresas de doarem para campanhas eleitorais. Na sessão, a Corte discutia a proibição de doações ocultas. Gilmar Mendes fez referência a decisão de 2016, ocasião em que Primeira Turma revogou a prisão preventiva de cinco médicos e funcionários de uma clínica de aborto. O voto que levou à decisão foi de Barroso que se insurgiu contra tal pronunciamento:

"Me deixa de fora desse seu mau sentimento, você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. (Barroso reagia a críticas de Gilmar Mendes por decisões do STF). Após a fala de Barroso, a presidente (presidenta?) do STF, Carmen Lúcia, anunciou que suspenderia a sessão, mas Gilmar Mendes interferiu: “- Presidente, eu estou com a palavra e continuo com a palavra. (...) Presidente, vou recomendar ao ministro Barroso que feche seu escritório de advocacia”, disse Gilmar Mendes.  

-Isso não tem nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo você vir aqui fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Você não consegue articular um argumento, fica procurando, já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para você é ofender as pessoas, não tem nenhuma idéia, nenhuma, nenhuma, só ofende as pessoas", disse Barroso na sessão transmitida pela TV Justiça. Em seguida, a sessão foi suspensa por Carmen Lúcia.  

Depois, o ministro Luís Roberto Barroso enviou carta à presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, afirmando que se desligara de seu escritório de advocacia em 2013, antes de sua posse no Supremo.

Segundo ele, “houve informação falsa feita hoje em plenário”. “Jamais atuei em processo por ele (escritório) patrocinado ou por qualquer de seus sócios”, disse o ministro.

EPISÓDIOS ANTERIORES

Não é a primeira vez que Barroso e Mendes se estranham em sessão do plenário do STF.

Já haviam se enfrentado depois que Gilmar Mendes fez críticas à forma como o RJ – estado de origem de Barroso e em grave crise fiscal – vinha utilizando dinheiro de terceiros depositados na Justiça para pagar dívidas que tinha com pessoas e empresas. Divergiram também durante debate sobre o trabalho do Ministério Público e do Judiciário no combate à corrupção, especialmente no âmbito da Operação Lava Jato.

Também trocaram ofensas por meio do blog de Andreia Sadi. Gilmar Mendes disse que Barroso fala pelos cotovelos e teria de suspender a própria língua. Barroso respondeu por meio de nota, afirmando, sem citar o nome de Gilmar Mendes: "Não frequento palácios, não troco mensagens amistosas com réus e não vivo para ofender as pessoas".

Esse ambiente no Supremo, pelo menos entre dois de seus membros, trocando frequentemente acusações sérias, revela que a corrupção ronda o STF. (Gregório: vê se minhas críticas são muito severas e caso o sejam, para evitar mais uma prisão desagradável, a minha, estás autorizado a fazer os necessários cortes neste artigo)...

STF, VÍTIMA E JUIZ, SIMULTANEAMENTE, SEGUNDO J.R.GUZZO

Vai daí, para mostrar que só ministro pode falar mal de ministro e a plebe rude deve limitar-se a aplaudir a brava gente alçada aos pináculos da justiça nacional e que faz o que bem entende, J.R. GUZZO, no INFORME ESPECIAL de ZERO HORA, edição de sábado, 20.2.2021, pág., 4 escreveu:

 Digamos que o deputado federal Daniel Silveira do RJ, primeira linha da direita nacional, tenha cometido crimes tão graves que não deixem nem sequer possibilidade de fiança por parte do acusado. Mas, o deputado não cometeu crime nenhum e muito menos foi preso em flagrante. Mas, fez um vídeo de 20 minutos falando o diabo dos ministros do STF, declarando que ficaria feliz se todos eles levassem uma surra.  É opinião, pura e simples, talvez da pior qualidade, mas é só isso- opinião.

 Mesmo que Silveira tivesse praticado crime hediondo (racismo, tortura, terrorismo, tráfico de drogas, rufianismo), só poderia ser julgado e punido pela Câmara dos Deputados – e não preso pela polícia, de madrugada, por ordem de um ministro do STF com aval de seus 10 colegas.

 ERRO JURIS OU ERRO DE DIREITO

 O artigo 53 da Constituição Federal assegura que os mandatos dos parlamentares brasileiros são invioláveis; podem até ser cassados, caso o plenário da Câmara julgar que houve rompimento de obrigações, mas só o Congresso pode assim agir.

 A Câmara pode até considerar que as palavras de Silveira caracterizam injúria aos ministros do STF ou incentivo à violência e que por isso merece ser punido com a suspensão ou perda do mandato. Tudo bem, o STF pode ser vítima e nessa condição apresentar suas queixas. Mas não pode ser juiz. A prisão arbitrária e ilegal do deputado Silveira é apenas mais um chute no pau de barraca da democracia brasileira”.

É o Fim

Por Henrique Packter 19/02/2021 - 13:06 Atualizado em 19/02/2021 - 15:39

1.    DIREITO AO ESQUECIMENTO

"Num país de triste desmemória, discutir e julgar o esquecimento como direito fundamental de alguém poder impor o silêncio de ato ou fato que pode ser de relevância de interesse público, parece um desaforo jurídico para sua geração. Brasil é um país no qual a minha geração lutou pelo direito de lembrar"  (Ministra Carmen Lúcia do STF em julgamento sobre o esquecimento).

O STF decidiu no dia 11.2.2021, por maioria, não reconhecer o direito ao esquecimento. A questão trata do uso da imagem de pessoas envolvidas em casos de grande repercussão. 

Após quatro sessões de julgamento, a maioria dos ministros (9x1), entendeu que o direito não está previsto no ordenamento jurídico e não pode sobrepor-se à liberdade de expressão prevista na Constituição. A Corte julga o recurso da família de Aída Curi, jovem assassinada após tentativa de estupro (1958, RJ). 

Segundo a defesa, a reconstituição da morte em programa de TV provocou sofrimento aos parentes.

No julgamento, a maioria dos ministros seguiu voto do ministro Dias Toffoli, relator do processo. No entendimento de Toffoli, o pretenso direito ao esquecimento não é compatível com a Constituição. Segundo ele, a liberdade de expressão não perde seu valor ao longo do tempo. 

Os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Luiz Fux  acompanharam o relator nesse ponto. 

Nas sessões anteriores, os ministros Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Rosa Weber também votaram contra o reconhecimento. 

O ministro Edson Fachin reconheceu o direito ao esquecimento, mas entendeu que a questão deve ser analisada caso a caso.

2.    LEWANDOWSKI, MELHOR JOGADOR DE FUTEBOL DO MUNDO EM 2020

Robert Lewandowski, futebolista polonês, atacante do Bayern de Munique e da Seleção Polonesa, reconhecido por sua eficiência, finalização e grande número de gols assinalados, é considerado muitas vezes como o melhor centroavante da atualidade.

Capitão da Seleção Polonesa desde 2014, Lewandowski tem 116 jogos e 63 gols oficiais, sendo o maior goleador da história e o jogador com mais partidas. Representou sua nação na Eurocopa de 2012 e 2016 e na Copa do Mundo de 2018, sendo o principal jogador da classificação polonesa para o mundial. Nas eliminatórias da Eurocopa de 2020,  entrou na lista dos dez maiores artilheiros europeus por seleção, na história.

Na estreia do Mundial de Clubes, marcou 2 gols na vitória de 2–0 sobre Al-Ahly, levando o Bayern à final. Foi campeão ao derrotar o Tigres por 1 a 0 na decisão, além de ser eleito o melhor jogador do mundial, ganhando a Bola de Ouro da Copa da competição.

De família de desportistas,  o pai de Lewandowski foi judoca e a mãe jogou voleibol. Casado desde junho de 2013 com Anna Stachurska, em dezembro de 2016 Lewandowski anunciou em 4.5.2017 o nascimento da primeira filha, Klara Lewandowski.

Em 9.10.2017, Lewandowski formou-se em Educação Física pela Universidade de Varsóvia, um dia após o jogo contra Montenegro, que classificou os poloneses ao Mundial de 2018,

3.    AINDA A VACINAÇÃO

Vamos vacinar o país em 2021: 50% até junho 50% até dezembro (Eduardo Pazuello). Mas, o governo federal apostou novamente errado fechando contrato com poucos fornecedores  da vacina contra o coronavírus. A saída encontrada em meio à escassez de doses  foi restringir o público-alvo  diminuindo o ritmo de vacinações de profissionais da saúde e da população idosa. Levando-se em conta apenas a ompetência da pasta demonstrada até agora  é uma estimativa exageradamente otimista.

Sabemos que é um desafio, mas queremos vencê-lo (Luiza Trajano, aquela do Magazine  e  da campanha Unidos pela Vacina, cuja meta é vacinar todos até setembro). Supondo que a vacinação ora comandada pelo general –médico honorário, reduz a o número de óbitos pela metade das mais de mil mortes diárias de nossos dias, ainda teremos de lamentar a perda de mais 150 mil vidas graças ao general-logístico. Somadas às perdas verificadas até hoje, teremos quase 400 mil brasileiros mortos pelo Covid-19 no reinado de Pazuello, primeiro e único.

4.    COMO SABER SE VOCÊ É NOVO OU VELHO (IDOSO) EM TEMPOS DE PANDEMIA

A idade é só um número. A cabeça é que decide se você é novo ou velho (LEWANDOWSKI)

Mas, é bom saber que V é velho, quando:

a.     Seu nariz teima em ficar fora da máscara

b.    Fala, tocando a máscara

c.     Esquece de tirar a máscara quando chega em casa

d.    Esquece onde largou a máscara

e.     Continua dando um pulinho no banco para ver o saldo

f.      Não tem a menor noção do que é baixar ou usar aplicativos

g.     Acha que pagar conta pelo telefone é coisa de filme de ficção científica

h.    Anda de carro 4 quilômetros por semana, o equivalente  a duas visitas ao supermercado e sua farmácia

i.       Acompanha a vacinação dos idosos, reclama em alta voz  porque sua vacinação está atrasada em relação às outras cidades. 4.787

Por Henrique Packter 16/02/2021 - 17:34 Atualizado em 16/02/2021 - 17:40

O preço do confinamento está sendo cobrado, além da devastação econômica, da perda de empregos e de outras desgraças, também no agravamento dos problemas mentais, sua multiplicação e variedade. Fator chave para propagação de distúrbios psicológicos é a repetição maciça de advertências, alarmes e ameaças sobre o risco fatal  que estaríamos correndo, sem exceção. O pânico da população é agravado com essas advertências, - de resto e aliás, necessárias, como as estatísticas estão a demonstrar.

O PREÇO DO CONFINAMENTO PELA COVID-19

Além da pandêmica devastação econômica, hipertrofiam-se casos de estresse, ansiedade, agressividade, apatia, delírio, cisma, teima, obsessão, desconfiança,  insensatez, demência, medo, neurastenia, egocentrismo, paranoia, - pipocando entre os adultos. E,  quanto aos malefícios a que as crianças foram submetidas? Os campos de concentração domiciliares não atingem por igual a todas as crianças. As manifestações piores estão da classe média para cima.  Os pobres já têm seu inferno permanente.  Ficou decidido para o bem de todos que crianças e jovens estavam proibidos (e já faz um ano) de ir à escola, brincar, chegar perto de outras crianças ou jovens,  ir ao parquinho, - não podem fazer nada.

-Você vai matar sua avó se não ficar em casa!

A vida para essas crianças se resume em tela do joguinho, ao ensino remoto e ao delivery.

Nosso infeliz confinamento não impediu que chegássemos à perda de 250 mil vidas. Os piores efeitos colaterais seriam de responsabilidade de um confinamento mal instituído, pior planejado e tiranicamente impostos.    

FILOSOFIA DE VIDA  POLÍTICA URBI ET ORBI

Se tudo vai bem, pode dizer a verdade. Se está mais ou menos, minta. Se está bem ruim, calunie.

SOBRE AMIGOS E INIMIGOS

Amigos vão e vêm. Inimigos se acumulam (Thomas Jones).

PROPAGANDA DE REMÉDIO POPULAR, BONDES CARIOCAS ANOS 70

Veja ilustre passageiro,

O belo tipo faceiro

Que você tem a seu lado.

E, no entanto acredite,

Quase matou-o a bronquite:

Salvou-o o Rum Creosotado!   (Bastos Tigre)

IMORTAL PUBLICIDADE DE MELHORAL NAS RÁDIOS DE LÍNGUA ESPANHOLA AMÉRICA LATINA

Mejor mejora Mejoral. Mejoral mejora mejor.

PROPAGANDA DAS ANTIGAS DE ... FÓSFOROS

Aviso a quem é fumante:

Tanto o Príncipe de Gales

Como o Doutor Campos Sales

Usam fósforos Brilhante!  (Olavo Bilac)

ESCRITORES TOMAM PLACIDAMENTE CHOPINHOS NO AMARELINHO, RJ, QUANDO SURGE O EDITOR PENHA, ACOMPANHADO POR MULHER DE MÁ REPUTAÇÃO. EMÍLIO SACA NA HORA:

Um homem que se diz Penha por uma mulher que se disputa!

EMÍLIO, ESTUDANTE EM CURITIBA, ASSISTE AULA DO PROFESSOR SABOIA

- Sr. Emílio defina sabedoria!

- Sabedoria mestre, é algo que tem efetivamente muito peso ... se colocado n’água ela afunda.

- E a ignorância, então?

- A ignorância? Ora, essa boia!

HAIR

Filme de 1979, do diretor Milos Forman, baseado em musical da Broadway de 1968 (lá remontado em 1977), gravado  no Central Park e Washington Square Park, Nova York, difere em muito do musical original, começando pela eliminação de várias músicas da peça.

Personagens tiveram perfis mudados. Claude, inocente recruta de Oklahoma, chega a Nova York convocado para a Guerra do Vietnã. Sheila - hippie da Tribo - é socialite nova-iorquina, por quem ele se apaixona. A maior liberdade com a história original: um engano acaba mandando Berger(líder dos hoppies), ao invés de Claude (o recruta inocente), ao Vietnã, onde morre.

Sucesso de público, o filme recebeu críticas positivas importantes. Vincent Canby (New York Times): " ...as invenções de Weller (o roteirista) fizeram este Hair ser mais divertido que o original. Também deu tempo e espaço para o desenvolvimento dos personagens que, no palco, deviam expressar a si mesmos, quase que só por música. Elenco soberbo em filme, de maneira geral, delicioso." A TIME concordou: "Hair é bem sucedido em todos os níveis - como divertimento vulgar, drama emocional, espetáculo estimulante e observação social provocadora."

Os desgostosos autores da peça com o resultado, acham que Forman retratou os hippies como “algum tipo de aberração" sem vinculação com o movimento pacifista, falhando em levar para a tela a essência da obra. Declararam que semelhanças entre o filme e o musical se limitam a algumas canções, o título em comum e o nome dos personagens. Acreditam que a verdadeira versão cinematográfica de Hair ainda está por vir.  

Da peça e do filme: Passarinho que come pedra sabe o ânus que tem (1) Noite passada fui a praia, maré estava baixa e molhei os meus pezinhos. Ué, diz outro, não rimou. Por que não rimou? Não rimou porque a maré estava baixa... (2)  4.639

Por Henrique Packter 08/02/2021 - 08:49 Atualizado em 08/02/2021 - 08:57

Como ter certeza que as lentes escolhidas realmente têm a proteção UV? A maioria dos óculos importados e legítimos traz selo de certificação, caso contrário, dificilmente teriam essa garantia. Então, entra em cena pesquisa do Departamento de Engenharia Elétrica da USP São Carlos, desenvolvida no Laboratório de Instrumentação Oftálmica.

A partir de medições de proteção ultravioleta (UV) em óculos de sol, solicitadas à universidade pelo Inmetro, foi criado um totem de Autoatendimento para Verificação da Proteção Ultravioleta de Óculos de Sol.  Com capacidade para medir até 400 nm (comprimentos de radiação UV) o totem é o primeiro sistema de autoatendimento do mundo a verificar se os óculos contam mesmo com proteção UV. Antes, só era possível a verificação por um especialista, que usava (nas raras vezes de que dispunha) de um espectrofotômetro.  Agora, está ao alcance do público de forma simples, rápida e moderna.

COMO VERIFICAR A PROTEÇÃO OFERECIDA POR LENTES DE  ÓCULOS

Ponha os óculos em local indicado no totem e siga as indicações dadas no monitor. Em segundos o equipamento identifica a categoria dos óculos, qual o grau de escurecimento das lentes, aponta as situações em que pode ser usado, qual a proteção UV que possuem e se a proteção está adequada. Por cadastro requisitado após o teste, o totem mantém um banco de dados com os resultados obtidos. Dos óculos já testados, mais de 30% foram reprovados: não apresentavam proteção adequada.

Dado bem acima do esperado pelos pesquisadores, isto é preocupante, pois usar óculos de sol sem proteção é pior do que não usá-lo. Porém, a grande surpresa revelada pelo totem diz respeito aos óculos comprados em camelôs que apresentaram proteção adequada, ao contrário das previsões. Problema é o pouco tempo de durabilidade dessa proteção. Todos os óculos de sol, mesmo aqueles de boa qualidade, possuem vida útil, em relação à proteção, que não ultrapassa dois anos.

O primeiro totem de Autoatendimento para Verificação da Proteção Ultravioleta de Óculos de Sol foi criado em 2001: Lensômetro Digital CLE-70, Fabricante  Essilor Solutions

Lensômetro é equipamento que costuma faz parte do laboratório da ótica. Por isso, antes de adquirir óculos pergunte ao vendedor se a loja possui aparelho para a realização do teste. Alguns modelos de lensômetro possuem impressora para emissão do resultado da verificação dos óculos, comprovante semelhante aos recibos emitidos pelas máquinas de cartões de crédito. O resultado desse teste é a garantia de que os óculos de sol irão proteger seus olhos. Nada é cobrado para essa verificação.

INFORMAÇÃO E DICAS IMPORTANTES

A informação UV 400 indica que as lentes dos óculos de sol oferecem a proteção máxima contra a radiação UVA e UVB.

1.   Ao comprar óculos de sol solicite sempre teste para verificação da proteção UV das lentes. Se a loja não possuir o equipamento, vá atrás de outra ótica.

2.   Lentes de qualidade possuem certificado de garantia. A loja revendedora tem obrigação de fornecer o certificado, devidamente preenchido, assinado e carimbado.  

3.   Lentes muito escuras não significam que ofereçam proteção segura. Elas estimulam a dilatação das pupilas, permitindo maior exposição solar do tecido ocular.(As melhores lentes são aquela que possuem leve degradê de tom - mais claro na base da lente e mais escura no topo. Essa característica permite melhor ajuste da visão em diversas situações).

4.   Jamais compre óculos de sol sem procedência ou garantia, por oferecer riscos à sua saúde. 

5.   Lentes corretivas em óculos de sol só devem ser adquiridas em ótica especializada. Lentes de grau para óculos de sol são feitas sob encomenda. Perde-se dinheiro ao comprar óculos de sol e ao enviá-lo ao laboratório, constatar que a curvatura da armação não permite a fabricação da lente com grau.

6.   Quem usa óculos de grau deve usar lentes fotossensíveis ou sempre fazer a troca para o óculos de sol em ambientes abertos. 

7.   Óculos de sol devem ser usados o ano todo, não apenas na temporada de primavera/verão.

8.   Em dias com níveis críticos de radiação UV, use chapéu ou boné para aumentar a proteção. Esse acessórios funcionam como refletores de radiação (horários críticos entre 11 e 15 horas).  (Continua) 4.240
 

Por Henrique Packter 28/01/2021 - 16:22 Atualizado em 28/01/2021 - 16:25

OTTO LARA REZENDE, consagrado jornalista e escritor mineiro, radicado no RJ e redator da MANCHETE, contava histórias da predileção de Bloch. Uma delas, envolvia mulher maltratada pelo marido. Ele, voltando à tardinha do emprego, costumava fazer escala, passar em revista os botequins do centro da cidade. Ao chegar em casa, muita vez alta madrugada, mal reunia forças para engolir o requentado jantar. Nessas horas reclamava em altas vozes de tudo e de nada; até bater na mulher, já batera. E nunca chorara seu perdão.

Certo dia, chegando em casa, galos da  madrugada acordando o sol, encontra a mulher vestida para sair, pequena maleta e guarda-chuva nas mãos.

- Chega de tanta humilhação, diz ela. Chega de tanta ausência, de bebedeiras, desrespeito. Vou embora!

Imponente, ele responde, olheiras dramáticas, voz cavernosa de cigarros sem conta:

- Você tem toda razão! Estou de pleno acordo! Pera aí que vou apanhar minha mala, também vou contigo!

BOTEQUINS DO RJ

Como todo mundo sabe, a origens dos botequins foram as boticas, farmácias onde os homens se encontravam e também dos quiosques espalhados pelo Rio, que vendiam aguardente, cigarro. No Passeio Público ainda restam alguns.

Desde seu princípio,  botequins ou botecos, são locais importantes de transformações da cidade. De característica alegre, com música, comida e bebida, era local onde muita gente se reunia (e ainda se reúne) para conversar sobre futebol, política, economia, música popular... Olavo Bilac, Emílio de Menezes e Noel Rosa eram assíduos frequentadores de botequins.

– Nos botequins era onde as revoluções culturais aconteciam. Por isso, no Império, muitas boticas foram proibidas de funcionarem em determinados horários, a Corte temia possíveis reuniões de revoltosos, início de alguma revolução. Nos botequins também eram criados sambas, obras literárias e partidos, como é o caso do Bar Amarelinho, do chope famoso na Cinelândia, onde foi criado o Partido Comunista.

Alguém lembra de curiosa história envolvendo alunos do Pedro II que invadiram o Bar Luiz, durante a Segunda Guerra? O mais que centenário bar, de1887, tem uma cerveja gelada que vou te contar e a salada de batata, marca registrada do bar, é glória gastronômica de reconhecimento internacional. Ele se chamava Bar Adolf e os alunos pensaram ser uma homenagem a Hitler. O bar foi salvo por Ary Barroso que frequentava o local. E o caso do Zicartola, restaurante da Dona Zika e do Cartola, que funcionou por apenas 2 anos, apesar de ser famoso e ter originado o show Opinião e Rosa de Ouro? Durou pouco porque Cartola nunca cobrava dos amigos e todos eram amigos do Cartola. Outros, maldosamente afirmam que Cartola teria bebido o estoque todo.  Tem ainda o Bar da Brahma, o Bar Monteiro e uma infinidade de outros célebres templos de libação.

OS BARES DO RJ NA VISÃO DE BLOCH

Adolpho Bloch quando contestado com irritação e nervosismo pelo clã familiar diante de investimentos arrojados que empreendia, dizia coisas como: vá para o tranquilizante, o grande macete dos inquietos de nossos tempos de gloriosa circulação entre as cultas gentes. Apontava alternativas: os botecos do RJ. Ou chorar; lágrimas produzem milagres. Jesus chorou quando soube da morte de Lázaro e o ressuscitou.

CLASSIFICAÇÃO DA RAÇA  HUMANA SEGUNDO BLOCH

Bloch  definia as personagens de nosso tempo em duas categorias: os que têm boa presença e os que têm péssima ausência. Boa presença era quando todos falam bem de um sujeito presente. Péssima ausência era quando ausente, o sujeito monopolizava a conversa, cada qual juntando um graveto para queimá-lo na alegre pira da maledicência. Onde ele próprio estaria classificado?  (Continua) 3.649

Por Henrique Packter 25/01/2021 - 15:08 Atualizado em 25/01/2021 - 16:48

A TV MANCHETE

Comunicação eletrônica nunca foi objetivo de Adolpho Bloch, empresário e jornalista. Contudo, em 1980, ele e o sobrinho Pedro Jack Kapeller, lançam a Rede Manchete de Rádio FM, com 5 emissoras pelo Brasil e a Rádio Manchete AM, no RJ,  12 anos após a morte de  Assis Chateaubriand, o rei da comunicação no Brasil (1968). Investir numa rede de televisão não fazia parte dos projetos ou prioridades  de Bloch. Queria, sim, continuar aplicando na editora e realizar o projeto de fabricar latas de alumínio.

Em 1981, os irmãos Adolpho e Oscar Bloch e sobrinho Pedro Jack Kapeller recebem as 4 concessões, antes pertencente à Rede Tupi. Em 5.6.1983,  depois de vários adiamentos, inauguram a Rede Manchete. No mesmo ano, Adolpho compra a Rádio Clube do Pará, que conserva por quase 10 anos (1992). Inaugurado o canal de TV, o primeiro filme exibido pela emissora, após a inauguração foi Contatos Imediatos do 3º grau, do cineasta judeu Steven Spielberg. Colocou a Manchete na liderança da audiência  com 27 pontos, contra 12 da Globo. A primeira novela produzida pela Manchete foi A Marquesa de Santos, (1984), mas o grande sucesso foi Pantanal (1990).

Primeiros 7 anos são de sucesso, culminando com a apresentação das novelas Kananga do Japão (de ideia original sua) e O Pantanal. Problemas de gerenciamento influem na programação; obriga-se a vender a rede de televisão a grupo paulista.

A IBF assume a Rede Manchete, gestão cassada pela justiça. Adolpho recebe de volta o encargo de rede nacional, com os salários dos funcionários atrasados 6 meses. Pede tempo aos empregados, normaliza em 4 meses o pagamento da folha, mas o esforço de caixa continua repercutindo na programação.

Luta para equilibrar receita e despesa. Conseguindo esse equilíbrio, lança a novela, Tocaia Grande, construindo cidade cenográfica em Maricá (RJ) por R$ 2 milhões.

BLOCH EDITORES

Da fundação a meados da década de 1970, a Bloch Editores tinha sede na rua Frei Caneca, centro do Rio. Em 1968, inaugura a nova sede da sua editora, na Praia do Russel (zona sul do RJ), com 3 prédios projetados por Oscar Niemeyer. Ali funcionam as redações do grupo, emissoras de AM e FM, teatro, museu, restaurantes, piscina, salões de recepção, ambulatório. JK ganha escritório no local.

Sábado, 26.4.1952 surge nas bancas do RJ a revista Manchete, capa impressa em cores que a destacam. Enfrentaria a forte concorrência da revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, líder no segmento, mas Bloch confiava haver espaço para mais uma revista semanal de variedades.

A logomarca da Manchete chamava a atenção: o M inicial em amarelo, os demais caracteres, em preto, tudo sobre um fundo vermelho. Atuando por cerca de 30 anos no ramo gráfico, a família Bloch inovou combinando modernas técnicas editoriais com os recursos de seu atualizado parque industrial.

A revista apostava no fotojornalismo,  combinação entre fotografia e narrativa jornalística. Com o tempo, Manchete ficaria conhecida também por sua proximidade com o poder, ensinamento de Chatô, precursor deste figurino e pioneiro a trilhar estes caminhos.

Lema da revista: Aconteceu, virou Manchete. As matérias versavam  sobre variedade de temas: esporte, celebridades nacionais e mundiais, grandes acontecimentos, política, moda, concursos de beleza, tragédias e inovações científicas, além de colunas sociais. Criou colunas autorais, como O episódio da semana, (Sérgio Porto, o Stanislau Ponte Preta) e Meu personagem da semana (Nelson Rodrigues).

Em fevereiro de 1953, Manchete publicou, quarta-feira de cinzas, uma primeira edição especial sobre o carnaval do RJ, com reportagens sobre desfiles das escolas de samba, bailes cariocas mais concorridos, tudo ilustrado por grandes fotos coloridas. Desde então, o Brasil aguardaria o fim do carnaval para ler (e ver) a cobertura da revista.

Destaques: em 1954, no atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, Manchete abriu espaço para um dos principais críticos do presidente Getúlio Vargas, o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN. Afinal, seu grupo poderia subir ao poder se a crise levasse à renúncia de Vargas. Edição tiritando no prelo quando Bloch sabe do suicídio do presidente. Paralisa as rotativas e troca a capa. Críticas dão lugar a rasgados elogios ao presidente morto que naquele momento era chorado pelo povo revoltado nas ruas. À noite, a edição se esgota.

A partir daí, a cobertura política de Manchete, comandada por Bloch, faz da revista veículo de propaganda governamental. Bloch reequipa o parque gráfico e cria novas revistas: Fatos e Fotos, Joia, Pais e Filhos, Ele e Ela, Desfile, Amiga, Sétimo Céu, Manchete Esportiva, Os Trapalhões e outras. 4.639

Por Henrique Packter 18/01/2021 - 07:51

O ucraniano Avram Yossievitch Bloch (Jitomir, Império Russo, 8.10.1908   — SP, 19.11.1995),  foi um dos mais importantes empresários da imprensa e TV brasileiras. Jitomir, a 120 km de Kiev, era capital da Ucrânia. Filho de Josef e Ginda Bloch, o pai, gráfico nas 2 cidades, orienta os 3 filhos homens (Adolpho, Arnaldo e Boris) no seu ofício. Ainda em Kiev, Adolpho toma gosto pelas artes gráficas e teatro, auxiliando na impressão de cartazes e vendendo libretos com resumo das óperas encenadas no teatro local. Aos 9 anos Adolpho vê os primeiros pogroms contra judeus e a Guerra Civil de 1917, após a queda do czar.

 Durante o regime provisório de Alexander Kerenski, imprimiu o dinheiro que circularia nos primeiros tempos da Revolução Russa. Em 1912 Kerenski  foi eleito membro da quarta Duma por partido moderado. Duma Federal e Soviete da Federação, formam o Legislativo da Federação Russa. A Duma é a câmara baixa da Assembleia Federal; o Soviete da Federação é a câmara alta. Têm sede em Moscou. A Duma compõe-se de 450 deputados, eleitos para mandatos de quatro anos. Criação do Império Russo, seria extinta em 1917, mas, com o fim da URSS, foi reestabelecida (1993), pelo presidente Boris Iéltsin, após sua vitória política na Crise constitucional daquele ano.

Kerenski desempenha papel decisivo na queda do regime czarista. Ministro da Justiça, introduz reformas, incluindo abolição da pena capital, liberdades civis básicas (liberdade de imprensa, abolição da discriminação étnica e religiosa e planos para a introdução do sufrágio universal). Ministro da Guerra e Primeiro-Ministro entre julho a novembro de 1917, prosseguiu guerra contra a Alemanha. Mas não pôde evitar a Revolução de Outubro, quando os bolcheviques liderados por Lênin tomam o poder. Exila-se na Europa Ocidental (1918), depois vive nos EUA (1940) e morre de câncer (Nova Iorque,11.6.1970).

Adolpho Bloch, casado duas vezes (com Lucy Mendes Bloch e Ana Bentes Bloch), não teve filhos.

 A FAMÍLIA BLOCH FOGE PARA O BRASIL

A origem judaica da família Bloch foi motivo para se envolver em problemas (1917, época da Revolução Russa). Passavam fome e assim, com dezessete parentes, Adolpho Bloch troca sua terra natal, Jitomir, por Kiev. Em 1921, deixam a Ucrânia para morar 9 meses em Nápoles, na Itália. Viajam 3ª classe no Re d'Italia, chegam ao RJ em 1922.

OS COMEÇOS

Fundou o grupo de mídia com seu sobrenome, a Rede Manchete (1983), hoje extinta.

Os Bloch já em 1923 compram pequena impressora manual, primeira tipografia na vida de Adolpho Bloch. Os Diários Associados de Assis Chateaubriand, falecido em 1968, são de 2.10.1924. Vão morar em Aldeia Campista (zona norte RJ). Josef Bloch, com minguados recursos trazidos da Rússia, instala modesta gráfica. A família trouxe apenas pilãozinho, usado para espremer especiarias. Daí o título de sua biografia O Pilão, lançada em 1978. Era primo do escritor e médico ORL Pedro Bloch, primeiro foniatra brasileiro. Adolpho estudava à noite no Colégio Pedro 2º e de dia corria o comércio buscando encomendas.

Começam rodando folhas numeradas para o hoje ilegal jogo do bicho. Na década de 40, Adolpho trabalha na editora Rio Gráfica, de Roberto Marinho. Nas redações do RJ conhece boêmios, jornalistas e escritores. torna-se amigo de artistas e políticos; frequenta a área boêmia do RJ, as rodas de gafieira. O Grêmio Recreativo Familiar Kananga do Japão, inspiraria a novela Kananga do Japão, da Rede Manchete (1989), idealizada por Adolpho.

Na redação de A Vanguarda, Adolpho obtém o primeiro grande negócio quando sabe de exportador atrás de embalar laranjas em papel de seda especial. Nenhuma gráfica no RJ tinha condições de executar o trabalho. Adolpho aceitou a encomenda, providencia máquinas, tornando a gráfica Bloch conhecida.

A MANCHETE

Morrendo Josef, os 3 filhos, Adolpho, Arnaldo e Boris, administram a gráfica, e logo Adolpho revela qualidades que o tornariam líder. Vence a resistência dos irmãos e lança a revista Manchete – algo considerado rasgo de loucura -, o mercado era pequeno e havia um gigante na praça, a revista O Cruzeiro, com tiragem  de 700 mil exemplares por semana.

Em 26.4.1952,  três meses após  Irineu Noal ter seu teco-teco laçado em pleno voo em Santa Maria, RS,  Adolfo Bloch lança Manchete, semanário de âmbito nacional. É o início de um dos maiores impérios de mídia da América Latina. A revista se torna a mais lida do Brasil, ganhando projeção mundial.

Difíceis os primeiros anos de Manchete, embora a revista reunisse equipe de jornalistas de primeira ordem: Carlos Drummond de Andrade, Magalhães Júnior, Rubem Braga, Sérgio Porto, Lúcio Rangel, Vinícius de Moraes, Henrique Pongetti, Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.  (Continua) 4.703

Por Henrique Packter 15/01/2021 - 08:43 Atualizado em 15/01/2021 - 08:44

VERSÃO BRASILEIRA DE CARYL CHESSMAN

Alguém ainda lembra de JOÃO ACÁCIO PEREIRA DA COSTA, criminoso notório, o nosso bandido da luz vermelha? Nasceu em  Joinville, 24.6.1942, morrendo lá mesmo a  5.1.1998. 

Órfão aos 4 anos de idade, ele e o irmão mais velho, Joaquim Tavares Pereira, passam a ser criados por um tio. Em 1967, 25 anos de idade,  preso em Curitiba, Luz Vermelha conta que ele e o irmão eram submetidos a trabalhos forçados pelo tio em troca de comida. Teriam sido torturados física e psicologicamente pelo tio, que negou as acusações.  Quando pré-adolescente, teria sido  estuprado por meninos mais velhos, seus rivais, agressões que parecem ter despertado seus piores instintos.

Na adolescência vai morar em SP, fugindo dos furtos que praticara em SC. Fixa residência em Santos. Lá, apresentava-se como filho de fazendeiro, bom moço, levando vida tranquila. Praticava seus crimes em SP, voltando ileso para Santos.

Também praticou roubos e desmanches de carros no RJ. "Ia para o Rio de ônibus, voltando de carro. Chega a roubar 50 veículos", informa  o jornalista e escritor Gonçalo Junior, autor do livro Famigerado! — A História de Luz Vermelha, o bandido que aterrorizou São Paulo.

PERSONALIDADE QUADRIPARTITE           

Passava-se por quatro diferentes assaltantes: o incendiário, que punha fogo nos corredores de casas para provocar pânico nos moradores, o mascarado que roubava joias, o bandido macaco, por usar macaco de carro para abrir as janelas, e o Bandido da Luz Vermelha, por usar lanterna de aro avermelhado adquirida na loja de departamentos da Mappin.

Foram mais de 5 anos perturbando a ordem pública com dezenas de assaltos, estupros e homicídios, atribuídos a ele pela polícia. Teria praticado assaltos em 4 dias da semana, sempre das 2 às 4 horas da madrugada. Preferia mansões e utilizava figurino próprio ao cometer os crimes. Altas horas, interrompia a energia da casa. Cobria o rosto com lenço e tinha como principal marca a lanterna com lente vermelha. A imprensa apelidou-o de Bandido da Luz Vermelha, referência ao criminoso estadunidense Caryl Chessman, que tinha o mesmo apelido.

Luz Vermelha era vaidoso, vestia-se com cores vivas,  para chamar atenção, chapéus extravagantes e lenços de caubói cobrindo o rosto. Gostava de usar perucas. Costumava  passar-se por músico, carregando a tiracolo guitarra afanada.

Gastava o dinheiro obtido nos assaltos com mulheres e boates. Custou à  polícia seis anos para identificá-lo e só alcançou isso após ele deixar suas impressões digitais na janela de uma mansão.

PRISÃO

João Acácio foi preso em 8.8.1967 em Curitiba, onde vivia sob a falsa identidade de Roberto da Silva.

No interrogatório, confessou 4 crimes:

1.O primeiro em 3.10.1966, quando Walter Bedran, estudante de 19 anos, foi alvejado com tiro na cabeça ao tentar surpreender o bandido, que invadira seu quintal no Sumaré.

2.Dez dias depois, morre o operário José Enéas da Costa, 23, morto numa briga com o criminoso em bar da Bela Vista.

3.Em 7.6.1967, no Jardim América, o industrial Jean von Christian Szaraspatack, foi morto a tiros ao reagir a assalto,  

4.Em 6.7.1967, matou o vigia José Fortunato, que tentou impedir sua entrada na mansão em que era guarda no Ipiranga.

Foi condenado por 4 assassinatos, 7 tentativas de homicídio e 77 assaltos, a pena de 351 anos, 9 meses e 3 dias de prisão.

Nunca ficou comprovado, porém, que Acácio cometeu estupro ou que teve relações sexuais com suas vítimas.

LIBERDADE

Cumpridos os 30 anos previstos em lei, foi libertado na noite de 26.8.1997 e retornou para Joinville, mantendo uma certa popularidade, pela obsessão em vestir roupas vermelhas e quando alguém lhe pedia autógrafo, ele escrevia Autógrafo ...

MORTE

4 meses e 20 dias em liberdade, durante briga num bar, João é assassinado com tiro de espingarda em 5.1.1988.

Na época, o jornal Notícias Populares, publicou que o algoz do ex-detento alegou ter efetuado o disparo para salvar a vida do irmão, que fora agarrado e ameaçado com faca. Tudo depois desentendimento por suposto assédio sexual cometido por Luz Vermelha contra mãe e mulher do algoz. Em novembro de 2004, o autor da morte do bandido da luz vermelha foi absolvido em Joinville, aceita a tese de legítima defesa.

CINEMA

Sua vida criminosa inspirou o filme O Bandido da Luz Vermelha (1968), do cineasta Rogério Sganzerla, estrelado pelo ator Paulo Villaça. No filme, o personagem comete suicídio.
Luz nas trevas - A volta do bandido da luz vermelha, sequência do primeiro filme foi um dos filmes selecionados para a competição internacional do 63º Festival de Locarno, Suíça. Filme dirigido por Ícaro Martins e Helena Ignez, viúva de Rogério Sganzerla, estrelado pelo cantor Ney Matogrosso. Rodado em 2009, estreou em 2010.

LIVROS

Em 2019 sai Famigerado! — A História de Luz Vermelha, o bandido que aterrorizou São Paulo, do jornalista e escritor Gonçalo Junior.

MÚSICA

Virou música nas mãos do grupo de rock Ira! em Rubro Zorro, que abre o terceiro disco Psicoacústica (1988) e a faixa ainda possui algumas falas do filme O Bandido da Luz Vermelha de 1968, do cineasta Rogério Sganzerla. O cantor de horrorcore, Patrick Horla, também o cita como base para a canção O bandido da lupa vermelha.

Por Henrique Packter 12/01/2021 - 10:03

A pena capital, seja por qual forma for praticada, ainda suscita discussões intermináveis. Na verdade já vão rareando as execuções capitais como resultado de julgamentos legais. Relutam as pessoas sorteadas para compor juris cujo resultado possa ser a aplicação desta pena sem volta.

Um advogado nova-iorquino tenta convencer a esposa a participar de júri para o qual fora escolhida.

- Mas, diz ela, sou contra a pena de morte...

- Tire esta preocupação da cabeça. Trata-se de julgamento de noivo que prometeu casaco de peles mink à noiva e não cumpriu a promessa. É coisa pouca. Detenção por meses ou multa. Nada a ver com pena de morte.

A esposa põe-se a pensar:

- Prometeu casaco de peles e não cumpriu? Pensando bem, a pena de morte pode ter aplicações bem educativas, às vezes...

CARYL CHESSMAN

Nasceu em Saint Joseph (Michigan), 27.05.1921 e foi executado na câmara de gás em 02.05.1960, Califórnia, acusado de ser o bandido da luz vermelha  de lá -, por provas circunstanciais, acusações nunca comprovadas. Preso, dispensou advogado, estudou Direito, fez sua própria defesa (já se disse que todo autodidata tem um tolo como professor). Na prisão, escreveu obras autobiográficas: 2455-Cela da Morte, A Lei Quer Que Eu Morra, A Face Cruel da Justiça e O Garoto era Um Assassino. Os livros correram mundo, despertaram sentimentos contraditórios e reflexões sobre a pena de morte na Califórnia e  no resto do mundo. Formei-me no mesmo ano em que Chessman foi executado, na verdade cinco meses antes.

Ele teria inspirado o brasileiro João Acácio Pereira da Costa a cometer crimes usando lanterna de luz vermelha em SP. CHESSMAN, teve várias vezes cancelada sua execução no último momento, o trivial nos filmes americanos.

EVERALDO SABBATINI e esposa, sendo eu solteiro, minha noiva residindo em POA, convidavam-me para jantar um pato recheado em sua nova residência. Não é demais repetir que em 1960 quando Sabbatini e esposa chegaram a Criciúma e em 1968  quando chegam Albino José de Souza Filho e Dulce, mais a filha Mônica de 2 meses, simplesmente não havia apartamento ou casa para alugar em Criciúma. Os dois médicos e respectivas esposas, mais Mônica, ficaram hospedados em apartamentos do Hospital São José, claro, pagando diárias, como qualquer mortal.

Everaldo Sabbatini  e Teresa Moura Ferro Sabbatini, após longa espera, alugam casa próxima onde estão instalados hoje os advogados Góes, na João Pessoa. Convidando-me para saborear um pato com laranja. Everaldo já foi avisando:

- É prato de se comer rezando, coisa muito especial de boa.

Combinado o almoço para o final de semana, lá vinha dia de sol esplendoroso e lá ia eu para POA. Assim, íamos adiando a execução do Pato ... CHESSMAN!  No mesmo mês de maio em que CHESSMAN foi executado na California, nosso pato foi sacrificado e servido à ... Califórnia em Criciúma! Em tempo: nesse dia chovia o que Deus manda em Criciúma.  2.905

Por Henrique Packter 05/01/2021 - 09:01

Lupion governador, deu início a uma campanha (seu talão vale um milhão) para aumentar a arrecadação tributária e combater a sonegação fiscal. Os contribuintes deveriam juntar notas fiscais no valor de 3 mil cruzeiros e trocar por um talão que dava direito ao sorteio de um milhão de cruzeiros.

A 8.12.1959, a poucos dias  de minha formatura no Curso de Medicina, na mesma cidade de Curitiba, o subtenente da Polícia Militar, Haroldo Tavares, entrou no Bazar Centenário, na Praça Tiradentes, para comprar um pente. Escolheu um, achou caro o preço de 15 cruzeiros, reclama, mas paga e exige a nota fiscal.

O proprietário, o sírio Hermede Najar, não quer dar a nota exigida, os dois discutem e se atracam. Como logo vai se ver, Najar tinha o QI de uma ostra de porte médio. Segundo algumas testemunhas, outros dois sírios ajudam Hermede na agressão ao militar que sai da briga com a perna quebrada. Do lado de fora da loja, populares que a tudo assistiram, revoltam-se; vaiam e atiram pedras. Por precaução, o comerciante baixa as portas de aço de seu estabelecimento. Outras pessoas, a maioria nas filas de ônibus, engrossam o movimento. O tumulto ganha força, a porta de aço é arrombada e a loja, depredada.

A partir daquele momento, em correrias, a massa humana começa um quebra-quebra geral. Diversas lojas vizinhas são atacadas expandindo-se a revolta para as ruas 15 de novembro, Marechal Floriano e Marechal Deodoro e para as praças Osório e Rui Barbosa. Lojas, residências e até carrinhos de pipoca não escapam da ira popular. 120 lojas de comerciantes conhecidos como turcos, mas na verdade árabes, judeus, italianos, e até brasileiros experimentam a fúria de uma população descontrolada. Nem órgãos públicos como a COAP (Comissão de Abastecimento e Preços) a DFDG (Delegacia de Falsificações e Defraudações em Geral), a Chefatura de Polícia, a Biblioteca Pública, as sedes do IPASE e do IAPC escaparam ao vandalismo.  A Polícia Militar põe as tropas na rua. Os policiais atacam a cacetadas, bombas de gás lacrimogêneo e tiros. A população revida com pedradas e pauladas. Há mais de 50 feridos, entre eles o chefe de polícia Alfredo Pinheiro Jr e o comissário Eudes Brandão.

A polícia não consegue controlar a situação. Várias pessoas são presas e uma multidão se reúne em frente à chefatura de polícia, tentando soltar os presos. A muito custo é contida. Bombeiros são convocados a auxiliar para conter os ânimos. O povo corta as mangueiras dos carros-pipas para evitar os jatos d'água. A trégua vem com o cair da noite. A população vai dormir e, no dia seguinte, recomeça o tumulto.

Diante da gravidade da situação, o Exército entra em ação, colocando tanques de guerra nas ruas e esvazia o movimento. Pelotões de soldados armados com baionetas e metralhadoras sob o comando do capitão José Olavo de Castro (Polícia do Exército) e do general Oromar Osório impõem medidas drásticas para conter a rebelião: bares fecham às 20 horas, pontos de ônibus são transferidos de local, aglomerações são proibidas.  O Arcebispo, D. Manoel da Silva Delboeux, conclamou a população a retornar ao seu cotidiano de trabalho, sensatez e paz. Clamou contra a "tragédia triste do vandalismo", contra a "baderna predatória".

Este episódio encerrou a campanha seu tostão vale um milhão. Melhor não haver campanha nenhuma do que suportar os elevados prejuízos de uma revolta popular, prejuízos muitas vezes irrecuperáveis. 

Por Henrique Packter 28/12/2020 - 12:00 Atualizado em 28/12/2020 - 12:04

Há quem afirme que a diretoria do aeroclube percebeu o pedaço do laço enrolado na hélice e obrigou o piloto a contar do que escapara. Diante do fato, os diretores do aeroclube, em reunião, decidiram cassar a licença do piloto Noal. Ele ainda pagou multa pela transgressão. Em 1999, aos 68 anos, perguntado sobre o fato, não se sentiu muito à vontade para falar sobre a façanha.

Disse: -Foi uma brincadeira de guri. Mesmo arredio, o piloto admitiu o perigo da manobra e desdenhou da habilidade do peão. (Aquele não laçava nem vaca. Foi uma sorte muito grande). Noal não conseguiu lembrar o dia exato do episódio. A façanha tornou famosos piloto e peão. A ousadia do piloto rendeu sucesso entre as garotas da época. Noal recebeu cartas que elogiavam sua coragem.

A RAZÃO CONQUISTA PREMIO DA ARI PELA REPORTAGEM HISTÓRICA

A matéria valeu À RAZÃO o 49º prêmio ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE DE IMPRENSA (o caso do peão que laçou um avião).

Autor da façanha de laçar um avião pelo focinho, o peão Euclides Guterres, 24 anos, solteiro, foi descrito na época como vivaz, fazedor e contador de proezas e espanholadas. Quase todos os peões das estâncias do Rio Grande são assim. Morreu de leucemia em 1981. Nascido em Santa Maria, tornou-se celebridade instantânea em 20.1.1952, ao laçar o avião CAP4/Paulistinha (prefixo PP-HFP), que dava rasantes na fazenda de seu patrão.

"Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço." (Peão Euclides Guterres).

O fato (20.1.1952, 15 horas) encontra-se registrado em jornais da época (A Razão, Diário de Notícias, Almanaque do Correio do Povo e até na Time Magazine americana, que circulou em 11.2.1952). Em 1999 o feito mereceu ampla reportagem na Zero Hora, jornal de POA. A Base Aérea de Santa Maria também mantém em seu acervo vários jornais e revistas da época, relatando a incrível façanha do peão Euclides Guterres, que acabou conhecido como o Rei do Laço. Não existem registros de casos semelhantes.2.026

Por Henrique Packter 24/12/2020 - 10:59 Atualizado em 24/12/2020 - 11:01

FELIZ NATAL, GENTE! FELIZ 2021! SAÚDE!

 Ao sobrevoar a Fazenda Tronqueiras, proximidades de Santa Maria, RS, Irineu embicou o Paulistinha numa série de rasantes sobre a mesma, espantando umas vacas que o peão Euclides Guterres acabara de apartar. No alto de uma das elevações, Euclides cuidava de uma novilha com bicheira e não gostou nem um pouco do que ocorria.  As passagens sobre a casa grande e a mangueira fizeram o peão passar a mão do laço de treze braças e 4 tentos que arremessou por diversas vezes em direção ao pequeno monomotor. (1 braça = 1,83 metros; tentos: pequenas tiras de couro às quais se prende o que se quer trazer à garupa).

 Eram os primeiros anos de  1952. A cada arremetida Irineu voava desafiadoramente mais baixo para inticar com o laçador. Na terceira ou quarta tentativa o avião foi laçado. Balançou, só não caindo porque a hélice cortou o laço de couro que acertara o bico do teco-teco. Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, rebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. Estava feito!

 Outra versão dá conta que o peão Euclides Guterres, para não ser carregado pelo avião, largou o laço. Mas, a hélice, de golpe, já havia partido em duas as 13 braças de couro cru trançado. O jovem piloto tinha na frente dos olhos um pedaço do laço. Virou o nariz do aparelho e voou em direção a Camobi com a hélice partida!

O motor pipocou algumas vezes, perdeu altura para depois nivelar e sumir em direção a Santa Maria, levando preso na fuselagem um pedaço de laço gaúcho de treze braças, quatro tentos, couro cru.

Assustado, tratou de pousar. Ainda na cabeceira da pista, longe do hangar, teria retirado o laço que escondeu no meio das macegas. Como houve dano na hélice do aparelho, o piloto estava ameaçado de demissão, por ter agido de forma imprudente e provocativa, e por não ter comunicado o fato às autoridades aeronáuticas. Três dias depois do evento, A RAZÃO promoveu um encontro entre os protagonistas do episódio.

http://wp.clicrbs.com.br/almanaquegaucho/files/2012/11/0086115f.jpgHá quem afirme que a diretoria do aeroclube percebeu o pedaço do laço enrolado na hélice e obrigou o piloto a contar tudo, tin tin por tintin. É quando os diretores do aeroclube decidem cassar a licença do piloto Noal. Ele ainda pagou multa pela transgressão. Em 1999, aos 68 anos, perguntado sobre o fato, não se sentiu muito à vontade para falar sobre a façanha.

Disse:

-Foi uma brincadeira de guri. Mesmo arredio, o piloto admitiu o perigo da manobra e desdenhou da habilidade do peão. (Aquele não laçava nem vaca. Foi uma sorte muito grande). Noal não conseguiu lembrar o dia exato do episódio.

 A FAMA

Irineu falava dos namoricos e dos amassos vindos com a fama inesperada.

Nem sempre gostava de falar sobre o assunto, embora a história lhe rendesse certa fama. Irineu foi casado com Maryolanda, com quem teve três filhos - Alexandre, Giovani e Lorraine.  Versões validam as declarações de um dos filhos de Irineu, Alexandre Noal. – Não por acaso Irineu era conhecido como Gringo Louco. Ele gostava de pilotar e, mais ainda, de aventura. O meu avô tinha medo de voar. Mas, uma vez, meu pai o convenceu a voar com ele. Quando o vô percebeu, eles estavam passando por baixo da ponte do Passo do Verde – lembra o filho Alexandre Noal, 48 anos. Segundo Alexandre, apesar das diferentes versões para o fato, seu pai afirmava que pretendia devolver as cartas de uma ex-namorada. Por isso, resolveu dar rasantes na fazenda Tronqueiras, onde a moça morava e que até hoje pertence à família Xavier. Esperava que ela saísse de casa e ele pudesse arremessar as correspondências.

O voo de Noal entre a fazenda e o aeroclube não demorou nem oito minutos. Ao pousar mentiu que sofrera um acidente. Porém, foi denunciado pelo pedaço de laço enrolado na hélice. Acabou multado, foi expulso, teve o brevet cassado. Irineu guardou a hélice do paulistinha com o pedaço do laço. 3.803

Por Henrique Packter 30/11/2020 - 08:28 Atualizado em 30/11/2020 - 08:43

"Nada nos pode parecer mais estranho do que a notícia de que um homem tenha laçado um avião. A vontade que a gente sente é de duvidar. Mas, a verdade é que a extraordinária façanha aconteceu no pampa gaúcho, em Tronqueiras, na rica fazenda de Arroio do Só, município de Santa Maria."

(Abertura da reportagem de 3 páginas, publicada n’O Cruzeiro, em 23.2.1952, assinada por Cláudio Candiota).

Há 68 anos atrás, inacreditável acontecimento colocou Santa Maria no mapa do mundo. Felizmente não foi nenhuma tragédia como esta mais recente da boate Kiss a responsável pela súbita notoriedade.

Irineu Gabriel Noal

Causou o reboliço meu colega do 2º ano científico do Colégio Santa Maria, Santa Maria, RS, Irineu Gabriel Noal. Avançava na escola com grande dificuldade, demonstrando pouco apetite para o estudo. Deu-se por satisfeito com a conquista do término deste segundo ano científico, não prosseguindo os estudos. Não ingressou em nenhum curso superior, que se saiba.

Lembro-me dele, falando sem olhar o interlocutor nos olhos, cigarro preso em dois dedos em pinça da mão. Acompanhava a fala desenhando (com o cigarro), semicírculos rápidos e nervosos no ar, na linha da cintura.

Era alto, moreno, cabelos crespos, lavados. Irineu, pilotando um teco-teco foi laçado por um peão de fazenda, justo quando recente tragédia aérea aconselhava prudência aos aeronautas. Em 12.7.1951 um avião das Linhas Aéreas Paulistas chocou-se com uma árvore a 3 km do aeroporto de Aracaju. No acidente morreram 32 pessoas entre passageiros e tripulantes.

O começo

Irineu voava num dia de janeiro de 52 para demostração, para impressionar a filha de rico e influente estancieiro. Teve sorte de ser apenas laçado. E se o pai da moça resolvesse atirar contra o imprudente piloto do monomotor que realizava rasantes em sua propriedade?  E se o peão-laçador mantivesse o laço preso nas mãos? Irineu foi notícia na imprensa mundial merecendo reportagem de destaque  n’O Cruzeiro, nº 19 (23.02.1952), a mais importante revista do país.

A imprensa da época

O José Adelor Lessa de então

Tarde de janeiro de 1952, o jornalista Cláudio Candiota, diretor do jornal A Razão, de Santa Maria, foi procurado em sua sala pelo comandante Fernando Pereyron, do aeroclube da cidade. O visitante trazia uma notícia de impacto, mas não queria sua divulgação. Pelo contrário, queria escondê-la. Temia causar prejuízo à imagem da escola de pilotagem sob sua responsabilidade, no aeroporto de Camobi. 

Quem era Fernando Pereyron Mocellin?

Herói da IIª Grande Guerra, foi Aspirante Aviador da Reserva, convocado durante o conflito. (Nome de Guerra: Mocellin). Era filho do joalheiro João Pereyron Mocellin. Nasceu em 20.06.1922 em Santa Maria e faleceu a 05.06.2001 (78 anos) em POA. Escreveu Missão 60, relatando sua preparação para combate na Segunda Guerra  Mundial, assim como algumas de suas 59 missões de combate. Para ele, a 60ª missão foi escrever o livro onde narra suas vivências da guerra. Apresentou-se ao 1o Grupo de Caça em Suffolk, vindo de uma escola de caças americana. Piloto de combate de esquadrilha, sua primeira missão foi em 12.11.44 e a última em 01.5.45. Ferido em combate por estilhaço da artilharia inimiga durante sua 24º missão em 02.1.45, foi promovido a 2o Tenente, 19 dias depois.

Recebeu várias Condecorações: Cruz de Sangue, Cruz de Aviação com 2 estrelas, Distinguished Flying Cross(EUA); Campanha da Itália, Air Medal 2 palmas (EUA); Presidential Unit Citation (EUA).

Pouco tempo após regressar ao Brasil pediu baixa da FAB, e voltou para Santa Maria e  para trabalhar na Joalheria do pai.

Por Henrique Packter 23/11/2020 - 10:43 Atualizado em 23/11/2020 - 10:44

Santa Maria (RS), que se saiba e ao menos até 1953, era famosa por ser o mais importante entroncamento ferroviário do estado, pelo basquete praticado por seus quatro times e por sediar comando de forças militares de grande importância estratégica. Vem-me à lembrança e com facilidade o aeroporto de Camobi, 7º RI, 5º RAM, 3º BCCL, além da Brigada Militar comandada por um coronel. Na cidade a 3ª Divisão de Exército (3ª DE) já completou111 anos de história. As forças do exército eram comandadas por um general, hierarquicamente. situado entre os postos de coronel e de general de divisão.

General tem estrelas?

O distintivo, genérico, dos titulares da patente de general - igual ao dos antigos tenentes-generais e generais de divisão - era composto por três estrelas 

O que é um general 5 estrelas?

Têm cinco estrelas o almirante (Marinha), o marechal (Exército) e o marechal- do- ar (Aeronáutica). São militares com obrigatória participação em guerra. Quatro estrelas são dadas aos almirantes de esquadra, generais de exército e tenentes-brigadeiro. Santa Maria tinha um general 4 estrelas.

Rudolf Lange

Mas, o Cine Independência virou shopping popular, abrigando os camelôs que vagavam pelas ruas da cidade. Ao invés do Gordo e o Magro, Roy Rogers, Durango Kid, Carlitos, mercadorias piratas do Paraguai.

O Cine-Theatro Imperial, na segunda quadra da Dr. Bozano, transformou-se numa filial das Casas Eny de calçados. Ao invés das grandes peças de teatro que Edmundo Cardoso apresentava uma vez por ano com sua Escola de Teatro Leopoldo Froes...tênis, sandálias, sapatos e hawaianas. Claro, hoje existem as salas de cinema dos shoppings da cidade, com cerca de 80 lugares cada uma. Nada semelhante aos 1200 lugares do Cine Independência dos bons tempos. Também sumiram espetáculos de teatro com Maria Della Costa, Sandro Polônio, Procópio Ferreira.

Quem da faixa etária dos 60 ou 70 anos ainda lembra do tradicional matinê da 1,15 como era chamada a sessão dominical das 13,15 horas do Cine-Theatro Imperial? Passava filme de mocinho (nome dos filmes de faroeste americano), seguido de um seriado (cada domingo exibia um capítulo de longa história de aventuras, que chegava a durar dois meses). Na frente do cinema, antes das sessões, ocorria o tradicional troca-troca de gibis (revistas em quadrinhos dos heróis da época). Ou então, troca de figurinhas do famoso Álbum das Balas Rute.

Seu Aurélio

Lanterninha do Cine-Theatro Imperial, famoso pelo duro que dava na gurizada durante as sessões. Em sua homenagem existe o Cine-Clube Lanterninha Aurélio. A patota da rua Acampamento tinha seu Código de Honra. O Código exigia que novos moradores da região deveriam obrigatoriamente atravessar longo duto subterrâneo de águas pluviais da Rua Tuiutí, local sem qualquer iluminação e habitado por sapos enormes e, às vezes, outros bichos. Para provar que se era homem todos nos submetemos à prova para não sermos apontados em plena Rua do Acampamento como frescos, afeminados. Corria o ano de 1952 destinado a se tornar o mais célebre de nossa história como alunos do Colégio Marista.

Os bailes

Os grandes bailes eram  no Caixeiral (14.02.1886) e no Comerciário. Nos fundos do Caixeiral o Corintians, time de basquete da cidade, tinha sua quadra dotada de refletores para jogos noturnos..

Galináceo no matinê dominical do Cine Imperial

Um dos nossos colegas, aí na casa dos 16, 17 anos apostou que entraria no matinê com uma galinha e que seu Aurélio não perceberia. Não só entrou com a galinha, bico laboriosamente amarrado e por debaixo do grosso casacão de inverno), como sentou-se na primeira fila de cadeiras do mezanino (a parte superior da sala de exibição). Na hora mais romântica do filme, quando o mocinho pede a mão da moça em casamento, a galinha foi atirada lá de cima. A coitada, agora com bico desamarrado,  voou como pôde e foi se estatelar nas cabeças da gurizada lá embaixo. Um Seu Aurélio enfurecido interrompe a sessão no meio da algazarra generalizada. Luzes acesas, sobe ao mezanino. Queria porque queria saber quem tinha jogado o galináceo. Amedrontado,  nosso anônimo herói deixou o cinema debaixo dos aplausos da seleta assistência e ainda ganhou a aposta: 6 guaranás Cyrillinha, famoso refrigerante da época, fabricado em Santa Maria mesmo.

Por Henrique Packter 13/11/2020 - 08:55 Atualizado em 13/11/2020 - 08:57
Cine Independência com a velha sede de A Razão ao lado

Residi em Santa Maria até 1953, quando conclui o Curso Científico no Colégio Marista, e ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná.  Havia dois cinemas de rua na cidade na década de 50, : Independência e Imperial, este o cinema da elite. Claro, tivemos antes outros cinemas, como Theatro Treze de Maio onde ocorreu a primeira sessão cinematográfica da cidade em 17.2.1898 graças a Germano Alves responsável por levar a magia do cinema a várias cidades gaúchas. A programação do Theatro, publicada no jornal O Combatente daquele dia, dava ênfase à estreia do Cinematógrafo Lumiére. 

Até início da década de 1910 apresentações de filmes na urbe eram em lugares improvisados, surgindo em 1908 espaço que mantinha programação contínua: o Cinematógrafo Seyfarth, esquina da rua dos Andradas com Rio Branco, antiga Cervejaria Seyfarth. Cinema Recreio Ideal (1911) segundo andar do Theatro Treze de Maio teve curta existência.

O Cine-Theatro Coliseu Santamariense (dezembro de 1911), construído em acomodações de madeira ofuscou o nosso Treze de Maio. As projeções vão ganhando espaço sobre as apresentações teatrais e musicais. Apenas em 1918, surge Cine Odeon, com capacidade para 350 pessoas, localizado onde fica a Caixa Econômica Federal no calçadão, durando apenas 1 ano. Nessa época e até início da década de 30  possuíamos cinema ao ar livre. 

Em 1935 foi inaugurado o Cine-Theatro Imperial que funcionou até 1979, 44 anos,  quando os herdeiros do proprietário do prédio, alugado à empresa Cupello, também proprietária do Cine Independência, retomam o prédio. Já em 1937, surge o novo Cinema Odeon, numa sala do Clube Caixeiral, de mesmo dono do Coliseu, ambos fechados em 1940.

O Cine-Theatro Independência abriu suas portas em 15.8.1922 nos fundos da Praça Saldanha Marinho e recebeu este nome em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, 48m de profundidade por 40m de frente. Exibia filmes mudos, o cinema sonoro é de 1926. Suas primeiras exibições de filmes mudos contavam com acompanhamento de música orquestral. Possuía duas entradas, uma pela praça (para a elite da cidade) e outra na lateral da rua do Comércio para os menos abastados. Em 1946, este cinema e o Imperial são adquiridos pelo Circuito Cinematográfico Gloria, que foi o responsável pela inauguração do Cine Glória, no local onde ficava o antigo Cine Coliseu, rua Roque Calaje, tornando-se detentor das três salas de cinema da cidade.

Cine Glória, na década de 90, chegou a ter 2.000 cadeiras, passando a 1.350 poltronas estofadas dobráveis, aumentando a área do palco para teatro. Feito maior da petizada nas sessões vespertinas era burlar a vigilância do lanterninha e assistir ao filme do mezanino e dê-lhe jogar pipocas no público do andar inferior. Já próximo de encerrar suas atividades, o Independência  apresentava peças e filmes adultos. Sua última sessão (27.9.1995, 73 anos de atividade), às 8:30h. Depois disso o prédio abrigou templo religioso, mesmo com a pressão da população para preservar esse patrimônio cultural.

Cine Independência (1922, ano de sua fundação)

O Cine-Theatro Independência abriu suas portas em 15.8.1922 nos fundos da Praça Saldanha Marinho e recebeu este nome em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil, 48m de profundidade por 40m de frente. Exibia filmes mudos, o cinema sonoro é de 1926. Suas primeiras exibições de filmes mudos contavam com acompanhamento de música orquestral. Possuía duas entradas, uma pela praça (para a elite da cidade) e outra na lateral da rua do Comércio para os menos abastados. Em 1946, este cinema e o Imperial são adquiridos pelo Circuito Cinematográfico Gloria, que foi o responsável pela inauguração do Cine Glória, no local onde ficava o antigo Cine Coliseu, rua Roque Calaje, tornando-se detentor das três salas de cinema da cidade.

Cine Glória, na década de 90, chegou a ter 2.000 cadeiras, passando a 1.350 poltronas estofadas dobráveis, aumentando a área do palco para teatro. Feito maior da petizada nas sessões vespertinas era burlar a vigilância do lanterninha e assistir ao filme do mezanino e dê-lhe jogar pipocas no público do andar inferior. Já próximo de encerrar suas atividades, o Independência  apresentava peças e filmes adultos. Sua última sessão (27.9.1995, 73 anos de atividade), às 8:30h. Depois disso o prédio abrigou templo religioso, mesmo com a pressão da população para preservar esse patrimônio cultural.

Interior do Cine Independência na reinauguração em 1956

Desde 1959 Santa Maria ficara apenas com o ótimo Cine Glória, contando com mais de 2.000 lugares em suas duas salas. Pouca demora e a cidade fica órfã de cinema, com o encerramento das atividades do Glória em 1997 exibindo 2 filmes em sua última semana. A festa do vestibular de 1997 foi lá, utilizando algumas poucas cadeiras remanescentes, um misto de alegria e tristeza.  O que parecia ser o ponto forte do cinema, quantidade de lugares e tamanho, se tornou um empecilho. As salas não lotavam em consequência das locadoras de VHS e pela falta de segurança no entorno dos cinemas. Não é de hoje que a praça Saldanha Marinho à noite  não é segura. A  cidade amargou quase um ano sem cinema até a inauguração do Cine Big, no Shopping Monet, com míseros 400 lugares.

Por Henrique Packter 09/11/2020 - 17:33 Atualizado em 09/11/2020 - 17:33

Os mais antigos moradores de Santa Maria foram os índios Minuanos. Italianos, alemães, portugueses, espanhóis, indígenas e negros escravos chegam depois e também compõem as etnias que originaram a população da cidade. A lenda indígena da origem do município conta com o bandeirante Morotin que se casa com a índia Imembuí, da tribo dos Minuanos..

Às margens do Arroio També conviviam em paz duas tribos, Tapes e Minuanos, estes habitando região do município conhecida como Coxilha do Pau Fincado - mais para a região da campanha. Os Tapes, em maior número, viviam para os lados da serra.

O lugar era chamado pelos índios de Ybitory-Retan (terra da alegria). Ibotiquintã, esposa do cacique dos Minuanos, deu à luz menina que chamou de Ymembuí (filha das águas). Mais tarde, mocinha, Imembuy passa a ser assediada pela rapaziada  e um destes jovens índios, Acangatú, rejeitado pela beldade, abandona a tribo.

É quando chega tropa de bandeirantes portugueses para demarcar fronteiras que é emboscada e dizimada pelos Minuanos. Os índios poupam apenas dois sobreviventes. Um deles é mandado de volta para contar a desgraça ocorrida com os demais; Rodrigues, o outro, seria sacrificado, em ritual sangrento.

Rodrigues, depois Morotin deve escolher: ou casa, ou morre

Escolhe casar, claro. Rodrigues era português, mas não tanto assim. Conquistando  e casando com Imembuy livra-se da morte. Rodrigues recebe, então, nome indígena, Morotin. Tiveram um filho, José, que, brincando, perde-se na mata, sendo salvo pelo desaparecido Acangatú que se decide por retornar à tribo.

Portugal e Espanha firmam tratado, acordando a devolução de terras ocupadas ilegalmente por ambas as partes (Tratado Preliminar de Restituições Recíprocas, 1777). Em 1787, comissão de espanhóis e portugueses, passa pela região e divide o território em sesmarias. Francisco de Amorim recebe gleba onde hoje se situa a cidade, depois comprada pelo Pe. Ambrosio José de Freitas.

O acampamento da comissão demarcadora de limites entre terras de domínio espanhol e português, cria a cidade (1797). O engenheiro e astrônomo José Saldanha Marinho chefiava a comissão demarcadora. Desentendimentos relativos aos limites dos dois territórios e desavença com o comissário espanhol, D. Diogo de Albear (1797), faz a 2ª Subdivisão Demarcadora, comandada pelo Cel Francisco João Róscio, retornar a Santa Maria. A comissão monta acampamento onde hoje está a Praça Saldanha Marinho e a Rua do Acampamento. Esta, fica conhecido por Acampamento de Santa Maria e, mais tarde, Acampamento de Santa Maria da Boca do Monte, nome dado pelos espanhóis, por ficar na entrada da serra que leva a São Martinho.

Assim, a Rua do Acampamento surge no local dos ranchos dos demarcadores. Depois vem a Rua Pacifica, atual Dr. Bozano, a mais importante artéria comercial da cidade e que levava ao Passo da Areia. O 28º Batalhão de Estrangeiros chega para lutar na Guerra Cisplatina (1828). Em 17.11.1837 Santa Maria passou a freguesia e a praça era a Praça da Matriz. Intensifica-se o povoamento da região, muitos militares optam por ficar na freguesia após baixa da tropa. Colonos vindos das bandas de São Leopoldo iniciam o ciclo da colonização alemã. Santa Maria, elevada à condição de Vila,  separa-se de Cachoeira do Sul (1857). Criado em 16.12.1857 o município é instalado em 17.5.1858.

Por Henrique Packter 03/11/2020 - 09:25

Na madrugada de domingo, 27 de janeiro de 2013, o mundo foi abalado por uma das mais espantosas tragédias ocorridas em casa de diversão ao longo da história. No incêndio da boate Kiss em Santa Maria, RS, rua dos Andradas 1925, morreram 242 pessoas e 680 outras ficaram feridas.

Há relatos e fotos chocantes da tragédia que roubou vidas jovens, a maior parte delas na casa dos 20 anos. Os corpos das vítimas, pisoteados, calcinados e irreconhecíveis, amontoavam-se por toda a parte. À destruição somou-se horror e sofrimento.

A notícia propagou-se e alcançou o mundo todo num instante.

Hoje, identificados e enterrados os mortos cuida-se ainda dos sobreviventes e de seus familiares aniquilados e traumatizados para todo o sempre. A sociedade busca ainda hoje respostas para perguntas que atormentam a cidade: Algum engenheiro assinou o projeto fatídico da boate? Quem, na Prefeitura e nos Bombeiros, autorizou o funcionamento da casa noturna? Qual a justificativa para o disparo efetuado por músico(s) de artefato incendiário em ambiente confinado e apinhado de pessoas? Porque extintores não foram utilizados e quando o foram não funcionaram? Como entender que o teto de uma boate-armadilha seja revestido por material inflamável?  Quem autorizou essa alteração? Qual a lotação da casa e quantas pessoas lá se encontravam quando da tragédia? Quantos funcionários da casa sobreviveram? Quem eram na realidade os proprietários da casa? Seria verdade que menores tiveram acesso à casa e consumiram bebidas alcoólicas?

Uma tragédia anunciada, resultado de prevenção negligenciada pelos órgãos públicos, funcionários e autoridades responsáveis. Pela segunda vez na história os olhos do mundo voltavam-se para Santa Maria. A primeira vez ocorrera 61 anos antes em 1952 e por razão exatamente oposta, um acontecimento hilário, inédito. É desse acontecimento que me ocuparei, porque de tragédias a humanidade está saturada.

Santa Maria, RS

Na foto o centro da urbe, a famosa primeira quadra da rua Dr. Bozano, fechada ao trânsito de veículos nas noites de sábado para footing de jovens estudantes, quando o tempo permitia.

Santa Maria já foi reconhecida como cidade ferroviária ou cidade coração do Rio Grande por estar situada em local estratégico, entrecruzamento de ferrovias, transbordo obrigatório para que pessoas da fronteira, do norte do estado gaúcho alcançassem POA. Aos nossos vizinhos Uruguai e Argentina também se ia pelo trem na minha época de estudante, anos 40 e 50. Rodovias inexistiam ou eram precárias. Santa Maria se tornou o maior entroncamento ferroviário do estado e talvez do país, ponto de encontro de comerciantes. A Avenida Rio Branco, que tinha no seu início a Gare da Estação, era nesse particular a via mais importante da cidade.

Livros registram a saga dos ferroviários gaúchos. Em 2007, lançamento de Fragmentos da História Ferroviária Brasileira e Riograndense, de João Rodolpho Flores. Numa das  Feiras do Livro santa-mariense foi lançado  Trabalhadores da V.F.R.G.S. – profissão, mutualismo, cooperativismo,  iniciativa editorial  da Câmara de Vereadores da cidade (Lei do Livro). Experiências de trabalho e de cidadania dos trabalhadores ferroviários do estado entre  1898 e 1957.

Com o declínio do transporte ferroviário e a ocupação ocorrida pelos investimentos em educação, a cidade passa a ser reconhecida como cidade universitária.  O professor e mais tarde reitor da Universidade de Santa Maria, José Mariano da Rocha Fº tem tudo a ver com isso. Em 1992, Marianinho, como era conhecido, recebeu o título de cidadão santa-mariense do século. Em 1999, com votação consagradora, foi eleito Gaúcho do Século, sendo o mais votado na Promoção da RBS TV/Zero Hora que escolheu 20 gaúchos que marcaram o século 20.

Santa Maria tem hoje 32 mil estudantes universitários em 7 Universidades. São 167 cursos de graduação, 51 de mestrado, 32 de doutorado, 4.106 professores  e 510.209 livros nas bibliotecas.  

Por Henrique Packter 28/10/2020 - 10:31 Atualizado em 28/10/2020 - 10:31

Rogério Martorano

As três maiores matérias que  produziu foram pauta do Jornalista Davi Nasser que indicou as séries: O natal de minha infância, Quando eles eram crianças, com 12 grandes personalidades do país e Solteirões famosos. 

Estabeleceu laços de amizade com o presidente JK e Carlos Lacerda, governador do RJ. Deste foi assador oficial em seu sítio de Petrópolis, o sítio do Alecrim, Rocio,  onde preparava pratos típicos da região sul como o carreteiro e entrevero. A casa de campo de Lacerda vizinhava àquela onde moravam Lota de Macedo Soares e a poeta americana Elizabeth Bishop. Lacerda frequentava o círculo de amizades das duas, que eram lacerdistas, embora não se encaixassem no pesado eufemismo que o cronista Antônio Maria usou, as mal-amadas, para satirizar as mulheres de classe média, em geral casadas e católicas, que se voluntariavam às pencas para fazer campanha por Lacerda no RJ.

Antes de se tornar o símbolo máximo da direita ideológica no panorama político da segunda metade do século passado, Carlos Lacerda foi um promissor militante de esquerda no RJ. Não apenas simpatizante do comunismo, como tantos jovens na década de 30 e nas seguintes, mas um ativista precoce que se destacou nas manifestações de rua e logo estaria no centro dos acontecimentos.

Durante o período da ditadura militar, Rogério tinha passe livre das forças armadas, auxiliando muitos jornalistas presos na época. Recebeu diploma de honra militar e medalha Marechal Hermes, maior condecoração do exército. Foi agraciado com o título de cidadão carioca pela Assembleia Legislativa do RJ.

Em 1972 publicou matéria especial sobre Lages,  a capital do papel, reportagem de mais de 30 páginas. Lançada no RJ com a presença do então Prefeito lageano Vidal Ramos.

Escreveu durante dez anos na Gazeta do Povo do Paraná toda quarta-feira, coluna sobre política e economia de SC. Disponibilizou material para Folha de São Paulo, Estadão, Jornal do Brasil e Jornal O Globo.

Residiu em Joinville-SC onde conheceu mulher que renderia histórica reportagem, mas ela se recusava a conceder entrevistas. Tornaram-se amigos e logo ela conta sua história. Chamava-se Fryderica Michailiszm e foi namorada de Adolf Hitler, aos 16 anos de idade. Era sua última matéria no Cruzeiro, último exemplar a circular em 1978. A edição teve repercussão internacional e ainda é exposta em museus pelo mundo.

Turismo

Numa de suas viagens com Chateaubriand voaram sobre a Serra do Rio do Rastro e Coxilha Rica, com destino a POA. Rogério apontou as belas paisagens da Serra Catarinense e seu potencial turístico. Em 1992 procurou os governadores do  RS e de SC e os prefeitos da região. Idealizou a rodovia Caminhos da Neve que integraria dois polos de turismo, Serra Catarinense e Gaúcha. Ideia de repercussão fantástica, a estrada ainda não foi concluída.

O abominável homem das neves

SALIM MIGUEL, de  quem tive o privilégio da amizade, contava-me que a cada inverno Rogério Martorano retornava de São Joaquim para o RJ  sobraçando fotos e cartazes alusivos às nevascas na serra catarinense. Tantas foram as fotos e reportagens que acabou conhecido como o ABOMINÁVEL HOMEM DAS NEVES

A SEGUIR: A GUERRA DO PENTE e O PRIMEIRO HOMEM A LAÇAR UM AVIÃO EM PLENO VOO.

Por Henrique Packter 23/10/2020 - 09:05

É aqui e agora que se revela o porquê de intitular-se essa série de artigos de O ABOMINÁVEL HOMEM DAS NEVES.  

ROGÉRIO MARTORANO

A saga de ASSIS CHATEAUBRIAND na revolução de 30, quando escapa de ser fuzilado em São Joaquim/ SC,  está detalhada no livro de Fernando Morais, CHATÔ, O REI DO BRASIL, que acabei por sintetizar. Salim Miguel, o grande e talvez maior escritor catarinense de todos os tempos, tinha um final barriga-verde para essa história, final esse que passo a relatar e que envolve o jornalista ROGÉRIO MARTORANO, filho de César Martorano, o homem a quem CHATÔ ficou a dever a vida.
Rigério é joaquinense, mas reside em Florianópolis. Jornalista aposentado, muito contribuiu para tornar conhecida sua cidade natal. Trabalhou por 20 anos na Revista O Cruzeiro de Assis Chateaubriand.

Contando Rogério sete anos de idade, seu pai, César Martorano, era proprietário de uma emissora de rádio na pequena São Joaquim, o que despertou em Rogério insuspeitada veia jornalística. 

OS INÍCIOS

Aos 18 anos Rogério já perseguia o sonho de ser jornalista. Ouvia seu pai falar de Chatô e decide ir ao RJ fazer o alistamento militar  e procurar o célebre proprietário da revista O Cruzeiro. Em janeiro de 1959 chega à cidade maravilhosa e vai à casa de Chatô. 1959 é o ano em que o autor dessas mal-traçadas e seu primo, Egídio Martorano, futuro prefeito de São Joaquim, deputado estadual por SC, secretário de Estado e o autor destas mal-traçadas, nos formamos na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná.

CHATÔ CONHECE O FILHO DE SEU SALVADOR

Ao identificar-se como catarinense de São Joaquim, filho de César Martorano, Chateaubriand, levantou-se da cadeira e beijou-lhe a testa. Contou que seu pai salvara-lhe a vida; o que fazia no RJ? – Queria ser jornalista declara Rogério. Chatô promete fazer dele um jornalista e hospeda-o em sua casa por cerca de um ano e meio.

NA REVISTA O CRUZEIRO

Conheceu grandes nomes do jornalismo da época num almoço: Armando Nogueira, Davi Nasser, Luiz Carlos Barreto, Raquel de Queiroz, fotógrafo Jean Manzon... Na redação da revista O Cruzeiro inicia-se no jornalismo. Até chegar a repórter era saudado como foquinha, foca.

Divulgou de maneira maiúscula São Joaquim, elaborando reportagem sobre a neve, seu cenário suíço no Sul do Brasil. A partir daí todos os anos a revista estampava  em suas páginas matérias sobre a neve.

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