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Boris Pakter, primeiro broncoesofagologista

Por Henrique Packter 28/09/2021 - 08:30 Atualizado em 28/09/2021 - 08:32

Há 3 anos, em 25.8.2018 morria em Criciúma o ORTOPEDISTA E TRAUMATOLOGISTA JOÃO APARECIDO KANTOVITZ.

A cidade acordou naquele dia com a notícia da morte do profissional médico que serviu a cidade e o Estado por mais de 50 anos. JOÃO nasceu em Rio Claro, SP, em 23.11.1937. Chegou a Criciúma em 1965, praticamente na mesma data da chegada de Boris. Era homem de muitos instrumentos. Médico, granjeou respeito de todos através de sua arte na profissão. Operou atletas de toda as partes sempre buscando o melhor para seus pacientes. Músico, participou da Turma da Seresta que se exibia especialmente nas rádios da cidade. Jovem, foi hábil jogador de futebol. Devo a ele a recuperação de minha saúde, vítima que fui em 2006 de acidente automobilístico na parte não duplicada da BR101, localidade de Bentos, na Laguna.

Casado com Elohá, João deixou dois filhos, Paulo César de Jesus e Júlio César, além de uma neta. 

AINDA ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS 

Quando ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, um dos primeiros odontólogos de Criciúma faleceu no Hospital da Laguna, por trauma crâneoencefálico produzido por acidente rodoviário próximo a Imbituba, quase no mesmo local em que viria a morrer muitos anos depois DIOMÍCIO FREITAS, trabalhava em Criciúma nosso primeiro Ortopedista, OTÁVIO ROBERTO CARNEIRO RILA, hoje aposentado e residindo em Florianópolis.

Após o óbito de Alexandre, ocorrido depois de uma noite de cuidados meus e de RILA, assistidos de tempos em tempos por PAULO CARNEIRO, dos maiores médicos que a Laguna e o Estado já abrigaram, retornei à Praia do Mar Grosso.  ALEXANDRE morreria em 1963 quando os ventos políticos sopravam forte. Na orla, nem tanto. Domingo, dia de sua morte, algumas poucas horas após o amanhecer, um monomotor aterrissara na praia trazendo DAVID LUIZ BOIANOVSKY e NELSON VENTURELLA ASPESI, este neurocirurgião em Porto Alegre. BOIANOVSKY fora buscá-lo diante da gravidade das lesões cerebrais que ALEXANDRE HERCULANO sofrera e das quais morreria na mesa de cirurgia do Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos da Laguna.

Eu estava formado há 3 anos e já contabilizava perdas consideráveis pelas mortes de familiares e amigos. A vida é breve, a ocasião fugaz, a experiência é vacilante e o julgamento é difícil, já dissera Hipócrates, mestre de um amanhã que nunca chega. Nossa vida se orienta por uma antevisão do futuro e um retrospecto das tradições.

Uma espécie de folhagem, espojando-se na água mal amanhecida do céu recém-lavado, trazida por uma onda mais forte acomodou-se entre as pedras e a areia. Leve aragem, canção do vento aprisionado, varava as folhagens. Mão em pala protegendo os olhos, mirava o sol longínquo, o sol surgente. Recuando para um dia perdido na memória, relembrava miúdas aventuras do dia-a-dia morno e cinza. Já nuvens pretas, carregadas, corriam do sul, velozes e túrgidas, encobrindo sumidouras estrelas arredias e a pálida lua. Mas, lá em cima, sol pleno se anunciava.

Foi isso que escrevi naquele mesmo dia ao chegar em Criciúma.

MANSO DE CANGA

Boris e eu atendíamos um paciente em nosso antigo consultório no HSJ, ele mal chegado de Santa Maria. Eram muitos os clientes da serra catarinense que nos procuravam, especialmente de Bom Jardim e de São Joaquim. Era de ver com que destemor os habitantes da serra, às vezes com tempo cachorro (como diziam), desciam por leito da estrada coalhado de imensas pedras que jorravam a miúde das alturas. Cachoeiras repentinas despejavam suas águas diretamente sobre os veículos. O concreto viria bem mais tarde, com Espiridião Amin.

Quando seu Eleutério entrou na sala de exames, logo sentimos o drama. Era alto, imenso. As roupas que usava para proteção contra o frio e chuva faziam-no maior ainda.

-Buenas!

- Buenas, seu Eleutério!

Depois das perguntas iniciais sobre sua saúde e antecedentes mórbidos, trocas de gentilezas, informações sobre quem nos recomendara, estado de saúde de conhecidos e colegas, a inevitável pergunta sobre o Frescal joaquinense no espeto, do Viterbo e de seu fiel assador, seu Nascimento. Aí, então, começava o exame. Mas, não sem antes uma indagação:

- Ainda que mal pergunte que coisa o senhor anda fazendo aqui em Criciúma, com esse tempo?

Quem já foi a Oftalmologista lembra daquele equipamento em que o paciente apoia queixo e encosta a testa tendo a visão deslumbrada por forte facho de luz. É a lâmpada de fenda, valioso instrumento para exame biomicroscópico do olho. Não havia jeito de seu Eleutério acomodar-se na máquina, como ele dizia. Boris ao ver a dificuldade toda correu a auxiliar. Debalde, o tamanho do cliente era obstáculo e tanto. Depois de bom tempo e de tentativas sem conta, fronte suada, seu Luiz admitiu:

- Os doutores me desculpem, mas é que não sou muito manso de canga...  

(CONTINUA BORIS PAKTER PRÓXIMA SEMANA)

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