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DEIXE AQUI SEU PALPITE PARA O JOGO DO CRICIÚMA!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Arthur Lessa 19/08/2021 - 12:28 Atualizado em 19/08/2021 - 13:13

Após duas Grandes Guerras (ou 1ª e 2ª Guerras Mundiais), o mundo estava em frangalhos, tanto física quanto economicamente. O capitalismo precisava ser reconstruído.

Com este objetivo foram realizadas as conferências de Bretton Woods (cidade localizada em New Hampshire, EUA), definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional. Nesses encontros foram estabelecidas, em julho de 1944, as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. 

Entre os resultados desse novo sistema estão a criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, operantes desde 1946. Além dessas instituições, ficou definido o dólar americano como moeda padrão para transações internacionais, a indexação da taxa de câmbio entre o dólar e as demais moedas, com limite de variação em bandas de 1%, para cima ou para baixo; e criação do lastro em padrão-ouro, onde cada dólar valeria o equivalente a 35 gramas de ouro. Com o chamado Padrão Dólar-Ouro, era possível trocar notas de dinheiro pelo equivalente em ouro no caixa do banco.

Segundo Tiago Reis, da Suno Research, "as medidas aprovadas em Bretton Woods funcionaram como previsto durante 20 anos. Porém, a partir da segunda metade da década de 60, vários problemas começaram a surgir no sistema, principalmente pela degradação das finanças norte-americanas. Ou seja, com a desvalorização do dólar, indiretamente todos os países que o utilizavam passaram a ser afetados".

Menos de 30 anos depois, em 15 de agosto de 1971, quando os bancos centrais europeus mostraram a intenção de resgatar, em ouro, o máximo possível de seus inflados estoques de dólares, o presidente norte-americano Richard Nixon, ao mesmo tempo em que impunha um congelamento de preços e salários nos Estados Unidos, unilateralmente e sem prévio aviso, pôr fim ao que restava do padrão-ouro, acabando com a convertibilidade direta do dólar em ouro e quebrando o sistema de Bretton Woods (o "Choque Nixon").

O sistema foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes.
Para entender melhor, sugiro o vídeo abaixo do Fernando Ulrich com a história do dinheiro e, principalmente, sobre Bretton Woods.

Por Arthur Lessa 05/08/2021 - 18:18

Eu defendo há anos que o caminho para que os cidadãos entendam e participem da gestão pública é voltar alguns passos e simplificar.

A minha simplificação para esse tema é o condomínio, que pode ser um prédio, um loteamento, um grupo de empresas ou até um fundo de investimento. O prefeito é o síndico, a Câmara é o conselho, os contribuintes são os moradores. O mesmo vale para governadores e assembleias; presidente e Congresso.

Ai vão as comparações

O síndico tem como função cotidiana receber a taxa de condomínio de cada unidade (imposto de cada empresa, por exemplo) e administrar os recursos arrecadados para pagar as contas geradas pelos serviços contratados (serviços públicos) para o bom funcionamento do condomínio (cidade). Entre esses serviços está a segurança (polícia), a zeladoria (garis e coleta de lixo), água, energia e outros. Em resumo, deixar tudo funcionando da porta pra fora das unidades, seguindo as diretrizes (leis) do estatuto (constituição / legislação) do grupo.

Na função secundária entra a política interpessoal, com as reuniões de condomínio. Nesses encontros, que podem ser facilmente comparados com as sessões legislativas, são discutidas questões como possíveis mudanças de regras, que pode ser autorizar ou não, como animais de estimação; contratação de serviços como pintura da fachada do prédio; ou definição de padrão para fechamento de sacadas.

E os comparativos seguem

Nessas reuniões pode-se definir, inclusive, que tipo de decisão deve ser tomada apenas pelos membros do conselho (câmara de vereadores) e que decisões precisam ser pautadas em reunião geral (plebiscitos).

Há também decisões que podem atender apenas parte dos contribuintes, como a autorização de instalação de CNPJ em algum apartamento. Mas, se há uma votação que aprova pelos parâmetros definidos em estatuto (maioria simples, maioria absoluta, unanimidade...), faça-se cumprir.

E, é claro, assim como o prefeito, o síndico é eleito pelos contribuintes.

Simples, não? Não é o que esperamos de um gestor público?

Vamos olhar para o Executivo, que vai da prefeitura à presidência. Aí podemos colocar a discussão de tamanho de Estado. Estado Mínimo, atendendo apenas educação, saúde e segurança, ou maior, atendendo também Previdência, FGTS, auxílios sociais, empresas públicas e por aí vai.

Podemos ter uma entrega mínima de serviços públicos, que tende a afetar principalmente quem necessita deles, mas retira dos trabalhadores e empresas poucos recursos, deixando mais para investimento individual. Podemos, por outro lado, ter um Estado que cobra uma fatia grande das receitas geradas, mas entrega muito do que a população demanda, tirando dos orçamentos estes custos fixos, deixando o que resta mais livre para uso. 

O problema que enfrentamos no Brasil atualmente é que pagamos pelo Estado grande e recebemos menos que o Estado Mínimo ofereceria. Pagamos como se recebêssemos educação pública, mas pagamos por escolas particulares. Pagamos pela saúde pública, mas contratamos planos de saúde. Não que não existam os serviços, nem que sejam desnecessários, mas a relação de entrega pelo custo é absurdamente discrepante.

Como resolver então, cara pálida?

Vou sugerir algumas medidas baseado única e exclusivamente na minha experiência profissional e de vida.

Redistribuição de renda

Não entre pessoas, mas entre Executivos. Ninguém mora no Brasil. Ninguém mora em Santa Catarina. As pessoas moram nas cidades. Sendo assim, não faz sentido o pacto federativo atual que define que a maior parte dos impostos vá pra Brasília (que foi fundada no meio do nada para fugir da pressão popular) para depois voltar “descontado” para os Estados e Municípios, sendo que esses precisam pedir com pires na mão migalhas que sobram. É como se você entregasse metade do seu salário para o síndico e precisasse pedir pra ele o suficiente para pagar a luz do seu apartamento.

Simplificação dos impostos

Não tem motivo para o seu síndico saber o que você faz, de onde vem a sua renda, e levar isso em conta para definir a sua taxa de condomínio. O padrão normal é basear o seu pedaço do rateio no tamanho da sua unidade. Em prédios com mais de um tamanho de apartamento, paga mais quem tem o espaço maior. Estamos assistindo a discussão da Reforma Tributária e vendo que a simplificação apresentada ficará muito aquém da prometida. Mais que pagar impostos gigantescos, nem sabemos direito o que estamos pagando.

Meu objetivo nessa semana foi estimular a reflexão, principalmente levando em conta que temos eleições no ano que vem e, assim como na Bolsa, quando deixamos a paixão vencer a razão na escolha, o prejuízo é certo.

 

Por Arthur Lessa 30/07/2021 - 12:39 Atualizado em 30/07/2021 - 12:54

Gestor de investimentos, com atuação em family offices e wealth management, Renoir Vieira é um dos mais conhecidos contrarians do Mercado Financeiro brasileiro (mesmo não se considerando um). Talvez seja ele um dos mais autênticos influenciadores do setor, com opiniões fortes e sempre bem embasadas.

Tive a oportunidade de conversar com ele sobre diversos assuntos como a tese do "Short em Itaú" de 2019, suas denúncias contra golpistas nas redes sociais , a dinâmica do mercado atual, criptomoedas, relógios, arte e NFTs.  

Sobre a dinâmica do mercado, ele defende que o ritmo de inovação e sucessivas disrupções que acompanhamos em todos os setores derrubam (ou questionam, ao menos) a tese de investimento com foco no longo prazo defendida por investidores como Peter Lynch e Warren Buffet. "Qualquer um pode ser disruptado hoje em dia. Então casar com empresas não dá mais certo".

Confira abaixo a entrevista na íntegra

 

Por Arthur Lessa 29/07/2021 - 18:06 Atualizado em 29/07/2021 - 18:06

Sem muita convicção sobre o que escrever nessa semana para o Toda Sexta, me peguei agora há pouco montando minha equipe do Cartola FC para a próxima rodada do Brasileirão e lembrei do João Luiz Braga, sócio e analista de investimentos da gestora de fundos Encore Asset. (Talvez eu pense muito em mercado financeiro, mas por enquanto não acho que seja caso para tratamento).

Pra quem não conhece, essa espécie de jogo baseado na realidade consiste em montar uma escalação com 11 jogadores de times que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro e torcer para o bom desempenho de cada um deles nos seus jogos. Cada passe, gol, defesa, falta, cartão e afins conta pontos a mais ou a menos para o seu time. Se o Gabigol fizer um gol (+8) e receber um cartão amarelo (-2), ele soma 6 pontos para os “cartoleiros” que o escalaram.

Feito esse esclarecimento, voltamos ao assunto que é o que tem a ver o Cartola com o  mercado financeiro. A resposta é: stock picking (termo em inglês para o ato de escolher a dedo cada ativo que receberá investimento).

Faz anos que participo do fantasy game do Globo Esporte, sem muita disciplina, é verdade. Às vezes esqueço de reorganizar a equipe entre uma rodada e outra. Mas uma prática que sempre mantenho é começar cada equipe do zero.

Antes de preparar o time para a próxima rodada, eu vendo todos os jogadores da rodada anterior, deixando o campinho vazio. A partir daí eu escolho minhas 17 apostas (11 jogadores + técnico + 5 reservas) para os próximos jogos, um a um, posição por posição. É comum que alguns recém vendidos sejam reintegrados. Acontece também que um ou outro se repitam por diversas escalações. Mas a rotina é sempre a mesma. Sai todo mundo e depois eu vejo quem entra.

O Braga, além de um baita nome da gestão de fundos no Brasil, é conhecido pela maneira como a economia comportamental faz parte de suas estratégias, com destaque para os métodos como anula (quando possível) os vieses cognitivos que atrapalham tanto o lado emocional dos investidores.

Uma rotina que adotara em outras gestoras e que é bastante alinhada com essa minha prática cartoleira. Para começar cada dia, os analistas do fundo são orientados a olhar os ativos que tem na carteira e se fazer a pergunta: “se tivéssemos vendido a carteira toda ontem, compraríamos tudo novamente no preço que estão agora?”. Aqueles que forem analisados e a resposta for “sim” devem, de acordo com as premissas da equipe, estar bem precificados e são mantidos. Aqueles que recebem um “não” devem, seguindo as mesmas premissas, estar caros e o ideal é vender para rebalanceamento da carteira.

Obviamente não é possível, como no Cartola, que o investidor venda e recompre carteiras inteiras a torto e a direito, seja por custos de corretagem e impostos, seja pelo trabalho despendido para tal. Mas o raciocínio serve para qualquer tamanho de carteira.

Já tratei de vieses em alguns textos para o Toda Sexta, sendo o mais recente com esse tema o Sobre flores e ervas daninhas, da edição 041. Lá citei Peter Lynch e a ancoragem que nos impede de vender as ações que nos dão prejuízo (como se nos devessem um lucro prometido) e nos incentivam a vender as vencedoras (como se já tivessem cumprido seu papel). Mas ancoragem pode ser platônica também.

Acontece que muitas vezes podemos nos interessar numa ação e não ter convicção (ou dinheiro) para investir naquele momento. Mas o preço fica gravado na mente e vira a âncora de todas as análises futuras. “Eu queria investir na XPTO3 (fictícia), mas quando eu vi, há dois meses, ela estava a R$ 10 por ação. Agora que subiu pra R$ 12 não consigo, perdi o bonde”. Por outro lado, alguém que esteja analisando a mesma ação pela primeira vez (sem âncora) consegue ver que ela está ainda extremamente barata e vale o investimento.

Faça esse exercício. Olhe para o que você tem e se pergunte se compraria de novo pelo preço que vale no mercado. Pode ser com ações, carro, guitarra,...

Só não faça com a esposa ou o marido. Ou faça, mas não me responsabilizo!

Por Arthur Lessa 22/07/2021 - 18:11

Me peguei pensando nisso nessa semana se não estamos assistindo a uma versão 2.0 da Corrida Espacial, sendo que a primeira edição foi protagonizada por Estados Unidos e União Soviética, as duas grandes potências do período seguinte à 2ª Guerra Mundial.

À época o objetivo era imprimir os máximos esforços para superar o outro. Enquanto Iuri Gagarin colocou os soviéticos na dianteira ao ser a primeira pessoa a viajar pelo espaço, em abril de 1961, foram os norte-americanos que levaram o homem à Lua, com Neil Armstrong e companhia em julho de 1969.

Mais de meio século depois, testemunhamos a cores e pela internet, em menos de 10 dias, dois famosos bilionários também levando ao espaço suas ambições. O primeiro foi o britânico Richard Branson, do Grupo Virgin, que teve sua nave VSS Unity “carregada” por um avião até entrar em órbita, onde permaneceu por cerca de 20 minutos e desceu planando de volta à sua base espacial (construída para fins comerciais). Estavam com ele dois pilotos e quatro especialistas. A viagem aconteceu no dia 11 de julho.

Nove dias depois, o americano Jeff Bezos, fundador da Amazon e homem mais rico do mundo, foi parabenizado pelo próprio Branson ao decolar do Texas com um foguete autônomo (sem piloto) e orbitar a Terra por cerca de 10 minutos. Estavam com ele o irmão Mark Bezos, Wally Funk (pioneira do setor aeroespacial de 82 anos) e Oliver Daemen (estudante de física de 18 anos), respectivamente as pessoas mais velha e mais nova a viajar ao espaço.

Várias semelhanças, não?

Primeiramente o fato de estarmos tratando de duas potências. Ao contrário do embate dos anos 60, quando o clima era bélico e as potências eram nações, agora acompanhamos grandes forças financeiras e privadas. Branson tem fortuna avaliada em cerca de US$ 4,3 bilhões, enquanto Bezos acumular patrimônio que supera os US$ 200 bilhões. Ambos podem ser chamados de self-made man, como são chamados aqueles que construíram com os próprios esforços suas fortunas. E por aí vão as semelhanças.

E nem coloquei na conversa o sul-africano Elon Musk, CEO da Tesla e fundador da SpaceX, que já vem lançando foguetes não tripulados há tempos. A disputa na verdade é um triângulo.

Voltando ao período da Guerra Fria, muitos se perguntam por que motivo, depois de chegar na Lua, não fomos (ou a Nasa) mais longe? Depois de tanto esforço para chegar lá, por que se dar por satisfeito?

Ao que tudo indica, o que acontecia era uma guerra de egos. Eram dois machos-alfa medindo forças, trocando ameaças, mostrando suas armas (muitas vezes armas mesmo). Além disso, as pesquisas e desenvolvimento dos foguetes eram extremamente custosos aos cofres públicos.

Agora, pelo que é divulgado, as viagens que assistimos não são o fim em si mesmas, mas o início de planos ambiciosos, mesmo que diferentes.

A Virgin Galactic tem objetivo de trabalhar como uma companhia aérea. Seu voo decolou de uma pista aeroespacial construída por ele mesmo para fins comerciais. Dali devem partir cerca de 400 voos espaciais com passageiros pagantes por ano. Além disso, a Virgin estuda os voos suborbitais para transporte de carga.

Com a Blue Origin, Bezos já adentra mais no que hoje ainda nos soa como ficção cientifica: junto à Nasa, construir assentamentos humanos permanentes na Lua, que orbita a 384 mil quilômetros da Terra.  

Já Musk tem planos parecidos, mas olha mais longe. O objetivo da SpaceX é colonizar Marte, que está a uma distância de cerca de 230 milhões de quilômetros.

Se e como estas três frentes vão evoluir, só o tempo dirá. Mas estamos vendo a história ser escrita. E, diferente de antes, os projetos atuais contam com tecnologia mais avançada e recursos financeiros que não são públicos, não vem de impostos pagos por nenhum povo.

E, se cada um gasta seu dinheiro como quer, melhor viajar para Lua que se empanturrar de caviar e Don Perrignon, não acham?

Por Arthur Lessa 16/07/2021 - 12:50 Atualizado em 16/07/2021 - 12:53

Caracterizado pela baixa volatilidade, os Fundos de Investimento Imobiliário (FII) registrara duas grandes oscilações nos últimos 30 dias por conta das discussões sobre a Reforma Tributária. 

Sobre esse mercado, conversei com Rodrigo Colombo, especialista e investidor de FIIs há mais de uma década, deu detalhes do que viu nesses movimentos e como tem acompanhado o cenário atual do setor.

Confira abaixo a entrevista completa

Por Arthur Lessa 15/07/2021 - 18:02

No mundo do tênis, existe o que podemos chamar de “Santíssima Trindade”, da qual fazem parte o suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic. 39, 35 e 34 anos, respectivamente. Cada um já conquistou 20 Grand Slams, que são os 4 principais torneios da temporada: Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open.  

Cada um tem uma característica marcante. Federer é um jogador clássico, preciso e elegante. Nadal, por outro lado, é conhecido, não à toa, como “Touro Miura”, por ser potente, forte, agressivo. E tem Novak Djokovic, frio, mental, constante. Não grifei a última por acaso. Constância é o foco desse texto.

Assisti com atenção a duas finais com Djokovic nas últimas semanas. Roland Garros e Wimbledon. Os dois Grand Slams mais recentes. No saibro de Paris, o adversário era o grego Stefanos Tsitsipas, de 22 anos. Na grama de Londres o oponente era Matteo Berrettini, de 25 anos. Eis aqui a primeira semelhança: a idade.

Outra semelhança, condizente com a idade, é o fato de serem dois jovens em início de carreira chegam pela primeira vez à decisão de um Grand Slam. Mas o que mais me chamou atenção foi o roteiro dos dois jogos, que começou com número 1 do mundo visivelmente subjulgado pelos “garotos”, ágeis e confiantes.

Tsitsipas começou a tomando conta das jogadas, chegando a ser aplaudido pelo próprio adversário em alguns pontos. Chegou a abrir uma vantagem de 2 sets a 0, o que deixava (aparentemente) óbvio que levantaria o título, já que faltava só mais um para a vitória. Mas o sérvio venceu os três sets seguintes e, numa virada impressionante, foi o campeão.

Berretini não chegou a abrir tanta vantagem, mas também dominou os primeiros pontos do jogo. Rápido, parecia estar em todos os lugares, acertava saques inalcançáveis e era preciso nos golpes. Venceu o primeiro set e foi só. Logo no segundo assistiu Djokovic tomar cada vez mais o controle da partida. 3 sets a 1.

Constância

Tsitsipas e Berrettini chegaram ao topo de suas carreiras até aquele momento. Era a chance da vida, que tinham que agarrar com unhas e dentes. E assim entrar em quadra. Dando tudo de si. E assim colocaram 110% de energia e concentração a cada rebatida. Apresentaram todos os truques assim que possível.

Djokovic, por outro lado, entrou no seu ritmo. Um ritmo impressionante, até pelo jogador que é, mas claramente longe de entregar 100%. A cada set ele se sentia mais à vontade em quadra. A cada período, mais precisão, mais erros forçados do adversário, mais coelhos tirados da cartola. Ao contrário dos adversários, ele guardara os melhores golpes para os momentos de necessidade.

E, o que é mais importante para essa comparação de comportamentos: a cada erro, mais nervosos ficavam os novatos; game após game, Djokovic se mantinha praticamente sem reação, concentrado e fiel à estratégia que já tinha lhe rendido 83 títulos na carreira.

Assim como há corridas que terminam em segundos, demandando potência, uma maratona dura horas. E assim é o tênis. Os garotos entraram no sprint dos 100m rasos. Djokovic entrou no trote dos maratonistas.

E essa mesma constância serve, veja se não, para a disciplina do investimento. Quando começamos queremos colocar nosso dinheiro onde o rendimento for mais intenso, mesmo que o risco seja também maior. Nessa linha muitos entram direto pelo daytrade, opções e afins. Depois de um tempo, muitos desses investidores vão entendendo uma frase bastante conhecida de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett: “O dinheiro grande não está em comprar ou vender, mas em esperar”.

O próprio Buffett defende que “o mercado de ações é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes”.

A lição que tiro de Djoko, Munger e Buffett é simples: calma, foco e constância podem te levar longe!

Por Arthur Lessa 12/07/2021 - 16:04 Atualizado em 12/07/2021 - 16:06

Rendimentos de FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) seguirão isentos de impostos na proposta de Reforma Tributária do Governo. Isso é o que indica a notícia divulgada no início da tarde desta segunda-feira (12) pelo site Poder360. De acordo com a matéria, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, teriam chegado a este acordo e a alteração deve constar no novo relatório que será apresentado na próxima semana pelo deputado Celso Sabino, relator da proposta na Câmara.

No projeto inicial, divulgado em 25 de junho, os rendimentos de FIIs teriam tributação de 15%, assim como acontece hoje com os JCPs (Juros sobre Capital Próprio) das ações. Naquele dia, o IFIX (índice que mede o movimento dos FIIs na B3) caiu 3% em três horas, fechando o dia a -2%. Essa volatilidade, quando se fala em FII, é algo extremamente sensível.  

Uns podem considerar a primeira vitória do Mercado na Reforma Tributária. Outros podem dizer que foi apenas um bode retirado da sala. Independente disso, a notícia de que a tributação dos rendimentos deve sair da Reforma jogou o IFIX pra cima nas últimas horas, com valorização de 1% nas últimas duas horas.

Resta agora aguardar o próximo relatório da Reforma Tributária e ver se a informação se confirma ou não.

Por Arthur Lessa 08/07/2021 - 18:14 Atualizado em 08/07/2021 - 18:15

Conta a lenda em Wall Street que Warren Buffet ligou para Peter Lynch (duas grandes referências do mercado financeiro mundial) pedindo para usar uma frase do livro One Up on Wall Street (de Lynch) em seu comunicado anual da Berkshire Hathaway. Esta frase seria: Vender suas ações vencedoras e segurar suas perdedoras é como cortar as flores e regar as ervas daninhas.

Essa frase, bastante repetida quando se fala na estratégia de investimento buy and hold (comprar e segurar), resume em poucas palavras o que o próprio autor considera o pior erro da sua carreira, marcada por rendimentos anuais de quase 30% ao ano por 13 anos gerindo o fundo Magellan.

Lynch menciona exemplos de ações vencedoras que ele vendeu cedo demais. Home Depot (rede de lojas de departamento voltada principalmente à construção) talvez tenha sido a mais memorável. Lynch vendeu a empresa depois que a cotação triplicou, mas a empresa multiplicou por mais de 50 posteriormente.

Eu conheci essa história há pouco tempo, mas pouco antes tive uma experiência bem parecida. E eu vou contar pra você.

Senta que lá vem a história

Como diria Galvão Bueno, o primeiro semestre de 2020 foi “teste pra cardíaco, amigo!”. Em 22 dias entre fevereiro e março o Índice Bovespa (considerado o termômetro da Bolsa brasileira) desvalorizou mais de 45%, com desvalorização registrada de 14% em um único pregão.

Se o Ibovespa caiu, significa que muitas empresas caíram. Se as que compõe o índice são as principais e viram suas ações derreter, as menores então nem se fala. Entre elas está a Portobello, que havia entrada no meu radar no começo desse movimento. Ticker PTBL3. Empresa catarinense, com bom nome no segmento cerâmico.

Em 24 de janeiro de 2020 sua ação fechou valendo R$ 6,34. Em 3 de abril encerrou o pregão a R$ 1,68. Desvalorização de 73,5% em praticamente dois meses. Em uma empresa que não está no meio de uma crise interna ou algo do tipo, pode ser uma oportunidade.

Me interessei enquanto me preparava para cobrir para a rádio a ExpoRevestir, grande feira de revestimentos brasileira. Estudei os múltiplos, conversei com minha arquiteta de confiança (que é a Rafaela, minha esposa), o parecer foi favorável e comecei a colocá-la na carteira.

De fevereiro a maio comprei a ação por preços que variaram de R$ 5,08 a 2,46. Em agosto mais uma parte por R$ 5,43. Preço médio ficou em cerca de R$ 2,84. Não aumentei mais a posição desde então porque achei que ela já tinha valorizado muito quando começou a superar os R$ 7,00 por ação. Por eu ter pago, em média, menos de R$ 3,00 por ação, aquilo parecia um exagero.

Essa percepção é uma das armadilhas que a cabeça prega no investidor. É o chamado viés de ancoragem, que explica por que as primeiras informações recebidas (nesse caso, o preço da ação) servem como base para decisões futuras.

Em abril desse ano, após mais um movimento de boa valorização da empresa, acabei me desfazendo da posição inteira pelo preço de R$ 9,23 por ação, 225% a mais do que eu havia pago. Um rendimento substancial, sem dúvida. Mas foi um erro!

Na última segunda-feira (05/07) a Portobello fechou o pregão valendo R$ 19,28 por ação. Isso é mais que o dobro do preço que pagaram pelas minhas. Se tivesse mantido, aquela posição estaria agora com um rendimento acumulado de 579%. E subindo, provavelmente.

Ganhei, mas perdi

Se por um lado fui bem-sucedido numa operação que gerou lucro, com um rendimento substancial, por outro anulei parte do rendimento futuro do meu patrimônio. A posição dentro da minha carteira nesse caso era bem pequena, algo em torno de 4% ou 5%, mas poderia ser maior e seguir crescendo, tanto por aportes quanto pela própria valorização.

O outro ponto da frase célebre de Lynch que também devemos tratar é “cultivar as ervas daninhas”. Aqui o raciocínio enviesado é o oposto: investimentos ruins dos quais não nos desfazemos. É aquela máxima de “só é prejuízo se vender”, muitas vezes mal interpretada.

Se você é investidor já deve ter notado que tem casos em que você vê que jogou errado mas fica esperando reverter, como se aquela posição te devesse alguma coisa. O investidor cria uma relação de dívida, do ativo com ele. E isso não poderia estar mais errado.

Para esse caso, uma lição que está no Axioma 6 do livro Os Axiomas de Zurique: Numa operação que não deu certo, não se deixe apanhar por sentimentos de lealdade e saudade.

Em resumo, as lições desse texto são bem simples:

1) identifique as suas flores e as regue;

2) identifique as ervas daninhas e as arranque;

3) pare de fazer o contrário das lições anteriores.

Por Arthur Lessa 01/07/2021 - 18:46 Atualizado em 02/07/2021 - 09:40

Há exatos dois anos, em 28 de junho de 2019, US$ 1 custava R$ 3,82. Se viajarmos 12 meses para a frente, para 26 de junho de 2020, o dólar estava em R$ 5,48. Valorização de 43,5% frente ao Real. Ou desvalorização de 30% do Real frente ao dólar.

Essa alta da moeda americana em 2020, que teve seu pico de R$ 5,94 em 14 de maio daquele ano, chamou atenção de muitos investidores para a ideia de dolarização da carteira, que consiste em ter parte de seus investimentos em outra moeda (normalmente o dólar) para compensar as possíveis perdas causadas pela desvalorização do Real, no caso do brasileiros.

O problema é que, graças a vieses comportamentais humanos, tal ideia se mostra uma boa ideia na hora errada. Pensar em dolarizar a carteira quando o dólar está batendo na porta dos R$ 6 é muito pior que fazê-lo quando cada Washington verdinho valia menos de R$ 4. Mas nossa cabeça funciona assim. É o mesmo que achar uma grande ideia fazer seguro do carro assim que batemos num poste. Boa ideia, péssimo timing.

Mas por que eu trago esse assunto agora? Porque alguns acontecimentos recentes têm puxado o dólar para baixo dos R$ 5. O futuro é incerto, mas podemos dizer categoricamente que o momento agora é melhor que no último ano para este movimento. So move your butt!

Um “vale” chamado BDR

Brazilian Depositary Receipts, ou BDRs, são o que o nome diz: Recibos Brasileiros de Depósito. É como se fosse uma espécie de “vale um quentão” de festa junina, só que o quentão é uma ação da Tesla (TSLA34), da Disney (DISB34), do Google (GOGL34), Mercado Livre (MELI34) ou outra que tenha essa modalidade no Brasil. Há também empresas de outros países, como a britânica Unilever (ULEV34) e a japonesa Toyota (TMCO34).

Confira no fim do texto uma tabela com alguns dos principais BDRs da B3

Em poucas palavras, um BDR surge quando uma instituição financeira compra uma quantidade de ativos na bolsa de origem (NYSE ou Nasdaq, por exemplo) e lança recibos desses papéis na B3. Com esse recibo, a ação ou parte dela (explico logo mais) é sua propriedade, até que você a passe para frente, assim como funciona com as ações.

A primeira característica você já deve ter notado, que são os números no fim de cada ticker, que podem variar de 32 a 35. Esse número é relacionado ao fato de ser um BDR patrocinado ou não, de nível I, II ou III. Essa questão é mais complexa e não vou aprofundar nesse momento. Na prática, muda pouca coisa para o pequeno investidor.

Uma segunda questão importante de saber é que cada BDR não significa, obrigatoriamente, uma stock (ação em inglês) inteira. Muitos sofrem uma espécie de desdobramento, como é o caso do GOGL34, atrelado às ações do Google na Nasdaq. Cada BDR representa 0,00666... GOOGL (ticker da empresa na Nasdaq). Ou seja, para ter uma GOOGL inteira na carteira, você precisa adquirir 150 GOGL34.

Isso é necessário por conta das regras de cada bolsa. Enquanto no Brasil temos os lotes padrão (nossas jabuticabas) de 100 ações e o fracionário para comprar ações unitárias, nos EUA é possível comprar frações ação. Por conta disso, não é necessário fazer desdobramentos de ação para gerar liquidez. Essa flexibilidade faz com que os valores nominais das ações lá sejam como da Amazon (cerca de US$ 3.400) ou Google (cerca de US$ 2.450). Se não houvesse esse fracionamento, cada BDR estaria custado algo em torno de R$ 17 mil (hoje, na fração de 1/157, está um pouco acima de R$ 105).   

Um exemplo da necessidade de desdobramento no Brasil aconteceu recentemente com a Magazine Luiza, que dividiu cada ação em 32 desde agosto de 2019, em dois desdobramentos. Se não o fizesse, hoje cada ação MGLU3 estaria custando quase R$ 700, com cada lote movimentando R$ 70 mil.

Os BDRs já existem há muito tempo no Brasil e não são exclusividade tupiniquim. A versão americana se chama ADR e existem da Petrobrás, da WEG, da Vale, entre outras. O que mudou recentemente foram novas regras de 2020 que tornaram esse ativo acessível a todos os investidores, e as novas opções de BDRs que surgiram depois dessa nova regra.

Então, se o que te impedia de investir nas empresas americanas que nos rodeiam era estar no Brasil, seus problemas acabaram!

De quem vamos ser sócios? Musk, Gates, Zuckerberg,...

 

Por Arthur Lessa 20/05/2021 - 19:23 Atualizado em 20/05/2021 - 19:37

Depois de 12 anos ostentando a marca da XP Investimentos, o escritório de agentes autônomos de investimento Wise AAI, sediado em Criciúma (SC), oficializou, por meio de uma nota encaminhada aos clientes, o anuncio de seu desligamento da plataforma.

Passados os 60 dias de aviso prévio, a Wise passará a atender seus assessorados pela plataforma do BTG Pactual, que tem atraído para seu ecossistema diversos escritórios de AAI pelo Brasil.

Confira abaixo a íntegra da nota

A Wise nasceu a partir de uma cultura que visa democratizar os investimentos. Por entendermos que todos têm o direito de investir, trabalhamos com uma equipe especializada para atender as mais diversas localidades e necessidades dos nossos clientes. 
 
Hoje, nós somos em mais de 300 profissionais em 40 filiais espalhadas pelo Brasil  que atendem cerca de 9 mil clientes.

Nós pensamos em pessoas e agimos para pessoas!  
 
Devido às recentes transformações do mercado de investimentos, nós decidimos dar mais um passo em direção ao futuro em busca de soluções ainda mais completas para vocês. 
 
Como primeiro passo, avisamos hoje à XP Investimentos que encerramos nossa parceria. A partir deste aviso, cumpriremos um prazo de aviso prévio de 60 dias.  
 
Dentro desses 60 dias, nada muda para você. Seguiremos atendendo suas necessidades com o mesmo cuidado de sempre. 
 
Em breve voltaremos com mais detalhes e informações muito positivas sobre a nova etapa da Wise.  
 
Muito obrigado!

Por Arthur Lessa 20/05/2021 - 17:52 Atualizado em 20/05/2021 - 17:56

A onda de conversões de escritórios de AAI (Agentes Autônomos de Investimento) protagonizada pelo BTG Pactual nos últimos meses, um dos movimentos mais agressivos do mercado brasileiro no momento, acaba de atingir o Sul Catarinense. A Wise AAI, que já foi Clamber XP e, antes disso, um escritório filial da própria XP Investimentos, troca de bandeira e entra no ecossistema do BTG.

A notícia foi publicada na tarde desta quinta-feira (20) no site da revista Exame, que foi adquirida pelo próprio BTG em 2019. A matéria destaca os mais de 150 assessores distribuídos em 40 escritórios espalhados pelo Brasil, sendo que a sede em Criciúma, e o foco da empresa em levar investimentos para cidades pequenas, muitas delas não alcançadas pelos grandes polos econômicos.

Em entrevista, o fundador da Wise (e articulista da Rádio Som Maior) Lucas Rocco afirma “Nossa empresa foi construída a partir do sonho e vontade de transformar os diversos nichos do mercado de investimentos brasileiro”.

Em entrevista no último dia 12 ao 60 Minutos, Rocco aproveitou o aniversário de 20 anos da XP para contar com detalhes o início da sua história e, consequentemente, da Wise AAI em Criciúma (trecho inicia em 18:18).

 

Por Arthur Lessa 30/04/2021 - 11:37

Durante os três anos do ensino médio, eu ouvi diversas vezes a mais repetida das perguntas: “vai fazer vestibular pra que?”.

Eu me sentia mal por não saber a resposta. Minhas opções à época passaram por psicologia, engenharia química, quiropraxia, medicina, biotecnologia, biologia e administração. Jornalismo era fora de questão naquele momento (irônico, não?).

Cursei meio ano de biologia, passei mais não cursei Administração, fiz cursinho para não ficar parado ao largar estes e, aos 18 anos, iniciei o curso de jornalismo, durante o qual cogitava migrar para Direito ou Publicidade. Eu não tinha convicção. Não houve um momento de “é isso que eu quero pra minha vida!”.

Ou seja... Escolhi um curso porque é o que estava no manual social: depois da escola, tem que ir para a faculdade. Quem não o faz é fracassado ou não tem condições para tal.

O que eu poderia ter feito na época era ter arranjado um emprego, ter aprendido sobre responsabilidade, sobre remuneração, sobre horários, metas e afins, além de “testar coisas”. E ter economizado o dinheiro dos meus pais, que pagaram (e não pouco) pelos semestres de cursos que “testei” e hoje não me acrescentam ferramenta profissional alguma.

Falando em ferramentas, outro ponto que aprendi na prática é que, antes de aprender a usar uma ferramenta, é importante saber para que você precisa dela. Explico com mais um exemplo pessoal.

Ao me formar em Jornalismo, fui trabalhar na Som Maior, onde meu pai era sócio. Por algum motivo (talvez ele mesmo tenha me sugerido) resolvi iniciar um curso de pós-graduação em Governança Corporativa. O curso era muito interessante, aprendi algumas coisas, mas absorvi muito menos do que poderia. Até por conta disso, de não ver grande utilidade e aplicabilidade aos novos conhecimentos que ia adquirindo, não concluí o curso. Eu aprendia a usar ferramentas e não tinha onde “treinar”. Quase como uma pessoa que tem uma CNH mas não dirige. Quando comprar um carro vai ter que aprender praticamente do zero (conheço alguém assim, inclusive).

Recentemente, coisa de três anos atrás, iniciei outra pós, desta vez em Gestão e Negócios. Já absorvi muito mais conhecimento que no curso anterior, seja pela maturidade da idade, seja pelo fato de estar me preparando para migrar da área de jornalismo para a administração da empresa. Mas foi em 2020 que fiz a transição, bastante antecipada, quase no susto, dias antes do estouro da pandemia. E, um ano depois, confirmo minha tese: faça antes, estude depois.

Muito do que me foi apresentado, principalmente nas áreas relacionadas à gestão financeira e contabilidade, não firmou como conhecimento de maneira mais concreta por falta de experiências anteriores para criar associações e gerando conhecimento. Em muitos momentos eu senti algo como “não sei o suficiente sobre o assunto nem para saber se tenho dúvidas”. A teoria, nesses casos, acaba não conversando com a realidade. E teoria por teoria não cria raiz.

Por consequência, atualmente tenho revisitado todo o material do curso para buscar, agora sim, as instruções e ferramentas que hoje sei que (e onde) preciso, além de buscar outros materiais relacionados, como o livro de onde tirei o trecho a seguir, retirado do livro “Contabilidade em Contexto” (de David Hastings), que me instigou a escrever este texto.

“[...] hoje, não é raro encontrar alunos com 16 anos.

Essa garotada é encantadora: são inteligentes, esforçados, divertidos... Mas têm pouca (quase nenhuma!) experiência de vida empresarial, o que dificulta seu entendimento do como, do porquê e do para quê da Contabilidade”

Outra provocação que tenho visto vem do Ricardo Schweitzer, analista da Nord Research, que, ao ser perguntado nas redes sociais sobre a melhor certificação para entrar no mercado financeiro, responde o seguinte: “parem de se preocupar com isso e, antes, arranjem um estágio/trabalho no mercado”.

Se eu tivesse agora a oportunidade de falar com o Arthur de 2003, não faria a pergunta do início do texto. No lugar, daria um conselho: arranje um trabalho, descubra no que você é bom e, quando souber que tipo de ferramentas precisa, você saberá qual é o curso certo.

Por Arthur Lessa 14/04/2021 - 12:58 Atualizado em 14/04/2021 - 12:59

Tem uma anedota famosa no mercado financeiro que diz que todo dia saem de casa um trouxa e uma malandro. Quando eles se encontram, sai negócio.

Esse raciocínio normalmente é lançado para ilustrar situações como cair em golpes de bilhete premiado, propagandas com promessas de retornos irreais e cursos milagrosos de day trade.

É inevitável pensar, quando se tem notícia de alguém que sofreu um revés num caso desses, “tava na cara que era golpe” ou “como fulano pode cair nisso?”. 

Mas e se o golpe acontece no maior mercado financeiro do mundo e atinge alguns dos mais poderosos investidores e bancos do planeta?

É sobre isso que trato nesse texto: Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq e conselheiro de investimentos dos mais conceituados de Wall Street na virada de século.

A história começa em 1960, quando aos 22 anos, com dinheiro emprestado pelo sogro e US$ 500 de suas economias, Bernard Madoff fundou a Bernard L. Madoff Investment Securities.

Seus primeiros negócios vieram das “sobras” do Goldman Sachs e do Bear Stearns, que posteriormente foi comprado pelo JP Morgan.

No fim dos anos 80, Madoff estava enriquecendo, chegando a ganhar mais de US$ 100 milhões ao ano. Aos poucos, ele ia ganhando a atenção do mercado oferecendo retornos estáveis de 15% a 20% que, conforme insiste em afirmar para a revista New York, eram perfeitamente legais. 

No final da década de 80, início dos anos 90, a recessão econômica já era uma realidade. Foi nessa época que o esquema começou de fato.

Madoff passou a usar o capital dos novos investidores para pagar “retornos sólidos” para os velhos. Apesar de falsos, as demonstrações de resultado que divulgava exibiam ganhos de 15%. Esses retornos faziam propaganda de si mesmos e cada vez mais dinheiro novo chegava. 

Conseguiu sustentar o esquema até 2008 quando, em meio à crise financeira, diversos investidores solicitaram a retirada do dinheiro dos fundos. Mas ele não tinha esse dinheiro em conta e tentou sua “última tacada” se reunindo com diversos investidores para tentar levantar capital suficiente para pagar os que estavam retirando dinheiro. 

Ele devia US$ 7 bilhões em resgates, mas só conseguiu US$ 700 milhões, valor que poderia ter mantido o esquema em funcionamento ainda por algumas semanas. Cansado, decidiu abrir o jogo no dia 10 de dezembro de 2008, três meses depois que o mercado acionário americano desabou, reunindo a família no escritório da casa.

Réu confesso, Madoff foi indiciado em 2009 a 150 anos de prisão e US$ 117 milhões de indenização. 

Estima-se que as fraudes de Madoff resultaram na perda de US$65 bilhões de dólares. Porém, como envolvia bancos, instituições de caridade, pequenos e grandes investidores, o valor pode ser ainda maior.

Algumas famílias perderam o patrimônio de suas vidas. Houve pelo menos quatro suicídios ligados ao esquema Ponzi de Madoff. Sendo três de suas vítimas, um aristocrata francês que supostamente enviou clientes para Madoff, um condecorado veterano do Exército que faliu pela fraude e um executivo de fundo de hedge que perdeu milhões. E o filho de Madoff, Mark Madoff, que também se matou em 2010.

Madoff enganou não só pequenos investidores, como também entidades bancárias e grupos de investimento. Foram cerca de 37 mil vítimas em 136 países.

[olho] Se você quiser conhecer melhor essa história, sugiro o filme O Mago das Mentiras, com Robert De Niro no papel de Madoff.

De acordo com o The Wall Street Journal, os investidores com maiores perdas incluíam:

  • Fairfield Greenwich Advisors: US$ 7,5 bilhões;
  • Tremont Capital Management: US$ 3,3 bilhões;
  • Banco Santander: US$ 2,87 bilhões;
  • Bank Medici: US$ 2,1 bilhões;
  • Ascot Partners: US$1,8 bilhão;
  • Access International Advisors: US$1,4 bilhão;
  • Fortis: US$ 1,35 bilhão;
  • Union Bancaire Privée: US$1 bilhão;
  • HSBC: US$ 1 bilhão.

Mais de 10 anos depois da prisão de Madoff, o ressarcimento das vítimas ainda não foi concluído.

Dois fundos foram estabelecidos pelo Departamento de Justiça americano compreendendo confiscos de vários processos criminais de Madoff para pagar as indenizações.

Além de liquidar a firma Madoff, os bens e objetos pessoais do operador financeiro foram leiloados.Até o momento, US$ 14,40 bilhões foram recuperados. (Dados de janeiro de 2021).

Tags: piramides

Por Arthur Lessa 12/03/2021 - 06:06

Há na base da cultura brasileira a imagem de lucro e dinheiro vinculada ao pecado e à sujeira. Lucrar é feio, pega mal. A regra implícita no consciente coletivo “confirma” que quem tem patrimônio, roubou, enganou, sonegou ou herdou. Colheu frutos de anos de trabalhado duro? Não!

Muitos dizem que tal diretriz vem de certas linhas do cristianismo que valorizam o sacrifício, a humildade e a pobreza como sinais de alma pura. Há outras, como o judaísmo, que são o oposto, valorizando a riqueza que resulta do trabalho duro e honesto. Mas essa é apenas uma das hipóteses que surgem quando se fala do tabu da riqueza no Brasil. Não vêm ao caso aprofundar mais esse ponto.

O que vamos tratar aqui é a maneira como essa visão distorcida impacta a mente em desenvolvimento de um possível empreendedor, criando algumas travas mentais difíceis de tirar e que impedem o nascimento ou desenvolvimento de muitos bons negócios.

Chega a ser irônico, já que as mesmas pessoas que defendem essa imagem do “empresário explorador” não abrem mão de seus salários, que sempre consideram abaixo do que merecem.

Um exemplo que ilustra bem essa relação vem de uma conversa que eu presenciei. Estava um representante comercial reclamando a um sócio (que não atuava na gestão à época) da empresa onde trabalhava que a comissão que recebia pelas vendas era muito baixa. Dizia que “a empresa fica com muito”. Ele então ouviu desse sócio a lista de despesas, custos e encargos que consomem esse “muito” da empresa. No fim, ele viu que ficava com uma fatia maior que a própria empresa. Mas continuou achando ruim.

- Sugestão de leitura: Como aumentar o seu próprio salário: uma Entrevista Reveladora com o Homem Mais Rico do Mundo
- Confira a edição 023 do Toda Sexta

Esse é um dos grandes fatores que torna o Brasil um país com problemas de interpretação financeira. Eu mesmo demorei muito para moldar a visão que tenho hoje de salário. Mesmo na faculdade (de humanas, onde tais visões são reforçadas), quando se falava de remuneração, salário, auxílios e afins, este dinheiro era subliminarmente envolto em aura de direito. “Eu tenho direito a um trabalho e tal trabalho me dá direito a um salário”. Simples assim. Cumprir o horário, embolsar o salário.

- Ok, Cara Pálida, mas de onde vem o dinheiro que paga o seu salário?

- Sei lá! Cumpri meu horário, me dê meu salário!

Esse é o ponto que distorce o entendimento. Restringir a visão ao “meu lote da cadeia”, como na linha de montagem de Chaplin em Tempos Modernos (1936). Não interessa de onde vem, “o problema não é meu”, “a empresa sempre tem de sobra”.

Como vejo hoje, e como quero que minha filha veja, é que o salário tem que se pagar. Ele entra como custo ou despesa no DRE da empresa. Ele entra também, por consequência, no preço do produto. É uma modelo conversão de tempo/conhecimento/habilidade/esforço em dinheiro. O trabalhador participa da confecção do produto, a empresa vende o produto e, com esta venda, remunera o trabalhador.

Por esse raciocínio sou avesso à frase “ganhar dinheiro”. Não é presente, é recompensa. É melhor como dizem na terra de Biden: “Make money” (fazer dinheiro).

Pense numa padaria. Ela te vende um saco de pão a R$ 5,00. Dentre desse preço estão, no mínimo, a farinha, o fermento, a água, a energia, o aluguel do imóvel, a manutenção do maquinário, os impostos (normalmente maior fatia da conta), o salário do padeiro e a margem de lucro, já que ninguém se esforça sem recompensa. 

O padeiro pode ter a mesma sensação de que fica com muito pouco e resolver eliminar o “intermediário”, abrindo o próprio negócio. Sabe o que vai acontecer? Além de muito mais trabalho e menos estabilidade, ele vai ter que arcar com a farinha, o fermento, a água, a energia, o aluguel do imóvel, a manutenção do maquinário e os impostos (normalmente a maior fatia da conta).

Entendeu o que aconteceu aqui? No lugar de vender uma quantidade pré-definida do seu tempo por um montante de dinheiro também pré-definido, podendo ir para a casa e esquecer da empresa até que recomece seu turno, o individuo aumentou a aposta e investiu boa parte de seu tempo (e, muitas vezes, do próprio dinheiro) na expectativa de receber proporcionalmente mais, mas com o risco de passar por momentos de aperto, dívidas e afins.

Dá inclusive para traçar um paralelo com o mercado de investimentos, onde o trabalho assalariado seria uma Renda Fixa (pouca rentabilidade com pouco risco) e empreender seria o investimento em Ações, que tem potencial de valorização muito superior, mas com muita dor de barriga pelo caminho.

[este texto foi publicado na edição 023 do Toda Sexta, em 05/03/2021]

Por Arthur Lessa 09/03/2021 - 16:40 Atualizado em 09/03/2021 - 16:40

No último fim de semana estávamos, minha esposa e eu, conversando sobre dinheiro, reservas de fim de ano e afins. Como ela é autônoma, sem salário fixo, tal planejamento é ainda mais importante para curtir as férias sem preocupações. No meio dessa conversa, a minha filha de 6 anos tira da cartola uma solução mágica:

- Pai, eu sei como conseguir mais dinheiro! Tem um joguinho que você aperta, espera subir uma barrinha e aperta de novo. E pronto! Você ganha dinheiro.

Quando perguntei de onde ela tinha tirado essa ideia, ela respondeu com a calma de quem tem total conhecimento do que está falando: “eu vi numa propaganda do meu jogo”.

Eu não sabia o que falar quando ouvi aquilo. Mil análises diferentes do momento que estamos vivendo de boom de investidores no Brasil em 2020. E ficou ainda mais claro o porque de tanta gente (muita gente mesmo) se deixar iludir no canto da sereia do dinheiro fácil. É porque isenta o receptor da mensagem do esforço de pensar.

A mensagem é tão mastigada, com elementos tão excitantes (carros de luxo, jatinhos, montes de notas de dinheiro empilhadas,...) que até as crianças, que acham que o dinheiro nasce cada vez que você coloca o cartão na máquina, tem vontade de “jogar” nessa aplicativo em que você aperta um botão, espera a barra subir, e aperta de novo pra ganhar dinheiro.

- Sugestão de leitura sobre o assunto: O jeito Warren Buffett de investir: Os segredos do maior investidor do mundo
- Confira a edição 006 do Toda Sexta

Outro exemplo interessante pra mostrar como as ilusões excitantes atraem mais que as verdades trabalhosas fica mais óbvia se compararmos duas lives que aconteceram recentemente.

Uma delas foi no dia 21 de outubro, quando a analista Luciana Seabra entrevistou Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, gestora do fundo Verde, que acumula valorização de mais de 15.000% desde o lançamento, em 1997. Por essa rentabilidade impressionante (15.000% é transformar R$ 10.000 em R$ 1,5 milhão), Stuhlberger é um dos mais respeitados gestores, se não um ícone, do mercado financeiro brasileiro. Durante a transmissão, a audiência oscilou próxima de 2 mil pessoas simultâneas. Até a segunda-feira passada, dia 26, este vídeo acumulou mais de 28 mil visualizações. Não é pouco, mas aí vem a comparação.

No mesmo dia Suriel Ports, famoso pela promessa de transformar qualquer pessoa em um “trader de elite” e pelos anúncios em que paga desde croissant até tênis com um trade de segundos (naquele joguinho que citamos há pouco), promoveu uma aula de uma série de treinamento gratuito com seus segredos para ganhar muito e rápido. Apenas durante a transmissão foram registradas mais de 67 mil pessoas simultâneas.

Impressionante, não?

Preocupante, não?

Mas por que? Como diria Warren Buffett, 6º homem mais rico do mundo, “ninguém quer ficar rico devagar! Investir é uma maratona. Requer paciência”.

Mas seria tão bom se fosse como a minha filha imaginou, não?

Barrinhas subindo no toque de um botão ou trades tão irresistíveis quanto um croissant quentinho saindo do forno. Mas não é… sigamos na maratona pois a caminhada é longa, mas recompensadora.

[este texto foi publicado na edição 006 do Toda Sexta, em 30/10/2020]

Por Arthur Lessa 22/02/2021 - 06:31

“Um milhão de reais em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro”. Frase célebre do comunicador e empresário Senor Abravanel, o Silvio Santos.

Eu não vou tratar abaixo sobre o motivo de ouro valer mais que as onças, garoupas e, recentemente, lobos que tanto gostamos de receber, mas sim do porquê de o dinheiro valer alguma coisa.

Pra quem tem pressa, resumir a resposta afirmando que “porque sim” pode ser válido. O dinheiro vale porque sabemos que ele vale. Se não soubéssemos, não valeria nada.

Pense na seguinte situação: o dono de uma pizzaria de um pequeno município está atendendo normalmente quando, por uma pizza de R$ 45, recebe de um cliente uma nota de US$ 10. Se ele acompanha os noticiários com certa frequência, atento à oscilação da moeda americana, pode aceitar o “câmbio forçado” por conta do ganho que teria (são R$ 55, se considerarmos uma cotação de R$ 5,50) e da própria popularidade do dólar. Todo mundo conhece, ou já ouviu falar, da principal moeda do mundo.

Porém, se seguirmos o mesmo exemplo, mas no lugar do dólar é lhe oferecida uma nota de 100 kroner (cem coroas norueguesas, cerca de R$ 60), ele aceitaria? Se não estiver planejando uma viagem para os fiordes escandinavos, certamente não. E o motivo é simples: ele nunca viu esse pedaço de papel, não conhece nenhum lugar onde possa trocar por produtos nem quanto vale. Ou seja, é um pedaço de papel bonito, mas sem valor.

Os exemplos acima ajudam a explicar um termo que você já pode ter ouvido, mas não sabe o significado: fiduciário. Segundo os dicionários, é a característica de algo “cujo valor depende somente da confiança a ele dispensada”.

E o motivo para isso é que, se o sistema monetário de um país é lastreado em algum material com valor intrínseco (como ouro), o mesmo que garante validade à moeda engessa o crescimento econômico. Em caso de necessidade de emissão de mais dinheiro para oxigenar a economia - como aconteceu muito recentemente por conta da pandemia - seria necessário encontrar uma nova jazida para minerar mais ouro para lastrear mais moeda.

- Sugestão de leitura sobre o assunto: Crash: Uma breve história da economia
- Confira a edição 006 do Toda Sexta

Talvez você nunca tenha pensado nisso. Possivelmente causou um certo desconforto chegar à conclusão de que uma nota de dinheiro nada mais é que um pedaço de papel que promete um valor, não diferente de um cheque ou uma promissória. E é basicamente isso mesmo.

Ainda sobre o exemplo da pizzaria, para facilitar a visualização, foquei nas notas de dinheiro. Mas mesmo elas estão ficando cada vez menos participativas no giro dos negócios. Hoje nosso dinheiro é contado em sinais elétricos e dados de computador. Sabemos quanto temos de “valor acumulado pra trocar” olhando em aplicativos e sites de internet banking. Pura confiança.

 E tudo indica que, com a inserção cada vez maior das contas digitais, do Pix e das criptomoedas (ainda tão nebulosas para muitos), as próprias notas e moedas tem pouco tempo. Esse movimento deve contribuir para uma mudança importante de relação das pessoas com o dinheiro.

Não foque no dinheiro em si, em cofres cheios onde é possível nadar como o Tio Patinhas, mas sim no esforço que criou este valor. Seja o quanto vale o seu tempo, conhecimento e experiência, no caso do trabalho, e quanto seu estudo e disciplina reverte ganhos nos investimentos.

- Para saber mais sobre a história do dinheiro, recomendo o livro "Crash"

[este texto foi publicado na edição 007 do Toda Sexta, em 06/11/2020]

Por Arthur Lessa 19/02/2021 - 06:22

Meu pai me perguntou, há alguns dias, por que motivo eu estava tão sério, pensativo e com cara de preocupado. Falei um dos motivos pra ele: vendi todas as ações que tinha de uma empresa na carteira e estava pensando se havia acertado na decisão, já que ela deu uma pernada de alta no dia seguinte (mais um belo exemplo da inescrupulosa Lei de Murphy). Ele, quase de bate pronto, me respondeu: “Mas o segredo nesse tipo de negócio é não ‘pessoalizar’ os investimentos, certo?”

Sim e não... O raciocínio que deu origem a essa pergunta dele está correto, mas uns dias depois a construção da frase voltou à minha cabeça (provavelmente estava passeando no meu subconsciente até então), me colocou a pensar de novo (sim... sou daqueles que facilmente se perde dentro da própria cabeça) e me pus a definir a diferença.

O ato específico de “pessoalizar”, que é dar identidade ao sujeito de uma situação (ou ação de uma empresa, nesse caso), é uma das atitudes mais indicadas em qualquer curso introdutório de investimentos, principalmente em renda variável, quando o investidor está vinculando seu dinheiro à gestão de terceiros, na qual não terá poder algum de interferência, e, por conta disso, terá praticamente terceirizado se e o quanto seus recursos (agora convertidos em pedaços da empresa investida) vão ganhar ou perder valor.

Um exemplo contrário é o investimento em um CDB. Você sabe quando e quanto irá receber de volta o dinheiro com a valorização contratada. O único fator a ser acompanhado é o risco de o banco quebrar, que, convenhamos, normalmente é quase nulo.

Dar um nome, pensar no produto ou serviço desta empresa é extremamente importante e, via de regra, define o sucesso de um investimento, tanto pelo momento de entrar (comprar ações) quanto de sair (vender as ações e recuperar o dinheiro). Além de analisar os múltiplos financeiros (lucro por ação, margens de resultado e afins) em busca de barganhas, ou cigar butts (bitucas de charuto, em inglês), como diria Warren Buffett, é importante olhar com atenção a empresa em si. Qual a participação no setor? Quais as perspectivas futuras do mercado em que a empresa está inserida? Quais as vantagens competitivas frente às concorrentes? Quem é que “pensa” a empresa e o que está sendo pensado ali?

- Confira a edição 018 do Toda Sexta
- Se interessou pelo livro "Os Axiomas de Zurique"? Compre aqui

Há menos de seis anos, a Magazine Luíza era uma rede de lojas que batalhava para se recuperar financeiramente e sobreviver no mercado. Hoje é praticamente o Pelé da B3, já que todos buscam “a Nova Magalu”. Por que? Porque ali tinha a arrojada Luiza Helena Trajano e o inovador (e filho de Luíza) Fred Trajano, hoje referências em varejo no Brasil. Essa história e não se vê em números frios, apenas os resultados gerados. Foram essas pessoas que criaram essa história.

Por outro lado, aí sim entrando no raciocínio correto que captei no termo “pessoalizar” eu ajustaria para “se apegar”. E nesse sentido, sem dúvida, é um mindset imprescindível para o sucesso no campo dos investimentos.

Essa lição aparece recorrentemente no livro Axiomas de Zurique (1985), de Max Gunther, principalmente no terceiro capítulo (O Axioma da Esperança), que começa com a objetiva e didática frase “Quando o barco começar a afundar, não reze. Abandone-o”. Gunther explica que o foco de tudo no investimento é o dinheiro e este não tem carimbo e, se um investimento não teve sucesso e você não tem informações confiáveis de que a situação irá melhorar, encerre a posição, aceite o prejuízo e procure a próxima oportunidade. Se o investimento nas ações da XYZ Chuveiros der prejuízo e não há indicativos de melhora, não faz sentido manter a posição para que o investimento retorne o que “lhe deve”. O mercado não deve nada para ninguém e dinheiro não tem carimbo.

De qualquer maneira, o mais interessante desse texto que você acabou de ler é que nasceu de um diálogo de poucos segundos. Quando me perguntam porque leio tanto sobre investimentos, esse tipo de episódio é um bom exemplo. Assim como muitos assuntos futebol, guerra, pôquer, Big Brother,..), quanto mais se aprofunda no estudo, mais vê exemplos ao seu redor. Investimento, assim como a própria economia, é tanto uma ciência de gente quanto de números.

[o texto acima foi publicado na edição 018 do Toda Sexta, em 29/01/2021]

Por Arthur Lessa 17/02/2021 - 11:24 Atualizado em 09/06/2023 - 11:07

Nunca li um livro tão rápido pelo puro prazer de acompanhar a história!

Depois que ajustei, na minha cabeça, que livros são como séries e cada capítulo é um episódio, posso dizer que “maratonei” o Na Raça, da Maria Luíza Filgueiras. Esse livro, de 208 páginas, é uma biografia de tripla. É centrado na vida profissional de Guilherme Benchimol, CEO e fundador da XP Inc., mas também conta o nascimento e crescimento da XP Investimentos e a implementação de um modelo de negócio que virou de pernas para o ar o mercado financeiro brasileiro.

A resenha do livro você encontra em qualquer lugar na internet. Não é o que vou apresentar aqui. Vou falar do que me chamou atenção.

- Como Guilherme Benchimol criou a XP e revolucionou o mercado financeiro brasileiro (VÍDEO)
- Confira a edição 016 do Toda Sexta

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Começando pelo personagem, o estilo do Guilherme me surpreendeu. Ao contrário da pessoa calma, carismática, com fala de fácil compreensão e sem pretensão de ser o dono da verdade. Parece alguém que naturalmente entrou no mercado financeiro, teve uma grande ideia e investiu nela. Mas não! A desconfiança do pai, que é médico e queria o mesmo para o filho, foi boa parte do combustível que impulsionou o foguete XP.

Pelo começo difícil, inclusive psicologicamente, não surpreende, no andamento do livro, que vá se formando um líder com perfil de trator (ele recebe esse adjetivo em algumas passagens do livro), com o foco no objetivo e arrastando a todos e a tudo que fosse necessário para que chegassem ao checkpoint definido (tanto de lucro, tantos clientes, uma aquisição, a entrada de um investidor,...). Vencer com a XP era questão de honra. Representava para Benchimol a validação de que era capaz, de que tinha escolhido o caminho certo, de que tudo que tinha passado teria valido a pena.

Ainda na linha de trator, entram os tombos pessoais necessários para que a empresa chegasse onde chegou, que são, de certa forma, admiráveis. Muitos envolvidos, entre sócios, investidores e colaboradores, ficaram pelo caminho de maneira forçosa. Não há relatos de ninguém que tenha sido passado ou tenha tentado passa-los pra trás. As rupturas eram sempre questão de envolvimento, dedicação, alinhamento de ideias ou desempenho.

É necessário desprendimento para esses “cortes na carne”. Lembra uma regra antiga (mas sempre válida) de que não se deve contratar ninguém que não possa demitir. Não são poucos os exemplos (principalmente em empresas familiares) em que existem as tartarugas nas árvores, que são aquelas pessoas que pouco contribuem, mas seguem na empresa por decisão da diretoria, seja por alguma relação pessoal próxima, seja por serviços prestados. Na XP, para Benchimol, vale o quanto entrega e enquanto entrega.

Falando em entrega, vamos pra resultado e, de resultado, vamos para um jargão/ferramenta/estratégia do mercado de renda variável que é aplicado na corretora: stop loss. A linha de criação de implementação de produtos e práticas era baseada em “stop curto”, ou seja, põe em prática, vê se funciona e, se não funcionar, elimina rápido. Isso não significa agir sem pensar, sem planejar, mas agir quando é necessário, reduzindo perdas. Com essa estratégia, um dos pontos destacados no livro é que a XP nunca teve prejuízo e nunca se alavancou.

Por fim, fica a lição do conservadorismo financeiro do Guilherme e da XP. No começo sofrido, era aperto financeiro, venda de patrimônio particular e criatividade. Nas evoluções, os novos recursos entravam com novos sócios e/ou investidores. Sem empréstimos, sem gastar mais do que tem, sem dar passos maiores que a perna. Essa última vale pra pessoa, pra família, pras empresas e pros Governos (lição difícil!).

Ao contrário do que dizem os influencers, isso é sim uma recomendação de investimento. Recomendo a leitura, principalmente aos empreendedores e possíveis empreendedores, que vão acompanhar as partes boas e ruins da evolução de um negócio que começa do zero.

[o texto acima foi publicado originalmente na edição 016 do Toda Sexta, em 15/01/2021]

Por Arthur Lessa 27/11/2020 - 17:22 Atualizado em 27/11/2020 - 17:39

Mais uma empresa catarinense encaminha abertura de capital da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). A Intelbras enviou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pedido para realizar uma oferta pública inicial primária e secundária de ações, conhecido como IPO. 

Segundo o site MoneyTimes, o prospecto preliminar informa que a companhoa pretende utilizar os recursos da oferta para acelerar seu crescimento através de aquisições, além de expandir capacidade de produção de fábricas em Manaus e Minas Gerais, bem como em sua nova unidade em Santa Catarina, focada em produtos de energia.

Sediada em São José, na Grande Florianópolis, a Intelbrás produz e comercializa produtos e soluções em segurança eletrônica, controles de acesso, redes, comunicação, energia e energia solar. A companhia conta hoje com quatro unidades fabris no Brasil, além de um centro de pesquisa e desenvolvimento na China.

A principal fonte de receita da Intelbrás atualmente é unidade de segurança eletrônica, que representa cerca de 53% do total, com R$ 777 milhões no acumulado do ano. O restante é dividido entre os setores de comunicação, responsável por 37% da receita, e de energia, que gerou 9,7% do faturamento.

Em se tratando de resultados, de janeiro a setembro de 202 a receita operacional líquida da companhia totalizou R$ 1,46 bilhão, com aumento de 20,2% em relação ao mesmo período de 2019. Já o lucro líquido no período foi de R$ 121,2 milhões, alta de 2,6% em relação à mesma etapa de 2019.

O IPO da Intelbrás é coordenado por Santander (SANB11), BTG Pactual (BPAC11), Itaú BBI e Citigroup.

Confira o prospecto na matéria do site MoneyTimes

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