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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 04/10/2021 - 08:58 Atualizado em 04/10/2021 - 08:59

Boris tinha piadas de predileção que contava repetidas vezes, rindo todas as vezes com o mesmo prazer. Durante muito tempo repetiu piada sobre a Rainha da Inglaterra, a interminável Rainha Isabel II ou Elizabeth II, que ouvi à exaustão.

Alexandra Mary Elizabete, Rainha do Reino Unido e de quinze outros estados independentes, os Reinos da Comunidade de Nações, além de chefe da Commonwealth, formada por 53 estados, nasceu em 21.4.1926. Conta hoje 95 anos. Viúva desde este ano da graça de 2021, foi casada desde 1947 com Filipe, Duque de Edimburgo. O pai ascendeu ao trono em 1936 como Jorge VI, depois da abdicação do irmão Eduardo VIII, passando ela a ser a herdeira presuntiva da coroa. Isabel assumiu deveres públicos durante a Segunda Guerra Mundial, servindo no Serviço Territorial Auxiliar.

Morto o pai em fevereiro de 1952, Isabel ascendeu ao trono aos 25 anos. Sua coroação, primeira a ser televisada, ocorreu em 1953. Um ano depois eu ingressaria na Faculdade de Medicina. Mãe de quatro filhos, não é preciso ir longe para perceber a criatura extraordinária que é e sua importância, cheia de simbolismo, mantendo a integridade do Reino Unido. Elisabeth carece apenas de costureiro (a) mais sensato.

Também é Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra e, em alguns de seus reinos, possui ainda o título de Defensora da Fé. Ao ascender ao trono em 6.2.1952, Isabel tornou-se Chefe da Comunidade Britânica e rainha de sete países independentes: Canadá, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão. Entre 1956 e 1992 o número de reinos variou porque certos territórios ganharam independência e outros tornaram-se repúblicas. Atualmente, além dos quatro primeiros estados mencionados, Isabel é rainha de 15 estados:  Jamaica, Barbados, Bahamas, Granada, Papua-Nova Guiné, Ilhas Salomão, Tuvalu, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Belize, Antígua e Barbuda e São Cristóvão e Nevis. É mole?

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O Reino Unido entrou na Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939. Durante a guerra, Londres foi alvo frequente de bombardeios aéreos e muitas crianças londrinas foram evacuadas. Contudo, levar as duas princesas para o Canadá, foi rejeitado pela rainha: "As crianças não vão sem mim. Eu não vou partir sem o Rei. E o Rei nunca partirá". 

WINSTON CHURCHILL era uma figura frequente em Palácio. A futura Rainha ouviu o relato que o notável primeiro-ministro fez do torpedeamento de um navio cargueiro australiano por submarino alemão, na costa africana:

- Foi lamentável! Do navio restou apenas uma porta com as minhas iniciais!

CASAMENTO
Isabel encontrou o príncipe Filipe da Grécia e Dinamarca, seu futuro marido, em 1934 e depois em 1937. Primos em segundo grau, depois de mais um encontro em julho de 1939 no Real Colégio Naval de Dartmouth, Isabel – então com treze anos de idade – e Filipe, passaram a trocar cartas. Noivaram em 9.7.1947.

O casamento não ocorreu sem contratempos: Filipe era um estrangeiro pelado (apesar de cidadão britânico que havia servido na Marinha Real durante a Segunda Guerra Mundial) e tinha irmãs casadas com nobres alemães e ligações nazistas.  Algumas biografias posteriores da mãe de Isabel relatam que ela inicialmente era contra a união. Chamava Filipe de O Huno. Porém, mais tarde contou ao biógrafo Tim Heald que o príncipe era um cavalheiro inglês.

Antes do casamento, Filipe renunciou a seus títulos gregos e dinamarqueses, converteu-se da ortodoxia grega para o anglicanismo e adotou o estilo Tenente Filipe Mountbatten, tomando o sobrenome da família britânica da mãe.]Pouco antes do casamento, tornou-se Duque de Edimburgo e recebeu tratamento de Sua Alteza Real. Isabel e Filipe se casaram na Abadia de Westminster em 20.11.1947.

Foi durante a II Guerra que a jovem futura Rainha apareceu para o mundo. Ela ainda pilotaria pesados veículos para transporte de feridos e doentes. Aproveitava tais ocasiões para visitar soldados feridos. Numa dessas ocasiões, adentra barraca ocupada por 8 soldados: 7 deitados barriga para baixo e 1 deitado barriga para cima. Curiosa, aproxima-se e faz as mesmas perguntas a cada um deles. Inicia por aqueles com a barriga para baixo:

- Por que razão está aqui, soldado?

- Estou aqui para tratar hemorroidas, princesa.

- Como é o tratamento?

- O doutor vem todo o dia e faz uma limpeza com escovinha embebida em azul de metileno no... na região.

-E qual é seu maior desejo?

- É ficar curado para servir a Vossa Majestade!

As respostas foram as mesmas em todos as sete macas. Chega, enfim ao último soldado, este deitado de barriga para cima:

- Por que razão está aqui, soldado?

- Estou aqui para tratar amigdalite, princesa.

=E, como é o tratamento?

- O doutor vem todo dia e faz uma embrocação na garganta com escovinha embebida em azul de metileno.

-E qual é seu maior desejo?

-É ter uma escovinha só para mim!

 (Cont)

Por Henrique Packter 28/09/2021 - 08:30 Atualizado em 28/09/2021 - 08:32

Há 3 anos, em 25.8.2018 morria em Criciúma o ORTOPEDISTA E TRAUMATOLOGISTA JOÃO APARECIDO KANTOVITZ.

A cidade acordou naquele dia com a notícia da morte do profissional médico que serviu a cidade e o Estado por mais de 50 anos. JOÃO nasceu em Rio Claro, SP, em 23.11.1937. Chegou a Criciúma em 1965, praticamente na mesma data da chegada de Boris. Era homem de muitos instrumentos. Médico, granjeou respeito de todos através de sua arte na profissão. Operou atletas de toda as partes sempre buscando o melhor para seus pacientes. Músico, participou da Turma da Seresta que se exibia especialmente nas rádios da cidade. Jovem, foi hábil jogador de futebol. Devo a ele a recuperação de minha saúde, vítima que fui em 2006 de acidente automobilístico na parte não duplicada da BR101, localidade de Bentos, na Laguna.

Casado com Elohá, João deixou dois filhos, Paulo César de Jesus e Júlio César, além de uma neta. 

AINDA ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS 

Quando ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, um dos primeiros odontólogos de Criciúma faleceu no Hospital da Laguna, por trauma crâneoencefálico produzido por acidente rodoviário próximo a Imbituba, quase no mesmo local em que viria a morrer muitos anos depois DIOMÍCIO FREITAS, trabalhava em Criciúma nosso primeiro Ortopedista, OTÁVIO ROBERTO CARNEIRO RILA, hoje aposentado e residindo em Florianópolis.

Após o óbito de Alexandre, ocorrido depois de uma noite de cuidados meus e de RILA, assistidos de tempos em tempos por PAULO CARNEIRO, dos maiores médicos que a Laguna e o Estado já abrigaram, retornei à Praia do Mar Grosso.  ALEXANDRE morreria em 1963 quando os ventos políticos sopravam forte. Na orla, nem tanto. Domingo, dia de sua morte, algumas poucas horas após o amanhecer, um monomotor aterrissara na praia trazendo DAVID LUIZ BOIANOVSKY e NELSON VENTURELLA ASPESI, este neurocirurgião em Porto Alegre. BOIANOVSKY fora buscá-lo diante da gravidade das lesões cerebrais que ALEXANDRE HERCULANO sofrera e das quais morreria na mesa de cirurgia do Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos da Laguna.

Eu estava formado há 3 anos e já contabilizava perdas consideráveis pelas mortes de familiares e amigos. A vida é breve, a ocasião fugaz, a experiência é vacilante e o julgamento é difícil, já dissera Hipócrates, mestre de um amanhã que nunca chega. Nossa vida se orienta por uma antevisão do futuro e um retrospecto das tradições.

Uma espécie de folhagem, espojando-se na água mal amanhecida do céu recém-lavado, trazida por uma onda mais forte acomodou-se entre as pedras e a areia. Leve aragem, canção do vento aprisionado, varava as folhagens. Mão em pala protegendo os olhos, mirava o sol longínquo, o sol surgente. Recuando para um dia perdido na memória, relembrava miúdas aventuras do dia-a-dia morno e cinza. Já nuvens pretas, carregadas, corriam do sul, velozes e túrgidas, encobrindo sumidouras estrelas arredias e a pálida lua. Mas, lá em cima, sol pleno se anunciava.

Foi isso que escrevi naquele mesmo dia ao chegar em Criciúma.

MANSO DE CANGA

Boris e eu atendíamos um paciente em nosso antigo consultório no HSJ, ele mal chegado de Santa Maria. Eram muitos os clientes da serra catarinense que nos procuravam, especialmente de Bom Jardim e de São Joaquim. Era de ver com que destemor os habitantes da serra, às vezes com tempo cachorro (como diziam), desciam por leito da estrada coalhado de imensas pedras que jorravam a miúde das alturas. Cachoeiras repentinas despejavam suas águas diretamente sobre os veículos. O concreto viria bem mais tarde, com Espiridião Amin.

Quando seu Eleutério entrou na sala de exames, logo sentimos o drama. Era alto, imenso. As roupas que usava para proteção contra o frio e chuva faziam-no maior ainda.

-Buenas!

- Buenas, seu Eleutério!

Depois das perguntas iniciais sobre sua saúde e antecedentes mórbidos, trocas de gentilezas, informações sobre quem nos recomendara, estado de saúde de conhecidos e colegas, a inevitável pergunta sobre o Frescal joaquinense no espeto, do Viterbo e de seu fiel assador, seu Nascimento. Aí, então, começava o exame. Mas, não sem antes uma indagação:

- Ainda que mal pergunte que coisa o senhor anda fazendo aqui em Criciúma, com esse tempo?

Quem já foi a Oftalmologista lembra daquele equipamento em que o paciente apoia queixo e encosta a testa tendo a visão deslumbrada por forte facho de luz. É a lâmpada de fenda, valioso instrumento para exame biomicroscópico do olho. Não havia jeito de seu Eleutério acomodar-se na máquina, como ele dizia. Boris ao ver a dificuldade toda correu a auxiliar. Debalde, o tamanho do cliente era obstáculo e tanto. Depois de bom tempo e de tentativas sem conta, fronte suada, seu Luiz admitiu:

- Os doutores me desculpem, mas é que não sou muito manso de canga...  

(CONTINUA BORIS PAKTER PRÓXIMA SEMANA)

Por Henrique Packter 22/09/2021 - 08:00

O médico MAURÍCIO FERNANDO PEREGRINO DA SILVA, nasceu no RJ cidade onde fez todos os seus estudos. Colou grau em Medicina pela atual UniRio em 1968. Há uma diferença a favor de Boris de dois anos falando-se de iniciar a vida profissional, Boris em Criciúma, Maurício em Orleans.  Especializado  em Clínica Médica, atuando também em Cirurgia Geral, Maurício, no antigo INPS foi aprovado em concurso público como obstetra. Realizou mais de mil e duzentos partos. Trabalhou inicialmente em Orleans cidade onde EMIR BORTOLUZZI DE SOUZA era o único médico.

O distrito de Orleans do Sul, criado em 2.10.1888 englobava a área de mineração requerida pelo do Visconde de Barbacena e Pindotiba, na época denominada Raposa, a rigor a primeira região habitada.

Resultado de trabalho das lideranças locais e políticos de Tubarão, liderados pelo Deputado Acácio Moreira, foi criado o município em 30.8.1913. Era composto dos distritos da Sede, Lauro Müller, Grão-Pará e Palmeiras. A grafia do nome do município passou a Orleans e Distrito de Palmeiras para Pindotiba. Em 1970, voltou a grafia original de Orleans. O Distrito de Lauro Müller foi emancipado em 5.10.56, Grão-Pará em 21.6.58 e finalmente uma parte de São Ludgero transformada em município em 14.6.63.

BORIS ATENDE EM ORLEANS

Boris era amigo de Emir e dele recebeu convite para trabalhar em Orleans uma vez por semana, no Hospital Santa Otília.  Lá ia ele toda quarta feira atender a população da região. Este atendimento facilitava a vida dos orleanenses no sentido de não afastá-los para a cidade grande, afastando-os da lavoura, tão necessitada destes braços. 

A 4.10.1938 nascia o hospital de Orleans. Após exame e parecer da comissão técnica, passou a diretoria a denominá-lo HOSPITAL MUNICIPAL HENRIQUE LAGE, pela colaboração prestada pelo político que era o dono na Empresa Mineradora Carvoeira de Lauro Muller. A homenagem também se devia pela participação ativa desde o início da obra dos engenheiros da referida Empresa Reinardo Schmithausen, Walter Weterli, Marcio Machado Portela, Wilson Gonçalves e Nestor Gigueira.

O hospital inicia seu funcionamento com os médicos José de Lerner Rodrigues e Antônio Dib Mussi. A inauguração somente ocorreu em 15.01.1939. Foi nesse dia, segundo boatos, que, ao visitar as obras da ponte sobre o Rio Tubarão, na chegada de Urussanga, o Interventor Nereu Ramos, tomou conhecimento do nome já escolhido para o hospital. Não gostou e perguntou pelo nome da padroeira do município.

Ao discursar disse: "Estamos aqui em Orleans para visitar as obras desta ponte e também estaremos inaugurando o Hospital Municipal Santa Otília, cujo nome é dado em homenagem a Santa Padroeira desta paróquia." Mais que depressa o Prefeito José Antunes Matos determinou aos fiscais da prefeitura Hugo Claumann e Gastão Cordini que fossem rapidamente ao hospital e retirassem a placa com o nome Henrique Lage. (Orleans 2000 - História e Desenvolvimento. Jucely Lottin. Pág. 167.1998).

Mais tarde, Maurício muda para Criciúma onde trabalhou por doze anos, cinco horas por dia no Pronto Socorro do Hospital São João Batista. É cidadão honorário de Criciúma e Juiz no Tribunal Arbitral de Criciúma, onde atua em processos médicos. Arranjou tempo para escreveu Verdades e Mentiras Sobre Médicos (2001), seu primeiro livro.

No Verdades e Mentiras Sobre Doenças há dois capítulos que chamam atenção. O primeiro Boca, Faringe, Traqueia, Esôfago, Laringe (pág. 136) e o segundo Sinusite (pág. 186). São dois artigos que têm tudo a ver com a especialidade que Boris exercia em Criciúma e me fizeram lembrar de episódios vivenciados por nós. Maurício Peregrino faz uma pesquisa primorosa dos assuntos que aborda.

Ensina o que é faringe. Você já teve faringite? Pois é a inflamação da faringe, que é o que você vê quando abre a boca e enxerga lá no fundo aquele tecido avermelhado (orofaringe), ensina Maurício. Pra cima há uma cavidade que na verdade constitui os fundos das narinas, território onde estão as adenoides, responsáveis por aquela ronqueira das crianças (rinofaringe). Mais pra baixo está o laringe (laringofaringe), órgão da voz. Laringe e rinofaringe só são vistos com equipamentos. O laringe tem dois canais um conectado com o estômago e o outro ligado ao pulmão. O faringe tem uma válvula (glote) que impede aos alimentos sólidos ou líquidos cair na árvore respiratória, via traqueia. Por este mecanismo alimentos e líquidos são remetidos para a via digestiva, o esôfago.

Chegando ar na faringe a válvula tapa o esôfago e o ar entra na traqueia e brônquios. Quer dizer, o tubo da frente é para passagem do ar, para a respiração e o tubo de trás é para a alimentação. Traqueia na frente, esôfago atrás. Maurício adverte para nunca dar de beber a pessoa inconsciente. O mecanismo de válvula estando inoperante você pode matar por sufocação essa pessoa que vai receber o líquido na traqueia!

A DESCONTRUÇÃO DO SER HUMANO

Maurício acha que estamos mal construídos. Deveríamos sim, ter a boca no lugar do nariz e vice-versa. Desta forma, o ar da respiração, entrando pelo nariz (abaixo, no lugar da boca), cairia direitinho no primeiro tubo (da respiração) e o alimento, entrando pela boca, mais acima, cairia no tubo de traz evitando problemas de trânsito e a pessoa inconsciente poderia receber água para beber, sem risco de sufocação.

Também já se poderia acrescentar a essa alteração pelo menos colocar mais um olho, na nuca, talvez também aumentar o número de braços, com inegáveis vantagens para o PIB do país.

Esta interessante notícia do Maurício traz-me à lembrança uma outra, de Ruy Castro. Ele leu em algum local que cientistas japoneses estariam criando rãs sem cabeça. A nota acrescentava que o processo poderia ser estendido aos humanos. Todos nós entendemos a vantagem de criar rãs sem cabeça: o intelecto não é uma das maiores características das rãs. Pensar na economia de tempo para os restaurantes que aproveitam delas apenas as pernas, e à milanesa. Mas, para que criar seres humanos sem cabeça? Já existe por aí milhões de criaturas para quem ela não serve pra nada, exceto usar um boné ao contrário.

Humanos sem cabeça parece que serviriam apenas como doadores de órgãos. É de pensar, que indivíduos destituídos de cabeça estariam condenados a nunca participar de magnas comemorações como ver o Internacional sagrar-se campeão brasileiro algo que vai ocorrer inda agora, com Aguirre, neste ano. Também estarão condenados a jamais ver a Juliana Paes desfilando na Mangueira.  

Maurício discorre com o mesmo brilho quando fala sobre sinusite. Sinusite era e ainda é sinônimo de dor de cabeça. Pessoas vinham já com diagnóstico mais ou menos elaborado, graças às vizinhas, comadres, farmacêuticos. Avultavam os diagnósticos de calor de figo, entidade abrangente englobando todos os problemas digestivos e mais algumas mazelas esotéricas.

Tinha o mal da terra, a espinhela caída, a dor no vazio, a ideia fraca,  chia, senozite, xaqueca, a papeira, a doença do gato (pela sua forma de transmissão), a barriga d’água, desarranjo, quebranto (mau olhado), algueiro, campainha caída, febre cesão, difruço, dor nas cadeiras, dor no espinhaço, estombo, dor nos quarto, dordói, empachado, estopor, fastio, gastura, impinge, enquizila, morroidia, nó nas tripa, quarto arriado, pereba, tirissa, vazamento, esquentamento, cobreiro, intupido, andaço, quebradeira.

Maurício ensina que sinusite passou a ser sinônimo de dor de cabeça. Radiografias se sucediam, ora para diagnóstico, ora para ver como estava a situação. Certos ossos do crâneo são dotados de cavidade, conhecida como SEIO. Sinusite é uma inflamação da mucosa, pele fina que reveste essas cavidades, esses SEIOS. Temos essa pelezinha em muitos locais do corpo. Por isso, mucosa gástrica, intestinal, bucal...     

Daí sinusite frontal, maxilar, esfenoidal dependendo do seio afetado. Podemos também ter uma pansinusite, no caso de todos os seios estarem inflamados/infectados a um tempo.  A dor da sinusite piora quando se apanha sol ou quando a gente se abaixa.  Com grande propriedade, Maurício encerra o capítulo aconselhando que se você sofre de dor de cabeça constante ou episódica vá ao médico. Obtenha dele diagnóstico de certeza garantindo que você tem mesmo sinusite. Obtido o diagnóstico, trate a doença, até certificar-se de que está mesmo curado. A cura não assegura imunidade e a sinusite pode voltar a qualquer momento, após uma gripe ou um simples resfriado. Cuide-se.

O livro de Maurício Peregrino, na sua simplicidade, engenhosidade e grande trabalho de pesquisa – didático e esclarecedor - é daqueles que é bom ter nas mãos para eventual consulta.

HISTÓRIAS COM BORIS

O jornalista Luiz Antônio Soares, dotado de permanente inquietação profissional, já escreveu que povo sem história é povo sem alma. Vai às últimas consequências quando se trata de advogar princípios, valores, convicções -, segundo Moacir Pereira que ainda acrescenta: é um jornalista competente punido em sua própria terra pela inveja dos medíocres.

Pois, Soares escreveu e publicou livro no qual conta dois episódios também vivenciados por Boris. Levei meu irmão a Laguna para conhecer Paulo Carneiro, um dos monstros sagrados da Medicina e da Política catarinense em todos os tempos. Voltou da velha Laguna, e não podia ser diferente, impressionadíssimo. O próprio Paulo contou-lhe a história do talho, envolvendo modesto pescador artesanal que o procurou após muitos anos de ausência.

- Meu filho, que feridas feias em tuas pernas! Quem foi o açougueiro que te tratou?

O pescador acusava médico de outra paróquia para onde se mudara havia muitos anos. Também aproveitou para reclamar dos remédios que não adiantavam de nada e das pomadas que aliviavam a comichão e não as pustemas.

Paulo Carneiro enquanto examina o pescador recrimina a inabilidade e a falta de conhecimento do outro médico. Um carniceiro, disse.

- E esse talho aqui, meu Deus?

- Isso, foi aquela operação du apêndice qui u sinhô dotô feis daquela veis, não si lembra?

- Claro, pelo menos este está bem feito!  

BORIS continua próxima semana...

Por Henrique Packter 17/09/2021 - 13:14 Atualizado em 17/09/2021 - 13:16

Boris chegara pouco antes a Criciúma e logo fazia história corrigindo cirurgicamente lábios leporinos e fissuras palatinas, sendo o primeiro em nosso meio a realizá-las. Boris foi também o primeiro a usar microscópio em cirurgias de ouvido no sul catarinense.

Desde sua chegada, determinado segmento populacional teve dificuldade em assimilar seu nome. De modo geral era chamado de Dr. Borges. Com o tempo, passou a ser conhecido e reconhecido no sul catarinense. Entre outras coisas, participou, organizou e presidiu de 30.10.1970 a 02.11.1970, a 1° Jornada Catarinense de ORL e Broncoesofagologia em conjunto com 1° Jornada Catarinense de Pediatria, cujo Presidente foi David Boianowski.  Esses acontecimentos médicos foram realizados em Criciúma. Na Jornada de ORL participaram, ministrando cursos, os professores Rudolf Lang (PUC/RS), Ivo Kuhl (URGS), Israel Schermann (URGS), Nicanor Letti (Anatomia de ouvido na URGS) e Reinaldo Coser (UFSM). Os profissionais da área em nossa região sabem de quem falo quando enuncio estes nomes, monstros sagrados da especialidade, no Brasil da época.

Boris presidiu (1971/1973), o departamento ORL e Broncoesofagologia da Associação Catarinense de Medicina.

Em programa de rádio sobre Medicina, Boris entrevistava médicos da cidade, na década de 70 (Drs. Luiz Fernando da Fonseca Girão, Sergio Alice, João Kantovitz, Everaldo Sabatini ...). Este programa pioneiro era semanalmente transmitido pela Rádio Eldorado.

A FORMATURA DE BORIS EM 1965, SANTA MARIA,RS.

Era verão e verão tórrido em Santa Maria, cidade que sabia ser quente, como quase nenhuma. A cerimônia de colação de grau seria no Cine Glória. Fui à cerimônia com meus pais mais a parentada e amigos da família. Frida esperava nosso terceiro filho, Bruno e ficou na residência de meus pais, na Rua do Acampamento O cinema lotado, gente que não acabava mais procurando entrar, frente ao cinema. Havia um local, próximo à bilheteria, vazio de pessoas exceto por um fumante, homem alto ar de desânimo, exatamente no centro do vazio. Aproximei-me para reconhecer Paulo Devanier Lauda, formado em Medicina (1954, Curitiba), ano do meu ingresso, lá mesmo, no Curso Médico. Lauda foi o orador da Turma 1954 e não menos que brilhante. Tinha um irmão mais jovem, Jorge Derly Lauda, anestesista, também formado em Curitiba. Paulo foi Vice-presidente da UNE e presidente do Diretório Nilo Cairo dos estudantes de Medicina. Quando ingressei, a Faculdade estava em reforma. Fizemos o exame vestibular em meio a poeira, barulheira, imprecações de operários e nossas, para indignação das colegas.

O discurso do orador de Turma carecia ser aprovado pelo Reitor e Lauda submetera o seu a esse procedimento obrigatório. No palco do Cine Ópera, avenida João Pessoa de Curitiba, a cidade toda lotando o cinema, Lauda tira o discurso do bolso interno do paletó. Entre seus colegas formandos, Antonio Osny Preuss (depois professor de Ortopedia), Cid Gomes (de Florianópolis e irmão de minha colega Elia Gomes), Felix do Rego Almeida (especialista em cirurgia da mão), Jayme Benjamim Guelmann (herdeiro da indústria de móveis e criador do curso pré-vestibular), João Eduardo Oliveira Irion (radiologista em Santa Maria), Lauro de Castro Beltrão (professor de anatomia), Lourenço Cianci Filho (médico em Criciúma, construiu o Hospital São João Batista), Octávio Augusto da Silveira (filho de nosso professor de Neurologia, natural de Tupanciretan), Paulo Franco de Oliveira (cardiologista).

Prestes a iniciar a leitura do discurso, Lauda volta a guardá-lo no bolso e falou sem auxílio do documento escrito.  Felicitou o Reitor Flávio Suplicy Lacerda, que compunha a mesa das autoridades, pelos esforços que sua gestão fizera para embelezar a Praça Santos Andrade, situada em frente ao prédio da Reitoria (!). Incitou-o a fazer o mesmo com o interior da faculdade, dotando-a de equipamentos de cuja ausência tanto nos ressentíamos.

Suplicy era ladino e saiu-se bem. Já fora jovem, disse no seu discurso. Entendia desses arroubos juvenis. Mas, aquele não era nem o momento nem o local apropriado para críticas. O momento era de celebração. Dos felizes pais presenciarem o coroamento dos esforços de tantos anos. Suplicy sabia das coisas.

Paulo era Dermatologista e foi professor universitário.

PRÓXIMA SEMANA:  CONTINUA BORIS PAKTER...

Por Henrique Packter 13/09/2021 - 08:02 Atualizado em 13/09/2021 - 08:03

BORIS chegou a Criciúma dias após o falecimento do médico JOSÉ (JUCA) TARQUÍNIO BALSINI, nascido a 7.9.1905 em Joinville, filho de Tarquínio e Lúcia Moro Balsini. Casado com Carmem Mattos Balsini, JUCA foi pai de três filhos: o engenheiro Claudio (casado com Vera Regina Kastrup), o advogado Clóvis (casado com Maria Helena Luz) e Sônia (casada com o advogado tubaronense Adhemar Paladini Ghisi, muitas vezes deputado federal por SC, depois Ministro e Presidente do Tribunal de Contas da União). Clovis e Adhemar são falecidos.

BALSINI, cidadão honorário de Criciúma em 11.9.1961, foi diretor-clínico do HSJ, da sua criação em 1936 até 13.2.1966, data de seu falecimento.

1965 é a data de formatura de BORIS, na Faculdade Federal de Medicina de Santa Maria. Esta faculdade federal também formou Júlio Manfredini, Portiuncola Caesar Augustus Gorini, a anestesista Mari Sandra de Brito Petry e Gervani Bittencourt Bueno, diretor da CRIOX, Medicina Hiperbárica e Tratamento de Feridas. Martinho Ghizzo, de Araranguá, também lá se formou, entre outros.
BALSINI era médico dotado de raro senso prático e operava com rara habilidade. Na minha chegada à cidade (1960), DIFTERIA grassava na região, colhendo elevado tributo em vidas, mormente de crianças. Balsini ensinava: há dois tipos de difteria a branca e a azul. Na azul, a criança está morrendo por asfixia. Dê soro e faça uma traqueostomia. Na branca, a criança está profundamente  intoxicada, em toxemia, não adianta fazer nada.

Chegando OLAVO DE ASSIS SARTORI, a cidade se resumia a casario de pé direito insignificante, espremida entre a Estação de Estrada de Ferro (onde está o Buraco do Prefeito), e o HSJ. Do lado de lá dos trilhos havia o Cemitério, onde hoje está o SUPERMERCADO BISTEK, e, pouca coisa mais. Chegando Sartori, Balsini dividiu a cidade quase salomonicamente em duas freguesias: os chamados para atendimento médico pra lá dos trilhos, eram de Sartori, os restantes, eram de Balsini...

Coube a Balsini operar de apendicite o magérrimo Raimundo Jorge Peres. Convalescente, Peres decide descansar alguns dias em Uberaba, MG, sua cidade natal. Foi e voltou acompanhado do irmão gêmeo de quem ninguém suspeitava a existência. Mas, o irmão, ao contrário de Peres, era gordíssimo. Resolvem divertir-se às custas de Balsini que costumava gaguejar quando colocado em situação embaraçosa. Pois foi o que aconteceu quando Balsini vê entrar em seu consultório no HSJ um estranhíssimo personagem, que a exemplo do antes obeso Roberto Jefferson, só viajava de avião se adquirisse duas passagens, dois assentos contíguos.

- Me-eu Deus! C-a-a-alma... Devagar, s-s-senta aí, Peres...

JOSÉ BALSINI, contemporâneo de Sílvio Ferraro, primeiro médico em Criciúma, fumava e teve câncer de pulmão, operado em SP pelo Prof. Euríclides de Jesus Zerbini em 1965. Procurou-me em 22.10.1965, meses após a cirurgia queixando-se de vermelhidão e dor no olho direito. Dona Carmem telefonou previamente, alertando-me a respeito do comportamento de Balsini diante das suas doenças. Quando da operação do pulmão em São Paulo, na Beneficência Portuguesa, Zerbini, mesmo sem ainda ter botado os olhos no exame anatomopatológico já sabia que estava diante de um tumor maligno de pulmão em estágio avançado. Foi advertido por familiares de Balsini para nada revelar ao paciente que já ameaçara jogar-se do 10º andar do prédio caso seus temores a respeito da natureza da doença se concretizassem.

Melhorando, ainda internado em São Paulo, Balsini ganha autorização para andar ao longo do corredor do andar onde estava hospitalizado. A ideia não foi das melhores. Caminhando com a lentidão exigida por seu estado de saúde, passa pelo Posto de Enfermagem e apanha seu prontuário. Nele, está apenso o laudo do Patologista que não deixava qualquer dúvida: era câncer de pulmão.

Balsini desespera-se e Zerbini é chamado:

- De jeito nenhum Balsini! Eu fiz tua cirurgia, tirei teu pulmão e sei que o que tinhas era, talvez, antigo processo pulmonar, talvez uma tuberculose ou pneumonia mal curada. Este laudo não tem nada a ver! Vou imediatamente saber a que se deve esta troca infeliz.

Assim, Balsini, cirurgião experiente e competente deixou-se ludibriar porque isto é da natureza humana. Nós simplesmente não queremos ter doenças graves e aceitamos estas bondades obsequiosas dos nossos médicos.

Juca Balsini vem ao meu consultório:

- Henrique, imagina que na Beneficência Portuguesa, talvez o maior hospital brasileiro e da América Latina cometeram este engano comigo. Na Beneficência Portuguesa! Nós aqui, estamos de antemão absolvidos de qualquer engano que venhamos a cometer!

Examinei-o. Tinha extensa metástase ocular ocupando quase todo o olho, a partir de sua metade inferior. Na amígdala esquerda também havia metástase.

Balsini perguntou minha opinião sobre consultar o grande Oftalmologista HILTON ROCHA em Belo Horizonte. Aprovei a ideia. Afinal, eu tinha menos de cinco anos de prática médica na cidade e não queria ficar conhecido ad eternum como o doutor que removera o olho do mais célebre médico da região. A única coisa a fazer era a remoção do olho e da amígdala e isso, com resultados extremamente duvidosos. Balsini retornou de BH antes do Natal. Fizera fotocoagulação ocular com Hilton Rocha e irradiação da amígdala mais antiblásticos em SP. Mas, as dores oculares eram insuportáveis por Glaucoma agudo, devido ao tumor metastático intraocular. Fiel ao meu pensamento expresso logo ali acima, fui a Torres no RS, onde veraneava o Prof. ALFREDO SCHERMANN, tio de Paulete, futura esposa de Boris. Coube a ele vir a Criciúma e remover o olho direito de Balsini que faleceu em 1966 aos 60 anos.

Por Henrique Packter 08/09/2021 - 08:55 Atualizado em 08/09/2021 - 08:56

Casado com Paulete Canter, tiveram três filhos: Ernane, Marcelo e Renato. Marcelo é analista do Banco Central do Brasil. Renato é professor no Instituto de Física da URGS, RS. Paulete é sobrinha de dois monstros-sagrados da Medicina gaúcha: Alfredo (Oftalmologista) e Israel Schermann (ORL), ambos já falecidos. (Uma das teses de doutorado de Renato: Efeitos de raios de Larmor finitos nas instabilidades por temperatura iônica anisotrópica em plasmas inomogêneos de alto beta !). O Físico criciumense Renato Pakter é casado com a Oftalmologista gaúcha Helena Messinger, aprovada em primeiro lugar (16.11.2017) no concurso para provimento de cargo na carreira de magistério superior da UFRGS. Desde março de 2008 o serviço de oftalmologia iniciou o programa de residência médica.

No Serviço de Oftalmologia  do HNS da CONCEIÇÃO a Dra. Helena Messinger Pakter é coordenadora de Oftalmologia e Preceptora do Setor de Glaucoma.

ISRAEL E ALFREDO SCHERMANN

Médico havia mais de seis décadas, Israel Schermann nasceu em Santa Maria (1920) e morreu em agosto de 2010 aos 90 anos, em POA. Filho de imigrantes judeus russos, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do RS (UFRGS-POA) em 1944. Clinicou por alguns anos no interior do RS, retornando à capital em 1950. Fui por ele amigdalectomizado em 1965.

Otorrinolaringologista, especializado em Buenos Aires e Montevidéu, foi professor e chefe do Departamento de Otorrinolaringologia da UFRGS, onde se aposentou. Positiva unanimidade  nos quesitos caráter, competência e respeito às pessoas, era estimado por todos.  Flora (casamento de 56 anos), duas filhas e quatro netos, sobreviveram a Israel. Já aposentado, era dado a comentários jocosos, alguns referindo-se a ele mesmo. Tinha o hábito de levantar cedo. Dizia: acordava cedo para ficar mais tempo sem fazer nada... Ou: se o sol não vier até 11 horas levanto no escuro mesmo.

Alfredo Schermann, primeiro oftalmologista do Hospital Banco de Olhos de POA, fundado por Lydia Moschetti, em 22.3.1956 e doado à Congregação das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, em 14.9.1957. Com endereço na Rua Pinheiro Machado, 148, Moinhos de Vento, POA, construção acanhada, não atendia às suas necessidades, tornando-se urgente construir nova sede.  Eram três quartos para atendimento de pacientes, inexistindo centro cirúrgico.

Lídia Moschetti, doou-o à Congregação, solicitando de imediato ao Prefeito Leonel de Moura Brizola, a concessão de terreno para que fosse construída a Clínica do Banco de Olhos. Brizola prometeu auxiliá-la.

Em 1958 chegam vários subsídios para construção e manutenção da obra.

Em abril de 1960, Madre Nicolina Corvata recebeu de Aloisio Brixner e outro, doação de terreno em POA, bairro Vila Ipiranga.

Assentada a pedra fundamental da futura Clínica Oftalmológica do Banco de Olhos (02.7.1960), somente em junho de 1962 se inicia a construção do novo prédio. Obra em andamento, Lydia Moschetti envia Alfredo Schermann a Nova Iorque para aprender a arte do Transplante de Córnea com o célebre catalão Ramón Castroviejo.

Ao lado das Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, Lydia Moschetti, sempre ardorosa, e empreendedora,  graças a doações, em 14.9.1970 inaugurou solenemente o novo prédio do Hospital Banco de Olhos de POA.

Talvez o maior nome no mundo em Transplantes de Córnea nesta época, o catalão Ramón Castroviejo doutorou-se em Medicina na Universidade de Madrid. Lá trabalha 4 anos, transferindo-se para lecionar em Chicago, abrindo depois sua própria clínica. Trabalhou ainda na Clínica Mayo.

Naturalizou-se estadunidense em 1936. Já trabalhava na Universidade, onde permaneceu até 1952. Nesse mesmo ano, nomeado catedrático na Universidade de Nova York, lá permanece até aposentar-se em 1975. Nessa Universidade Alfredo Schermann trabalhou com Castroviejo.

LEGADO DE RAMÓN CASTROVIEJO
 
Precursor na Espanha dos bancos de olhos, suas contribuições no campo dos transplantes, asseguraram a ele, fama universal.
O primeiro transplante de córnea tecnicamente bem sucedido é de 1905, por Edward Zirm, e se manteve claro por mais de 1 ano. O transplante penetrante de córnea, dependendo da patologia prévia, apresenta 90% de chance de se manter transparente. O Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de POA (ISCMPA) realiza transplantes de córnea desde 1938. Doações de córnea tornaram-se mais frequentes a partir do início da década de 90, motivadas pela Central de Transplantes do RS, responsável pela captação e distribuição de órgãos doados no estado.

 RECONHECIMENTO

Quando escrevi sobre o pneumologista criciumense CELSO MENEZES, coloquei que, na sua avaliação, meu irmão BORIS PAKTER (formado em1966, UFMSM), JOSÉ DARCI SILVESTRE (1974, PUC-POA) e eu, constituímos o primeiro grupo médico a trabalhar dentro do conceito de Clínica, no sul do estado. Trabalhávamos no mesmo consultório no HSJ, mal desconfiando de nosso pioneirismo laboral regional conjunto. Nosso primo DAVID GROISMAN RASKIN, hoje Oftalmologista em Campinas, também juntou-se a nós.

O QUE BORIS FEZ PELA REGIÃO

Boris nascido a 3.9.1941 em Santa Maria, RS, fez toda sua formação lá mesmo. Estudou no Colégio Marista e na FMUFSM, formando-se em 1966. Em 1967 já estava em Criciúma. Logo se fez notar pela habilidade na remoção de corpos estranhos bronco-esofágicos, área até então desassistida, sem nenhum profissional a atendê-la em todo sul de SC.

Pendurou num quadro, logo à entrada da clínica, objetos aspirados e por ele retirados laboriosamente com aparelho de Chevalier-Jackson. Da maior importância foi esta contribuição trazida por Boris. Aprendi com ele a manipular o instrumento para remoção de corpos estranhos de brônquios e esôfago. Em troca ensinei a ele o que sabia de Oftalmologia.

Na próxima semana: de como Alfredo Schermann veio a Criciúma operar José Tarquínio Balsini;  continua BORIS PAKTER, primeiro broncoesofagologista em Criciúma.

Por Henrique Packter 02/09/2021 - 11:37 Atualizado em 02/09/2021 - 11:40

Uma questão de nomes próprios

Observando os nomes lá em cima, parece que um engano foi cometido: afinal é Pakter ou Packter?

Como acontecia com regular frequência na época, os assoberbados cartórios de então cometiam equívocos que acompanhavam as pessoas pela vida. Na verdade, o sobrenome do escriba e seus descendentes é que padece de erro. Paciência, há coisas piores. Por muitos anos atendi pacientes em Criciúma com nomes bizarros, inacreditáveis. Havia um Satírio Venéreo que residia lá pelos lados da Próspera. Um outro chamava-se Cetiva qualquer-coisa, sendo Cetiva nome de popular medicamento à base de Vitamina C. Por pouco o Sr. Motes não foi batizado (como era intenção dos felizes e alienados pais) com o nome do absorvente feminino, então, grande novidade.

Foi por obra e arte de algum obscuro cartório santa-mariense, que Boris e eu somos irmãos com sobrenomes diferentes. Já nossa irmã, Dorinha, é Pakter, como os pais e o irmão caçula.

Lembro de nossa meninice, as coisas difíceis, o dinheiro escasso, lá em casa, na Santa Maria da Boca do Monte. Nosso pai lutava como podia para suprir nossas mais notórias e elementares necessidades de sobrevivência. Todos faziam sacrifícios. A roupa de nosso pai por artes estilísticas do prêt-à-porter de mamãe transmudava-se em roupas minhas e finalmente, depois de regular uso, de Boris. Dona Geni, nossa mãe, falava em distribuição irmãmente das roupas paternas.

Por isso, nada a estranhar quando Boris chega a Criciúma em 1967 (eu chegara em 1960) e diante da minha oferta de distribuir irmãmente o produto de nosso trabalho, reagiu:

- Irmãmente coisa nenhuma, cinquenta por cento para cada um!

UMA QUESTÃO DE SOBRENOMES

Thomas Reis Mello, nosso colega no HSJ conhecia um Clerq Kent da Silva, morador de Jacaré, quarto distrito de Torres, RS. Explicava-se o estranho personagem:

- Parece que meu avô morreu disso...

Não poucos problemas nossos sobrenomes nos trouxeram. No vestibular para o Curso de Medicina, permitiram que eu a ele me submetesse, condicionalmente. Na minha certidão os sobrenomes dos pais estavam corretos, mas não o meu.

Fui chamado à secretaria da Faculdade duas vezes, eu acho, até que o problema parece que foi esquecido. Ou sanado, não sei bem.

Na fuga da Inquisição, muitos judeus e muçulmanos que viviam em Portugal e Espanha nos séculos 15 e 16 converteram-se ao catolicismo. Também alteravam seus sobrenomes para coisas da natureza, como Leão, Carneiro e Pinheiro – embora essas nomenclaturas não sejam exclusividade deles. (Fernando Carneiro, Chico Pinheiro e Leão Júnior, aquele do MATTE LEÃO em Curitiba, são nomes bastante suspeitos).

Silva é o sobrenome mais popular no Brasil, mas a maior família com laços consanguíneos é a dos Cavalcanti, de Pernambuco. Por lá, reza a lenda que “ou se é Cavalcanti, ou se é Cavalgado”.

Isso nos leva ao Brasil-Colônia do bispo Sardinha, devorado pelos índios. O sacerdote português, Dom Pedro Fernandes Sardinha, ou Pero Sardinha, (Évora, 1496/Capitania de Pernambuco, 1556), primeiro bispo do Brasil, chegou a Salvador da Bahia em 25.2.1551  aos 55 anos. Sardinha tomou posse em 22.6.1552 e renunciou à função em 2.6. 1556.

A 16.7.1556,  capturado pelos índios caetés no litoral sul de Alagoas —, e, mesmo indicando por acenos que era importante prelado dos portugueses e sacerdote consagrado a Deus, que se vingaria dos excessos cometidos contra ele, foi abatido com uma maça e devorado com seus companheiros.

Dom Pedro Fernandes Sardinha foi sucedido na Sé Primacial do Brasil por Dom Pedro Leitão (1519-1573). Portanto, Pedro Leitão sucedeu a Pedro Sardinha.

Para os índios canibais que viviam na época do Brasil colônia, sobrenome era uma questão de aquisição: eles iam agregando os nomes das pessoas que devoravam! Canibais nasciam com apenas um nome e iam colecionando outros ao longo da vida – a quantidade era motivo de orgulho e semostração.

A família imperial brasileira sempre teve nomes quilométricos, D. Pedro I tinha uma porção. Querem ver? Contem bem: Pedro de Alcântara, Francisco, Antônio, Carlos, Xavier, de Paula, Miguel, Rafael, Joaquim, José, Gonzaga, Pascoal, Cipriano, Serafim. São 14!

Tudo homenagem aos antepassados próximos.  4.280 (CONTINUA).

Por Henrique Packter 30/08/2021 - 09:47 Atualizado em 30/08/2021 - 09:50

Pois é. Quando escrevi pela vez primeira algo publicado pela imprensa meus filhos criticaram acerbamente a maneira pela qual me apresentei, cheia de estrelismo, disseram. Mas, se não falo eu de minhas conquistas, quem falará?

Querem ver? Sou oftalmologista desde 1960, são 60 anos de prática médica na mesma especialidade. Numa sexta-feira de um ano longínquo, em cidade distante,  agendei duas cirurgias que realizei a partir das 14 horas. A primeira era uma injeção intraocular de substância antiangiogênica, procedimento revestido de grande simplicidade e de execução rápida e fácil. A segunda cirurgia era uma catarata com implante de lente intraocular. Ambas cirurgias decorreram na mais absoluta normalidade. Terminada esta última, deitei-me na maca que utilizara para realizar os atos cirúrgicos  e fui, por minha vez, operado de catarata.  Conhecem caso igual?

Formado em Medicina em 1959 na Universidade Federal do Paraná, já em janeiro de 1960 estava trabalhando em Criciúma SC na condição de único Oftalmo-Otorrinolaringologista da cidade. Mais do que isso: entre Criciúma e Florianópolis (200 km) havia apenas outro colega na especialidade em Tubarão. De Criciúma para o sul só havia colega na especialidade em Porto Alegre, a 291 km!

Subindo a Serra do Rio do Rastro apenas em Lages havia colega na especialidade, a 200 km. Esta vastidão toda era atendida por apenas dois médicos. Na extensa zona carbonífera acidentes ocorriam diariamente, muitas vezes revestidos de gravidade, em especial as temíveis explosões no subsolo. Dificilmente saíamos de férias ou para qualquer outro evento, postos em sossego. Telefones, mesmo fixos, eram raridade. Se saísse do roteiro fornecido ao hospital era comum a ambulância do IAPETEC ou do hospital ou ambas correrem a cidade à nossa cata.

Quando casei tive uma semana de lua-de-mel, contadinha.

A CASPA VENÉREA

Meu velho barbeiro morrera, hora de buscar outro para aparar-me os cabelos. Escolhido o profissional, minha mulher investiga o estabelecimento e volta torcendo o nariz. É verdade, o velho local não era nenhuma maravilha, primava pela simplicidade e parecia quase limpo e higiênico apesar dos montinhos de cabelos no chão, na barbearia de um só barbeiro.

- Vais acabar pegando uma caspa venérea -, sentenciou.  

O PANDEMÔNIO DA PANDEMIA OU QUE PAÍS É ESSE?

"Não é uma recomendação nossa, é uma autorização."

A PANDEMIA PROPRIAMENTE DITA ou A FUNÇÃO DO MÉDICO É CONFORTAR OS AFLITOS E AFLIGIR OS CONFORTADOS

Escrevo nos primeiros dias de julho de 2020 quando a pandemia do covid-19 faz o mundo chorar 554.924 mortes. Dessas, o Brasil contribuiu com 69.254, 12% dos óbitos, para mais uma peste (por extensão), de origem chinesa. A imprensa mundial já noticia que outra peste similar, ou ainda pior, originada na mesma região asiática, ameaça eclodir. O total de vidas humanas perdidas no mundo equivale hoje ao desaparecimento simultâneo das cidades de Joinville e Araranguá em SC onde há 112 dias morrem 4 pessoas da Pandemia, diariamente.

Os terríveis números pandêmicos fazem lembrar trabalho de historiador israelense contemporâneo quando afirma terem sido as preocupações da humanidade, durante quase três mil anos, a fome, a peste e a guerra. Parece faltar uma quarta preocupação para formar com o trabalho, ou melhor o (des) emprego, o quarteto das nossas sofrenças.

Por Henrique Packter 19/08/2021 - 08:29 Atualizado em 19/08/2021 - 08:31

DINO GORINI terá sido  primeiro profissional da área médica em nossa região a intuir sobre a importância dos exames laboratoriais no diagnóstico e terapêutica dos males do organismo humano. Munido de um modesto microscópio monocular fazia seus exames parasitológicos de fezes, exames comuns de urina e até hemogramas!

Os exames mais comuns eram aqueles de fezes, trazidas pelos próprios interessados das maneiras mais diversas. A preferência dos pacientes era trazê-las em  pequenas caixas de fósforos, mas havia quem as trouxesse em grandes pacotes, fezes laboriosamente colhidas em longo espaço de tempo!

Os tratamentos consistiam em ingerir ervas, sementes, alho, cebola, certos frutos, prescritos pelo médico.

BRIGITTE, autora de BONS TEMPOS, alude aos costumes da colônia. Fala dos namoros de então, merecedores da maior vigilância paterna (e materna, por que não!)).  Namorados andavam lado a lado na praça, às vezes roçando as mãos, um teste muito útil. Nada de mãozinhas dadas ou de braço. Mas, quando casavam, os bebês nasciam antes de nove meses das bodas. A gravidez do primeiro filho nunca era de 9 meses. Podia ser de um ano, dois meses, cinco meses. Todos os outros filhos do casal serão de nove meses, quase sem exceção. O nascimento prematuro de crianças bem fortes e saudáveis era a tônica daqueles bons tempos.

Meninas nada sabiam, aprendiam ou eram informadas sobre seus corpos, nem da sua anatomia ou fisiologia. Muitas entravam em pânico quando surgia a primeira menstruação. 

Gravidez de moça solteira era coisa impensável. Acusada de ter desonrado a família alguns pais simplesmente expulsavam-na de casa.

DINO GORINI nasceu em Pavia (Itália), 28.10.1909 faleceu em 31.7.1988 no Brasil. Ginecologista e Obstetra, acabou médico generalista num interior carente de médicos. DINO atendia a quem quer que o procurasse sem questionar se seria remunerado ou não. Com qualquer tempo subia a serra para atendimentos emergenciais.

-  “Seu Estevão vá encilhar o zaino que vou atender chamado lá no Costão da Serra”.

Na época o chefe de família detinha o poder de decisão e DINO, tuteado pelos filhos, dispensara-os de beija-mão e pedidos de bênção. Saudava a soltura de gases: “trompa del cullo sanita  del corpo”.

Encerrava discussão de qualquer assunto dizendo punto e basta.

DINO, bem-sucedido financeiramente, criou os filhos com noções de temperança. Foi Conselheiro e diretor presidente da Companhia Carbonífera São Marcos. A 3.10.1958, vereador mais votado, foi presidente da Câmara Municipal de Veneza. Um dos fundadores do Rotary Clube de Criciúma e Governador do Distrito 465 (1977/1978). Maçom na Loja Presidente Roosevelt, foi Venerável e representante da Grande Loja do Grande Oriente da Itália para o estado de SC. Presidiu a Comissão Organizadora dos Festejos do Centenário de Criciúma (1980). Cidadão Honorário de Criciúma (1977) e de Nova Veneza (1983). Há um Memorial Dino Gorini no Paço Municipal e também uma Unidade de Pronto Atendimento na Próspera com seu nome. Em 25.9.2003 o Círculo Ítalo-Brasileiro de Florianópolis, instituiu o prêmio “DOUTOR DINO GORINI Distinção e Reconhecimento Preservação da Memória Catarinense”. Reverenciava a memória dos imigrantes italianos agraciando personalidades ilustres que colaboraram/colaboram com a comunidade ítalo-brasileira.   

 

SAPOS

Sapos machos (amarelos) naqueles BONS TEMPOS eram úteis para testes de gravidez em humanas. O método Galli-Mainini consistia em injetar urina da suposta grávida em sapo macho. As fêmeas eram escuras com manchas, a garotada empenhava-se na captura de anuros machos atrás de alguns trocados.

No escuro da noite, sem lanternas nem velas a meninada acertava sempre nunca trazendo sapos fêmeas. DINO queria saber como nunca se enganavam.

- É fácil doutor, olha só o jeitão dele!       

A LUA DE TODOS NÓS

Um colono da Veneza  mandou um dos filhos estudar na Itália. Contava com o grande retorno em conhecimentos que ele traria para todos. Mas, as contas não param de chegar obrigando o velho pai a se desfazer de vários campos num total de sete. Volta o jovem luminar. À noite, conversam no jardim, o velho colono na expectativa das pérolas de sabedoria trazidas d’além mar.

- Papá, questa luna que io vedo è la stessa que ci vedeva in Itália?

O velho, coça a cabeça de ralos cabelos brancos:

- Puori i miei sete campi! (Pobre dos meus sete campos!).

Por Henrique Packter 11/08/2021 - 19:22 Atualizado em 11/08/2021 - 19:24

OLAVO DE ASSIS SARTORI contava, rindo-se ruidosamente, a história do marido de uma paciente a quem perguntara, concluído o exame ginecológico a que submetera sua esposa:

- Como é o seu nome?

AA-RÃO foi a resposta.

-Você é gago?

- Não, meu pai era gago e o escrivão era um filho da mãe!

UMA QUESTÃO DE NOMES PRÓPRIOS

Observando os nomes lá em cima, parece que um engano foi cometido: afinal é Pakter ou Packter?

Como acontecia com regular frequência na época, os assoberbados cartórios de então cometiam equívocos que acompanhavam as pessoas pela vida. Na verdade, o sobrenome do escriba e seus descendentes é que padece de erro. Paciência, há coisas piores. Por muitos anos atendi pacientes com nomes bizarros, inacreditáveis. Havia um Satírio Venéreo que residia lá pelos lados da Próspera. Um outro chamava-se Cetiva qualquer-coisa, sendo Cetiva nome de popular medicamento à base de Vitamina C. Por pouco o Sr. Motes não foi batizado (como era intenção dos felizes e alienados pais) com o nome do absorvente, então grande novidade.

Foi por obra e arte de algum obscuro cartório santa-mariense, que Boris e eu somos irmãos com sobrenomes diferentes. Já nossa irmã, Dorinha, é Pakter, como os pais e o irmão caçula.

Lembro de nossa meninice, as coisas difíceis, o dinheiro escasso lá em casa, pequenas dívidas mortificantes, lá em Santa Maria da Boca do Monte. Nosso pai lutava como podia para suprir nossas mais notórias e elementares necessidades de sobrevivência. Todos faziam sacrifícios. A roupa de nosso pai por artes estilísticas do prêt-à-porter de mamãe transmudava-se em roupas minhas e finalmente, depois de regular uso, de Boris. Dona Geni, nossa mãe, falava em distribuição irmãmente das roupas paternas.

Por isso, nada a estranhar quando Boris chegou a Criciúma em 1967 (eu chegara em 1960) e diante da minha oferta de distribuir irmãmente o produto de nosso trabalho, reagiu:

- Irmãmente coisa nenhuma, cinquenta por cento para cada um!

UMA QUESTÃO DE SOBRENOMES

Thomas Reis Mello, nosso colega no HSJ conhecia um Clerq Kent da Silva, morador de Jacaré, quarto distrito de Torres, RS. Explicava-se o estranho personagem:

- Parece que meu avô morreu disso...

Não poucos problemas nossos sobrenomes nos trouxeram. No vestibular para o Curso de Medicina, permitiram que eu a ele me submetesse, condicionalmente. Na minha certidão os sobrenomes dos pais estavam corretos, mas o meu, destoava.

Fui chamado à secretaria da Faculdade duas vezes, por esse motivo. Até, acho eu, que o problema foi esquecido ou superado. Ou sanado, não sei bem.

Na fuga da Inquisição, muitos judeus e muçulmanos que viviam em Portugal e Espanha nos séculos 15 e 16 converteram-se ao catolicismo. Também mudaram seus sobrenomes para coisas da natureza, como Rosa, Leão, Silva, Carneiro, Pinto e Pinheiro – embora essas nomenclaturas não sejam exclusividade deles. (Fernando Carneiro, Chico Pinheiro e Leão Júnior, aquele do MATTE LEÃO em Curitiba, são nomes bastante suspeitos).

Silva é o sobrenome mais popular no Brasil, mas a maior família com laços consanguíneos é a dos Cavalcanti, de Pernambuco. Por lá, reza a lenda que “ou se é Cavalcanti, ou se é Cavalgado”.

Isso nos leva ao Brasil-Colônia do bispo Sardinha, devorado pelos índios. O sacerdote português, Dom Pedro Fernandes Sardinha, ou Pero Sardinha, (Évora, 1496/Capitania de Pernambuco, 1556), primeiro bispo do Brasil, chegou a Salvador da Bahia em 25.2.1551  aos 55 anos. Sardinha tomou posse em 22.6.1552 e renunciou à função em 2.6. 1556.

A 16.7.1556,  capturado pelos índios caetés no litoral sul de Alagoas —, e, mesmo indicando por acenos que era importante prelado dos portugueses e sacerdote consagrado a Deus, que se vingaria dos excessos cometidos contra ele, foi abatido com uma maça e devorado com seus companheiros.

Dom Pedro Fernandes Sardinha foi sucedido na Sé Primacial do Brasil por Dom Pedro Leitão (1519-1573). Portanto, Pedro Leitão sucedeu a Pedro Sardinha. Leitão, Sardinha...

UMA QUESTÃO INDÍGENA

Para os índios canibais que viviam na época do Brasil colônia, sobrenome era uma questão de aquisição: eles iam agregando os nomes das pessoas que devoravam! Canibais nasciam com apenas um nome e iam colecionando outros ao longo da vida – a quantidade era motivo de orgulho e semostração.

A família imperial brasileira sempre teve nomes quilométricos, D. Pedro I tinha uma porção. Querem ver? Contem lá: Pedro de Alcântara Francisco, Antônio, Carlos, Xavier, de Paula, Miguel, Rafael, Joaquim, José, Gonzaga, Pascoal, Cipriano, Serafim.  14 nomes. Dom Pedro II ostentava igual número de nomes: Pedro de Alcântara, João, Carlos, Leopoldo, Salvador, Bibiano, Francisco Xavier de Paula, Leocádio, Miguel, Gabriel, Rafael, Gonzaga de Bragança e Bourbon

Tudo em homenagem aos antepassados próximos e até nem tão próximos assim.

Por Henrique Packter 04/08/2021 - 07:38 Atualizado em 04/08/2021 - 07:40

O pediatra DAVID LUIZ BOIANOVSKY, nos pampas gaúcho era colorado, claro. Aqui, optou pelo vermelhão do Próspera, participando ativamente do setor médico do clube e até de sua direção. ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, um de nossos primeiros dentistas, acompanhou-o. Na época, Alexandre aprendia a hipnotizar pessoas, pensando em aplicar esses conhecimentos em sua atividade profissional. Vai daí que em 1959 quando Diomício Freitas e Santos Guglielmi, homens abornados, adquirem a Carbonífera Metropolitana, José Francioni de Freitas, o DITE, dirigente do Atlético Operário, passa a cuidar do Metropol. Chama para auxiliá-lo GILBERTO JOSÉ OLIVEIRA, funcionário da empresa e depois importante diretor da Fundação Cultural de Criciúma. Dite nasceu na Laguna (25.1.1930), falecendo em Florianópolis, a 7.2.2002, 72 anos de idade.

O Próspera (29.3.1946) foi campeão da LARM em 1962 e 1964, justamente o período em que o zagueirão Léo atuou pela equipe. Durante muitos anos o clube foi o único representante de Criciúma no futebol catarinense. Por volta de 1969, o Comerciário, Atlético Operário e Metropol encerraram seus departamentos de futebol profissional, mas, o Próspera (de Chimirim, Mala, Gonga e Ticolira), manteve-se até 1975, quando sucumbiu aos prejuízos de campeonatos deficitários.

Não me lembra mais se este fato aconteceu com Danilo ou com Barbosa, goleiros do Próspera na década de 60. BOIANOWSKY (pediatra) e ALEXANDRE (dentista), grandes torcedores e próceres do Próspera, davam palpites em tudo: da estrutura do clube, passando pela escalação do time, assistência médica e jurídica, esquema de jogo...tudo!

Era dia de jogo do campeonato citadino. O Próspera tinha dura empreitada contra o Comerciário e estava com seu melhor goleiro contundido. Exames feitos pelo Dr. JOÃO KANTOVITZ mostravam que o problema não era sério, que até poderia ser escalado.

ALEXANDRE, pouco antes do jogo submetera o jogador a sessão de hipnose, passando sugestão de que estava bem, que iria voar no jogo etc.,

O goleiro teve um primeiro tempo portentoso, garantindo inacreditável 0X0. Pela metade do segundo tempo, observado atentamente pelo hipnotizador, que dele não desgrudava olho, Barbosa ou Danilo, começa lentamente a cair. Inclinado para a frente num ângulo absurdo, afinal, desaba. Alexandre tenta de tudo, esgota seus truques, mas o craque não retorna. O ponta esquerda Joel termina a partida no gol, quase sem ser vazado.

Por Henrique Packter 27/07/2021 - 10:33 Atualizado em 27/07/2021 - 10:35

Vânia e Orides eram conhecidos como o CASAL ALEGRIA pelo movimento do grupo Shalom, de casais. Sem eles as reuniões não eram iguais, sem eles e sem ele, notadamente, pra contar piadas e causos.  E as pescarias e caçadas com os amigos? Faltariam folhas e letras pra contar tantas passagens de sua vida, que apesar de terem sido apenas somado 59 anos, cremos, eu e meus quatro irmãos, foi muito bem vivida e muito marcada por este homem extraordinário que deixou um legado único: Educação e Amor pela família.

Quanto à educação ele foi sempre muito claro ao nos dizer: “estudem, é uma herança que o pai pode deixar a vocês e ninguém poderá tirar”. Hoje, ele teria 79 anos, com todos os filhos tendo cursado, estudado o que lhes apetecesse: Gelsom hoje conta 56 anos, é  técnico senior, com uma empresa de prospecção de minerais e detonação de rochas. Casado com Noêmia, têm três filhos e um netinho; a Carmosélia, com 53 anos, formou-se em letras e tempos depois cursou biblioteconomia porque a leitura, a boa leitura, sempre foi algo de sua especial predileção. Atualmente trabalha como tradutora e intérprete da língua italiana, mora na Itália. Casada com cidadão italiano tem um filho; o Luiz Henrique, com 44 anos, formou-se em direito, mas não quer nem quis fazer carreira jurídica, preferiu entrar no ramo da alimentação saudável e hoje administra um espaço “Vida Saudável” em Criciúma. Casou-se com Morgana e tem um filho. O Gilnei, com 38 anos, formou-se em marketing e engenharia econômica, trabalha e mora em Florianópolis, casou-se com Jaqueline, tem um filho; o Jeferson, 37 anos, é o caçula, bacharel em informática, casou-se com Giani. Por enquanto ainda não têm filhos, mas são ótimos tios e sabem que um dia chegam lá.. Moram atualmente com mãe-Vânia, pois observaram que ela estava precisando de maior atenção e suporte e decidiram, ele e sua esposa, morar com ela.

E assim, a vida segue seu curso. Podemos dizer que aqueles que conheceram o “Tico”, lembrarão sempre dele com aquele seu sorriso e bom humor que nunca perdeu, mesmo nos momentos de maiores dificuldades. Fica o exemplo vivido, o compromisso cumprido e a convicção que as surpresas e embates da vida podem ser enfrentadas se tivermos Fé, Confiança e Amor.

Por Henrique Packter 20/07/2021 - 07:52 Atualizado em 20/07/2021 - 07:53

Trazido para Criciúma e internado no Hospital São José logo após o acidente de mina, é submetido imediatamente a cirurgia em ambos os olhos e que estavam perfurados. A situação era muito grave. Depois de alguns dias em observação os médicos Henrique e Boris Packter, comunicaram que ele estava se recuperando, porém, tivera seus olhos seriamente danificados,  deixando-o parcialmente cego, com muito pouca visão e apenas num dos olhos.

Foi um ano bastante difícil para Orides e Vânia, ele no hospital e ela indo e vindo de Guatá a Criciúma, dividindo o tempo entre os filhos e o marido. Os filhos ficavam com os avós, revezando-se entre o ramo materno e paterno e às vezes também tios eram convocados para participar do rodízio familiar. Vânia daquela vida tranquila, entre bordados e costuras, precisou aprender a dirigir e também cuidar das contas, antes ao encargo do Tico. Eles, mais que nunca, estavam unidos neste período e encontraram apoio em pessoas amigas e solidárias e se inseriram muito bem na nova comunidade.

Em primeiro lugar, Orides apegava-se, como é natural, à figura de seus médicos oftalmologistas que seguiriam Orides por grande período de sua vida. Em primeiro lugar o Dr. Henrique Packter, que segundo o testemunho de Orides, havia costurado seus olhos como uma bola de futebol! Um médico que muito acreditava na evolução da medicina e tinha esperanças em fazê-lo voltar a ver. Chegou a leva-lo a muitos congressos de medicina, para obter aprovação de respeitáveis colegas seus para a conduta adotada neste difícil caso. Nasce daí especial amizade entre Orides e sua família e seus médicos. O terceiro filho de Orides e a Vânia ganhou o nome de Luiz Henrique: Luiz (nome de seu amigo, companheiro de infortúnio, ambos acidentados na mesma explosão no interior da mina).

O segundo nome, Henrique, em homenagem ao Dr. Henrique Packter. Após praticamente um ano de hospital, precisavam quase semanalmente descolocar-se a Criciúma, para exames constantes do Orides. Desta forma pensaram numa estratégia melhor. As crianças cresciam, iriam precisar de um centro maior onde estudar; eles sempre quiseram que os filhos estudassem. Em 1979 transferem residência para Criciúma, ano em que a cidade completava 100 anos da sua colonização.

De uma localidade pequena, onde todos se conhecem, viram-se diante de uma nova realidade. Fazer novos vizinhos, novas amizades. Mas para pessoas abertas e simpáticas iguais a eles, não foi muito difícil. Em pouco tempo estavam adaptados e inseridos na aberta e amstosa sociedade criciumense. Após 15 anos na cidade de Criciúma nasceram outros dois filhos, Gilnei e Jeferson, com intervalo de um ano e 10 meses.

Orides e seu médico oftalmologista brincavam a respeito.

-  “Orides, mas tu não vês?” Ao que este respondia com ar maroto:

- “Mas não precisa!”.

Já eram passados tantos anos, desde 1973, quando ocorreu o acidente que eles se permitiam dialogar tão informalmente. Afinal, eram visitas semanais, quinzenais, às vezes ficando até o final do expediente.  Muita vez davam carona para o doutor Henrique, que morava e ainda mora pertinho do hospital. Foram também quatorze cirurgias, na tentativa de recuperar a visão do Orides, por último um transplante de córnea, com êxito relativo.

Mas, Orides não se abatia.  Numa conversa particular com a filha, ele afirmou  não se sentir menos pessoa, estava bem. Era feliz. Conseguiu, juntamente com Vânia, formar uma linda família, em meio a tantas dificuldades e provações que a vida colocou nos seus caminhos. Nunca perdeu o bom humor, paciência, caridade, amor pelos outros, coração hospitaleiro, misericordioso. Faltam adjetivos para elogiá-lo. No bairro onde moravam, a Vânia está reside. Orides ficava muitas vezes, nas manhãs de inverno, tomando sol. Jovens mães que precisavam ir ao supermercado, pediam para deixar os filhos pequenos ali com ele. Isso, porque Orides tinha o dom de contar histórias aos pequenos. A família, os amigos, nunca os deixaram de lado, fosse nos natais ou aniversários.  Ele era um dezembrino.

Por Henrique Packter 13/07/2021 - 12:30 Atualizado em 13/07/2021 - 12:31

Na mineração do carvão, todo mundo tinha apelido. Quando nosso zelador no prédio do Condomínio Centro Médico São José era o nosso bom amigo NESTOR, recebi em meu consultório a visita de HENRIQUE SALVARO. Quis saber:

-O que é que o AGACHADINHO faz aqui?

- Quem é Agachadinho?

Pois não é que ambos se conheciam da época da mineração, cada qual com seu apelido! Nunca perguntei qual era o apelido de SALVARO...

Pois Orides Barbosa Domingos, era mais conhecido por Tico, apelido usado pelos amigos da mineração. Nascido em Lauro Muller, SC, em 29.12.1942, era o segundo filho de Emanuel João Domingos e Pedra Barbosa.

Desde muito cedo e ainda muito pequeno começa a se ocupar dos afazeres da casa, primeiro com os animais no campo depois com a lavoura, com a tafona, alambique, agrimensura e por último a mina.

Sempre gostou de estudar, interessava-se pela matemática, história, geografia. Vontade não lhe faltava, concluiu a quinta série elementar. Para prosseguir nos estudos deveria transferir-se para Orleans, onde cursaria o ensino médio. 

Morando em Guatá, interior de Lauro Muller, faltavam-lhe meios e coragem para deixar a casa paterna. Por isso, aos 18 anos, começa a trabalhar na mina como apontador de horas. Nos finais de semana, juntamente com o pai e irmão mais velho, mediam terras para os colonos da região. Orides observa, no trabalho de apontador na mineração, que os mineiros ganhavam por horas trabalhadas e muitos tinham um bom salário. Decide-se, ele também, a ingressar no ramo da mineração no subsolo.

Trabalhava como mineiro e nas suas horas de folga media terras. Projeta então sua vida, faz um programa de vida: uma vez que os mineiros se aposentavam com apenas 15 anos de trabalho, um de seus objetivos era, após aposentar-se, abrir escritório de agrimensura.

Entre os 19 e 20 anos, numa festa de Santa Bárbara, 4 de dezembro de 1961, em Barro Branco, Lauro Muller, conhece Antonina Elvanir Luciano, que um ano e meio depois, em 12 de janeiro de 1963, se tornaria sua esposa. Ela era filha de João Antonio Luciano, escrivão de Paz do Guatá e de Esmênia Nunes Luciano, dona de casa e costureira muito caprichosa e afamada. Tico e Vaninha eram conhecidos como o casal alegria, onde chegavam faziam festa, foram convidados para batizar mais de 39 criaturas de Deus, sem contar casamentos onde eram testemunhas de parentes e amigos. Devagar compraram casa, tiveram o primeiro filho, nascido um ano após o matrimonio e batizado com o nome de Gelsom. Depois de cinco anos veio Carmosélia.

Tinham, então, um casal de filhos e a vida continuava, entre trabalho na mina, finais de semana com piqueniques, pescaria e caça com os amigos. Vânia se dividia entre suas tarefas de casa, seus bordados, costuras e ser mãe. Eles eram muito engajados na comunidade, entre grupos de oração e organização das festas juninas do clube 13 de maio. Nos raros momentos livres, Orides lia horas a fio a CLT (Consolidação da Legislação Trabalhista) no Sindicato dos Mineiros. Passados alguns poucos anos começa a organizar o tão aguardado momento da aposentadoria, quando poderia dedicar-se à sua paixão, a agrimensura.

Seu pai, Manuel João Domingos, havia presenteado a ele e seus irmãos com aparelho e ferramentas necessários para realizar os trabalhos de medidas e divisões de terra. Porém, nem todas as rosquinhas saem com os buracos iguais. No dia 12 de fevereiro de 1975 em manhã normal como todas, ouviu-se soar a sirene da Mineração Barro Branco, o famoso “planinho”. Era o sinal para os moradores da comunidade de Guatá que, infelizmente, acontecera um acidente. As mulheres, corriam para as janelas e para as ruas, na expectativa de que alguém viesse dar notícias sobre as vítimas. As perguntas que se faziam, entre elas “quem seria?”ou qual seria a família tocada por infortúnio no trabalho? Vânia vê, então, entrar em casa o farmacêutico Roberto que viera dar a notícia: o Orides, “Tico”, tinha sofrido um acidente, a mina explodira e estava sendo levado para Urussanga. Na ambulância, seu sogro João o acompanhava. Com eles, também, o amigo e companheiro de trabalho, o Luís da “Otília”, também acidentado. Dalí, foram levados a Criciúma, onde havia ortopedistas e oftalmologistas. (Cont.:)

Por Henrique Packter 06/07/2021 - 16:24 Atualizado em 06/07/2021 - 16:26

Você sabe ou lembra quem foi?

Aposto que quase ninguém haverá de se lembrar. Pois foi um diligente-ativo-zeloso  gerente da Caixa Econômica Federal  nos anos 60, na capital do Carvão, ano de minha chegada a Criciúma. A agência bancária era na Rua 6 de janeiro e entre seus funcionários estava a minha amiga e advogada Janice Torres. Como quase todo mundo em Criciúma, CANALLI era nascido em outras paragens, em  Caxias do Sul, RS, em 1917. Era casado com Lígia Canalli, também nascida em 1917.

Em 1960, data de minha chegada a Criciúma, contava 43 anos, muito jovem, portanto. Em 26.1.1967, aos 50 anos, procurou-me com uma queixa estranha: 6 meses antes perdera a visão repentinamente. Procurou Júlio Doin Vieira, acreditado oftalmologista  em Florianópolis com quem lograra relativa melhora. Doin era meu amigo e trocamos ideias a respeito do caso, por telefone. Canalli, entre outras coisas exibia uma lesão degenerativa macular incipiente no olho esquerdo. Todos os demais exames estavam aparentemente normais. Criciúma ainda não tinha seu neurologista, coisa que só virá bem mais tarde, por isso o oftalmologistas fazia, as vezes de neurologista  A pressão arterial era talvez um pouco alta pelos padrões de hoje. Canalli precisava consertar algumas cáries dentárias; um exame radiológico da cabeça, um perfil de crâneo feito com o Dr. Raymundo Jorge Perez, também  resultara normal.   

Afinal, do que padecia Ulderico Canalli?

Sua visão era muito baixa, cerca de 0,1 (sendo 1,0 a visão normal em cada olho) e nada melhorava com o uso de óculos. Instituí a 17.2.1967 tratamento a base de vitaminas do Complexo B, pois o fundo de olho do paciente se alterara passando a mostrar nervos ópticos com certa palidez. Proibi-lhe usar álcool ou tabaco. A visão se eleva para 0,5 no olho direito e 0,3 no olho esquerdo. Em 16.4.1968 a pressão arterial também sobe e um sangramento nasal obriga o paciente a internar-se para tratamento com o cardiologista. Pratiquei tamponamento nasal com a pressão em 19x10. Isto já é 6.9.1972.  A visão com o emprego das vitaminas do Complexo B mais repouso sobe para tornar-se normal em 16.4.1968. A essa altura, sentamos um dia no consultório ULDERICO e eu. Repassamos sua vida. 

Uma revelação

Foi quando surgiu algo que até então merecera pouca ou quase nenhuma atenção. Candidamente ULDERICO CANALLI que morava e trabalhava na mesma rua 6 de janeiro, sede da agência da Caixa Econômica Federal em Criciúma, revelou receita de REMÉDIO milagroso para quase tudo:

- Quando saio da agência, para almoçar ou jantar, cumpro o mesmo ritual: entro no CAFÉ SÃO PAULO a 30 metros do trabalho e beberico aquela branquinha, purinha feita no Meleiro, pelo mestre Rosso-Mezzari, cana colhida entre maio e dezembro, com quantidade ideal de açúcar na planta, garapa extraída da cana nas primeiras 24 horas depois da colheita, bagaço separado do caldo de cana. Depois da extração, filtra o caldo com peneira e por decantação, deixando para trás o bagacilho.

Ulderico, visivelmente deliciado, recitava os passos para fazer a cachaça de sua predileção como quem recita uma homilia.

Por Henrique Packter 25/06/2021 - 10:43 Atualizado em 25/06/2021 - 10:44

O documentário de Zé Da Silva “A História do Metropol” mostra o lateral Zezinho Rocha, que chegou a pensar em casar com uma romena. Sem entender o idioma, Zezinho enredou-se no nome da moça: Sucosd. O namoro rendeu um anos de trocas epistolares com a misteriosa moça, após o que Zezinho se casou com uma brasileira-carvoeira. Adivinhem o nome da primeira filha! Justamente: Sucosd, o que pode ser um sobrenome romeno, um apelido, um endereço, pois não há nomes femininos romenos com fonética semelhante.

Quando cheguei a Criciúma, início da década de 1960, o futebol começava a ser utilizado como fator atenuante dos conflitos entre capital e trabalho na região carbonífera catarinense. Cada empresa mineradora mantinha seu próprio time de futebol, os jogadores-mineiros, atuando e descarregando tensões, esqueciam momentaneamente as difíceis condições de trabalho a que eram submetidos. Muitas partidas revestiam-se de violência, embora os campeonatos da época costumassem atrair famílias inteiras aos estádios.

A Companhia Carbonífera Metropolitana elevou o Metropol à categoria de time profissional, em 1959. Desde então, sob o comando do dirigente "Dite" Freitas, passou a contratar jogadores profissionais, mesclando-os com os trabalhadores mineiros que atuavam na equipe. Com o aporte financeiro da empresa, logo conquista um tricampeonato estadual (1960 – 1961- 1962). O Metropol era visto pela imprensa da capital como o “Real Madrid Catarinense”, alusão ao poderoso Real Madrid da Espanha, um dos maiores times do mundo já naqueles dias. Em 1962, o clube realizou uma vitoriosa excursão à Europa, fato ainda nao igualado em SC. Foram 23 partidas com 13 vitórias, 6 empates e 4 derrotas.

Foi, ainda, campeão estadual em 1967 e 1969. Em 1969, após a conquista do campeonato catarinense, o departamento de futebol profissional foi desativado e assim continua. Desde então, passou a disputar apenas competições amadoras, condição mantida até os dias atuais.

TÍTULOS CONQUISTADOS PELO  METROPOL

Títulos 5 vezes campeão catarinense  1960, 1961, 1962, 1967, 1969
Taça Brasil – Zona Sul 1 vez 1968
Taça  Brasil – Zona Sudoeste 1 vez 1968

A EXCURSÃO À EUROPA
O Metropol em inédita excursão futebolística brasileira à Europa, marcou 53 gols e sofreu 35, com um saldo positivo de 18 gols em 23 partidas. Elario foi o artilheiro da excursão, com 17 gols, seguido de Nilzo, com 8 gols, Helio, 7 gols, Marcio, Pedrinho, Arpino e Valdir marcaram 4 vezes cada, Paraná fez 3 gols e Sabiá 2 gols. Foram 13 vitórias, seis empates e apenas quatro derrotas. Destas 23 partidas, 11 foram na Romênia, com seis vitórias, dois empates e três derrotas (das quatro em toda a excursão. A primeira derrota foi para o Elche, da Espanha. Talvez na mais extensa apresentação do futebol brasileiro na Europa,em maio de 1962, o E.C. Metropol viajou 63,5 horas de avião, 78 horas de trem, 13 horas de navio e 126 horas de ônibus. O time visitou cinco países, Espanha, Suíça, Alemanha, Dinamarca e Romênia.

 

A ODISSEIA DE UM ÁRBITRO URUGUAIO EM TERRAS CRICIUMENSES

Era médico do Metropol nosso colega anestesistado Hospital São José, Everaldo Sabatini. Por ocasião da bem sucedida excursão à Europa, o Dr. Ângelo Lacombe substituiu-o na função. A disputa pelo título de campeão da LARM (Liga Atlética da Região Mineira), acirrava a tal ponto os ânimos, que um árbitro de fora era contratado, em geral do RS. De certa feita, veio de POA um árbitro uruguaio que apitava o campeonato gaúcho. A boca pequena rosnava-se aqui e ali que o árbitro estava na gaveta de Manoel Dillor de Freitas, outro dos 6 filhos do patriarca Diomício Freitas.

Termina o jogo com a vitória do Metropol. O árbitro uruguaio trata de escafeder-se, sentindo o ambiente pesado. Acabou interceptado  a meio caminho de Araranguá.  A expedição punitiva era chefiada por conhecidíssimo empresário criciumense, mas atuando em Cocal do Sul. O árbitro teve o corpo coberto de piche e de penas. Choramigava o tempo todo:

- Ai que dolor!

Ao que o grupo todo retrucava em coro:

- Que Dillor que nada!

O infeliz uruguaio foi deixado num saco sobre a ponte do Rio Araranguá, a boca firmemente amarrada com um desses fios utilizados em iluminação pública. Até o último momento, fizeram-no acreditar que seria jogado lá em baixo no rio, dentro daquele saco. Nenhum outro árbitro, fosse gaúcho ou da Província Cisplatina ou do rio da Prata,  depois deste exemplar corretivo, aventurou-se a apitar jogos em terras criciumenses que eu soubesse...

Por Henrique Packter 22/06/2021 - 07:42 Atualizado em 22/06/2021 - 07:53

Metropol e Comerciário, no início dos anos 60 protagonizavam verdadeiros embates futebolísticos. A rivalidade era fruto da origem das equipes. O Metropol era mantido pelo empresário Diomício Freitas e família que tinham incumbido o filho mais velho, Dite Fritas, mais o leal e confiável funcionário Gilberto João Oliveira, de montar e manter uma equipe.  Que, aliás, teve trajetória memorável, honrando as tradições futebolísticas catarinenses e derrubando o orgulhoso campeão gaúcho, Grêmio Porto-alegrense, quando se laureou campeão sulbrasileiro, após superar também o campeão paranaense. Já o Comerciário (hoje Criciúma), como o próprio nome esclarece era o clube do comércio, comerciantes, varejistas da região. Criciúma Esporte Clube, fundado em 13.5.1947, com o nome de Comerciário Esporte Clube, atualmente disputa a Série C do Campeonato Brasileiro. Criciúma foi o primeiro e único clube de SC a conquistar o título da Copa do Brasil, isto em 1991 e de forma invicta. O clube tem também em seu currículo um Campeonato Brasileiro da Série B. Atualmente disputa a Série C deste campeonato.

Foi fundado como Comerciário Esporte Clube. Crise financeira nos anos 1960 e o clube é refundado em 1976. Em 1978 foi renomeado, passa a ser o  Criciúma Esporte Clube, com as cores preta, amarelo e branco em 1984, daí o nome TIGRE.

O maior feito do clube foi conquistar a Copa do Brasil em 1991 com o técnico  Felipe Scolari, depois campeão do mundo com a seleção brasileira de futebol. Em 2005 o Criciúma acaba na série C. Em 2006, campeão da série C, volta à série B.

Retornamos à série A em 2012.

HONRAS
Ganhando a Copa do Brasil em 1991, o time qualificou-se para disputar a importante Copa Libertadores da América; terminamos na quinta posição. Esse resultado fez do Criciúma um dos mais bem-sucedidos times de SC.

Copa do Brasil:  Criciúma campeão em 1991.
Série B
Vencedor (1): 2002

Vice-campeão (1): 2012

Série C
Campeão (1): 2006

Campeonato Catarinense
10 títulos: 1968, 1986, 1989, 1990, 1991, 1993, 1995, 1998, 2005, 2013 (Campeão em 1968 como Comerciário Esporte Clube)

7 vice-campeonatos: 1982, 1987, 1994, 2001, 2002, 2007, 2008

Copa Santa Catarina
Campeão: 1993

Vice-campeão: 1998

Estádio Heriberto Hülse do Criciúma Esporte Clube, construído em 1955, tem capacidade máxima para 19.900 expectadores.
O METROPOL

Em 2021, completam-se 52 anos do encerramento das atividades no Esporte Clube Metropol. Apesar do distanciamento no tempo, a lendária equipe do nosso futebol mantém seu fascínio sobre os aficionados do futebol. De fato, o Metropol saiu de cena ainda por cima, logo após conquistar o estadual de 1969. Mas seu destino já estava traçado, devido a dois fatores. Um deles era o fim da sociedade Freitas-Guglielmi, que mantinha o time. O outro, a fantástica eliminação para o Botafogo, na Taça Brasil. O episódio desiludiu Dite Freitas, patrono do Metropol e também impôs maldição de vinte anos sobre o time da Estrela Solitária.

Por Henrique Packter 14/06/2021 - 12:39 Atualizado em 14/06/2021 - 12:41

Falecimento do Prof. Flávio Rezende Dias, oftalmologista do Departamento de Medicina da PUC-RJ

Nota do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC-RJ em 7.5.2020.

Com pesar, o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde e o Departamento de Medicina da PUC-Rio comunicam o falecimento do Professor Benemérito Flávio Rezende Dias, que coordenou a especialização em Oftalmologia no período de 1992 a 2018.

Nota da Sociedade Brasileira de Oftalmologia:

A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) comunica com pesar e muita tristeza, nesta data em que a classe comemora o Dia do Oftalmologista, 7/5, o falecimento do doutor Flávio Rezende Dias – presidente da entidade no biênio 2012 a 2014. Neste momento de dor, a SBO se solidariza e manifesta as condolências aos familiares e amigos.

Nota da Sociedade Norte e Nordeste de Oftalmologia no Facebook:

É com pesar e tristeza que a Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia informa o falecimento do professor Flávio Rezende Dias, que ocorreu justamente no Dia Nacional do Oftalmologista. Nascido no Espírito Santo, em 17.6.1036, o professor Flávio Resende Dias graduou-se em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (atual UFRJ), em 1964. O Dr. Flávio Rezende foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) de 1987 a 1990, presidente da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII) de 1996 a 1998 e da Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia (SBAO) de 2012 a 2014. A Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia lamenta a perda e presta condolência a família, amigos e alunos. Flávio escreveu vários livros didáticos sobre a especialidade e organizou outros tantos, distribuindo os temas dos capítulos a importantes nomes da nossa oftalmologia. Um deles abordava COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA DA CATARATA. Sua importante participação em Congressos, Cursos, Jornadas, Palestras, Reuniões é difícil de avaliar.

Assim como é difícil dimensionar a perda que representa sua morte para a nossa oftalmologia.  Talvez com o passar do tempo, recolhendo lembranças e participações, somando os imensos créditos e diminuídas as  parcas atuações negativas, vai-se ter um retrato de corpo inteiro de uma das ais importantes figuras da moderna oftalmologia brasileira e, quiçá, mundial. Brincalhão, grande voz de tenor, brilhava pelo bom senso e arrastava porque muito sabia dentro da atividade médica especializada.

Por muitos anos participou do grupo OCULISTAS ASSOCIADOS, que teve como fundador seu tio, o professor JOVIANO DE RESENDE FILHO.

FLÁVIO presidiu a reunião que trouxe ao Brasil dois expoentes nos EUA da moderna cirurgia da catarata com implante de lente intraocular: David Sinskey e David Drews. Apresentados os dois gringos na sede da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Flávio deixa a mesa diretora dos trabalhos e vai sentar-se lá na plateia, trazendo nas mãos o livro sobre o assunto da reunião trazido a título de publicidade para alavancar vendas.

Folheava distraidamente o livro, quase ao meu lado, quando as luzes do auditório se apagam e começa a projeção de slides. Sinskey agora falava apresentando o primeiro slide com as obrigações do cirurgião para realizar o ato cirúrgico:

1.     NO SMOKING (podia despertar tosse, algo inimaginável durante o ato cirúrgico)

2.     NO ALCOOL (não beber, para as mãos não tremerem)

3.     NO DRIVING (não dirigir, coisa que tira a firmeza das mãos)

4.     NO SEX

Ao ouvir esta última exigência, sem levantar os olhos do livro que empunhava, mas fechando-o com estrondo, Flávio Rezende garantiu: esta cirurgia não vai pegar no Brasil!

 

FLÁVIO NO JAPÃO

Era  Congresso Mundial de Oftalmologia no Japão. Flávio e grupo de brasileiros fretam avião para o país do sol nascente. Dinheiro, o estritamente necessário. À época usava-se portar traveller check e dólares (minguados como hoje e de transporte perigoso). Cartão de crédito era coisa do futuro, impensável. Flávio estava investindo pesado em equipamentos e levava  menos que o suficiente para a grande viagem. Três dias após a chegada, já nauseado de tanto peixe (cru às vezes) e arroz decide-se pelo grande sacrifício monetário: comer aquele bife, alto, sangue escorrendo, odor mágico e inebriante. Vai a restaurante com amigos e faz o pedido inacreditável:

- Filé, entendeu? Só o filé, mais nada. Alto assim, cheiroso, maravilhoso. Só isso.

Todos à mesa esperam o momento surreal da chegada da iguaria.

Chega o garçom com um daqueles pratos imensos, cobertura tipo campânula ou redoma, tudo transportado com grande delicadeza e maneirismos rituais. Abre, afinal, a imensa redoma para deleite visual de todos. Grande exclamação sai da boca de todos. No prato imenso, lá no meio dele, um tisquinho de carne esturricada, do tamanho de um mostrador de relógio feminino pequeno, e com espessura de milímetros! FLÁVIO examina o espécime com ar de incredulidade. Depois de um breve momento, pergunta:

- Cadê a correntinha? (Where is the neck chain?)

O garçom não entende, vira-se para os outros convivas pedindo auxílio, sem dizer palavra. Flávio continua, olhando fixamente para o prato:

-Sim, porque a medalhinha já  está aí, ó! 
 

Por Henrique Packter 11/06/2021 - 13:36 Atualizado em 11/06/2021 - 13:38

A ARTE DA ENTREVISTA

Antes de entrevistar, o jornalista deve programar suas perguntas baseadas em início, meio e fim. Assim, define os temas a serem abordados e a duração da conversa. Sempre estar atento a qual tipo de entrevista vai utilizar.

Perguntas devem ser curtas, não daquelas que dobram a esquina, mas suficientes para garantir que o entrevistado compreenda o que está sendo questionado.

Caso o entrevistado tenha dificuldade em formular suas respostas, deve ser estimulado com novas perguntas curtas, complementando o assunto, sempre fugindo de afirmativas.

O jornalista pesquisa sobre a pessoa que vai entrevistar. Fundamental que informações básicas não passem despercebidas, para uma abordagem objetiva. No início da entrevista, o jornalista deve apresentar sutilmente, como será a pauta trabalhada para o entrevistado, sem permitir palpites e sugestões sobre o que será perguntado.

Conforme o andar da entrevista, é possível que surjam outros assuntos. Importante que o jornalista saiba aproveitar as deixas, como também a hora de retornar ao foco inicial da pauta.

Entenda os direitos do entrevistado (para evitar processos envolvendo seu nome como responsável). Dizem que há 9 tipos de entrevista: as comuns em número de 8 e as do Adelor Lessa e do Bial. Vamos às comuns:

1. Entrevista de rotina:

A entrevista de rotina é representada pelas fontes de notícias factuais, pautas diárias que têm curto prazo de validade para divulgação. Mais usada de todos os tipos, entrevista pessoas que presenciaram acidentes, assaltos, desabamentos, vítimas de enchentes e de fura-filas vacinais. Depoimentos comprovam a veracidade da notícia.

2. Entrevista individual:

Marcada com antecedência, concedida a um só jornalista, dá ao entrevistado o tema da pauta após devido preparo das respostas, elaboradas pelo entrevistado ou assessoria.

3. Entrevista em grupo:

Ou coletiva de imprensa, dela participam vários jornalistas, revezando-se nas perguntas feitas a uma ou mais pessoas. As respostas são aproveitadas pelo grupo de jornalistas, destacando-se os autores das perguntas mais importantes e criativas sobre o tema da coletiva. Furo jornalístico pode alavancar uma carreira jornalística, daí ser importante não perder a chance de sacar a resposta almejadas por todos.

4. Entrevista exclusiva:

Concedida a um veículo, que divulgará o conteúdo em primeira mão. Pauta de grande interesse jornalístico porque atinge grande número de pessoas. Credibilidade e alcance veicular contam muito no aceite da exclusiva: significa lucro financeiro e crescimento da imagem do entrevistado.

5. Entrevista de Pesquisa:

Realizada com especialistas sobre certo assunto, para acrescentar informações a uma matéria com credibilidade. Conteúdos dessa natureza são importantes na construção de artigos, por exemplo.

6. Entrevista caracterizada:

Textos entre aspas, incluídos numa matéria. Então, a fala do entrevistado é posta como foi dita, transcrição fiel do que foi falado. Estas passagens são curtas, definidas pela sua importância, sem adaptação na transcrição.

7. Entrevista de personalidade:

Feita para traçar o perfil de pessoa pública. Nela constam informações sobre hábitos, história de vida e curiosidades relevantes sobre o entrevistado..

8. Entrevista opinativa:

Feita com pessoas que têm autoridade para falar sobre certo assunto, sejam profissionais consagrados, estudiosos, ou atletas experientes, por exemplo. Cede entrevista opinativa quem detém grande conhecimento sobre o assunto.

ENTREVISTANDO UM MESTRE. ENTREVISTA DE PERSONALIDADE

Já falei de outras vezes que estudei e me graduei na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em 1959. São, portanto, 62 anos de prática médica. Entre os grandes mestres com os quais convivi, entre os maiores devo colocar o Nefrologista ADYR SOARES MULINARI e o Cirurgião MÁRIO BRAGA DE ABREU. Ah! Tem também o professor de Anatomia Topográfica BRASÍLIO VICENTE DE CASTRO e LYSANDRO DOS SANTOS LIMA professor de Clínica Médica.

Muito aprendi com eles e não somente na esfera médica. De todos eles recebi grandes lições de vida sem cujo conhecimento a muito sofrimento eu teria sido submetido em todas essas décadas de existência. Existe uma entrevista de ADYR MULINARI circulando faz tempo por aí. Muito do que aprendi com ele está nela estampado. Para se compreender a grandeza deste homem é necessário esboçar seu perfil profissional.

UMA BIOGRAFIA EXEMPLAR

ADYR faleceu a 2.12.2017, aos 90 anos, e foi um dos pioneiros na introdução e desenvolvimento da Nefrologia (doenças renais) no país. Entrevista concedida poucos meses antes de sua morte.

Nascido em Curitiba (1927), ingressou no curso de Medicina na então Faculdade de Medicina do Paraná, onde se formou em 1951. Meu ingresso se deu em 1954, ano da morte de Getúlio Dornelles Vargas. Adyr iniciou sua carreira profissional em 1952, como assistente voluntário de Técnica Operatória (com o famigerado Professor Dante Romanó) e como assistente da cadeira de Urologia entre 1955 e 1961 (desde 1953 com João Átila Rocha). O professor João Átila Rocha vem a ser parente próximo do nosso Urologista Álvaro Ronald Rocha. Em 1961 Adyr transferiu-se para o Departamento de Clínica Médica, quando visitou Curitiba o médico holandês Willem Kolff, criador do rim artificial.

Já radicado nos EUA, indicou Mulinari para estágio na Cleveland Clinic. Depois, Adyr concentrou seu treinamento em clínica médica e nefrologia com Belding Scribner na Washington University School of Medicine, Seattle, berço da nefrologia moderna. Retorna ao Brasil, final de 1963, no hospital-escola da UFPR iniciando o tratamento hemodialítico crônico, pioneiro no Brasil, com rim artificial de fluxo paralelo, doado pela Universidade de Washington, na qual Mulinari estagiara.

Por Henrique Packter 31/05/2021 - 09:49 Atualizado em 31/05/2021 - 09:51

Remexendo meu baú encontro muitas vezes algumas esquecidas pérolas. Algumas nem título tem, a maioria não tem autor. Esta aqui é uma delas, mas desconfio, pelo estilo, que se trate de coisa do falecido médico, professor, jornalista, hipnotizador e eutanásico escritor, OSMARD DE ANDRADE FARIA.        

Como certos músicos amadores autodidatas, escrevo de ouvido.

Tais devaneios me assombram após ter lido no jornal Estado de S. Paulo, artigo assinado por economista aborígene sobre o mau uso da língua-pátria por brasileiros. Como vocês veem, até economista entende mais de gramática do que nós. Queixava-se ele  -  e engrosso o coro  -  que nunca antes neste país se americanizou de tal forma o idioma pátrio. Citava a estupefação de amigo seu, norte americano, fluente em português pois nos visita com certa assiduidade, que trocando pernas pelas ruas da paulicéia, sentia-se como se estivesse em Nova York. Dizia: aqui, já não mais se estaciona, faz-se parking, liquidações são sales, descontos nos preços, offs, pizzarias fazem delivery, edifícios agora são buildings, Towers and Centers, coisas que tais. O que, porém, mais chamou sua atenção foi um novo edifício paulista punido como Augusta High Living, já que esse termo, high, nos EUA é usado para referir-se a alguém drogado ou embriagado.

Lembrei-me do que vejo acontecer no meu entorno em Floripa. Além de macaquearem a língua alheia, ainda a usam com erros crassos. Próximo ao meu banco há um restaurante chamado  Squina´s que não pertence a nenhum Sr. Esquina. Do outro lado da rua, um salão de beleza oferece up-to-date hair designs. E, mais adiante, uma casa vende carimbos com o gracioso título Carimbo´s.  O restaurante na Lagoa da Conceição era gloriosamente conhecido como o Lagoa´s.

Ainda não é o pior. Suponho, aquelas denominações partiram de pessoas consideradas desprovidas de melhores  atributos culturais. Temos na cidade um moderno hospital, bilingue de nascimento e batizado de Baía Sul Medical Center. Por que não Centro Médico Baía Sul? Ou então, logo de uma vez, South Bay Medical Center? Ocorre o mesmo com seu irmão gêmeo de besteirol, o Celso Ramos Medical Center.

Reclama ainda o ecônomo-linguista supra epigrafado do desordenado uso de metáforas, ditados e parâmetros vulgares nos artigos de imprensa. Como: trocar seis por meia-dúzia, misturar alhos com bugalhos (que seriam bugalhos?), heróicos soldados do fogo, no frigir dos ovos, o que cair na rede é peixe, calcanhar de Aquiles, adentrar o gramado, chover a cântaros (que seriam cântaros?), calor abrasador, forte como um touro, cautela e caldo de galinha, antes tarde do que nunca, enquanto há vida há esperança, quem espera sempre alcança e outros que tantos.

E após algumas outras oportunas considerações, o articulista cita alguns conselhos do escritor George Orwell  para o bem escrever, não só da dele mas também da nossa culta e bela flor amorosa de três raças tristes, o castigado português. Eis oito dessas proveitosas lições:

         1. Nunca use uma metáfora, símile ou outra figura de linguagem que está acostumado a ver na imprensa;

         2. Nunca use uma palavra longa quando uma curta dará conta do recado. (Escorregão do autor na regra anterior usando metáfora vulgar).

         3. Se é possível cortar uma palavra, corte-a!

         4. Nunca use a voz passiva quando pode usar a ativa;

         5. Nunca use uma expressão estrangeira, uma palavra científica ou um jargão se puder pensar num equivalente do português usual;

         6. Infrinja qualquer uma destas regras antes de dizer alguma coisa totalmente bárbara;

         7. Evite frases longas, dessas que dobram a esquina;

         8. Evite a prolixidade e as explicações logorreicas usadas para mostrar falsa erudição;

Finaliza transcrevendo ensinamento colhido em Jacques Barzun: escrever é reescrever e cortar palavras desnecessárias, sobretudo pletóricos adjetivos.

Diante do exposto  e absorvidos os ensinamentos, saio do  consultório para pagar uma conta pendurada quando encontro conhecido colunista citadino, cercado por plateia de seguidores. Justo quando anunciava: brothers, vou a Floripa para drinques e comemorar o weekend dilatado no The Sins, Blues Velvet, Scuna Bar, Fields Floripa ou Jivago Lounge. Que tal?

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