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Por Henrique Packter 13/09/2022 - 09:15 Atualizado em 13/09/2022 - 09:18

Era grande a influência de LEONEL DE MOURA BRIZOLA quando governou o RJ. Elegeu, sem maiores dificuldades, o Juruna e Aguinaldo Timóteo (vejam só!), para a Câmara dos Deputados em Brasília.

Estão seguindo?

Darci Ribeiro, intelectual e professor universitário, além de autor de obras de grande repercussão dentro e fora do país, vai para o senado com as bênçãos de Brizola.

Certo dia, Aguinaldo corre ao encontro de Brizola em Palácio. Os dois discutem a portas fechadas e a falas elevadas. Por fim, abrem-se as portas com estrépito, por elas saindo o deputado Timóteo, extremamente irritado, declarando-se rompido com o governador, porque este o chamara de nego sem vergonha!

Correm os jornalistas, homens, radialistas, mulheres e carregadores de câmeras para o gabinete do governador:

- Dr. Brizola: o deputado Timóteo diz-se rompido com o senhor; alega ter sido ofendido em sua honra. Alega ter sido chamado de nego sem vergonha.

Brizola corre os olhos pela turba e com ar didático, como quem está prestes a dar uma aula magna, dedo em riste, rebate:

- Nego, não; nego, não!

BREVE BIOGRAFIA

Leonel Itagiba de Moura Brizola; Carazinho, 22.01.1922  – RJ, 21.06.2004), engenheiro civil e político brasileiro. Líder trabalhista, foi governador do RJ e do RS, único político eleito por voto popular para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil. Brizola (Leonel Itagiba); o nome Leonel era uma homenagem a Leonel Rocha, maragato local, enquanto Itagiba foi nome dado a um irmão seu, falecido ao nascer. Brizola não gostava de seu segundo nome, e aos quatorze anos de idade sua mãe alterou-o legalmente, permanecendo apenas Leonel

Brizola vive seus primeiros anos no interior do estado, mudando-se para POA em 1936. Lá, continuou a estudar, trabalhando como engraxate, graxeiro, ascensorista e servidor público. Ingressou no curso de engenharia civil na Universidade Federal do RS (URGS) em 1945, graduando-se em 1949. Enquanto estudava na UFRGS, inicia atividade política, organizando a ala jovem do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em evento político, conhece Neusa Goulart, irmã de João Goulart. Casam-se (1950) e têm três filhos.

Em 1947, Brizola foi eleito deputado estadual pelo PTB. Torna-se político em ascensão no estado: em 1954, elege-se deputado federal com votação recorde; dois anos depois é prefeito de POA; em 1958, governador do RS. Destaca-se por suas políticas sociais e por promover a Campanha da Legalidade, em defesa da democracia e da posse de Goulart como presidente. Em 1962, transfere seu domicílio eleitoral para a Guanabara, estado pelo qual elege-se deputado federal. Durante o governo de Goulart, ambos mantiveram relação tumultuada, unindo-se apenas antes do golpe militar de 1964. Tendo suas propostas de resistência não bem-sucedidas, Brizola exila-se no Uruguai.

Voltou ao Brasil em 1979, depois de um exílio de quinze anos no Uruguai, EUA e Portugal. No mesmo ano, fundou e presidiu o Partido Democrático Trabalhista, social-democrata e populista. Em 1982, foi eleito governador do RJ, iniciando o programa de construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), marco no ensino fundamental brasileiro.

OS CIEPs

Criados em 1983, no primeiro governo Brizola, por influência de Darcy Ribeiro. Mas a educação de qualidade oferecida aos filhos da classe trabalhadora não sobreviveu ao pensamento de que ao pobre basta uma educação pobre.

Modelo de educação, os CIEPs iniciam em 1983 no primeiro governo de Leonel Brizola. Fortemente influenciado pelo professor Darcy Ribeiro, um dos maiores mestres da educação no Brasil, Brizola resolve implantar um sistema de educação integral onde o aluno teria as aulas do currículo normal, faria suas refeições, estaria envolvido inclusive nos finais de semana em atividades culturais e teria assim uma educação de qualidade, situação inédita dentro da estrutura pública educacional. Os CIEPS seriam a forma dos filhos das famílias mais pobres terem acesso a uma educação de boa qualidade e também de estarem alimentados e ligados à cultura como forma de lazer e aprendizado, o que os afastariam da atração da atividade criminosa nas comunidades de baixa renda. 

O mestre-arquiteto Oscar Niemeyer e o engenheiro calculista José Carlos Sussekind criam uma escola ampla, funcional e 30% mais barata que um prédio escolar convencional. Para implantar no Estado um grande número de CIEPs com êxito, era necessário um projeto de arquitetura que desse origem a uma escola ampla, que fosse economicamente viável e permitisse rapidez na construção. O desafio de conciliar beleza, baixo custo e rapidez de execução foi confiado ao talento de Oscar Niemeyer.

Partindo da ideia de utilizar a técnica do concreto pré-moldado, que possibilita montar cada CIEP como um jogo de armar, num prazo de apenas quatro meses Niemeyer criou um projeto-padrão que é 30% mais barato que obra utilizando a técnica convencional de fazer a concretagem no próprio local de construção. Na obra do CIEP, como definiu o Engenheiro Calculista José Carlos Sussekind, “a arquitetura é inseparável da estrutura; existe uma especial integração arquitetura-engenharia”.   

Pela concepção de Niemeyer, cada CIEP é composto por três construções distintas: o Prédio Principal, o Salão Polivalente e a Biblioteca. O Prédio Principal possui três pavimentos ligados por uma rampa central. No pavimento térreo localizam-se o refeitório com capacidade para 200 pessoas e uma cozinha dimensionada para confeccionar o desjejum, almoço e lanche para até mil crianças. No outro extremo do pavimento térreo fica o centro médico e, entre este e o refeitório, um amplo recreio coberto. Nos dois pavimentos superiores estão localizadas as salas de aulas, um auditório, as salas especiais (Estudo Dirigido e outras atividades) e as instalações administrativas. No terraço, uma área reservada para atividades de lazer e dois reservatórios de água.

ESCOLA PENSADA POR OSCAR NIEMEYER

O Salão Polivalente é um ginásio desportivo coberto, dotado de arquibancada, vestiários e depósito para guarda de materiais. A terceira construção é a Biblioteca, idealizada para atender os alunos para consultas individuais e para grupos supervisionados, estando também à disposição da comunidade. Sobre a Biblioteca, existe uma verdadeira residência, com alojamentos para doze crianças (meninos ou meninas), que poderão morar na escola em caso de necessidade, sob os cuidados de um casal (que dispõe na casa de alojamento próprio, sala comum, sanitário exclusivo e cozinha). Para terrenos onde não seja possível instalar todas as três construções que integram o Projeto-Padrão, foi elaborada uma alternativa, o CIEP COMPACTO, composto apenas pelo Prédio Principal, ficando no terraço a quadra coberta, os vestiários, a Biblioteca e as caixas-d’água. 

Segundo o próprio Oscar Niemeyer, da ideia de construir escolas em série “surgiu naturalmente a utilização do pré-fabricado, para faze-las multiplicáveis, econômicas e rápidas de construir: nesses casos, é a economia que exige a repetição e o modulado”. Mas, a despeito de toda a lógica, surgiram diversas críticas ao Programa Especial de Educação, assentadas numa ideia equivocada: a de que o CIEP é uma escola “mastodôntica, suntuosa e muito cara”. 

SEM PRECARIEDADE DE RECURSOS

Estes ataques parecem ter como pano de fundo a crença de que os brasileiros devem conformar-se com a precariedade dos recursos públicos que os governos têm dedicado à rede pública de ensino, ao longo da história do país. CIEPs nada têm de “suntuosos”. Ao contrário: é simples, despojado, não utiliza material supérfluo. A utilização do concreto pré-moldado possibilita conter despesas. 

Na inauguração do primeiro de todos os CIEPS, o Tancredo Neves, Leonel Brizola comparou os custos da construção civil e do projeto de Niemeyer. Pelos seus cálculos, o CIEP Tancredo Neves custou, em 1985, Cr$ 3 bilhões e 978 milhões. Já edifício com a mesma metragem custaria, na mesma época, Cr$ 5 bilhões e 737 milhões.

Não teria o povo o direito de ter seus filhos estudando em escolas bonitas e funcionais, arejadas e eficientes? Há quem ache que não. Argumenta-se que somos um país pobre e que, por isso, as escolas devem ser pequenas e humildes. Por que se insiste em associar boa qualidade, beleza e funcionalidade com sofisticação e megalomania? A quem isso interessa? 

Às primeiras críticas sobre os CIEPS responde publicamente Oscar Niemeyer: “ (...) são tão levianas, demonstram tal desinformação que, a contragosto, sou obrigado a dar explicação desse projeto. Trata-se de um programa revolucionário sob o ponto de vista educacional. Escolas que não visam apenas, como as antigas — instruir seus alunos, mas sim dar um apoio efetivo a todas as crianças do bairro. Isto explica serem, no térreo, para elas, abertos sábados e domingos, ginásio, gabinete médico-dentário, biblioteca etc. Daí a dificuldade de usar as velhas escolas — vão sendo remodeladas — não foram projetadas para esse programa. 

Pré-fabricados, eles constituem economia de 30% em relação às construções do tipo comum — e mais econômicos ainda se tornam por serem de construção rápida, quatro meses, tendo em conta o aumento crescente dos materiais, da mão-de-obra etc.

Adaptam-se a qualquer lugar, junto às favelas inclusive, o que é sem dúvida importante, permitindo que filhos de favelados sintam que todo um conforto lhes é oferecido, sem a discriminação odiosa que mais tarde e, por ora, a vida lhes vai impor. E são simples, lógicos, destacando-se pela sua forma, diferente nos setores mais diversos da cidade, revelando assim a grandeza do programa adotado por Leonel Brizola, o que, por isso mesmo, parece não agradar a muita gente. 

(...) Revolta-me, principalmente a desenvoltura com que alguns comentam o programa educativo dos CIEPs sem levar em conta a presença de Darcy Ribeiro, sua autoridade internacional no campo da educação, convidado invariável para organizar o ensino em países do Novo e Velho Mundo. Essa revolta cresce quanto sinto que a maioria desses críticos nada entende dos problemas educacionais, limitando-se a superadas opiniões, fáceis de contestar e definir”. 

DESVIRTUAMENTO DA PROPOSTA ORIGINAL

Ao assumir o governo do estado, após dissentir politicamente de Brizola e estar em um novo campo político, Marcello Crivella não aceitava o sistema de educação integral, fazendo com que os CIEPs passassem a ter três turnos escolares desvirtuando completamente a ideia original de Darcy Ribeiro e Brizola.

Abandonou-se também várias obras de construção de CIEPS transformados em esqueletos inúteis. Finalmente, pelo problema na segurança pública que o RJ atravessa até os dias atuais, muitos CIEPs situados em áreas dentro ou muito próximos à comunidades dominadas pelo narcotráfico, as direções dos Cieps obrigaram-se a aceitar ou a presença de traficantes nos pátios dos CIEPS ou o uso de instalações das escolas para a guarda de drogas e armamento. 

Apesar dos CIEPs continuarem existindo formalmente, sua concepção original como modelo educacional hoje não existe mais.

Na eleição presidencial de 1989, por pouco não foi para o segundo turno. Um ano depois, voltou a governar o RJ, sendo eleito no primeiro turno. A partir daí, não logrou êxito em nenhuma das quatro eleições que disputou, de vice-presidente de Lula da Silva em 1998 a senador pelo RJ em 2002. Faleceu, em 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.

Por Henrique Packter 05/09/2022 - 09:01 Atualizado em 05/09/2022 - 10:26

OSWALDO DORETO CAMPANARI (7.01.1930/27.07.2021), natural e residente em Marília, SP, faleceu aos 91 anos de idade. Era médico oftalmologista, formado em dezembro de 1959 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Fomos colegas, amigos e parceiros quase de primeira hora. Doreto foi presidente da União Paranaense dos Estudantes Universitários.

Sua vida poderia ser subdividida em três terços, cada um de 30 anos. Os trinta primeiros anos de vida foram dedicados à sua formação médica. Doreto graduou-se aos 30 anos. Os seguintes trinta anos são de intensa atividade política e os trinta anos finais mostram declínio das atividades políticas, exercício da atividade médica oftalmológica, sua doença e morte aos 91 anos de idade. 

Em 1962 passou a clinicar em Marília e seis anos depois elegeu-se vereador pelo partido MDB (1969 a 1973); ele se opunha ao regime militar vigente no país naqueles anos. Foi deputado estadual de 1975 a 1979 e de 1979 a 1983, sempre pelo MDB de Marília, SP.

Eleito deputado federal, teve mandato de 1983-1987, SP, PMDB, empossado em 17.03.1983, novamente deputado federal - (Constituinte), exerceu mandato de 1987 a 1991, SP, PMDB, empossado que foi em 01.02.1987.

Doreto costumava dizer que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe. Sobre suas notas nas matérias da Faculdade de Medicina dizia que elas não avaliavam a inteligência do aluno, apenas sua adaptação a um sistema.

Vereança em família

Vereador em 1969 pela Câmara Municipal de Marília, Doreto Campanari inicia trajetória na vida pública marcada pela dedicação ao próximo e pelo culto à democracia. Eleito pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), permaneceu na edilidade até 1973.

Assembleia Legislativa e deputação federal

No período de 1975 a 1982 exerceu mandatos na Assembleia Legislativa do Estado de SP. Em 1979, com a reorganização partidária, resultada do fim do bipartidarismo, ingressou no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido criado na esteira da extinção do MDB. Em novembro de 1982 concorreu a deputado federal, ficando na suplência. Foi alçado para o mandato na Câmara dos Deputados porque o deputado federal Mário Covas (depois governador de SP), foi nomeado para o cargo de secretário estadual dos Transportes do governo de Franco Montoro. Assumiu, então, o mandato do deputado Mário Covas (1983-1987). Campanari permanece ainda no Legislativo por mais tempo em decorrência da indicação de Covas para assumir a prefeitura da cidade de SP. Em 25.4.1984 vota a favor da emenda Dante de Oliveira e, mais tarde, no candidato à presidência vitorioso, Tancredo Neves, após a emenda não ter sido aprovada.

Em 1986, Doreto elege-se deputado federal pelo PMDB e participa da Assembleia Nacional Constituinte, sendo primeiro vice-presidente da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias. Também cooperou na Comissão da Ordem Social, Comissão da Ordem Econômica e na Subcomissão da Questão Urbana e Transporte.

Doreto Campanari, um dos 512 deputados federais brasileiros, em 1988, sob o comando do então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (PMDB), coescreveu a Constituição Federal, conhecida como Constituição Cidadã.

Responsável por 102 projetos de lei, entre eles o que reduziu o tempo de serviço no emprego dos trabalhadores para obter estabilidade e o que instituiu jornada máxima de trabalho de 40 horas semanais e proibiu horas extras. Voltando Covas, após o fim de sua gestão na prefeitura de SP (1985), deixa a Câmara. Promulgada nova Constituição (5.10.1988), passa a exercer apenas o mandato ordinário na Câmara.

Medalhado

Entre outras homenagens, Doreto Campanari recebeu a medalha de mérito cívico Marília de Dirceu, em 29.3.2019, na Câmara Municipal de Marília, SP. Na ocasião declarou:

“É muito gratificante. Tenho amor e respeito por esta Casa de Leis. Fui vereador por 8 anos e aprendi muito aqui. Depois me elegi deputado estadual por duas vezes e também considero uma escola muito boa. (...) estive em Brasília como deputado federal. Fiz muitos amigos, entre eles André Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso. Sempre defendi política de princípio e moral”.

A morte

Doreto Campanari estava acamado fazia 2 anos, por ter sofrido AVC (Acidente Vascular Cerebral). Deixou 5 filhos e 11 netos, e a esposa Ester Pierini Doreto Campanari.

DORETO E FRANCISCO DE PAULA SOARES Fº INICIAM EM 1958 A ERA DOS TRANSPLANTES DE CÓRNEA EM CURITIBA, NA SANTA CASA.

O armamento com que o Exército Brasileiro contava em seu inventário passou, em consequência da Segunda Guerra, por notável salto tecnológico. Em termos de armamento individual o principal item do exército em 1945 era o Fuzil Ordinário 08 (F.O-08), o Mauser 1908, fabricado pela DWM Waffenfabrik para o Exército Brasileiro. Esta arma utilizava o calibre 7x57mm Mauser. Ainda havia outras armas, como a vz.24, a carabina FN-Mauser M1922, a Mauser Mod.1935, a carabina Itajubá M1908/34, entre outros. Todos estes fuzis eram em calibre obsoleto: 7x57mm Mauser.

Por Henrique Packter 29/08/2022 - 10:10

Oswaldo Doreto Campanati nasceu em 7 de janeiro de 1930 e faleceu a 27 de julho de 2021 em Marília, SP, aos 91 anos de idade. Era médico oftalmologista, formado em dezembro de 1959 pela Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Paraná. Fomos colegas, amigos e parceiros quase de primeira hora. Doreto foi presidente da União Paranaense dos Estudantes Universitários.

Em 1962 passou a clinicar em Marília e seis anos depois, a população da cidade elegeu-o vereador pelo partido MDB (1969 a 1973); foi deputado estadual de 1975 a 1979 e de 1979 a 1983, ambas as vezes pelo MDB de Marília, SP. Ele se opunha ao regime militar vigente naqueles anos.

Eleito deputado federal, teve mandato de 1983-1987, SP, PMDB, empossado em 17.03.1983, novamente deputado federal - (Constituinte), exerceu mandato de 1987 a 1991, SP, PMDB, empossado que foi em 01.02.1987.

Doreto costumava dizer que a arte existe porque a vida não se basta. Muitas vezes, no decorrer de nosso curso demonstrou a veracidade do que afirmava revelando ser possuidor de mente inventiva e poderosa.

Vereança em família

Vereador em 1969 pela Câmara Municipal de Marília, Doreto Campanari inicia trajetória na vida pública marcada pela dedicação ao próximo e pelo culto à democracia. Eleito pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que opôs-se ao Regime Militar, permaneceu na edilidade até 1973.

Assembleia Legislativa e Deputação Federal 

No período de 1975 a 1982 exerceu mandatos na Assembleia Legislativa do Estado de SP. Em 1979, com a reorganização partidária, resultada do fim do bipartidarismo, ingressou no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido criado na esteira da extinção do MDB. Em novembro de 1982 concorreu a deputado federal, ficando na suplência. Foi alçado para o mandato na Câmara dos Deputados porque o deputado federal Mário Covas (depois governador de SP), foi nomeado para o cargo de secretário estadual dos Transportes do governo de Franco Montoro. Em novembro de 1982 assumiu o mandato do deputado Mário Covas, devido ao pedido de licença deste para assumir a Secretaria Estadual de Transportes no governo Franco Montoro (1983-1987). Campanari permanece ainda no Legislativo por mais tempo em decorrência da indicação de Covas para assumir como prefeito da cidade de SP. Em 25.4.1984 vota a favor da emenda Dante de Oliveira e, mais tarde, no candidato à presidência vitorioso, Tancredo Neves, após a emenda não ter sido aprovada.

Em 1986, Doreto elege-se deputado federal pelo PMDB e participa da Assembleia Nacional Constituinte, atuando como primeiro vice-presidente da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias; também cooperou na Comissão da Ordem Social, Comissão da Ordem Econômica e na Subcomissão da Questão Urbana e Transporte.

Doreto Campanari foi um dos 512 deputados federais brasileiros que em 1988, sob o comando do então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (PMDB), ajudou a escrever a Constituição Federal, que ficou conhecida como Constituição Cidadã.

Foi responsável por 102 projetos de lei, entre eles o que reduziu o tempo de serviço para obter estabilidade no emprego dos trabalhadores e o que instituiu jornada máxima de trabalho de 40 horas semanais e proibiu as horas extras. Deixa a Câmara em 1985, com a volta de Mário Covas, após o fim de sua gestão na prefeitura de SP.

Promulgada a nova Constituição em 5.10.1988, passa a exercer apenas o mandato ordinário na Câmara.

Medalhado

Entre outras homenagens, Doreto Campanari recebeu a medalha de mérito cívico Marília de Dirceu, em 29.3.2019, na Câmara Municipal de Marília, SP. Na ocasião declarou:

“É muito gratificante. Tenho amor e respeito por esta Casa de Leis. Fui vereador por oito anos e aprendi muito aqui. Depois me elegi deputado estadual por duas vezes e também considero uma escola muito boa. Posteriormente estive em Brasília como deputado federal. Fiz muitos amigos, entre eles o André Franco Montoro e o Fernando Henrique Cardoso. Sempre defendi uma política de princípio e moral”.

A morte

Doreto Campanari encontrava-se acamado já há algum tempo, após ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral), há dois anos. Deixou cinco filhos e 11 netos, além da esposa Ester Pierini Doreto Campanari.

Doreto inicia em 1958 a era doa transplantes de córnea em Curitiba na Santa Casa

Fiz o serviço militar no CPOR de |Curitiba em 1954. Nesse ano foi criado em todo o país o Serviço de Saúde da instituição. Era um Serviço, não uma arma, como a Infantaria, a Artilharia, Engenharia. No velho prédio fronteiro à Praça Oswaldo Cruz, durante um ano ficamos nós, estudantes de Medicina, Odonto e Farmácia, nas férias e nos sábados e domingos, cumprindo com nossa obrigação para com a pátria.

Muita gente boa fez sua estreia militar naquele ano de 1954, bastando citar apenas alguns deles: Lino Lima Lenz (depois professor de Urologia na  UERJ, Coriolano Caldas Silveira Motta (professor em várias cadeiras da Faculdade de Medicina da Federal do Paraná e da Evangélica), Afonso Antoniuk (professor de Neurocirurgia da Federal do Paraná), Luiz Alencar de Moraes (primeiro pediatra em Dracena, SP), Egídio Martorano (depois prefeito de São Joaquim em SC, deputado estadual e secretário de Estado), Vilson Cidral (professor de Otologia na Federal do Paraná)...

Pois foi pelo Serviço Militar no CPOR de Curitiba que Doreto andava atrás de mim. Queria ele começar a fazer transplantes de córnea e me oferecia a oportunidade de começarmos juntos. Mas, faltava o essencial: trépanos para remover córnea doadora e córnea a ser substituída. Não é que a Santa Casa não tivesse tais equipamentos, apenas seu uso era restrito aos professores. Também não tínhamos microscópio cirúrgico, mas sua ausência era suprida por lupas de quatro aumentos.

Doreto esperava-me à saída de uma das aulas com a grande ideia: que tal utilizar cartuchos não deflagrados, de metal vazios, dos velhos mosquetões Mauser do CPOR, cujos bordos seriam afiados à perfeição por ótico de sua confiança? Arregalei os olhos de pura surpresa: parecia mais um ovo de Colombo, ou melhor, um ovo de Doreto Campanari.

Por Henrique Packter 22/08/2022 - 16:49 Atualizado em 22/08/2022 - 16:54

Numa outra sexta-feira pela manhã, como de costume, estive no Programa Adelor Lessa, da Rádio Som Maior de Criciúma, fazendo a segunda coisa de que mais gosto: falar sobre a vida e suas manifestações. Lessa e eu, dávamos vaza a uma permanente inquietação existencial e a um profundo respeito e zelosa guarda do imortal idioma pátrio.

Comentamos o livro, velho de 20 anos, FATOS E RELATOS PITORESCOS, do falecido jornalista catarinense LUIZ ANTONIO SOARES, publicado em 2003 pela Editora e Gráfica Odorizzi Ltda. Prefácio do jornalista Moacir Pereira, o que não é pouca coisa, fica conferido ao trabalho, este galardão de elevado valor intelectual. Moacir, classifica o autor de exemplo vivo de profissional que vai às últimas consequências quando se trata de advogar princípios, valores, convicções. Vai mais longe e identifica o autor como jornalista competente, punido em sua própria terra pela inveja dos medíocres. Imagino que a obra está esgotada o que não causa nenhuma admiração: é assim mesmo, em se tratando de trabalhos que tais.

Quanto a Luiz Antônio Soares, falecido em 20.9.2013, aos 72 anos, foi o primeiro jornalista de SC a receber o reconhecido prêmio Esso Regional Sul. Iniciou sua carreira no Jornal A Nação, dos Diários Associados, em Blumenau, e colaborou com o semanário O Lume, de Honorato Tomelin. Sepultado no Cemitério São José, Blumenau, Luiz Antônio Soares morreu numa sexta-feira no Hospital Santa Isabel, onde estava internado desde terça-feira, ao sofrer um traumatismo craniano, após queda em casa. Soares atuou como colunista do Jornal A Notícia e também trabalhou no Jornal de Santa Catarina por 27 anos, onde foi editor-chefe entre 1970 e 1980 e ganhou o prêmio mais valorizado da imprensa brasileira com série de reportagens defendendo a preservação da Ponte do Salto. 

No livro de Luiz Antônio Soares de 206 páginas, há alguns notáveis relatos de não menos notáveis personalidades que desfilaram pelo cenário de nosso estado. Logo na página 13, Lessa e eu encontramos excelente matéria, intitulada NOMINHO.
Nesse local Luiz Antônio Soares descreve caloroso debate entre os deputados PEDRO KUSS do antigo PSD de Mafra e PAULO KONDER BORNHAUSEN, o PKB, da UDN, irmão de JORGE BORNHAUSEN.  Pedro Kuss (Lapa, 4.04.1897, 22.03.1978), foi fazendeiro e político, filho de José Kuss Filho e de Ernestina Weinhardt Kuss. Kuss, Kuss, Kuss.

Foi vereador, prefeito de Joaçaba e Mafra, deputado estadual-, cargos alcançados tanto por nomeação (escolha política), quanto por eleição direta (pelo voto popular). 

Revolucionário, integrou o grupo liderado pelo coronel José Severiano Maia, articulador dos desdobramentos da Revolução de 1930 que retirou do poder o presidente Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e levou Getúlio

Vargas à presidência da República. Fez parte da preparação mafrense para participação nos combates da Revolução Constitucionalista de 1932, como subcomandante do 5º Batalhão da Reserva da Força Pública de SC, tropa de voluntários que ficou popularmente conhecida como Batalhão Come-Vaca.

Após as revoluções do início da década de 1930, Pedro Kuss assumiu em 1933, por nomeação, a prefeitura de Joaçaba e, dois anos depois (1935), também por nomeação, tornou-se prefeito de Mafra. Assumiu por outras duas oportunidades a prefeitura de Mafra: mais uma vez nomeado em 1946, e eleito ano seguinte. 

Em 1950 conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa de SC, cargo que voltaria a exercer também na década seguinte, após vencer novas eleições e, cumprir novo mandato de deputado estadual na 3ª legislatura (1955 — 1959), eleito pelo  PSD. É quando o deputado Pedro Kuss resolve inticar com PKB, acusando o deputado Paulinho (sempre citado dessa maneira), disso e daquilo e mais aqueloutro. Até que PKB levanta questão de ordem, autorizada pelo presidente da Casa.

Chama PKB no diatribe, de deputado Paulinho, sendo interrompido, por questão de ordem, levantada por PKB.

- Senhor Presidente, senhores deputados! Meu nome é Paulo Konder Bornhausen. Dou ao meu oponente o direito de me tratar por PKB, Paulo, Paulo Konder, Konder, Konder Bornhausen, Paulo Bornhausen – como queira, pode escolher! Mas, se o deputado KUSS continuar a me chamar do jeito como o faz, vou trata-lo da mesma forma. Só ainda não sei se pelo aumentativo ou pelo diminutivo de seu   sobrenome!

Por Henrique Packter 15/08/2022 - 09:41 Atualizado em 15/08/2022 - 09:41

OLHO MÍOPE É OLHO DOENTE

Toda prevenção deve estar destinada para a ocasião em que a criança ainda não é míope. A miopia que surge cedo na vida é potencialmente grave, podendo levar à cegueira.

1.      Tem aumentado número de jovens míopes?  Sim, por influências genéticas (70% tem pais ou parentes míopes), do meio e de comportamento (excessivo uso de smartphones, híbridos entre celular e computador, desde a infância e falta de atividades ao ar livre).

2.     E, nas outras faixas etárias? A miopia ocorre quando o olho encomprida mais do que o normal. Aparece entre os 8 e os 12 anos quando o olho está em desenvolvimento. Mas, pode acometer outras idades, entre 18 e 21 anos, época em que o crescimento em comprimento do olho já deveria ter cessado. É A MIOPIA DE APARECIMENTO TARDIO, RELACIONADA AO EXCESSO DE USO DE TELAS DIGITAIS. Importância maior é a miopia em crianças que pode determinar alterações graves levando até a cegueira, algo que aflige a humanidade de nossos dias. No Japão e no leste asiático (China, Coréia do Norte e do Sul, Mongólia, Taiwan), a miopia é considerada causa número 1 de cegueira no adulto pelo surgimento na infância e pela progressão para a vida adulta. 

3.     Quais práticas podem ser adotadas para evitar a miopia? Podem diminuir ou retardar a miopia: A – exposição à luz solar: Escolas asiáticas adotam paredes de vidro para facilitar entrada da luz solar. Dentro das moradas deve-se melhorar a iluminação natural; ela provoca secreção do hormônio DOPAMINA na retina, impedindo o crescimento excessivo dos olhos. B- praticar atividades físicas desde cedo: 2 horas/dia e reduzir radicalmente acesso às telas digitais. Até 2 anos de idade acesso às telas deve ser ZERO. Depois dos 2 anos, 1 hora/dia, com supervisão. As telas emitem luz azul que pode colaborar para aumento da miopia. Na Ásia, crianças costumam ficar 2 períodos na escola. Voltando para casa fazem as lições sob luminária com luz LED. Acabam se tornando mais míopes do que as que usam outro tipo de iluminação. Hoje, sumiu a luz incandescente e a LED está em todas as telas digitais, na tela de Tv e às vezes na luz interna. Na França, a Agencia Nacional de Saúde e Alimentação produziu documento sobre a luz LED sugerindo que não se usasse em berçários e hospitais tal iluminação porque ela pode influenciar no crescimento ocular.

4.      Haveria no mundo de hoje epidemia global de miopia? Seria correto dizer que há uma pandemia de miopia. No Leste Europeu (Bulgária, República Tcheca, Hungria, Polônia, Romênia, Federação Russa, Eslováquia, Bielorrússia, Moldávia, Ucrânia, Bulgária, Bósnia, Grécia, Macedônia, Sérvia, Montenegro, Romênia e Turquia), e no leste asiático, há um século atrás, a prevalência da miopia alcançava 25%. Hoje esse número é de 96%, aumento de 3 vezes ou metade da população mundial míope logo, logo. Olhos míopes têm mais glaucoma, talvez a principal causa de cegueira irrecuperável. Haverá mais cataratas, descolamentos de retina, degeneração miópica da alta miopia.

No Brasil, temos de tomar medidas e agora.  Olhemos para a criança escolar e pré-escolar. É ela que vai ser a alta míope daqui a 10, 15 ou 20 anos e vai ficar cega aos 60 anos. Cegueira induzida por complicações da miopia.

5.     Com que idade fazer a primeira consulta oftalmológica? Ao nascer, o teste do olhinho, obrigatório na rede pública, pode identificar algum problema congênito, como a catarata. Três ou quatro anos seria a idade ideal e depois exame oftalmológico ao iniciar a alfabetização. Percebendo os pais, ou pessoas chegadas, algum problema (desvio de um ou ambos os olhos, mal estar na claridade, vermelhidão, secreção ocular, reflexo “olho de gato”, mancha branca na menina do olho exposta à luz e especialmente visível em fotos com flash: buscar orientação oftalmológica imediata). Esta última condição pode remeter ao diagnóstico de retinoblastoma, o temível tumor ocular maligno em crianças.

6.     Há sinais de que a criança ou o adolescente podem estar desenvolvendo miopia ou outro problema visual?  Até os 3 anos os graus de lentes para corrigir problemas visuais variam. O normal da criança é ser HIPERMETROPE (defeito característico de quem tem o olho curto, pequeno, que melhorará com o crescimento por aumento do comprimento ocular); hipermetropia pequena não atrapalha a visão, nem o desempenho escolar. Já a miopia, olho comprido, atrapalha a visão mesmo em graus pequenos, miopia essa que vai aumentar com o crescimento. HIPERMETROPIA GRANDE em criança atrapalha a visão e o desenvolvimento e faz com que o olho entorte, fique estrábico, aí pelos 2 e 1/2 anos de idade. Logo, criança com desvio ocular, dificuldade de aprendizado ou demonstração de desinteresse pela leitura e escrita, necessita de avaliação especializada. Míopes aproximam os textos; quando não enxergam de longe, levantam-se para ficar mais próximos da lousa, franzem a testa. Tudo isso sinaliza para falta de visão. O hipermEtrope, se perde um pouco de interesse tem sonolência ou desconforto visual e dor de cabeça.

Por Henrique Packter 08/08/2022 - 12:58 Atualizado em 08/08/2022 - 14:52

No dia 5 de agosto, como de hábito nas sextas-feiras, lá pelas 9 e alguma coisa da manhã, Lessa e eu sempre comentamos os fatos e atos relevantes da semana, encerrando o programa que leva seu nome. José Eugênio Soares, o Jô Soares, falecera poucas horas antes, no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, onde fora internado em 28 de julho. Nasceu em 1938, tendo portanto 84 anos ao partir. Sua morte nos aproxima e atrai para rescaldo de um tempo perdido, afinal ele foi entretenimento para os brasileiros durante seis décadas. 

Humor elitizado das madrugadas

Jô Soares, humorista que fazia todo mundo rir, ao mesmo tempo fazia pensar. Era um humorista-ator intelectualizado. Raridade na cena televisiva-teatral e literária brasileira, criava personagens para combater preconceitos. Nos seus livros misturava ficção e realidade. Showman, deixava-nos insones, televisão ligada até altas horas, conduzindo o melhor programa de entrevistas de nossa Tv, qualidade ainda não igualada entre nós. Músico, tocando bongô de maneira admirável, entrevistava seus convidados nas várias línguas que dominava: francês, inglês, italiano, português, espanhol; tinha conhecimentos em alemão. Mas, acima de tudo falava a língua das ruas com seus causos e piadas.

O início na TV

Estudou em Lausanne na Suiça. Viu Tv pela vez primeira em 1952 nos EUA e, seis anos depois – aos 20 anos – escrevia e atuava em peças policiais na Tv Rio. Logo depois seria comediante na Tv Continental. Em 1960 estava na Tv Excelsior, no Simonetti Show. Na Record, em 1966, escrevia e atuava no premiadíssimo Família Trapo. Dividia a redação do programa com Carlos Alberto Nóbrega. Estreou na Globo em 1970 onde brilhou com Faça Humor, Não Faça a Guerra, toda sexta-feira à noite, show substituído por Satiricom e, depois, por Planeta dos Homens.

Em 1981 Jô reivindicava programa só seu, o Viva o Gordo. Em 1987 muda para o SBT e encena o Veja o Gordo, passando depois a dedicar-se em tempo integral ao Jô Soares Onze e Meia, referência na Tv brasileira de talk show. No seu talk show, já se disse, demolia qualquer embuste com seu sarcasmo e reconhecia todo puro talento com sua generosidade.  Raciocínio surpreendentemente veloz, improvisava porque tinha cultura.

Em 2000 volta para a Globo onde apresenta até 2016, Programa do Jô. Max Nunes, redator de seus programas faleceu em 2014, ano da morte de seu único filho, Rafael, autismo agravado por tumor cerebral, aos 50 anos. Jô era, então, casado com a atriz Teresa Austregésilo, primeira de três núpcias.

Trabalhou no teatro, cinema e na produção literária. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras. Com Matinas Suzuki lançou o Livro de Jô- Uma Autobiografia Desautorizada, em dois volumes. 

 Os finalmentes  

No VIVA O GORDO (Globo, 1981-1987) e no VEJA O GORDO (SBT, 1988-1980), satirizou a política e costumes pátrios. Seu humor emergente refletia o momento que o país vivia. Criador de personagens icônicos, Jô muito auxiliou na restauração do Theatro São Pedro de Porto Alegre, reforma idealizada por Eva Sopher que faleceu em 2018. Eva, na ausência de verbas, apelou para que artistas doassem seus trabalhos para as obras do teatro. Jô apresentou seu show em Porto Alegre, pagando as passagens do próprio bolso. O espetáculo foi encenado em meio a escombros e paredes reconstruídas do velho teatro.   

Vai em paz, Jô Soares.

Por Henrique Packter 01/08/2022 - 15:46 Atualizado em 01/08/2022 - 15:51

O que é a córnea?

A córnea é um tecido transparente situado na parte anterior do olho (na superfície do olho – a primeira interface que a luz atravessa). É uma lente natural e transparente situada na frente da íris (a parte colorida do olho) e da pupila. Se a córnea opacificar (embaçar), perder a transparência – por enfermidades hereditárias, lesões, infecções, queimaduras por substâncias químicas, enfermidades congênitas ou outras causas –, a pessoa pode perder ou ter a visão bastante reduzida.

A doação de órgãos em geral e da córnea em particular

Por que ser um doador? Porque suas córneas vão beneficiar pessoas com deficiência visual e porque os exemplos fazem outras pessoas interessar-se.
 
Qualquer pessoa pode ser doadora de tecidos oculares? Sim, exceto aquelas portadoras de problemas nas córneas.
 
Mesmo que a pessoa não tenha manifestado o desejo de doar, a família pode entrar em contato com o Banco de Olhos? Preferivelmente, não. Doar é um ato  solidário e espontâneo.
 
Como posso manifestar o desejo de, algum dia, vir a ser doador? Quando estiver decidida procure o Banco de Olhos mais próximo.
 
A retirada dos tecidos oculares provoca alguma deformidade no doador? Não.
 
Até quanto tempo após o óbito os tecidos oculares podem ser retirados? Antes de seis horas.
 
Após o óbito, existe algum cuidado que deva ser tomado para que as córneas não sejam danificadas? Auxilia bastante se pequenos torrões de gelo envolvidos em saquinhos plásticos forem colocados sobre os olhos, delicadamente, até a hora de remoção das córneas.
 
Se alguém quiser, em vida, doar uma córnea para um familiar inscrito na lista de espera para transplante de córnea, poderá? Não.
 
Se a família quiser autorizar a doação para que a córnea seja transplantada em alguém da própria família ou em algum amigo da família, é possível? Não.
 
Se os familiares do doador quiserem conhecer os receptores dos tecidos oculares doados ou se os pacientes receptores destes tecidos quiserem obter informações sobre o doador ou sobre os familiares que autorizaram a doação, poderão? Temos sempre desestimulado essa prática. Há pessoas que se aproveitam desse conhecimento para auferir vantagens.
 
Qual é o custo da doação para os familiares do doador? Custo zero.
 
Existem objeções religiosas com relação à doação? Não. Delegação brasileira chefiada pelo Professor Hilton Rocha, de Belo Horizonte, procurou no  Vaticano Papa Pio XII que declarou ser a doação de órgãos ato de amor para com o próximo.

Banco de Olhos

Banco de olhos é uma entidade sem fins lucrativos que recebe doações, prepara e distribui córneas para transplante, ensino e pesquisa.

A importância dos Bancos de Olhos para o Brasil 

As ações implementadas pela APABO levaram o Brasil a conquistar, mundialmente, o segundo lugar como referência na área de Banco de Olhos (atrás, apenas, dos Estados Unidos). Os poucos e antigos Bancos de Olhos foram reestruturados, de acordo com padrões internacionais, e novos centros foram criadas em quase todo o país.

Apabo

O escritório Brasil da Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos, APABO, entrou em funcionamento em 1991 e foi criado para que as equipes dos Bancos de Olhos e os oftalmologistas brasileiros – que solicitavam a assessoria e o respaldo da Associação – pudessem ser atendidos em português e receber orientação de acordo com as peculiaridades de cada região do território brasileiro.

A atuação da APABO no Brasil resultou em importantes transformações no panorama das doações e dos transplantes de córnea no país.

Os poucos e antigos Bancos de Olhos foram reestruturados, de acordo com padrões internacionais, e novas unidades foram criadas em quase todas as regiões do país. Importante sistema de controle da qualidade dos tecidos oculares doados foi estabelecido e consolidado.

A formação oferecida pela APABO para os profissionais brasileiros, médicos e técnicos – para a atuação nos Banco de Olhos –, é reconhecida, internacionalmente, como de excelência.

Regulamentações para o funcionamento dos Bancos de Olhos foram criadas, aprovadas e seguem sendo aperfeiçoadas.

As doações e os transplantes de córnea aumentaram de forma significativa  – o que possibilitou a redução do número de pacientes à espera de um transplante de córnea e, também, do tempo de espera em lista.

Mais cirurgiões puderam ser treinados, de forma regular e intensiva, e melhores resultados cirúrgicos passaram a ser obtidos.

Por Henrique Packter 25/07/2022 - 08:51 Atualizado em 25/07/2022 - 08:53

BANCO DE OLHOS DE CRICIÚMA

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

De conformidade com o artigo 22 do Estatuto do Banco de olhos de Criciúma (BOC), ficam convocados todos os sócios da entidade para a eleição da diretoria para o biênio 91-93 que vai acontecer no próximo dia 11 de novembro de 1991 na Regional Médica da Zona Carbonífera (rua Pedro Benedet, 363, sala 202, fone 33-5919.

Outrossim, adianta que as chapas concorrentes poderão ser inscritas até o próximo dia 15 de outubro às 18 horas, também na Regional Médica.

Desidério Meller – Presidente.

Em 15 e 16 de novembro de 1991 é o VI CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BANCO DE OLHOS e IV SIMPÓSIO DO BANCO DE OLHOS DE CURITIBA, em Curitiba/PR.

JORNAL DA MANHÃ 05.12.1991

BANCO DE OLHOS:  DIRETORES VIAJAM EM BUSCA DE SUBSÍDIO

Diretores e colaboradores do BOC viajam na madrugada desta sexta-feira para Joinville onde, às 13,30 horas, vão realizar oficialmente a primeira visita ao banco de olhos daquela cidade. Além da presidente do BOC professora Maria Dal Farra Naspolini e de membros da diretoria o médico oftalmologista Anilton Antonelli acompanha a delegação. (...) Ela está muito otimista com o resultado das primeiras reuniões do BOC e acredita que em breve vai poder começar a divulgar em toda a região a campanha visando a conscientização da doação de córneas e a conquista de sócios para o BOC.

Na avaliação da presidente, o grupo que trabalha voluntariamente no BOC está unido e disposto a trabalhar bastante. “Nós só estamos dando continuidade a uma ideia nascida há 10 anos em nosso município e que até há pouco era administrada por pessoas sérias, idôneas, e, acima de tudo disposta a doar pelos outros”, ponderou ela.

Os dois primeiros

16.08.1992

BOC realiza dois transplantes

A presidente do BOC prof. Maria Dal Farra Naspolini confirmou a realização dos dois primeiros transplantes na gestão da atual diretoria, foi no dia 16, domingo, no Hospital São João Batista pelos diretores clínicos Anilton Antonelli e Benito Juarez Gorini Borges.

JORNAL A NOTÍCIA 13.08.1992

Após um ano e meio de funcionamento do banco (com nova diretoria) foram realizados domingo dois transplantes de córnea.

BANCO DE OLHOS VIABILIZA TRANSPLANTES EM CRICIÚMA

(...) O BOC foi fundado no final de 1981 e somente funcionou durante dois anos. (Equívoco evidente, nunca deixou de funcionar até que seu único transplantador demitiu-se por questões de saúde após grave acidente que sofreu em 2007. Necessário ressaltar que este trabalho foi possível graças às ações de sua Diretora ELIANE ANDRADE, colaborador ALMIR DE SOUZA FERNANDES, VOLUNTÁRIOS e OFTALMOLOGISTA HENRIQUE PACKTER. O grupo que pretendia substituir o trabalho dos pioneiros demitiu-se, alegando os médicos que não tinham mais pacientes na lista de espera! Que tinham zerado a fila!).

Depois de ficar desativado por quase oito anos novamente entrou em ação a partir de novembro do ano passado. Em Criciúma 5 médicos fazem transplante de córnea. Na lista do BOC 17 pacientes esperam doadores.

Outro responsável pela recuperação (?) de córneas é o BANCO DE OLHOS SUL CATARINENSE (BOSC), fundado em Tubarão há dois anos pelo oftalmologista Henrique Packter (observação: pelo Dr. OTTO FEUERSCHUTTE NETO, VLADIMIR CASTILHA de Laguna e EVALDO MEDEIROS DE OLIVEIRA de ARARANGUÁ, HENRIQUE D. DE CAMPOS de Içara, DAVID PEREIRA, VALTER PEREIRA de Criciúma. As ações deste Banco de Olhos foram descontinuadas após os médicos e voluntários que haviam ocupado os cargos da instituição por eleição, terem deixado os mesmos). Em um ano e meio este banco de olhos que abrange todos os municípios do sul do estado foi responsável pelo transplante de 24 córneas. Hoje, mais 60 aguardam na fila por doação. (...)

“Há uma semana, 12.08.1992, o BOSC promoveu (NA CIDADE DE GRAVATAL/SC) um seminário para saber quais os últimos avanços no transplante de córnea. Estavam palestrando profissionais como o médico Francisco Mais, presidente da Associação Brasileira dos Bancos de Olhos, Thadeu Cvintal, secretário-MÉDICO do Banco de Olhos de São Paulo, Amilton Moreira, secretário-MÉDICO do Banco de Olhos de Curitiba e professor da Universidade de Medicina do Paraná e Sérgio Kvitko chefe do Departamento de Córnea do Hospital das Clínicas de Porto Alegre”.

JORNAL DA MANHÃ PÁG. 03 de 03.05.1993

O BOC agora é oficialmente uma entidade de utilidade pública. A Câmara Municipal de Criciúma aprovou por unanimidade projeto de lei da vereadora e presidente licenciada do BOC, Maria Dal Farra, nesse sentido.

BANCO DE OLHOS DE CRICIÚMA

EDITAL DE ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

A presidente do BOC no uso de suas atribuições estatutárias convoca todos os associados para comparecerem à Assembleia Geral Ordinária a ser realizada no dia 14.11.1993 1993 às 19,30 horas em 1ª convocação com a presença de 2/3 de todos os associados e às 20 hs em 2ª convocação com a presença de qualquer número de associados à rua Dom Joaquim Domingos de Oliveira, 65, salão de festas do Edifício Villa Lobos para tratar da seguinte ordem do dia:

1º aprovação das contas da Diretoria período 91/93

2º eleição e posse da nova diretoria, conselho técnico e fiscal

3º outros assuntos de interesse geral e da entidade

Criciúma, 25.10.1993

Maria Dal Farra-Presidenta

5.226   (Cont)

Por Henrique Packter 18/07/2022 - 08:55 Atualizado em 18/07/2022 - 09:07

A HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES DE CÓRNEA EM CRICIÚMA E REGIÃO

JORNAL LUTA DEMOCRÁTICA DO RJ

JORNAL DE MAIOR PÚBLICO LEITOR

Fundador: TENÓRIO CAVALCANTI

Ano XVIII * 7 de dezembro de 1971* Nº 5.513

Médico catarinense aprovado em 1º lugar em concurso no Hospital dos Servidores do Estado

O Dr. Henrique Packter, médico oftalmologista, radicado em Criciúma (SC), vem de ser aprovado em primeiro lugar no concurso para provimento de cargo de oftalmologista do Hospital dos Servidores do Estado (IPASE) da Guanabara. O Dr. Henrique Packter, conhecido oftalmologista catarinense é o atual presidente do Departamento de Oftalmologia da Associação Catarinense de Medicina.

Dedica-se à especialidade no Hospital São José de Criciúma e vem de realizar estágio de um ano no RJ no Serviço de Oftalmologia do HSA, Serviço do Dr. Orlando Rebello, além de Curso na Sociedade Brasileira de Oftalmologia e Curso de Pós Graduação em otoneuroftalmologia  na Pontifícia Universidade Católica do RJ.

No HSE (IPASE) da Guanabara, o Dr. Henrique Packter foi assistente entre outros conhecidos oftalmologistas, do Dr. Aderbal de Albuquerque Alves, que é reconhecida autoridade em questões ligadas à refração ocular.  

CORREIO DO SUDESTE de 15.10.1981 e TRIBUNA CRICIUMENSE de 17.10.1981.

“Um grupo de médicos oftalmologistas e outras pessoas interessadas estão se mobilizando no sentido de criar o banco de olhos cde Criciúma”. (...) “Em nossa cidade os transplantes são realizados há mais de 10 anos. A exemplo de outros locais, a imprensa falada, escrita e televisada de Criciúma tem emprestado grande apoio e incentivo a essa iniciativa”. 

Florianópolis somente teria uma Central de Transplantes de Órgãos no final de 1999, mas, o primeiro transplante de córnea data de 14.05.1972 e foi realizado pelo SUS por uma equipe constituída pelos doutores Henrique Packter (cirurgião oftalmólogo), Boris Pakter e David Groisman Raskin (oftalmologistas), Sérgio Luiz Bortoluzzi (anestesista), Maria Formentim Fernandes, circulante.

Em 1998, os TC tinham listas de espera regionalizadas, Criciúma tinha a sua. Isso significa que córneas captadas na região eram implantadas na região.  Graças a ALMIR FERNANDES DE SOUZA e ELIANA ANDRADE um Banco de Olhos virtual coletava córneas, principalmente no IML. O trabalho do Banco de Olhos era executado por esses dois abnegados voluntários. Com o tempo, outros voluntários se incorporaram, temporariamente, a nós. 

O Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes, ativado a 02.03.1987, iniciou atividades oftalmológicas sob direção dos Drs. Otávio Nesi e Eulina T.S. Rodrigues Cunha, em 01.10.1987.  Em 1993 e 1997, SC adquiriu aparelhos de laser e microscópio cirúrgico.

Em 15.9.2007, viajando a Florianópolis a trabalho, sofri grave acidente automobilístico tendo de interromper meu trabalho e em especial cirurgias de TC e de Descolamento de retina, as mais trabalhosas. Na minha lista de candidatos a transplante de córnea constavam, então, 34 clientes à cirurgia. Em 8.1.2008 solicitei à Central de Transplantes que não mais remetessem córneas para TC tendo em vista minha situação quanto à saúde. Em 7.8.2009 e 12.8.2009 minha secretária alertou a todos os inscritos do que ocorria. Já em Fev/2010 a Central de Transplantes comunica a todos, por carta que devem migrar para outra equipe transplantadora, nos seguintes termos:

“Informamos que esta equipe (do HSJ) está indisponível para a realização de TC, sem previsão de retorno às suas atividades e que o senhor poderá solicitar transferência de sua equipe em outro serviço de transplante sem prejuízo de tempo em lista, para isso deverá marcar consulta médica com oftalmologista credenciado a uma equipe do estado”.

DO SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTE

O SNT, concebido a partir do disposto no artigo 199, # 4º da Constituição da República, encontra-se estruturado na Lei nº 9.434/97 (Lei dos Transplantes) a qual foi regulamentada pelo Decreto nº 2.268/97 e, particularmente pela Portaria MS 3.407 de 05/08/98.   (...)

Esta portaria ainda não surtira efeitos em SC, nem a CENTRAL DE TRANSPLANTES estava em operação em 7.2.1998.

“... o motivo para a não realização do procedimento foi a indisponibilidade do profissional transplantador no HSJ que se deu a partir de janeiro de 2008” (bilhete de 8.1.08). “Importante ainda asseverar que os pacientes do HSJ, sob a responsabilidade do Dr. HP, estavam inscritos para procedimentos eletivos (não urgentes)...” 

0 decreto  4.02.1997– Lei 9.434 regulamentada pelo Decreto 2.268 de 30.6.1997 cria o SNT e as Centrais Estaduais de Transplantes com listas de espera regionalizadas, lista única, sendo as normas estabelecidas em Portaria nº 91 de 23.01.2001. A Lei do Transplante (9434, Fev/97), iniciativa do Legislativo, sem participação do Ministério da Saúde e associações médicas, adota consentimento presumido para doação de órgãos: se em vida não tivesse o falecido expressamente  declarado que não era doador, sua córnea poderia ser removido.

Nunca adotamos este procedimento. O BOC apenas removia córneas com a concordância dos familiares. 

Desta forma, SC que vira seu primeiro transplante de córnea ser executado com sucesso em 14 de maio de 1972, veria em 07.2.1998 quando essas regulamentações ainda não se achavam implantadas no país a Portaria do Ministério da Saúde nº 263, 31.3.1999 e Portaria nº 905 de 16.8.2000 criar a Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes de órgão.

SC TRANSPLANTES

Criada por Decreto Estadual (21.9.1999), credenciada pelo Ministério da Saúde (27.10.1999), foi inaugurado em 16.12.1999,  27 anos depois do transplante pioneiro. Muitos transplantes de córnea foram realizados em SC neste período, antes que houvesse qualquer tipo de legislação contemplando essas cirurgias!

Por Henrique Packter 08/07/2022 - 09:49 Atualizado em 08/07/2022 - 09:50

Florianópolis somente teria uma Central de Transplantes de Órgãos no final de 1999, mas, o primeiro transplante de córnea data de 14.05.1972 e foi realizado pelo SUS por uma equipe constituída pelos doutores Henrique Packter (cirurgião oftalmólogo), Boris Pakter e David Groisman Raskin (oftalmologistas), Sérgio Luiz Bortoluzzi (anestesista), Maria Formentim Fernandes, circulante.

Em 1998, os TC tinham listas de espera regionalizadas, Criciúma tinha a sua. Isso significa que córneas captadas na região eram implantadas na região.  Graças a ALMIR FERNANDES DE SOUZA e ELIANA ANDRADE um Banco de Olhos virtual coletava córneas, principalmente no IML. O trabalho do Banco de Olhos era executado por esses dois abnegados voluntários e, também por mim. Com o tempo, outros voluntários se incorporaram, temporariamente, a nós. 

O Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes, ativado a 02.03.1987, iniciou atividades oftalmológicas sob direção dos Drs. Otávio Nesi e Eulina T.S. Rodrigues Cunha, em 01.10.1987.  Em 1993 e 1997, SC adquiriu aparelhos de laser e microscópio cirúrgico.

Em 15.9.2007, viajando a Florianópolis a trabalho, sofri grave acidente automobilístico tendo de interromper meu trabalho e em especial cirurgias de TC e de Descolamento de retina, as mais trabalhosas. Na minha lista de candidatos a transplante de córnea constavam, então, 34 candidatos à cirurgia. Em 8.1.2008 solicitei à Central de Transplantes que não mais remetessem córneas para TC tendo em vista minha situação quanto à saúde. Em 7.8.2009 e 12.8.2009 minha secretária alertou a todos os inscritos do que ocorria. Já em Fev /2010 a Central de Transplantes comunica a todos, por carta que devem migrar para outra equipe transplantadora, nos seguintes termos:

“Informamos que esta equipe (do HSJ) está indisponível para a realização de TC, sem previsão de retorno às suas atividades e que o senhor poderá solicitar transferência de sua equipe em outro serviço de transplante sem prejuízo de tempo em lista, para isso deverá marcar consulta médica com oftalmologista credenciado a uma equipe do estado”.

DO SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTE

O SNT, concebido a partir do disposto no artigo 199, # 4º da Constituição da República, encontra-se estruturado na Lei nº 9.434/97 (Lei dos Transplantes) a qual foi regulamentada pelo Decreto nº 2.268/97 e, particularmente pela Portaria MS 3.407 de 05/08/98.   (...)

Esta portaria ainda não surtira efeitos em SC, nem a CENTRAL DE TRANSPLANTES estava em operação em 7.2.1998.

“... o motivo para a não realização do procedimento foi a indisponibilidade do profissional transplantador no HSJ que se deu a partir de janeiro de 2008” (bilhete de 8.1.08). “Importante ainda asseverar que os pacientes do HSJ, sob a responsabilidade do Dr. HP, estavam inscritos para procedimentos eletivos (não urgentes)...” 

0 decreto  4.02.1997– Lei 9.434 regulamentada pelo Decreto 2.268 de 30.6.1997 cria o SNT e as Centrais Estaduais de Transplantes com listas de espera regionalizadas, lista única, sendo as normas estabelecidas em Portaria nº 91 de 23.01.2001. A Lei do Transplante (9434, Fev/97), iniciativa do Legislativo, sem participação do Ministério da Saúde e associações médicas, adota consentimento presumido para doação de órgãos: se em vida não tivesse o falecido expressamente  declarado que não era doador, sua córnea poderia ser removido.

Nunca adotamos este procedimento. O BOC apenas removia córneas com a concordância dos familiares. 

Desta forma, SC que vira seu primeiro transplante de córnea ser executado com sucesso em 14 de maio de 1972, veria em 07.2.1998 quando essas regulamentações ainda não se achavam implantadas no país a Portaria do Ministério da Saúde nº 263, 31.3.1999 e Portaria nº 905 de 16.8.2000 criar a Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes de órgão.

SC TRANSPLANTES

Criada por Decreto Estadual (21.9.1999), credenciada pelo Ministério da Saúde (27.10.1999), foi inaugurado em 16.12.1999,  27 anos depois do transplante pioneiro. Muitos transplantes de córnea foram realizados em SC neste período, antes que houvesse qualquer tipo de legislação contemplando essas cirurgias!

Por isso, MEUS Transplantes de Córnea, REALIZADOS ATRAVÉS DO SUS NUNCA FORAM REMUNERADOS APESAR DE, EM VÁRIAS OCASIÕES, EU TER RECLAMADO DA SITUAÇÃO, INCLUSIVE DIRIGINDO-ME PESSOALMENTE À CENTRAL DE TRANSPLANTES EM FLORIANÓPOLIS, ÀS VEZES ACOMPANHADO PELO DELEGADO ALMIR FERNANDES DE SOUZA E UMA VEZ COM ELIANA ANDRADE, DIRETORES DO BANCO DE OLHOS VIRTUAL DE CRICIÚMA.

MANCHETES

O ESTADO de 27.10.1981 (terça-feira). SC GANHA O SEGUNDO BANCO DE OLHOS. É EM CRICIÚMA EM 23.10.1981.

FAZIA QUASE 10 ANOS DO PRIMEIRO TRANSPLANTE DE CÓRNEA NO ESTADO.

“CRICIÚMA – em solenidade realizada na noite de sexta-feira, 23 de outubro, a criação e consequente fundação de um Banco de Olhos na região da Bacia Carbonífera foi oficializada, estando presentes ao ato todos os integrantes da primeira diretoria efetiva da entidade. Segundo Desidério Meller, o DÉIO, presidente do Banco de Olhos de Criciúma, a reunião teve por objetivo oficializar a formação desta primeira diretoria “que irá permitir a estruturação e funcionamento do Banco”.

“A finalidade dessa iniciativa, aliás a segunda do Estado catarinense, o primeiro ‘Banco de Olhos” já funciona em Joinville, é a de permitir o aproveitamento de córneas doadas voluntariamente e que possam da mesma maneira virem a ser doadas a pacientes carentes desta matéria;”  “não vai se falar em comercialização de córneas de forma alguma” advertiu Meller: “esta iniciativa precisamente visa recolher, aceitar doações para posteriormente doá-las a quem tiver necessidade, o nosso ponto de vista”. Por ora o BOC conta apenas com relação de pacientes carentes, cerca de 50 nomes. Esse número disse o presidente do BOC ‘já passa a servir de meta para que venhamos a obter tão logo possível a quantidade de córneas suficientes para o devido transplante’.

Meller garantiu que a intenção da diretoria do BOC é a de “estender a sua utilidade a toda a Região carbonífera e se for possível até o extremo sul do Estado. Esta é inclusive o nosso ponto de partida.” “Mas, a partir do momento em que nosso estatuto assim como a entidade estejam já regularizados haveremos de requerer a sua utilidade pública no âmbito municipal, estadual e federal, onde poderemos conseguir recursos que assegurem o total funcionamento do BOC” (...)

A diretoria do BOC é composta por Desidério Meller - presidente, Otto Luiz Farias - vice e gerente do BESC, Henrique Packter - diretor médico, Anilton Antonelli- vice-diretor médico, Carlos Augusto Borba - secretário, Orlando Nicoladelli - vice-secretário, Aires Dal Pont - tesoureiro, Pedro Milanez - vice-tesoureiro. A assessoria jurídica da entidade está com Benedito Narciso da Rocha. Paralelamente, está se constituindo um Conselho Técnico a ser composto pelos demais oftalmologistas da região”.

Desdidério Meller é de 22.4.1919. Casado com Laura Neves Meller foram pais de Leatrice, Roberto e Beatriz.  Já fora proprietário de Loja de calçados associado a Antenor Longo e Mário Carneiro.  Com Balthazar Gomes criou a Agência Ford em Criciúma. Depois, ocupou por longos anos atividades securitárias, fiscal de tributos estaduais. Aposentado em 1970 era Maçon. Foi fundador da loja Presidente Roosevelt, e do Rotary. Faleceu em 8.11.1997.

BENEDITO NARCISO DA ROCHA – Nascido em União, Piauí em 28.04.1919, era casado com Amélia Alygia Tonon e pai de Eduardo, Paulo Henrique e Maria das Graças.  Advogado e professor, fixou residência em Criciúma,1958. Na área jurídica prestou assistência a entidades públicas e privadas em Parnaíba (PI), Carlópolis, Imbituva e São José dos Pinhais (PR) e Criciúma. Professor e diretor em Recife, na FUCRI foi Diretor Administrativo.  Fundador das CNEC (Escolas da Comunidade), presidente da APAE, sócio e diretor do Círculo Operário Criciumense, membro do Rotary e da Loja Maçônica Presidente Roosevelt e da Associação Ecológica Mina Verde. Cidadão Honorário de Criciúma (29.7.1972). Faleceu em 09.03.1994.  (CONT)

Por Henrique Packter 04/07/2022 - 08:22 Atualizado em 04/07/2022 - 08:25

Correio do Povo de 19.10.1980

“Tabus impedem doação de olhos. (Angela Rahde)

Existem 600 deficientes visuais cadastrados no Banco de Olhos esperando por doação de córneas.  (...) A faixa etária no Banco de Olhos esperando por doação de córneas vai dos 20 aos 40 anos. Muitos estão sem visão há bem mais de 20 anos. E, apenas se receberem córneas poderão passar a enxergar. No entanto, todos sabem que a espera é longa. São muitos os tabus que ainda envolvem as doações, desse modo, não é de estranhar o fato de que houve somente 20 transplantes de córnea em 1979, no Banco de Olhos. (...) de um total de 11 mil doadores cadastrados no Banco de Olhos 5 mil são provenientes de campanha.   Córneas poderão passar a enxergar. (...) a faixa etária dos doadores é dos 20 aos 40 anos em sua maioria. Logo, a doação (...) só ocorrerá dentro de 30 anos em média.”

Criciúma, 23.10.1981, O ESTADO 17.10.1981, CORREIO DO SUDOESTE 15.10.1981

Um grupo de médicos oftalmologistas e outras pessoas interessadas estão se mobilizando no sentido de criar o Banco de Olhos de Criciúma.  Os Bancos de Olhos proporcionam a restauração da visão através de transplante de córnea em doentes portadores de patologias que diminuem a transparência da córnea. Em nossa cidade os transplantes de córnea são realizados há mais de 10 anos. A exemplo de outros locais a imprensa falada, escrita e televisada de Criciúma tem emprestado grande apoio e incentivo a essa iniciativa”.

JORNAL DE SANTA CATARINA  17.10.1981

MÉDICOS DE CRICIÚMA FORMAM BANCO DE OLHOS

 Um grupo de oftalmologistas em Criciúma está se articulando para a formação de um banco de olhos na cidade, visando a prover a comunidade médica de prévios consentimentos para facilitar a doação de  córneas aos pacientes interessados.

-“A  nossa finalidade maior é fazer com que tenhamos uma ordem organizada de doadores e pacientes que necessitem dos transplantes de córnea. Nosso fim ao organizar um banco de olhos não é o lucro, mas tão somente possibilitar que os diversos interessados possam estar prontos para receberem bem como os doadores sejam de antemão conhecidos. (Henrique Packter, oftalmologista e diretor clínico do Hospital São José de Criciúma).

Com um número aproximado de 50 pessoas necessitando de transplante de córnea na cidade, “já que os outros interessados não temos meio de incentivar a espera por morarem longe”. Dr. Henrique considera que muitos outros órgãos entrariam na ordem de solicitação de enxerto.  Atualmente ficamos à espera de que um falecimento ocorra e de que os familiares estejam dispostos a autorizar a doação de córneas para então providenciarmos o transplante.  E, nesse caso, damos prioridade às pessoas que têm maior urgência desse transplante”,  é o que informa o diretor do Hospital São José.

DIFICULDADES

Segundo os dados levantados pelo pessoal interessado na formação deste banco de olhos a grande maioria das pessoas que se dispõe a doar seus olhos  caso venham a falecer  está numa faixa etária de 20 a 40 anos e, “evidentemente se formos ficar à espera desses doadores (...). Mas, acontece que, tendo um banco de olhos a campanha que pretendemos fazer  irá também incentivar também aos mais velhos para que se inscrevam na lista de doadores”.

(...) Em SP uma córnea está custando cerca de 18 mil (aluguel de sala, telefone, telefonista-datilógrafa-recepcionista, energia, água, refrigerador, ar-condicionado, documentos, material de expediente,  seguro, biomicroscópio, enfermeira etc.). “A nossa intenção não é fazer algo elitizado já que muitos dos necessitados não possuem recursos para comprar córneas, declara Dr. Henrique , mostrando que se as empresas criciumenses cooperarem para tal atividade benéfica para a cidade, “teremos um custo igual a zero permitindo que qualquer um possa ter esse transplante”.  (...) um banco localizado no centro (...) quem sabe at&eacu te; usando o slogan “esse banco apoia o banco de olhos”.

Com o objetivo de iniciar as atividades voltadas para a realização do banco de olhos alguns leigos estão tomando a iniciativa de providenciar os estatutos  que “serão iguais ao banco de olhos de Joinville”. E, se usam leigos para organizarem tal banco “é porque queremos que todos os oftalmologistas tenham acesso a essa entidade”, informa Dr. Henrique. No próximo dia 23 de outubro de 1981, estarão com os estatutos na Câmara Municipal e com a ata de fundação para  contarem com o apoio dos  vereadores e da comunidade”.

(Continua)

Por Henrique Packter 27/06/2022 - 08:05 Atualizado em 27/06/2022 - 08:07

ARTIGO Nº 2 DE UMA SÉRIE DE 5

Faz algum tempo que recebi toda a documentação relativa à implantação de BANCO DE OLHOS em Criciúma e realização da cirurgia de TRANSPLANTE DE CÓRNEA entre nós. Até 14 de maio de 1972, todos os casos que demandavam esse procedimento em SC eram encaminhados ao Hospital Banco de Olhos em POA ou para Curitiba. Como vivo dizendo, sou formado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Graduei-me em 1959.

Naquela cidade realizei meu serviço militar no CPOR da Praça Oswaldo Cruz.  Do antigo prédio castrense restaram as paredes externas, o interior comporta hoje moderno Shopping em bairro da elite curitibana. Foi meu colega de turma OSWALDO DORETO CAMPANARI, natural de Marília (SP), falecido aos 91 anos de idade em 26.7.2021, vítima da insidiosa COVID-19. Formado, regressou à cidade natal, onde se destacou como médico-oftalmologista e como político. Foi deputado constituinte em 1988, sendo reeleito por várias legislaturas.

Na época em que estudávamos Medicina, não se dispunha na Santa Casa de Curitiba de trépanos para a cirurgia de TransPORRTAL4OITOplante de Córnea, salvo por alguns, pertencentes ao professor da Cadeira de Oftalmologia. E ele, não manifestava o menor interesse em emprestar as preciosidades a alunos interessados na cirurgia, o nosso caso.

Também não dispúnhamos de microscópios para cirurgia ocular, ausência suprida com a utilização de uma lupa de quatro aumentos. 

DORETO era muito inventivo ou criativo como se diz hoje. Despretensiosamente, certo dia, no Serviço de Oftalmologia da Santa Casa, indagou, como quem não quer nada:

- Escuta, no CPOR, aqui em Curitiba, vocês tiveram aulas de tiro?

- Sim, foi minha resposta. Isso, apesar de saber-se que médicos das Forças Armadas não andam armados e tampouco atiram em alguém. O Serviço, não ARMA de SAÚDE, criada em todo o Brasil naquele ano de 1955, destinava-se aos acadêmicos do curso de Medicina, Odontologia e Farmácia. Era     curso de um ano apenas e formava TERCEIRO-SARGENTOS. Posteriormente, quando estávamos no 6º ano médico, após estágio no Hospital Militar de Curitiba, recebíamos o título de Oficial da Reserva.

DORETO e eu estivemos no quartel arrebanhando cápsulas não deflagradas daqueles mosquetões da guerra de 14-18. Levávamos o material coletado a um ourives-joalheiro, amigo de DORETO que afilava os bordos de cada bala, deixando seu bordo cortante impecável. Com esses trépanos realizei meus primeiros transplantes.

AS CINCO FASES DO TRANSPLANTE DE CÓRNEA (TC) E DO BOC EM CRICIÚMA

1-     FASE DO VOLUNTARIADO QUE INCLUIU JUIZ DE DIREITO DA COMARCA

2-     FASE DE (OUTRO GRUPO) DIRIGIR O BOC MUITO TEMPORARIAMENTE

3-     RETIRA-SE SEGUNDO GRUPO ALEGANDO TER ZERADO SUA FILA DE CANDIDATOS A TC

4-     DIREÇÃO DO BOC RETORNA AO SEU CRIADOR

5-     BOC INSTALA-SE NO HOSPITAL MATERNO-INFANTIL SC LONGE DO CENTRO

A MORTE E A MORTE DE EGON ARMANDO KRUEGER

Desde 1956 Krueger era Diretor da Clínica Oftalmológica na FMUFPR. Nascido em Curitiba (1918), formou-se na Medicina do Paraná em 1943. Especializou-se no Penido Burnier, livre-docente em 1951 (Simulação em Oftalmologia), catedrático em 1967 por disposição legal, aposentou-se em 1976.  Parece que nosso professor, EGON KRUEGER, veio a falecer em Curitiba mesmo, e – pasmem – por falta de leito na UTI!

Isso ocorreu e acho que ainda hoje pode ocorrer, como aconteceu também em Criciúma no governo militar de GARRASTAZU MÉDICI. Refiro-me à falta de leitos na UTI por ocasião de visitas ilustres em certas cidades. Quando foi inaugurado o asfalto da BR 101, o presidente MÉDICI esteve em Criciúma onde foi homenageado com um banquete no Criciúma Clube. Era prefeito da cidade, NELSON ALEXANDRINO, que cumpriu mandato de 1970-1973. Em 1971, ano em que ocorreu o concorrido ágape, eu me encontrava no RJ, HOSPITAL DO IPASE, durante todo o ano. Na mesma época, SÉRGIO HERTEL ALICE fazia residência em PATOLOGIA CLÍNICA no mesmo hospital, preparando-se para vir a Criciúma, a conselho de LUIZ FERNANDO DA FONSECA GYRÃO. Ambos trabalhavam no Serviço Médico da Companhia Siderúrgica Nacional, em Siderópolis.

Devo a SÉRGIO ALICE, criador do LABORATÓRIO ALICE, a doação das córneas que transplantei no Hospital do IPASE, RJ.

ONDE FIZ MINHA FORMAÇÃO PARA TRANSPLANTAR CÓRNEAS

É de dever ressaltar que devo tudo ao HOSPITAL DO IPASE, RJ, início dos anos 70. Era diretor do nosocômio JORGE DODSWORTH MARTINS e chefe do Serviço de Oftalmologia ORLANDO REBELLO, chefe de clínica RUY COSTA FERNANDES, chefe do ambulatório ADERBAL DE ALBUQQUERQYE ALVES. Eram outras importantes figuras do SERVIÇO DE OFTALMOLOGIA  BOTELHO Fº, EDITH FINKEL, FERNANDO MOREIRA, HUMBERTO SAMPAIO. Neste local estagiei de Novembro de 1970 a novembro de 1971.

CRICIÚMA, 1971

Como já ia relatando, o presidente MEDICI esteve em nossa cidade em 1971, ocasião em que foi homenageado com banquete pelo então prefeito NELSON ALEXANDRINO, do PMDB/PSD. A RÁDIO ELDORADO pertencia ao Grupo DIOMÍCIO FREITAS, da ARENA. Nos quadros de jornalistas atuando naquela emissora, estava o falecido radialista CLÉSIO BÚRIGO. Informado do encerramento do ágape e com o discurso presidencial terminado, a comitiva presidencial ruma para o Aeroporto Leoberto Leal. Longa era a lista de seus componentes somando-se segurança, comunicação, logística, convidados especiais, políticos, além de outros, menos votados. Microfones à frente, CLÉSIO irradiava do estúdio os acontecimentos, com um ouvido na festa e o outro no aeroporto. Percebendo que a aeronave partia, CLÉSIO agradeceu a visita presidencial, fez referências à simpatia de nosso dirigente maior e ... acabou detido, porque a segurança destacada para cobrir a festividade, interpretou sua manifestação como possível aviso, um sinal a oposicionistas para algum ato terrorista. A rádio teve seu cristal desligada e suas transmissões encerradas! Temporariamente, é claro. Logo, logo, DIOMÍCIO FREITAS tudo esclareceria, através das ações incansáveis e inigualáveis de ADHEMAR PALADINI GHISI.

UTI RESERVADA  

Pois, nas proximidades da data da visita presidencial, o 28º Grupo de Artilharia de Costa do Exército Brasileiro, sediado em Criciúma, enviou ofício ao Hospital São José, o mais antigo da cidade, pedindo que a UTI hospitalar fosse mantida sem a presença ou baixa de qualquer paciente/pessoa no dia aprazado para a comemoração, ficando aquele setor hospitalar vazio e na expectativa de atender qualquer elemento da comitiva, desde que surgisse oportunidade. 

Isto também ocorreu em Curitiba por ocasião de visita de presidente da República e teria sido responsável pela morte de EGON ARMANDO KRUEGER, professor universitário em Curitiba. Difícil saber até que ponto isto é   verdade, mas ainda se comenta nos círculos médicos mais antigos da cidade essa versão, em estilo de lamúria.

Não é de hoje que se diz haver 4 tipos de verdade:

A verdade jornalística

A verdade da opinião pública                         

A verdade da justiça

A verdade que realmente ocorreu

Próxima semana continua A HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES DE CÓRNEA EM CRICIÚMA) 7.216

Por Henrique Packter 21/06/2022 - 09:18 Atualizado em 21/06/2022 - 09:22

ARTIGO Nº 1 DE UMA SÉRIE DE 5

"O que pode ser afirmado sem provas pode ser refutado sem prova" (Nietzsche).

Texto baseado no acervo que pertenceu em vida a ELIANE ANDRADE, operosa Diretora do BOC, falecida em 26.04.2021.

Personagem maiúscula na batalha pela consolidação do Banco de Olhos de Criciúma (BOC), Eliana Andrade, morreu aos 69 anos de idade. Era professora aposentada da rede estadual e deixou um grande legado no voluntariado. Além de seu extraordinário trabalho no BOC, deixou sua marca de competência na Assistência Social do município, quando era prefeito de Criciúma Paulo Meller, no final da década de 90.

O presidente da Cruz Vermelha e vice-presidente do BOC, Almir Fernandes, destaca a importância que Eliana teve durante os 17 anos de atuação no órgão, que, durante o período atingiu cerca de mil transplantes.

“Ela levantou várias bandeiras fazendo intervenções na Câmara de Vereadores e SC Transplante em Florianópolis. Foram muitas idas e vindas, reivindicando um Banco de Olhos para Criciúma. Não era um banco oficial, mas de voluntários. Em 17 anos realizou trabalho de orientação, conscientização, convencimento e captação de córneas chegando em mil transplantes. Isso é um marco a nível de Brasil. Ela esteve à frente neste processo e deixa um legado muito importante”, explica.

Primeiro transplante de córnea em Criciúma e em SC

14 de maio de 1972, domingo, Centro Cirúrgico do Hospital São José de Criciúma/SC, às 8 horas da manhã. Presentes os médicos Henrique Packter (oftalmologista e chefe da equipe), Boris Pakter (oftalmologista, 1º auxiliar, agora residindo e trabalhando em POA), David Groisman Raskin (oftalmologista, 2º auxiliar, hoje trabalhando em Campinas/SP), Sérgio Luiz Bortoluzzi (anestesista, atualmente aposentado), teve início a primeira cirurgia de Transplante de Córnea de que se tem notícia em terras catarinenses. Foi paciente, jovem de 16 anos, cego de um dos olhos por trauma produzindo Leucoma Corneal. A cirurgia obteve êxito e este paciente logo veio a trabalhar na Cerâmica Criciúma (CECRISA) admitido que foi, aprovado no exame oftalmológico por médico de outro grupo   da cidade.

Repercussão

17 de maio de 1972, notícia no JORNAL DE SANTA CATARINA, de Blumenau:” Criciúma e Blumenau -17- Transplante de Córnea, o primeiro em SC foi realizado em Criciúma, no Hospital São José pelo médico Henrique Packter. Não foi revelado o nome do paciente. Sabe-se apenas que é um jovem de 16 anos cuja recuperação pós-operatória está se processando satisfatoriamente graças aos cuidados que lhe são dispensados pelos médicos e equipe de enfermeiros”. O mesmo jornal abria manchetes para noticiar a 6 de setembro de 1972: “Criciúma – novo transplante de córnea no São José: um sucesso” e “Mais um transplante de córnea”.

O deputado federal por SC, ADHEMAR PALADINI GHISI, em 25.05.1972, dava conta de que “exemplar do Diário do Congresso Nacional de 20 de maio de 1972, transcreve os anais da  34ª Sessão Conjunta do dia 19.05.1972, na qual fiz registrar, em pronunciamento, o importante acontecimento médico-científico ocorrido em Criciúma, consubstanciado no primeiro transplante de córnea já realizado em SC” (Foto com colegas).

De maio de 1972 a maio de 2001 o mesmo cirurgião realizou, no mesmo hospital, 395 cirurgias de transplante de córnea. Também incentivou e deu suporte técnico para que colegas nas cidades de Içara, Araranguá, Laguna e Tubarão, começassem a realizar tais cirurgias em suas cidades.

Noutra ocasião, em grave acidente com laceração da córnea e importante perda do conteúdo ocular, utilizamos córnea de galinha para manter o que restara do olho enquanto se aguardava pela córnea humana, não disponível no momento.

ADHEMAR PALADINI GHISI nasceu em 24.12.1930 na Vila de Braço do Norte (hoje Braço do Norte/SC), distrito de Tubarão/SC. Filho de Atílio Ghisi e Hermínia Paladini Ghisi, casou com Sônia Balsini Ghisi e tiveram os filhos: Andréia, Felipe e Carmen. Sônia era filha do Dr. José Balsini, médico em Criciúma.

O curso primário foi no Grupo Escolar Jerônimo Coelho, da Laguna/SC, Escola Estadual da Guarda e Grupo Escolar Hercílio Luz, ambos de Tubarão. Os estudos secundários (1º Grau) no Ginásio Lagunense, Laguna (1946), e o 2º Grau, no Colégio Catarinense, Florianópolis/SC (1948), e Diocesano, em Lages/SC, (1947 e 1949).

Em 1951/1952 é Secretário do Centro Acadêmico Maurício Cardoso, PUC/RS, onde estudava. Formou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (1954), Faculdade de Direito da PUC/RS. Professor do ensino secundário (atual ensino médio e técnico) na Escola Técnica do Comércio de Tubarão/SC.

Grande líder político da região sul catarinense, destacou-se na defesa dos interesses dos mineiros de Criciúma e dos pescadores de Laguna e Jaguaruna. Pela União Democrática Nacional (UDN), elegeu-se Deputado à Assembleia Legislativa de SC por dois mandatos: 1959-1963 e 1963-1967. Vice-Líder e Líder da bancada de seu partido no Parlamento, Vice-Presidente da Comissão de Justiça e Legislação e Presidente da Comissão de Educação e Cultura.

Na Câmara dos Deputados, foi eleito Deputado para cinco mandatos, os três primeiros pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e os dois últimos pelo Partido Democrático Social (PDS).

Foi Vice-Líder do PDS (1983 a 1984), renunciou ao mandato em 1985, para assumir o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União.

Tomou posse como Ministro no Tribunal de Contas da União (TCU), em 6.03.1985, sendo Vice-Presidente de 1988 a 1989, e Presidente de 1990 a 1991. Permaneceu no TCU até 2000.

Criou (1979) a Fundação Brasileira Nereu Ramos, para Pesquisas e Estudos Políticos, com sede em Florianópolis/SC. Um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, sediado no RJ e da Fundação Milton Campos, para pesquisas de Estudos Políticos, com sede em Brasília/DF.

Nas eleições de 2002, foi Suplente de Paulo Bornhausen, candidato a Senador por SC pelo Partido da Frente Liberal (PFL). Receberam 892.480 votos, não sendo eleitos.

Faleceu em 2.07.2008, em Lisboa, Portugal, por complicações de pneumonia, contraída em viagem de férias pela Europa. Seu corpo foi velado no Salão Nobre do TCU e sepultado no Cemitério Campo da Esperança, setor dos pioneiros, em Brasília, onde residia desde 1985.

Termina o primeiro de 5 artigos sobre o Banco de Olhos de Criciúma

Por Henrique Packter 02/06/2022 - 20:45 Atualizado em 02/06/2022 - 20:52

Tendo Juca Balsini falecido em 13.02.1966, aos 61 anos de idade, quantos ainda lembrarão de fatos que vivenciou ou protagonizou? É singular que tendo iniciado essas mal traçadas, com certa frequência recebo colaborações de estórias suas.

Em se tratando de alimentação, exemplificando, algo hoje cultuado em todas as latitudes, considero Balsini um precursor nos cuidados com nutrição. O Hospital São José daqueles tempos, cujo acesso automobilístico se fazia através do mesmo local ainda hoje utilizado, exibia lá em cima da escadaria a recepção e o consultório do Dr. Balsini, lado a lado. De tempos em tempos, ele vinha até o topo da escadaria para fumar um Hollywood sem filtro e espiar o movimento das salas de espera dos três consultórios da planície: da radiologia de Raymundo Jorge Peres (o mais próximo), de Ginecologia e Obstetrícia de Olavo de Assis Sartori e o meu, de Oftalmo-otorrino-laringo-broncoesofagologia. De repente, não mais que de repente, Balsini desaparecia.

Mais um pouco de tempo e lá vinha ele, descendo escadas ou pilotando elevador para o térreo hospitalar, seu porte esguio entrando esbaforido pelos fundos de meu consultório. Excitado ou nervoso, gaguejava. Corria então em meu encalço, quase sempre pela mesma razão: vira algum velhinho empenado, empertigado, entrar em minha sala de espera. Seu longo e ossudo indicador direito espetava minhas costelas enquanto comandava:

- Tu-tu me per-pergunta o que ele co-come!

Balsini pensava que havia uma razão alimentar específica para a boa saúde. Quando faleceu em 1966, o Ortopedista João Aparecido Kantovitz e o cirurgião Portiuncula Caesar Augustus Gorini estavam, já fazia um ano, na cidade e, meu irmão, o Otorrinolaringobroncoesofagologista, Boris Pakter (Packter, sem o C), estava chegando à capital brasileira do carvão. O cirurgião Luiz Fernando da Fonseca Gyrão chegaria em 1967, o psiqiatra Joacy Casagrande Paulo estava se graduando médico em 1967, pela Faculdade Católica de Medicina de Porto  Alegre e logo estaria entre nós. 

Essa história de registros cartoriais de nomes próprios apresentarem às vezes diversidade inacreditável, sempre me faz lembrar história ocorrida em Santa Maria no RS, minha terra natal. No primeiro dia de aula, o professor Irmão Vitrício fazia a chamada para conhecer os alunos. Falou AARÃO e olhou por cima das lentes dos grossos óculos sem aro para ver quem era o dono de tão esdrúxulo nome. Apareceu um garoto com cara de enfezado, que se levantou desajeitado e com certa lentidão.

Vitrício, sério, mirando-o com pouca ou nenhuma simpatia perguntou:

- Tu és gago?

- Eu, não. Meu pai é gago e o escrivão era um filho da mãe!

Por Henrique Packter 16/05/2022 - 15:04 Atualizado em 16/05/2022 - 15:05

De Tubarão chegavam notícias alarmantes sobre o bombardeio de Imbituba. Um desembarque foi tentado por parte da força de vanguarda, 20 homens sob o comando do Cel. Fernandes que repeliu, pondo em fuga, o destroier e o navio que ele comboiava. Os bombardeios da costa, porém, prosseguiam e, com o objetivo de desloca-los, marchou pela praia sobre o Morro dos Cavalos, deixando força de ocupação. Em Laguna ficaram 40 homens, em Imbituba 100 homens, em Garopaba um pequeno destacamento e assim por diante. A vanguarda ainda sob o comando do Cel. Fernandes entrou em contato com o inimigo em Massiambú onde houve breve tiroteio com guardas adversários que perderam um homem. Isso foi o bastante para que abandonassem as trincheiras.

Assim, foi possível marchar tranquilamente até Palhoça. Esta operação, porém, foi mais lenta do que se desejava devido à falta de recursos com que se lutava para a defesa do vasto litoral onde se encontram, às dezenas, pontos de desembarque que tiravam a segurança a qualquer marcha menos cautelosa. Durante toda a marcha sobre o litoral, a força revolucionária  recebeu fogo dos destroiers que tomaram posição para impedir sua barragem.

Assim como Trifino Corrêa outros ex-integrantes da Coluna Prestes também participaram do levante de outubro de trinta, entre eles: Juarez Távora, João Alberto e Siqueira Campos. A grande exceção dos líderes tenentistas foi justamente Luís Carlos Prestes que desde o início era contra o modelo de revolução proposto pela Aliança Liberal. Importante frisar que a descrição de Trifino Corrêa do Combate da Serra da Garganta, citado anteriormente, só faz alusão a uma única morte durante a trajetória de sua coluna, e ainda assim, de um legalista. Dessa forma, contraria ou mesmo ignora as mortes no combate na Serra da Garganta, descritas por Sálvio Rodrigues Brasil.

Muito provavelmente outras mortes ocorreram em ambos os fronts no trecho de Araranguá a Florianópolis. A descrição revela os atos militares que se sucederam durante outubro de trinta no litoral catarinense, mas reflete a visão do vencedor. Nesse ponto já se pode estabelecer conexão com o trabalho de Edgar De Decca, O Silêncio dos Vencidos, em que estuda a apropriação do discurso revolucionário pelo governo. Ainda define que, quem é contra o Estado - representante legítimo dos interesses nacionais - é inimigo da nação. Segundo De Decca essa era a tônica do governo pós-30.

O combate da Serra da Garganta foi um entre tantos outros que devem ter ocorrido em todo o Brasil, mas que na construção da memória foram apagados pelo vencedor, para desprover os grupos opositores de argumentos, principalmente junto às classes populares. Resolveu-se, então, propagar a ideia de revolução como uma conquista, no sentido de legitimar o poder político do vencedor.

Sobre isto, Edgar De Decca aponta:

- A revolução é apresentada como unitária e monolítica. Eis a lógica do exercício de dominação: divide a história, memorizando-a, e a historiografia, através de enfoques diversos, assume de ponta a ponta as oposições constituídas no interior desse campo simbólico. Contudo, se pode afirmar que o movimento político-militar de 1930 em quase todos os momentos se preocupou com a formação de uma imagem positiva para o conceito de revolução. Uma das principais medidas das tropas ao ocuparem uma cidade era a intervenção no jornal local, que era a mídia com maior alcance popular da época. Dessa forma os noticiários poderiam ser selecionados e censurados conforme o ideário dominante. Em Florianópolis, cujos periódicos diários eram politicamente atuantes na defesa de interesses da classe dominante, não foi diferente, só que nessa capital a revolução tardou a ser concretizada, ao passo que, os veículos estudados tardaram a sofrer a ação dos interventores.

O PATRONATO AGRÍCOLA DE ANITÁPOLIS

Em Anitápolis existia um Patronato Agrícola (1918), obra do governo Federal, espécie de colônia correcional para jovens do RJ. A primeira turma era constituída de 200 jovens entre 11 e 18 anos de idade. Também havia um hotel em Anitápolis, de José Goebert (Gato Preto), que chegou a abrigar 35 oficiais revolucionários em 1930. O telegrafista Vitorino Goebert, irmão do proprietário, foi preso e removido para a Bahia.

UM EPÍLOGO PARA FÁBIO SILVA

A família de Fábio da Silva passa a guardar luto cerrado, missa de sétimo-dia é rezada em intenção de sua alma, escultura angelical sobre o túmulo vazio é colocada no cemitério, hoje ocupado pelo Supermercado Bistek. Logo seria 2 de novembro e esperava-se grande afluência de público no ainda acanhado Cemitério Municipal de Criciúma. Maria Soares, mulher de Fábio, mais oito filhos rezam diante do túmulo do herói da batalha da Serra da Garganta quando subitamente ele ressurge. Vivo, saudável, boas cores,diz:

-Há um certo exagero nas notícias sobre minha morte. 

Por Henrique Packter 04/05/2022 - 10:03 Atualizado em 04/05/2022 - 10:06

Colonização italiana: final do século 19.

Lei 31.10.1925 e Lei 04.11.1925 de Victor Konder, leis da emancipação

Marcos Rovaris: 1º.01.1926, vereador de 1926-28

24.01.1932 HOSPITAL SÃO JOSÉ, inauguração no prédio antigo pertencente a FÁBIO  SILVA; são 90 anos. Real inauguração - 07.04.1933 - primitivo hospital, presente Dr. João Assenger, de São Joaquim.

De 24.01.1932 a setembro de 1936 no hospital improvisado. Em 1936 Elias Angeloni é prefeito de Criciúma. Com auxílio de Nereu Ramos, interventor estadual, constrói-se o HSJ.

08.11.1936 inauguração verdadeiro HSJ, onde se acha até hoje. O autor destas crônicas, oftalmologista, orgulha-se de ser MÉDICO HONORÁRIO deste hospital, onde labutou por décadas.

Valmir Lemos, coronel da PM, publicou o livro Tombados e Esquecidos no qual relata parte dos eventos da Revolução de 30 ocorridos no sul de SC. Episódio ímpar foi o encontro dos revolucionários vindos do RS (aliancistas) com o efetivo da então Força Pública do Estado de SC (legalistas), na antiga estrada Tubarão-Florianópolis, município de Anitápolis.

O que aconteceu? Logo após o início da rebelião (3.10.1930), parte das tropas de Getúlio Vargas adentrou SC, via Passo de Torres, pelo Rio Mampituba, tomando Araranguá. Por via férrea, estabeleceu-se em Tubarão comandada por Ernesto Lacombe (civil) e pelo capitão André Trifino Correa (militar). A posição estratégica de Tubarão foi consolidada sem reação, porém, o avanço para norte, em direção a Florianópolis, era dificultada pela topografia acidentada do litoral e do Morro dos Cavalos, além do perigo dos bombardeios das embarcações da Marinha de Guerra, apoiadoras do governo Washington Luís.

A estrada Tubarão-Florianópolis, aberta alguns anos antes era a solução mais razoável. Havia, entretanto, um estrangulamento próximo à cidade de Anitápolis, conhecido como Serra da Garganta, ocupado pelas tropas da Força Pública, fiéis ao governador de SC, Fulvio Aducci, aliado do poder central. Sob comando do major Camilo Diogo Duarte, os revoltosos adentraram em Anitápolis, 14.10.1930, sabedores que a empreitada seria difícil, pois o efetivo militar legalista, comandado pelo tenente Romão Mira de Araújo, escavara duas barricadas na estrada. Estavam guarnecidas com ninho de metralhadoras, além de armas pessoais mais leves. Praticamente impossível a aproximação sem baixas importantes.

Fábio Silva, saíra de Tubarão, levando para a estrada inconclusa 60 civis e 35 soldados da PM de SC, comandados pelo temível tenente MIRA e tocaiados na Serra da Garganta. 

A REVOLUÇÃO DELES

Transcrição de importante relato referente às ações militares ocorridas em outubro de 1930 em território catarinense, mais especificamente da refrega na Serra da Garganta em Anitápolis, ocorrida entre legalistas e a coluna do litoral, chefiada por Trifino Corrêa. Disse sobrevivente do embate:

“De repente, pelas 11 horas, ouvi tiros atrás de mim. Pensei que fossem oficiais experimentando nossa coragem. Fiquei no lugar. Mas, logo vi que

deslizavam pelo mato dezenas de soldados com seus lenços vermelhos. Não havia dúvida, eram os gaúchos. Sem pensar na Winchester, saltei barranco abaixo. Nesse momento, projétil atingiu-me o ombro, deixando-me o braço paralisado. Todos corremos estrada abaixo, sendo ferido Miguel Schmidt, de Teresópolis. Uns agarraram o mato e outros ocultaram-se num bueiro, onde foram presos. Detido, fui atirado contra o barranco com outros companheiros.

Mandaram que nos agachássemos num valo da estrada:

- Não levantem a cabeça, berrava o comandante do piquete, Major Camilo. Balas zuniam sobre nossas cabeças. Lá conosco, no valo estavam os traidores João e Zé Domingos:

- Ô compadre, onde que nós fomos nos metê! Logo abaixo, na outra curva havia duas metralhadoras nossas. Parece que o cabo Carneiro conseguiu virar para trás e fazer fogo contra os assaltantes. Aí teria matado ou ferido alguns deles. Mas, as metralhadoras logo calaram. A luta foi mais encarniçada no Galpão e na trincheira da primeira linha. Tiroteio de ensurdecer. Da Gargantinha as metralhadoras também abriram fogo contra nossa posição. As balas derrubavam folhas e galhos por cima de nós como nos dias de grande ventania. Penso que foi uma hora de fogo. Talvez menos.

Afinal, a corneta revolucionária tocou vitória. O tiroteio cessou. Mas lá haviam ficado 7 dos nossos. Um, foi encontrado morto mais tarde no Rio Branco, na floresta. Na lista geral foram dados como desaparecidos 14. Talvez algum a mais tenha fugido e, ferido, tenha caído enxágue em meio a mata sem fim. Do lado deles parece que morreram dois soldados e um tenente. Os que não puderam fugir foram presos. Até o chefe dos civis o tenente. Fábio Silva, de Araranguá, foi preso dentro de um pau oco em que se refugiara. O falecido Agostinho tinha sido atingido por uma rajada de metralhadora e estava agonizando. Pediu um cigarro, e um dos companheiros afastou-se um pouco e deu cabo dos seus sofrimentos. Os mortos foram enrolados em cobertores, e atirados numa vala pouco funda, seis numa vala só, cobertos com muita terra escavada do barranco. O local está a uns 4 metros da cruz da beira da estrada.

Agostinho foi enterrado no local mesmo onde morreu, a uns 20 metros da outra campa, mais abaixo, a uns cinco metros da estrada. A maioria de nós caiu prisioneiro. Logo que nos pegavam, tiravam nossa cinta, e arrancavam os botões das calças para que não pudéssemos fugir com facilidade, tendo que segurar as calças com uma das mãos. Com tiras rasgadas dos nossos cobertores do rancho amarraram os prisioneiros  dois a dois, encostando-os no barranco. Ali permaneceram até o dia seguinte, tendo aceso grande fogueira durante a noite. Nós, os feridos, fomos transportados, logo à tarde, até Rio Pinheiros, onde o exército revolucionário instalara farmácia de campo. Depois nos trancaram num quarto. Até nos trataram bem. Talvez porque eu expliquei que não fora por vontade que lá estávamos, e que fôramos enganados, dizendo que era pra cercar um bandido. Tirei do bolso um lencinho que o escrivão de Anitápolis me dera, um lencinho desses com a figura do Getúlio. Parece que se convenceram.

Dia seguinte um caminhão trouxe os demais prisioneiros. Encostaram todo mundo na parede ameaçando degolar todos. Tinham enorme facão no qual escreveram um nome: Fábio Silva. Era esse que mais procuravam, e que certamente seria morto. Mas, ninguém o denunciou. Batiam em cada um dizendo:

- Você é o Fabio Silva?

Contudo, os oficiais superiores não permitiram a morte de ninguém. Cinco dias  depois seguimos presos pra Palhoça, onde ficamos outros 5 dias amontoados dentro de uma sala, pequena para tanta gente. Então, nos soltaram.

Esse relato mostra uma versão sobre os acontecimentos do combate da Serra da Garganta, 16.10.1930, narrados por Sálvio Rodrigues Brasil, civil recrutado pelas hordas do governo para cercar supostos bandidos que passariam por aquele local. No entanto, mal sabia ele que os tais bandidos eram na verdade integrantes da coluna de Trifino Correa, que tinham a missão de ocupar o litoral catarinense. A Serra da Garganta se configurava como local estratégico já que o litoral era defendido pelos torpedeiros, que a qualquer sinal de movimento lançavam violentos disparos, portanto, a entrada das tropas através de Anitápolis os manteria fora do alcance dos torpedeiros, até a chegada a Florianópolis. (Cont.)

Por Henrique Packter 29/04/2022 - 12:45 Atualizado em 29/04/2022 - 12:50

Há personagens que parecem representar papel secundário em nossa história. Vistos mais de perto adquirem vulto maior, chamam a atenção. Tornam-se indispensáveis.  FÁBIO TOMAZ DA SILVA é um desses vultos, mas sua memória já vai se apagando das lembranças criciumenses.

OS SETE DE OUROS DA EMANCIPAÇÃO DE CRICIÚMA

Sete personagens indispensáveis para nossa emancipação, quase todos caídos no esquecimento, mas, um deles alcançando prestígio estadual como soldado e guerreiro, combatendo na revolução de 30, FÁBIO THOMAZ DA SILVA 

CORONEL PEDRO BENEDET

Nasceu na Itália na província de Treviso em 05.01.1864. Filho de Lorenzo Benedet e de Regina Sônego. Chega aos 15 anos de idade em Criciúma na primeira leva de colonos que aqui aportou. Casado com Antônia Martinello, tiveram 13 filhos, mulheres 8 deles. Agente postal, empenhou-se na criação de nosso município, presidindo o primeiro Conselho Municipal, de 1º.01.1926 a 09.01.1928. Em 1926 funda o pioneiro jornal O MINEIRO com Marcos Rovaris e Frederico Minatto. Explorou o carvão mineral como sócio cotista da Sociedade Carbonífera Próspera S.A. Viajante contumaz, do Vêneto, província do Beluno, enviou em setembro de 1927 grande sino de bronze para a Igreja Matriz São José. Faleceu com 77 anos em 08.01.1941.

FREDERICO MINATTO

Natural do Vêneto, província de Treviso, onde nasceu a 1º.12.1863. Chega ao Brasil em 1877 com 14 anos de idade. Casado com Narcisa Dandolini teve o casal 7 filhos. Foi pai de Fiovo Minatto, figura folclórica da região e também avô de Genésia Minatto, casada com o engenheiro Ayrton Egídio Brandão e primeira mulher a advogar em Criciúma.

Frederico teve loja, fábricas de banha e de cerveja. Um dos pioneiros na indústria do carvão, criou em 1917, associado ao engenheiro Manoel Pio Corrêa, Cia Carbonífera A COLÔNIA. Depois, com o aporte acionário de Marcos Rovaris e Francisco Meller, é a Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. Subdelegado e delegado da polícia, morre em Criciúma aos 92 anos (09.09.1955).

GABRIEL ARNS

Gabriel Arns, nasceu em São Martinho, 1890.  Casado com Helena Steiner tiveram 13 filhos. Pai de ZILDA ARNS e de DOM PAULO EVARISTO ARNS, Gabriel fixa residência em 1902 na Forquilhinha, então distrito de Criciúma, uma das 3 primeiras famílias a colonizar a região. Dos principais líderes para emancipação de Criciúma, em 1962 é Cidadão Honorário de Criciúma e no mesmo ano é pioneiro nº 1 do Distrito de Forquilhinha. Faleceu em 1965 em Curitiba, onde ZILDA ARNS residia.

OLIVÉRIO NUEREMBERG

Nasceu em Braço do Norte, 1899.  Pai de 8 filhos em dois casamentos (Vitória Canela e Cecília Canela). Graduado em 1930 no Curso Politécnico de Florianópolis como dentista. Sócio fundador das Carboníferas Rio Maina, Catarinense e São Marcos. Vereador em 1936, vice-presidente da nossa Câmara Municipal, faleceu em Nova Veneza, 1977.

MARCOS ROVARIS

Nasceu na província de Bérgamo, Itália, 10.05.1873 chegando ao Brasil em 1892 aos 19 anos de idade. Estabeleceu-se inicialmente no Cocal com casa comercial e fábrica de banha. Do primeiro casamento com Maria Nichele teve 9 filhos. Depois, morrendo a primeira esposa, consorciou-se com Celestina Zilli com a qual teve mais 6 filhos. Total: 15 filhos. Na rua que leva seu nome em Criciúma, teve uma serraria, oficina mecânica, descascador de arroz, moinho de cereais, locomóvel fornecedor de energia elétrica gratuita para toda a população. Iniciou a colonização do Turvo. Associado a outros foi sócio cotista pela Sociedade Carbonífera Próspera Ltda. Em 1909 era vereador em Araranguá de que Criciúma era o 6º distrito. Destacou-se na luta pela nossa emancipação político-administrativa, obtida pela Lei nº 1516, sancionada pelo governo estadual em 31.10.1925. Em 06.12.1925 é nosso primeiro Superintendente empossado em 1º.01.1926. Em 04.10.1930 é deposto pelas forças revolucionárias gaúchas e substituído por Cincinato Naspolini. Cofundador do jornal O MINEIRO, tendo como redator chefe o Prof. Adolpho Campos. Participou da comissão encarregada de erigir o Hospital São José.  Faleceu em Florianópolis aos 63 anos, em 28.12.1936.

HENRIQUE DAL SASSO

Nasceu em Veneza, na Itália, em 03.08.1881. Veio ao Brasil em 1911 estabelecendo-se na vila de Nova Veneza. Pai de 8 filhos. Comerciante e contador, participou do primeiro Conselho Municipal de Criciúma. Faleceu em 06.02. 1960 em Nova Veneza.    

FÁBIO TOMAZ DA SILVA

Nasceu em Tubarão em 11.05.1883. Casado com Maria Soares da Silva, o casal teve oito filhos. Antonio Tomaz, um dos filhos, foi duas vezes prefeito de Araranguá.  Em 1918 muda-se para Criciúma estabelecendo-se com armazém de secos e molhados na Operária Velha. Foi delegado de polícia, feitor de estradas e representante do Ministério Público na área de educação. Secretário do primeiro Conselho Municipal de Criciúma que teve Pedro Benedet como presidente, sendo composto por Gabriel Arns, Henrique Dal Sasso e Olivério Nueremberg. Este Conselho elegeu Marcos Rovaris para Superintendente (Prefeito), empossando-o em 1º.01.1906. Faleceu em Nova Veneza em 1960. 5.012

FÁBIO SILVA: FIGURA IMPOLUTA, CARÁTER  SEM JAÇA

FÁBIO era amigo pessoal do célebre Dr. OTTO FEUERSCHUTTE, segundo médico em Tubarão e três vezes prefeito da Cidade Azul. Transferindo-se para Criciúma, Fábio adquiriu pequeno prédio que foi hotel, Hospital São José e depois concentração do E.C. METROPOL, ali na Avenida Centenário, na época passagem para os trilhos da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina. O prédio ficava bem próximo ao Banco Santander.

Foi vereador de 1926 a 1928 construindo, nas horas vagas, a rodovia Florianópolis-Anitápolis. Quando eclode a REVOLUÇÃO DE 30, 6 quilômetros da estrada já se achavam concluídos.

Comerciante atilado, em 1925 participa da comitiva que vai a Florianópolis lutar pela emancipação de Criciúma, então, distrito de Araranguá. Parlamentam com o governador Antonio Pereira da Silva e Oliveira. Foram 8 dias de luta contra o Cel. João Fernandes, ex-prefeito da cidade das avenidas. Victor Konder, irmão de Adolpho Konder e próximo governador de SC, nosso grande advogado, elabora a Lei 04.11.1925, criando o município de Criciúma, instalado em 1º.01.1926, logo-logo um século. Fábio foi secretário do Conselho Municipal. (Cont.)

Por Henrique Packter 17/04/2022 - 08:30 Atualizado em 18/04/2022 - 11:50

VÉSPERA DE PÁSCOA DE 1966      

DOUTORZINHO prestou serviço militar na área de saúde da Base Aérea de Canoas no RS. Do período passado no vizinho estado poucas lembranças escritas existem. O que se sabe chegou até nós e é por nós sabido por suas bravatas, especialmente nos períodos em que este na prisão em São Bento do Sul, Curitiba e Criciúma. Helvídio de Castro Veloso Filho contou-me que estando Doutorzinho preso, é por ele chamado para dizer:

- Doutor Helvídio, pedi que viesse e agradeço pela sua vinda e pela maneira pela qual sou tratado em sua cadeia.  Aqui, ninguém me surra ou tortura, posso tomar meus banhos de sol e comer sossegado minhas refeições. Até fumar eu fumo. O senhor sabe que sempre consegui escapar das prisões em que estive trancafiado e desta vez não será diferente.

Em sinal de agradecimento pela sua acolhida, quero convida-lo para assistir à Copa do Mundo da Inglaterra de 1966 em minha companhia, com o dinheiro do Nelson Teixeira!

Esse relato, o delegado levou ao conhecimento do juiz Francisco May Filho, porque o baiano Helvídio de Castro Veloso Filho não era de dormir de touca.

E em Canoas?

Diz-se que um primeiro tenente recém-chegado de capital nordestina fora designado para atuar como bioquímico na Base Aérea de Canoas. Bota o olho em Egon Schneider e o escolhe para datilografar os laudos dos exames (poucos) que realizava. Doutorzinho trabalha de má vontade em serviço no qual não punha interesse algum. Ocorre que, certo dia, ditando o tenente                                                                                                                                        os resultados para serem datilografados, como de hábito, diz:

-  Senhora Ana Carolina Machado, Glicemia, 4 cruzes (++++).

- Mas, tenente, atalha Schneider, essa daí é a mulher do coronel- comandante!

O tenente titubeia por um instante, enquanto Schneider observa-o disfarçadamente, com expressão divertida. Aguardava, sabendo que o número de cruzes expressava maior ou menor gravidade das doenças. Uma cruz após Glicemia não era tão grave assim, mas com 3 ou 4, a história era outra. Schneider passa a tirar uma poeira imaginária da imaculada mesa da máquina de escrever, auxiliando o procedimento com providenciais sopros. Parecia extremamente ocupado nessa tarefa de transcendental importância.

-  Quer dizer que é a mulher...  começa o tenente, para em seguida proclamar:

- Então bota uma cruz só!      

Era, também, véspera de Páscoa.

Por Henrique Packter 15/04/2022 - 07:35

Essa é antiga, mas vale a pena ler de novo...

- Papai, o que é Páscoa?

- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!

- Igual ao Natal?

- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

- Ressurreição?

- É, ressurreição. Marta vem cá!

- Sim?

- Explica prá esse garoto o que é ressurreição prá eu poder ler o meu jornal.

- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu ?

- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

- O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas ! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos
domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã ! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus ?

- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

- O Espírito Santo também é Deus?

- É sim.

- E Minas Gerais?

- Sacrilégio!!!

- É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

- Coelho bota ovo?

- Chega ! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

- Era... era melhor, sim... ou então urubu.

- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?

- Que dia ele morreu?

- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

- Que dia e que mês?

- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.

- Um dia depois!

- Não três dias depois.

- Então morreu na Quarta-feira.

- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!

- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

- É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no sábado?

- Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!

- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

- Ui...

- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

- Cristo. Jesus Cristo.

- Só?

- Que eu saiba sim, por quê?

- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Ai coitada!

- Coitada de quem?

- Da sua professora de catecismo!

Luiz Fernando Veríssimo

Por Henrique Packter 14/04/2022 - 13:05 Atualizado em 14/04/2022 - 13:09

VÉSPERA DE PÁSCOA DE 1966      

DOUTORZINHO prestou serviço militar na área de saúde da Base Aérea de Canoas no RS. Do período passado no vizinho estado poucas lembranças escritas existem. O que se sabe chegou até nós e é por nós sabido por suas bravatas, especialmente nos períodos em que esteve na prisão em São Bento do Sul, Curitiba e Criciúma. Helvídio de Castro Veloso Filho contou-me que estando Doutorzinho preso, é por ele chamado:

- Doutor Helvídio, pedi que viesse e agradeço pela sua vinda e pela maneira pela qual sou tratado em sua cadeia.  Aqui, ninguém me surra ou tortura, posso tomar meus banhos de sol e comer sossegado minhas refeições. Até fumar eu fumo. O senhor sabe que sempre consegui escapar das prisões em que estive trancafiado e desta vez não será diferente.

Em sinal de agradecimento pela sua acolhida, quero convida-lo para assistir à Copa do Mundo da Inglaterra de 1966 em minha companhia, com o dinheiro do Nelson Teixeira!

Esse relato, o delegado levou ao conhecimento do juiz Francisco May Filho, porque o baiano Helvídio de Castro Veloso Filho não era de dormir de touca.

E em Canoas?

Diz-se que um primeiro tenente recém-chegado de capital nordestina fora designado para atuar como bioquímico na Base Aérea de Canoas. Bota o olho em Egon Schneider e o escolhe para datilografar os laudos dos exames (poucos) que realizava. Doutorzinho trabalha de má vontade em serviço no qual não punha interesse algum. Ocorre que, certo dia, ditando o tenente os resultados para serem datilografados, como de hábito, diz:

-  Senhora Ana Carolina Machado, Glicemia, 4 cruzes (++++).

- Mas, tenente, atalha Schneider, essa daí é a mulher do coronel- comandante!

O tenente titubeia por um instante, enquanto Schneider observa-o disfarçadamente, com expressão divertida. Aguardava, sabendo que o número de cruzes expressava maior ou menor gravidade das doenças. Uma cruz após Glicemia não era tão grave assim, mas com 3 ou 4, a história era outra. Schneider passa a tirar uma poeira imaginária da imaculada mesa da máquina de escrever, auxiliando o procedimento com providenciais sopros. Parecia extremamente ocupado nessa tarefa de transcendental importância.

-  Quer dizer que é a mulher...  começa o tenente, para em seguida proclamar:

- Então bota uma cruz só!     

Era, também, véspera de Páscoa.

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