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DEIXE AQUI SEU PALPITE PARA O JOGO DO CRICIÚMA!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Aderbal Machado 26/10/2024 - 07:51 Atualizado em 26/10/2024 - 07:53

Papai, o Senhor Doutor Manoel Telésforo Machado, exerceu a advocacia por quase 60 anos, no sul de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Era provisionado ou não formado. Sua inscrição na OAB-SC, lembro bem, era número 8. No entanto, advogados, juízes e promotores de Justiça nutriam por ele admiração, pois seus conhecimentos iam muito além dos bancos acadêmicos. E até o consultavam ante dúvidas, pois sua imensa biblioteca jurídica tinha exemplares e coleções inéditas. Estudioso, o Doutor Telésforo falava alemão, italiano, francês ("A Retirada da Laguna", do Visconde de Taunay, em francês, ele o leu várias vezes), conhecia o latim como poucos e, claro, era mestre acabado e reconhecido na língua portuguesa. Castiço de fio a pavio. Se horrorizava com erros de escritas e de fala. E corrigia na hora. No entanto, não o fazia em público e mantinha relação de amizade com muitas pessoas humildes, portanto nem tanto letradas, e com elas conversava, relevando seus linguajares simples e até simplórios. Seguia a trilha, apenas. Tinha essa noção rica do seu lugar e do lugar dos outros.

Foi um pai enérgico, no entanto, jamais bateu num filho. No máximo levantava a voz um pouquinho e lá se ia a gente. Enérgico e vitalmente preocupado com nossa segurança, saúde e felicidade. Nos deu liberdade plena. A ponto de, quando os filhos, todos à minha exceção (ele faleceu quando eu tinha 15 anos), queriam liberdade para fazer e ser o que quisessem, ele concedeu. Com um detalhe: cada um por si. E nenhum deles ficou sob sua guarda direta além dos 18 anos. Todos saíram para levar pancadas da vida e se fazer - e levaram muitas. Só Icleia, a única filha mulher, saiu quando completou 18 anos por casamento. 

Poderia falar mais sobre o Doutor Telésforo e sua personalidade cativante e misteriosa até para nós, filhos. Levaria tempo demais. 

Porém, este registro não é apenas para isto, mas para marcar este 24 de outubro. Foi o dia de sua partida. Ele se foi neste dia, em 1959, às 7 horas da manhã, num quarto do Hospital Bom Pastor, no Araranguá, aos 81 anos, praticamente a minha idade atual. Em 1980, mamãe também faleceu, num 1º de novembro, num quarto exatamente à frente daquele. Um detalhe guardado por mim até hoje. Seus liames estavam também ali. Por isso ambos estão sepultados numa mesma tumba.

As lições dele são indeléveis. Espero ter herdado algumas e as aprendido como deveria.

Dos seus cuidados conosco, guardo um cartão que escreveu, endereçado ao então Inspetor Escolar Otávio Munir Bacha, agradecendo por sua atenção para comigo. Ano de 1957, meus 13 anos e estudante do Grupo Escolar Castro Alves, do Araranguá (atenção à caligrafia):

Por Aderbal Machado 06/07/2024 - 11:06 Atualizado em 06/07/2024 - 11:08

Numa entrevista na Rádio Câmara de Balneário Camboriú, sem imaginar, retornei ao passado em Criciúma. Falei com duas personagens de estudos afro-brasileiros da UDESC, núcleo de Balneário Camboriú: as professoras Daniele Lima Chaves Lopes e Maria Helena Tomaz. 

Após a entrevista e eu citar o exemplo da convivência e contribuição africana para o progresso de Criciúma, onde permaneci por mais de 20 anos, a entrevistada Maria Helena Tomaz aguardou o final do programa e revelou ser de Criciúma e, surpresa: é sobrinha da saudosa professora Clotildes Martins Lalau (irmã de sua mãe) e, por afinidade, de Vilson Lalau, também professor e tenor do Coral da cidade. Casal que tive a honra de ter como amigo, ambos falecidos.

Clotildes, inclusive, foi professora de Dona Sonia, no Rio Maina. Vejam quanta coisa ligada num só instante feliz. Foi uma alegria imensa, risadas de lembrança e o registro do momento, aqui estampado. As coisas, felizmente, nos trazem emoções muito alegres e gostosas. Adorei.

Por Aderbal Machado 02/03/2024 - 10:28 Atualizado em 03/03/2024 - 20:34

O confronto diário com as realidades criam choques e surpresas. Com vividos quase 80 anos, a impressão de ainda não ter visto tudo se revigora a cada momento. Encontro por aqui pessoas as quais conheci ao longo dos anos passados. Até um ex-soldado do Exército cujo serviço se deu no mesmo quartel, o 14º Batalhão de Caçadores de Florianópolis, nos idos de 1963-1964. E a cada encontro, desfilam diante dos meus olhos episódios saudosos. No Exército, na flor dos meus 19 anos, integrei as mobilizações do movimento militar de 1964, correndo o estado sobre carroçarias de caminhões basculantes do Estado, chamados “tombadeiras”, convenientemente forrados com colchões de palha pra gente se confortar um bocadinho. E assim estivemos guarnecendo ou cumprindo missões em Laguna, Imbituba, Criciúma, Tubarão e na região Serrana. Nada de mais extraordinário houve entre nós ou conosco, mas prevaleceu a vivência das carências de locais para descansar, por exemplo. A alimentação convencional do Exército deu lugar a ofertas espontâneas da população, através de restaurantes locais e mesmo famílias. Assim fortalecemos laços com a comunidade local, cujo respeito por nosso trabalho sempre se mostrou evidente e forte.
Muitas filosofias podem ser tiradas daí. A mais forte é a capacidade de resistência até inimaginada por nós mesmos. O jeito de se adaptar a situações complicadas, muitas vezes, até com ares de graça, pois a nós nos parecia uma diversão, por mais contraditório que pareça.
Outro fator era a convicção do poder sentido, quando se saía pelas ruas reverenciados por todos. Dava uma sensação de segurança o fato de se andar paramentado com armamento, cintos de guarnição e a pose cívica. 
O Exército foi uma escola e tanto, com reflexos até hoje, 60 anos depois. Por isso, jamais alguém engraxou meus sapatos, por exemplo. Nunca me barbeio em barbearias. Minha roupa, por uma quase gentileza, minha esposa Sonia passa a ferro. Mas se for preciso, eu o faço sem dificuldade ou queixa. Porque no Exército isso era normal. A barba era diária e não barbear-se rendia até punição. Roupa desabotoada também. Coturnos sujos, nem pensar. 
O principal reflexo do Exército, contudo, foi a disciplina. Nos compromissos, nas atividades profissionais, nos horários e nos tempos das coisas (isto também se reforçou com a atividade de rádio e televisão).
Afinal, fui um soldado “caxias” (de alta disciplina e cumpridor dos regulamentos), com nenhuma punição durante a incorporação e até uma Menção Honrosa na baixa do serviço. 
Saí cabo apto a promoção a terceiro sargento, se convocado após sair (durante o interregno de cinco anos). 
Companhia, sentido! Descansar!

Por Aderbal Machado 13/01/2024 - 06:39 Atualizado em 14/01/2024 - 22:11

Fico a olhar, espantado, para as surpresas vividas agora mesmo na Internet. 

Depois de longa existência, de repente vi explodir, num mês apenas, os acessos de minha fanpage (www.facebook.com/jornalistaaderbalmachado) , em função de duas inocentes e corriqueiras observações sobre Balneário Camboriú: uma foto do imenso congestionamento da madrugada do dia 1º de janeiro, pós foguetório do réveillon na orla da Praia Central – considerado o mais famoso e bonito do Brasil neste ano – e uma foto muito antiga da cidade, num ângulo aéreo sentido sul/norte, década de 40 – ainda tudo mato, lagoas e rios onde hoje está a selva de pedras.

Lá, na primeira hora, já 20 mil de alcance. Ao final do dia 2, chegou a 100.000, e foi crescendo em níveis assustadores (no bom sentido) e eu sem entender nada até agora. Feliz, mas sem entender. A foto antiga gerou um alcance de mais de 500 mil e a do congestionamento, mais de 600 mil. Uma loucura, para meus padrões, um mandurico do Araranguá e um ex-serviçal do carvão e da cerâmica da Criciúma dos bons tempos. 

Isso provoca a imaginação e agora vivo a planejar como tratar isso. Sem planejamento não dá. Os acessos, comentários e compartilhamentos são do país inteiro, do Acre até Maranhão, do Rio Grande do Sul até Espírito Santo. 

No meio disso, as mais variadas opiniões. Até xingamentos. Maioria elogios. A sensação de exposição é agradável por um lado e preocupante por outro, pois delega responsabilidades enormes daqui pra frente. Como a de tratar as postagens como altíssima responsabilidade, evitando descambar para agudezas críticas, fugir do egocentrismo, travar os pontos de vista ideológicos (os piores) e as ilações eventualmente políticas (sempre tentam).

Agora mesmo, fiquei imensamente satisfeito com um colega radialista de Campo Grande, afirmando me seguir por gostar das manifestações sobre Balneário Camboriú, cidade na qual resolvi, há 27 anos consecutivos e belos, encostar meu esqueleto provecto.

Escrevo isso sem qualquer intenção de vangloriar. Longe disso. Até pela simples razão de existir quem, em meu nível, tenha infinitamente mais acessos. A jactância não cabe, portanto. Apenas estou eufórico, pois a mim se inscreve como uma salutar novidade: a de estar sendo visto e lido por tanta gente, dentre muitos que me gostam e não me gostam – aos primeiros, minhas saudações e encômios; aos segundos, vão catar coquinho.

Por Aderbal Machado 06/01/2024 - 07:25

Há 146 anos, num 5 de janeiro, em São José (SC), nascia Manoel Telésforo Machado, meu pai. Sua missão se cumpriu com louvores. Ele se foi numa manhã de 24 de outubro de 1959, aos 81 anos. O doutor Telésforo fez história no Araranguá, tendo sido seu primeiro advogado e seu primeiro professor.

Meu avô, pai do doutor Telésforo, o coronel Bernardino Manoel Machado, foi o primeiro prefeito de Palhoça e deputado constituinte de SC no final do século 19.

Temos no sangue muito de política - direta ou indiretamente. Por isso o gosto pela temática nos trabalhos profissionais.

O doutor Telésforo, ilustre aniversariante do dia, nos ensinou muito não nos ensinando nada: ele apenas nos estimulava a apanhar muito pra aprender por conta própria. Direcionou-nos aos livros, como fontes de formação essencial. Não nos impunha, mas nos orientava. A qualquer pergunta sobre literatura ou termos mais estranhos para nós, mandava consultar dicionários, obras jurídicas ou romances famosos (um deles, de minha lembrança, era "A Retirada da Laguna", do Visconde de Taunay). Era fã de dois personagens políticos: Juan Domingo Perón e Charles De Gaulle.

O poliglota doutor Telésforo dominava francês, italiano, alemão e espanhol. E foi mestre emérito em português. 

Ainda hoje, 65 depois de ter se ido, sinto-o aqui, bem ao lado. Me mandando ler livros.

Um feliz aniversário pega bem. É o que lhe desejo, como em todos os anos.

Por Aderbal Machado 18/11/2023 - 08:00 Atualizado em 19/11/2023 - 18:27

A morte de Colombo Machado Salles me atingiu, pois com ele trabalhei em 1971, na condição de seu repórter, dentro do Departamento de Comunicação do Palácio do Governo. Eu o acompanhei por todo o estado, integrando a equipe de viagem, às vezes comandadas pelo fotógrafo Waldemar Anacleto, outras vezes pelo mano Aryovaldo, também assessor de Colombo e seu amigo pessoal desde a Laguna, quando Aryovaldo dirigia a Rádio Difusora de Pompílio Pereira Bento e Colombo chefiava o Porto da cidade.

A amizade durou por toda a vida comum vivida por ambos. Dava gosto ver a consideração de um pelo outro. Colombo era dessas pessoas comprometidas integralmente com suas amizades e uma memória fantástica. Lagunense, filho de Calistrato, emérito difusor das tradições da sua cidade. No exercício do mandato de governador, indicado pelos militares – época da eleição indireta. Técnico de altíssimo gabarito, especializado em águas, levou uma surpresa ao ver seu nome anunciado como futuro governador de SC. Ele mesmo confessou isso em várias entrevistas. A indicação foi de um grande amigo seu, na época fortíssimo elemento do governo central: Mário David Andreazza.

Pois nos tempos de nossa convivência tive oportunidade de conhecer Colombo em alguns aspectos: nunca deixava coisas pra dizer depois, jamais falseava as realidades em quaisquer situações, conhecia meticulosamente as realidades do Estado – e aperfeiçoou isso quando, indicado ao governo, cuidou de elaborar um plano – o Projeto Catarinense de Desenvolvimento, depois Plano Catarinense de Desenvolvimento. Propositalmente, um livro enorme. Perguntado por prefeitos a razão de um livro daquele tamanho contendo seu plano de governo, dizia: “É pra não ser enfiado em nenhuma gaveta”.

Na enchente de 1974, correu todo o estado, levando alento, recursos e ajuda direta aos municípios. Esteve em Criciúma também, no centro de atendimento, localizado no Ginásio Colombo Machado Salles, do Criciúma. Ali, no tumulto e no auge das desgraças daquelas enchentes, já fora da assessoria do seu governo e trabalhando na Rádio Eldorado como repórter, abordei-o sobre as medidas previstas. Ele, de sopetão: “Não quero fazer propaganda das desgraças alheias, vamos tratar disso sem alardes”. Depois, com humildade, me pediu desculpas, arrependido, e se colocou a disposição para ser entrevistado. Tinha disso, o Colombo. Foi um dos governadores mais eficazes, porque essencialmente técnico no exercício do mandato. Sem discriminar eventuais adversários, distribuía seus serviços a quem dele necessitasse. Porque, dizia, era o Estado, não ele. Faleceu com a marca do dever plenamente cumprido. Santa Catarina lhe deve bastante.

Por Aderbal Machado 07/10/2023 - 08:00 Atualizado em 07/10/2023 - 09:31

Relembro alguns colegas lá dos tempos d’antanho – meu tempo de primícias – quando o esforço maior consistia em falar mais difícil, pra mostrar, em tese, inteligência, conhecimento, vocabulário rico. Na verdade, o hábito era redigir com um dicionário ao lado, buscando sinônimos para termos corriqueiros e, assim, “enfeitar” a escrita ou a narração.

Assim, médico virava “esculápio”, hospital era “nosocômio”, advogado era “rábula” ou “causídico”, tempo antigo era “priscas eras”, todo esforço maior era “hercúleo”, jogo encerrado era jogo com” cifras definitivas do marcador”, a prefeitura era “paço” (ainda usam hoje muito), algo mais notório era “conspícuo”, jornal semanário era “hebdomadário”, coqueluxe era “tosse comprida”, vermífugo era “remédio pras bichas” e o cara não muito urbanizado era “mandurico” (muito típica do Araranguá, meu torrão). 

Há mais. Desafio à criatividade os meus seis leitores. Enfileirem outros e brinquem com a casualidade do momento.

Pois vejam a evolução. Amestrado profissionalmente por César, Aryovaldo e Agilmar, os jornalistas pioneiros da família, introduzi no meu estilo a realidade incontrastável: escrever bem é escrever simples, com objetividade, sem meneios e escapismos. E sem arrogâncias vernaculares. Enfim, sem contorcionismos. Ou sem “floreios”.

Porque, em verdade vos digo, escrever bem não é seguir regras conceituais de uma redação técnica. Escrever bem é fazer-se entender com clareza. De preferência, com atração de conteúdo. Enfim, bater na moleira. Leu, entendeu. E, tanto quanto possível, gostou.

Hoje a temática é esta. Estou divagando porque, na essência desses dias, com chuva vertendo por todas as cumeeiras e escorrendo por todas as coxilhas (minha veia gauchesca pretensiosa gritando por aqui), a visão de muitas terras é de susto e tristeza. 

Valha-nos o Grande Arquiteto do Universo no amparo aos necessitados.

Por Aderbal Machado 16/09/2023 - 07:00

Uma semana inteirinha, trabalhando e imaginando a temática desta crônica. Sim, nem imaginem a sucessão de tertúlias e sofreguidão mental, tentando encontrar um novo texto. Porque divido as coisas: redigir é ciência, mas escrever é arte. Depende da distribuição dos termos num papel ou num computador cheio de vicissitudes e carências, como o meu.

Redigir, basta conhecer técnicas de começo, meio e fim e as grafias corretas. Conheci pessoas, em Criciúma e tantos outros lugares por onde coloquei meu jeito de ser e fazer, cujos conhecimentos nem era tão profundos e especiais, mas expunham com maravilhosa beleza seus pensamentos. Enfim, escrever é ser agradável à leitura. O resto é o resto. Disso tenho medo e todo escrevedor profissional deveria ter: ser mal digerido em seus escritos.

Mas vamos lá, depois desta peroração indevida, talvez.

São tantas as ocasiões de citação de Fernando Pessoa, na sua frase lapidar: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Colocam-na em qualquer lugar, perdida às vezes num cipoal de doidices (ah, mas o que seria do mundo sem os loucos...).

Todavia, a frase está num contexto maravilhoso: o seu poema Mar Português. E o trago aqui nem tanto para reafirmar o dito, e sim para deliciar com seu sabor indelével e contexto até histórico dos tempos do desbravar dos mares. Leiam e interpretem:

MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? TUDO VALE A PENA
SE A ALMA NÃO É PEQUENA.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

As poesias, bom dizer, não são feitas para serem entendidas, lá no fundo, mas sentidas. Bem no fundo, nos recônditos da alma. Sinta aí.

Por Aderbal Machado 12/08/2023 - 10:07 Atualizado em 12/08/2023 - 10:09

Dia dos Pais. Para todos, filhos diletos ou não, fica a mensagem de valorar a cada dia mais seus genitores. Assim é. Assim fique à eternidade no exemplo de meu pai Telésforo.

Pois neste 13 de agosto, relembro Telésforo. Austero, forte, estigma de seriedade, monumento  de alforria pessoal, dileto amigo de tantos e muitos, intelectual convicto de muitos linguajares – poliglota de escol: alemão, francês, espanhol, italiano. Lia à constância quase diária “A Retirada da Laguna”, do Visconde de Taunay, em francês. Lia toneladas de alfarrábios jurídicos, traduzidos ao português por sua pena fina e aguçada. 

Escrevinhando suas petições prenhes de citações latinas e entremeadas de terminologias pouco entendidas (ao ponto de, numa delas - me contaram lá atrás, guri eu ainda -, o digno magistrado de plantão chamá-lo e indagar-lhe qual significado e objetivo daqueles sinônimos, antônimos, verbos e referenciais linguísticos do juridiquês, do latino e do português) por muitos naqueles tempos simplórios e muito saudosos.

No Dia dos Pais minha memória recua à década de 50, quando tinha eu um entendimento parco da vida, nascido em 1944. Telésforo se foi em 24 de outubro de 1959. Até ali, contudo, me encheu de visões fantásticas de saber. Autoditada, advogado provisionado (inscrição número 8 da OAB SC), nos induzia à leitura simples, sem interferências. Matriculou-nos na escola, sem controlar nada. Deixava correr. Quando perguntado, mandava consultar livros, estivesse ele ou não no conhecimento do fato.

Por isso crescemos todos ávidos por literatura, saboreando autores diversos e especificamente cada qual seguindo um rumo: César, Aryovaldo, Agilmar, Icleia, Aimberê e eu. Nesta ordem cronológica e não necessariamente rigorosa em se tratando de direções tomadas. À parte o fato de quatro seguirem o jornalismo como atividade principal: César, Aryovaldo, Agilmar e eu. Aimberê enredou-se pela atividade bancária (Banco do Brasil, 25 anos de trabalho) e acabou sendo o único a concluir curso superior (Direito), depois de “passado na idade”. Tinha avidez por estudos de sociologia, história e política. Aryovaldo e César tinham estilos ferinos e diferentes: um mais poético, outro mais conciso.

Ambos espetaculares. Agilmar mais popularesco. Também lanceiro do bem e da vida. Icleia decidiu-se por casar aos 18 anos, mas conquistou o magistério de corte e costura, professora da Escola Profissional Feminina Kirana Lacerda, do Araranguá até o aposento. Uma mestre das agulhas, dos panos e da moda.

Ah, Telésforo fez isso tudo acontecer. Sim. Não sem a assessoria vital de Dona Amarfilina. Ela quem forjava a personalidade espiritual de todos. Ambos nos fizeram livres para sermos  quem e como quiséssemos. Por isso tantas discrepâncias de visão de vida em todos, sem perder os liames entre um e outro, no entanto. Éramos e somos díspares e unos a um só tempo. Por isso, creio ver, claro e limpo, Telésforo se regozijando ainda agora, sobraçando uma estrela cadente lá em riba. E dizendo, remontando aos nossos erros: “Eu avisei”. E sorrindo, esgarçando nossos acertos e conquistas: “Eu ensinei”. E é tudo real e indefectível.

Olha, Telésforo, te digo (ou digo-te, vais me corrigir, sabiamente), guarda aí um lugar ao teu lado. Ajeita a mão pra colocar de novo no meu ombro. 

O recado tá dado, Telésforo. E me guie até lá, neste mundo de céus e infernos, dando-me força e sapiência para contornar tudo e seguir em frente.

Por Aderbal Machado 05/08/2023 - 09:43 Atualizado em 05/08/2023 - 10:06

Pois hoje, de  novo, é sábado.
E a cada dia passado, fica a dúvida: até quando? A velha liça entre o futuro e o passado. É mais ou é menos? Mais um dia ou menos um dia? O dilema existencial dá uma friagem. Em todo caso, vamos dar preferência hegemônica ao hoje. A vida é agora, afinal das contas. Ao menos quero e preciso acreditar muito nisso. Precisamos, na verdade.
A cada semana, a cada  mês, a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada ano, vamos costurando essas dúvidas e colocando  no cérebro e no lombo o peso do tic-tac da existência. 

Mas bem, depois dessa filosofada barata, insípida e inodora, sigamos. Adelante e arriba!

Pensava aqui nas relações muito doidas, nalgumas vezes platônicas - pelo espaço geográfico a nos separar por tanto tempo (tempo demais) – com os manos falecidos. 

O César tinha comigo uma amizade e uma fraternidade multiplicada: irmãos de sangue, ele um quase pai (por ser o mais velho e eu o mais novo ou o “raspa do tacho”, como dizia ele, ou o caçula), um conselheiro emérito, um professor, um exemplo. Visitas ao César eram sempre modelos de gentilezas: ele me esperava à porta do elevador do seu prédio, lá embaixo e me conduzia até o apartamento, inobstante conhecesse eu o caminho. À saída, encerrada a visita por vezes longa e por vezes fortuita, ele abria a porta do apartamento, ia até a porta do elevador, dava um abraço e dizia a emocionante frase: “Menino, até a próxima”. Isso depois de uma derradeira conversa.

O Aryovaldo, em 1961, me levou para Criciúma, na flor dos meus 17 anos. Queria iniciar-me nas controvérsias políticas, em jornalismo e em rádio. Tinha uma certa fixação de seguimento da dinastia da família – quatro jornalistas depois,  mas até ali três: ele, César e Agilmar.
Lá, ele me deixou sonhar com residir em sua casa, cuja família estava bem constituída. Ledo engano. Me colocou numa pensão e mandou me virar para pagar a sobrevivência. Fiquei meio puteado com aquilo. Depois – bem depois – percebi sua intenção: fazer-me merecedor pela luta da vida, aguçando os sentidos dessa luta no dia a dia. Lição válida até hoje. Aryovaldo tinha ares diplomáticos. Porém, exsudava sentimentos diferentes do César: antipatizava rapidamente com alguém, com o mesmo ímpeto com que simpatizava. Rompia relações com igual força com que as formava. 

O Aimberê, cuja convivência mais próxima tive o privilégio de usufruir, tinha a noção do cuidador. Tinha-me, durante algum tempo, como o maninho mais novo a ser cuidado e protegido. Dávamo-nos muito bem. Com diferenças abissais de ideologia e visão de vida. Em todos os momentos vividos, à distância ou na intimidade das fofocas pessoais, jamais nos engalfinhamos. Isso foi realidade também com o César e o Aryovaldo. Com o Aryovaldo até houve momentos de mais tensão. Afinal arrefecidos pela natureza do sangue herdado de Telésforo e Amarfilina. 

Faço essas elucubrações por méritos e saudades. Dói bastante sentir o “nunca mais” em relação a eles. Nunca mais é tempo em demasia. 

Neste momento, deixo uma funda homenagem aos ainda vigentes, Icleia e Agilmar. Devo-lhes, igualmente, o respeito do tempo. 

O caçula “raspa do tacho” falou e disse.

Por Aderbal Machado 15/07/2023 - 10:55 Atualizado em 15/07/2023 - 10:57

“Eram dez horas da noite, e eu estava reunido com dois homens num quarto do “Castelinho”, o chalé que o embaixador Batista Luzardo, um dos heróis da Revolução de 30, mandara construir em sua fazenda de São Pedro, estrategicamente situada no triângulo em que o Brasil faz fronteira com a Argentina e o Uruguai. Sentado a um canto, eu lia em voz alta o texto de uma entrevista com Getúlio Vargas que deveria ser publicada dois dias depois. Perto de  mim, também sentado, João Goulart mantinha estendida sobre uma pequena mesa sua perna esquerda, afetada há tempos por uma lesão que prejudicaria para sempre seus movimentos. O terceiro homem no quarto era o próprio Getúlio Dornelles Vargas. Ele acabara de eleger-se presidente da República.
As eleições haviam sido realizadas três dias antes, e Getúlio, lançado pelo PTB, obtivera uma vitória esmagadora. Terminada a apuração, ele alcançaria quase 48% dos votos, um resultado impressionante. Naquele 6 de outubro, Getúlio já tinha 800 mil votos a mais que a soma dos totais obtidos pelo brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e por Cristiano Machado, do PSD, seus dois adversários diretos. Aos 67 anos, o velho ex-ditador, que governou o país entre 1930 e 1945, estava de volta ao poder”.

A narrativa é a parte inicial, a abertura do livro “Minha razão de viver”, de Samuel Wainer, um dos ícones, ou lenda, do jornalismo político do velho Brasil, junto com Assis Chateaubriand.

Por aí se espelham coisas: o movimento político de então se baseava em forças políticas significativas e incontestáveis, no caso Getúlio e a força do jornalismo, em especial, o praticado no Rio de Janeiro e São Paulo. Tudo girava em torno disso, na hora das grandes decisões. 

Creio que os acadêmicos de jornalismo tenham lido o livro. Se não leram, leiam. Assim como leiam “Chatô, o rei do Brasil”, de Fernando Morais. 

Isto lhes dará uma dimensão das realidades a que chegamos. Negativa ou positivamente. Caberá a cada um imaginar ou concluir.

Sobre a obra, disse Augusto Nunes (que ainda está por aí):

“Num país em que quase todos os autores de livros de memórias parecem condenados a confirmar o “Poema em linha reta” de Fernando Pessoa, tentando congelar a imagem de quem foi só príncipe na vida, Samuel Wainer descreve grandes e pequenas derrotas, pecados maiores ou menores, com uma sinceridade desconcertante”.

Isso mostra que devemos ter o nosso próprio botão de autoexame acionado sempre.

Por Aderbal Machado 01/07/2023 - 10:12 Atualizado em 01/07/2023 - 10:15

Manhã de 1 de julho. No ano da Graça do Senhor de 1961, completavam nove dias de minha chegada a Criciúma para uma jornada de 21 anos ininterruptos de cidadania presencial. Lá aportei em 22 de junho, levado pelo mano Aryovaldo e assumi cargo na prefeitura, como auxiliar de almoxarife. Tinha 17 anos, mas idade naqueles bons tempos não era impeditivo. Era o governo recém-iniciado de Nery Rosa e Aryovaldo atuava na chefia do gabinete dele.

A missão funcional alterou um pouco meus hábitos de ociosidade no Araranguá: levantar muito cedo e chegar no serviço às sete horas, quando, no puxadinho de madeira atrás da antiga prefeitura, depois Fucri e Casa da Cultura. Ali ficavam várias salas de departamentos. A última abrigava o Almoxarifado. Salinha pequena, atulhada de badulaques e uma mesa rústica à guisa de escrivaninha. Nem máquina de escrever havia. Tudo no punho, na caneta. Naquela época a prefeitura tinha, se tanto, dois ou três caminhões, uma patrola  e poucos outros veículos. Uma Rural Willys, de uso do Aryovaldo, servia à fiscalização também.

Romantizo agora aquela época. Tinha certa dureza na atividade, a começar pela inexperiência e pelo inusitado da função. Todavia, a adaptação foi rápida. Dali se despachavam os trabalhadores da limpeza e das obras, maioria de recuperação de estradas, poucas delas pavimentadas – ao menos nas periferidas. A maioria dos lastros das estradas – e até de muitas ruas urbanas –  tinha como base a pirita, rejeito do carvão cujos efeitos danosos pouco se discutia, tanto no ar como no solo.

Pra garantir a vida, me hospedei no dormitório da Nini Schmitz e fazia refeições na Pensão da Vica. Os dois locais ficavam perto. O dormitório num prediozinho amarelo na esquina, perto da Jugasa. A Pensão da Vica ficava onde, depois, se construiu o pequeno edifício onde residiu o Dr. Raymundo Jorge Pérez. E quando relembro aqueles tempos, bailam na minha cabeça vetusta o cheirinho típico da fumaceira das chaminés das casas e bares produzindo o café da manhã, o fuzuê dos trabalhadores indo pras minas de bicicleta ou encarapitados em carroçarias de caminhões e os bares fervilhando de gente desde os primeiros minutos do dia.
 
O cheirinho de pastel quentinho dominava parte daquela hora, porque passava eu na frente dos botecos dali. Todos serviam pastel. Com uma novidade: pastel de carne, com carne. Parece redundância. Não é. Havia os famosos “pastéis de vento”: muita massa, necas de carne. Pois agora mesmo, neste sábado de 2023, julho, 1, isso me  vem a cabeça e olho pela janela, cá em Balneário Camboriú, cidade vicejada pelo frêmito da construção civil, pequena gigante da economia catarinense e brasileira, linda e aconchegante apesar do sufoco da vida cotidiana e, hoje, de suas tranqueiras urbanas agonizantes por vezes e benfazejas por outras, fico imaginando como teria sido se não fosse (ih, coisa da minha infância, trocadilho infame...). Poderia estar no Araranguá, sabe-se lá em qual realidade. Ou em Criciúma, quem sabe passeando de pantufa nalgum terreninho urbano ou vislumbrando as suas imensidões inimaginadas outrora, lá no frescor do 1961, julho, 1.

Eu vou, mas minha lembrança fica. Até. A paz do Senhor pros meus conterrâneos de fato, os araranguaenses, e os de adoção, os criciumenses.

Por Aderbal Machado 24/06/2023 - 09:09 Atualizado em 24/06/2023 - 09:10

Outra semana findando, já inverno, tempo bom e balançando na inconstância, sol e chuva (“casamento de viúva”), chuva e sol (“casamento de caracol”). Dependendo da região, claro. Aqui na borda norte do estado, o vento sopra de leve a favor. Solzinho simpático pairando sobre as paisagens, enfiando-se por entre a selva de pedras e beijando os cumes e as planícies. Dá vontade de poetar, inspirando-se nos versejares de Fernando Pessoa, JG de Araújo Jorge, Drummond.
Drummond disse, na sua mais famosa obra:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

JG de Araújo Jorge arrasou assim:

Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

(Do livro "Meu Céu Interior" – 1934)

Fernando Pessoa, no poema de onde se extraiu a sua mensagem mais famosa:

Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Sabe aquele sábado de inspiração quase zero e pouca vontade de elaborar textos? É hoje. Mas acho, e tenho convicção de terem vocês também achado isso: valeu a pena não ler minhas chatices corriqueiras e ler sobre gente tão exímia da literatura poética mundial e brasileira.

Apelo à vossa bondade para compreender-me.

Por Aderbal Machado 17/06/2023 - 11:33 Atualizado em 17/06/2023 - 11:34

Meu avô é nome de rua em Palhoça, onde foi veredor e primeiro prefeito, tendo sido, ainda, deputado estadual. Meu pai é nome de rua em Araranguá e Criciúma. Ambos foram personagens históricos vitais nessas cidades, por seu trabalho e vivência, na atividade profissional e política. Papai foi primeiro advogado e primeiro professor no Araranguá, por exemplo, no começo do século 20 e foi, ainda no Araranguá, incisivo líder político do Partido Liberal. Em Criciúma, exerceu advocacia ali e nas comarcas vizinhas. 

Pesquisa incompleta dos ramos familiares: 

A árvore genealógica da família até onde sei e consegui pesquisar: 

Meu pai

Manoel Telésforo Machado
NASCIMENTO 5 JAN 1878 • Palhoça (SC)
FALECIMENTO 24 OUT 1959 • Araranguá (SC)

Minha mãe
Amarfilina Martins Machado
(Nascida em 15 de abril de 1905)
Morte - 01 de novembro de 1980 • Araranguá 
Meu avô
Bernardino Manoel Machado (Nascido em 1850) – Falecido em 31 de março de 1918 • em Araranguá. Dia e mês de nascimento não sei. 

Minha avó
Constança Maria da Conceição (Nascida em 1843) – Falecida em 2 de dezembro de 1880 • Em Florianópolis. Dia e mês de nascimento não sei. 

Os irmãos (filhos de Amarfilina e de Telésforo) 
Adherbal Telésforo Machado Nascido em 4 de janeiro de 1927. Falecido em 16 de agosto de 1943 • Em Araranguá.

Attahualpa César Machado – Nascido em 20 de junho de 1929 • Araranguá. Faleceu em 2009 em Florianópolis.
Aryovaldo Huáscar Machado – Nascido em 17 de agosto de 1931 • Araranguá (SC). Faleceu em 22 de novembro de 2012, em Florianópolis.
Agilmar Machado – Nascido em 28 de julho de 1934 • Araranguá
Icléia Machado Souza – Nascida em 8 set 1936 • Araranguá
Aimberê Araken Machado – Nascido em 28 set 1939 • Araranguá – Faleceu em 03 de dezembro de 2022, em Florianópolis. 
Aderbal Machado (eu) – Nascido em 10 de maio de 1944 • Araranguá, na velha e inesquecível Boa Vistinha. 
Irmãs por parte de pai (de um primeiro casamento de Telésforo) 

Constança Flor de Liz Machado Pacheco – Nascida em 1898 – Falecida em 1982
Licínia Adalbertina Machado da Silva – Não tenho outros dados 
A falta de dados de alguns antepassados resulta da pesquisa: ela é feita baseada na família Machado. É o caso dos parentes de minha mãe, donde só tenho o nome da avó. Por extensão familiar, somos ligados a famílias Silva e Pacheco, do Araranguá, decorrente da união das filhas do primeiro casamento de papai, Licínia e Constança.

Um detalhe histórico vital: 

Meu avô e sua forte carreira política e social em Palhoça e São José 

Bernardino Manoel Machado, primeiro prefeito (Superintendente), de Palhoça, foi comerciante de secos e molhados e, como militar, integrante da Guarda Nacional. Ocupou o posto de capitão por Carta Patente assinada por Deodoro da Fonseca em 18 de fevereiro de 1891. 

Chegou ao posto de Tenente-Coronel, no quartel mestre da Guarda Nacional da Comarca de São José. 

Sem auferir lucros, Bernardino manteve paralelo ao seu comércio uma modesta botica, oferecendo à população local e limítrofe seus conhecidos préstimos de manipulador homeopático. Era muito conhecido por suas garrafadas, popular beberagem doméstica preparada e vendida como remédio, cuja composição, invariavelmente, é à base de ervas e raízes.  

Na política, conquistou importantes funções públicas, principalmente as de Vice-Intendente do Município de São José e primeiro Superintendente Municipal de Palhoça, cuja emancipação, desligando-se de São José, contou com sua firme liderança, prestigiado que foi pelo bom número de políticos locais. Foi, ainda, deputado no Congresso Representativo do Estado, em 1894, pelo Partido Republicano Catarinense. 

Bernardino Manoel Machado faleceu aos 68 anos, no dia 31 de março de 1918, em Araranguá, para onde se mudara em 1904. 

(Autoria de César do Canto Machado, bisneto de Bernardino e pesquisador. Artigo retirado dos anais históricos da Assembleia Legislativa de SC)

Em Criciúma, no belo Bairo Ana Maria, há uma rua muito bem cuidada com o nome de meu pai.
No Araranguá, uma rua com o nome de meu pai fica no Bairro Cidade Alta.
Em Palhoça, uma rua com o nome de meu avô fica na Ponta de Baixo.

Por Aderbal Machado 10/06/2023 - 10:46 Atualizado em 10/06/2023 - 11:04

Depois de toda a idade suportada ano após anos, nossa mente vai evoluindo num sentido e involuindo noutro. Tipo assim (como dizem os mais jovens): acumula-se conhecimento e se locupleta de lembranças irreversíveis (explico, memórias de eventos vividos e não mais passíveis de repetição). A involução é o sofrimento danado de ver as imagens esmaecidas de nossas peripécias da juventude, ainda no vigor físico, sem possibilidade de revivê-las. Isso é atroz. Coisas até simples: dançar muito, pular carnaval, correr, jogar futebol, andar rápido, subir escadas de dois em dois degraus (oh, saudade...). 

A diferença boa da idade provecta é podermos mandar tudo às favas sem culpa, pois nada mais nos freia, exceto essa merda da iniquidade do corpo pelado, dos dentes frouxos, dos cabelos pouquíssimos (e muito brancos) e das perspectivas derradeiras de chegar até ali, não mais até lá, por absoluta fragilidade física.

Pensei até numa reciclagem. Restou-me, no entanto, apenas a visão de congelamento, pra reativar-me séculos depois. A ciência está atrasada. 

Serei mais objetivo e simples: saudade das confusões dentro das redações, dos vídeos travados obrigando-nos a improvisar no ar e ao vivo, nos entrevistados faltosos à última hora e os sem aviso (e nem desculpas pediam). 

Mais objetivo e simples ainda: saudades do futebolzinho, das incursões pela região sul com o time de futebol de salão da emissora (ou o time de futebol de campo com sete jogadores). E assim éramos convidados para jogos e festanças inesquecíveis em Urussanga, Siderópolis, Araranguá, Praia Grande, Sombrio, Orleans, só para citar algumas cidades. O pessoal de televisão, principalmente, era cortejado como artistas famosos. Sentíamos imenso prazer nisso, é claro. Ainda mais sentindo o retorno de um trabalho artesanal, um jornalismo fecundo, voltado aos interesses específicos da região sul. 

O futebol era somente o retrato dessa união conjuntural. A assinatura indelével do carinho recíproco nutrido entre os fãs e os (me permitam o abuso) “artistas”.

Por Aderbal Machado 03/06/2023 - 08:59 Atualizado em 03/06/2023 - 10:00

Agora mesmo, 2 de junho, fechei o primeiro ciclo anual de serviços na Rádio Câmara de Balneário Camboriú (@camarabc, na Internet). Um ano fugaz, rápido como o vento. Parece ter sido ontem. Fora do rádio por muitos anos, fiquei surpreso com o convite. De repente, um telefonema no meio da tarde me oferecendo a vaga. Era a chefe do RH da empresa Rockset, gestora da programação por contrato licitado pela Câmara. A surpresa teve várias razões: primeiro por ser eu e segundo por existirem tantos outros profissionais na área mais jovens. E eis a questão: a idade ficou fora da pauta desde o primeiro instante. O único questionamento não feito pela empresa. 

Confesso ter ficado em dúvida. Afinal, a tecnologia atual na atividade é utilizada enormemente e eu só sei (ou sabia) o feijão e arroz. Bem, contratado, cheguei lá e espantei com a montoeira de computadores e botões para manipular na apresentação do programa: a emissora é oficial, lincada com a Rádio Câmara de Brasília e responsável, também, por compartilhar as programações do Congresso Nacional quando exigido formalmente. As manobras pra lá e pra cá são muitas, na entrada e saída das programações. Estava longe disso e algumas dificuldades de adaptação se apresentaram. Mas o aprendizado foi até rápido. Aperta daqui, erra dali, tira do ar aqui, põe ali e cheguei a um ponto ideal. Sei manipular aquela “barriga de porca” cheia de tetas. Estou afiado.

A grande diferença: na Rádio Câmara, oficial, há distância necessária de análises e abordagens polêmicas. Ainda mais de política, por razões óbvias. A convivência com os vereadores de todas as correntes ideológicas e de pensamento, cada um com sua forma e o jeito de querer e ser, faz a gente se equilibrar entre suas preferências. As entrevistas são pautadas por eles. Porém, chegou num ponto de eu indagar a cada um, e pedir autorização, pra adentrar um bocadinho em questões políticas. Sem juízos de valor, porém com assertividade. Todos concordaram e estamos indo bem.

O principal disso é: o Deba velho de guerra, do seu berço esplêndido de inatividade e aposentadoria usufruída com modestos méritos, retornou, aos 78 anos, à falação convencional num microfone. 

A interatividade com colegas maravilhosos tem sido ótima. Gente mais nova – alguns bem novos – conduzem-me a um patamar diferente: o de aprender. A tal ponto ser a minha designação entre eles, carinhosamente (e para mim orgulhosamente) é “nosso estagiário”. Adoro. E assim vamos derrubando paradigmas. Vivamos nós. E vamos pra frente. Temos mais vida lá adiante.

Por Aderbal Machado 20/05/2023 - 09:47 Atualizado em 20/05/2023 - 09:50

Olhei pela janela e vi um sábado com céu azulado e recoberto de esparsas nuvens. Dia de descanso. Em tese. Estou, afinal, aqui, unindo sílabas e tentando dar um sentido no começo do dia ante o compromisso de preencher o blog com ideias razoavelmente aceitáveis, coisa nem sempre atingida. Enfim, é o padrão dos desavisados, como eu: nem tudo dá o resultado esperado ou desejado. E este é o risco do nosso caminhar pelas sendas da vida, pessoal e profissionalmente.

Ando sonhando coisas muito malucas: às vezes perdido na cidade, sem saber onde moro e onde trabalho; estaciono o carro e esqueço onde – e jamais encontro; circulo pelos locais e nem sei onde estou. Já me disseram pra tomar cuidado com o “alemão”. Pode ser. Estou brigando e correndo dele há tempo. Ocupando a cachola com coisas e mais coisas.

Pois, meus jovens mancebos: neste dia, de novo, tercei armas na gana de encontrar um pedaço de inspiração. Um pedaço só. Uma nesga. Uma réstia de luz. Nessas condições, recorro às lembranças do passado – nem tão fértil assim. Às experiências saboreadas – ruins e boas.

Noutro dia falei dos meus momentos do rádio e da televisão em Criciúma, começo de tudo. Falo de novo.
Ainda me cobre os olhos a visão da área circular do prédio da TV Eldorado, com seu jardim, onde nós, os colaboradores, nos reuníamos para fofocar. Falar da vida dos outros, pois os outros falam da nossa. Ali surgiam teses incríveis e absurdas sobre o comportamento humano e eram combinadas artes e sacanagens com colegas. Aquele prédio abrigou tanto disso, principalmente quando, em algumas épocas, morcegos se abrigavam nas claraboias e os capturávamos para assustar os desavisados.

Ali, também, surgiram profissionais de altíssima capacidade. Principalmente porque, naquelas condições técnicas e tecnológicas, éramos meio heróis, lidando com deficiências naturais e sobrepondo às carências o esforço e a criatividade. Tempos sem os recursos atuais: celulares, internet, computadores, CDs, DVDs e outros bichos menos votados. E então aperfeiçoamos nossas capacidades ao infinito. Graças a Deus foi assim.

Por Aderbal Machado 13/05/2023 - 08:14 Atualizado em 13/05/2023 - 09:10

Fechei meu ciclo de 79 anos no 10 de maio. Nascido numa quarta-feira, 9 da manhã, em 1944, na bucólica Boa Vistinha do Turvo, na época  Araranguá, por coincidência sendo também uma quarta-feira neste ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2023. Privilégio de poucos. Aqui chego envaidecido por tantas amizades angariadas ao longo deste correr do tempo, por tantas experiências vividas – de sucessos e fracassos, estrondosos muitos, corriqueiros outros. Eles – sucessos e fracassos – se revezaram. Porém, vejam só, cheguei aqui, numa velhice orgulhosa, mas cheia dos naturais inconvenientes. Não se queira poetizar essa coisa, não. A cabeça funcionando bem, mas o resto tá ferrado. Ficam aí bradando odes à idade provecta sem saber de suas vicissitudes desairosas. Um médico gerontologista  me perguntou: “Sente dores?”. Várias, respondi eu. Mais fácil saber onde NÂO dói. Pois ele retrucou: “Dê graças a Deus. Quando as dores sumirem, o fim chegou”. Então  me consolo ao suportá-las. A gente acostuma e convive sem maiores entreveros.

Sou da tese da Cher, ao ser perguntada por Oprah Winfrey sobre a velhice: “Acho uma merda” (está no Youtube, confiram). 

Há muitos sabores, em contraposição aos dissabores, contudo. Por exemplo, estou completando, em 2 de junho, um ano de atividades plenas na Rádio Câmara de Balneário Camboriú, contratado para “jornalisticar” em seus noticiários oficiais. Estou lá e louvo a paciência e respeito da nobre equipe de colegas. Como dizem por aí, “gente da melhor qualidade”. Melhor: é a pura verdade. Uma gama de mulheres e homens com alto tirocínio de como lidar com um velho impaciente, cheio de manias e critérios. Chefiado por gente mais nova – BEM mais nova – e carinhosamente chamado de “nosso estagiário”. E isso não me incomoda, pelo contrário, me faz sentir um guri. Com dores, com mobilidade reduzida, feio, careca, pobre, sapato apertado, morando longe, quase desdentado, mas um guri. Porque estou adquirindo conhecimentos inéditos e maravilhosos das tecnologias modernas, contidas nos computadores da programação. 

A vida é uma epopeia. Ou, como diria Chaplin: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. Ipsis litteris.

Por Aderbal Machado 06/05/2023 - 11:33 Atualizado em 06/05/2023 - 11:37

Num sábado de maio, este dia 6 começou claro, com o sol entre nuvens.


Atrasado na remessa do texto semanal, aguardo a inspiração. Às vezes chega clara. Às vezes entremeada de incertezas ou convicções pouco intensas. Às vezes nem chega e me obrigo a ir colocando letra após letra, palavra após palavra até significar alguma coisa plausível e palatável. Às vezes consigo, às vezes não. 
Pois hoje, cheio da ressaca de uma festa italiana de ontem à noite, tento alinhavar, como se dizia no meu bom tempo de Criciúma, “essas mal traçadas linhas”.
E assim vou desfilando lembranças. Do Paulo de Lima, meu dileto colega jornalista e parceiro de tantas jornadas no rádio e na televisão, com quem convivi lado a lado, ouvindo muito, falando muito, rindo bastante. Nossas histórias eram ricas. Daria vários livros.


Do Antônio Rosa, meu parceiro de banca no jornal da TV Eldorado e um dos mais completos apresentadores de programas sertanejos, seguindo um pioneirismo da Rede Bandeirandes à época.
Do Milioli Neto, rápido e sagaz nos seus comentários esportivos e até políticos, quando para isso era instigado. Do Antônio Luiz, gerente e coordenador da TV e da Rádio desde quando entrei e até eu sair. Da sempre querida Adilamar Rocha, depois dona de um sucesso inusitado como apresentadora de programa de rádio e hoje, como tantos, colocada no ostracismo forçado. Diria – um ostracismo imerecido, dolorido e tolo para quem o impôs. Do meu compadre e editor Gilberto Lima – cujas aptidões ultrapassavam o normal, porque, além de manipular o equipamento, tinha a visão objetiva da notícia nas suas variadas nuanças. Do próprio Adelor Lessa, meu repórter, personagem hoje estabelecido com o sucesso conquistado, graças à sua ousadia no trato profissional. 
Poderia ir adiante e a nominata seria quase interminável, se circulasse ante nomes do pessoal da técnica, do pessoal de estúdio, dos câmeras, do pessoal da limpeza, dos diretores – como o sempre inesquecível Evaldo Stopassoli, lembrado aqui com gratidão e muita saudade. E também, esquecidos aqui por lapso natural de memória imposta pela idade provecta (79 anos), outros colegas ao longo do tempo. 
Pois é assim. Num sábado, a inspiração vem aos borbotões e nem sempre ordenada. Noutro dia, aqui mesmo, expandirei este relicário.


Boa semana pro meu povo de Criciúma, do Araranguá e do sul como um todo.


Arriba e adelante.

Por Aderbal Machado 29/04/2023 - 17:48 Atualizado em 29/04/2023 - 17:50

Noite fechada de sábado no Araranguá, papai com ataque de dispneia. Como de hábito – toda semana acontecia – saí eu atrás de médico para atendê-lo. Normalmente o Dr. Mendoza (Edward Avancini). Naquela noite ele estava na boate do Fronteira Clube. Lá entrei e pedi para chamá-lo. Me senti um abusado. A música que ressoava no ambiente era “Ave Maria Lola”. E lá vi todos se divertindo. Mulheres e homens elegantes, de vestidos belíssimos e ternos alinhados. Mas a minha sina era do desespero e, por isso, fiquei conformado. Veio o dr. Mendoza e sugeriu procurar o Nilson da Farmácia (Nilson Nunes), que conhecia o problema de papai e estava de plantão em casa. Fui e Nilson me atendeu. Foi lá em casa, aplicou uma injeção intravenosa em papai. O alívio veio logo. Papai começou a respirar normalmente. Parecia algo milagroso. Essas noites ruins de papai ficaram para sempre gravadas em mim. E hoje, vivendo o mesmo drama da deficiência respiratória, posso sentir seu drama.

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