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Os versos que te dou nas pedras do caminho e no mar português

Por Aderbal Machado 24/06/2023 - 09:09 Atualizado em 24/06/2023 - 09:10

Outra semana findando, já inverno, tempo bom e balançando na inconstância, sol e chuva (“casamento de viúva”), chuva e sol (“casamento de caracol”). Dependendo da região, claro. Aqui na borda norte do estado, o vento sopra de leve a favor. Solzinho simpático pairando sobre as paisagens, enfiando-se por entre a selva de pedras e beijando os cumes e as planícies. Dá vontade de poetar, inspirando-se nos versejares de Fernando Pessoa, JG de Araújo Jorge, Drummond.
Drummond disse, na sua mais famosa obra:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

JG de Araújo Jorge arrasou assim:

Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

(Do livro "Meu Céu Interior" – 1934)

Fernando Pessoa, no poema de onde se extraiu a sua mensagem mais famosa:

Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Sabe aquele sábado de inspiração quase zero e pouca vontade de elaborar textos? É hoje. Mas acho, e tenho convicção de terem vocês também achado isso: valeu a pena não ler minhas chatices corriqueiras e ler sobre gente tão exímia da literatura poética mundial e brasileira.

Apelo à vossa bondade para compreender-me.

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