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Nos tempos de Getúlio, a política mostrava um raro momento de lucidez e força

Por Aderbal Machado 15/07/2023 - 10:55 Atualizado em 15/07/2023 - 10:57

“Eram dez horas da noite, e eu estava reunido com dois homens num quarto do “Castelinho”, o chalé que o embaixador Batista Luzardo, um dos heróis da Revolução de 30, mandara construir em sua fazenda de São Pedro, estrategicamente situada no triângulo em que o Brasil faz fronteira com a Argentina e o Uruguai. Sentado a um canto, eu lia em voz alta o texto de uma entrevista com Getúlio Vargas que deveria ser publicada dois dias depois. Perto de  mim, também sentado, João Goulart mantinha estendida sobre uma pequena mesa sua perna esquerda, afetada há tempos por uma lesão que prejudicaria para sempre seus movimentos. O terceiro homem no quarto era o próprio Getúlio Dornelles Vargas. Ele acabara de eleger-se presidente da República.
As eleições haviam sido realizadas três dias antes, e Getúlio, lançado pelo PTB, obtivera uma vitória esmagadora. Terminada a apuração, ele alcançaria quase 48% dos votos, um resultado impressionante. Naquele 6 de outubro, Getúlio já tinha 800 mil votos a mais que a soma dos totais obtidos pelo brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e por Cristiano Machado, do PSD, seus dois adversários diretos. Aos 67 anos, o velho ex-ditador, que governou o país entre 1930 e 1945, estava de volta ao poder”.

A narrativa é a parte inicial, a abertura do livro “Minha razão de viver”, de Samuel Wainer, um dos ícones, ou lenda, do jornalismo político do velho Brasil, junto com Assis Chateaubriand.

Por aí se espelham coisas: o movimento político de então se baseava em forças políticas significativas e incontestáveis, no caso Getúlio e a força do jornalismo, em especial, o praticado no Rio de Janeiro e São Paulo. Tudo girava em torno disso, na hora das grandes decisões. 

Creio que os acadêmicos de jornalismo tenham lido o livro. Se não leram, leiam. Assim como leiam “Chatô, o rei do Brasil”, de Fernando Morais. 

Isto lhes dará uma dimensão das realidades a que chegamos. Negativa ou positivamente. Caberá a cada um imaginar ou concluir.

Sobre a obra, disse Augusto Nunes (que ainda está por aí):

“Num país em que quase todos os autores de livros de memórias parecem condenados a confirmar o “Poema em linha reta” de Fernando Pessoa, tentando congelar a imagem de quem foi só príncipe na vida, Samuel Wainer descreve grandes e pequenas derrotas, pecados maiores ou menores, com uma sinceridade desconcertante”.

Isso mostra que devemos ter o nosso próprio botão de autoexame acionado sempre.

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