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O pai meu que me ensinou a ser eu mesmo

No Dia dos Pais, relembro o doutor Telesforo, meu pai

Por Aderbal Machado 10/08/2024 - 12:55 Atualizado em 10/08/2024 - 12:57

Jamais deixo de homenageá-lo nas datas simbólicas, como o Dia dos Pais, seu aniversário de nascimento e o dia fatídico de sua morte. Tenho as datas, circunstâncias e ocasiões indelevelmente marcadas em mim.

Foi um pai severo e disciplinador sem jamais ter dado um tapa num filho. "Ralhava" com método: apenas pausava a voz e a impunha grave o suficiente, sem gritar, ao admoestar-nos. Ou bastava aquele olhar agudo como uma flecha flamejante e pronto.

Dentre suas outras "especialidades" estava a de ensinar: em dúvidas sobre significados de palavras, por exemplo, embora soubesse, nos encaminhava para o dicionário. Entretanto, o maior ensinamento captado por todos os filhos foi a conduta no seu simbolismo mais puro. Praticava caridade sem peias e sem limites. Exigia sempre verdades, mesmo se doloridas. Até a elegância ou o bem vestir nos ensinou. Dá pra contar nos dedos de uma mão - e sobra dedo - as ocasiões em que o vi ir á rua sem paletó e gravata em temperaturas normais. Apenas nos verões ferozes não o fazia. Mesmo assim, vestindo camisa social impecável. Barba, sempre escanhoada. Sapatos tinindo de brilho - e quem os engraxava era eu mesmo. Todos os dias. 

Seus hábitos alimentares tinham o que hoje se chama dieta ideal: muita fruta, verdura e alimentos sem sal (sempre, desde que eu soube discernir), absolutamente insossos. Todos os dias, consumia cebola a rodo na alimentação e entornava um copo de água com alho esmagado dentro. E nos obrigava a fazer também. Exercia homeopatia, sem ser especialista. Ministrava seus medicamentos em nós e em quem precisasse ou solicitasse. Lembro de nomes como "veratum viridi" e a indefectível noz-moscada. 

Advogado solicitador ou não formado, no entanto era um mestre, consultado até por juízes e promotores, que recorriam à sua formidável biblioteca jurídica cujas estantes cobriam três paredes do seu enorme escritório na nossa inesquecível casa da Praça Hercílio Luz do Araranguá. E ainda guardo seu português impecável nas escritas, sua caligrafia que parecia um tipo gráfico de tão perfeita e sua profecia: "A vida nos cobra caro a ousadia de viver; só com valentia e persistência se vencerá".
Pois, após 64 anos de sua morte, sua presença é ainda marcante. Vejo-o e o sinto todos os dias aqui mesmo, me olhando severo e colocando suas mãos sobre meus ombros, em gesto de proteção.

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