Ir para o Conteúdo da página Ir para o Menu da página
Carregando Dados...
FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS INFORMAÇÕES DAS ELEIÇÕES 2024!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Aderbal Machado 25/11/2023 - 08:00

QUANDO ME AMEI...

Quando me amei de verdade, compreendi que, em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento preciso. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome: AUTOESTIMA.

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia e meu sofrimento emocional não são, senão, sinais de que estou indo contra minhas próprias verdades. Hoje sei que isso é AUTENTICIDADE.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de AMADURECIMENTO.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber porque é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa (talvez eu mesmo) não está preparada. Hoje sei que o nome disso é RESPEITO.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável: pessoas e situações, toda e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama AMOR PRÓPRIO.

Quando me amei de verdade, deixei de me preocupar por não ter tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os mega-projetos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é SIMPLICIDADE.

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter a razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a HUMILDADE.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é PLENITUDE.

Quando me amei de verdade, compreendi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas, quando eu a coloco a serviço do meu coração, é uma valiosa aliada. E isso é SABER VIVER!

Não devemos ter medo de nos questionarmos; até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.

[Charles Chaplin]

Por Aderbal Machado 18/11/2023 - 08:00 Atualizado em 19/11/2023 - 18:27

A morte de Colombo Machado Salles me atingiu, pois com ele trabalhei em 1971, na condição de seu repórter, dentro do Departamento de Comunicação do Palácio do Governo. Eu o acompanhei por todo o estado, integrando a equipe de viagem, às vezes comandadas pelo fotógrafo Waldemar Anacleto, outras vezes pelo mano Aryovaldo, também assessor de Colombo e seu amigo pessoal desde a Laguna, quando Aryovaldo dirigia a Rádio Difusora de Pompílio Pereira Bento e Colombo chefiava o Porto da cidade.

A amizade durou por toda a vida comum vivida por ambos. Dava gosto ver a consideração de um pelo outro. Colombo era dessas pessoas comprometidas integralmente com suas amizades e uma memória fantástica. Lagunense, filho de Calistrato, emérito difusor das tradições da sua cidade. No exercício do mandato de governador, indicado pelos militares – época da eleição indireta. Técnico de altíssimo gabarito, especializado em águas, levou uma surpresa ao ver seu nome anunciado como futuro governador de SC. Ele mesmo confessou isso em várias entrevistas. A indicação foi de um grande amigo seu, na época fortíssimo elemento do governo central: Mário David Andreazza.

Pois nos tempos de nossa convivência tive oportunidade de conhecer Colombo em alguns aspectos: nunca deixava coisas pra dizer depois, jamais falseava as realidades em quaisquer situações, conhecia meticulosamente as realidades do Estado – e aperfeiçoou isso quando, indicado ao governo, cuidou de elaborar um plano – o Projeto Catarinense de Desenvolvimento, depois Plano Catarinense de Desenvolvimento. Propositalmente, um livro enorme. Perguntado por prefeitos a razão de um livro daquele tamanho contendo seu plano de governo, dizia: “É pra não ser enfiado em nenhuma gaveta”.

Na enchente de 1974, correu todo o estado, levando alento, recursos e ajuda direta aos municípios. Esteve em Criciúma também, no centro de atendimento, localizado no Ginásio Colombo Machado Salles, do Criciúma. Ali, no tumulto e no auge das desgraças daquelas enchentes, já fora da assessoria do seu governo e trabalhando na Rádio Eldorado como repórter, abordei-o sobre as medidas previstas. Ele, de sopetão: “Não quero fazer propaganda das desgraças alheias, vamos tratar disso sem alardes”. Depois, com humildade, me pediu desculpas, arrependido, e se colocou a disposição para ser entrevistado. Tinha disso, o Colombo. Foi um dos governadores mais eficazes, porque essencialmente técnico no exercício do mandato. Sem discriminar eventuais adversários, distribuía seus serviços a quem dele necessitasse. Porque, dizia, era o Estado, não ele. Faleceu com a marca do dever plenamente cumprido. Santa Catarina lhe deve bastante.

Por Aderbal Machado 11/11/2023 - 09:23 Atualizado em 11/11/2023 - 09:26

Pois então. Na beira dos 80 anos de idade, vivo aquele instante dos outros tantos desta quadra etária: indisposições físicas, doloridos por todos os poros pelas manhãs, a discrepância entre o cérebro e o corpo – a gente pensa nisso e o corpo faz aquilo.

Pois neste tempo, rememoro opiniões como a de Cher, ao ser perguntada sobre a “melhor idade” por Oprah Winfrey: “Uma merda”. Verdade. 

Restam algumas satisfações. É quando um jovem alude à nossa idade. Sempre digo: “Eu passei pela tua idade. Quero ver você chegar na minha...”. Mas fica nisso.

Porém (ah, os poréns...) há algumas decisões importantes a serem adotadas: exames médicos periódicos – o de próstata tá na moda. Eu fiz agora mesmo e nem foi em honra ao “Novembro Azul”. Fiz porque minha próstata estava do tamanho de Júpiter, embora isso não tenha impedido, em nenhum momento, a micção, apenas a acelerou. Também não interrompeu ou atrapalhou a evacuação. Ah, mas há a possibilidade de um nódulo.

Consultei um médico urologista do SUS, um guri recém formado – portanto com todo o fogo nas ventas de conhecimentos sobre as técnicas e artes da sua especialidade. Não, ele não sugeriu e nem cometeu o desatino de me dedar. Afirmou, com todas as letras, ser o toque retal dispensável. Categórico: é inútil para detecção de câncer eventual. Sequer o PSA (feito também) é conclusivo para isto. Há coisa mais profunda, a começar por uma ultrassonografia prostática. Também não conclusiva. Mas eu fiz. E foi adiante. Fiquei mais sossegado. Depois de ter sido dedado tantas vezes, deixei pra trás o risco de me apaixonar pelo doutor.

Em todo caso e inevitavelmente, recomendo ao velhedo deste Estado a submeter-se a exames de próstata. Ali pode estar o câncer mais mortal para homens. Tanto quanto os cânceres de mama e uterinos nas mulheres.

Finalmente, o doutor me disse algo importante: a questão da prevenção de homens é que eles são relaxados, renitentes, relapsos. As mulheres são mais conscientes disso, a tal ponto de terem, por todo lugar, as entidades de prevenção ao câncer (Rede Feminina), frequentadas assiduamente e usadas fervorosamente por elas. Alguém viu em algum lugar uma “Rede Masculina de Prevenção ao Câncer”? 

Os homens, por natureza, são mais chegados a uma cervejinha nas mesas dos botecos, um petisco com os amigos. Trocariam isto até por uma boa consulta médica. E errariam. Consultem, seus mocorongos.

No mais, supondo desacreditarem de mim nas minhas conceituações sobre a idade, aguardem ela chegar. Ou se já chegaram, me desmintam. Fui.

Por Aderbal Machado 04/11/2023 - 07:44

Dia desses, 24 de outubro, falei sobre a morte de meu pai, ocorrida naquele dia, em 1959, em Araranguá. Hoje homenageio minha mãe, senhora dona Amarfilina, falecida num 1 de novembro de 1980, também no Araranguá. Uma coincidência: ambos faleceram num quarto do Hospital Bom Pastor. Outra coincidência: os quartos em que ambos faleceram ficavam um diante do outro. Porta-a-porta. Essas coisas são marcantes. Porque criam nossas conjecturas de fé, creia-se ou não.

Pois senhora dona Amarfilina (não, jamais a tratei ou tratamos assim, com tantas mesuras. Era apenas "mamãe", mas faço essa questão, porque reina nela um símbolo de mansuetudes e ensinamentos repassados pelos exemplos magníficos. 

Ninguém como ela venerava animais. Ninguém como ela tratava a natureza com o carinho devido. Em todos os lugares onde moramos, ficou um rastro indelével de árvores plantadas, maioria frutíferas (verdadeiras florestas); muitas hortas de todos os tipos imagináveis e imaginados eram por ela forjadas e cultivadas com capricho. Jamais adquirimos hortaliças, frutas ou verduras em mercados. Eram dali.

A casa era sempre uma granja. Cheia de aves. E os passarinhos tinham sossego absoluto no nosso terreno. Mamãe abominava fortemente e proibia com rigor quaisquer intenções da gurizada de antigamente de caçá-los. Essa regra está incutida em todos nós desde sempre, por herança de senhora dona Amarfilina: respeito e cuidado com os animais.

E hoje, relembrando-a, doi (ou não) sentir, ainda, saudades de seus toques culinários magistrais e simplórios: feijão saborosíssimo, roscas de polvilho, minestras insuperáveis e cozidos e assados como nunca se viu. Houve momentos de dificuldades lá em casa: a carne ficou vedada por tempos. E então ela inventava sucedâneos. O mais inesquecível: tomates verdes fritos com ovos. Coisa de filme, né? Entanto, era assim.

E então a saudade bate em todos os dias de passagem e das lembranças ruins de sua partida. O bom restante é a sua eterna ventura de nos permitir ser seus filhos.

A bênção, senhora dona Amarfilina, a santa de todos os santos.

Vocês podem ficar imaginando mil coisas pelas quais se perguntam a razão de meu foco em pessoas queridas da família já em outro plano, em várias colunas aqui veiculadas. Explico sem delongas: elas continuam fazendo parte ativa no meu mundo. Tenho dito.

Por Aderbal Machado 28/10/2023 - 08:00

No 24 de outubro, completaram-se 64 anos do falecimento de papai, que se foi em 1959. O eterno doutor Manoel Telésforo Machado, como todos o chamavam, respeitosamente. Menos, curiosamente, duas pessoas - segundo assisti várias vezes: o Camilão, um amigo de infância dele e notório em Araranguá e um esmoleiro também do Araranguá, com quem papai batia longos papos nas manhãs de sábado, na frente da casa, sentados em cadeiras especialmente colocadas. Porque em todos os sábados, papai trocava dinheiro e juntava nota por nota para ofertar aos esmoleiros, como caridade habitual. E eles sabiam da rotina e se enfileiravam na frente de casa. Só aquele esmoleiro, especialmente, permanecia ao fim de tudo pra conversar. E, sim, tratava papai com intimidade: era "Telésforo" e não "doutor Telésforo" ou "doutor Machado". Riam alto de piadas que jamais entendi. Chamava-se Campolino. Personagem incrível.

Assim era papai. Não com todos. Com alguns especiais. De resto mantinha o estilo formal. Ele advogou no Araranguá, em Conceição do Arroio (RS), Criciúma, Turvo e Urussanga. Espichou por lá as teias de sua atividade. Em Criciúma, representou como advogado a CBCA (Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá).

Em Araranguá, advogou para a Força e Luz, do seu amigo Padre Antônio Luiz Dias, seu criador, e o senhor Leitão, um português da gema. 

Papai tinha uma história danada de profunda com o Araranguá: foi um de seus primeiros advogados e um de seus primeiros professores. Sua inscrição na OAB-SC era número 8. Seus vínculos pessoais com personagens da história da cidade foram mantidos sempre. Ele é parte da história.

Há muita coisa a relembrar e a dizer sobre papai. E sempre repito ladainhas saudosas em todos os 24 de outubros ou 5 de janeiros, data do seu nascimento, em 1878. E o faço como coisa nova, sempre. Pois a sua imagem se renova a cada dia e a cada momento, ungidas em mim pelos exemplos que me deixou. 

As outubro me traz outra lembrança muito atual: meu casamento “de papel passado” com Dona Sonia, após 10 anos de vida em comum. Com desnecessidade formal, mas só para receber o PIS em nosso nome. Porque naquele tempo só se recebia dinheiro do PIS se morresse (estava – ainda está – fora dos planos imediatos), aposentasse (e naquele tempo ainda era distante) ou casasse. Então, rigorosamente, casamos por interesse financeiro. Foi uma salvação da lavoura pra pagar dívidas, desgraça que sempre nos perseguiu e persegue. Embora se saiba que esta é uma irmandade grande e de amplitude nacional.

E com essas duas lembranças diametralmente opostas e de diferentes significados, fico por aqui. Ademã, que cavalo não sobe escada, como dizia Ibrahim Sued.

Por Aderbal Machado 21/10/2023 - 07:40

Guardo alguns: logo depois de chegado a Criciúma (22 de junho de 1961, data lembrada com exatidão pelo seu imenso significado pra mim), algumas amizades se fizeram: Manoel Higino Maciel, Cleber Marinho, Doutor Henrique Packter, João Benedet, Taurino Pereira, José Martinho Luiz, Neri Jesuino da Rosa (prefeito eleito em 1960 pelo PTB), Romeu Lopes de Carvalho (Romeu Penicilina), Padre Mário Labarbutta, Padre Paulo Petruzellis (ambos do Bairro da Juventude), Ondino Castro Alves (o “Ondino Pinto Louco”, seu apelido), Francisca Vieira Reus, Vanilde Vieira Lopes (funcionárias, como eu, da prefeitura na época, entre 1961 e 1963), Maria Helena Frutuoso Schmitz (e Toninho, seu marido), Hélio Souza, Casimiro Schaucoski, Romeu Vanceta Drum, Hélio Zeferino, Valdir Paulo Berg (Maria Helena e Toninho, Hélio, Casimiro, Romeu Drum, Hélio e Valdir, funcionários da Carbonífera Próspera, como eu, entre 1964 e 1970), Bateria (Jovito Tiago Álvaro de Campos – gari da prefeitura e hoje nome de escola, inclusive), Burriquete (Divo de Jesus, pedinte boa praça e amigo de todos), Murilo Canto, Wilmar Peixoto, Pedro Guidi, Diomício Freitas, Altair Cascaes, Doutor Jacy Eustáchio Fretta, Luli Conti, Doutor Fernando Carneiro, Wilson Barata (Wilson Lopes Fernandes Freire Barata, nome completo), Dite Freitas, João Botelho (João Bonifácio Medeiros), Ediz Milaneze, Olávio Pavei, Moacir Jardim de Menezes, Célio Grijó, Manoel Ribeiro, Arlindo Junkes, Antônio Guglielmi Sobrinho, Fidélis Barato, Aristides Mendes (Tidinho), Nereu Guidi, Antônio Luiz, Clésio Búrigo, Milioli Neto, Sérgio Luciano (Joci Pereira, nome verdadeiro, então gerente da Rádio Eldorado). Poderia citar mais, porém devo me apertar num limite anual até 1963/1965, por aí. Depois vieram outros, no curso dos anos e até final da década e após ela (e são tantos e incontáveis). Direi depois.

Fico nesses porque as lembranças ardem ao relembrar as relações mantidas à custa de muitas tertúlias e papos descontraídos no Bar Damasco, no Café Rio, no Café São Paulo, no Café Ouro Preto, no Círculo São José, nas aglomeradíssimas noites de domingo na Praça Nereu Ramos e na Praça Etelvina Lins (sim, nem dava pra caminhar direito, tanta gente havia circulando e em “bolinhos” de conversa fiada). Posso ter esquecido algum detalhe e deixo com os meus seis leitores a tarefa de completar o relicário.

E uma lembrança é forte: circulava em casa de amigos no hoje Bairro Pio Correa. Casas de madeira, rústicas, algumas até pobres. Matagal completo e montes de pirita (resultado da  mineração), com poças de água amarelada. Tudo muito inóspito. E então surgiu o Colégio Marista. Ao redor, cresceu o local. Pouco mais adiante, construíram mansões e virou “Vila dos Engenheiros”, porque seus moradores o eram. Viram ali um futuro imobiliário interessante, depois confirmado.

E fico pasmo ante a velocidade de mudanças nesses cenários. Próprio do progressismo, diria. E o visual se alterou drasticamente. E isso ocorreu em todos os pontos da cidade. Até em sua região central. A lembrar o atual Museu Augusto Casagrande. Bem lá atrás foi a única construção de alvenaria numa vastíssima região. Lá da Rua Seis de Janeiro se visualizava fácil e majestoso.

E o cheirinho de pão novinho da Padaria Brasil nas madrugadas? Ah, até “alvoroçava as bichas”, como dizia mamãe.

Noutra crônica falarei de momentos assim lá do Araranguá e tentarei resgatar os indícios do chão do meu cordão umbilical enterrado bem fundo pros bichos não bulirem com ele.

Por Aderbal Machado 14/10/2023 - 08:00

A vida é uma sucessão de crônicas. Algumas mal escritas. Outras inspiradas. Uso aqui uma simbologia típica da profissão – o jornalismo.

Ao longo de oitenta anos, vividos sem muita criatividade (confesso) e ao sabor de bilhões de improvisos, pude enxergar os textos de momentos cruciais uns, amenos outros. Guardei muitos no fundo da memória e jamais os revelarei. A maioria está pronta para ser mostrada. Um a um, sem dó e  nem piedade. Vai depender do ânimo no futuro. 

Pois sendo parido por Dona Amarfilina numa quarta-feira de maio, dia 10, ano de 1944, 9 da manhã na Boa Vistinha do Turvo, então Araranguá, nem poderia supor o menor vestígio dos caminhos a seguir lá adiante (ou cá adiante, onde já estou – e o tempo, jovens, passa num relâmpago, tenham certeza; mas  isto só verão depois). Porque ali, nas brumas das noites silentes e dos dias solitários no sertão lindo e acolhedor, de céu escancarado de estrelas e imaginações, supunha eu ser aquilo ali o mundo inteiro. Pois havia ali, naquele solo fértil, a sobrevivência em tudo de quanto ela se compõe, vegetal, mineral ou animal. E poético, até, me permitam.

Dias de sol motivavam brincadeiras alegres, com as sombras a correr atrás; em dias de chuva, a farra nas poças, a olhar os pingos salpicando o chão e o cheiro da terra molhada invadindo o ar. Nada parecido e nem imitado. 

Em verdade, a natureza nos cedia o máximo e assim vivíamos – e nem supúnhamos que, um dia, isso terminaria quase melancolicamente, ante a imensidão invasiva dos asfaltos, concretos, muros e grades pra todo lado. E então, hoje, fico elucubrando sobre a velocidade terrível dos tempos. Saímos daquela alegria pura e sem mistérios para a sofisticação falsa de tempos duros. Da luta pela sobrevivência e da simplicidade para a loucura das tecnologias e do chamado “progresso”. E até agora fico na dúvida se isso foi evolução. Duvido, mesmo, que tenha sido. Ou que seja.

Agora mesmo, perturbado pelo celular, pelo computador, pela televisão (“máquina de fazer doido”, no dizer de Stanislaw Ponte Preta, o saudoso e inigualável Sérgio Porto) e sei lá mais: microondas, forno elétrico, cafeteira que trabalha sozinha (saudade do coador de pano...) liquidificador, batedeira de bolo, roupa sintética, automóveis elétricos, home banking, pix (meu Deus!!), pão que dura duas semanas em casa sem estragar (ou mais, até), tudo enlatado, twitter, facebook, instagram e o caralho a quatro. Doido. Fiquei doido. Estou doido. Poderia colocar um acento e mudar o sentido – e seria verdade: doído. Por que é. Com acento MUITO agudo no “í”. 

No entanto, para arrefecer esta agonia insensata do atropelo dos anos, agora mesmo, depois de cruzar desertos, planícies e lavouras férteis de conhecimentos e experiências, retorno à origem e pratico o jornalismo e o radialismo do começo. Ou do recomeço. E me enxergo querendo criar e aprender. E crio e aprendo. Pelo menos nisso ficou bom: adquiri a consciência libertária do “só sei que nada sei” (Sócrates). O que já é um saber importante.

Por Aderbal Machado 07/10/2023 - 08:00 Atualizado em 07/10/2023 - 09:31

Relembro alguns colegas lá dos tempos d’antanho – meu tempo de primícias – quando o esforço maior consistia em falar mais difícil, pra mostrar, em tese, inteligência, conhecimento, vocabulário rico. Na verdade, o hábito era redigir com um dicionário ao lado, buscando sinônimos para termos corriqueiros e, assim, “enfeitar” a escrita ou a narração.

Assim, médico virava “esculápio”, hospital era “nosocômio”, advogado era “rábula” ou “causídico”, tempo antigo era “priscas eras”, todo esforço maior era “hercúleo”, jogo encerrado era jogo com” cifras definitivas do marcador”, a prefeitura era “paço” (ainda usam hoje muito), algo mais notório era “conspícuo”, jornal semanário era “hebdomadário”, coqueluxe era “tosse comprida”, vermífugo era “remédio pras bichas” e o cara não muito urbanizado era “mandurico” (muito típica do Araranguá, meu torrão). 

Há mais. Desafio à criatividade os meus seis leitores. Enfileirem outros e brinquem com a casualidade do momento.

Pois vejam a evolução. Amestrado profissionalmente por César, Aryovaldo e Agilmar, os jornalistas pioneiros da família, introduzi no meu estilo a realidade incontrastável: escrever bem é escrever simples, com objetividade, sem meneios e escapismos. E sem arrogâncias vernaculares. Enfim, sem contorcionismos. Ou sem “floreios”.

Porque, em verdade vos digo, escrever bem não é seguir regras conceituais de uma redação técnica. Escrever bem é fazer-se entender com clareza. De preferência, com atração de conteúdo. Enfim, bater na moleira. Leu, entendeu. E, tanto quanto possível, gostou.

Hoje a temática é esta. Estou divagando porque, na essência desses dias, com chuva vertendo por todas as cumeeiras e escorrendo por todas as coxilhas (minha veia gauchesca pretensiosa gritando por aqui), a visão de muitas terras é de susto e tristeza. 

Valha-nos o Grande Arquiteto do Universo no amparo aos necessitados.

Por Aderbal Machado 30/09/2023 - 09:24 Atualizado em 30/09/2023 - 09:25

Ficamos imaginando sempre qual o sentido da vida. 

De repente, referências da vida da gente vão indo embora, numa sucessão danada de ruim e num espaço de um ano. Só um ano. 

Primeiro se foi minha cunhada Beti, irmã de Sônia, parceira de tantas empreitadas da vida, desde quando, no limiar da vida, a gente começou a se relacionar – eu e Sônia - e ela sempre como nossa sombra cúmplice. Nossa comadre. A ela devemos as conversas longas em tertúlias regadas a jogatinas divertidas, presenças memoráveis em festas e recreações, as brincadeiras nos aniversários. Isso é insubstituível. Never more. Soa mal, mas é: nunca mais. 

Depois, o Aimberê, mano velho de guerra, resolveu partir também. Ele esteve comigo nos primeiros momentos da infância e nos muitos momentos da juventude, permanecendo firme ao longo da vida, algumas vezes mais longe, outras tantas vezes mais perto. Porém, sempre ali. Divergíamos ideologicamente, politicamente e às vezes até em relação a coisas menores, sem importância vital. Ficávamos horas jogando palavras ao vento. Convergíamos, no entanto, em literatura, fraternidade cheia de viço sempre, risadas infinitas por tudo ou por nada. 

Agora se vai Zezinha, minha cunhada, casada com meu mano mais velho – Zélia Zita do Canto Machado. Filha de Ramiro e Mariquinha do Araranguá, sempre terna e solidária -, após ultrapassar a barreira dos 90 anos. Viveu felicidades múltiplas ao lado do meu mano César, com quem se uniu ainda na puberdade (ele com 16 e ela com 17 anos). Viveram todas as agruras possíveis e imagináveis da vida lutada. Foram bravos. Esmagaram as pedras do caminho, constituíram uma bela família e, afinal, chegaram ao mérito de uma vida profícua, semeada de conquistas. A família de Zezinha, numa misturança de personalidades cativantes, desde as irmãs, os irmãos, os filhos e os netos, assinalou uma época de indiscutível valor nas nossas vidas. Desde as benzeduras contra cobreiro de Dona Mariquinha, até as noites indormidas de Otávio Ramiro nas mesas de baralho do Fronteira Clube, sob apostas pesadas. Em compensação, as comemorações de finais de semana da família eram sagradas para Otávio Ramiro. E ai do genro, filho ou filha que não comparecesse. E as recepções na sua casa da praia do Arroio do Silva dos velhos tempos, cercada de dunas, construção de madeira sobre estacas (ou, diria hoje, pilotis). Cheia de quartos e uma cozinha fartíssima. Alimentaria um exército.

E fico pensando nos momentos vividos com elas e ele - tantos foram -, cheios de sabores e alegrias. As histórias e estórias, os entreveros sociais, os lazeres, as andanças, até as recriminações, os enaltecimentos, os primores e os humores, as manias e os enchimentos de vida a cada detalhe, a cada olhar, a cada passo.

Às vezes, por essas situações, penso ser complicado viver sem referências. Pois ficamos ocos, vazios, estremecidos, perdidos. 

Salvamo-nos na lembrança fértil e no olhar ao passado tão belo, tentando remontá-lo pra cá. Deus queira consigamos. Afinal, essas coisas têm suas crueldades e fatores inesperados, mas a vida precisa ser vivida enquanto o último sopro não acontece.

Não choro em público e nem revelo meus choros por saudades disso tudo e desses todos. Porém em silêncio, cá dentro ou externando, sim: eu choro. Só de pensar na irreversibilidade da vida. Dizia mamãe, outra artista da vida: “A única coisa da vida de que não se escapa é da morte”. A velha Amarfilina sabia muito. E por isso foi em paz. Católica fervorosa que era, aduzo, para homenageá-la: na paz do Senhor.

Por Aderbal Machado 23/09/2023 - 07:00

Um tempo de lembranças. Dia desses, referi vereadores de Criciúma, presidentes da Câmara Municipal, com quem tive a honra de conviver e trabalhar. Citei Miguel Medeiros Esmeraldino, Edi Tasca, Eno Steiner, Pedro Guidi, Nereu Guidi e omiti, imperdoavelmente, Wilmar Zozimo Peixoto. Considero imperdoável, primeiro pelo lapso de memória condenável e mais ainda por ter sido ele um dileto amigo por anos e anos, mesmo fora da relação institucional como vereador e eu como jornalista ou assessor da Câmara. Os demais também o foram, mas Wilmar, com aquela carona grande de bonachão eterno, me fazia sentir muito além de mim mesmo. Refaço este registro por méritos absolutos do ilustre personagem da história política de Criciúma.

Refaço, ao mesmo tempo, uma memória da época de Câmara. Ali operavam apenas três pessoas: Aristides Mendes, o Tidinho famoso; Ernalda Naspolini e eu. Tidinho cuidava das atas e da contabilidade da Casa. Ernalda, das correspondências e eu da agenda do presidente, dos pareceres e das pautas das sessões. Simples assim. E, milagre: funcionava sem percalços. Ninguém se esbarrava nos corredores e nem se misturavam funções.

Tidinho bem lá atrás e Ernalda recentemente nos deixaram. Ficou o suprassumo de suas presenças por aqui. Marcos da minha vida criciumense, dentre tantos e infinitos outros.

Pois naquela época a política efervescia como nunca. Apenas havia menos conflitos misturados. Eram muito específicos: resumiam-se quase só à relação Executivo/Legislativo e às sucessões da Mesa da Câmara. Neste último caso houve entreveros formidáveis com resultados surpreendentes em várias ocasiões. E deles participei ativamente. Lembro todos aqui dentro do bestunto. Peço vênia para deixar pra lá. São muitos detalhes envolvendo quem já se foi. Não quero pra mim o ônus da covardia de citá-los sem poder ouvi-los.

Houve tantos episódios saudosos, mesmo os mais cabeludos e azedos, contabilizados na minha memória esmaecida...

Enfim, os registros são apenas relicários de um tempo cujo âmago fica pra mim. 

Assim é e assim será. 

Dominus vobiscum.

Por Aderbal Machado 16/09/2023 - 07:00

Uma semana inteirinha, trabalhando e imaginando a temática desta crônica. Sim, nem imaginem a sucessão de tertúlias e sofreguidão mental, tentando encontrar um novo texto. Porque divido as coisas: redigir é ciência, mas escrever é arte. Depende da distribuição dos termos num papel ou num computador cheio de vicissitudes e carências, como o meu.

Redigir, basta conhecer técnicas de começo, meio e fim e as grafias corretas. Conheci pessoas, em Criciúma e tantos outros lugares por onde coloquei meu jeito de ser e fazer, cujos conhecimentos nem era tão profundos e especiais, mas expunham com maravilhosa beleza seus pensamentos. Enfim, escrever é ser agradável à leitura. O resto é o resto. Disso tenho medo e todo escrevedor profissional deveria ter: ser mal digerido em seus escritos.

Mas vamos lá, depois desta peroração indevida, talvez.

São tantas as ocasiões de citação de Fernando Pessoa, na sua frase lapidar: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Colocam-na em qualquer lugar, perdida às vezes num cipoal de doidices (ah, mas o que seria do mundo sem os loucos...).

Todavia, a frase está num contexto maravilhoso: o seu poema Mar Português. E o trago aqui nem tanto para reafirmar o dito, e sim para deliciar com seu sabor indelével e contexto até histórico dos tempos do desbravar dos mares. Leiam e interpretem:

MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? TUDO VALE A PENA
SE A ALMA NÃO É PEQUENA.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

As poesias, bom dizer, não são feitas para serem entendidas, lá no fundo, mas sentidas. Bem no fundo, nos recônditos da alma. Sinta aí.

Por Aderbal Machado 09/09/2023 - 07:00

Passa a Semana da Pátria, relembro meus dias de odes à data. Quando estudante, no Araranguá (Grupo Escolar Castro Alves), aguardava ansioso pelo desfile. Adorava aquela formalidade da marcha. Na minha sala, professora Nialva Rodrigues Villanova (recentemente falecida em Florianópolis), repassava nossas instruções e conferia os ensaios da marcha. Ah, sim, um dos membros da fanfarra da escola era Lulu, o rei do tamborim e do bumbo. Campeão. Meu parceiro de futebol, inclusive, no GEA (Grêmio Esportivo Araranguaense). Seu irmão Nadico também jogava. Mas Nadico não estava na escola então. Era entregador do armazém de “secos & molhados” do Luiz Wendhausen, na época localizado no prédio da Bene Chede, esquina da Praça Hercílio Luz com a Beira Rio.

No dia “D”, criavam-se os pelotões especiais. Resolveu dona Nialva me colocar no “Pelotão de Saúde”. Desfilávamos vestidos com uniforme branco, com uma cruz vermelha no boné e na manga da camisa. Jamais entendi a escolha: jamais tive qualquer pendor, conhecimento ou proximidade com a área da saúde. A tiracolo, levávamos uma bolsa de primeiros socorros (se mandassem ou fosse necessário grudar um band-aid em alguém, não saberia).
Mas o inusitado nunca bloqueou a beleza e o sentimento reinante cá dentro. 

Mais tarde, 19 anos, convocado para o Exército (1963-1964), integrei o grupamento da soldadesca do 14º Batalhão de Caçadores (hoje 63º Batalhão de Infantaria de Florianópolis) e, no 7 de setembro de 1963, desfilamos garbosos na Praça XV, prestando continência ao então Governador Celso Ramos, num palanque instalado na entrada da Rua Felipe Schmidt, sobre o Jardim da praça.

Pois saibam: mantive por muito tempo o prazer de assistir a desfiles e sentir o clima. Perdi isso. Tornou-se um lugar comum. Conseguiram chamuscar a festa com vinculações de ordem ideológica e política, como se o Brasil fosse de um dono ou outro, em disputa pela hegemonia da cerimônia. 

Ainda mantenho a chama do patriotismo, mas com certo desânimo, lastimo afirmar. 

Encerro com a genialidade do poeta do patriotismo, Olavo Bilac:

A PÁTRIA
                       
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste,
criança ! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu que mar! Que rios ! Que floresta !
A natureza aqui, perpetuamente em festa,
é um seio de mãe a transbordar carinhos.
 
Vê que vida há no chão ! vê que vida há nos ninhos,
que se balançam no ar, entre os ramos inquietos !
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha
o pão que mata a fome, o teto que agasalha!
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
vê pago o seu esforço, e é feliz e enriquece!
 
Criança! Não verás país nenhum como este!
Imita, na grandeza, a terra em que nasceste!

Por Aderbal Machado 26/08/2023 - 10:01 Atualizado em 26/08/2023 - 10:02

Nem mais me recordo o nome da revista. Em 1959 ou 1960, o fotógrafo Osmar Zapellini, um mago das imagens, editava uma publicação em cores (uma ousadia para a época!), mostrando muitas imagens da cidade e expondo matérias sobre gentes e coisas. Algo bem social. 

Duas dessas matérias estão vivas na minha memória: uma sobre o Metropol, destacando Chico Preto, numa foto do atleta aplicando uma “bicicleta” à Leônidas – seu “inventor”. Metropol já era uma lenda com Mário Romancini e Dorny, seus goleiros, Sabiá, Pedrinho, Flázio, mais tarde Nilzo, Valdir Paulo Berg, Calita, Rubão (outro goleiro, o mais famoso deles, folclórico), Sílvio, Márcio, Madureira, Edson Madureira (irmão do Madureira, mais novo, depois jogou no Internacional de POA), Vevé e tantos outros.

A outra matéria enfocava a Rádio Eldorado dirigida por Sérgio Luciano (Joci Pereira), como relatou a matéria. Compunham a emissora nomes como o de Antônio Luiz (Antônio Sebastião dos Santos, mais tarde gerente e diretor), Clésio Búrigo, Kátia (Adelaide Delci Broleis), Odery Ramos e outros nomes, que, como no caso de jogadores do Metropol, não lembro. 

A reportagem tinha fotos que me extasiavam e me faziam sonhar com o dia em que pudesse, também, até pelo atavismo inspirador que emanava em mim, vindo dos irmãos radialistas, ser um locutor e merecer este nome.

Em 1961 fui para Criciúma, aos 17 anos, trabalhar – e aprender, mais aprender que trabalhar – com o Aryovaldo, mano mais velho, que já tinha um nome consolidado na cidade. Ele era vereador do PTB (aquele legítimo, o do Getúlio, do Jango e do Doutel, amicíssimo do Aryovaldo) e, como tal, foi nomeado Chefe de Gabinete do prefeito recém-eleito de Criciúma, o jovem advogado Neri Jesuíno da Rosa, do PTB. Virei auxiliar de almoxarife (e, bênção de Deus, tenho a ficha funcional até hoje, lá se vão mais de 60 anos).

E assim começou a saga. O fim, só a vida me ensejará. Não tenho pressa. Ah, sim: a Criciúma de hoje, na comparação com aquela lá de longe, me espanta substancialmente. Parece outra, completamente diferente. Quem viveu a época e ainda está aí hoje me entende.

Por Aderbal Machado 19/08/2023 - 12:00 Atualizado em 19/08/2023 - 12:01

Leio os noticiários da política nacional e argentina, os compartilho, às vezes comento despretensiosamente, mas paro. Longe de mim a intenção, deliberada ou casual, de enlouquecer. O cenário é travesso e pouco diáfano.

Relembro, hoje, aqueles cidadãos a quem servi como assessor na presidência da Câmara de Criciúma, nos idos de 1960/1970: Pedro Guidi, Miguel Medeiros Esmeraldino, Eno Steiner, Edi Tasca, Nereu Guidi.

Enalteço a oportunidade ímpar de ter servido como funcionário da Câmara a pai e filho, Pedro e Nereu. 
Precioso lembrar: Miguel, Eno e Edi, udenistas rachados. Pedro e Nereu, pessedistas de quatro costados. No entanto, essa condição não nos afastou. Pelo contrário, nos uniu. A eles importava o trabalho. Bons tempos dessa prevalência.

As singulares de cada um ficaram marcadas. Uns mais duros na contenda, outros mais liberais. Uns puxavam a corda rápido. Outros afrouxavam pra ver até onde a coisa ia.

Impossível enumerar os vereadores da época de cuja convivência também usufruí. Passei até pelo tempo da vereança gratuita. Mandato sem remuneração. Pelo povo, para o povo e com o povo, diria a gente hoje. O sonho acabou. Todos, no entanto, pragmáticos. 

Houve alguns muito especiais na lembrança, como Romeu Lopes de Carvalho, o “Romeu Penicilina”, por ser servidor do IAPETC (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas), cuja abrangência pegava os mineiros do carvão. A reforma mudou tudo, para encerrar  a multiplicidade de Institutos de Previdência, uns mais eficazes e fortes, outros nem tanto. O IAPETC era fortíssimo.

Pois o Penicilina tentou a eleição várias vezes, conquistando votações pífias, sucessivamente. Mas por uma eleição, acabou eleito com mais de mil votos – os conhecidos “votos de protesto”. Surpresa até pra ele. E então exerceu o mandato entre 1970 e 1972.

Dispenso falar dele. Prefiro ficar com a magistral escrita do nobre médico oftalmologista e meu digno amigo, Doutor Henrique Packter, reproduzida aqui e extraída da sua coluna neste portal, veiculada em 6 de abril de 2021. Notável e minucioso registro histórico, que pode ser acessado clicando aqui.

E finalizo aqui, porque o dia segue e eu preciso estar pronto pra ele.

Por Aderbal Machado 12/08/2023 - 10:07 Atualizado em 12/08/2023 - 10:09

Dia dos Pais. Para todos, filhos diletos ou não, fica a mensagem de valorar a cada dia mais seus genitores. Assim é. Assim fique à eternidade no exemplo de meu pai Telésforo.

Pois neste 13 de agosto, relembro Telésforo. Austero, forte, estigma de seriedade, monumento  de alforria pessoal, dileto amigo de tantos e muitos, intelectual convicto de muitos linguajares – poliglota de escol: alemão, francês, espanhol, italiano. Lia à constância quase diária “A Retirada da Laguna”, do Visconde de Taunay, em francês. Lia toneladas de alfarrábios jurídicos, traduzidos ao português por sua pena fina e aguçada. 

Escrevinhando suas petições prenhes de citações latinas e entremeadas de terminologias pouco entendidas (ao ponto de, numa delas - me contaram lá atrás, guri eu ainda -, o digno magistrado de plantão chamá-lo e indagar-lhe qual significado e objetivo daqueles sinônimos, antônimos, verbos e referenciais linguísticos do juridiquês, do latino e do português) por muitos naqueles tempos simplórios e muito saudosos.

No Dia dos Pais minha memória recua à década de 50, quando tinha eu um entendimento parco da vida, nascido em 1944. Telésforo se foi em 24 de outubro de 1959. Até ali, contudo, me encheu de visões fantásticas de saber. Autoditada, advogado provisionado (inscrição número 8 da OAB SC), nos induzia à leitura simples, sem interferências. Matriculou-nos na escola, sem controlar nada. Deixava correr. Quando perguntado, mandava consultar livros, estivesse ele ou não no conhecimento do fato.

Por isso crescemos todos ávidos por literatura, saboreando autores diversos e especificamente cada qual seguindo um rumo: César, Aryovaldo, Agilmar, Icleia, Aimberê e eu. Nesta ordem cronológica e não necessariamente rigorosa em se tratando de direções tomadas. À parte o fato de quatro seguirem o jornalismo como atividade principal: César, Aryovaldo, Agilmar e eu. Aimberê enredou-se pela atividade bancária (Banco do Brasil, 25 anos de trabalho) e acabou sendo o único a concluir curso superior (Direito), depois de “passado na idade”. Tinha avidez por estudos de sociologia, história e política. Aryovaldo e César tinham estilos ferinos e diferentes: um mais poético, outro mais conciso.

Ambos espetaculares. Agilmar mais popularesco. Também lanceiro do bem e da vida. Icleia decidiu-se por casar aos 18 anos, mas conquistou o magistério de corte e costura, professora da Escola Profissional Feminina Kirana Lacerda, do Araranguá até o aposento. Uma mestre das agulhas, dos panos e da moda.

Ah, Telésforo fez isso tudo acontecer. Sim. Não sem a assessoria vital de Dona Amarfilina. Ela quem forjava a personalidade espiritual de todos. Ambos nos fizeram livres para sermos  quem e como quiséssemos. Por isso tantas discrepâncias de visão de vida em todos, sem perder os liames entre um e outro, no entanto. Éramos e somos díspares e unos a um só tempo. Por isso, creio ver, claro e limpo, Telésforo se regozijando ainda agora, sobraçando uma estrela cadente lá em riba. E dizendo, remontando aos nossos erros: “Eu avisei”. E sorrindo, esgarçando nossos acertos e conquistas: “Eu ensinei”. E é tudo real e indefectível.

Olha, Telésforo, te digo (ou digo-te, vais me corrigir, sabiamente), guarda aí um lugar ao teu lado. Ajeita a mão pra colocar de novo no meu ombro. 

O recado tá dado, Telésforo. E me guie até lá, neste mundo de céus e infernos, dando-me força e sapiência para contornar tudo e seguir em frente.

Por Aderbal Machado 05/08/2023 - 09:43 Atualizado em 05/08/2023 - 10:06

Pois hoje, de  novo, é sábado.
E a cada dia passado, fica a dúvida: até quando? A velha liça entre o futuro e o passado. É mais ou é menos? Mais um dia ou menos um dia? O dilema existencial dá uma friagem. Em todo caso, vamos dar preferência hegemônica ao hoje. A vida é agora, afinal das contas. Ao menos quero e preciso acreditar muito nisso. Precisamos, na verdade.
A cada semana, a cada  mês, a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada ano, vamos costurando essas dúvidas e colocando  no cérebro e no lombo o peso do tic-tac da existência. 

Mas bem, depois dessa filosofada barata, insípida e inodora, sigamos. Adelante e arriba!

Pensava aqui nas relações muito doidas, nalgumas vezes platônicas - pelo espaço geográfico a nos separar por tanto tempo (tempo demais) – com os manos falecidos. 

O César tinha comigo uma amizade e uma fraternidade multiplicada: irmãos de sangue, ele um quase pai (por ser o mais velho e eu o mais novo ou o “raspa do tacho”, como dizia ele, ou o caçula), um conselheiro emérito, um professor, um exemplo. Visitas ao César eram sempre modelos de gentilezas: ele me esperava à porta do elevador do seu prédio, lá embaixo e me conduzia até o apartamento, inobstante conhecesse eu o caminho. À saída, encerrada a visita por vezes longa e por vezes fortuita, ele abria a porta do apartamento, ia até a porta do elevador, dava um abraço e dizia a emocionante frase: “Menino, até a próxima”. Isso depois de uma derradeira conversa.

O Aryovaldo, em 1961, me levou para Criciúma, na flor dos meus 17 anos. Queria iniciar-me nas controvérsias políticas, em jornalismo e em rádio. Tinha uma certa fixação de seguimento da dinastia da família – quatro jornalistas depois,  mas até ali três: ele, César e Agilmar.
Lá, ele me deixou sonhar com residir em sua casa, cuja família estava bem constituída. Ledo engano. Me colocou numa pensão e mandou me virar para pagar a sobrevivência. Fiquei meio puteado com aquilo. Depois – bem depois – percebi sua intenção: fazer-me merecedor pela luta da vida, aguçando os sentidos dessa luta no dia a dia. Lição válida até hoje. Aryovaldo tinha ares diplomáticos. Porém, exsudava sentimentos diferentes do César: antipatizava rapidamente com alguém, com o mesmo ímpeto com que simpatizava. Rompia relações com igual força com que as formava. 

O Aimberê, cuja convivência mais próxima tive o privilégio de usufruir, tinha a noção do cuidador. Tinha-me, durante algum tempo, como o maninho mais novo a ser cuidado e protegido. Dávamo-nos muito bem. Com diferenças abissais de ideologia e visão de vida. Em todos os momentos vividos, à distância ou na intimidade das fofocas pessoais, jamais nos engalfinhamos. Isso foi realidade também com o César e o Aryovaldo. Com o Aryovaldo até houve momentos de mais tensão. Afinal arrefecidos pela natureza do sangue herdado de Telésforo e Amarfilina. 

Faço essas elucubrações por méritos e saudades. Dói bastante sentir o “nunca mais” em relação a eles. Nunca mais é tempo em demasia. 

Neste momento, deixo uma funda homenagem aos ainda vigentes, Icleia e Agilmar. Devo-lhes, igualmente, o respeito do tempo. 

O caçula “raspa do tacho” falou e disse.

Por Aderbal Machado 29/07/2023 - 11:05 Atualizado em 29/07/2023 - 11:06

Nos tempos de goleiro sem eira e nem beira do Grêmio Araranguaense (segundo time), convivi com Nilson (Nilson Matos Pereira) e Nedo (Enedir Perraro), goleiros titulares da equipe. Os treinos no estádio, cujas condições hoje desconheço, embora saiba estar ainda lá a propriedade, tanto tempo se passa desde a última vez – e lá se vão alguns muitos (e põe muitos nisso) anos de ausência.

Na equipe se misturavam jovens e experientes, como Jóia, Mememo, Serrano, Branca, Quirininho, Tito, Presalino, Valter, Tibica. Tinha o Adão, também (Adãozinho, originalmente goleiro do flamenguinho do Valmarino e depois do Grêmio, mas depois quis atuar na frente, com sua condição de rápido e bom driblador; baixinho, tinha pendores bons). 

A festa, entanto, se fazia no vestiário, antes e depois dos treinos,  nas tardes amenas do Araranguá de então – lá pelos idos finais da década de 50. Eu me deliciava com as gritarias do Nilson tomando banho gelado (dizia: “gritar desvia o choque”) e o Adãozinho, sempre cantando a sua música predileta: “Que importa saber quem sou, nem de onde venho e nem pr’onde vou...” (Trio Los Panchos, na música El vagabundo, um bolerão de arrepiar o cangote). Aquilo soava muito poético, muito etéreo. Enquanto ouvia, olhava o Morro Centenário, sobranceiro sobre a cidade, local da cruz comemorativa dos 100 anos do Araranguá. Lá de cima, onde poucas vezes fui, o visual era fantástico: descortinava-se toda a cidade e as névoas das distâncias da planície poética e do outro lado o litoral belíssimo, com visão do Arroio do Silva, praia da maioria das famílias – no tempo ainda bucólico dos casarios de madeira, sem cercados, postadas sobre as dunas e cercadas de gramíneas típicas do local.

Ali só se chegava a pé. Poucas tinham garagens. Edifícios muito poucos. Depois surgiram. Se bem me lembro, o Scaini, o hotel Paulista e o edifício Sobre as Ondas, onde antes tinha um casarão de madeira (hotel da família do Nego Boni, grande amigo do Aimberê e da cidade inteira). 

Penso, às vezes: precisaria ter ficado lá, gastando meu tempo com as belezas dos lugares. Melhor: investindo meu tempo. Entretanto, a maldição evolutiva é fatal.

Acabei obrigado a migrar para outras paragens e distante estou, manietado por obrigações e compromissos profissionais e por embaraços naturais da vida, após constituir família e fixar o pé no Litoral Norte. É bom estar aqui. Me sinto ótimo, não posso negar. Incomoda um pouco (isso em qualquer lugar) o materialismo, o consumismo, o torniquete da necessidade diária de sobreviver a qualquer custo. Isso me angustia um pouco, sem tirar o ânimo da luta – que prossegue.

Quem me dera poder ser o personagem da música cantada pelo Adãozinho. Vou ligar o som pra ouvir, pois a tenho aqui, num DVD fantástico de relicários musicais. 

“Que importa saber quem sou, nem de onde venho, nem pra onde vou”.

Por Aderbal Machado 22/07/2023 - 07:02

Tanto tempo longe do sul – do Araranguá e de Criciúma, principalmente -, mas ainda com a mente povoada de imagens das duas. Entretanto, filmes antigos.

Saudade de passear pela Avenida Getúlio Vargas, Rua Sete e Praça Hercílio Luz, no meu Araranguá e cruzar pelas Lojas Bandeirantes, Gomes&Garcia, Café Brasil, Lojas Grechi, Casa Cometa, Loja Triunfante, Armazém do Luiz Wendhausen, Posto Esso do André Wendhausen, Farmácia do Altícimo Tournier, Escritório do Dr. Arno Duarte, Hotel dos Viajantes, Hotel Labes, Loja de bicicletas do Elane Garcia, Usina da Força & Luz, Hotel Imperial, Telefônica, Escritório do Dr. Ramiro Ulyssea (altos do Café Brasil), Armazém do Crisanto Freitas, admirar a construção fantástica da casa do dr. Antônio de Barros Lemos, passar pelo bar e restaurante do Carlos Arcari, olhar o movimento dos finais de semana da Eve’son, admirar a branquitude do Fronteira Clube e jogar futebol na sua quadra de cimento, lá no fundo; comprar pão na padaria do Zé Guidi, correr pelos canteiros gramados do jardim Alcebíadas Seara e ser perseguido pelo fiscal Doca – que nunca nos pegava. Depois, comprar um gibi na banca do Willian e ler sentado na escadaria do coreto da praça ou dentro da Biblioteca Luiz Delfino. Tinha ainda, lá atrás (muito atrás), os papos alvoroçados com o Campolino, pedinte muito amigo de papai. E, de repente e quase sempre, encontrar o Loló perambulando.

Em Criciúma, saudade de passear pelo centrão. Aos domingos à noite, atopetado de gente de toda as tribos, sem qualquer preconceito, falando mal da vida alheia e contando mentiras e peripécias jamais acontecidas. E namorando muito nos bares da moda – e eram vários ao redor do jardim. Em dias comuns, circular por ali, passando pela Galeria Gigante, livraria do Osvaldo Souza, sapataria do Dalsasso, Farmácia Sampaio, Sapataria Lurdete, Casa Ouro, Casa Roque, Hotel Brasil, Casa Imperial, Cine Rovaris, Drogaria Rocha, Jugasa, Foto Zapellini, Café São Paulo, Café Rio, Casas Pernambucanas, Casas Jaraguá, Drogaria Catarinense, Musidisco, Lojas Fretta, Casa Londres, Carlitos Bar (o da gurizada central), Gruta Azul, Laboratório e Farmácia Sampaio, conversar com os taxistas na frente da prefeitura, levar um papo casual com o Bateria e o Burriquete. 

Deve haver uma infinidade de outras referências daqueles tempos. Não consigo recordar todas. É complicado. 

Fico aqui, coçando o bigode que não tenho e sentindo uma saudade que, esta sim, tenho e muita.

Por Aderbal Machado 15/07/2023 - 10:55 Atualizado em 15/07/2023 - 10:57

“Eram dez horas da noite, e eu estava reunido com dois homens num quarto do “Castelinho”, o chalé que o embaixador Batista Luzardo, um dos heróis da Revolução de 30, mandara construir em sua fazenda de São Pedro, estrategicamente situada no triângulo em que o Brasil faz fronteira com a Argentina e o Uruguai. Sentado a um canto, eu lia em voz alta o texto de uma entrevista com Getúlio Vargas que deveria ser publicada dois dias depois. Perto de  mim, também sentado, João Goulart mantinha estendida sobre uma pequena mesa sua perna esquerda, afetada há tempos por uma lesão que prejudicaria para sempre seus movimentos. O terceiro homem no quarto era o próprio Getúlio Dornelles Vargas. Ele acabara de eleger-se presidente da República.
As eleições haviam sido realizadas três dias antes, e Getúlio, lançado pelo PTB, obtivera uma vitória esmagadora. Terminada a apuração, ele alcançaria quase 48% dos votos, um resultado impressionante. Naquele 6 de outubro, Getúlio já tinha 800 mil votos a mais que a soma dos totais obtidos pelo brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e por Cristiano Machado, do PSD, seus dois adversários diretos. Aos 67 anos, o velho ex-ditador, que governou o país entre 1930 e 1945, estava de volta ao poder”.

A narrativa é a parte inicial, a abertura do livro “Minha razão de viver”, de Samuel Wainer, um dos ícones, ou lenda, do jornalismo político do velho Brasil, junto com Assis Chateaubriand.

Por aí se espelham coisas: o movimento político de então se baseava em forças políticas significativas e incontestáveis, no caso Getúlio e a força do jornalismo, em especial, o praticado no Rio de Janeiro e São Paulo. Tudo girava em torno disso, na hora das grandes decisões. 

Creio que os acadêmicos de jornalismo tenham lido o livro. Se não leram, leiam. Assim como leiam “Chatô, o rei do Brasil”, de Fernando Morais. 

Isto lhes dará uma dimensão das realidades a que chegamos. Negativa ou positivamente. Caberá a cada um imaginar ou concluir.

Sobre a obra, disse Augusto Nunes (que ainda está por aí):

“Num país em que quase todos os autores de livros de memórias parecem condenados a confirmar o “Poema em linha reta” de Fernando Pessoa, tentando congelar a imagem de quem foi só príncipe na vida, Samuel Wainer descreve grandes e pequenas derrotas, pecados maiores ou menores, com uma sinceridade desconcertante”.

Isso mostra que devemos ter o nosso próprio botão de autoexame acionado sempre.

Por Aderbal Machado 08/07/2023 - 10:25 Atualizado em 08/07/2023 - 10:42

Por preferência pessoal, as leituras minhas se resumem a obras de caráter político e/ou histórico, cujas abordagens focam personagens da nossa história ou da história mundial. Muito fascínio por Kennedy, Getúlio, Juscelino, Churchill, De Gaulle e tantos outros. Li e reli incontáveis vezes “Ascensão e Queda do Terceiro Reich” (Willian Schirer), “Minha Razão de Viver” (Samuel Wainer), “Chatô, o Rei do Brasil” (Fernando Morais), “Getúlio” (as três fases abordadas por Lira Neto), “O Capitão dos Andes” (R. Magalhães Júnior, uma narrativa romanceada baseada em fatos reais da Bolívia, na figura do ditador Dom Manuel Mariano Melgarejo, final do século 19). Há outras obras de minha leitura e postadas nas prateleiras de minha modestíssima biblioteca: “Histórias do Araranguá”. Uma do Padre João Leonir Dall’alba, esplêndido pesquisador que nem araranguaense era. Outra do Cônego Paulo Hobold, muito semelhante em dados, porém diferente nas abordagens. Ambas, bom dizer, ressaltaram a figura de meu pai, o Doutor Machado, ilustre partícipe da história verdadeira da cidade do Araranguá, a vetusta “Campinas do Sul”, lugar de muitos heróis dos tempos coloniais e republicanos.

Penso, às vezes, em espichar minha literatura. No entanto, sou meio chato (um eufemismo: sou chato mesmo, ao extremo) pra ser atraído por leituras de obras. Precisam me atrair nas primeiras linhas ou simplesmente não as leio. Fecho e guardo. Vejam bem: GUARDO. Não empresto e nem dou. Ficam lá. Quem sabe de repente sinta vontade de ler.

Isso pode limitar a carência ou a ausência de alguns conhecimentos, é bem verdade. Todavia, me livra de saturações também. 

São apenas hábitos. A idade pode ter influenciado, eis que, lá atrás, fui um voraz consumidor da chamada “fase das obras da juventude, chamados, muito apropriadamente “tesouros da juventude”: “A Ilha do Tesouro”, “Huckleberry Finn”, “Os Três Mosqueteiros”, “As Aventuras de Tom Sawyer”, “O Inferno de Java” (sobre o Cracatoa), “Robinson Crusoé”. Ah, sim e os quadrinhos. Houve época de consumo inusitado de toda a série Disney. Toda. Inteirinha. De Mickey e Pateta ao genioso professor Pardal e a João Bafodeonça, o malfeitor. 

E por isso, agora no crepúsculo da vida, quase dobrando o Cabo da Boa Esperança para descobrir meu ápice vital, prefiro ser seletivo, inobstante a saudade de minhas leituras d’antanho. 

Repito um dos meus versos prediletos de significado da vida: “Oh, que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais...” (Casimiro de Abreu). 

Pronto. Fechamos o esquema. Arrivederci.

1 2 3 4 5

Copyright © 2022.
Todos os direitos reservados ao Portal 4oito