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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Aderbal Machado 20/01/2024 - 08:18 Atualizado em 20/01/2024 - 08:19

Quem mora na praia sabe: nas temporadas as visitas aparecem como se brotassem do chão. Cá em casa é assim. Com uma diferença: as visitas brotam do chão há quase uns 15 anos, sei lá. Por aí. Não erro por muito. Todo ano. Jogam meu sossego na lata do lixo, amontoam malas, roupas, colchões, travesseiros por todo canto, se empilham pelos vãos da casa e minha liberdade de andar pelado acaba.

Dentre as positividades: fazem comida, compram inclusive, varam madrugadas e noites nos carteados e, suprema maluquice: ficam no sol de manhã até a tarde, lagarteando na beira d”água. 
Falando-se em Balneário Camboriú, num apartamento a 100 metros da areia da Praia Central, pior ainda: parece um chamariz de doido, embora o doido seja eu. Pra cá vêm meu cunhado, mulher, duas filhas e algumas visitas avulsas de vez em quando, trazidas a tiracolo por eles, lá de Curitiba.

Não, não estou reclamando (até parece...), apenas elucubrando... 

Cabe um kkkkk aqui. 

Meu cunhado, Carlos Alberto Mariani, irmão de Dona Sonia, filho de Noé Moraes Mariani e neto de Hermenegildo Colombo do Rio Maina – o velho Gildo, já nos eternos campos de caça fumando palheiro e falando mal de mim. E, claro, de Dona Maria Venturini (irmã de conhecidíssima Irmã Ana Luísa, a eterna monitora do Colégio São Bento de Criciúma  – e ninguém, respeitando os demais, deixou tanta saudade quanto ela. Anfitriã de mão cheia, dona Maria adorava receber netos, netas, genros, noras e filhos em sua casa, ali no Bairro Pio Correia. Sua especialidade era fazer comida para batalhões num fogão a lenha – sempre fervendo a chapa com toras de lenha abastecidas a cada hora pra manter o fogaréu aceso e o feijão borbulhando sempre.

Estou misturando as etapas justamente para causar. Dizer: isso vem do sangue, é atávico. Por linhas diretas e indiretas. Porque receber e cozinhar divinamente, mamãe também gostava e fazia. Mas era uma cabocla de hábitos mais recatados – mas cozinheira de mão cheia e mestre em desatar nós de nossas consciências e almas. Seu analfabetismo parecia mentiroso, tal sua capacidade de compreender vicissitudes e idiossincrasias dos seus.

E essa mistura dos tempos revela, a meu ver, outra coisa: reclamo, mas gosto.

Por Aderbal Machado 13/01/2024 - 06:39 Atualizado em 14/01/2024 - 22:11

Fico a olhar, espantado, para as surpresas vividas agora mesmo na Internet. 

Depois de longa existência, de repente vi explodir, num mês apenas, os acessos de minha fanpage (www.facebook.com/jornalistaaderbalmachado) , em função de duas inocentes e corriqueiras observações sobre Balneário Camboriú: uma foto do imenso congestionamento da madrugada do dia 1º de janeiro, pós foguetório do réveillon na orla da Praia Central – considerado o mais famoso e bonito do Brasil neste ano – e uma foto muito antiga da cidade, num ângulo aéreo sentido sul/norte, década de 40 – ainda tudo mato, lagoas e rios onde hoje está a selva de pedras.

Lá, na primeira hora, já 20 mil de alcance. Ao final do dia 2, chegou a 100.000, e foi crescendo em níveis assustadores (no bom sentido) e eu sem entender nada até agora. Feliz, mas sem entender. A foto antiga gerou um alcance de mais de 500 mil e a do congestionamento, mais de 600 mil. Uma loucura, para meus padrões, um mandurico do Araranguá e um ex-serviçal do carvão e da cerâmica da Criciúma dos bons tempos. 

Isso provoca a imaginação e agora vivo a planejar como tratar isso. Sem planejamento não dá. Os acessos, comentários e compartilhamentos são do país inteiro, do Acre até Maranhão, do Rio Grande do Sul até Espírito Santo. 

No meio disso, as mais variadas opiniões. Até xingamentos. Maioria elogios. A sensação de exposição é agradável por um lado e preocupante por outro, pois delega responsabilidades enormes daqui pra frente. Como a de tratar as postagens como altíssima responsabilidade, evitando descambar para agudezas críticas, fugir do egocentrismo, travar os pontos de vista ideológicos (os piores) e as ilações eventualmente políticas (sempre tentam).

Agora mesmo, fiquei imensamente satisfeito com um colega radialista de Campo Grande, afirmando me seguir por gostar das manifestações sobre Balneário Camboriú, cidade na qual resolvi, há 27 anos consecutivos e belos, encostar meu esqueleto provecto.

Escrevo isso sem qualquer intenção de vangloriar. Longe disso. Até pela simples razão de existir quem, em meu nível, tenha infinitamente mais acessos. A jactância não cabe, portanto. Apenas estou eufórico, pois a mim se inscreve como uma salutar novidade: a de estar sendo visto e lido por tanta gente, dentre muitos que me gostam e não me gostam – aos primeiros, minhas saudações e encômios; aos segundos, vão catar coquinho.

Por Aderbal Machado 06/01/2024 - 07:25

Há 146 anos, num 5 de janeiro, em São José (SC), nascia Manoel Telésforo Machado, meu pai. Sua missão se cumpriu com louvores. Ele se foi numa manhã de 24 de outubro de 1959, aos 81 anos. O doutor Telésforo fez história no Araranguá, tendo sido seu primeiro advogado e seu primeiro professor.

Meu avô, pai do doutor Telésforo, o coronel Bernardino Manoel Machado, foi o primeiro prefeito de Palhoça e deputado constituinte de SC no final do século 19.

Temos no sangue muito de política - direta ou indiretamente. Por isso o gosto pela temática nos trabalhos profissionais.

O doutor Telésforo, ilustre aniversariante do dia, nos ensinou muito não nos ensinando nada: ele apenas nos estimulava a apanhar muito pra aprender por conta própria. Direcionou-nos aos livros, como fontes de formação essencial. Não nos impunha, mas nos orientava. A qualquer pergunta sobre literatura ou termos mais estranhos para nós, mandava consultar dicionários, obras jurídicas ou romances famosos (um deles, de minha lembrança, era "A Retirada da Laguna", do Visconde de Taunay). Era fã de dois personagens políticos: Juan Domingo Perón e Charles De Gaulle.

O poliglota doutor Telésforo dominava francês, italiano, alemão e espanhol. E foi mestre emérito em português. 

Ainda hoje, 65 depois de ter se ido, sinto-o aqui, bem ao lado. Me mandando ler livros.

Um feliz aniversário pega bem. É o que lhe desejo, como em todos os anos.

Por Aderbal Machado 30/12/2023 - 07:11 Atualizado em 30/12/2023 - 14:47

Culmina 2023. Ano de soma 7. Agora vem um ano de soma 8. Acredito em números pares. Superstição? Pode ser. Intuição também. Azar ou sorte depende de cada um. Trabalha, conquista, vence. Sorte. Não trabalha, não conquista, não vence. Azar.

A vida é um torvelinho. Faça-se por merecer, ora pelotas! As lógicas nem sempre superam as fantasias. As imaginações quase nunca são materializadas. Porém, viver sem sonhos é uma hecatombe. Sonhos sem exageros, sem enfeites, sem lantejoulas, explico e insisto. De preferência com muitos espinhos, muitas subidas íngremes, pedras agudas pelo caminho, muitos degraus acentuados, muitos espaços a preencher – porque aí a vitória é mais sentida, mais valiosa. A questão é uma: não parar. Bater na cara do destino uma, duas, três, mil vezes, até este safado olhar pra gente e dizer: “Cara doido. Vou entregar logo antes que ele me moa de pancadas”. Penso assim. Errado? Depende. Minhas doidices vão a vários lugares e circulam por pontos indefiníveis nas minhas conjecturas de vida.

Durante 2023, como durante alguns outros antes, a vida me reservou desavenças mentais. Sofrimentos atrozes – os principais as perdas de pessoas muito queridas e próximas. Até meu gato, o Félix, me fez sofrer com sua ida para as hostes sagradas de São Francisco de Assis, que deve tê-lo requisitado pra ele.
Penso ser a vida essa mistura – ora bendita, ora maldita – de acontecimentos difíceis ou complicados com as benesses dos caminhos vencidos e da disposição de luta e os claros desígnios de Deus reservados a nós. 

Um filosofismo pobre, reconheço  –  todavia verdadeiro e sincero.

Pois vem aí o 2024. Vestir qual cor? Pular sete ondas? Orar um bocadinho? Pedir amparo aos amigos e parentes que se foram para sempre e cujas almas circulam por aí, por perto de nós? Supõe nossa filosofia – vã? – um delírio de anseios multiplicados a cada passagem de tempo. De 31 de dezembro a 1º de janeiro, qualquer janeiro e qualquer dezembro, parece transmutar-se um novo horizonte – sempre vislumbrado com otimismo e sorrisos. 

Virá o quê? Não sei e nem quero saber, diriam meus irmãos araranguaenses, nos seus dizeres típicos dos meus tempos por lá. Quero é ir adiante. Armado até os dentes de vontade e gana de palmilhar as sendas desconhecidas e ver os céus se abrirem de augúrios venturosos.
Falei fora de padrões? É uma bobagem? Isso você pensa. Sabe de nada, inocente...

FELIZ 2024 PRA TODOS NÓS. MERECEMOS.

Por Aderbal Machado 23/12/2023 - 09:00 Atualizado em 23/12/2023 - 09:28

Em dezembro de 2019 Dona Sonia e eu seguimos pra Portugal. Objetivo, o nascimento da neta Liz, hoje cabelos de fogo linda do vô e da vó. Portuguesa da gema. Lá ficamos de 9 a 29 de dezembro. Inverno duro, muita chuva. Restaram dez dias esplendorosos, entanto, de sol. Frio, ok. Porém luminosidade absoluta.

A lenga-lenga para por aqui.

Circulamos intensamente, Dona Sonia a observar belezas e contrastes. Ela ama natureza e lidamos muito com ela, nas bem cuidadas árvores frutíferas em plenas praças públicas e nos terrenos privados, jogando frutas para fora dos muros.  E sem freios a quem quisesse usufruir. Civilidade, isto se chama.

E eu, um bocado além, quis aspectos históricos e culturais. Mania de família, herança do velho Telésforo, professor emérito, poliglota (alemão, italiano, espanhol – fluentes) e escritor, advogado e observador de tudo relacionado ao mundo.

E observei comportamentos, detalhes de serviços e atitudes pessoais e coletivas. Contarei parte – servindo, no fundo, de paradigma.

Nos mercados – carrinhos de compra disponíveis, só podendo ser liberados com imposição de um euro. Devolvido o carrinho ao lugar devido, o euro voltava. Carrinho abandonado, por exemplo, no estacionamento, o euro ia embora.

Na saúde – no nascimento de Liz, tendo em mãos o PB-4, papel do SUS do Brasil válido por um ano lá, nos Açores e, creio, na Itália, ocorreu num hospital normal. Estrutura modesta, perfeita nos atendimentos. De lá a criança nascida só saia com o registro pronto e exames pós natividade completos. Documento: identidade plástica. 

As receitas – vinham (ou vem, ainda) com o nome do remédio, laboratório e PREÇO. E aquele preço valia EM TODO O PAÍS. Só mudaria se o cliente preferisse de outro laboratório.

Lixo – Missão impossível encontrar nas ruas. E, vejam: prédios e casas não têm permissão para lixeiras nas ruas. Nem pensar. Junta-se o lixo em casa, separa-se como manda o figurino e, final do dia, deposita-se nas cisternas lá fora, existentes em todas as quadras.
E, falando de lixo, nos 20 dias lá vividos, jamais vi garis varrendo rua. Como o lixo, também não consegui ver caminhão de coleta circulando. Eles só passavam na noite para recolher dos contêineres públicos (ou cisternas, como disse lá atrás).

Pera aí, sem lixeiras nos prédios e casas? Sim, e raríssimas lixeiras nas ruas. Só em pontos estratégicos, próximo a mercados e coisas parecidas. No mercado, sacola de plástico – nem pensar, mano. Ou se usava as sacolas recicláveis (trouxemos algumas de lá) ou se levava na mão. Responsabilidade do comprador.

Como aquilo tudo era limpo, sem lixeiras? Ah, veio: educação, cultura. É pra poucos...

Bicicletas circulando, só vi nas praias. Moto: vi UMA. Assim mesmo porque meu nariz apontava praquele lado. Nenhum ruído. Parecia um Mercedes.

Lá tudo é trem. Ônibus só os micro para circular entre as gares ou ir a locais específicos. O trem? Meninos, eu vi: tudo na hora marcada. Uma hora a saída, era uma hora a saída. Nada de 12,59 ou 13,01. Uma hora, uma hora. Chega, abre a porta, a gente entra e ele arranca com tudo. Lá dentro, informações totais num painel luminoso: locais, vento, temperatura, itinerário, destino. Compra-se um tíquete e com ele se vai embora só passando nas cancelas. Ninguém controla. Não burlam isso? Raramente acontecia. Em acontecendo, ai do transgressor. Entra nas portas do inferno.

Ah, e os monumentos. E as histórias contadas. E os ídolos do mundo lá: Vasco da Gama, Fernando Pessoa, príncipes, imperadores e princesas – em todos os lugares. Monumentos distribuídos aos montes pelas ruas e praças. Virei fã de Fernando Pessoa lá, ao posar ao lado do seu túmulo, no Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, tocando-o carinhosamente. Ali também toquei no túmulo de Camões. Sensação irresistível e imorredoura.

Comemos o Pastel de Belém famoso, ao lado do Mosteiro dos Jerônimos. Inevitável passar pela Torre de Belém, claro. Mas meu fascínio foi o Mosteiro. E, noutro dia, o ápice: a visita ao Cabo da Roca, ponto mais ocidental do continente europeu, na freguesia de Colares, município de Sintra. Luís Vaz de Camões descreveu-o como o local “Onde a terra se acaba e o mar começa” (Os Lusíadas, Canto III).

Há muito mais. Vinte dias foram poucos. Minha alma, quando me for, se dividirá entre minha terra e aquilo tudo lá. Voarei por sobre o Atlântico sem fechar os olhos para a transição dos meridianos. 

E reviverei a luz e a noite como vivo hoje a transição soberba do mundo giratório de cada dia como se fosse o último. E um dia será.

Por Aderbal Machado 16/12/2023 - 07:00

Tenho comigo uma ojeriza medular à temática política atual. Transgrediram tudo. Pisotearam sobre a herança dos grandes líderes nacionais ao longo do tempo. Sabemos, aqueles cuja vivência está plantada lá atrás, nos tempos de PSD e UDN – os originais -, quantos são os buracos cavocados ao longo do caminho e, no crepúsculo das realidades, chegarmos à triste culminância atual. Até os fanatismos d’hoje são doidos e exacerbados em demasia, porque pessoais, fratricidas, odiosos ao extremo, quase letais (alguns até o são).

Nos tempos de UDN e PSD havia radicalismos fortíssimos. Porém, na comparação com a baderna de siglas de hoje, sem qualquer estigma de lealdade interna e externa, aqueles radicalismos se resumiam, inclusive e no melhor sentido, à lealdade e à fidelidade aos princípios partidários e respeito e obediência aos seus líderes. LÍDERES, eu disse, LÍDERES.

Impensável, por exemplo, um pessedista ou um udenista votar num ou defender um adversário. Nem a família aceitava isso de algum parente. Nem de irmão. Nem de pai. Nem de mãe. Os pensamentos, obrigatoriamente, iam prum lado só. Ou era PSD ou era UDN. Se misturasse, fosse viver uma vida separada. De preferência muito longe. Respeitava-se a divergência. À distância máxima. Se fosse preciso ir pro confronto, se ia.

Havia pragmatismos, claro. Raríssimos e cuidadosos, de modo a não machucar o arcabouço da legenda. Lembram-se, em Criciúma, das lideranças antigas de PSD e UDN. Não nomino, pois a cidade os conhece historicamente muito melhor que eu. No Araranguá também. Em Florianópolis as trincheiras giravam em torno até do futebol. Rádio da UDN, rádio do PSD. Jornal da UDN, jornal do PSD. Time do PSD, time da UDN. Clube do PSD, clube da UDN.

Nas campanha políticos da década de 50, lembro bem e já falei disso aqui, permitia-se transporte de eleitores e refeição para eleitores. E então, eu vi com esses olhos que haverão de ser cremados, a cidade se dividir entre hotéis e restaurantes do PSD e hotéis e restaurantes da UDN. Sem misturas. Só o Vico Borges, do velho Hotel Imperial, ao lado de nossa casa na Praça Hercílio Luz, da UDN, vi aceitar clientes do PSD. Ao ser questionado pela heresia, foi, aí sim, pragmático: “O dinheiro deles vale igual”. Afinal, era apenas comida, não compromisso.

Pois naquele tempo pedra era pedra e pau era pau. Hoje não se sabe. Exceções raríssimas pululam por aí; tão raras que chegam a sumir na cabeça da gente. 

Dizia-se (traduzindo para hoje): se alguém vendesse apoio em troca de cargo, dinheiro ou qualquer outro tipo de benefício “não se elegia mais nem pra inspetor de quarteirão”. Hoje se diz “nem pra síndico de prédio”.

Há uma prostituição ético-política por aí na atualidade, nos legislativos e executivos de todos os níveis. Só falta o balde com a luz vermelha dentro à frente, para chamar mais atenção. Vergonhoso.
E juro de patas juntas – as quatro: nunca mais repetirei temática política aqui. E cumprirei: não sou político.

Por Aderbal Machado 09/12/2023 - 08:00

Houve um tempo curto no trabalho na região sul, quando fazia rádio e assessoria na Câmara Municipal, gestões dos presidentes Nereu Guidi e Edi Tasca, em que eu transitava diariamente entre Araranguá e Criciúma. Morava no Araranguá, na rua Caetano Lummertz, ao lado do Banco do Brasil. á, na rua Caetano Lummertz, ao lado do Banco do Brasil. De manhã cedo, programa na Rádio Araranguá. À tarde, expediente na Câmara de Criciúma. Todo santo dia. Até consegui um passe com a São Cristóvão, pra não pesar no orçamento, já naquele tempo um tanto curto e exigindo ginástica mensal pra garantir a boia. 

A solução, sempre: marmitinha preparada por Dona Sonia, atulhada de muito feijão e arroz e variando as carnes e os demais ingredientes. Adorava almôndegas – menos trabalho para mastigar.

Pois naquele tempo parecia um paraíso. E era, meus camaradas. E era. Aquele trajeto, hoje comum a muitos de carro, apresentava a oportunidade de relacionamento com outros passageiros e com os motoristas e cobradores. Era papo a viagem inteira e algumas passagens pitorescas.

No almoço de marmita o sabor da comida ganhava uma dimensão inimaginável. Adorava aquilo. Muitos achavam e diziam da impropriedade daquilo (impropriedade? Vão catar coquinho...). Poderia comer num restaurante ou lanchonete. Pra quê, cristão de Deus? Deixar de lado os temperos medidos e certinhos de Dona Sonia por indecifráveis e misteriosas inserções de sei lá o que na comida? Não mesmo. Além da higiene. Com todo o respeito, sempre me causaram dúvidas as formas de preparo dessas comidas. Até hoje.

O tempo das marmitas, do passe do ônibus para baratear os custos e da agonia de só poder retornar no ônibus das 23 horas, porque o das 21 nunca conseguia pegar, pois as sessões da Câmara sempre ultrapassavam este horário – e muitas vezes perdia por minutos a possibilidade de ir nesta viagem; isso era ruim, mas só – faria tudo de novo. Com riqueza de detalhes. 

E isso me deixa aquela sensação de conquista de um modelo de atuação sempre modesto, jamais precário. Mantendo a linha nas medidas da realidade. Porque desta – da realidade – ninguém escapole. Nem dos fatos. Respeite-se os fatos.
Uma frase de Fernando Pessoa é capitular: “Vivo o presente, pois o futuro não o conheço e o passado já não o tenho”.

Por Aderbal Machado 02/12/2023 - 07:50

Pois de uns tempos pra cá, lá se vão uns trinta dias consecutivos, com uma falha aqui e ali nos dias de chuvarada inclemente, adotei o hábito saudável de andarilhar por aí. Há 26 anos residindo em Balneário Camboriú, na cara da praia – areia e orla a menos de 200 metros de casa – só agora veio a decisão. 

E enquanto circulo, registro o cotidiano, cenas, jogo conversa fora, comento coisas, mostro os cenários para quem queira usufruir e assim vai. Junto o útil ao agradável. 

Nem foi conselho médico rigoroso. Todos os médicos com quem tratei sempre me aconselharam isso. Desde o venerável Doutor Henrique Packter, oftalmologista, passando pelo Doutor Raymundo Jorge Perez, radiologista e culminando no ilustre Doutor David Luiz Boianowski, pediatra e uma das 99 vítimas da tragédia do avião da TAM em São Paulo. Outros médicos, urologistas, cardiologistas, dentistas, pneumologistas – todos, todos mesmo – recomendaram-me caminhar.

Nunca segui e hoje pago o preço de estar ferrado. Nem tanto, mas ferrado. 

Por isso alerto aos navegantes às portas da derradeira curva do circuito: caminhem, caminhem, suas bestas quadradas! É o exercício mais importante, dentre tantos, como a natação. Nada de academia, esteiras, bicicletas ergométricas, supinos. Nada. Só caminhar. E fim.

Relembro duas coisas: quando mostrei a montoeira de comprimidos de minha obrigação tomar para coração, pulmão, saco, pinto, próstata, intestinos, o meu colega Paulo Brito, nobre e destravado cronista esportivo de Florianópolis, sentenciou: “Negão, joga a metade fora e vai caminhar na praia”.

E muito lá atrás, quando consultei em Florianópolis os meus olhos mal sucedidos, com sua sala ainda no térreo do Hospital de Caridade, o Doutor Henrique Packter, perguntado sobre o que não poderia comer num regime contra diabetes e coisas assemelhadas, atirou de bate-pronto: “Tudo o que é bom”. Mas também “receitou” caminhadas. Remédio natural e eficiente.

Essas lógicas curtas e pesadas do Brito e do Henrique Packter fazem-me ver a simplicidade de uma caminhada como sucedâneo de dúzias de remédios.

E então continuo me entupindo de medicamentos imprescindíveis, mas outros abandonei. Meus equilíbrios se alteraram positivamente, o sono melhorou e o resto seguiu bem.

Só o pinto faliu, coitado. Nada é perfeito.

Por Aderbal Machado 25/11/2023 - 08:00

QUANDO ME AMEI...

Quando me amei de verdade, compreendi que, em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento preciso. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome: AUTOESTIMA.

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia e meu sofrimento emocional não são, senão, sinais de que estou indo contra minhas próprias verdades. Hoje sei que isso é AUTENTICIDADE.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de AMADURECIMENTO.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber porque é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa (talvez eu mesmo) não está preparada. Hoje sei que o nome disso é RESPEITO.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável: pessoas e situações, toda e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama AMOR PRÓPRIO.

Quando me amei de verdade, deixei de me preocupar por não ter tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os mega-projetos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é SIMPLICIDADE.

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter a razão e, com isso, errei muitas menos vezes. Hoje descobri a HUMILDADE.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é PLENITUDE.

Quando me amei de verdade, compreendi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas, quando eu a coloco a serviço do meu coração, é uma valiosa aliada. E isso é SABER VIVER!

Não devemos ter medo de nos questionarmos; até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.

[Charles Chaplin]

Por Aderbal Machado 18/11/2023 - 08:00 Atualizado em 19/11/2023 - 18:27

A morte de Colombo Machado Salles me atingiu, pois com ele trabalhei em 1971, na condição de seu repórter, dentro do Departamento de Comunicação do Palácio do Governo. Eu o acompanhei por todo o estado, integrando a equipe de viagem, às vezes comandadas pelo fotógrafo Waldemar Anacleto, outras vezes pelo mano Aryovaldo, também assessor de Colombo e seu amigo pessoal desde a Laguna, quando Aryovaldo dirigia a Rádio Difusora de Pompílio Pereira Bento e Colombo chefiava o Porto da cidade.

A amizade durou por toda a vida comum vivida por ambos. Dava gosto ver a consideração de um pelo outro. Colombo era dessas pessoas comprometidas integralmente com suas amizades e uma memória fantástica. Lagunense, filho de Calistrato, emérito difusor das tradições da sua cidade. No exercício do mandato de governador, indicado pelos militares – época da eleição indireta. Técnico de altíssimo gabarito, especializado em águas, levou uma surpresa ao ver seu nome anunciado como futuro governador de SC. Ele mesmo confessou isso em várias entrevistas. A indicação foi de um grande amigo seu, na época fortíssimo elemento do governo central: Mário David Andreazza.

Pois nos tempos de nossa convivência tive oportunidade de conhecer Colombo em alguns aspectos: nunca deixava coisas pra dizer depois, jamais falseava as realidades em quaisquer situações, conhecia meticulosamente as realidades do Estado – e aperfeiçoou isso quando, indicado ao governo, cuidou de elaborar um plano – o Projeto Catarinense de Desenvolvimento, depois Plano Catarinense de Desenvolvimento. Propositalmente, um livro enorme. Perguntado por prefeitos a razão de um livro daquele tamanho contendo seu plano de governo, dizia: “É pra não ser enfiado em nenhuma gaveta”.

Na enchente de 1974, correu todo o estado, levando alento, recursos e ajuda direta aos municípios. Esteve em Criciúma também, no centro de atendimento, localizado no Ginásio Colombo Machado Salles, do Criciúma. Ali, no tumulto e no auge das desgraças daquelas enchentes, já fora da assessoria do seu governo e trabalhando na Rádio Eldorado como repórter, abordei-o sobre as medidas previstas. Ele, de sopetão: “Não quero fazer propaganda das desgraças alheias, vamos tratar disso sem alardes”. Depois, com humildade, me pediu desculpas, arrependido, e se colocou a disposição para ser entrevistado. Tinha disso, o Colombo. Foi um dos governadores mais eficazes, porque essencialmente técnico no exercício do mandato. Sem discriminar eventuais adversários, distribuía seus serviços a quem dele necessitasse. Porque, dizia, era o Estado, não ele. Faleceu com a marca do dever plenamente cumprido. Santa Catarina lhe deve bastante.

Por Aderbal Machado 11/11/2023 - 09:23 Atualizado em 11/11/2023 - 09:26

Pois então. Na beira dos 80 anos de idade, vivo aquele instante dos outros tantos desta quadra etária: indisposições físicas, doloridos por todos os poros pelas manhãs, a discrepância entre o cérebro e o corpo – a gente pensa nisso e o corpo faz aquilo.

Pois neste tempo, rememoro opiniões como a de Cher, ao ser perguntada sobre a “melhor idade” por Oprah Winfrey: “Uma merda”. Verdade. 

Restam algumas satisfações. É quando um jovem alude à nossa idade. Sempre digo: “Eu passei pela tua idade. Quero ver você chegar na minha...”. Mas fica nisso.

Porém (ah, os poréns...) há algumas decisões importantes a serem adotadas: exames médicos periódicos – o de próstata tá na moda. Eu fiz agora mesmo e nem foi em honra ao “Novembro Azul”. Fiz porque minha próstata estava do tamanho de Júpiter, embora isso não tenha impedido, em nenhum momento, a micção, apenas a acelerou. Também não interrompeu ou atrapalhou a evacuação. Ah, mas há a possibilidade de um nódulo.

Consultei um médico urologista do SUS, um guri recém formado – portanto com todo o fogo nas ventas de conhecimentos sobre as técnicas e artes da sua especialidade. Não, ele não sugeriu e nem cometeu o desatino de me dedar. Afirmou, com todas as letras, ser o toque retal dispensável. Categórico: é inútil para detecção de câncer eventual. Sequer o PSA (feito também) é conclusivo para isto. Há coisa mais profunda, a começar por uma ultrassonografia prostática. Também não conclusiva. Mas eu fiz. E foi adiante. Fiquei mais sossegado. Depois de ter sido dedado tantas vezes, deixei pra trás o risco de me apaixonar pelo doutor.

Em todo caso e inevitavelmente, recomendo ao velhedo deste Estado a submeter-se a exames de próstata. Ali pode estar o câncer mais mortal para homens. Tanto quanto os cânceres de mama e uterinos nas mulheres.

Finalmente, o doutor me disse algo importante: a questão da prevenção de homens é que eles são relaxados, renitentes, relapsos. As mulheres são mais conscientes disso, a tal ponto de terem, por todo lugar, as entidades de prevenção ao câncer (Rede Feminina), frequentadas assiduamente e usadas fervorosamente por elas. Alguém viu em algum lugar uma “Rede Masculina de Prevenção ao Câncer”? 

Os homens, por natureza, são mais chegados a uma cervejinha nas mesas dos botecos, um petisco com os amigos. Trocariam isto até por uma boa consulta médica. E errariam. Consultem, seus mocorongos.

No mais, supondo desacreditarem de mim nas minhas conceituações sobre a idade, aguardem ela chegar. Ou se já chegaram, me desmintam. Fui.

Por Aderbal Machado 04/11/2023 - 07:44

Dia desses, 24 de outubro, falei sobre a morte de meu pai, ocorrida naquele dia, em 1959, em Araranguá. Hoje homenageio minha mãe, senhora dona Amarfilina, falecida num 1 de novembro de 1980, também no Araranguá. Uma coincidência: ambos faleceram num quarto do Hospital Bom Pastor. Outra coincidência: os quartos em que ambos faleceram ficavam um diante do outro. Porta-a-porta. Essas coisas são marcantes. Porque criam nossas conjecturas de fé, creia-se ou não.

Pois senhora dona Amarfilina (não, jamais a tratei ou tratamos assim, com tantas mesuras. Era apenas "mamãe", mas faço essa questão, porque reina nela um símbolo de mansuetudes e ensinamentos repassados pelos exemplos magníficos. 

Ninguém como ela venerava animais. Ninguém como ela tratava a natureza com o carinho devido. Em todos os lugares onde moramos, ficou um rastro indelével de árvores plantadas, maioria frutíferas (verdadeiras florestas); muitas hortas de todos os tipos imagináveis e imaginados eram por ela forjadas e cultivadas com capricho. Jamais adquirimos hortaliças, frutas ou verduras em mercados. Eram dali.

A casa era sempre uma granja. Cheia de aves. E os passarinhos tinham sossego absoluto no nosso terreno. Mamãe abominava fortemente e proibia com rigor quaisquer intenções da gurizada de antigamente de caçá-los. Essa regra está incutida em todos nós desde sempre, por herança de senhora dona Amarfilina: respeito e cuidado com os animais.

E hoje, relembrando-a, doi (ou não) sentir, ainda, saudades de seus toques culinários magistrais e simplórios: feijão saborosíssimo, roscas de polvilho, minestras insuperáveis e cozidos e assados como nunca se viu. Houve momentos de dificuldades lá em casa: a carne ficou vedada por tempos. E então ela inventava sucedâneos. O mais inesquecível: tomates verdes fritos com ovos. Coisa de filme, né? Entanto, era assim.

E então a saudade bate em todos os dias de passagem e das lembranças ruins de sua partida. O bom restante é a sua eterna ventura de nos permitir ser seus filhos.

A bênção, senhora dona Amarfilina, a santa de todos os santos.

Vocês podem ficar imaginando mil coisas pelas quais se perguntam a razão de meu foco em pessoas queridas da família já em outro plano, em várias colunas aqui veiculadas. Explico sem delongas: elas continuam fazendo parte ativa no meu mundo. Tenho dito.

Por Aderbal Machado 28/10/2023 - 08:00

No 24 de outubro, completaram-se 64 anos do falecimento de papai, que se foi em 1959. O eterno doutor Manoel Telésforo Machado, como todos o chamavam, respeitosamente. Menos, curiosamente, duas pessoas - segundo assisti várias vezes: o Camilão, um amigo de infância dele e notório em Araranguá e um esmoleiro também do Araranguá, com quem papai batia longos papos nas manhãs de sábado, na frente da casa, sentados em cadeiras especialmente colocadas. Porque em todos os sábados, papai trocava dinheiro e juntava nota por nota para ofertar aos esmoleiros, como caridade habitual. E eles sabiam da rotina e se enfileiravam na frente de casa. Só aquele esmoleiro, especialmente, permanecia ao fim de tudo pra conversar. E, sim, tratava papai com intimidade: era "Telésforo" e não "doutor Telésforo" ou "doutor Machado". Riam alto de piadas que jamais entendi. Chamava-se Campolino. Personagem incrível.

Assim era papai. Não com todos. Com alguns especiais. De resto mantinha o estilo formal. Ele advogou no Araranguá, em Conceição do Arroio (RS), Criciúma, Turvo e Urussanga. Espichou por lá as teias de sua atividade. Em Criciúma, representou como advogado a CBCA (Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá).

Em Araranguá, advogou para a Força e Luz, do seu amigo Padre Antônio Luiz Dias, seu criador, e o senhor Leitão, um português da gema. 

Papai tinha uma história danada de profunda com o Araranguá: foi um de seus primeiros advogados e um de seus primeiros professores. Sua inscrição na OAB-SC era número 8. Seus vínculos pessoais com personagens da história da cidade foram mantidos sempre. Ele é parte da história.

Há muita coisa a relembrar e a dizer sobre papai. E sempre repito ladainhas saudosas em todos os 24 de outubros ou 5 de janeiros, data do seu nascimento, em 1878. E o faço como coisa nova, sempre. Pois a sua imagem se renova a cada dia e a cada momento, ungidas em mim pelos exemplos que me deixou. 

As outubro me traz outra lembrança muito atual: meu casamento “de papel passado” com Dona Sonia, após 10 anos de vida em comum. Com desnecessidade formal, mas só para receber o PIS em nosso nome. Porque naquele tempo só se recebia dinheiro do PIS se morresse (estava – ainda está – fora dos planos imediatos), aposentasse (e naquele tempo ainda era distante) ou casasse. Então, rigorosamente, casamos por interesse financeiro. Foi uma salvação da lavoura pra pagar dívidas, desgraça que sempre nos perseguiu e persegue. Embora se saiba que esta é uma irmandade grande e de amplitude nacional.

E com essas duas lembranças diametralmente opostas e de diferentes significados, fico por aqui. Ademã, que cavalo não sobe escada, como dizia Ibrahim Sued.

Por Aderbal Machado 21/10/2023 - 07:40

Guardo alguns: logo depois de chegado a Criciúma (22 de junho de 1961, data lembrada com exatidão pelo seu imenso significado pra mim), algumas amizades se fizeram: Manoel Higino Maciel, Cleber Marinho, Doutor Henrique Packter, João Benedet, Taurino Pereira, José Martinho Luiz, Neri Jesuino da Rosa (prefeito eleito em 1960 pelo PTB), Romeu Lopes de Carvalho (Romeu Penicilina), Padre Mário Labarbutta, Padre Paulo Petruzellis (ambos do Bairro da Juventude), Ondino Castro Alves (o “Ondino Pinto Louco”, seu apelido), Francisca Vieira Reus, Vanilde Vieira Lopes (funcionárias, como eu, da prefeitura na época, entre 1961 e 1963), Maria Helena Frutuoso Schmitz (e Toninho, seu marido), Hélio Souza, Casimiro Schaucoski, Romeu Vanceta Drum, Hélio Zeferino, Valdir Paulo Berg (Maria Helena e Toninho, Hélio, Casimiro, Romeu Drum, Hélio e Valdir, funcionários da Carbonífera Próspera, como eu, entre 1964 e 1970), Bateria (Jovito Tiago Álvaro de Campos – gari da prefeitura e hoje nome de escola, inclusive), Burriquete (Divo de Jesus, pedinte boa praça e amigo de todos), Murilo Canto, Wilmar Peixoto, Pedro Guidi, Diomício Freitas, Altair Cascaes, Doutor Jacy Eustáchio Fretta, Luli Conti, Doutor Fernando Carneiro, Wilson Barata (Wilson Lopes Fernandes Freire Barata, nome completo), Dite Freitas, João Botelho (João Bonifácio Medeiros), Ediz Milaneze, Olávio Pavei, Moacir Jardim de Menezes, Célio Grijó, Manoel Ribeiro, Arlindo Junkes, Antônio Guglielmi Sobrinho, Fidélis Barato, Aristides Mendes (Tidinho), Nereu Guidi, Antônio Luiz, Clésio Búrigo, Milioli Neto, Sérgio Luciano (Joci Pereira, nome verdadeiro, então gerente da Rádio Eldorado). Poderia citar mais, porém devo me apertar num limite anual até 1963/1965, por aí. Depois vieram outros, no curso dos anos e até final da década e após ela (e são tantos e incontáveis). Direi depois.

Fico nesses porque as lembranças ardem ao relembrar as relações mantidas à custa de muitas tertúlias e papos descontraídos no Bar Damasco, no Café Rio, no Café São Paulo, no Café Ouro Preto, no Círculo São José, nas aglomeradíssimas noites de domingo na Praça Nereu Ramos e na Praça Etelvina Lins (sim, nem dava pra caminhar direito, tanta gente havia circulando e em “bolinhos” de conversa fiada). Posso ter esquecido algum detalhe e deixo com os meus seis leitores a tarefa de completar o relicário.

E uma lembrança é forte: circulava em casa de amigos no hoje Bairro Pio Correa. Casas de madeira, rústicas, algumas até pobres. Matagal completo e montes de pirita (resultado da  mineração), com poças de água amarelada. Tudo muito inóspito. E então surgiu o Colégio Marista. Ao redor, cresceu o local. Pouco mais adiante, construíram mansões e virou “Vila dos Engenheiros”, porque seus moradores o eram. Viram ali um futuro imobiliário interessante, depois confirmado.

E fico pasmo ante a velocidade de mudanças nesses cenários. Próprio do progressismo, diria. E o visual se alterou drasticamente. E isso ocorreu em todos os pontos da cidade. Até em sua região central. A lembrar o atual Museu Augusto Casagrande. Bem lá atrás foi a única construção de alvenaria numa vastíssima região. Lá da Rua Seis de Janeiro se visualizava fácil e majestoso.

E o cheirinho de pão novinho da Padaria Brasil nas madrugadas? Ah, até “alvoroçava as bichas”, como dizia mamãe.

Noutra crônica falarei de momentos assim lá do Araranguá e tentarei resgatar os indícios do chão do meu cordão umbilical enterrado bem fundo pros bichos não bulirem com ele.

Por Aderbal Machado 14/10/2023 - 08:00

A vida é uma sucessão de crônicas. Algumas mal escritas. Outras inspiradas. Uso aqui uma simbologia típica da profissão – o jornalismo.

Ao longo de oitenta anos, vividos sem muita criatividade (confesso) e ao sabor de bilhões de improvisos, pude enxergar os textos de momentos cruciais uns, amenos outros. Guardei muitos no fundo da memória e jamais os revelarei. A maioria está pronta para ser mostrada. Um a um, sem dó e  nem piedade. Vai depender do ânimo no futuro. 

Pois sendo parido por Dona Amarfilina numa quarta-feira de maio, dia 10, ano de 1944, 9 da manhã na Boa Vistinha do Turvo, então Araranguá, nem poderia supor o menor vestígio dos caminhos a seguir lá adiante (ou cá adiante, onde já estou – e o tempo, jovens, passa num relâmpago, tenham certeza; mas  isto só verão depois). Porque ali, nas brumas das noites silentes e dos dias solitários no sertão lindo e acolhedor, de céu escancarado de estrelas e imaginações, supunha eu ser aquilo ali o mundo inteiro. Pois havia ali, naquele solo fértil, a sobrevivência em tudo de quanto ela se compõe, vegetal, mineral ou animal. E poético, até, me permitam.

Dias de sol motivavam brincadeiras alegres, com as sombras a correr atrás; em dias de chuva, a farra nas poças, a olhar os pingos salpicando o chão e o cheiro da terra molhada invadindo o ar. Nada parecido e nem imitado. 

Em verdade, a natureza nos cedia o máximo e assim vivíamos – e nem supúnhamos que, um dia, isso terminaria quase melancolicamente, ante a imensidão invasiva dos asfaltos, concretos, muros e grades pra todo lado. E então, hoje, fico elucubrando sobre a velocidade terrível dos tempos. Saímos daquela alegria pura e sem mistérios para a sofisticação falsa de tempos duros. Da luta pela sobrevivência e da simplicidade para a loucura das tecnologias e do chamado “progresso”. E até agora fico na dúvida se isso foi evolução. Duvido, mesmo, que tenha sido. Ou que seja.

Agora mesmo, perturbado pelo celular, pelo computador, pela televisão (“máquina de fazer doido”, no dizer de Stanislaw Ponte Preta, o saudoso e inigualável Sérgio Porto) e sei lá mais: microondas, forno elétrico, cafeteira que trabalha sozinha (saudade do coador de pano...) liquidificador, batedeira de bolo, roupa sintética, automóveis elétricos, home banking, pix (meu Deus!!), pão que dura duas semanas em casa sem estragar (ou mais, até), tudo enlatado, twitter, facebook, instagram e o caralho a quatro. Doido. Fiquei doido. Estou doido. Poderia colocar um acento e mudar o sentido – e seria verdade: doído. Por que é. Com acento MUITO agudo no “í”. 

No entanto, para arrefecer esta agonia insensata do atropelo dos anos, agora mesmo, depois de cruzar desertos, planícies e lavouras férteis de conhecimentos e experiências, retorno à origem e pratico o jornalismo e o radialismo do começo. Ou do recomeço. E me enxergo querendo criar e aprender. E crio e aprendo. Pelo menos nisso ficou bom: adquiri a consciência libertária do “só sei que nada sei” (Sócrates). O que já é um saber importante.

Por Aderbal Machado 07/10/2023 - 08:00 Atualizado em 07/10/2023 - 09:31

Relembro alguns colegas lá dos tempos d’antanho – meu tempo de primícias – quando o esforço maior consistia em falar mais difícil, pra mostrar, em tese, inteligência, conhecimento, vocabulário rico. Na verdade, o hábito era redigir com um dicionário ao lado, buscando sinônimos para termos corriqueiros e, assim, “enfeitar” a escrita ou a narração.

Assim, médico virava “esculápio”, hospital era “nosocômio”, advogado era “rábula” ou “causídico”, tempo antigo era “priscas eras”, todo esforço maior era “hercúleo”, jogo encerrado era jogo com” cifras definitivas do marcador”, a prefeitura era “paço” (ainda usam hoje muito), algo mais notório era “conspícuo”, jornal semanário era “hebdomadário”, coqueluxe era “tosse comprida”, vermífugo era “remédio pras bichas” e o cara não muito urbanizado era “mandurico” (muito típica do Araranguá, meu torrão). 

Há mais. Desafio à criatividade os meus seis leitores. Enfileirem outros e brinquem com a casualidade do momento.

Pois vejam a evolução. Amestrado profissionalmente por César, Aryovaldo e Agilmar, os jornalistas pioneiros da família, introduzi no meu estilo a realidade incontrastável: escrever bem é escrever simples, com objetividade, sem meneios e escapismos. E sem arrogâncias vernaculares. Enfim, sem contorcionismos. Ou sem “floreios”.

Porque, em verdade vos digo, escrever bem não é seguir regras conceituais de uma redação técnica. Escrever bem é fazer-se entender com clareza. De preferência, com atração de conteúdo. Enfim, bater na moleira. Leu, entendeu. E, tanto quanto possível, gostou.

Hoje a temática é esta. Estou divagando porque, na essência desses dias, com chuva vertendo por todas as cumeeiras e escorrendo por todas as coxilhas (minha veia gauchesca pretensiosa gritando por aqui), a visão de muitas terras é de susto e tristeza. 

Valha-nos o Grande Arquiteto do Universo no amparo aos necessitados.

Por Aderbal Machado 30/09/2023 - 09:24 Atualizado em 30/09/2023 - 09:25

Ficamos imaginando sempre qual o sentido da vida. 

De repente, referências da vida da gente vão indo embora, numa sucessão danada de ruim e num espaço de um ano. Só um ano. 

Primeiro se foi minha cunhada Beti, irmã de Sônia, parceira de tantas empreitadas da vida, desde quando, no limiar da vida, a gente começou a se relacionar – eu e Sônia - e ela sempre como nossa sombra cúmplice. Nossa comadre. A ela devemos as conversas longas em tertúlias regadas a jogatinas divertidas, presenças memoráveis em festas e recreações, as brincadeiras nos aniversários. Isso é insubstituível. Never more. Soa mal, mas é: nunca mais. 

Depois, o Aimberê, mano velho de guerra, resolveu partir também. Ele esteve comigo nos primeiros momentos da infância e nos muitos momentos da juventude, permanecendo firme ao longo da vida, algumas vezes mais longe, outras tantas vezes mais perto. Porém, sempre ali. Divergíamos ideologicamente, politicamente e às vezes até em relação a coisas menores, sem importância vital. Ficávamos horas jogando palavras ao vento. Convergíamos, no entanto, em literatura, fraternidade cheia de viço sempre, risadas infinitas por tudo ou por nada. 

Agora se vai Zezinha, minha cunhada, casada com meu mano mais velho – Zélia Zita do Canto Machado. Filha de Ramiro e Mariquinha do Araranguá, sempre terna e solidária -, após ultrapassar a barreira dos 90 anos. Viveu felicidades múltiplas ao lado do meu mano César, com quem se uniu ainda na puberdade (ele com 16 e ela com 17 anos). Viveram todas as agruras possíveis e imagináveis da vida lutada. Foram bravos. Esmagaram as pedras do caminho, constituíram uma bela família e, afinal, chegaram ao mérito de uma vida profícua, semeada de conquistas. A família de Zezinha, numa misturança de personalidades cativantes, desde as irmãs, os irmãos, os filhos e os netos, assinalou uma época de indiscutível valor nas nossas vidas. Desde as benzeduras contra cobreiro de Dona Mariquinha, até as noites indormidas de Otávio Ramiro nas mesas de baralho do Fronteira Clube, sob apostas pesadas. Em compensação, as comemorações de finais de semana da família eram sagradas para Otávio Ramiro. E ai do genro, filho ou filha que não comparecesse. E as recepções na sua casa da praia do Arroio do Silva dos velhos tempos, cercada de dunas, construção de madeira sobre estacas (ou, diria hoje, pilotis). Cheia de quartos e uma cozinha fartíssima. Alimentaria um exército.

E fico pensando nos momentos vividos com elas e ele - tantos foram -, cheios de sabores e alegrias. As histórias e estórias, os entreveros sociais, os lazeres, as andanças, até as recriminações, os enaltecimentos, os primores e os humores, as manias e os enchimentos de vida a cada detalhe, a cada olhar, a cada passo.

Às vezes, por essas situações, penso ser complicado viver sem referências. Pois ficamos ocos, vazios, estremecidos, perdidos. 

Salvamo-nos na lembrança fértil e no olhar ao passado tão belo, tentando remontá-lo pra cá. Deus queira consigamos. Afinal, essas coisas têm suas crueldades e fatores inesperados, mas a vida precisa ser vivida enquanto o último sopro não acontece.

Não choro em público e nem revelo meus choros por saudades disso tudo e desses todos. Porém em silêncio, cá dentro ou externando, sim: eu choro. Só de pensar na irreversibilidade da vida. Dizia mamãe, outra artista da vida: “A única coisa da vida de que não se escapa é da morte”. A velha Amarfilina sabia muito. E por isso foi em paz. Católica fervorosa que era, aduzo, para homenageá-la: na paz do Senhor.

Por Aderbal Machado 23/09/2023 - 07:00

Um tempo de lembranças. Dia desses, referi vereadores de Criciúma, presidentes da Câmara Municipal, com quem tive a honra de conviver e trabalhar. Citei Miguel Medeiros Esmeraldino, Edi Tasca, Eno Steiner, Pedro Guidi, Nereu Guidi e omiti, imperdoavelmente, Wilmar Zozimo Peixoto. Considero imperdoável, primeiro pelo lapso de memória condenável e mais ainda por ter sido ele um dileto amigo por anos e anos, mesmo fora da relação institucional como vereador e eu como jornalista ou assessor da Câmara. Os demais também o foram, mas Wilmar, com aquela carona grande de bonachão eterno, me fazia sentir muito além de mim mesmo. Refaço este registro por méritos absolutos do ilustre personagem da história política de Criciúma.

Refaço, ao mesmo tempo, uma memória da época de Câmara. Ali operavam apenas três pessoas: Aristides Mendes, o Tidinho famoso; Ernalda Naspolini e eu. Tidinho cuidava das atas e da contabilidade da Casa. Ernalda, das correspondências e eu da agenda do presidente, dos pareceres e das pautas das sessões. Simples assim. E, milagre: funcionava sem percalços. Ninguém se esbarrava nos corredores e nem se misturavam funções.

Tidinho bem lá atrás e Ernalda recentemente nos deixaram. Ficou o suprassumo de suas presenças por aqui. Marcos da minha vida criciumense, dentre tantos e infinitos outros.

Pois naquela época a política efervescia como nunca. Apenas havia menos conflitos misturados. Eram muito específicos: resumiam-se quase só à relação Executivo/Legislativo e às sucessões da Mesa da Câmara. Neste último caso houve entreveros formidáveis com resultados surpreendentes em várias ocasiões. E deles participei ativamente. Lembro todos aqui dentro do bestunto. Peço vênia para deixar pra lá. São muitos detalhes envolvendo quem já se foi. Não quero pra mim o ônus da covardia de citá-los sem poder ouvi-los.

Houve tantos episódios saudosos, mesmo os mais cabeludos e azedos, contabilizados na minha memória esmaecida...

Enfim, os registros são apenas relicários de um tempo cujo âmago fica pra mim. 

Assim é e assim será. 

Dominus vobiscum.

Por Aderbal Machado 16/09/2023 - 07:00

Uma semana inteirinha, trabalhando e imaginando a temática desta crônica. Sim, nem imaginem a sucessão de tertúlias e sofreguidão mental, tentando encontrar um novo texto. Porque divido as coisas: redigir é ciência, mas escrever é arte. Depende da distribuição dos termos num papel ou num computador cheio de vicissitudes e carências, como o meu.

Redigir, basta conhecer técnicas de começo, meio e fim e as grafias corretas. Conheci pessoas, em Criciúma e tantos outros lugares por onde coloquei meu jeito de ser e fazer, cujos conhecimentos nem era tão profundos e especiais, mas expunham com maravilhosa beleza seus pensamentos. Enfim, escrever é ser agradável à leitura. O resto é o resto. Disso tenho medo e todo escrevedor profissional deveria ter: ser mal digerido em seus escritos.

Mas vamos lá, depois desta peroração indevida, talvez.

São tantas as ocasiões de citação de Fernando Pessoa, na sua frase lapidar: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Colocam-na em qualquer lugar, perdida às vezes num cipoal de doidices (ah, mas o que seria do mundo sem os loucos...).

Todavia, a frase está num contexto maravilhoso: o seu poema Mar Português. E o trago aqui nem tanto para reafirmar o dito, e sim para deliciar com seu sabor indelével e contexto até histórico dos tempos do desbravar dos mares. Leiam e interpretem:

MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa

 

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

 

Valeu a pena? TUDO VALE A PENA
SE A ALMA NÃO É PEQUENA.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

As poesias, bom dizer, não são feitas para serem entendidas, lá no fundo, mas sentidas. Bem no fundo, nos recônditos da alma. Sinta aí.

Por Aderbal Machado 09/09/2023 - 07:00

Passa a Semana da Pátria, relembro meus dias de odes à data. Quando estudante, no Araranguá (Grupo Escolar Castro Alves), aguardava ansioso pelo desfile. Adorava aquela formalidade da marcha. Na minha sala, professora Nialva Rodrigues Villanova (recentemente falecida em Florianópolis), repassava nossas instruções e conferia os ensaios da marcha. Ah, sim, um dos membros da fanfarra da escola era Lulu, o rei do tamborim e do bumbo. Campeão. Meu parceiro de futebol, inclusive, no GEA (Grêmio Esportivo Araranguaense). Seu irmão Nadico também jogava. Mas Nadico não estava na escola então. Era entregador do armazém de “secos & molhados” do Luiz Wendhausen, na época localizado no prédio da Bene Chede, esquina da Praça Hercílio Luz com a Beira Rio.

No dia “D”, criavam-se os pelotões especiais. Resolveu dona Nialva me colocar no “Pelotão de Saúde”. Desfilávamos vestidos com uniforme branco, com uma cruz vermelha no boné e na manga da camisa. Jamais entendi a escolha: jamais tive qualquer pendor, conhecimento ou proximidade com a área da saúde. A tiracolo, levávamos uma bolsa de primeiros socorros (se mandassem ou fosse necessário grudar um band-aid em alguém, não saberia).
Mas o inusitado nunca bloqueou a beleza e o sentimento reinante cá dentro. 

Mais tarde, 19 anos, convocado para o Exército (1963-1964), integrei o grupamento da soldadesca do 14º Batalhão de Caçadores (hoje 63º Batalhão de Infantaria de Florianópolis) e, no 7 de setembro de 1963, desfilamos garbosos na Praça XV, prestando continência ao então Governador Celso Ramos, num palanque instalado na entrada da Rua Felipe Schmidt, sobre o Jardim da praça.

Pois saibam: mantive por muito tempo o prazer de assistir a desfiles e sentir o clima. Perdi isso. Tornou-se um lugar comum. Conseguiram chamuscar a festa com vinculações de ordem ideológica e política, como se o Brasil fosse de um dono ou outro, em disputa pela hegemonia da cerimônia. 

Ainda mantenho a chama do patriotismo, mas com certo desânimo, lastimo afirmar. 

Encerro com a genialidade do poeta do patriotismo, Olavo Bilac:

A PÁTRIA
                       
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste,
criança ! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu que mar! Que rios ! Que floresta !
A natureza aqui, perpetuamente em festa,
é um seio de mãe a transbordar carinhos.
 
Vê que vida há no chão ! vê que vida há nos ninhos,
que se balançam no ar, entre os ramos inquietos !
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera,
fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha
o pão que mata a fome, o teto que agasalha!
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
vê pago o seu esforço, e é feliz e enriquece!
 
Criança! Não verás país nenhum como este!
Imita, na grandeza, a terra em que nasceste!

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