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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Aderbal Machado 24/09/2022 - 07:00

Tempos de TV Eldorado, lá no começo, ao redor do ano de 1980, montei um programa chamado “Rosa & Azul”, em que entrevistava três casais e entrevistava e apresentava também artistas (na imagem, uma das apresentações com o famoso grupo Genghis Khan).

Começava sorteando quem ficaria para as primeiras perguntas, cinco perguntas. Depois, voltariam maridos ou esposas para responder também e ver se as respostas coincidiam. Então, somavam pontos ou não.

Convidei o Manique (Algemiro Manique Barreto), então prefeito, e a esposa Dona Zulma. Convidados outros dois casais, mas não recordo quem eram. Ao convidá-lo, Manique me perguntou que tipo de perguntas faria. E eu disse: “Sobre as vidas de vocês, apenas”. Ele então tomou o cuidado de anotar nas mãos data de casamento, onde casou, coisas assim. Foi azarado: as únicas perguntas que não lhe fiz foram sobre isso.

Na primeira ele já engasgou. Perguntei-lhe se ele havia vindo de carro ou de carona. “De carro”, disse ele. E fuzilei a pergunta simples: “Qual a placa do seu carro?”. Ele arregalou os olhos, me fitou e foi obrigado a dizer: “Não sei”. Começamos a rir e respondeu as demais perguntas sem problemas sobre suas preferências à mesa, qual seu hábito ao levantar, etc, etc...

E então rodiziamos com Dona Zulma, com o Manique saindo do estúdio e indo para uma sala isolada com os demais maridos, sem monitor de televisão.

A primeira pergunta foi a mesma para Dona Zulma: “Perguntei ao Algemiro qual a placa do carro dele. A questão é: ele lembrou?”. Dona Zulma, conhecedora profunda do maridão, não teve dúvida: “Não lembrou”. Insisti:  “Tem certeza?”. E ela foi definitiva: “Certeza absolutíssima”. E assim ganharam os pontos desta fase. A partir daí foram feitas perguntas às esposas, depois conferidas pelos maridos. Era a sequência do programa. Saudoso programa da TV Eldorado velha de guerra.

Note-se: a placa do carro do Manique era CR-5555.

Dr. Ney de Aragão Paz e os tempos de honra

Outro episódio. Vereador do MDB, o dr. Ney de Aragão Paz foi por mim entrevistado e revelou algumas coisas “perigosas” sobre a política e seu partido. Quase em tom de confidência, mas não pediu segredo. Ou o famoso “of the records”. Então publiquei. Deu um reboliço danado. Foram cobrar dele e exigir que me cobrasse responsabilidade. Ao falar sobre isso na tribuna da Câmara (que ficava na Galeria Bristot, primeiro andar), ele foi enfático: “Revelei ao jornalista informações reservadas, mas não lhe pedi segredo. Portanto, o erro foi meu. Ele fez o que deveria fazer, como profissional. E o que eu disse, está mantido”. 

Tempos de honra.

Por Aderbal Machado 17/09/2022 - 07:00 Atualizado em 17/09/2022 - 10:10

Nem mais me recordo o nome da revista. Em 1959 ou 1960, o fotógrafo Osmar Zapellini, um mago das imagens, editava uma publicação em cores (uma ousadia para a época!), mostrando muitas imagens da cidade e expondo matérias sobre gentes e coisas. Algo bem social. 

Duas dessas matérias estão vivas na minha memória: uma sobre o Metropol, destacando Chico Preto, numa foto do atleta aplicando uma “bicicleta” à Leônidas – seu “inventor”. Metropol já era uma lenda com Mário Romancini e Dorny, seus goleiros, Sabiá, Pedrinho, Flázio, mais tarde Nilzo, Valdir Paulo Berg, Calita, Rubão (outro goleiro, o mais famoso deles, folclórico), Sílvio, Márcio, Madureira, Edson Madureira (irmão do Madureira, mais novo, depois jogou no Internacional de POA), Vevé e tantos outros.

A outra matéria enfocava a Rádio Eldorado dirigida por Sérgio Luciano (Joci Pereira), como relatou a matéria. Compunham a emissora nomes como o de Antônio Luiz (Antônio Sebastião dos Santos, mais tarde gerente e diretor), Clésio Búrigo, Kátia (Adelaide Delci Broleis), Odery Ramos e outros nomes, que, como no caso de jogadores do Metropol, não lembro. A reportagem tinha fotos que me extasiavam e me faziam sonhar com o dia em que pudesse, também, até pelo atavismo inspirador que emanava em mim, vindo dos irmãos radialistas, ser um locutor e merecer este nome.

Em 1961 fui para Criciúma, aos 17 anos, trabalhar – e aprender, mais aprender que trabalhar – com o Aryovaldo, mano mais velho, que já tinha um nome consolidado na cidade. Ele era vereador do PTB (aquele legítimo, o do Getúlio, do Jango e do Doutel, amicíssimo do Aryovaldo) e, como tal, foi nomeado Chefe de Gabinete do prefeito recém eleito de Criciúma, o jovem advogado Neri Jesuíno da Rosa, do PTB. Virei auxiliar de almoxarife (e, bênção de Deus, tenho a ficha funcional até hoje, lá se vão mais de 60 anos).

E assim começou a saga. O fim, só a vida me ensejará. Não tenho pressa.

Minha ficha de empregado na prefeitura:

Por Aderbal Machado 10/09/2022 - 07:00

“Saudade, muita saudade; A mim perguntas: de quê? Vou dizer-te uma verdade:

Saudade só de você…” (JG de Araújo Jorge).

Sinto saudades da margem do rio Araranguá, tomada pelo mato, grandes árvores, trapiches e pescadores bissextos, abrigos de lanchas, como a do “seu” Tuca Campos, que ficava ao ar livre, sem seguranças, sem travas e ninguém nela tocava;

Sinto saudades do ronco dos caminhões, “chorando” na primeira marcha para subir a “lomba do Paulo Hahn”, de chegada ao centro de Araranguá a partir do bairro Cidade Alta;

Sinto saudades do Nego Bahia, vendedor de loterias que ficava na calçada do antigo Café Ouro Preto, em Criciúma, chamando todo mundo de “Majó” e sobrevivendo sorrindo, sempre com um otimismo contagiante.

Sinto saudades, em Criciúma, da loja “A Brasileira” do Max Finster, com o balconista Mário Belolli, sempre vendendo roupas de primeira linha para homens de bom gosto.

Sinto saudades, em Criciúma, das Lojas Renner, (“a boa roupa ponto-por-ponto”) do Sinval Bohrer, um cavalheiro com ares e polidez de um “gentleman” inglês.

Sinto saudades da primeira vez que fui a Laguna, a convite do Agilmar Machado, meu mano e gerente da Rádio Difusora e lá vivi momentos maravilhosos, cheirando história e tradição.

Sinto saudades das matinês dos domingos à tarde, quando a gurizada assistia aos seriados de Flash Gordon e Capitão América no Cine Roxy, do Araranguá e lotava a sala.

Sinto saudades de quando, sem televisão, computadores, jogos eletrônicos, brinquedos sofisticados, a gente se reunia para apenas conversar e bolar como ludibriar o vizinho dono daquela goiabeira maravilhosa.

Sinto saudades quando a gente, em turma, ia apanhar araçás e outras frutas silvestres nos matagais perto de casa e brincava de “mocinho e bandido” no paiol de farinha de mandioca do Pedro Gomes, na Cidade Alta do Araranguá.

Sinto saudades do tempo em que “droga” era apenas um palavrão quase nunca proferido.

Sinto saudades das crendices como as almas penadas das noites escuras, dos potes de tesouro escondidos nas portas dos cemitérios (que só poderiam ser cavados à meia noite, e sem companhia…), da “tosse comprida” que poderia ser curada com um chá de bosta fresca de vaca, de que a cura da gagueira poderia se dar com uma bela porretada com uma concha de feijão na testa do gago e de que mulher grávida que pulasse vala teria filho com lábios leporinos.

Sinto saudades dos tempos em que, nos bailes-domingueiras, arrasta-pés empoeirados, as mulheres dançavam entre si para esperar dois rapazes virem separá-las com palminhas compassadas.

Sinto saudades dos finais de tarde exalando cheiro de flores silvestres, o cinamomo do quintal baloiçando devagar e as andorinhas no alvoroço do pôr do sol com sua cantoria, pousadas nos fios elétricos.

Sinto saudades de quem eu fui, guri sem nada a aspirar, querendo só um dia crescer, namorar, assistir filmes censurados, sair à noite e sonhar com uma roupa nova e um sapato brilhoso que o velho Telésforo, meu pai, não podia comprar.

Sinto saudades de 1961, quando, chegando a Criciúma para iniciar uma trajetória muito doida e surgir para o jornalismo, ganhava um salário-mínimo (Cr$ 7.200,00) e com ele pagava comida e quarto e não sobrava nada para coisa alguma.

Ah, tempo gostoso de não ter nada. Só felicidade de viver.

Por Aderbal Machado 03/09/2022 - 07:00

Meu mundo ficou menor. O mundo da família Machado ficou menor. O velho jornalismo da melhor cepa ficou menor. Foi-se o mestre dos mestres.

A morte de meu mano César, ou Attahualpa, atingiu em cheio a estirpe. Ele foi o precursor. Ele foi o cabedal.

Logo depois de sua morte, no outro dia, ainda com os olhos inchados de tanto chorar, escrevi isto:

Permitam-me. 

A morte de meu mano César, ou Ataualpa, como escreviam alguns, ou Atahualpa, como escreviam outros pensando estar fazendo corretamente (ele corrigia sempre: é Attahualpa. Como no registro. Tinha esta mania do correto), abriu um vácuo na família. Mais velho dos seis irmãos viventes, dedicou sua vida a forjar liames. Sua família, estruturada na raça e na vontade, forjou dois juízes respeitados: Osíris e José Clésio. Daí vieram dois netos, também juízes: Marco Augusto e Marco Aurélio Guisi Machado.

Cesinha, como a gente chama o terceiro filho, é economiário da Caixa Econômica Federal e escritor renomado. Dele só poderia sair coisa assim. Rigoroso jornalista de português castiço, radialista de uma agudeza temida por onde passou – Tubarão, Florianópolis, Criciúma e São Paulo, tinha por norma exigir perfeição.

Até pelos seus exemplos.

Agnóstico, exerceu uma suprema contradição ao ser contratado para chefiar o radiojornalismo da Rádio Tubá, de Tubarão, comandada pela Diocese Metropolitana. Dirigida por um padre e comandada por padres. Quem o contratou, por ingerência pessoal, foi Dom Anselmo Pietrulla, então Bispo Diocesano, que o sabia agnóstico e questionador dos meandros da fé.

Certa ocasião, numa de suas conversas privadas, Dom Anselmo tentava dissuadi-lo e levá-lo para a fé religiosa. Attahualpa, sem qualquer titubeio, chocou o Bispo: “O que o senhor prefere: um católico papa-hóstia e trambiqueiro, que só se confessa por formalismo, ou um ateu honesto, solidário, filantropo e benévolo?”

Dom Anselmo não teve dúvida: “Fico com o ateu”.

E a conversa ficou por aí. Trabalhou na Rádio Tubá, com Dom Anselmo no comando, por 10 anos. E jamais tiveram rusgas. Por questões de religião, por política ou por questão ética ou profissional.

Não, não era ateu. Fazia questão de afirmar. Era agnóstico. Entretanto, por muitas vezes falamos sobre fé – e levei-lhe sempre minhas convicções. Ele jamais as questionou. Ouvia com a mesma atenção com que queria ser ouvido.

Mas eu duvido, sinceramente, que neste momento, Deus não o tenha acolhido. Sua falta de fé na Terra se inseria no Livre Arbítrio Divino. Até porque ele alimentava seus sentidos de descrença nas suas teorias para consumo interno, eventualmente exteriorizadas. Jamais as consumou na prática, tal a força com que agiu, tal a vontade e o determinismo com que viveu a vida, tal o poder que exerceu para o bem de todos os que o cercaram.

Jamais alguém poderá creditar-lhe uma injustiça sequer, cometida por desvario ou por intenção. Sequer, arrisco dizer, por descuido. Tal era seu espírito de harmonia e benevolência. Tal era seu rigor consigo mesmo ao desvelar-se a filhos, a netos, à esposa, aos irmãos e aos amigos. E ao “velho” Telésforo, nosso pai, a quem ele venerava e quis com ele ficar, em Araranguá, para onde foram suas cinzas.

Nosso mundo – e não é chavão – ficou menor sem o César. Fico-lhe devendo, mano, os muitos momentos que passamos a sós, revelando nossos segredos, emulando nossas idiossincrasias, atritando nossas diferenças. Saudades das suas broncas, das suas correções, das suas lições.

Tão pouco tempo, tão poucas horas que você se foi e já parece uma eternidade.

Por Aderbal Machado 27/08/2022 - 07:00

Uma coisa típica do saudoso Evaldo Stopassoli, nosso diretor da Eldorado, era comemorar, todo ano, o Dia do Radialista homenageando os profissionais com um almoço. Normalmente, em uma churrascaria ou restaurante. Fomos algumas vezes ao Morro dos Conventos, até ao restaurante do Criciúma Clube. Numa dessas ocasiões, já com televisão e rádio acopladas nas nossas atividades diárias, ele contratou almoço na Churrascaria Bezerrão, na Seis de Janeiro, em frente à Praça do Imigrante e ao lado do então Cine Milanez.

Prato do dia: feijoada. O garçom designado para nos servir foi o Edgar. O Edgar era o mais famoso da cidade. Passou pelo Recanto de Kátia, Castelinho, o restaurante do Daltro Rabelo na Getúlio Vargas e por mais sei lá quais – e era chamado para grandes eventos.

Fã de Francisco Petrônio, um dia o artista foi ao meu programa na Rádio Eldorado, ao lado do Castelinho e, ao final, descemos e lá na calçada estava o Edgar olhando pra nós. Não resisti. Falei ao Petrônio do fã e ele fez questão de ir até lá. Convidado para um aperitivo servido pelo Edgar, foi e a turma toda sentou à mesa. 

Iniciou uma conversa entre os dois e, num dado momento, após Edgar citar passagens de programas e músicas do artista e detalhar partes de sua trajetória, Petrônio arregalou os olhos e disse: “Bah, nem eu lembro mais disso”. Pois só digo isso para espelhar bem a personalidade inefável do Edgar.

E nosso almoço de comemoração do Dia do Radialista no Bezerrão ele se superou.

Na hora de cada um pedir bebida para acompanhar, o Claudisnei Constante, cinegrafista – que pode confirmar isso, pois disse que a lembrança ficou marcada indelevelmente -, resolveu perguntar ao Edgar se tinha maionese.

O Edgar fuzilou um olhar para ele: “O quê? Maionese com feijoada? Seu grosso!! NÃO TRAGO! Vai buscar se quiser!” 

E o Claudisnei teve que ir, porque o Edgar não serviu e pronto. As risadas duraram muito tempo. Até hoje, quando, num desses encontros saudosistas da turma daqueles tempos, a história foi lembrada.

Por Aderbal Machado 20/08/2022 - 07:00

Corria o ano de 1964. Eu, cabo do glorioso Exército Nacional, acantonado em Laguna para uma missão, de folga, pedi ao meu comandante, capitão Carlos Augusto Caminha (mais tarde secretário da Educação de Colombo Salles e, depois, ainda, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado), permissão para visitar meu mano Aryovaldo em Criciúma. 

Autorizado, sob a recomendação de ir “paramentado”. Ou seja: pronto para qualquer emergência. Fardado, cinto de guarnição com munições e .45 na cintura e capacete de combate. Na época, as empresas de ônibus permitiam viagens de militares de graça. Fui.

Chegando a Criciúma, lá pela beira das 19h e trinta minutos, noite quase cheia, desci do ônibus e fui caminhando pela lateral de Praça Nereu Ramos/Rua Getúlio Vargas, na direção da Rua Santo Antônio, onde morava o Aryovaldo, num casarão maravilhoso de propriedade do concunhado Manif  Zacharias, altos da Praça do Congresso. 

De repente, à minha frente, andando devagar, reconheci Ézio Lima, amigo da família, que ia pra casa por aquele caminho. Resolvi conversar com ele e fui caminhando atrás. De repente, Ézio deu uma paradinha, mas ao me ver, seguiu adiante, acelerando o passo. Fiquei pensando comigo: “Ué, qual é a do Ézio?”. E acelerei também. E ele acelerou mais ainda. Até que, quase correndo, o alcancei e o chamei pelo nome. Ele parou, encostou-se no muro numa atitude de defesa e, quando cheguei mais perto, ele me reconheceu finalmente. 

Sua reação foi surpreendente: “Seu grande filho de uma puta!”.

Espantado, reagi: “Que é isso, Ézio?”.

E ele: “Desgraçado, pensei que algum milico tava me perseguindo (naqueles dias a cidade estava coalhada de soldados, que prendiam sem muitas cerimônias)”.

“E daí?”, perguntei eu.

E Ézio explicou: “Daí que tô eu aqui, vindo da rádio com a advertência do seu Diomício (nosso grande líder inspirador) para tomar cuidado. Ele, pra me ajudar em eventual defesa, me deu um 38 pra trazer, que tá aqui na minha cintura. Se um milico me pega, até eu explicar quem sou e dar mil explicações sobre o revólver, tô lascado. Sabe-se lá quanto tempo ficaria preso!”.

E então desatamos a rir os dois daquela situação maluca. 

Ézio, necessário dizer, foi um dos radialistas/jornalistas mais competentes e autênticos que conheci. Tivemos um primeiro contato pessoal em 1959, quando ele, diretor da Rádio Tubá de Tubarão, trabalhava ao lado dos manos Attahualpa César e Agilmar, outros monstros do rádio-jornalismo do sul, meus mestres.

Lembro como se fosse hoje dele e César ouvindo o jogo Hercílio Luz e Paula Ramos (Florianópolis), na decisão do estadual daquele ano, na Capital; 3 x 1 para o Paula Ramos, se a memória não me trai. A cada gol, Ézio exclamava: “Acharam o buraco na defesa”. 

Ézio é pai do meu compadre e prestigiado advogado Gilberto Procópio Lima, marido da minha comadre e exitosa empresária do ramo imobiliário em Içara, uma alma grandiosa que sei bem o tamanho por tantos atos e fatos. A campeã. Outro dia falo de coisas da convivência com minha comadre e meu compadre naqueles bons tempos em que tínhamos como elo comum os pais de Raquel, o saudoso Castilho e a inesquecível Júlia, com quem disputávamos furiosas partidas de canastra, inesquecíveis até hoje.

Narrarei um episódio histriônico ao extremo, quando íamos passar o réveillon em Siderópolis, a convite do clube local e nosso carro enguiçou exatamente em frente à Maracangalha. E passamos ali o réveillon, sem muitas cerimônias. 

O tempo. Ah, o tempo, esse miserável que não volta mais...

Por Aderbal Machado 13/08/2022 - 20:00 Atualizado em 13/08/2022 - 20:09

Na velha Eldorado, lá pela década de 50, Osmar Nunes apresentava um musical pela manhã e o controle de som (ou sonoplasta, como se dizia muito) era o Olímpio Vargas. Ainda no Edifício Dom Joaquim, segundo andar.

Funcionava o “correio elegante”, com ouvintes oferecendo músicas para amigos, namoradas ou namorados nos aniversários ou até sem motivo algum.

Tipo “com muito amor e carinho” ou “simbolizando nosso amor eterno”, eram as frases usais dos oferecimentos. Detalhe: muitos desses oferecimentos eram pagos e a grana ficava com o apresentador. Diga-se: com permissão e estímulo do dono da rádio, como forma de remunerar o trabalho.

Tempos dos discos de acetato, muito antes dos long-plays, de vinil. Os discos de acetatos tinham uma música de cada lado e quebravam ao menor choque. Tinha que ter muito cuidado no manuseio.

Um dia, num desses musicais do Osmar Nunes, ele anunciou: “E agora, Nelson Gonçalves, com “Boemia”.  Cadê o disco? Não estava ali. Alguém esqueceu de organizar. Estava na discoteca, que ficava na parte da frente, ao lado do pequeno auditório.

O que fazer? Olímpio nem teve dúvidas: foi na chave geral, desligou a energia e apagou tudo. Foi à discoteca, pegou o disco, trouxe e colocou no prato, colocando a agulha no  meio da música. E religou a chave da energia.

Assim, o ouvinte imaginou, apenas, que “faltou luz” e não houve um descuido doido do programador (que, por sinal, era o próprio Olímpio).

Essas coisas não aconteceriam jamais hoje. Primeiro, porque a tecnologia resolve. Segundo, porque essa criatividade surgia nos apertos mais insondáveis do rádio daquele tempo. Um dia conto outras histórias dos improvisos.

Como no caso do contrarregra que, ao ter que disparar o som de um tiro, disparou o mugido de um boi. E o artista, surpreendido, não se fez de rogado: “Não adianta se esconder atrás do boi porque eu te pego assim mesmo”.

Por Aderbal Machado 06/08/2022 - 07:00

Recordações me conduzem às madrugadas frias da minha cidade natal, seis da manhã, saindo da estação no bairro Barranca, resfolegando pelos campos – Maracajá, Sangão (o trem parava para abastecer de água) e finalmente Criciúma. Meu Deus, quanta lembrança daquela cidade carinhosa, a Criciúma da década de 50/60! 

A gente cruzava pelo meio da cidade – e vislumbrava as casinhas à margem dos trilhos. Desembarcando na estação, já se descia sentindo aquele cheirinho de café novinho dos bares das redondezas, misturado ao cheiro de pastel e rosquinhas de polvilho. Descendo a Rua Conselheiro João Zanette passava-se pelo Hotel Brasil, que estão demolindo, onde reinava seu Frasson, amigo de papai e nossa hospedagem habitual.

Um pouquinho mais abaixo a “Gruta Azul”, cujo pastel e cuja “batida de banana” tinha algo de divinal. Mais abaixo, a “Casa Roque” e em seguida a “Casa Ouro”. Desses locais tenho até hoje uma saudade imensa, pois faziam parte de um roteiro de infância habitual, incluindo aí a passarela de metal sobre os trilhos.

Tenho noção, ainda hoje, até do cheiro desses locais e da cidade, na sua bruma matinal.

O monumento ao mineiro, no Centro da Praça Nereu Ramos, era uma homenagem ao Congresso Eucarístico Brasileiro de 1946 – realizado na ainda hoje denominada “Praça do Congresso”.

O Nelson Alexandrino, prefeito, mandou demoli-lo (meu Deus do Céu, que heresia!) para no seu lugar construir uma fonte luminosa. Jamais o perdoei por isso. Ele simplesmente desmantelou parte vital da história de Criciúma.

Em algumas dessas viagens fui a Laguna, como contei aqui noutra crônica. Uma epopeia. Cine Mussi, clubes Blondin e Congresso, bairro Magalhães (havia ali um aeroporto, sim senhores, onde pousavam aviões da TAC (Transportes Aéreos Catarinense), Museu Anita Garibaldi e uma imensa história, Morro da Glória, Praia do Mar Grosso.

Criciúma e Laguna daqueles tempos, para quem viveu e conheceu é impossível esquecer. Pena que as lembranças se perdem no tempo (não no meu caso), pois as gerações se sucedem e vão jogando tudo isso no lixo em nome do modernismo, da tecnologia.

Quando hoje falam de música, de arte, de cultura, de amizade, de qualidade de vida, de natureza, de alegria – precisariam retroceder no tempo e viver aquela época. E veriam que, hoje, vegetamos ao invés de viver. O progresso nos fez perder quase tudo.

Por Aderbal Machado 30/07/2022 - 06:00

Quando entrei na vida do rádio em caráter definitivo e profissional, entrei por causa do Aryovaldo. Ele me levou para a então recém fundada Rádio Difusora de Criciúma, em 1962, “A Emissora do Trabalhador”, comandada pelo Doutel de Andrade através do próprio Aryovaldo e do Vânio Faraco (Addo Vânio de Aquino Faraco), pai da deputada Ada Faraco de Luca, esposa do Walmor de Luca.

Até eles brigarem por causa de política, fiquei ali. Em 1963, fui convocado para o Exército e interrompi a trajetória. No retorno, em junho de 1964, fiquei mais um tempo, aí já noutra orientação, sob a gerência da Hilda Trevisol, mãe de Sílvio Trevisol, um dos primeiros gerentes da Rádio Difusora de Içara.

Péssimo momento e experiência muita ruim. Um bagaço aquele período. Jogadas políticas em decorrência dos posicionamentos do Aryovaldo, então vereador, me jogaram para fora da rádio. Dali, ainda por influência direta do Aryovaldo, ingressei na Companhia Carbonífera Próspera. Lá, fiquei cinco anos, até 1970, quando ingressei na Rádio Eldorado e desde então nunca mais deixei o exercício de jornalismo e de radialismo. Um e outro ou os dois, simultaneamente.

Não conto aqui meus períodos ilusórios na Rádio Araranguá, lá pelos meus 12 ou 13 anos, uma bobagem que só me criou imagens fantásticas de estrelismo, que ainda hoje assolam pessoas da área, adultas e tidas como sensatas. 

Por princípio detesto gravar programas. Adoro o jornalismo ao vivo, com seus riscos e possibilidades de erro ou talvez por causa deles. Gravar é muito cosmético, a não ser em casos de extrema necessidade ou condição do trabalho.

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