Ir para o Conteúdo da página Ir para o Menu da página
Carregando Dados...
FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS INFORMAÇÕES DAS ELEIÇÕES 2024!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito

Os sete de ouros da emancipação de Criciúma

Por Henrique Packter 04/05/2022 - 10:03 Atualizado em 04/05/2022 - 10:06

Colonização italiana: final do século 19.

Lei 31.10.1925 e Lei 04.11.1925 de Victor Konder, leis da emancipação

Marcos Rovaris: 1º.01.1926, vereador de 1926-28

24.01.1932 HOSPITAL SÃO JOSÉ, inauguração no prédio antigo pertencente a FÁBIO  SILVA; são 90 anos. Real inauguração - 07.04.1933 - primitivo hospital, presente Dr. João Assenger, de São Joaquim.

De 24.01.1932 a setembro de 1936 no hospital improvisado. Em 1936 Elias Angeloni é prefeito de Criciúma. Com auxílio de Nereu Ramos, interventor estadual, constrói-se o HSJ.

08.11.1936 inauguração verdadeiro HSJ, onde se acha até hoje. O autor destas crônicas, oftalmologista, orgulha-se de ser MÉDICO HONORÁRIO deste hospital, onde labutou por décadas.

Valmir Lemos, coronel da PM, publicou o livro Tombados e Esquecidos no qual relata parte dos eventos da Revolução de 30 ocorridos no sul de SC. Episódio ímpar foi o encontro dos revolucionários vindos do RS (aliancistas) com o efetivo da então Força Pública do Estado de SC (legalistas), na antiga estrada Tubarão-Florianópolis, município de Anitápolis.

O que aconteceu? Logo após o início da rebelião (3.10.1930), parte das tropas de Getúlio Vargas adentrou SC, via Passo de Torres, pelo Rio Mampituba, tomando Araranguá. Por via férrea, estabeleceu-se em Tubarão comandada por Ernesto Lacombe (civil) e pelo capitão André Trifino Correa (militar). A posição estratégica de Tubarão foi consolidada sem reação, porém, o avanço para norte, em direção a Florianópolis, era dificultada pela topografia acidentada do litoral e do Morro dos Cavalos, além do perigo dos bombardeios das embarcações da Marinha de Guerra, apoiadoras do governo Washington Luís.

A estrada Tubarão-Florianópolis, aberta alguns anos antes era a solução mais razoável. Havia, entretanto, um estrangulamento próximo à cidade de Anitápolis, conhecido como Serra da Garganta, ocupado pelas tropas da Força Pública, fiéis ao governador de SC, Fulvio Aducci, aliado do poder central. Sob comando do major Camilo Diogo Duarte, os revoltosos adentraram em Anitápolis, 14.10.1930, sabedores que a empreitada seria difícil, pois o efetivo militar legalista, comandado pelo tenente Romão Mira de Araújo, escavara duas barricadas na estrada. Estavam guarnecidas com ninho de metralhadoras, além de armas pessoais mais leves. Praticamente impossível a aproximação sem baixas importantes.

Fábio Silva, saíra de Tubarão, levando para a estrada inconclusa 60 civis e 35 soldados da PM de SC, comandados pelo temível tenente MIRA e tocaiados na Serra da Garganta. 

A REVOLUÇÃO DELES

Transcrição de importante relato referente às ações militares ocorridas em outubro de 1930 em território catarinense, mais especificamente da refrega na Serra da Garganta em Anitápolis, ocorrida entre legalistas e a coluna do litoral, chefiada por Trifino Corrêa. Disse sobrevivente do embate:

“De repente, pelas 11 horas, ouvi tiros atrás de mim. Pensei que fossem oficiais experimentando nossa coragem. Fiquei no lugar. Mas, logo vi que

deslizavam pelo mato dezenas de soldados com seus lenços vermelhos. Não havia dúvida, eram os gaúchos. Sem pensar na Winchester, saltei barranco abaixo. Nesse momento, projétil atingiu-me o ombro, deixando-me o braço paralisado. Todos corremos estrada abaixo, sendo ferido Miguel Schmidt, de Teresópolis. Uns agarraram o mato e outros ocultaram-se num bueiro, onde foram presos. Detido, fui atirado contra o barranco com outros companheiros.

Mandaram que nos agachássemos num valo da estrada:

- Não levantem a cabeça, berrava o comandante do piquete, Major Camilo. Balas zuniam sobre nossas cabeças. Lá conosco, no valo estavam os traidores João e Zé Domingos:

- Ô compadre, onde que nós fomos nos metê! Logo abaixo, na outra curva havia duas metralhadoras nossas. Parece que o cabo Carneiro conseguiu virar para trás e fazer fogo contra os assaltantes. Aí teria matado ou ferido alguns deles. Mas, as metralhadoras logo calaram. A luta foi mais encarniçada no Galpão e na trincheira da primeira linha. Tiroteio de ensurdecer. Da Gargantinha as metralhadoras também abriram fogo contra nossa posição. As balas derrubavam folhas e galhos por cima de nós como nos dias de grande ventania. Penso que foi uma hora de fogo. Talvez menos.

Afinal, a corneta revolucionária tocou vitória. O tiroteio cessou. Mas lá haviam ficado 7 dos nossos. Um, foi encontrado morto mais tarde no Rio Branco, na floresta. Na lista geral foram dados como desaparecidos 14. Talvez algum a mais tenha fugido e, ferido, tenha caído enxágue em meio a mata sem fim. Do lado deles parece que morreram dois soldados e um tenente. Os que não puderam fugir foram presos. Até o chefe dos civis o tenente. Fábio Silva, de Araranguá, foi preso dentro de um pau oco em que se refugiara. O falecido Agostinho tinha sido atingido por uma rajada de metralhadora e estava agonizando. Pediu um cigarro, e um dos companheiros afastou-se um pouco e deu cabo dos seus sofrimentos. Os mortos foram enrolados em cobertores, e atirados numa vala pouco funda, seis numa vala só, cobertos com muita terra escavada do barranco. O local está a uns 4 metros da cruz da beira da estrada.

Agostinho foi enterrado no local mesmo onde morreu, a uns 20 metros da outra campa, mais abaixo, a uns cinco metros da estrada. A maioria de nós caiu prisioneiro. Logo que nos pegavam, tiravam nossa cinta, e arrancavam os botões das calças para que não pudéssemos fugir com facilidade, tendo que segurar as calças com uma das mãos. Com tiras rasgadas dos nossos cobertores do rancho amarraram os prisioneiros  dois a dois, encostando-os no barranco. Ali permaneceram até o dia seguinte, tendo aceso grande fogueira durante a noite. Nós, os feridos, fomos transportados, logo à tarde, até Rio Pinheiros, onde o exército revolucionário instalara farmácia de campo. Depois nos trancaram num quarto. Até nos trataram bem. Talvez porque eu expliquei que não fora por vontade que lá estávamos, e que fôramos enganados, dizendo que era pra cercar um bandido. Tirei do bolso um lencinho que o escrivão de Anitápolis me dera, um lencinho desses com a figura do Getúlio. Parece que se convenceram.

Dia seguinte um caminhão trouxe os demais prisioneiros. Encostaram todo mundo na parede ameaçando degolar todos. Tinham enorme facão no qual escreveram um nome: Fábio Silva. Era esse que mais procuravam, e que certamente seria morto. Mas, ninguém o denunciou. Batiam em cada um dizendo:

- Você é o Fabio Silva?

Contudo, os oficiais superiores não permitiram a morte de ninguém. Cinco dias  depois seguimos presos pra Palhoça, onde ficamos outros 5 dias amontoados dentro de uma sala, pequena para tanta gente. Então, nos soltaram.

Esse relato mostra uma versão sobre os acontecimentos do combate da Serra da Garganta, 16.10.1930, narrados por Sálvio Rodrigues Brasil, civil recrutado pelas hordas do governo para cercar supostos bandidos que passariam por aquele local. No entanto, mal sabia ele que os tais bandidos eram na verdade integrantes da coluna de Trifino Correa, que tinham a missão de ocupar o litoral catarinense. A Serra da Garganta se configurava como local estratégico já que o litoral era defendido pelos torpedeiros, que a qualquer sinal de movimento lançavam violentos disparos, portanto, a entrada das tropas através de Anitápolis os manteria fora do alcance dos torpedeiros, até a chegada a Florianópolis. (Cont.)

Copyright © 2022.
Todos os direitos reservados ao Portal 4oito