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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Ananda Figueiredo 09/10/2019 - 12:14 Atualizado em 09/10/2019 - 12:19

É o vídeo do momento nos grupos de WhatsApp: nele, as duas crianças da imagem e a mãe, aparentemente a responsável pela gravação e representada pela voz e pela mão que segura um cinto. Em tom ameaçador, a mãe pergunta repetidas vezes quem pegou a caneta da bolsinha e riscou o papel. Visivelmente com medo, a menina - que como você pode ver acima, aparenta ter cerca de três anos - diz repetidamente que foi o irmão. Depois de quase um minuto repetindo a pergunta e o comportamento, a mãe muda o tom e diz gentilmente que o desenho está lindo e quem o fez ganhará um presente. A mudança acontece também na menina, que diz "fui eu, fui eu, é pra você".


Vamos tentar olhar pela perspectiva da criança?
Esta criança fez um desenho. Que criança não gosta de fazê-lo? No entanto, é provável que já tenha sido punida tantas vezes a ponto de aprender que, independente do que goste, independente do que ache bom para si, o certo é ajustar seu comportamento aquilo que a mãe espera dela. A ponto de, inclusive, mentir.
Em outras palavras, esta criança está aprendendo a desrespeitar a si para satisfazer ao outro. Fique a vontade para imaginar de que formas este aprendizado se manifestará na adolescência ou na vida adulta.
Por hora, basta pensar de que maneira ela se comportará em novas situações semelhantes. Será que deixará de pegar a caneta? Será que falará a verdade? E, além do comportamento, será que ela se sente amada? Acolhida? Respeitada? E como está se construindo a relação entre os irmãos?

Por fim, o que o nosso comportamento, que passa por criar, filmar e/ou achar graça em situações como esta, fala de nós?

Houve uma época em que nós concordávamos com a escravização.
Houve uma época em que exilávamos pessoas com deficiência.
Houve uma época em que haviam justificativas e argumentos para que um povo dizimasse outro.
Houve uma época em que era aceitável que maridos batessem em esposas.
Houve uma época em que a ameaça do chefe e o medo do funcionário era o modelo.
Eu anseio pela época em que a violência contra crianças também seja uma lembrança do quão cruéis podemos ser quando olhamos para o outro sem o crivo da igualdade de direitos, do respeito e do amor.

Por Ananda Figueiredo 14/09/2019 - 11:15

Se você tem filh@s, com certeza já se perguntou:
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Será que estou agindo bem com relação à educação d@ meu pequen@?
Será que estou sendo permissiv@ demais?
Será que estou sendo dur@ demais?
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Estas mesmas dúvidas preocupavam a Dra. Jane Nelsen lá na década de 70, até que se deparou com os trabalhos em psicologia humanista de  Alfred Adler e Rudolf Dreikus.
Ainda no início do século passado, num momento em que a Primeira Guerra Mundial havia revirado muitos países e deixado marcas cruéis na sociedade, Adler e Dreikus tinham a ousadia de defender que as crianças eram sujeitos de direitos tal qual os adultos e que mereciam ser tratadas com princípios democráticos de dignidade e respeito.
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Estes princípios nortearam a prática e o trabalho de Nelsen, que desenvolveu a abordagem conhecida como "Disciplina Positiva", uma maneira de educar crianças e adolescentes  para que se tornem respeitosos, responsáveis e cooperativos através de um percurso que não é nem permissivo, ausente ou demasiadamente flexível, tampouco autoritário, violento, rígido ou desrespeitoso.
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A disciplina positiva defende uma educação firme e gentil ao mesmo tempo, que escuta e envolve a criança e que encoraja ao autoconhecimento e à autonomia.
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Agora que você já sabe o que é a DP, me conta o que achou!
Vamos conversar?

Por Ananda Figueiredo 23/07/2019 - 21:37 Atualizado em 23/07/2019 - 21:41

Filhos não vêm com manual.
Por favor, tire o tom de lamentação desta frase. Filhos não vêm com manual e isso é ótimo.

Manuais servem para coisas em que há um jeito certo e, portanto, um jeito errado de usar.
Repare:
Eu disse "coisas";
Eu disse "usar".
Por quê, então, filhos viriam com manual?

Não há manual porque não há certo e errado.
Há vida. E a vida, ah, você sabe, é muito mais complexa do que as coisas que podem ser usadas.

Desconfie, portanto, das certezas em relação aos filhos.
Até porque elas falam dos resultados, não dos processos.
Elas dirão, por exemplo, que o certo é que a criança durma no seu próprio quarto.
Dirão que o certo é amamentar a cada três horas, durante o dia, é claro. A noite, o certo é que os filhos durmam sem associar ao peito.
Dirão que o bebê precisa ganhar x gramas para se enquadrar à tal curva.
Dirão que embalos e colos são errados. Que acostumam mal.
Dirão que dentes inferiores nascem aos seis meses e superiores aos nove. Que bebês falam por volta de um ano e desfraldam com dois.
Dirão que devem engatinhar com seis meses e caminhar aos doze.
Dirão tanto! Dirão muito!
Mas como? E a que preço?

A vida é mais complexa, muito mais complexa do que essas métricas.
E sabe o que mais? Ela é fluida, espontânea, é um entrelaçar de tanto que não cabe em polaridades.
Nem certo, nem errado.
Nem bonito, nem feio.

Filhos são vidas. Como tal, têm desejos, vontades, preferências.
Têm história.
Têm ritmo.

Filhos não têm protocolo.
Não têm manual.
E isso é incrível!

Por Ananda Figueiredo 19/03/2019 - 08:20 Atualizado em 19/03/2019 - 08:29

A Momo voltou.

Se, no ano passado, a preocupação estava relacionada aos desafios propostos aos adolescentes, agora se refere à presença dela em vídeos no YouTube Kids, versão do aplicativo voltada para crianças. De acordo com a publicação da revista Crescer, ela pode aparecer no meio daqueles vídeos coreografados de músicas infantis - a lá Baby Shark - ou enquanto uma menina apresenta seu slime (ou seja, justamente nos vídeos que seu pequeno costuma assistir), e ensinar como encontrar um objeto perfuro-cortante para na sequência cortar os próprios pulsos. Sim, assustador.

Diante disso, recebi ontem dezenas de vezes a pergunta: "como abordo isso com meu filho?". Pois bem, vamos lá.

Primeiro, é importante lembrar que a criança se sente segura quando você passa esta sensação para ela. Portanto, procure tocar no assunto apenas quando você estiver no controle das suas próprias preocupações e medos.

Desta forma, você pode dizer à criança, de modo adequado ao vocabulário e faixa etária dela, que pessoas ruins estão usando os vídeos favoritos das crianças para assustá-las e ensiná-las a fazerem coisas que não são legais. Pode instruí-la a pausar o vídeo e chamar você caso apareça algum personagem que ela desconhece e, sobretudo,  que ela pode conversar com você sobre qualquer coisa, inclusive seus medos, e que você estará sempre ali para protegê-la.

Pode, ainda, terminar a conversa sentando ao lado dela para assistirem juntos alguns vídeos e, assim, tornar um momento de preocupação uma excelente oportunidade para desenvolver a conexão com seu filho ou filha. Até porque, ainda que, felizmente, ele não tenha tido contato com a Momo, mais dia ou menos dia seu pequeno terá contato com conteúdos que você desaprova e será a conexão entre vocês, o diálogo, a segurança do cuidado e do acolhimento, que o salvará deste mal.

 

Importante!

1) A recomendação vigente ainda é que crianças até 24 meses não tenham nenhum contato com telas e que entre dois e cinco anos tenham até 60 minutos de exposição, distribuídos em pequenos tempos ao longo do dia.

2) Supervisão, supervisão e supervisão. Você é o adulto e, portanto, aquele que decide quanto tempo ela ficará nas telas. Aproveite sua adultez para decidir também quais são os conteúdos com os quais ela terá contato, bem como acompanhar de perto esta interação.

Por Ananda Figueiredo 04/02/2019 - 12:00 Atualizado em 04/02/2019 - 13:10

Olá!

 

Se você me acompanha às quintas-feiras no Jornal das Nove, já sabe das mudanças que aconteceram por aqui: uma bebê chega e instantaneamente acelera o ponteiro do relógio. Mas, com o girar do ponteiro, vamos paulatinamente ajustando nosso ritmo, até que se torna possível ressuscitar um blog em coma.

A partir de hoje, voltamos a nos encontrar por aqui. Os assuntos da prosa você já conhece: comportamento, relacionamentos, educação de filhos, saúde mental e tudo o mais sobre o que nos quisermos, com boas pitadas de psicologia.

Ah! Meu convite continua de pé: entre, sente, sirva um café e vamos conversar.

 

Abraço,

Psicóloga Ananda

Por Ananda Figueiredo 12/08/2018 - 17:52 Atualizado em 12/08/2018 - 17:57

Oi, papai. Hoje minha conversa é com você.


Seu bebê nasceu e nós dois sabemos que você pode estar se sentindo um pouco alheio a essa troca tão intensa que está acontecendo entre a mamãe e o bebê. Além disso, eu sei, você não imaginou que seria assim. Mas quer saber a verdade? A mamãe também não. Ela está profundamente feliz por ter um bebê em seus braços e igualmente assustada por ter que cuidar e nutrir uma vida que depende tanto dela.
Ela tem medo. Medo de não ser suficiente, medo de errar, medo de não poder alimenta-lo, de não suportar o cansaço, de se perder de si mesma, de se perder de você. Ela tem medo até de confessar que tem medo.
E é aí que você entra. Você está ao lado dela, então pode ser o colo do qual ela tanto precisa.

Ela precisa da sua presença, de seu apoio incondicional, do seu carinho, olhar e abraço demorados, da sua escuta, da sua confiança e da sua corresponsabilização.
A mãe foi útero do bebê, você pode ser o dela. O bebê precisa dela, e ela precisa de você.
Isso não lhe faz menos pai ou menos importante, pelo contrário! Faz de vocês, juntos, rede, teia. Afinal, é só assim que vocês poderão ajustar o compasso e aprender a lidar com esses novos papéis com mais empatia, amor e leveza.

Feliz dia dos pais!

Por Ananda Figueiredo 09/08/2018 - 10:00 Atualizado em 09/08/2018 - 10:49

Em uma semana marcada pelas definições de chapas e candidaturas para as próximas eleições, curiosamente, coincidentemente - ou como você preferir chamar - cruzei novamente com o texto "Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Facista", uma obra de Adorno, filósofo e sociólogo alemão, inspirada no "Psicologia das Massas e Análise do Eu" de Freud.  Quero lhes apresentar aqui as relações que eu enxerguei entre nosso cenário político-social e o texto em questão.

Vivemos um momento de desalento, de sofrimento, de sofrimento, de violação de expectativas (o país estava crescendo, estava melhorando seus indicadores sociais e econômicos e, nos últimos tempos, tem regredido consideravelmente). Neste cenário, é comum que soframos com uma fragilização do nosso sentimento de pertença, o que é muito bem retratado pela quantidade de vezes em que ouvimos nos diálogos informais afirmações relacionadas ao desejo de sair do país ou da vergonha/falta de orgulho em ser brasileiro. Freud, Adorno e tantos outros já escreveram que momentos como estes nos impelem ao fortalecimento de grupos sociais, sejam religiosos, esportivos, de classe, comunitários e, evidentemente, políticos. O que todos estes grupos tem em comum? O ódio a um nomeado inimigo.

Grupos religiosos temem o demônio.

Times rechaçam o técnico, o atacante ou polarizam com o adversário.

Sindicato patronal x Sindicato dos trabalhadores. 

Esquerda x Direita.

Os inimigos estão bem claros, geralmente mais claros até do que a compreensão sobre as limitações das verdades do grupo em questão.

Foi assim no nazismo. É assim com os imigrantes/refugiados. Está assim nosso cenário político.

É claro que este ódio traz coesão social. De uma forma ou de outra, estamos agrupados e, em grupos, somamos forças e encontramos acolhimento para nossas dores e esperança no coletivo. Nossa fraternidade, ainda que parcial, está reestabelecida.

O texto de Adorno diz que este é o cenário perfeito para o surgimento do que ele chamou de "pequeno grande homem". Leia abaixo quem é este sujeito e me diga se vê alguma relação com o que temos vivido.

O pequeno grande homem poderia ser qualquer um de nós. Ele é alguém comum, tão comum que poderia compartilhar mesa com você no próximo almoço de domingo, trocando ideias aleatórias e falando amenidades. Ele surge em um cenário maior para comunicar a verdade, para falar aquilo que você também gostaria de falar. É alguém visto como autêntico, ou seja, alguém que não está, em uma primeira análise, fazendo discurso político; está falando o que pensa. Quando questionado, não necessariamente responde à pergunta, mas comumente se centra no ataque à quem o questionou ou retorna ao inimigo comum.

Outra característica do pequeno grande homem é que ele reproduz o discurso de seu inimigo, intencionalmente ou inconscientemente, de modo deformado. E o pequeno grande homem faz isso com tamanha habilidade e frequência que o discurso do inimigo só pode, "obviamente", ser objeto de ódio. Aqueles, por sua vez, que estão no outro extremo da polaridade, ou seja, não concordam conosco, que não fazem parte deste nosso grupo, são "obviamente" ignorantes, loucos (no sentido popular do termo), ou até vistos como pessoas corruptas, no sentido de que optam pelo meu inimigo porque estão, "obviamente", recebendo algum tipo de benefício com esta escolha.

O pequeno grande homem, na verdade, é um retorno à nossa fantasia infantil. Quando crianças, tínhamos em nosso pai, mãe ou naquele que ocupava nosso papel de referência, um grande herói, alguém capaz de nos proteger, salvar, resolver todos os nossos problemas e dificuldades porque era soberanos e possuía inquestionável caráter e inteligência. E, como já falamos outras vezes, situações de crise nos fazem buscar memórias de acolhimento e bem estar primitivas, como quando tomamos posição fetal em situações de choro compulsivo.

O problema de retomar a fantasia infantil é que, nela, temos a afetividade de uma criança e, assim, infantilizamos o debate e as relações - o gatilho perfeito para voltarmos à posição de herói-vilão, de bem-mal, de certo-errado, aquelas polarizações que já falamos tanto aqui e que enraizamos tão profundamente em nosso convívio que facilmente chegamos ao ponto de estragar definitivamente nossas relações.

Bem, é provável que você, leitor, que chegou ao final deste texto, esteja imaginando que eu vi este ou aquele candidato no pequeno grande homem de Adorno. E sim, eu vi. Mas não vi só este em que pensas agora, vejo muitos. Quantos candidatos cabem neste perfil? Sim, seu inimigo cabe aqui, mas o seu representante, provavelmente, também cabe. E aí, só nos resta pensar: será que o pequeno grande homem é capaz, realmente, de nos salvar de todas as mazelas sociais? E, ainda que sim, merece que eu pague como preço disso o adoecimento e até rompimento de minhas relações?

Por Ananda Figueiredo 10/05/2018 - 18:00 Atualizado em 11/05/2018 - 10:59

Você já leu aqui muitos textos sobre relacionamentos, muitos ainda sobre dicas para a educação e o desenvolvimento saudável dos nossos filhos. E aí, mesmo que não seja esta a intenção, muitas vezes estas dicas repercutem como mais uma regra do que fazer ou do que é proibido fazer enquanto pais e mães de crianças ainda pequenas.

Hoje, entretanto vamos deixar isso tudo um pouquinho de lado. Quero falar sobre a maternidade, quero falar com as mamães. Quantas expectativas você tinha quando soube que seu filho estava a caminho, não é mesmo? Quantos textos, quantas dicas do que fazer você se apropriou e planejou utilizar! Tudo isso somado aos inúmeros comentários, propagandas e outras tantas formas de incutir em você que o amor de mãe é incomparável e que ser mãe é maravilhoso! O que tenho a dizer sobre isso? Que tudo é verdade!

Amar um filho é diferente de amar qualquer outro serzinho no mundo, e pesquisar e se apropriar de teorias sobre como educá-los é um processo natural e saudável para aquelas que desejam ser boas mães – ou seja, todas nós. Mas, neste caldeirão, me parece que falta um ingrediente: não costumam nos dizer que ser mãe não é somente sinônimo de amor e felicidade. Ser mãe é abdicar. É cansar. É ficar angustiada, ansiosa. É sentir raiva. Ser mãe é mais um papel social das humanas que somos e, por consequência da nossa humanidade, um papel executado com imperfeição. E aí, é nessa hora, na hora da raiva, do desespero, do não saber o que fazer, que você prova ser uma boa mãe.

Parece-me que nosso desejo enquanto mães é fazermos do nosso fillho uma criança/futuro adulto feliz, certo? Pois bem, de uma coisa eu tenho certeza: a base de um filho feliz é uma mãe com saúde mental. Mas, afinal de contas, o que é ter saúde mental? Entre outras coisas, ter saúde mental significa compreender e aceitar nossas limitações e emoções e reagir proporcionalmente a cada uma delas (e, reparem, eu disse a cada uma delas, não só às boas emoções, ok?). Em outras palavras, admitir que está estressada, irritada, cansada, admitir que não sabe algo é tão importante para o desenvolvimento do seu filho quanto mostrá-lo o quanto você o ama, o quanto é feliz e sabida.

Pensando nisso, hoje minha dica é para você, mamãe: quando for necessário, esqueça momentaneamente os princípios da educação positiva, a idealização de mãe perfeita, e dê-se um tempo. Se precisar, ligue a TV para ele hoje. Coloque-o para dormir e sirva sua taça de vinho. Ou ainda, leve seu filho no parquinho e pegue seu celular para poder ter uns minutinhos sobre um assunto que não seja maternidade. Tudo bem, dê pizza, batata frita ou refrigerante para ele, só por hoje tudo bem. Se precisar ainda, ligue o som do carro bem alto para fugir um pouquinho do choro descontrolado enquanto canta bem alto a sua música favorita. Tudo bem, só por hoje, tudo bem.

Você é humana e, assim, imperfeita, lembra? Isso tudo não lhe fará menos mãe, pelo contrário: cuidar um pouco de você ensinará seu filho sobre a importância de cuidar-se e de reconhecer seus limites – uma das bases da felicidade e do bem estar. O que mais nós podemos querer, não é mesmo?

Ah! Feliz dia das mães reais!

Por Ananda Figueiredo 08/05/2018 - 11:50

O momento histórico do nosso país já revela: estamos, cada vez mais, buscando relacionamentos que compartilhem das nossas opiniões, visões, crenças e verdades. Se em outro momento o futebol nos dividia em fla flu, grenal ou criciúma contra Figueirense, agora este cenário se repete em larga escala: religião, low carb versus aqueles que não fazem dieta, Apple versus android, crossfits contra lutas marciais, direita contra esquerda. Nada contra o pensar e menos ainda contra o posicionar-se acerca de qualquer um destes temas. O ponto aqui é que, ao ignorar opiniões contrárias, as pessoas tendem a aderir cegamente a uma posição, doutrina ou sistema e a caminhar numa direção perigosa: a do fanatismo.

Aqui mesmo no blog nós já falamos sobre fanatismo outras vezes (confira aqui), então não vamos entrar neste mérito novamente. O ponto para nós hoje é por que, afinal, é tão fácil alinhar-se a um conjunto de pessoas que encontrou um Judas particular e culpá-lo por todo o caos do universo? Por que temos usado tão intensamente dos nossos relacionamentos para estabelecer um “nós contra eles” em quase todas as áreas das nossas vidas? Tá ai uma pergunta que a ciência busca responder há algum tempo.

Uma prova disso é o paradigma dos grupos mínimos, elaborado nos anos 1970, na Inglaterra. Neste experimento, o cientista agrupou pessoas por critérios irrelevantes (como o pintor favorito, por exemplo) e observou a conversa. Logo, os participantes criaram forte ligação com as pessoas de sua turma e passaram a exaltar suas qualidades, enquanto simultaneamente criticavam e hostilizavam as pessoas dos outros grupos, que elas não conheciam, mas chamaram, espontaneamente, de rivais.

Outro cientista, chamado Le Bom, um francês do século19, já dizia que, nas multidões unidas por paridade, é como se as personalidades, valores, enfim, se as pessoas individualmente se enfraquecessem e deixassem de usar a razão e passassem a ser regidas pela emoção, tornando-se facilmente manipuláveis.

Nós ainda podemos falar do experimento da prisão Stanford mas, como você pode assistir o filme que o narra, vou pular direto para o nazismo alemão. Você conhece a história: um grupo de pessoas julgava ser de uma raça superior, baseada numa verdade revelada, e assistia a morte coletiva de milhares de outras pessoas. E ai, como Hannah Arendt escreveu, um fenômeno surgia: o do distanciamento da responsabilidade e da culpa. A justificativa consciente era, basicamente: "Eu sou alemã, mas não estou matando ninguém, “só” estou replicando um discurso." É a cegueira coletiva que acaba criando o que ela chamou de banalidade do mal.

Enfim, grupos são extremamente saudáveis, acolhem nossas dores, nos ofertam apoio, mas podem também ser uma armadilha perigosa para o distanciamento da reflexão e a reprodução de verdades que, como todas as outras verdades, são parcialmente falsas ou minimamente questionáveis. É este pensamento que cria o estado islâmico, a guerra no estádio entre torcedores do atlético paranaense e vasco, ou as ações violentas em manifestações que, na sua origem, seriam pacíficas.

Por fim, resta dizer que relacionamentos precisam ser sustentados no diálogo e na liberdade . Mas, é importante dizer também que esta liberdade está circunscrita em certos limites para garantir os direitos e a integridade dos outros. E aí, quando tanto temos pedido por respeito e ética, que tal exercitá-los em companhia da autocrítica? Um bom exercício é treinar a capacidade de se abster de intervir na opinião do outro, mesmo que se desaprove ou se tenha o poder para calá-la ou até prendê-lo. Assim, continuaremos com nossas opiniões, grupos e relacionamentos, mas não haverá uma rachadura entre nós e o outro. Afinal, qual seria a graça do futebol se o rival fosse extinto? É só o diferente, este aí que você tanto critica, que lhe dá a oportunidade de escolher por aquele que lhe parece igual.

Por Ananda Figueiredo 04/05/2018 - 11:50

Se você abrir o Google agora e pesquisar técnicas de desfralde, vai observar a gigante quantidade de passo a passos: de tirar as fraldas no verão à permitir que a criança urine em si até que aprenda a ir ao banheiro. Agora, será que são efetivas?

Provavelmente você conhece algum caso em que técnicas como estas foram aplicadas e deram certo. Eu também conheço. No entanto, nem sempre, a médio prazo, elas são bem sucedidas. São muitos (muitos mesmo!) os casos em que a criança deixa de usar fraldas, mas desenvolve prisão de ventre ou enurese noturna (o popular "xixi na cama") até os 8, 9, 10 anos. Em outras palavras, o desfralde impositivo pode provocar mais trauma do que autonomia – ao menos para a criança.

Então, se o seu objetivo, dada sua rotina, seu trabalho, sua vida corrida, é que você, pai, mãe, adulto responsável, que você tenha autonomia, ok seguir um tutorial na internet. Agora, se a questão é a autonomia e o saudável desenvolvimento do seu pequeno, como já dissemos aqui outras vezes, respeite o seu tempo!

Não é difícil compreender que a criança tem o seu tempo quando fazemos uma analogia com o caminhar. Sim, eu sei, todos nós estamos ansiosos para ver os primeiros passinhos da criança. Inclusive, é um ponto de preocupação se estaremos presentes quando isso acontecer ou se acabará sendo na creche ou na casa da vovó. Por isso, imagine que seu bebê ainda engatinha, mas você, adulto, acredita que está na hora de ele caminhar sozinho. Assim, pega o bebê, o coloca com os dois pezinhos no chão e o diz para dar um passo. Você acha que vai dar certo?

É importante esclarecer que, grosso modo, a criança tem seu controle e desenvolvimento corporal no sentido cima-baixo. É por isso que ela vai primeiro deixar o pescoço firme e depois, somente depois, conseguir se apoiar e ficar de pé. A questão do desfralde vai na mesma linha, pois depende do controle dos esfincters, que ela só vai ter depois que essa "direção cima-baixo" concluir. Quer um sinal de que ela já tem controle vertical do corpo? A criança já consegue pular com os dois pés ao mesmo tempo.

 Tecnicamente, se diz que a partir dos dois anos a criança tem controle dos esfincters, mas isso é bem relativo. O importante aqui é o olhar atento dos adultos, que precisam ter paciência e disposição para notar os sinais cognitivos, emocionais e motores da criança. A seguir, você encontra um resumo bem objetivo das três fases que envolvem o desfralde e os sinais que conseguimos observar em cada uma delas:

Fase 1 - Passado: É o momento do "já fiz xixi", ou seja, a criança não identifica que está com vontade, só quando já o fez. O desfralde está longe!

Fase 2 - Presente: "Estou fazendo xixi" é a frase da vez, o que em outras palavras significa dizer que a criança identifica que fez xixi, se incomoda, mas ainda não consegue prever. O desfralde está a caminho, mas ainda não é a hora. Espere um pouquinho mais ;)

Fase 3 - Futuro: "Mamãe, papai, vou fazer xixi!" Aqui, a criança percebe e consegue avisar antes de fazer xixi, tem controle para segurar até que chegue ao vaso sanitário. Prontinho, chegou a hora de fazer o desfralde! 

E já que esta fase chegou, vamos a algumas dicas bem práticas:

1) Pressão da escola? D@s profs? Não cedam! No entanto, é comum que as crianças se incomodem de permanecer de fralda quando os coleguinhas da escola não usam mais. Em geral, ela mesmo pede para tirar. Neste caso, observe se a Fase 3 já chegou e inicie o processo.

2) Penico ou redutor de acento ajudam, tudo bem usá-los.

3) Meninos não precisam urinar de pé desde a infância, ok? Tudo bem se ele se sentir mais confortável sentadinho no vaso. Ele vai ter a vida toda para se ajustar ao padrão comportamental masculino para urinar.

4) Que tal tornar a hora do banheiro uma horinha feliz? Afinal, nem você vai para o banheiro sem o celular, não é mesmo? Que tal livrinhos? Ser acompanhada pela boneca ou super herói favorito?

5) Tudo bem levar a criança ao banheiro quando perceber os sinais, mesmo que ela ainda não esteja na Fase 3. Comunicação e respeito são a chave de tudo sempre que o assunto é educação de filhos (e em tantos outros momentos!)

E claro, desfraldar respeitando o desenvolvimento da criança requer seu tempo, paciência e abandono do hábito da comparação. Mas, tudo bem, afinal, infância não é competição, estão lembrados?

Por Ananda Figueiredo 03/05/2018 - 10:00 Atualizado em 03/05/2018 - 10:07

Maio começou e, assim, começamos a falar sobre maternidade - afinal, como você sabe, dia 13 será o dia das mães no Brasil. Aqui, então, não será diferente, e vamos portanto honrá-las com nossos parabéns, mas sobretudo usar este espaço para questionar algumas verdades supostamente absolutas no campo da maternidade e da maternagem. Vamos comigo?

Me parece que não havia outro caminho para percorrer se não iniciarmos discutindo o tal instinto materno e o amor de mãe, dois temas que sempre vêm a tona quando pensamos sobre as expectativas sociais para a mulher, mesmo antes desta optar por ter um filho, mas certamente quando ela inicia o processo de gestar.

Vamos ao tão falado instinto materno. Ora, o que é um instinto? Tecnicamente, instinto é um impulso natural, um comportamento pré-determinado que é comum em toda uma espécie. Ele apela para o nosso lado mais primitivo, mais "animalesco" e, assim, nada racional. Uma ação instintiva seria, então, um comportamento impulsivo, não pensado, que qualquer indivíduo de uma espécie em específico adotaria igualmente. Neste ponto começa nosso questionamento: para falarmos de instinto materno precisaríamos, então, que todas as mulheres, sem exceção, desejassem impulsivamente e primitivamente um filho. Deste modo, não haveria rejeição, não haveria abandono afetivo, nem mesmo a opção de entregar, voluntariamente, uma criança para adoção. Não é nosso ponto aqui mas, assim como não há, portanto, um instinto materno, não há, igualmente, um instinto paterno, pois ninguém está pré-determinado, biologicamente, a ser mãe e nem pai.

Desconstruído o princípio do instinto, te convido a entrar comigo no amor materno. Em uma sociedade que supõe uma pré-determinação para o ser mãe, não é estranho notar a cobrança do amor materno. No "mundo de Alice" que vendemos para todas as mulheres, o amor deve brotar como mágica, no minutinho em que olhamos para aquele serzinho que acaba de nascer. Mas, vamos refletir um pouco: o amor nasce assim, magicamente? Quando você e seu parceiro ou parceira se conheceram, por exemplo, o amor brotou no exato momento em que os olhos se cruzaram? Como já falamos, aqui cabe lembrar: amor a primeira vista é, em verdade, uma visão romântica de uma paixão avassaladora, que só se sustenta com o tempo através do convívio, do vínculo, da construção, ou seja, com o advento do amor. Com seu filho, mamãe, não é diferente. O amor materno vem do dia a dia, vem do olhinho brilhando quando o bebê lhe vê e da sua emoção em afagar um choro com um simples toque. O amor materno, como todo amor, é construção.

Então, não se culpe se, com o nascimento do seu bebê, diante de todas as mudanças, do repentino secundarizar de si, das responsabilidades, da rotina, do medo, da insegurança e, até mesmo, dos infinitos palpites, não se culpe se no meio de tudo isso não brotar um imediato amor. Ele ainda virá, eu tenho certeza, assim que a ambivalência entre a paixão pelo bebê e o luto pelo aparente fim de sua antiga vida se acomodarem dentro de você. Sim, você é capaz de amar este bebê, e você o fará. Não por uma pré-determinação biológica, ou seja, não porquê você não teve escolha. Pelo contrário: diante de todas as escolhas possíveis, você escolheu amá-lo. E viva o amor materno!

Por Ananda Figueiredo 13/04/2018 - 15:00 Atualizado em 13/04/2018 - 15:08

Esta semana recebi num grupo de whattsapp um texto que defendia a palmada com o argumento de que boa parte de nós, hoje adultos, apanhamos quando crianças e sobrevivemos a isso. Obviamente, não é a primeira vez que tenho contato com esse argumento, mas cada vez mais me incomoda perceber que nós avançamos em muitas coisas, mas ainda achamos ok bater em crianças. Por isso, decidi trazer para o blog uma reflexão sobre a disciplina positiva.

A disciplina positiva é uma moderna abordagem da psicologia da educação que acredita que “controlar” os filhos pelo medo ou pela dor só provoca vergonha e baixa auto estima, mas nenhum ou, no máximo, muito pouco resultado. Quem afirma isso é uma pesquisa recentemente publicada, que envolveu mais de 15 mil famílias de 20 países, especialmente com pais de crianças de 2 à 10 anos e com comportamento explosivo. A pesquisa confirmou que a melhor intervenção com as crianças, ou seja, aquela que obteve maiores e melhores alterações de comportamento, levava em conta a empatia e fazia com que a criança percebesse que suas atitudes têm consequência. Podemos dizer, portanto, que o exercício na disciplina positiva é nos colocarmos no lugar da criança - nunca no mesmo patamar para competirmos com ela.

Uma régua que o próprio estudo aponta é: elogiar bons comportamentos ao menos duas vezes mais do que recriminar por mau comportamento. Será que você já cumpre esta medida?

O fato é que nós vivemos pedindo por respeito nas nossas relações, então por que a criança não merece o mesmo? Além disso, todos nós sabemos que crianças aprendem pelo exemplo e não pelo que falamos. Então, do que adianta dizer que ela não pode bater o colega da escola se, quando isso acontece, o que nós fazemos é justamente bater?

Tudo bem, eu sei que você foi educado assim e sei mais ainda que nós temos uma incrível tendência a reproduzir aquilo que conhecemos. Mas pense um pouquinho: como é que você se sentia quando apanhava? Eu sei que é difícil mudar nossa forma de agir diante do mau comportamento dos pequenos, mas sei também que ttambém dói em você quando a criança apanha. Então, vou te dar uma dica: ficou incomodado? Estressado? Irritado? Vai perder a razão? Saia de perto, respire, retome seu controle. Afinal, é justamente o seu descontrole que aparece quando você bate,nunca o da criança.

"Agora, Ananda, quer dizer que eu nunca vou poder dar uma palmada?" Ora, se isso é realmente importante para você, lembre-se de uma coisa: você não quer espancar seu filho, eu tenho certeza disso. Mas, a verdade é que se da primeira vez nós dermos um tapa, a segunda pedirá por dois, depois por três, e aí recorreremos à cinta, à varinha, ou seja lá o que for, para não corrermos o risco de ouvir da criança aquilo que todos nós já dissemos um dia: “nem doeu”. Então, vamos lá: se não consegue abrir mão da palmada, use-a apenas diante do mau comportamento mais grave do seu filho ou filha. Na pior de todas as situações, no pior comportamento de toda a vida de seu pequeno. Se você, algum dia, tiver a certeza absoluta de que ele nunca fará nada pior, eu prometo que não vou te julgar pela palmadinha. Mas, será mesmo que você conseguirá ter esta certeza?

Por Ananda Figueiredo 22/03/2018 - 12:00 Atualizado em 22/03/2018 - 14:26

Ontem foi o Dia Internacional da Síndrome de Down e, como a data tem como princípio promover discussões e conscientização sobre a trissomia do 21, a programação da rádio, os telejornais, enfim, por toda parte, vimos informações e respostas às principais dúvidas da população geral – e isso é ótimo!

Enquanto lia e ouvia, dois aspectos comuns chamaram minha atenção: O primeiro deles, o respeito à diferença. O segundo ponto, a preocupação com a capacidade funcional e a procura por certezas de um desenvolvimento cognitivo e motor “adequados à idade”. Como ontem vocês ouviram as respostas de profissionais especialistas e que atuam diretamente com pessoas com síndrome de down, não vou respondê-las. O que quero trazer para a discussão é que, salvas as proporções, as perguntas e preocupações com relação ao desenvolvimento das crianças que não possuem trissomia do 21 são praticamente as mesmas.

Quando atendo crianças no consultório, a primeira sessão é sempre com os familiares responsáveis. E aí, independente do quadro clínico, costumamos ter dois momentos: o primeiro, em que, sem que eu pergunte, ressaltam tudo aquilo que consideram que a criança está à frente da sua idade; e um segundo momento, em que questionam o que seu filho deveria ser capaz de fazer e ainda não faz. Ontem mesmo ouvi a pergunta: “o que uma criança deve saber fazer aos quatro anos de idade?” E vou responder a vocês da mesma forma que respondi àquela mãe e àquele pai:

Uma criança de 2, 3, 4, 5 anos ou mais deve saber que está segura e como manter-se a salvo em lugares públicos e quando houverem pessoas que ela não conhece. Ela deve saber brincar, ser vilã, ser mamãe, ser médica, ser o que quiser. Deve saber que o mundo é mágico e que ela é mais ainda. Uma criança deve saber que é inteligente, capaz, maravilhosa e amada incondicionalmente. Fim.

Tendo dito isto, quero acrescentar o que nós, mães, tias, avós, pais, padrinhos, precisamos saber:

Que cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer cálculos a seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos na vida adulta. Nós, adultos, precisamos saber que ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa da turma nunca significou ser a mais feliz, nem mesmo o adulto mais bem sucedido no futuro. Estamos tão obstinados em garantir a nossos filhos e filhas todas as “oportunidades” que acabamos lhes oferecendo vidas com múltiplas atividades e cheias de tensão, tais como as nossas próprias vidas (inclusive, vidas das quais reclamamos e, com frequência, nos fazem adoecer). Nós precisamos saber que uma das melhores coisas que podemos oferecer a nossos filhos é uma infância simples e despreocupada. Precisamos saber que nossos filhos precisam de algo completamente alcançável: precisam de nós.

Vivemos um tempo em que revistas voltadas à maternidade nos ensinam a pôr na agenda minutos diários para ficarmos com os filhos e a reservarmos um sábado por mês para eles. Eu não sei para vocês, mas para mim isso é completamente absurdo! Estamos ausentes – este é um fato. Como compensação e em uma tentativa de acalentar nossa culpa, criamos uma competição entre nós adultos, mas que têm nas crianças os peões do tabuleiro. E, assim, aquele respeito à diferença do qual falamos lá no começo do texto fica absurdamente restrito aos programas de rádio e aos escritos do jornal, circunscritos a datas bem específicas como a de ontem e os quais compartilhamos rapidamente em nossas redes sociais. Em casa, ah não, em casa a diferença só é bem vinda se for para vencer.

Infância não é competição porque filho não pode ser troféu ;)

 

Este foi o tema do quadro Fica a Dica do Jornal das Nove de hoje. Se você quiser ouvir, aqui está o Podcast - o quadro inicia aos 41minutos.

Por Ananda Figueiredo 09/03/2018 - 21:30 Atualizado em 10/03/2018 - 19:20

Último post de convidada para a nossa série colaborativa da "semana da mulher" e não podia ser com nenhuma outra. O texto da Elaine Külkamp* traz a história, as dores e as alegrias por trás do corpo feminino que ela, como nós, habita. Recebam suas palavras:

 

"Agora sim... Após cuidar da casa, da filha, do trabalho e de mim, posso finalmente me sentar e definir (a meu modo), o que é ser mulher.

É ser multitarefas, hiperdinâmica e ultrarresistente.

É dar conta da casa, do trabalho, da família, de si mesma... ou não.

É ser mãe de um, dois, três, quatro... ou de nenhum.

É viver insegura.

E, acima de tudo, ser julgada o tempo todo.

A sociedade é cruel, e tenta nos empurrar goela abaixo padrões e posturas ditas ideais. Mas e nosso direito de escolha, como fica? E o amor próprio?

O corpo perfeito, cabelo sedoso e brilhante, pele de pêssego sem manchas e imperfeições, olhos brilhantes e vívidos, roupas ideais para a idade e ocasião determinados. Vou falar de experiência própria, que ilustrará um pouco o que quero dizer.

Nasci estrábica, quase cega de um dos olhos, sempre fui gordinha e assim, sofri bullying durante toda a infância e adolescência. Por conta disso, fiz quatro cirurgias em meu olho para tentar corrigir o desvio (sem muito sucesso), e mudei hábitos alimentares que me fizeram emagrecer alguns quilos.

Mas nunca foi suficiente.

O olho não estava no ângulo correto, os quilos perdidos nunca foram suficientes, a pele começava a mostrar sinais de envelhecimento. Mas eis que um acidente vem a mudar todo o panorama, e me mostrar que essas preocupações eram tolas.

Com 35% do corpo queimado, com manchas que me acompanharão por toda a vida, amadureci e enxerguei que somos muito mais que uma casca moldada pela imposição estética. Não somos bonecas de porcelana, belas, porém intocáveis. A perfeição existe na particularidade de cada uma de nós, e naquilo que não está visível e palpável.

Ser mulher é amar a si mesma, irradiar essa beleza e conquistar nosso espaço.

É ser dona de casa, empresária, frentista, astronauta, motorista, enfermeira, atleta, cigana... o que ela quiser!

É lutar por aquilo que somos ou queremos ser.

É lutar por nossos direitos e por respeito."

 

Ao falar de perfeição, você nos apresenta a beleza de sermos, todas, igualmente imperfeitas. Obrigada pela coragem e pela luta!

 

* Elaine Külkamp Silveira Venâncio é mulher, mãe, e sócia proprietária na empresa Armazém Burger & Bier

Por Ananda Figueiredo 08/03/2018 - 17:41 Atualizado em 08/03/2018 - 18:19

Você está acompanhando a série colaborativa de posts sobre "Ser Mulher"? Já tivemos textos da Patrícia Guollo, da Márcia Silva, da Laís Costa e, hoje, te convido a experimentar o olhar da incrível Deise Duarte*:

 

"Eu nasci mulher e desde o início não me perguntaram o que eu preferia.
Quando disseram que nasci mulher, vieram os brincos e laços, trazidos pelas mãos de todos aqueles que me amavam mesmo antes de saber "o que" eu seria.
A fragilidade começava a ser expressada nos tecidos macios e nas cores pastéis. 
Me disseram sempre que a delicadeza é que me caia bem.

Insistiram tanto nessa fragilidade que por algum tempo, acreditei na "proteção" de ser incapaz de fazer escolhas.

Hoje, não vejo proteção nas orelhas furadas, nos sapatos apertados de saltos altíssimos, nos peitos amassados e empinados, no jeans estreito e em tudo o que me disseram que eram "coisas de mulher".
Inclusive, por mais que digam que não há mais "Coisas de mulher", ainda vejo minhas amigas esconderem seus anticoncepcionais ou absorventes no fundo das sacolas na saída das farmácias, o que talvez demonstre que o termo não está em desuso. 

Como também não está em desuso o "papo de mulherzinha", sempre que mulheres se reúnem para conversar. Homens tem papo de macho. Mulheres têm “papo de mulherzinha”. Ser mulher dá ao mundo o direito de nos colocar no diminutivo.

Diminutivo onde também querem colocar a nossa voz...ah... Como mandam baixar a nossa voz.
Ela sempre é um incômodo.

Mulher argumentando é histérica, é descompassada.
Mulher que fala alto é deselegante.
Mulher bem sucedida é mal-amada.

Amélia que era a de verdade. Boa mesmo é a do lar. 

Fizeram tantas escolhas por nós… e nos beijaram, nos tocaram, nos enganaram. 
Nos deram ordens e  roupas cor de rosa.
Nos mandaram fazer silêncio.

Mas eles não sabiam que a gente ia conhecer o arco-íris e guardávamos um megafone chamado sororidade.

Eles não sabiam que ia chegar o dia que nasceríamos mulheres de nós mesmas é que faríamos nossas próprias escolhas: existir."

 

Deise, que bom poder encontrar com você no final do arco-íris. Obrigada!

* Deise Duarte é mulher, mãe de dois filhos e escritora.

Por Ananda Figueiredo 07/03/2018 - 09:06 Atualizado em 09/03/2018 - 07:01

Às vésperas do dia internacional da mulher, trago as palavras da corajosa e inspiradora Laís Costa*. Apreciem:

"Laís, o que é ser mulher para voce?"

Ao ser questionada, a verdade é que se passaram milhares de respostas na cabeça, e que elas jamais irão caber aqui nesse depoimento.  
Eu não consigo ser apenas mulher, eu sou mulher, negra, empreendedora, questionadora, em processo de empoderamento. 
Li e reli a frase a cima algumas vezes, tentando organizar o que é ser tudo isso. E o que todas essas em uma só me fez, e me faz.
Antes de me descobrir mulher, me descobri negra, ainda pequena 4/5 anos descobri o racismo, ao ponto de não querer ser mais dessa cor. Graças a uma mãe incrível que me ensinou de maneira lúdica naquela idade, e depois de tantas outras formas, tenho orgulho de quem sou.
Antes de me descobri mulher, me descobriram, em uma puberdade precoce, descobri o assédio.
 Aos 12/13 anos era assediada com certa frequência, quando naquela época ia ao centro pagar contas para minha mãe, até que aquilo se tornou rotina em todos os quintos dias úteis de cada mês.
Antes de me descobri mulher, descobri o racismo, o assédio, o preterimento, a hipersexualização. 
Quando me descobri mulher, descobri que tudo que eu tinha descoberto até então iria continuar em meus dias até hoje, e que teria que encontrar formas de conviver com tudo isso, e que pior, eu iria encontrar formas de agravar ainda mais. Ter uma personalidade questionadora, ser sonhadora, e querer empreender, e se não bastasse começar um processo interno de empoderamento e reconhecimento de si. 
Ser mulher para mim, é resistir, resistir todos os dias para um hoje e  um amanhã melhor.
É acordar na certeza que é possível passar por cada obstáculo, com dificuldade, ou não. 
Que é possível se conhecer, e se respeitar. Que é possível decidir o não, ao invés do sim. Que é possível escolher o difícil e ser feliz.
Que é possível olhar no espelho e amar o que se vê.
Que é possível ser o que eu quiser ser, ainda que o mundo não seja justo e igualitário. 
Porque sim, nós podemos!"

Lais, histórias como a sua nos empoderam. Termino a leitura do teu texto com a certeza de que nós podemos, sim!

*Lais Costa e designer de moda e empresária da marca Zakii

Por Ananda Figueiredo 06/03/2018 - 16:30 Atualizado em 06/03/2018 - 16:47

Você já elaborou as palavras da Patrícia Guollo? Seguindo nossa série colaborativa, hoje convido você a refletir com as palavras da inspiradora e questionadora Márcia Silva*:

 

"Ser mulher, estar mulher, se sentir mulher...

Para mim, o termo “mulher” tem um aspecto pejorativo. Não soa como realmente é. Usamos palavras menos fortes, como feminino, menina, moça, mocinha, senhora. A sociedade carrega tanto nas tintas que a palavra Mulher soa forte, sexual, posse, ou designa uma mulher inferior, como em “aquela mulher”, “mulher da vida”, “mulher fácil”, mulher do fulano. As outras são mocinhas, esposas, senhoras... Ao refletir sobre ser mulher, lutei contra essas primeiras impressões.

Cada fase da vida descobrimos as dores e as delícias de ser mulher, como diz a música. Na infância ficamos o tempo todo ajeitando vestidinhos e quando não usamos, lutamos para não parecer um moleque com aquela roupa, com aquele cabelo, com essa sujeira toda de brincar lá fora. Era legal ser menina na escola, porque a professora era mulher. Era chato ser menina para brincar porque as brincadeiras mais legais nos fazia parecer menino, andar com menino era divertido, mas não podia ser aquela-menina-que-só-anda-com-meninos que as mães das amiguinhas não deixava brincar. Descobri cedo que devia me comportar para ter a aprovação não só dos meus pais, mas dos pais das amigas também e da professora. Um pedaço fica para trás. A sociedade cobra uma mocinha.

Na adolescência, os aspectos de mulher florescem e você começa a receber olhares na rua. Vem a recomendação de não olhar para ninguém, passar na rua olhando para o chão. Vem a menstruação e você tem vergonha de estar menstruada. Não pode parecer que está menstruada, você tem cólicas, dores e aprende que precisa fazer tudo normalmente. Você descobre que tem cheiro de menstruação, que você pode engravidar, que se alguém mexer com você na rua a culpa é sua. Você já é uma mulher para fazer determinadas tarefas, mas muito criança para fazer outras. A sociedade cobra uma mocinha bem comportada e cheirosa, penteada, maquiada também.

Os primeiros relacionamentos nos mostram que ser mulher é esperar que o rapaz te convide. Se você convidar primeiro, é oferecida. Se sair e beijar no primeiro encontro é fácil. Se transar, é passada de mão em mão pelos “amigos” porque homem nenhum quer mulher fácil. Você não pode experimentar o sexo, a não ser que o rapaz queira, e então todos da família fazem de conta que você não faz sexo. Você descobre que se engravidar, o amor da sua vida não te dará suporte. Você será julgada por toda opção. Aborto? O rapaz paga mas o risco é seu. E você vai se derreter pelo rapaz que abre a porta do carro para você entrar. Mas se você tivesse um filho de outro relacionamento, ele nunca se casaria com você. Porque rapazes querem uma moça direita para se casar. Ele também precisa satisfazer as expectativas dos seus pais ao apresentar uma moça para se casar. Não uma mulher, ainda mais com filho já. A sociedade cobra moças direitas que escondem que fazem sexo. Elas não fazem, elas são virgens. Não são mulheres.

O divórcio é um aspecto interessante para ser mulher. Você já é mulher, decide que não quer estar casada com esse homem. Você perde todo o respeito da família, amigos do casal e dos amigos homens também. Eles se sentem no direito de te cantar da maneira mais abjeta possível porque você não tem nada a preservar (nem virgindade, nem casamento). Se você se separou porque o marido te traiu foi porque ele foi buscar fora o que não tinha em casa: uma mulher magra, sexy, sempre disposta com um copo de cerveja gelada na mão, de calcinha.  Se separou porque não quer mais viver com ele, é porque quer festar e transar com todo mundo e tem amantes por todos os lados. Uma máquina sexual, que era fria com o marido. Uma puta. Você pode ser, mas ninguém pode saber. A sociedade exige uma puta casada, que faça o Sr. Gray corar, mas com um marido que às vezes é grosseiro, não sabe fazer sexo e não se importa se você tem orgasmos. Porque exigir orgasmo é coisa de feminista mal comida. Se você não tem orgasmo com seu marido é porque você é fria.

Com filhos, a sentença é até engraçada, se não fosse trágica. Se o filho se der bem na vida, foi porque teve um pai rígido e educador. Se não corresponder ao que a sociedade espera de alguém bem sucedido, teve uma mãe que lhe fazia todas as vontades. A sociedade exige uma mãe incansável, com atitudes impecáveis. Não pode se queixar porque na hora de fazer foi bom, na hora de abrir as pernas não pensou e ser mãe é o destino sagrado de toda a mulher, não se queixe porque tem mulher que queria ter um filho e não pode.

Mas como nem tudo são espinhos no caminho, ter filhos é muito bom, o abraço, o cheiro do filho, o amor que aquelas criaturinhas te proporciona é algo insubstituível, Você descobre o que é amar e ser amada, com os filhos.

Eu descobri a beleza de ver meu corpo envelhecendo e minha mente amadurecendo. Eu desejo e gosto de ajudar outras mulheres a superar etapas. Eu aprendi a não julgar uma mulher por suas atitudes, mas ainda preciso me trabalhar muito mais para não reproduzir o que a sociedade me ofereceu por minhas atitudes. Eu quero que minha filha se sinta livre para amar o seu corpo e usar o seu corpo para ter experiências maravilhosas de vida. Eu quero que minha mãe ame o seu corpo e se aceite, valorizando a sabedoria que ela conquistou, aprendendo a duras penas por essa vida.

Eu amo a minha experiência como mulher!"

 

Márcia, graças à sua experiência como mulher, você nos permite refletir sobre as nossas. Obrigada pela sensibilidade nas palavras!

 

* Márcia Silva é mulher, mãe, educadora física e empresária na Personal Studio Academia.

Por Ananda Figueiredo 05/03/2018 - 22:00 Atualizado em 06/03/2018 - 09:59

Na última semana comecei a receber os convites para falar sobre ser mulher. Aceitei. Mas, percebi a limitação do meu conceito de mulher, circunscrito àquilo que EU vivi. Por isso, aqui será diferente: todos os dias, um texto escrito por uma mulher, especialmente para o blog.

Deleitem-se (ou revoltem-se) com as palavras da Patrícia Guollo*:

 

"Confesso que eu escrevi e apaguei algumas vezes para tentar achar uma definição do que é ser mulher, me recusei a usar o Google e preferi ouvir a minha voz interior. Sinceramente, eu só consigo pensar em luta. Então, tudo que eu vou escrever aqui é com o meu coração.

Se eu tivesse nascido homem eu não seria nem metade da pessoa que eu sou. Não, eu não estou diminuindo os homens. Mas cada dificuldade que eu passei por ser mulher me tornou mais forte, aprendi com elas. Então os obstáculos no meu caminho fizeram com que eu percebesse cada vez mais a minha importância no mundo, o meu valor e o meu poder de construir a minha história. Isso me mudou.

Talvez você esteja lendo esse texto e pensando: bobagem! Pois é, ser mulher me ensinou que às vezes as pessoas iriam achar que minhas dores e aflições não passavam de bobagens ou que eram coisas que eu mesma inventei. Por muito tempo acreditei nisso e carreguei o peso de uma culpa que nunca foi minha. E sim, as vezes é melhor ficar quieta. Mas que seja por opção nossa e não por opressão.

Ser mulher é lutar contra as pequenas e grandes vozes que volta e meia tentam nos calar, nos encaixar e nos fazer pensar que não podemos, ou que só podemos se seguirmos regras pré estabelecidas e nos encaixarmos em padrões inalcançáveis.

Quem é mulher sabe que nadar contra a maré todos os dias não é fácil. Por isso volta e meia a gente até agradece quando ela está a nosso favor. Essa luta está longe de acabar, porém, eu estou determinada a vencer todas as barreiras, todos os obstáculos e a falar mais alto (se for preciso) quando uma voz quiser colocar palavras na minha boca.

Digo isso porque na minha vivência ser mulher é se posicionar sempre. Mesmo sem poder medir o efeito que isso vai ter sinto que não posso mais deixar que ninguém diminua ou desmereça o que é nosso, nosso corpo, nosso comportamento, nossa forma de viver, nossas escolhas e nós mesmas. Ser mulher é somar essas pequenas vitórias com a sensação de estarmos fazendo a nossa parte em prol de um mundo melhor para todas!

Obrigada pela oportunidade de expressar o que sinto a respeito do que é ser mulher!"

 

Patrícia, obrigada eu por compartilhar o seu sentir!

 

*Patrícia Guollo e psicóloga, youtuber e escritora  no www.entrecabelosebarba.com.br.

Por Ananda Figueiredo 01/03/2018 - 21:00 Atualizado em 01/03/2018 - 23:39

O Supremo Tribunal Federal acaba de decidir que pessoas trans poderão alterar seu nome e gênero no registro civil sem a necessidade de realização de cirurgia de mudança de sexo. Além disso, decidiu também que não será preciso autorização judicial para a requisição da alteração no documento, que poderá ser feita em cartório.

(Se você não é um expert nas terminologias, siga para o final do texto. Lá você encontrará um glossário com os termos centrais nesta discussão.)

Mas por que mesmo isto é uma questão social e judicial?

Minha pergunta se deve ao fato de que, na psicanálise, vemos o corpo físico como uma estrutura que dá suporte à identidade do sujeito. Su-por-te, ou seja, não é a identidade em si. Em contrapartida, meu nome é meu cartão de apresentação; ele me identifica e me permite existir na e para a sociedade.

Por isso a importância da decisão do STF. Agora, a existência de uma parcela significativa da população será adequada e devidamente nomeada. Pronto! Já podemos retomar nossa existência cotidiana, do alto do conforto e do privilégio de termos nossa identidade respeitada desde o nascer.

 

STF autoriza transgêneros a mudar nome e gênero sem precisar de cirurgia, laudo médico ou autorização judicial

 

Glossário:

Sexo biológico: Determinado pelos genitais, sistema reprodutivo, cromossomos e hormônios. Pode ser feminino, masculino ou intersexo (quando há presença de determinantes tanto masculinos quanto femininos).

Identidade de gênero: Maneira como alguém se sente e se apresenta para si e para os outros, que pode ser como mulher, como homem, como gênero neutro ou como bigênero. Na maior parte das vezes, o sujeito se identifica com o gênero correspondente ao seu sexo biológico, ou seja, nasce com um corpo masculino e se sente homem ou nasce com um corpo feminino e se sente mulher. Indivíduos assim são chamados de cisgêneros. Mas, para algumas pessoas, não acontece dessa maneira.

Transgênero: indivíduo cuja identidade de gênero não corresponde ao seu sexo biológico. De maneira geral, sentem um grande desconforto em habitarem seu corpo, já que não se identificam com seu sexo biológico. Por isso, têm a necessidade de adotar roupas características do gênero com o qual se identificam, se submetem a terapia com hormônios e realizam procedimentos para a modificação corporal, tais como: a colocação de implantes mamários, a cirurgia plástica facial, a retirada das mamas, a retirada do pomo de Adão.

Transexual: Transgênero cujo sentimento de mal-estar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo anatômico resulta no desejo de submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a um tratamento hormonal a fim de tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo desejado.

Por Ananda Figueiredo 28/02/2018 - 18:00 Atualizado em 01/03/2018 - 07:47

Homossexualidade: aqui está uma palavra que, para muitos, já gera desconforto só na pronuncia. Hoje, especificamente, eu não vou falar sobre o preconceito ou o adoecimento dele decorrente. Vou só responder a pergunta que dá título à este texto, numa tentativa de esclarecer e conscientizar. Veja só:

1)Opção sexual?

Terminologia ultrapassada. A ciência já atestou que ninguém escolhe ser homossexual, apenas se é. Vou usar o exemplo que um paciente homossexual compartilhou comigo: imagine o seguinte: você é um homem hétero e se depara com duas mulheres, uma baixa e outra alta, mas se interessa apenas pela alta. Imagine, então, que isso venha a ser um padrão: você se interessa, sexualmente, apenas por mulheres altas – você não opta por ela conscientemente, apenas não deseja sexualmente, não tem atração, por mulheres baixas. Ou seja, nem você tem opção sexual ;)

2) Traumas causam homossexualidade?

Nenhum estudo científico comprova isso. NENHUM.

3) Erro dos pais?

A educação, o convívio e contexto familiar podem, sim, resultar em dificuldades e sofrimento psíquico. Em termos leigos, podem trazer problemas no desenvolvimento do sujeito. Mas, como a homossexualidade não é um problema, mas sim uma característica, um modo, dentre tantos, de existir no mundo, não há erro de pais que possam causar o seu desenvolvimento.

Bônus: Homossexualidade ou homossexualismo?

O sufixo "ismo" é indicativo de uma condição patológica. Mas, como já falamos aqui, não se trata de uma doença. Além disso, é ele que usamos para indicar uma doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso (parece complicado, mas tenho certeza que você já pronunciou "cristianismo" ou "marxismo"). Mas se, com falamos, é algo intrínseco ao sujeito, não é possível educar alguém para adotar a forma "homo" em sua sexualidade. Por isso, usamos o termo "homossexualidade", ok?

 

Agora que você chegou ao fim deste texto, quem sabe deixa de se arrepiar com uma palavra que, em verdade, só fala sobre o amor?

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