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Ser mulher, por Márcia Silva

Por Ananda Figueiredo 06/03/2018 - 16:30 Atualizado em 06/03/2018 - 16:47

Você já elaborou as palavras da Patrícia Guollo? Seguindo nossa série colaborativa, hoje convido você a refletir com as palavras da inspiradora e questionadora Márcia Silva*:

 

"Ser mulher, estar mulher, se sentir mulher...

Para mim, o termo “mulher” tem um aspecto pejorativo. Não soa como realmente é. Usamos palavras menos fortes, como feminino, menina, moça, mocinha, senhora. A sociedade carrega tanto nas tintas que a palavra Mulher soa forte, sexual, posse, ou designa uma mulher inferior, como em “aquela mulher”, “mulher da vida”, “mulher fácil”, mulher do fulano. As outras são mocinhas, esposas, senhoras... Ao refletir sobre ser mulher, lutei contra essas primeiras impressões.

Cada fase da vida descobrimos as dores e as delícias de ser mulher, como diz a música. Na infância ficamos o tempo todo ajeitando vestidinhos e quando não usamos, lutamos para não parecer um moleque com aquela roupa, com aquele cabelo, com essa sujeira toda de brincar lá fora. Era legal ser menina na escola, porque a professora era mulher. Era chato ser menina para brincar porque as brincadeiras mais legais nos fazia parecer menino, andar com menino era divertido, mas não podia ser aquela-menina-que-só-anda-com-meninos que as mães das amiguinhas não deixava brincar. Descobri cedo que devia me comportar para ter a aprovação não só dos meus pais, mas dos pais das amigas também e da professora. Um pedaço fica para trás. A sociedade cobra uma mocinha.

Na adolescência, os aspectos de mulher florescem e você começa a receber olhares na rua. Vem a recomendação de não olhar para ninguém, passar na rua olhando para o chão. Vem a menstruação e você tem vergonha de estar menstruada. Não pode parecer que está menstruada, você tem cólicas, dores e aprende que precisa fazer tudo normalmente. Você descobre que tem cheiro de menstruação, que você pode engravidar, que se alguém mexer com você na rua a culpa é sua. Você já é uma mulher para fazer determinadas tarefas, mas muito criança para fazer outras. A sociedade cobra uma mocinha bem comportada e cheirosa, penteada, maquiada também.

Os primeiros relacionamentos nos mostram que ser mulher é esperar que o rapaz te convide. Se você convidar primeiro, é oferecida. Se sair e beijar no primeiro encontro é fácil. Se transar, é passada de mão em mão pelos “amigos” porque homem nenhum quer mulher fácil. Você não pode experimentar o sexo, a não ser que o rapaz queira, e então todos da família fazem de conta que você não faz sexo. Você descobre que se engravidar, o amor da sua vida não te dará suporte. Você será julgada por toda opção. Aborto? O rapaz paga mas o risco é seu. E você vai se derreter pelo rapaz que abre a porta do carro para você entrar. Mas se você tivesse um filho de outro relacionamento, ele nunca se casaria com você. Porque rapazes querem uma moça direita para se casar. Ele também precisa satisfazer as expectativas dos seus pais ao apresentar uma moça para se casar. Não uma mulher, ainda mais com filho já. A sociedade cobra moças direitas que escondem que fazem sexo. Elas não fazem, elas são virgens. Não são mulheres.

O divórcio é um aspecto interessante para ser mulher. Você já é mulher, decide que não quer estar casada com esse homem. Você perde todo o respeito da família, amigos do casal e dos amigos homens também. Eles se sentem no direito de te cantar da maneira mais abjeta possível porque você não tem nada a preservar (nem virgindade, nem casamento). Se você se separou porque o marido te traiu foi porque ele foi buscar fora o que não tinha em casa: uma mulher magra, sexy, sempre disposta com um copo de cerveja gelada na mão, de calcinha.  Se separou porque não quer mais viver com ele, é porque quer festar e transar com todo mundo e tem amantes por todos os lados. Uma máquina sexual, que era fria com o marido. Uma puta. Você pode ser, mas ninguém pode saber. A sociedade exige uma puta casada, que faça o Sr. Gray corar, mas com um marido que às vezes é grosseiro, não sabe fazer sexo e não se importa se você tem orgasmos. Porque exigir orgasmo é coisa de feminista mal comida. Se você não tem orgasmo com seu marido é porque você é fria.

Com filhos, a sentença é até engraçada, se não fosse trágica. Se o filho se der bem na vida, foi porque teve um pai rígido e educador. Se não corresponder ao que a sociedade espera de alguém bem sucedido, teve uma mãe que lhe fazia todas as vontades. A sociedade exige uma mãe incansável, com atitudes impecáveis. Não pode se queixar porque na hora de fazer foi bom, na hora de abrir as pernas não pensou e ser mãe é o destino sagrado de toda a mulher, não se queixe porque tem mulher que queria ter um filho e não pode.

Mas como nem tudo são espinhos no caminho, ter filhos é muito bom, o abraço, o cheiro do filho, o amor que aquelas criaturinhas te proporciona é algo insubstituível, Você descobre o que é amar e ser amada, com os filhos.

Eu descobri a beleza de ver meu corpo envelhecendo e minha mente amadurecendo. Eu desejo e gosto de ajudar outras mulheres a superar etapas. Eu aprendi a não julgar uma mulher por suas atitudes, mas ainda preciso me trabalhar muito mais para não reproduzir o que a sociedade me ofereceu por minhas atitudes. Eu quero que minha filha se sinta livre para amar o seu corpo e usar o seu corpo para ter experiências maravilhosas de vida. Eu quero que minha mãe ame o seu corpo e se aceite, valorizando a sabedoria que ela conquistou, aprendendo a duras penas por essa vida.

Eu amo a minha experiência como mulher!"

 

Márcia, graças à sua experiência como mulher, você nos permite refletir sobre as nossas. Obrigada pela sensibilidade nas palavras!

 

* Márcia Silva é mulher, mãe, educadora física e empresária na Personal Studio Academia.

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