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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Ananda Figueiredo 06/05/2022 - 16:03 Atualizado em 06/05/2022 - 16:12

Você sabia que mais de 70% das mulheres se afastam do mercado de trabalho formal nos dois primeiros anos de seus filhos?
E que, com ou sem filhos, mulheres são preteridas em entrevistas de emprego porque se supõe que serão menos comprometidas ou eficientes por terem filhos ou quando os tiverem?
Que, quando conseguem a contratação, mulheres recebem em média 20,5% menos do que homens nos mesmos postos de trabalho? E que mulheres-mães recebem 7,9% do que mulheres sem filhos?

Nossa cultura é excludente com mulheres-mães, inclusive no mercado de trabalho formal.

Diante deste cenário e pelo desejo e compromisso de estarem mais próximas dos seus filhos e filhas, acompanhando seu crescimento e desenvolvimento, o empreendedorismo materno surge como alternativa de renda e da possibilidade de continuar a sonhar - para si e para os seus.

Nesta esteira, a primeira ação do Maio Furta-Cor, campanha nacional pela saúde mental materna, em Criciúma será inteiramente voltada para a condição de trabalho de mulheres-mães da região. É que nós acreditamos que saúde mental materna se faz, primeiro, com dignidade e renda, e te convidamos a compor conosco esta grande onda de cuidado. Atenção ao convite!

feira de economia materno-solidária em Criciúma
E mais! Neste dia teremos também um estande de pré-seleção de mulheres-mães para as vagas disponíveis na La Moda, empresa parceira do evento!

Você vem?
Te esperamos lá.

Por Ananda Figueiredo 13/04/2022 - 19:01 Atualizado em 13/04/2022 - 19:02

Você já ouviu alguém dizer que o bebê intraútero sente tudo o que a gestante sente?

Pois bem, venho te contar que isso não é bem verdade.

O que a gente sente, sente intimamente atravessado pela linguagem. É que é a linguagem que dá sentido para o sentir. Explico:

Uma gestante caminha por uma rua escura e, num dado momento, se assusta com um barulho que não identifica. Pensa: "será que serei assaltada?". Pelo corpo, uma descarga de adrenalina corre, chega à placenta, que faz chegar ao bebê. 
Uma gestante chega em casa e, ao abrir a porta, toma um susto com o coro de "surpresa!" dito por pessoas amadas que, de tanto carinho, lhe organizaram um chá de bebê surpresa. Pelo corpo, uma descarga de adrenalina corre, chega à placenta, que faz chegar ao bebê.

Para a gestante, há uma grande distância entre o medo de ser assaltada e o cuidado de seus amados. Para o bebê, só há a descarga de adrenalina.

Não que isso seja pouco, nem também que seja muito. É, e só, uma condição do habitar o corpo de um outro.

Por outro lado, para este outro, ou melhor, para esta gestante, pode haver um segundo sentido: será que meu bebê sentiu o medo que senti? Será que meu bebê sofreu com meu susto? Será que eu falhei enquanto cuidadora deste serzinho que ainda nem nasceu?

Por fim, pergunto: a que serve afirmar que o bebê sente tudo que a pessoa gestante sente? Daqui, de onde vejo, parece que apenas para cultivar nela uma culpa inevitável, a culpa por ser alguém que sente e dá sentido.

Por Ananda Figueiredo 06/04/2022 - 17:11 Atualizado em 06/04/2022 - 17:12

A experiência do pós-parto imediato pode ser bem desafiadora. Os relatos de estranhamento e até decepção com a maternidade são bastante frequentes na escuta clínica e, em geral, compõem um tanto dos estados ambivalentes e até adoecidos das mulheres e parturientes nas primeiras semanas envolvidas na função materna.

Não é novidade: sabemos que o pós-parto é um momento crucial de cuidados para garantir a sobrevivência de parturiente e do recém-nascido, e também para apoiar o desenvolvimento e o bem-estar físico, mental e emocional de ambos e da família. Ainda assim, em todo o mundo, mais de três em cada 10 mulheres e bebês atualmente não recebem cuidados pós-natais nos primeiros dias após o nascimento - o período em que ocorre a maioria das mortes maternas e infantis. De todo modo, quando recebem, vale observar: quem cuida das consequências emocionais do parto? Dos desafios psíquicos de desfazer-se de si e dos outros e fazer-se mãe?

Mora também aí a relevância da diretriz lançada no ultimo dia 30 pela Organização Mundial da Saúde. O documento, que completa uma trilogia de diretrizes para atenção integral à maternidade durante a gravidez, durante e após o parto, visa a promoção de uma “experiência pós-natal positiva”, e está centrado no atendimento das necessidades de todas as pessoas que dão à luz e aos seus bebês e na defesa de um atendimento em saúde em que as todas, todos e todes sejam tratadas com dignidade e respeito e possam participar ativamente nas decisões.

Entre as mais de sessenta recomendações, a OMS destaca que as mulheres, parturientes e famílias devem receber aconselhamento sobre aleitamento materno, acesso à contracepção pós-natal, e triagem para depressão, ansiedade e outros sofrimentos mentais e emocionais no pós-parto.

Com essa diretriz, a luta em defesa ao cuidado com a saúde mental materna ganha corpo e força internacional!

Afinal, só é possível mudar o mundo cuidando de quem cuida de todo mundo, não é mesmo?

Por Ananda Figueiredo 29/03/2022 - 09:26 Atualizado em 29/03/2022 - 09:28

Estou acompanhando com um tanto de incredulidade os comentários sobre a violência ocorrida na premiação do Oscar na noite de domingo. De antemão, quero reafirmar aqui meu compromisso com a não-violência. Agora, dito isso, sinto que é mais que hora de termos pés bem fincados na diferença entre não-violência e passividade.

Jada Pinkett Smith foi vítima de violência de gênero cometida pelo apresentador que ocupava o palco de um dos eventos mais acompanhados do mundo. O dito humorista com histórico na piada que faz graça em cima da dor zombou de uma questão de saúde de Jada, a respeito da qual ela já vinha compartilhando seu sofrimento, e ainda em cima da longa luta travada para que os cabelos da mulher negra – e ela própria – possam ocupar espaços como aquele.

Entre quem vestia roupas de grife e ocupava seu lugar em frente às câmeras, e quem assistia nas transmissões ao vivo no mundo todo, o riso fez coro quase unânime. Jada fez silêncio, mas como se deveria reagir à violência inesperada? Como se deveria reagir à algo que passa como risível aos ouvidos dos demais?

O companheiro, a quem a noite era especialmente importante, mas que também compreendia parte da dor de Jada, não se absteve. Marcou, com as estratégias que conhece ou que lhe foram possíveis naquele momento, a violência sofrida. Bancou o risco. Diluiu o riso. Produziu incômodo para além daquele instaurado sobre Jada.

Pensemos sobre a forma. Reflitamos sobre os porquês de não haver nada além de um murro na cara para ofertar naquele momento. Nos comprometamos com uma educação que instrumentalize pessoas para usar da palavra até às últimas consequências. Mas não igualemos, nunca, jamais, a violência e a defesa. 

Em última instância, o que eu vejo naquela cena é que somente uma pessoa se levantou e agiu no sentido de reestabelecer o limite frente ao intolerável: a violência do tal apresentador e de quem, com ele, achou graça.

Por Ananda Figueiredo 23/03/2022 - 09:35 Atualizado em 23/03/2022 - 09:37

A conversa sobre raça/cor parece guardar uma escala de pantone: entre marrom e preto. É assim para você? Pois bem, chegue aqui, vamos conversar...

Identidade étnico-racial não é assunto de negro, nem mesmo assunto sobre pessoas negras, ou sobre a relação com pessoas negras. É assunto de quem tem identidade. É assunto de quem tem raça/cor.

Qual a cor da pele do seu filho? Que cor tem a sua pele? Quais traços e marcas de origem seu corpo traz? Que origem indica seu sobrenome? Qual a história da sua família? Qual a sua ancestralidade e como você a apresenta para seus filhos e filhas?

Te faço estas perguntas para te localizar na questão: você também tem uma identidade étnico-racial. Seu corpo tem cor, tem traços, tem marcas, e, com este corpo, você ocupa um lugar na estrutura socioracial. Seu filho, sua filha, também ocupam. Que lugar é esse? Quais ganhos ele guarda? Quais riscos ele implica?

É preciso racializar a educação das crianças. É preciso racializar as relações e dinâmicas familiares. É preciso racializar a vida e o cotidiano social. E é preciso mais do que livrinhos na estante e bonecas negras de presente para tal.
Como quase tudo, não é de fora para dentro, é de dentro para fora.

Por Ananda Figueiredo 17/03/2022 - 16:35 Atualizado em 17/03/2022 - 16:44

Breve passada pelo feed das redes sociais e o bombardeio me ataca. Não falo da Ucrânia ou das outras tantas guerras cujos soldados têm corpos com mais melanina e, portanto, nem mesmo os nomeamos. Falo do bombardeio de ofertas e relatos de pessoas que pagaram pela harmonia. Não falo da harmonia em seus lares, não falo da harmonia familiar, não falo da harmonia entre nações ou sobre as crises humanitárias. Falo do que me falam:

Harmonia da face. Harmonização facial.

Curiosamente, enquanto escrevo este texto, o software que recebe minhas palavras insiste em corrigir "facial" para "fácil". Em tempos tão caóticos, pode mesmo parecer mais fácil conquistar a harmonia pela via do “meu bolso, minhas regras”. Para além do que a inteligência artificial me indica de caminho, sigo a fim de saber mais sobre a harmonia prometida: disfarçar marcas do tempo. Rejuvenescer. Corrigir o sorriso. Paro aqui, mas insisto na palavra. Sabendo que o Aurélio diz que harmonizar é igual a estar em concordância, me pergunto em concordância com quem ou o quê está a face rejuvenescida, ou mesmo qual desarmonia guarda um sorriso discordante (de quem ou o que, não sabemos – ou será que sabemos?).

Encerro este breve texto com uma provocação: disfarçar para literalmente caber no que se diz sobre seu corpo e, assim, sua forma de existir no mundo, seria garantia de harmonia ou de cárcere?

Ouça este comentário no podcast do 4oito. Ananda Figueiredo participa do programa Ponto à Ponto, com Pity Búrigo, todas as sextas-feiras na Som Maior.

 

Por Ananda Figueiredo 07/03/2022 - 12:35

Guerreira.
Forte.
Poderosa.
Incansável.
Insubstituível.

Lá vem o dia 8 de março e os seus maravilhosos jargões anuais colecionáveis que habitam da campanha publicitária ao cartão que acompanha a rosa distribuída pelo setor de RH.

Nós agradeceremos pelas mensagens. Posaremos com os presentes. Acenaremos, como boas e belas que somos. Distraídas, ou em plena negação, nos agarraremos às carícias sem perceber as correntes que renovarão nosso laço com as pesadas bolas de ferro que carregamos cotidianamente.

Guerreira.
Forte.
Poderosa.
Incansável.
Insubstituível.

Da repetição do reconhecimento interesseiro, criamos nossos próprios bordões – que mais parecem justificativas para nós mesmas, a fim de não perdermos o pequenino posto de poder. O meu preferido é: "se eu não fizer, ninguém faz". Você já reparou no que isso diz? "Eu sou insubstituível". Me lembro imediatamente da cena clássica da pessoa que, num calor de 40°, encontra vazias a jarra d’água e a bandeja de gelo. Na falta, preenche. Enche jarra, enche bandeja e... a encontra igualmente vazia na próxima vez que for buscá-la. Ora, que razões a pessoa que encontra sempre água fresquinha tem para encher a jarra? Desse jeitinho, a gente se torna rapidamente a pessoa insubstituível para a tarefa de garantir água geladinha, mas nunca pode beber dela.

Na psicanálise, entendemos que recebemos uma pessoa em análise quando o que ela ganha com o sintoma – neste caso, os biscoitos pela sua existência sobre humana – se torna menor do que o que ela perde – exaustão, burnout pela sobrecarga na divisão de tarefas, adoecimento. Que a gente não se deixe sangrar e morrer em troca de bombonzinhos uma vez ao ano.

Por Ananda Figueiredo 01/03/2022 - 13:14

Tem uma guerra láááá na Ucrânia.
Moyse foi assassinado à pauladas lááá no Rio.
Você soube do cara que atirou na esposa láááá naquela cidadezinha longe daqui?
Como o mundo anda violento, não?

Posso quase apostar que você conhece alguém que já disse uma dessas frases. E que, talvez, este alguém seja você.

A violência é insuportável. Assisti-la desagrada, afeta, incomoda.
Mas a gente suporta assistir, quer saber, abre portais de notícias, se atualiza no rádio, fica atenta nos feeds no nosso curto e curioso tempo.
É para se informar. Mas, quem sabe, seja também para não se deformar.

É que conhecer o mal do mundo pode ser duro, mas não tanto quanto reconhecer o mal em nós.

A gente insiste em acreditar que há um vilão e um mocinho. Um Deus e um Diabo. Um céu e um inferno.
E, nesta esteira, se há um bem e um mal, e se há quem invada territórios, quem seja capaz de bombardear, aquilo é o mal. Logo, eu sou o bem.
Se há um certo e um errado, e se há quem espanque, quem seja capaz de assassinar, aquilo é o errado. Logo, eu sou o certo.

Racista é quem espanca até a morte.
Machista é quem proíbe a esposa de trabalhar.
Violentos eram os pais que deixavam marcas na pele, ou quem bombardeia lares de famílias inteiras.
Eles.
Nós, bem, somos o bem e o belo. Erramos, às vezes, é verdade, mas nossos erros são humanos. Nos sentimos culpados, é verdade, mas a culpa se alivia com o perdão.

Talvez você esteja pensando agora que há uma desproporcionalidade gigantesca entre cada uma destas situações, e eu concordo com você. O que eu quero aqui é te convidar para, com a mesma coragem que você enfrenta as duras notícias sobre a violência para não ser mais um sujeito alienado do mundo, você se permita, com curiosidade gentil, alienar-se um tanto menos de si.

Ninguém é uma coisa só. Eu sou boa, e sou má. Há bondade em você, e também há maldade. Eu, você, os seus e os meus, estranham, se afetam e temem a maldade no mundo. Quem sabe a gente possa olhar com ajuda mais atenção para a maldade que há, também, aqui, em nós.

Por Ananda Figueiredo 23/06/2021 - 06:00

Como dar banho no bebê?

Qual pomada de assadura comprar?

Que a melhor marca de fraldas?

Quais itens não podem faltar no enxoval?

Quais são os benefícios e técnicas da amamentação?

Como saber se o bebê está com frio?

O que observar no cocô do bebê?

Quais são os saltos de crescimento?

Quando acontecem os picos de desenvolvimento?

...

 

Vivemos a era da informação e é deste modo que temos vivido momentos complexos como o gestar.

Que mulher-grávida não fez ao menos uma dessas buscas no Google? Ou fez anotações cuidadosas das respostas num curso preparatório de gestantes?

Uma série de cuidados que previnem ou diminuem desafios que poderão se apresentar nos cuidados com o bebê que logo estará nos braços.

 

Mas, veja bem, e a mulher-mãe?

Que tipos de cuidados e informações a incentivamos a buscar que podem preveni-la ou diminuir as dores e desafios que se apresentam enquanto ela se adapta à este novo e exigente papel?

 

É preciso gritar a todo canto:

Ser mãe é muito mais do que trocar fraldas e dar banho.

No início, então, é literalmente fazer caber na sua vida em curso um papel hiperdemandante e com altíssimos níveis de exigência social. É "só" fazer-se de mulher à mulher-mãe - com todas as implicações psíquicas e emocionais que isso traz.

 

Se preparar para cuidar do bebê não é o mesmo que se preparar para ser mãe.

Por Ananda Figueiredo 16/06/2021 - 06:00 Atualizado em 16/06/2021 - 08:55

Deixe-me dar um palpite:

Você passou a infância brincando só depois de lavar a louça, encontrando os amigos só depois de deixar o chão brilhando.

Acertei?

Foi assim com toda uma geração. No combo, vinha também o aprendizado de que seu valor é medido pela sua capacidade de "dar conta" - da tarefa, do armário do quarto, das boas notas da escola, da vida.

E você cresceu.

Cresceu o bastante para aumentar sua lista de afazeres, mas não o suficiente para perceber-se grande a ponto de ocupar todos os espaços de si: os das obrigações, mas, veja só, também os de prazer.

E você cresceu.

E, neste mundo de gigantes, se convenceu de que é preciso fazer muito, fazer tudo, e, quem sabe, se houver um depois, brincar de viver.

Que jeito interessante de te paralisar.

Estas palavras são para te lembrar que você cresceu, e que isso não significa somente mais responsabilidades. Crescer também significa mais autonomia.

O trabalho doméstico não acaba.

Haverá outra pia cheia de louça amanhã. Outra pilha de roupas no sábado.

E só há um agora te convidando para a vida.

A g o r a

Por Ananda Figueiredo 19/05/2021 - 06:00

"Ananda, como eu faço pra conversar com meu filho sobre sexualidade?" 

Ta aí uma pergunta que sempre me fazem. Muitas famílias, incentivadas pelo desejo genuíno de educar crianças livres e respeitosas consigo e com os outros, parecem buscar um manual que as ensine a apresentar para as crianças o que não foi lhes dito na infância.

Por Ananda Figueiredo 05/05/2021 - 06:00

"Tenha filhos", eles disseram.
Mas o que isso representa para além da maternidade?

Shelley Correll, professora de sociologia de Satanford, conduziu uma pesquisa que concluiu que os empregadores classificam homens-pais como colaboradores ideais, seguido por mulheres sem filhos, homens sem filhos e, finalmente, mulheres-mães. Se isto lhe parecer exagero, veja abaixo os achados da pesquisa:

  • mulheres-mães têm 600% menos chance de serem contratadas do que mulheres sem filhos com mesma apresentação curricular;
  • mulheres-mães têm 820% menos chance de serem promovidas do que mulheres sem filhos com mesmo desempenho;
  • mulheres-mães têm avaliação de competência 10% menor do que mulheres sem filhos, se comparadas nas mesmas condições;
  • mulheres-mães são consideradas 12% menos comprometidas do que mulheres sem filhos, enquanto homens-pais são considerados 5% mais comprometidos do que homens sem filhos;
  • o salário inicial das mulheres-mães é 7,9% menor do que o das mulheres sem filhos, enquanto o dos homens-pais é 8,6% maior do que o de homens sem filhos.

Com base nestes números, a pesquisadora cunhou a expressão "punição pela maternidade", que diz respeito aos desafios, preconceitos e desigualdades enfrentados pelas mulheres que decidem conciliar carreira e maternidade.

Na semana entre o dia da trabalhadora e o dia das mães, meu chamado é: já é mais que hora de entendermos que mulheres podem ser muita coisas além de mães - até mães e profissionais, se assim quiserem.
Vamos juntes? É urgente!

Um abraço,

Ananda



fonte: Getting a job - is there a motherhood penalty?, de Shelley Correll

Por Ananda Figueiredo 21/04/2021 - 06:00

Nossa cultura prega um senhorio à medicina. Se o médico diz, é verdade!

Só que o médico não é uma entidade. Ele, o fonoaudiólogo, o fisioterapeuta, o nutricionista e nós, também, psicólogas, antes de ocuparmos o papel de "profissionais da saúde", já havíamos trilhado um longo caminho do aprender com a cultura e os grupos sociais.

É claro que as graduações e demais formações na saúde (assim como noutras áreas) são grandes processos de desconstrução. Mas também é verdade que a desconstrução nunca é imediata ou estanque - a prova disso é a própria psicoterapia.

O que quero dizer é que você, mãe/pai/família, também é sujeito de poder e de conhecimento.

Que, felizmente, a popularização da informação foi capaz de empoderar sujeitos independente da titulação acadêmica - se não para conhecer, ao menos para questionar.

Que você pode não ser especialista em desenvolvimento infantil, em psicologia da aprendizagem, em macro e micro nutrientes, mas você é especialista no SEU FILHO.

Por isso, se ouvir uma frase determinista ou condenatória que acione suas anteninhas da proteção no maternar/paternar, mesmo que ela venha de uma "autoridade diplomada", questione!

Você tem voz e tem poder. Use!

E não, este não é um post anti-ciência, pelo contrário.

É em defesa da saúde à serviço da população (e não o contrário) que escrevo.

Para que você, mãe/pai/família, não se acomode no desconforto quando ouvir valores pessoais e senso comum na voz de um profissional da saúde desatualizado, em desconformidade com as recomendações e normativas de saúde nacionais e internacionais.

Trabalhar na área da saúde passa por ouvir e acolher e, especialmente, por dar uma resposta baseada em evidências.

Se você tiver dúvidas sobre o que ouviu, minha sugestão é a pergunta que eu mesma utilizo:

"Interessante ponto de vista! Em qual livro ou artigo científico posso ler mais sobre?"

Bons profissionais ficarão felizes em lhe responder.

A Nova Geração de Famílias é, também, aquela que questiona - inclusive a mim, viu?

Sobre o que você quer conversar? Estou a disposição :)

Um beijo,

Ananda Figueiredo

Por Ananda Figueiredo 31/03/2021 - 06:00

Nós aprendemos a lição direitinho: quando o assunto é a relação pai-filho, um manda e o outro obedece. Um tem poder de autoridade e ao outro cabe somente a submissão e obediência.

Esta é a lógica da dominação - que, diga-se de passagem, vai muito além da parentalidade.

Nela, não resta escolha, a relação está determinada: ou eu sou aquele que ganha, ou eu sou aquele que perde. Nesse caso, perde autoridade.

Mas, e se eu te disser que existe mais, muito mais do que o velho ganhar ou perder? Se eu te disser que é possível construir uma relação em que ninguém manda em ninguém?

Calma aí, isso não é novidade. Talvez você já viva isso na relação de parceria que tem com seu companheiro/a. Tem também aquele super treinamento de liderança que você pagou caro para assistir o palestrante explicando os conceitos de líder servidor e de time colaborativo, lembra?

Bem, eu quero te lembrar também que crianças são naturalmente colaborativas. Com muito mais disposição do que seu colega de trabalho, seus filhos vivem se oferecendo para colaborar com as suas atividades do dia a dia, não é mesmo?

Então, não confie em mim quando lhe escrevo essas palavras. Confie nas 1426637282 ofertas de ajuda que você já ouviu do seu filha/o só hoje, e acredite: se você estiver disposta e disponível para acolhê-la na sua integralidade, se você estiver disposta e disponível para ouvir com curiosidade genuína suas ideias, propostas, intenções, se você estiver disposta e disponível para negociar com amorosidade e respeito o bom e o bem da família, do dia, do momento, talvez você se surpreenda com o tamanhão do time que são capazes de formar juntos.

Sim, juntos.

Porque quando estamos juntos não é preciso mandar, nem obedecer.

Porque juntos a gente só vence se lutar as batalhas assim, colaborando.

Tipo time. Tipo família.

Eu sei que vocês conseguem

Por Ananda Figueiredo 24/03/2021 - 06:00

Menina é mais calma. Dá menos trabalho. Apronta menos. É mais comportada. Coisa de menina, né?

Não, não é.

Não há programação biológica que torne meninas menos alguma coisa ou meninos mais outra coisa qualquer. Logo, essencialmente, meninas e meninas podem ser tranquilos, ou não. Podem ser sapecas, ou não. Podem ter comportamentos desafiadores, ou não.

Mas então, por que ainda ouvimos essas "verdades"?

Porque a ideia de menina é uma construção sociocultural (alô, Simone de Beauvoir!). Socialmente, nós esperamos que meninas sejam mais tranquilas porque este segue sendo nosso modelo de boa menina - lembra do "bela, recatada e do lar?"

Ao mesmo tempo, esperamos que meninos sejam mais ativos, porque nosso modelo de menino ideal passa por energia, coragem, atitude.

Se a infância é a possibilidade de o mundo ser outra coisa, é mais do que hora de revisitarmos essas afirmações. E, se você tem uma menina em casa, acolha-a com toda sua energia. São meninas ativas que crescerão mulheres conhecedoras da sua voz, confiantes para ocupar seus legítimos espaços e romperem o ciclo histórico de silenciamento.

Vamos construir uma Nova Geração de Famílias para o bem da nova geração de meninas?

Com amor,

Ananda

Por Ananda Figueiredo 17/03/2021 - 06:00

Estreiou no último final de semana na Netflix o filme "Yes Day" (ou "Dia do Sim", na versão em português). Ele retrata uma família em que a mãe se dedica exclusivamente aos cuidados dos filhos, educando de forma bastante autoritária e com muitos "nãos". Por outro lado, o pai, advogado de uma empresa de tecnologia, usa todos os "nãos" que sabe dizer no trabalho, enquanto em casa é o típico pai-amigão, com comportamento bastante permissivo com os filhos.

A história se dá quando ambos são chamados à escola para conversar sobre o conteúdo de trabalhos escolares das crianças, que retratam a dinâmica rígida da família. Numa tentativa de melhorar a relação, descobrem o "dia do sim", dia em que são os filhos que decidem tudo.

O filme, daqueles de sentar com a família toda no sofá para assistir, retrata bem a díade rigidez x permissividade e a busca pelo extremo oposto numa tentativa de corrigir o que parece ruim num dos polos.

Mas, será que é este mesmo um movimento necessário? Será que ser um pouco permissivo é o jeito de equilibrar um tantão de rigidez?

E se, ao invés de vestirmos todos os "nãos" e depois os abandonarmos completamente, pudermos nos perguntar:

Isto que estou proibindo precisa mesmo ser proibido?

Por que estou dizendo este "não"?

E se, todos os dias, a cada pedido dos nossos filhos, nos perguntarmos:

Por que não?

Existem "nãos" que precisam ser ditos. Existem "sim" que merecem ser ditos. Pela criança. Por ti. Pela conexão de vocês.

Por Ananda Figueiredo 03/03/2021 - 11:27 Atualizado em 03/03/2021 - 11:30

Sabe essa voz interna que te diz que você é capaz, que você consegue, que você é gentil, carinhosa, merece ser amada, que você é importante e tem valor?
Ou essa que lhe diz que você não tem jeito, que você não faz nada certo, que você dá trabalho, incomoda, que ninguém vai te amar assim ou que se continuar desse jeito vai acabar sozinha?

Bem, isso que aqui estamos chamando de "voz interior" é, no fundo, uma representação do modo nos vemos e do nosso senso de valor e capacidade.
E, veja só que responsabilidade, ela se constrói a partir da repetição da vozes de pessoas que foram significativas para você na sua infância, especialmente os vínculos primários: aqueles que são estabelecidos com os principais cuidadores.

Por isso, te convido a pensar comigo:
Considerando o modo como você conversa com seu filho, que voz interna ele está construindo?

(E, se a sua voz interna lhe diz coisas que causam dor, quem sabe seja a tua hora de buscar ajuda profissional?)

Com amor,
Ananda

Por Ananda Figueiredo 04/06/2020 - 17:28 Atualizado em 04/06/2020 - 17:53

Eu não conheço nenhuma família que tenha planejado desrespeitar a criança ou tratá-la com desamor. Numa continha aqui por cima, já foram mais de 300 famílias que cruzaram o meu caminhar profissional e eu posso afirmar: elas sempre estiveram cheias de boas intenções em relação aos cuidados e relacionamento com as suas crianças na primeira infância.
Ainda assim, no entanto, não precisava de muita conversa para que elas se dessem conta de que, apesar de sentirem um imenso amor, passavam mensagens pouco amorosas boa parte das vezes, especialmente quando exerciam ações educativas.

Veja só as frases abaixo:

"Doeu mais em mim do que em você."

"Eu só faço isso porque você me tira do sério."

"Você não tem jeito mesmo."

"Mas você também..."

A primeira pergunta que eu faço é sempre a mesma: se os personagens desta conversa não fossem um adulto e uma criança, se fossem um casal (para título de exemplificação, usarei uma relação heterossexual tendo em vista a relação de poder que advém da nossa cultura patriarcal) e o homem dissesse à esposa uma dessas frases acima, você diria que esta mulher é amada?

E, mais ainda, se é na primeira infância que a base afetiva e relacional se estabelece e é levada para toda a vida, imagine agora qual será o modelo de amor e respeito que esta criança levará para todas as suas relações na adultez?

Precisamos cuidar da infância.
Precisamos reaprender a cuidar.

Vamos juntes?

Por uma Nova Geração de Famílias!

 

Ananda Figueiredo
Psicóloga - CRP 12/12.754
Mulher | Mãe | Esposa | Filha
Educadora Parental em Disciplina Positiva
Mestre em Educação
@novageracaodefamilias

Por Ananda Figueiredo 03/12/2019 - 20:45 Atualizado em 03/12/2019 - 20:52

Uma criança aprendendo a caminhar... cai.
Uma criança aprendendo a comer... se suja.
Uma criança aprendendo a falar... fala de modo nem sempre compreensível.
Uma criança aprendendo a lidar com as suas emoções... faz birra.

Isso que nós, adultos, chamamos de "birra" é o modo como a criança se comporta quando sente muito, mas ainda não sabe lidar com esse sentir.
Está em pleno aprendizado do que sente e das estratégias para lidar com esse sentimento.
Está, no bom "adultez", desenvolvendo sua inteligência emocional. .
A criança, ainda imatura e recém chegada a um mundo em que tudo é sentido, precisa superar o susto da novidade, desviar das reações físicas, nomear e direcionar o seu sentir e, além disso, fazê-lo de modo razoável aos olhos dos adultos que a cercam. Claro, desde a primeiríssima vez, porque "filho meu não faz birra" 

Cair faz parte do processo de caminhar. Sujar-se, do processo de comer. A limitação no falar é um estágio para o falar sem limites. Todos eles acabarão quando, depois de muito treino, puderem dar lugar à completude do aprendizado. 
Ou seja, se você não carrega seu filho no colo para todo o sempre para evitar que ele volte a cair, ajude-o a superar a birra sem repressão. Nomeie suas emoções, ajude-o a reconhecer seus sentimentos, direcione-o à estratégias saudáveis para lidar com o seu medo, raiva, tristeza, frustração e até suas alegrias.

Assim, quem sabe, ele supere a nossa geração: crianças que não faziam birra, mas que cresceram e adoecem por não acolher, respeitar e direcionar de modo saudável os seus sentimentos.

 

Quer aprender mais sobre estratégias para educar crianças com conhecimento sobre o seu desenvolvimento e pela via do amor e do respeito? Sábado teremos o terceiro e último grupo do ano do workshop de Disciplina Positiva e restam duas vagas! Informações e inscrições aqui ou no whatsapp (48) 99633-4450.

 

Vem, te espero com café!

Por uma nova geração de famílias

Por Ananda Figueiredo 31/10/2019 - 20:01 Atualizado em 31/10/2019 - 20:05

Hoje é dia das bruxas e eu vim dar um recadinho: não tenham medo de contar histórias sobre bruxas para crianças!

Não precisa lançar mão das histórias de terror, mas também não é necessário transformar as bruxas em boas. É na subversão, no não ceder cegamente à moral, na resistência em reprimir completamente o desejo e o sentido e viver para o que "deve" ser vivido (tal qual as personagens femininas de um clássico conto de fadas ou um típico herói) que está a maior lição, a lição de humanidade!

Se você ensinar apenas sobre mocinhas, sua pequena aprenderá que depende de alguém que a salve.
Se ensinar apenas sobre heróis, aprenderá a violar-se abrindo mão de si, sempre, pelo outro.

Ensine sobre as bruxas! Sobre sua autonomia, sobre as coisas que estão além da nossa compreensão racional, sobre o controle e o descontrole, sobre os desafios de conciliar o "eu" e o "mundo", sobre resistir a autoridade vazia, sobre a imperfeição do mundo e a vida que existe para além das polaridades do bom e do ruim, do bem e do mal.

Dentre todos os personagens, talvez sejam elas, as subjulgadas bruxas, as mais humanas.

E é isso que nós, mães e pais, estamos facilitando, não? Estamos participando do desenvolvimento de humanos, complexos e imperfeitos por natureza

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