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Instinto materno? Amor materno? Notas sobre a maternidade opcional e real

Por Ananda Figueiredo 03/05/2018 - 10:00 Atualizado em 03/05/2018 - 10:07

Maio começou e, assim, começamos a falar sobre maternidade - afinal, como você sabe, dia 13 será o dia das mães no Brasil. Aqui, então, não será diferente, e vamos portanto honrá-las com nossos parabéns, mas sobretudo usar este espaço para questionar algumas verdades supostamente absolutas no campo da maternidade e da maternagem. Vamos comigo?

Me parece que não havia outro caminho para percorrer se não iniciarmos discutindo o tal instinto materno e o amor de mãe, dois temas que sempre vêm a tona quando pensamos sobre as expectativas sociais para a mulher, mesmo antes desta optar por ter um filho, mas certamente quando ela inicia o processo de gestar.

Vamos ao tão falado instinto materno. Ora, o que é um instinto? Tecnicamente, instinto é um impulso natural, um comportamento pré-determinado que é comum em toda uma espécie. Ele apela para o nosso lado mais primitivo, mais "animalesco" e, assim, nada racional. Uma ação instintiva seria, então, um comportamento impulsivo, não pensado, que qualquer indivíduo de uma espécie em específico adotaria igualmente. Neste ponto começa nosso questionamento: para falarmos de instinto materno precisaríamos, então, que todas as mulheres, sem exceção, desejassem impulsivamente e primitivamente um filho. Deste modo, não haveria rejeição, não haveria abandono afetivo, nem mesmo a opção de entregar, voluntariamente, uma criança para adoção. Não é nosso ponto aqui mas, assim como não há, portanto, um instinto materno, não há, igualmente, um instinto paterno, pois ninguém está pré-determinado, biologicamente, a ser mãe e nem pai.

Desconstruído o princípio do instinto, te convido a entrar comigo no amor materno. Em uma sociedade que supõe uma pré-determinação para o ser mãe, não é estranho notar a cobrança do amor materno. No "mundo de Alice" que vendemos para todas as mulheres, o amor deve brotar como mágica, no minutinho em que olhamos para aquele serzinho que acaba de nascer. Mas, vamos refletir um pouco: o amor nasce assim, magicamente? Quando você e seu parceiro ou parceira se conheceram, por exemplo, o amor brotou no exato momento em que os olhos se cruzaram? Como já falamos, aqui cabe lembrar: amor a primeira vista é, em verdade, uma visão romântica de uma paixão avassaladora, que só se sustenta com o tempo através do convívio, do vínculo, da construção, ou seja, com o advento do amor. Com seu filho, mamãe, não é diferente. O amor materno vem do dia a dia, vem do olhinho brilhando quando o bebê lhe vê e da sua emoção em afagar um choro com um simples toque. O amor materno, como todo amor, é construção.

Então, não se culpe se, com o nascimento do seu bebê, diante de todas as mudanças, do repentino secundarizar de si, das responsabilidades, da rotina, do medo, da insegurança e, até mesmo, dos infinitos palpites, não se culpe se no meio de tudo isso não brotar um imediato amor. Ele ainda virá, eu tenho certeza, assim que a ambivalência entre a paixão pelo bebê e o luto pelo aparente fim de sua antiga vida se acomodarem dentro de você. Sim, você é capaz de amar este bebê, e você o fará. Não por uma pré-determinação biológica, ou seja, não porquê você não teve escolha. Pelo contrário: diante de todas as escolhas possíveis, você escolheu amá-lo. E viva o amor materno!

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