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"Quem pegou a caneta da bolsinha?" sobre punição e seus ensinamentos

É o vídeo do momento nos grupos de WhatsApp: nele, as duas crianças da imagem e a mãe, aparentemente a responsável pela gravação e representada pela voz e pela mão que segura um cinto.
Por Ananda Figueiredo 09/10/2019 - 12:14 Atualizado em 09/10/2019 - 12:19

É o vídeo do momento nos grupos de WhatsApp: nele, as duas crianças da imagem e a mãe, aparentemente a responsável pela gravação e representada pela voz e pela mão que segura um cinto. Em tom ameaçador, a mãe pergunta repetidas vezes quem pegou a caneta da bolsinha e riscou o papel. Visivelmente com medo, a menina - que como você pode ver acima, aparenta ter cerca de três anos - diz repetidamente que foi o irmão. Depois de quase um minuto repetindo a pergunta e o comportamento, a mãe muda o tom e diz gentilmente que o desenho está lindo e quem o fez ganhará um presente. A mudança acontece também na menina, que diz "fui eu, fui eu, é pra você".


Vamos tentar olhar pela perspectiva da criança?
Esta criança fez um desenho. Que criança não gosta de fazê-lo? No entanto, é provável que já tenha sido punida tantas vezes a ponto de aprender que, independente do que goste, independente do que ache bom para si, o certo é ajustar seu comportamento aquilo que a mãe espera dela. A ponto de, inclusive, mentir.
Em outras palavras, esta criança está aprendendo a desrespeitar a si para satisfazer ao outro. Fique a vontade para imaginar de que formas este aprendizado se manifestará na adolescência ou na vida adulta.
Por hora, basta pensar de que maneira ela se comportará em novas situações semelhantes. Será que deixará de pegar a caneta? Será que falará a verdade? E, além do comportamento, será que ela se sente amada? Acolhida? Respeitada? E como está se construindo a relação entre os irmãos?

Por fim, o que o nosso comportamento, que passa por criar, filmar e/ou achar graça em situações como esta, fala de nós?

Houve uma época em que nós concordávamos com a escravização.
Houve uma época em que exilávamos pessoas com deficiência.
Houve uma época em que haviam justificativas e argumentos para que um povo dizimasse outro.
Houve uma época em que era aceitável que maridos batessem em esposas.
Houve uma época em que a ameaça do chefe e o medo do funcionário era o modelo.
Eu anseio pela época em que a violência contra crianças também seja uma lembrança do quão cruéis podemos ser quando olhamos para o outro sem o crivo da igualdade de direitos, do respeito e do amor.

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