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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Ananda Figueiredo 04/05/2018 - 11:50

Se você abrir o Google agora e pesquisar técnicas de desfralde, vai observar a gigante quantidade de passo a passos: de tirar as fraldas no verão à permitir que a criança urine em si até que aprenda a ir ao banheiro. Agora, será que são efetivas?

Provavelmente você conhece algum caso em que técnicas como estas foram aplicadas e deram certo. Eu também conheço. No entanto, nem sempre, a médio prazo, elas são bem sucedidas. São muitos (muitos mesmo!) os casos em que a criança deixa de usar fraldas, mas desenvolve prisão de ventre ou enurese noturna (o popular "xixi na cama") até os 8, 9, 10 anos. Em outras palavras, o desfralde impositivo pode provocar mais trauma do que autonomia – ao menos para a criança.

Então, se o seu objetivo, dada sua rotina, seu trabalho, sua vida corrida, é que você, pai, mãe, adulto responsável, que você tenha autonomia, ok seguir um tutorial na internet. Agora, se a questão é a autonomia e o saudável desenvolvimento do seu pequeno, como já dissemos aqui outras vezes, respeite o seu tempo!

Não é difícil compreender que a criança tem o seu tempo quando fazemos uma analogia com o caminhar. Sim, eu sei, todos nós estamos ansiosos para ver os primeiros passinhos da criança. Inclusive, é um ponto de preocupação se estaremos presentes quando isso acontecer ou se acabará sendo na creche ou na casa da vovó. Por isso, imagine que seu bebê ainda engatinha, mas você, adulto, acredita que está na hora de ele caminhar sozinho. Assim, pega o bebê, o coloca com os dois pezinhos no chão e o diz para dar um passo. Você acha que vai dar certo?

É importante esclarecer que, grosso modo, a criança tem seu controle e desenvolvimento corporal no sentido cima-baixo. É por isso que ela vai primeiro deixar o pescoço firme e depois, somente depois, conseguir se apoiar e ficar de pé. A questão do desfralde vai na mesma linha, pois depende do controle dos esfincters, que ela só vai ter depois que essa "direção cima-baixo" concluir. Quer um sinal de que ela já tem controle vertical do corpo? A criança já consegue pular com os dois pés ao mesmo tempo.

 Tecnicamente, se diz que a partir dos dois anos a criança tem controle dos esfincters, mas isso é bem relativo. O importante aqui é o olhar atento dos adultos, que precisam ter paciência e disposição para notar os sinais cognitivos, emocionais e motores da criança. A seguir, você encontra um resumo bem objetivo das três fases que envolvem o desfralde e os sinais que conseguimos observar em cada uma delas:

Fase 1 - Passado: É o momento do "já fiz xixi", ou seja, a criança não identifica que está com vontade, só quando já o fez. O desfralde está longe!

Fase 2 - Presente: "Estou fazendo xixi" é a frase da vez, o que em outras palavras significa dizer que a criança identifica que fez xixi, se incomoda, mas ainda não consegue prever. O desfralde está a caminho, mas ainda não é a hora. Espere um pouquinho mais ;)

Fase 3 - Futuro: "Mamãe, papai, vou fazer xixi!" Aqui, a criança percebe e consegue avisar antes de fazer xixi, tem controle para segurar até que chegue ao vaso sanitário. Prontinho, chegou a hora de fazer o desfralde! 

E já que esta fase chegou, vamos a algumas dicas bem práticas:

1) Pressão da escola? D@s profs? Não cedam! No entanto, é comum que as crianças se incomodem de permanecer de fralda quando os coleguinhas da escola não usam mais. Em geral, ela mesmo pede para tirar. Neste caso, observe se a Fase 3 já chegou e inicie o processo.

2) Penico ou redutor de acento ajudam, tudo bem usá-los.

3) Meninos não precisam urinar de pé desde a infância, ok? Tudo bem se ele se sentir mais confortável sentadinho no vaso. Ele vai ter a vida toda para se ajustar ao padrão comportamental masculino para urinar.

4) Que tal tornar a hora do banheiro uma horinha feliz? Afinal, nem você vai para o banheiro sem o celular, não é mesmo? Que tal livrinhos? Ser acompanhada pela boneca ou super herói favorito?

5) Tudo bem levar a criança ao banheiro quando perceber os sinais, mesmo que ela ainda não esteja na Fase 3. Comunicação e respeito são a chave de tudo sempre que o assunto é educação de filhos (e em tantos outros momentos!)

E claro, desfraldar respeitando o desenvolvimento da criança requer seu tempo, paciência e abandono do hábito da comparação. Mas, tudo bem, afinal, infância não é competição, estão lembrados?

Por Ananda Figueiredo 08/05/2018 - 11:50

O momento histórico do nosso país já revela: estamos, cada vez mais, buscando relacionamentos que compartilhem das nossas opiniões, visões, crenças e verdades. Se em outro momento o futebol nos dividia em fla flu, grenal ou criciúma contra Figueirense, agora este cenário se repete em larga escala: religião, low carb versus aqueles que não fazem dieta, Apple versus android, crossfits contra lutas marciais, direita contra esquerda. Nada contra o pensar e menos ainda contra o posicionar-se acerca de qualquer um destes temas. O ponto aqui é que, ao ignorar opiniões contrárias, as pessoas tendem a aderir cegamente a uma posição, doutrina ou sistema e a caminhar numa direção perigosa: a do fanatismo.

Aqui mesmo no blog nós já falamos sobre fanatismo outras vezes (confira aqui), então não vamos entrar neste mérito novamente. O ponto para nós hoje é por que, afinal, é tão fácil alinhar-se a um conjunto de pessoas que encontrou um Judas particular e culpá-lo por todo o caos do universo? Por que temos usado tão intensamente dos nossos relacionamentos para estabelecer um “nós contra eles” em quase todas as áreas das nossas vidas? Tá ai uma pergunta que a ciência busca responder há algum tempo.

Uma prova disso é o paradigma dos grupos mínimos, elaborado nos anos 1970, na Inglaterra. Neste experimento, o cientista agrupou pessoas por critérios irrelevantes (como o pintor favorito, por exemplo) e observou a conversa. Logo, os participantes criaram forte ligação com as pessoas de sua turma e passaram a exaltar suas qualidades, enquanto simultaneamente criticavam e hostilizavam as pessoas dos outros grupos, que elas não conheciam, mas chamaram, espontaneamente, de rivais.

Outro cientista, chamado Le Bom, um francês do século19, já dizia que, nas multidões unidas por paridade, é como se as personalidades, valores, enfim, se as pessoas individualmente se enfraquecessem e deixassem de usar a razão e passassem a ser regidas pela emoção, tornando-se facilmente manipuláveis.

Nós ainda podemos falar do experimento da prisão Stanford mas, como você pode assistir o filme que o narra, vou pular direto para o nazismo alemão. Você conhece a história: um grupo de pessoas julgava ser de uma raça superior, baseada numa verdade revelada, e assistia a morte coletiva de milhares de outras pessoas. E ai, como Hannah Arendt escreveu, um fenômeno surgia: o do distanciamento da responsabilidade e da culpa. A justificativa consciente era, basicamente: "Eu sou alemã, mas não estou matando ninguém, “só” estou replicando um discurso." É a cegueira coletiva que acaba criando o que ela chamou de banalidade do mal.

Enfim, grupos são extremamente saudáveis, acolhem nossas dores, nos ofertam apoio, mas podem também ser uma armadilha perigosa para o distanciamento da reflexão e a reprodução de verdades que, como todas as outras verdades, são parcialmente falsas ou minimamente questionáveis. É este pensamento que cria o estado islâmico, a guerra no estádio entre torcedores do atlético paranaense e vasco, ou as ações violentas em manifestações que, na sua origem, seriam pacíficas.

Por fim, resta dizer que relacionamentos precisam ser sustentados no diálogo e na liberdade . Mas, é importante dizer também que esta liberdade está circunscrita em certos limites para garantir os direitos e a integridade dos outros. E aí, quando tanto temos pedido por respeito e ética, que tal exercitá-los em companhia da autocrítica? Um bom exercício é treinar a capacidade de se abster de intervir na opinião do outro, mesmo que se desaprove ou se tenha o poder para calá-la ou até prendê-lo. Assim, continuaremos com nossas opiniões, grupos e relacionamentos, mas não haverá uma rachadura entre nós e o outro. Afinal, qual seria a graça do futebol se o rival fosse extinto? É só o diferente, este aí que você tanto critica, que lhe dá a oportunidade de escolher por aquele que lhe parece igual.

Por Ananda Figueiredo 10/05/2018 - 18:00 Atualizado em 11/05/2018 - 10:59

Você já leu aqui muitos textos sobre relacionamentos, muitos ainda sobre dicas para a educação e o desenvolvimento saudável dos nossos filhos. E aí, mesmo que não seja esta a intenção, muitas vezes estas dicas repercutem como mais uma regra do que fazer ou do que é proibido fazer enquanto pais e mães de crianças ainda pequenas.

Hoje, entretanto vamos deixar isso tudo um pouquinho de lado. Quero falar sobre a maternidade, quero falar com as mamães. Quantas expectativas você tinha quando soube que seu filho estava a caminho, não é mesmo? Quantos textos, quantas dicas do que fazer você se apropriou e planejou utilizar! Tudo isso somado aos inúmeros comentários, propagandas e outras tantas formas de incutir em você que o amor de mãe é incomparável e que ser mãe é maravilhoso! O que tenho a dizer sobre isso? Que tudo é verdade!

Amar um filho é diferente de amar qualquer outro serzinho no mundo, e pesquisar e se apropriar de teorias sobre como educá-los é um processo natural e saudável para aquelas que desejam ser boas mães – ou seja, todas nós. Mas, neste caldeirão, me parece que falta um ingrediente: não costumam nos dizer que ser mãe não é somente sinônimo de amor e felicidade. Ser mãe é abdicar. É cansar. É ficar angustiada, ansiosa. É sentir raiva. Ser mãe é mais um papel social das humanas que somos e, por consequência da nossa humanidade, um papel executado com imperfeição. E aí, é nessa hora, na hora da raiva, do desespero, do não saber o que fazer, que você prova ser uma boa mãe.

Parece-me que nosso desejo enquanto mães é fazermos do nosso fillho uma criança/futuro adulto feliz, certo? Pois bem, de uma coisa eu tenho certeza: a base de um filho feliz é uma mãe com saúde mental. Mas, afinal de contas, o que é ter saúde mental? Entre outras coisas, ter saúde mental significa compreender e aceitar nossas limitações e emoções e reagir proporcionalmente a cada uma delas (e, reparem, eu disse a cada uma delas, não só às boas emoções, ok?). Em outras palavras, admitir que está estressada, irritada, cansada, admitir que não sabe algo é tão importante para o desenvolvimento do seu filho quanto mostrá-lo o quanto você o ama, o quanto é feliz e sabida.

Pensando nisso, hoje minha dica é para você, mamãe: quando for necessário, esqueça momentaneamente os princípios da educação positiva, a idealização de mãe perfeita, e dê-se um tempo. Se precisar, ligue a TV para ele hoje. Coloque-o para dormir e sirva sua taça de vinho. Ou ainda, leve seu filho no parquinho e pegue seu celular para poder ter uns minutinhos sobre um assunto que não seja maternidade. Tudo bem, dê pizza, batata frita ou refrigerante para ele, só por hoje tudo bem. Se precisar ainda, ligue o som do carro bem alto para fugir um pouquinho do choro descontrolado enquanto canta bem alto a sua música favorita. Tudo bem, só por hoje, tudo bem.

Você é humana e, assim, imperfeita, lembra? Isso tudo não lhe fará menos mãe, pelo contrário: cuidar um pouco de você ensinará seu filho sobre a importância de cuidar-se e de reconhecer seus limites – uma das bases da felicidade e do bem estar. O que mais nós podemos querer, não é mesmo?

Ah! Feliz dia das mães reais!

Por Ananda Figueiredo 09/08/2018 - 10:00 Atualizado em 09/08/2018 - 10:49

Em uma semana marcada pelas definições de chapas e candidaturas para as próximas eleições, curiosamente, coincidentemente - ou como você preferir chamar - cruzei novamente com o texto "Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Facista", uma obra de Adorno, filósofo e sociólogo alemão, inspirada no "Psicologia das Massas e Análise do Eu" de Freud.  Quero lhes apresentar aqui as relações que eu enxerguei entre nosso cenário político-social e o texto em questão.

Vivemos um momento de desalento, de sofrimento, de sofrimento, de violação de expectativas (o país estava crescendo, estava melhorando seus indicadores sociais e econômicos e, nos últimos tempos, tem regredido consideravelmente). Neste cenário, é comum que soframos com uma fragilização do nosso sentimento de pertença, o que é muito bem retratado pela quantidade de vezes em que ouvimos nos diálogos informais afirmações relacionadas ao desejo de sair do país ou da vergonha/falta de orgulho em ser brasileiro. Freud, Adorno e tantos outros já escreveram que momentos como estes nos impelem ao fortalecimento de grupos sociais, sejam religiosos, esportivos, de classe, comunitários e, evidentemente, políticos. O que todos estes grupos tem em comum? O ódio a um nomeado inimigo.

Grupos religiosos temem o demônio.

Times rechaçam o técnico, o atacante ou polarizam com o adversário.

Sindicato patronal x Sindicato dos trabalhadores. 

Esquerda x Direita.

Os inimigos estão bem claros, geralmente mais claros até do que a compreensão sobre as limitações das verdades do grupo em questão.

Foi assim no nazismo. É assim com os imigrantes/refugiados. Está assim nosso cenário político.

É claro que este ódio traz coesão social. De uma forma ou de outra, estamos agrupados e, em grupos, somamos forças e encontramos acolhimento para nossas dores e esperança no coletivo. Nossa fraternidade, ainda que parcial, está reestabelecida.

O texto de Adorno diz que este é o cenário perfeito para o surgimento do que ele chamou de "pequeno grande homem". Leia abaixo quem é este sujeito e me diga se vê alguma relação com o que temos vivido.

O pequeno grande homem poderia ser qualquer um de nós. Ele é alguém comum, tão comum que poderia compartilhar mesa com você no próximo almoço de domingo, trocando ideias aleatórias e falando amenidades. Ele surge em um cenário maior para comunicar a verdade, para falar aquilo que você também gostaria de falar. É alguém visto como autêntico, ou seja, alguém que não está, em uma primeira análise, fazendo discurso político; está falando o que pensa. Quando questionado, não necessariamente responde à pergunta, mas comumente se centra no ataque à quem o questionou ou retorna ao inimigo comum.

Outra característica do pequeno grande homem é que ele reproduz o discurso de seu inimigo, intencionalmente ou inconscientemente, de modo deformado. E o pequeno grande homem faz isso com tamanha habilidade e frequência que o discurso do inimigo só pode, "obviamente", ser objeto de ódio. Aqueles, por sua vez, que estão no outro extremo da polaridade, ou seja, não concordam conosco, que não fazem parte deste nosso grupo, são "obviamente" ignorantes, loucos (no sentido popular do termo), ou até vistos como pessoas corruptas, no sentido de que optam pelo meu inimigo porque estão, "obviamente", recebendo algum tipo de benefício com esta escolha.

O pequeno grande homem, na verdade, é um retorno à nossa fantasia infantil. Quando crianças, tínhamos em nosso pai, mãe ou naquele que ocupava nosso papel de referência, um grande herói, alguém capaz de nos proteger, salvar, resolver todos os nossos problemas e dificuldades porque era soberanos e possuía inquestionável caráter e inteligência. E, como já falamos outras vezes, situações de crise nos fazem buscar memórias de acolhimento e bem estar primitivas, como quando tomamos posição fetal em situações de choro compulsivo.

O problema de retomar a fantasia infantil é que, nela, temos a afetividade de uma criança e, assim, infantilizamos o debate e as relações - o gatilho perfeito para voltarmos à posição de herói-vilão, de bem-mal, de certo-errado, aquelas polarizações que já falamos tanto aqui e que enraizamos tão profundamente em nosso convívio que facilmente chegamos ao ponto de estragar definitivamente nossas relações.

Bem, é provável que você, leitor, que chegou ao final deste texto, esteja imaginando que eu vi este ou aquele candidato no pequeno grande homem de Adorno. E sim, eu vi. Mas não vi só este em que pensas agora, vejo muitos. Quantos candidatos cabem neste perfil? Sim, seu inimigo cabe aqui, mas o seu representante, provavelmente, também cabe. E aí, só nos resta pensar: será que o pequeno grande homem é capaz, realmente, de nos salvar de todas as mazelas sociais? E, ainda que sim, merece que eu pague como preço disso o adoecimento e até rompimento de minhas relações?

Por Ananda Figueiredo 12/08/2018 - 17:52 Atualizado em 12/08/2018 - 17:57

Oi, papai. Hoje minha conversa é com você.


Seu bebê nasceu e nós dois sabemos que você pode estar se sentindo um pouco alheio a essa troca tão intensa que está acontecendo entre a mamãe e o bebê. Além disso, eu sei, você não imaginou que seria assim. Mas quer saber a verdade? A mamãe também não. Ela está profundamente feliz por ter um bebê em seus braços e igualmente assustada por ter que cuidar e nutrir uma vida que depende tanto dela.
Ela tem medo. Medo de não ser suficiente, medo de errar, medo de não poder alimenta-lo, de não suportar o cansaço, de se perder de si mesma, de se perder de você. Ela tem medo até de confessar que tem medo.
E é aí que você entra. Você está ao lado dela, então pode ser o colo do qual ela tanto precisa.

Ela precisa da sua presença, de seu apoio incondicional, do seu carinho, olhar e abraço demorados, da sua escuta, da sua confiança e da sua corresponsabilização.
A mãe foi útero do bebê, você pode ser o dela. O bebê precisa dela, e ela precisa de você.
Isso não lhe faz menos pai ou menos importante, pelo contrário! Faz de vocês, juntos, rede, teia. Afinal, é só assim que vocês poderão ajustar o compasso e aprender a lidar com esses novos papéis com mais empatia, amor e leveza.

Feliz dia dos pais!

Por Ananda Figueiredo 04/02/2019 - 12:00 Atualizado em 04/02/2019 - 13:10

Olá!

 

Se você me acompanha às quintas-feiras no Jornal das Nove, já sabe das mudanças que aconteceram por aqui: uma bebê chega e instantaneamente acelera o ponteiro do relógio. Mas, com o girar do ponteiro, vamos paulatinamente ajustando nosso ritmo, até que se torna possível ressuscitar um blog em coma.

A partir de hoje, voltamos a nos encontrar por aqui. Os assuntos da prosa você já conhece: comportamento, relacionamentos, educação de filhos, saúde mental e tudo o mais sobre o que nos quisermos, com boas pitadas de psicologia.

Ah! Meu convite continua de pé: entre, sente, sirva um café e vamos conversar.

 

Abraço,

Psicóloga Ananda

Por Ananda Figueiredo 19/03/2019 - 08:20 Atualizado em 19/03/2019 - 08:29

A Momo voltou.

Se, no ano passado, a preocupação estava relacionada aos desafios propostos aos adolescentes, agora se refere à presença dela em vídeos no YouTube Kids, versão do aplicativo voltada para crianças. De acordo com a publicação da revista Crescer, ela pode aparecer no meio daqueles vídeos coreografados de músicas infantis - a lá Baby Shark - ou enquanto uma menina apresenta seu slime (ou seja, justamente nos vídeos que seu pequeno costuma assistir), e ensinar como encontrar um objeto perfuro-cortante para na sequência cortar os próprios pulsos. Sim, assustador.

Diante disso, recebi ontem dezenas de vezes a pergunta: "como abordo isso com meu filho?". Pois bem, vamos lá.

Primeiro, é importante lembrar que a criança se sente segura quando você passa esta sensação para ela. Portanto, procure tocar no assunto apenas quando você estiver no controle das suas próprias preocupações e medos.

Desta forma, você pode dizer à criança, de modo adequado ao vocabulário e faixa etária dela, que pessoas ruins estão usando os vídeos favoritos das crianças para assustá-las e ensiná-las a fazerem coisas que não são legais. Pode instruí-la a pausar o vídeo e chamar você caso apareça algum personagem que ela desconhece e, sobretudo,  que ela pode conversar com você sobre qualquer coisa, inclusive seus medos, e que você estará sempre ali para protegê-la.

Pode, ainda, terminar a conversa sentando ao lado dela para assistirem juntos alguns vídeos e, assim, tornar um momento de preocupação uma excelente oportunidade para desenvolver a conexão com seu filho ou filha. Até porque, ainda que, felizmente, ele não tenha tido contato com a Momo, mais dia ou menos dia seu pequeno terá contato com conteúdos que você desaprova e será a conexão entre vocês, o diálogo, a segurança do cuidado e do acolhimento, que o salvará deste mal.

 

Importante!

1) A recomendação vigente ainda é que crianças até 24 meses não tenham nenhum contato com telas e que entre dois e cinco anos tenham até 60 minutos de exposição, distribuídos em pequenos tempos ao longo do dia.

2) Supervisão, supervisão e supervisão. Você é o adulto e, portanto, aquele que decide quanto tempo ela ficará nas telas. Aproveite sua adultez para decidir também quais são os conteúdos com os quais ela terá contato, bem como acompanhar de perto esta interação.

Por Ananda Figueiredo 23/07/2019 - 21:37 Atualizado em 23/07/2019 - 21:41

Filhos não vêm com manual.
Por favor, tire o tom de lamentação desta frase. Filhos não vêm com manual e isso é ótimo.

Manuais servem para coisas em que há um jeito certo e, portanto, um jeito errado de usar.
Repare:
Eu disse "coisas";
Eu disse "usar".
Por quê, então, filhos viriam com manual?

Não há manual porque não há certo e errado.
Há vida. E a vida, ah, você sabe, é muito mais complexa do que as coisas que podem ser usadas.

Desconfie, portanto, das certezas em relação aos filhos.
Até porque elas falam dos resultados, não dos processos.
Elas dirão, por exemplo, que o certo é que a criança durma no seu próprio quarto.
Dirão que o certo é amamentar a cada três horas, durante o dia, é claro. A noite, o certo é que os filhos durmam sem associar ao peito.
Dirão que o bebê precisa ganhar x gramas para se enquadrar à tal curva.
Dirão que embalos e colos são errados. Que acostumam mal.
Dirão que dentes inferiores nascem aos seis meses e superiores aos nove. Que bebês falam por volta de um ano e desfraldam com dois.
Dirão que devem engatinhar com seis meses e caminhar aos doze.
Dirão tanto! Dirão muito!
Mas como? E a que preço?

A vida é mais complexa, muito mais complexa do que essas métricas.
E sabe o que mais? Ela é fluida, espontânea, é um entrelaçar de tanto que não cabe em polaridades.
Nem certo, nem errado.
Nem bonito, nem feio.

Filhos são vidas. Como tal, têm desejos, vontades, preferências.
Têm história.
Têm ritmo.

Filhos não têm protocolo.
Não têm manual.
E isso é incrível!

Por Ananda Figueiredo 14/09/2019 - 11:15

Se você tem filh@s, com certeza já se perguntou:
.
Será que estou agindo bem com relação à educação d@ meu pequen@?
Será que estou sendo permissiv@ demais?
Será que estou sendo dur@ demais?
.
Estas mesmas dúvidas preocupavam a Dra. Jane Nelsen lá na década de 70, até que se deparou com os trabalhos em psicologia humanista de  Alfred Adler e Rudolf Dreikus.
Ainda no início do século passado, num momento em que a Primeira Guerra Mundial havia revirado muitos países e deixado marcas cruéis na sociedade, Adler e Dreikus tinham a ousadia de defender que as crianças eram sujeitos de direitos tal qual os adultos e que mereciam ser tratadas com princípios democráticos de dignidade e respeito.
.
Estes princípios nortearam a prática e o trabalho de Nelsen, que desenvolveu a abordagem conhecida como "Disciplina Positiva", uma maneira de educar crianças e adolescentes  para que se tornem respeitosos, responsáveis e cooperativos através de um percurso que não é nem permissivo, ausente ou demasiadamente flexível, tampouco autoritário, violento, rígido ou desrespeitoso.
.
A disciplina positiva defende uma educação firme e gentil ao mesmo tempo, que escuta e envolve a criança e que encoraja ao autoconhecimento e à autonomia.
.
Agora que você já sabe o que é a DP, me conta o que achou!
Vamos conversar?

Por Ananda Figueiredo 09/10/2019 - 12:14 Atualizado em 09/10/2019 - 12:19

É o vídeo do momento nos grupos de WhatsApp: nele, as duas crianças da imagem e a mãe, aparentemente a responsável pela gravação e representada pela voz e pela mão que segura um cinto. Em tom ameaçador, a mãe pergunta repetidas vezes quem pegou a caneta da bolsinha e riscou o papel. Visivelmente com medo, a menina - que como você pode ver acima, aparenta ter cerca de três anos - diz repetidamente que foi o irmão. Depois de quase um minuto repetindo a pergunta e o comportamento, a mãe muda o tom e diz gentilmente que o desenho está lindo e quem o fez ganhará um presente. A mudança acontece também na menina, que diz "fui eu, fui eu, é pra você".


Vamos tentar olhar pela perspectiva da criança?
Esta criança fez um desenho. Que criança não gosta de fazê-lo? No entanto, é provável que já tenha sido punida tantas vezes a ponto de aprender que, independente do que goste, independente do que ache bom para si, o certo é ajustar seu comportamento aquilo que a mãe espera dela. A ponto de, inclusive, mentir.
Em outras palavras, esta criança está aprendendo a desrespeitar a si para satisfazer ao outro. Fique a vontade para imaginar de que formas este aprendizado se manifestará na adolescência ou na vida adulta.
Por hora, basta pensar de que maneira ela se comportará em novas situações semelhantes. Será que deixará de pegar a caneta? Será que falará a verdade? E, além do comportamento, será que ela se sente amada? Acolhida? Respeitada? E como está se construindo a relação entre os irmãos?

Por fim, o que o nosso comportamento, que passa por criar, filmar e/ou achar graça em situações como esta, fala de nós?

Houve uma época em que nós concordávamos com a escravização.
Houve uma época em que exilávamos pessoas com deficiência.
Houve uma época em que haviam justificativas e argumentos para que um povo dizimasse outro.
Houve uma época em que era aceitável que maridos batessem em esposas.
Houve uma época em que a ameaça do chefe e o medo do funcionário era o modelo.
Eu anseio pela época em que a violência contra crianças também seja uma lembrança do quão cruéis podemos ser quando olhamos para o outro sem o crivo da igualdade de direitos, do respeito e do amor.

Por Ananda Figueiredo 31/10/2019 - 20:01 Atualizado em 31/10/2019 - 20:05

Hoje é dia das bruxas e eu vim dar um recadinho: não tenham medo de contar histórias sobre bruxas para crianças!

Não precisa lançar mão das histórias de terror, mas também não é necessário transformar as bruxas em boas. É na subversão, no não ceder cegamente à moral, na resistência em reprimir completamente o desejo e o sentido e viver para o que "deve" ser vivido (tal qual as personagens femininas de um clássico conto de fadas ou um típico herói) que está a maior lição, a lição de humanidade!

Se você ensinar apenas sobre mocinhas, sua pequena aprenderá que depende de alguém que a salve.
Se ensinar apenas sobre heróis, aprenderá a violar-se abrindo mão de si, sempre, pelo outro.

Ensine sobre as bruxas! Sobre sua autonomia, sobre as coisas que estão além da nossa compreensão racional, sobre o controle e o descontrole, sobre os desafios de conciliar o "eu" e o "mundo", sobre resistir a autoridade vazia, sobre a imperfeição do mundo e a vida que existe para além das polaridades do bom e do ruim, do bem e do mal.

Dentre todos os personagens, talvez sejam elas, as subjulgadas bruxas, as mais humanas.

E é isso que nós, mães e pais, estamos facilitando, não? Estamos participando do desenvolvimento de humanos, complexos e imperfeitos por natureza

Por Ananda Figueiredo 03/12/2019 - 20:45 Atualizado em 03/12/2019 - 20:52

Uma criança aprendendo a caminhar... cai.
Uma criança aprendendo a comer... se suja.
Uma criança aprendendo a falar... fala de modo nem sempre compreensível.
Uma criança aprendendo a lidar com as suas emoções... faz birra.

Isso que nós, adultos, chamamos de "birra" é o modo como a criança se comporta quando sente muito, mas ainda não sabe lidar com esse sentir.
Está em pleno aprendizado do que sente e das estratégias para lidar com esse sentimento.
Está, no bom "adultez", desenvolvendo sua inteligência emocional. .
A criança, ainda imatura e recém chegada a um mundo em que tudo é sentido, precisa superar o susto da novidade, desviar das reações físicas, nomear e direcionar o seu sentir e, além disso, fazê-lo de modo razoável aos olhos dos adultos que a cercam. Claro, desde a primeiríssima vez, porque "filho meu não faz birra" 

Cair faz parte do processo de caminhar. Sujar-se, do processo de comer. A limitação no falar é um estágio para o falar sem limites. Todos eles acabarão quando, depois de muito treino, puderem dar lugar à completude do aprendizado. 
Ou seja, se você não carrega seu filho no colo para todo o sempre para evitar que ele volte a cair, ajude-o a superar a birra sem repressão. Nomeie suas emoções, ajude-o a reconhecer seus sentimentos, direcione-o à estratégias saudáveis para lidar com o seu medo, raiva, tristeza, frustração e até suas alegrias.

Assim, quem sabe, ele supere a nossa geração: crianças que não faziam birra, mas que cresceram e adoecem por não acolher, respeitar e direcionar de modo saudável os seus sentimentos.

 

Quer aprender mais sobre estratégias para educar crianças com conhecimento sobre o seu desenvolvimento e pela via do amor e do respeito? Sábado teremos o terceiro e último grupo do ano do workshop de Disciplina Positiva e restam duas vagas! Informações e inscrições aqui ou no whatsapp (48) 99633-4450.

 

Vem, te espero com café!

Por uma nova geração de famílias

Por Ananda Figueiredo 04/06/2020 - 17:28 Atualizado em 04/06/2020 - 17:53

Eu não conheço nenhuma família que tenha planejado desrespeitar a criança ou tratá-la com desamor. Numa continha aqui por cima, já foram mais de 300 famílias que cruzaram o meu caminhar profissional e eu posso afirmar: elas sempre estiveram cheias de boas intenções em relação aos cuidados e relacionamento com as suas crianças na primeira infância.
Ainda assim, no entanto, não precisava de muita conversa para que elas se dessem conta de que, apesar de sentirem um imenso amor, passavam mensagens pouco amorosas boa parte das vezes, especialmente quando exerciam ações educativas.

Veja só as frases abaixo:

"Doeu mais em mim do que em você."

"Eu só faço isso porque você me tira do sério."

"Você não tem jeito mesmo."

"Mas você também..."

A primeira pergunta que eu faço é sempre a mesma: se os personagens desta conversa não fossem um adulto e uma criança, se fossem um casal (para título de exemplificação, usarei uma relação heterossexual tendo em vista a relação de poder que advém da nossa cultura patriarcal) e o homem dissesse à esposa uma dessas frases acima, você diria que esta mulher é amada?

E, mais ainda, se é na primeira infância que a base afetiva e relacional se estabelece e é levada para toda a vida, imagine agora qual será o modelo de amor e respeito que esta criança levará para todas as suas relações na adultez?

Precisamos cuidar da infância.
Precisamos reaprender a cuidar.

Vamos juntes?

Por uma Nova Geração de Famílias!

 

Ananda Figueiredo
Psicóloga - CRP 12/12.754
Mulher | Mãe | Esposa | Filha
Educadora Parental em Disciplina Positiva
Mestre em Educação
@novageracaodefamilias

Por Ananda Figueiredo 03/03/2021 - 11:27 Atualizado em 03/03/2021 - 11:30

Sabe essa voz interna que te diz que você é capaz, que você consegue, que você é gentil, carinhosa, merece ser amada, que você é importante e tem valor?
Ou essa que lhe diz que você não tem jeito, que você não faz nada certo, que você dá trabalho, incomoda, que ninguém vai te amar assim ou que se continuar desse jeito vai acabar sozinha?

Bem, isso que aqui estamos chamando de "voz interior" é, no fundo, uma representação do modo nos vemos e do nosso senso de valor e capacidade.
E, veja só que responsabilidade, ela se constrói a partir da repetição da vozes de pessoas que foram significativas para você na sua infância, especialmente os vínculos primários: aqueles que são estabelecidos com os principais cuidadores.

Por isso, te convido a pensar comigo:
Considerando o modo como você conversa com seu filho, que voz interna ele está construindo?

(E, se a sua voz interna lhe diz coisas que causam dor, quem sabe seja a tua hora de buscar ajuda profissional?)

Com amor,
Ananda

Por Ananda Figueiredo 17/03/2021 - 06:00

Estreiou no último final de semana na Netflix o filme "Yes Day" (ou "Dia do Sim", na versão em português). Ele retrata uma família em que a mãe se dedica exclusivamente aos cuidados dos filhos, educando de forma bastante autoritária e com muitos "nãos". Por outro lado, o pai, advogado de uma empresa de tecnologia, usa todos os "nãos" que sabe dizer no trabalho, enquanto em casa é o típico pai-amigão, com comportamento bastante permissivo com os filhos.

A história se dá quando ambos são chamados à escola para conversar sobre o conteúdo de trabalhos escolares das crianças, que retratam a dinâmica rígida da família. Numa tentativa de melhorar a relação, descobrem o "dia do sim", dia em que são os filhos que decidem tudo.

O filme, daqueles de sentar com a família toda no sofá para assistir, retrata bem a díade rigidez x permissividade e a busca pelo extremo oposto numa tentativa de corrigir o que parece ruim num dos polos.

Mas, será que é este mesmo um movimento necessário? Será que ser um pouco permissivo é o jeito de equilibrar um tantão de rigidez?

E se, ao invés de vestirmos todos os "nãos" e depois os abandonarmos completamente, pudermos nos perguntar:

Isto que estou proibindo precisa mesmo ser proibido?

Por que estou dizendo este "não"?

E se, todos os dias, a cada pedido dos nossos filhos, nos perguntarmos:

Por que não?

Existem "nãos" que precisam ser ditos. Existem "sim" que merecem ser ditos. Pela criança. Por ti. Pela conexão de vocês.

Por Ananda Figueiredo 24/03/2021 - 06:00

Menina é mais calma. Dá menos trabalho. Apronta menos. É mais comportada. Coisa de menina, né?

Não, não é.

Não há programação biológica que torne meninas menos alguma coisa ou meninos mais outra coisa qualquer. Logo, essencialmente, meninas e meninas podem ser tranquilos, ou não. Podem ser sapecas, ou não. Podem ter comportamentos desafiadores, ou não.

Mas então, por que ainda ouvimos essas "verdades"?

Porque a ideia de menina é uma construção sociocultural (alô, Simone de Beauvoir!). Socialmente, nós esperamos que meninas sejam mais tranquilas porque este segue sendo nosso modelo de boa menina - lembra do "bela, recatada e do lar?"

Ao mesmo tempo, esperamos que meninos sejam mais ativos, porque nosso modelo de menino ideal passa por energia, coragem, atitude.

Se a infância é a possibilidade de o mundo ser outra coisa, é mais do que hora de revisitarmos essas afirmações. E, se você tem uma menina em casa, acolha-a com toda sua energia. São meninas ativas que crescerão mulheres conhecedoras da sua voz, confiantes para ocupar seus legítimos espaços e romperem o ciclo histórico de silenciamento.

Vamos construir uma Nova Geração de Famílias para o bem da nova geração de meninas?

Com amor,

Ananda

Por Ananda Figueiredo 31/03/2021 - 06:00

Nós aprendemos a lição direitinho: quando o assunto é a relação pai-filho, um manda e o outro obedece. Um tem poder de autoridade e ao outro cabe somente a submissão e obediência.

Esta é a lógica da dominação - que, diga-se de passagem, vai muito além da parentalidade.

Nela, não resta escolha, a relação está determinada: ou eu sou aquele que ganha, ou eu sou aquele que perde. Nesse caso, perde autoridade.

Mas, e se eu te disser que existe mais, muito mais do que o velho ganhar ou perder? Se eu te disser que é possível construir uma relação em que ninguém manda em ninguém?

Calma aí, isso não é novidade. Talvez você já viva isso na relação de parceria que tem com seu companheiro/a. Tem também aquele super treinamento de liderança que você pagou caro para assistir o palestrante explicando os conceitos de líder servidor e de time colaborativo, lembra?

Bem, eu quero te lembrar também que crianças são naturalmente colaborativas. Com muito mais disposição do que seu colega de trabalho, seus filhos vivem se oferecendo para colaborar com as suas atividades do dia a dia, não é mesmo?

Então, não confie em mim quando lhe escrevo essas palavras. Confie nas 1426637282 ofertas de ajuda que você já ouviu do seu filha/o só hoje, e acredite: se você estiver disposta e disponível para acolhê-la na sua integralidade, se você estiver disposta e disponível para ouvir com curiosidade genuína suas ideias, propostas, intenções, se você estiver disposta e disponível para negociar com amorosidade e respeito o bom e o bem da família, do dia, do momento, talvez você se surpreenda com o tamanhão do time que são capazes de formar juntos.

Sim, juntos.

Porque quando estamos juntos não é preciso mandar, nem obedecer.

Porque juntos a gente só vence se lutar as batalhas assim, colaborando.

Tipo time. Tipo família.

Eu sei que vocês conseguem

Por Ananda Figueiredo 21/04/2021 - 06:00

Nossa cultura prega um senhorio à medicina. Se o médico diz, é verdade!

Só que o médico não é uma entidade. Ele, o fonoaudiólogo, o fisioterapeuta, o nutricionista e nós, também, psicólogas, antes de ocuparmos o papel de "profissionais da saúde", já havíamos trilhado um longo caminho do aprender com a cultura e os grupos sociais.

É claro que as graduações e demais formações na saúde (assim como noutras áreas) são grandes processos de desconstrução. Mas também é verdade que a desconstrução nunca é imediata ou estanque - a prova disso é a própria psicoterapia.

O que quero dizer é que você, mãe/pai/família, também é sujeito de poder e de conhecimento.

Que, felizmente, a popularização da informação foi capaz de empoderar sujeitos independente da titulação acadêmica - se não para conhecer, ao menos para questionar.

Que você pode não ser especialista em desenvolvimento infantil, em psicologia da aprendizagem, em macro e micro nutrientes, mas você é especialista no SEU FILHO.

Por isso, se ouvir uma frase determinista ou condenatória que acione suas anteninhas da proteção no maternar/paternar, mesmo que ela venha de uma "autoridade diplomada", questione!

Você tem voz e tem poder. Use!

E não, este não é um post anti-ciência, pelo contrário.

É em defesa da saúde à serviço da população (e não o contrário) que escrevo.

Para que você, mãe/pai/família, não se acomode no desconforto quando ouvir valores pessoais e senso comum na voz de um profissional da saúde desatualizado, em desconformidade com as recomendações e normativas de saúde nacionais e internacionais.

Trabalhar na área da saúde passa por ouvir e acolher e, especialmente, por dar uma resposta baseada em evidências.

Se você tiver dúvidas sobre o que ouviu, minha sugestão é a pergunta que eu mesma utilizo:

"Interessante ponto de vista! Em qual livro ou artigo científico posso ler mais sobre?"

Bons profissionais ficarão felizes em lhe responder.

A Nova Geração de Famílias é, também, aquela que questiona - inclusive a mim, viu?

Sobre o que você quer conversar? Estou a disposição :)

Um beijo,

Ananda Figueiredo

Por Ananda Figueiredo 05/05/2021 - 06:00

"Tenha filhos", eles disseram.
Mas o que isso representa para além da maternidade?

Shelley Correll, professora de sociologia de Satanford, conduziu uma pesquisa que concluiu que os empregadores classificam homens-pais como colaboradores ideais, seguido por mulheres sem filhos, homens sem filhos e, finalmente, mulheres-mães. Se isto lhe parecer exagero, veja abaixo os achados da pesquisa:

  • mulheres-mães têm 600% menos chance de serem contratadas do que mulheres sem filhos com mesma apresentação curricular;
  • mulheres-mães têm 820% menos chance de serem promovidas do que mulheres sem filhos com mesmo desempenho;
  • mulheres-mães têm avaliação de competência 10% menor do que mulheres sem filhos, se comparadas nas mesmas condições;
  • mulheres-mães são consideradas 12% menos comprometidas do que mulheres sem filhos, enquanto homens-pais são considerados 5% mais comprometidos do que homens sem filhos;
  • o salário inicial das mulheres-mães é 7,9% menor do que o das mulheres sem filhos, enquanto o dos homens-pais é 8,6% maior do que o de homens sem filhos.

Com base nestes números, a pesquisadora cunhou a expressão "punição pela maternidade", que diz respeito aos desafios, preconceitos e desigualdades enfrentados pelas mulheres que decidem conciliar carreira e maternidade.

Na semana entre o dia da trabalhadora e o dia das mães, meu chamado é: já é mais que hora de entendermos que mulheres podem ser muita coisas além de mães - até mães e profissionais, se assim quiserem.
Vamos juntes? É urgente!

Um abraço,

Ananda



fonte: Getting a job - is there a motherhood penalty?, de Shelley Correll

Por Ananda Figueiredo 19/05/2021 - 06:00

"Ananda, como eu faço pra conversar com meu filho sobre sexualidade?" 

Ta aí uma pergunta que sempre me fazem. Muitas famílias, incentivadas pelo desejo genuíno de educar crianças livres e respeitosas consigo e com os outros, parecem buscar um manual que as ensine a apresentar para as crianças o que não foi lhes dito na infância.

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