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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Ananda Figueiredo 18/01/2018 - 14:00 Atualizado em 18/01/2018 - 14:24

Zygmunt Bauman, importante sociólogo polonês, dizia que a modernidade é líquida. Assim, os relacionamentos modernos seriam fluídos, volúveis, momentâneos e, em minha opinião, não há como retratar isso melhor senão com os aplicativos de namoro.

Tudo bem, os "serviços de paquera" não são novidade: em 1930 um restaurante em Berlim colocou telefones em suas mesas, o que permitia que, caso um cliente tivesse interesse por outro, pudesse facilmente fazer uma ligação para o número da sua mesa-alvo. Ainda assim, há 15 anos, apenas 2% dos casais se uniram por meio de sites de namoro. Em contrapartida, a tendência é que até 2040, 70% dos casais se conheçam por meios virtuais.

É claro que há ganhos com esta realidade. Vejo no consultório, por exemplo, que pessoas com dificuldades relacionais tendem a se sentir mais à vontade no ambiente virtual, inclusive para iniciar uma conversa ou demonstrar claramente seu interesse afetivo-sexual. Isto porque a exposição é menor: caso você não ganhe o match, ou seja, caso aquele por quem você se interessa não se interesse também por você, foi apenas um deslize de tela para a opção “sim” e não tempos de investimento de energia e clara demonstração de afeto. Além disso -e este ponto torna-se vantajoso ou não de acordo com seus interesses ou dificuldades - amores sinceros se perdem entre tantos “sins" para relações casuais.

Agora, em contrapartida, estudos das áreas de sociologia e psicologia já apontam um alto grau de desinteresse, de forma aligeirada, nas pessoas que utilizam estes aplicativos. Em uma sociedade como a nossa, em que você pode ter tudo rapidamente e com facilidade à sua disposição, escolher alguém por uma ou duas fotos e uma breve descrição é cabível, mas não dá pra dizer que não é, ao menos inicialmente, superficial.

Por isso, tudo bem se você quer utilizar os aplicativos. Estas e outras tecnologias estão disponíveis, afinal de contas, para facilitar a nossa vida. Mas se o seu objetivo vai além de um encontro casual, talvez seja importante escrever verdadeiramente quem você é e usar as fotos que você realmente se sentiu a vontade - não aquelas que os seus amigos disseram que você saiu bem. Assim, quando um match acontecer, a pessoa já terá uma ideia de quem você é – de verdade. E, quando encontrar alguém, invista em ir além da superficialidade. As histórias das comédias românticas, aquelas que dão a ideia de que o amor é algo que "simplesmente acontece” conosco, não são exatamente o que eu chamaria de retrato da realidade. Além do mais, a falsa impressão de ter algum controle sobre isto dando vários matchs - afinal, se tem que acontecer, por que fazer um grande esforço? - também não é completamente verdadeira.

O fato é que as tecnologias são um grande atalho inicial, mas o amor é mais complexo que isso: requer cuidado, atenção, risco e, inevitavelmente, exposição.

Por Ananda Figueiredo 24/01/2018 - 22:00 Atualizado em 24/01/2018 - 23:45

Você já ouviu falar de Carl Gustav Jung? Você pode saber mais aqui mas, em síntese, é o psiquiatra e psicoterapeuta suíço que desenvolveu a teoria conhecida como “psicologia analítica”. Feita esta breve apresentação, vamos ao motivo de trazê-lo aqui para o blog.

“Fanatismo é sempre um sinal de dúvida reprimida”. Apesar de Jung ter escrito no início do Séc XX, esta foi a frase que permeou meus pensamentos no dia de hoje.

Lula, Lula, Lula, Lula. Moro, Moro, Moro, Moro. Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro. No elevador, no restaurante, no  posto de combustível... cenários diferentes que sempre me provocavam a mesma impressão: ecos infinitos da “minha opinião” vestida de “verdade absoluta”. Assim, pouco importa se você ouviu e menos ainda o que pensa a respeito. Virtualmente, o encerramento do monólogo costuma ser premiado com o comentário “lacrou!”. E, você sabe, o que está lacrado não pode ser mexido.

Ódio, raiva, agressividade, ressentimento. Lacre. Jung, sempre sábio, continua o texto dizendo que “quando alguém está realmente convicto torna-se perfeitamente calmo, pode discutir a sua crença como um ponto de vista pessoal sem ressentimentos de espécie alguma”. Assim, quando for falar de Lula, Moro, Bolsonaro, Jung ou qualquer outro, guarde suas certezas e leve suas interrogações. O dilema herói x vilão é perfeitamente saudável, desde que restrito aos livros de contos de fadas. A realidade, caro leitor, costuma trazer um pouco de mal no bem e um tanto de bem no mal.

 

Fonte: A vida simbólica - Carl Gustav Jung.

Por Ananda Figueiredo 25/01/2018 - 22:00

Vamos falar sobre carga mental? Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o tema, mas certamente conhece alguém que vive esta situação - talvez, inclusive, seja você.

As questões relacionadas à carga mental começaram a ser estudadas com mais afinco no final do século passado, quando pesquisadores identificaram que pessoas, sobretudo mulheres, que eram responsáveis por toda o planejamento e gestão familiar eram as mais acometidas por transtornos mentais comuns (grosso modo: depressão, ansiedade e somatizações). Carga mental é o nome que damos à necessidade de pensar sem parar nas coisas que precisam ser feitas, planejá-las e aí, algumas vezes, delegá-las. É pensar em todo o trabalho quase que invisível que faz o um ambiente doméstico funcionar, como a preocupação porque logo vai acabar o papel higiênico e é preciso colocá-lo na lista de compras, o medo de esquecer de marcar uma consulta médica, lembrar de comprar a ração do cachorro, providenciar a manutenção do terno que será usado no casamento do final de semana, renovar a matrícula da escola das crianças… Enfim, para que você possa se dedicar para estas coisas - ou até para que você possa delegá-las - é preciso primeiro pensar sobre cada uma delas.

Com o final das férias, esta semana meu consultório ficou cheio de mulheres que diziam não aguentar mais. Segundo elas, não fizeram nada nas férias: elas não trabalharam, tiveram ajuda dos familiares, mas, ainda assim, estavam sem energia alguma. Aí, quando nós começamos a questionar as razões do sofrimento, percebemos que a questão está justamente na ajuda: elas não lavavam a louça após o almoço, mas isso só acontecia porque já haviam solicitado que o filho mais velho lavasse enquanto o pai levava o cachorro para passear e  elas davam uma ajeitadinha no banheiro. O esposo, segundo algumas, até colaborou com a organização, sempre que elas pediam para não deixar o chinelo de praia na porta da casa. Ou seja, este trabalho é interminável e, pior, invisível.

A carga mental costuma adoecer quem precisa lidar diariamente com ela, mas também adoece seus relacionamentos nucleares. Perde-se energia, humor e desejo de viver, o que acaba, inevitavelmente, repercutindo em quem está ao seu redor. Por isso, que tal se, mais do que fazer aquilo que ela pediu, nós conseguirmos nos antecipar ao pedido? Aqui eu costumo ouvir, sobretudo dos esposos “Se as mulheres querem que deixemos de ser menos “executores”, talvez elas devessem deixar de nos dizer que tal coisa deveria ser feita de outra maneira ou que não era necessário fazer isso ou aquilo” - e a verdade é que eles não estão de todo errados.

Sendo assim, minha sugestão é: identifique qual a sua posição. Eu sou a pessoa que centraliza a gestão e antecipa as ações dos meus familiares? Então é preciso que eu aprenda a deixar o outro fazer, da forma e no tempo dele. Se, por outro lado, eu sou aquela que aguarda as orientações e diretrizes para agir, seria necessário treinar o olhar para dividir o peso, a carga mental, para que cada um seja o gestor de seu próprio setor – afinal, não é isso que nos ensinam as empresas?

Lembre-se: sua família é um sistema. Todas as peças precisam funcionar bem e juntas. Até porque, se uma delas adoece, todo o sistema sofre.

Por Ananda Figueiredo 29/01/2018 - 13:50 Atualizado em 29/01/2018 - 13:57

Vocês conhecem a Deise Duarte? No ano passado ela publicou seu primeiro livro, mas continua escrevendo crônicas incríveis, como esta que compartilho com vocês abaixo:

 

"Faz alguns anos que outubro é um mês cor de rosa.

Em outubro a pauta na TV, Rádio, atividades educativas em empresas e escolas é a saúde da mulher.

Meu preventivo e mamografia são feitos em outubro. Se eu me esquecesse, os jornais me lembrariam.

Novembro é azul. E mesmo que ainda haja uma resistência masculina com os cuidados da saúde, eles vão aprender sim, a lavar o pinto e identificar os sintomas de doenças de próstata em novembro.

Dezembro é comecinho do verão. Só podia ser amarelo. Vamos aprendendo a tomar sol.

Janeiro, o mês de recomeço, de renovação, é branco.

Acho bem significativo que o mês que guarda nossos sonhos de vida nova, seja conhecido pelo branco.

Janeiro é mês de falar sobre saúde mental.

Eu poderia separar minha vida entre antes e depois das visitas aos consultórios psiquiátricos e psicólogos, e aposto que um janeiro branco teria trazido consciência da necessidade dessa ajuda muito antes de tanta dor e sofrimento. A mídia falando sobre saúde mental pode ser aquele estímulo que te separa de transformar a sua história.

Quando a gente tem uma dor de cabeça, sabe que pode tomar um analgésico. Mas, se formos acertados por um machado, devemos procurar o hospital.

A saúde mental não é tão clara e objetiva. Mesmo sendo frequentadora assídua dos divãs de terapeutas (e aqui, vale informar que não, não se parecem com os dos filmes. É uma decepção descobrir um simples sofá!) muitas vezes não sei distinguir meus sentimentos e não sei se é hora de invadir o consultório, engolir pílulas ou sentar no cantinho e esperar a dor passar.

Os transtornos mentais, tratados anteriormente como privilégio de gente mimada têm trazido sofrimento para muitas pessoas.

É preciso aceitar que a alma dói e que ignorar isso faz doer ainda mais.

Quando você tem gastrite, as pessoas que amam você entendem que você precisa fazer endoscopia, tomar omeprazol e mudar a alimentação.

Quando você tem depressão, as pessoas que amam você sugerem que você se esforce para melhorar.

Entendo que não há maldade em dizer que você deve se esforçar, mas de vez em quando esse esforço é tão eficiente quanto refrigerante para gastrite.

O janeiro é branco e é tempo de dar nome aos bois.

Se não está claro pra você o que você sente, talvez essa luz seja encontrada na sala branca de um psicólogo ou psiquiatra.

Talvez a paz que você procura more em um comprimido que vai equilibrar seus hormônios ou em uma longa conversa com um semi-desconhecido capaz de te ouvir sem julgamentos.

Não vamos menosprezar a dor, nem transformar sentimentos naturais em doença. Sentir medo, preocupação, frio na barriga é normal.

Não ir trabalhar por não controlar esses sentimentos merece atenção.

Sentir tristeza, desânimo, cansaço é normal. Não realizar atividades rotineiras por causa disso, merece atenção.

Mudar de ideia não é bipolaridade,mas se você tem feito pessoas sofrerem por ‘parecer outra pessoa’,merece atenção.

Eu não sou profissional de saúde mental.

Eu só sou maluca. Mas uma maluca mais feliz desde que resolvi trazer esse branco do mês de janeiro pra todos os dias da minha vida."

Publicado originalmente aqui.

Por Ananda Figueiredo 31/01/2018 - 11:00 Atualizado em 31/01/2018 - 11:28

Eu não sou uma especialista em Marketing, mas gosto de compartilhar as campanhas que questionam nossos lugares comuns e provocam algum tipo de desenvolvimento subjetivo ou social. Um exemplo disso é a campanha #LikeAGirl da marca Always.

Em português, o que seria fazer coisas "TipoMenina"? Depois de responder à esta pergunta, assista o vídeo abaixo. Ele é legendado ;)

 

 

"Continue fazendo como uma garota, porque está funcionando."

Por Ananda Figueiredo 01/02/2018 - 11:00 Atualizado em 07/02/2018 - 10:18

O ano acabou de começar, mas janeiro já foi embora e aí não tem outra saída: fim de férias e as crianças precisam ir para a escolinha. Novo ambiente, rostos, cheiros... estes são apenas alguns dos fatores que marcam o início da vida escolar da criança. Além disso, elas precisam aprender a ficar longe dos pais e mães. Fazer dar certo nem sempre é fácil, mas existem algumas estratégias que podem auxiliar:

1) A família precisa, antes de mais nada, confiar na escolha que fez dentre todas as opções de escolinhas. Afinal, é lá que seu pequeno ou pequena ficará na sua ausência.

2) É importante que os pais sejam acolhidos pela equipe da escola durante o processo de adaptação da criança. Não tenha medo nem vergonha de ser chato, de questionar nem mesmo de querer participar. Por outro lado, não esqueça que é importante confiar na sua escolha, logo, é importante também levar a sério as orientações da equipe de profissionais.

3) É normal a família se sentir insegura neste período, afinal a adaptação é, também, para os adultos, que precisarão se acostumar a deixar a criança ir para o mundo. Mas é importantíssimo não deixar isso transparecer para a criança. Ora, como a criança acreditará que tudo vai ficar bem se o papai e a mamãe estão chorando no portão?

4) Se com a mãe, por exemplo, a adaptação estiver muito difícil, vale a pena tentar que o pai assuma o processo por um período.

5) Não fuja ou se esconda. É fundamental comunicar a criança todas as vezes em que você for se afastar, até que possa se despedir dela e retornar apenas na saída da escola.

6) Converse com a criança sobre o que irá acontecer. Se possível, visitem a escola antes das aulas quantas vezes forem necessárias até que ela minimanente consiga se sentir confortável. Um sinal de conforto? Ela solta sua mão e brinca no parquinho.

7) Leve para a escolinha um objeto de transição, algo de casa que transmita confiança, como a "naninha" ou o brinquedo preferido.

Claro, isto não é um manual. Você, certamente, conhece seu filho e, assim, conhece também seus sinais - leia-os! Crianças são espontâneas e sinceras, é só você direcionar seu olhar e saber o que perguntar ;)

Tem alguma dúvida? Alguma dica que deu certo com você? Comenta aqui embaixo. Você já sabe, este é um espaço de diálogo e eu quero te ouvir.

Por Ananda Figueiredo 08/02/2018 - 16:50 Atualizado em 08/02/2018 - 16:58

No que se refere à trajetória escolar, provavelmente a data mais significativa é a ida para o 1º ano do ensino fundamental - para as crianças e para os familiares. Depois do susto em se dar conta do quão rápido a criança cresceu, é importante que os pais e mães passem tranquilidade para a criança, afinal de contas, se mudanças já não costumam ser fáceis, aqui ainda inicia a preocupação e cobrança com a alfabetização. Por isso, vamos conversar sobre o que você pode fazer para tornar esta transição da educação infantil para o ensino fundamental mais suave?

1) As escolas precisam seguir os Parâmetros Curriculares Nacionais e, por isso, é bem provável que o conteúdo seja dividido por disciplinas. Mas, pra criança, é difícil lidar e se adaptar com esta abstração e segmentação. Uma sugestão então é levar o lúdico para casa e, assim, ajudar sua filha ou seu filho a integrar as disciplinas. Por exemplo: pegue um livrinho de conto de fadas, que trabalha a leitura, e complemente pesquisando a vida nos castelos (história) e depois os alimentos da época (ciências).

2) As tarefas escolares também costumam vir com mais frequência para casa. Então, você vai precisar acompanhá-la, dar suporte na execução, e ajudá-la a organizar qual disciplina será estudada a cada dia. Também é importante criar um espaço aconchegante e interessante para que ela se concentre. Nada de tarefa no tapete da sala, ok?

3) A maioria das escolas trabalha com um professor regente, que dá quase todos os conteúdos, e outros professores apenas em disciplinas como artes, educação física ou inglês. Este formato não é familiar para a criança, então é provável que ela se sinta intimidada. Converse com ela e construa situações em que a criança possa ver você conversando com estes professores. Assim, ela se sentirá mais segura e confiante de que todos estarão ali para ajudá-la.

4) Aqui em nossa região é bem comum que a criança mude de escola neste momento. Desta forma, além da mudança na rotina e dos professores, sua antiga turma não o acompanhará.  Incentive sua filha ou seu filho a enxergar esta mudança como uma oportunidade de fazer novos amigos.

5) Se você perceber que o tempo de brincar na nova escola ficou muito restrito, vem aqui a sua maior tarefa: garantir que a criança consiga brincar. Por isso, não lote a agenda dela com inúmeras atividades extra curriculares. Judô, futebol, balé, música, enfim, tudo isso pode esperar, afinal ela só tem 6 anos e ainda precisa brincar livremente em casa, no parque, na rua e, porque não, na escola.

Por Ananda Figueiredo 23/02/2018 - 11:00 Atualizado em 23/02/2018 - 11:33

Você conhece o mito grego do Leito de Procusto?

Procusto é um bandido que assalta viajantes e os obriga a se deitar em seu leito de ferro. Caso a vítima seja maior que o leito, Procusto amputa o excesso de comprimento. Se for menor, estica. Como nenhuma pessoa é exatamente do tamanho da cama, ninguém sobrevive.

Por que, em plena sexta-feira, eu decidi reviver o blog e falar de mitologia grega? Porque, como nós já conversamos aqui, por mais evoluída e moderna que possamos pensar ser nossa sociedade, "padrão" ainda é um termo muito utilizado. Moda, arquitetura, beleza, sexo... corpo - aparentemente, sempre há uma determinada noção de certo x errado.

Como mulher, percebo que este padrão de Procusto é imperativo quando se trata do corpo. O corpo feminino está em alta: alta cotação, alto investimento, alta padronização... alta frustração. Por isso, nesta sexta-feira, dia 23, estarei com um timaço de mulheres conversando sobre as nossas experiências, que às vezes é de amor e, às vezes, nem tanto.

Se a sua relação com o seu corpo está sendo difícil no momento, vem conversar com a gente! Se você já encontrou o amor no corpo que possui, venha nos inspirar!

Olha só quem vai estar lá:

Ah, é gratuito, mas os lugares são limitados! Até mais tarde ;)

Por Ananda Figueiredo 26/02/2018 - 17:00 Atualizado em 26/02/2018 - 17:25

Na última sexta-feira me reuni com 45 mulheres para compartilhar nossas experiências, sucessos e angústias em viver em/com um corpo feminino. Foi forte, foi rico, mas também foi dolorido. Quer saber por quê? Veja esses números:

 

Quando o assunto é “beleza”:

4 a cada 100 mulheres têm diagnóstico de transtorno alimentar no Brasil.

85% dos casos de transtornos de imagem acontecem com mulheres, sobretudo na adolescência.

Brasil é o 2º país que mais faz cirurgia plástica e o 3º país que mais consome cosméticos no mundo.

 

Quando falamos sobre a mulher no trabalho:

52% das mulheres já sofreram assédio sexual no trabalho.

Mulheres recebem 25% a menos do que os homens, nos mesmos postos de trabalho, 35% a menos em cargos de chefia e liderança.

Santa Catarina é o quarto estado no ranking brasileiro da desigualdade salarial entre homens e mulheres.

Mulheres tem carga horária semanal de 5h a mais que os homens.

 

Se formos falar de publicidade:

Mulheres são responsáveis por 80% das decisões de compra, mas 75,7% das marcas dirigem seus comerciais apenas aos homens.

 

E tudo isso resulta em:

1 em cada 3 brasileiros culpa a vítima pelo estupro.

54% dos brasileiros afirmam que conhecem uma mulher vítima de violência conjugal.

56% dos brasileiros afirmam que conhecem um homem agressor.

85% das brasileiras temem violência sexual.

1 mulher apanha a cada 15 segundos no Brasil, o que representa 4 mulheres por minuto.

1 mulher morre a cada 1 hora e meia no Brasil (55% dos feminicídios são cometidos por familiares, 33% por parceiros ou ex parceiros).

Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo.

 

Viver em um corpo feminino é viver conforme essas estatísticas. Viver em um corpo feminino é viver com coragem - sejamos corajosas!

Fonte: ONU Mulheres

Por Ananda Figueiredo 27/02/2018 - 16:00

A realidade está aí: olhamos todos os dias para ela. Nossas emoções, em resposta, tentam ser nomeadas pela nossa racionalidade. Mas, com certa frequência, nos falta atenção ao que sentimos, ou palavras que definam este sentir.

Para estes momentos, temos a arte. Ela nos permite ver nossas questões de um novo ponto de vista. Pode até tornar mais claro aquilo que inicialmente era incompreendido por nós - permite, por vezes, um efeito de espelho, onde surgem diferentes perspectivas, uma nova exploração da forma de sentir, um olhar de fora para dentro.

Por isso, quero lhes apresentar o trabalho do artista @avogado6. O pouco que sei sobre ele é o que pode ser visto em seu twitter, local onde expõe seus desenhos: é um desenhista anônimo japonês, cuja sensibilidade representa muito do que, tenho certeza, você também já sentiu. Veja só:

Os desenhos estão sem legenda para que você possa projetar em cada um deles suas emoções e memória. Coloque, em cada um, a sua própria legenda e, caso se sinta confortável, compartilhe aqui nos comentários o seu sentir.

Por Ananda Figueiredo 28/02/2018 - 18:00 Atualizado em 01/03/2018 - 07:47

Homossexualidade: aqui está uma palavra que, para muitos, já gera desconforto só na pronuncia. Hoje, especificamente, eu não vou falar sobre o preconceito ou o adoecimento dele decorrente. Vou só responder a pergunta que dá título à este texto, numa tentativa de esclarecer e conscientizar. Veja só:

1)Opção sexual?

Terminologia ultrapassada. A ciência já atestou que ninguém escolhe ser homossexual, apenas se é. Vou usar o exemplo que um paciente homossexual compartilhou comigo: imagine o seguinte: você é um homem hétero e se depara com duas mulheres, uma baixa e outra alta, mas se interessa apenas pela alta. Imagine, então, que isso venha a ser um padrão: você se interessa, sexualmente, apenas por mulheres altas – você não opta por ela conscientemente, apenas não deseja sexualmente, não tem atração, por mulheres baixas. Ou seja, nem você tem opção sexual ;)

2) Traumas causam homossexualidade?

Nenhum estudo científico comprova isso. NENHUM.

3) Erro dos pais?

A educação, o convívio e contexto familiar podem, sim, resultar em dificuldades e sofrimento psíquico. Em termos leigos, podem trazer problemas no desenvolvimento do sujeito. Mas, como a homossexualidade não é um problema, mas sim uma característica, um modo, dentre tantos, de existir no mundo, não há erro de pais que possam causar o seu desenvolvimento.

Bônus: Homossexualidade ou homossexualismo?

O sufixo "ismo" é indicativo de uma condição patológica. Mas, como já falamos aqui, não se trata de uma doença. Além disso, é ele que usamos para indicar uma doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso (parece complicado, mas tenho certeza que você já pronunciou "cristianismo" ou "marxismo"). Mas se, com falamos, é algo intrínseco ao sujeito, não é possível educar alguém para adotar a forma "homo" em sua sexualidade. Por isso, usamos o termo "homossexualidade", ok?

 

Agora que você chegou ao fim deste texto, quem sabe deixa de se arrepiar com uma palavra que, em verdade, só fala sobre o amor?

Por Ananda Figueiredo 01/03/2018 - 21:00 Atualizado em 01/03/2018 - 23:39

O Supremo Tribunal Federal acaba de decidir que pessoas trans poderão alterar seu nome e gênero no registro civil sem a necessidade de realização de cirurgia de mudança de sexo. Além disso, decidiu também que não será preciso autorização judicial para a requisição da alteração no documento, que poderá ser feita em cartório.

(Se você não é um expert nas terminologias, siga para o final do texto. Lá você encontrará um glossário com os termos centrais nesta discussão.)

Mas por que mesmo isto é uma questão social e judicial?

Minha pergunta se deve ao fato de que, na psicanálise, vemos o corpo físico como uma estrutura que dá suporte à identidade do sujeito. Su-por-te, ou seja, não é a identidade em si. Em contrapartida, meu nome é meu cartão de apresentação; ele me identifica e me permite existir na e para a sociedade.

Por isso a importância da decisão do STF. Agora, a existência de uma parcela significativa da população será adequada e devidamente nomeada. Pronto! Já podemos retomar nossa existência cotidiana, do alto do conforto e do privilégio de termos nossa identidade respeitada desde o nascer.

 

STF autoriza transgêneros a mudar nome e gênero sem precisar de cirurgia, laudo médico ou autorização judicial

 

Glossário:

Sexo biológico: Determinado pelos genitais, sistema reprodutivo, cromossomos e hormônios. Pode ser feminino, masculino ou intersexo (quando há presença de determinantes tanto masculinos quanto femininos).

Identidade de gênero: Maneira como alguém se sente e se apresenta para si e para os outros, que pode ser como mulher, como homem, como gênero neutro ou como bigênero. Na maior parte das vezes, o sujeito se identifica com o gênero correspondente ao seu sexo biológico, ou seja, nasce com um corpo masculino e se sente homem ou nasce com um corpo feminino e se sente mulher. Indivíduos assim são chamados de cisgêneros. Mas, para algumas pessoas, não acontece dessa maneira.

Transgênero: indivíduo cuja identidade de gênero não corresponde ao seu sexo biológico. De maneira geral, sentem um grande desconforto em habitarem seu corpo, já que não se identificam com seu sexo biológico. Por isso, têm a necessidade de adotar roupas características do gênero com o qual se identificam, se submetem a terapia com hormônios e realizam procedimentos para a modificação corporal, tais como: a colocação de implantes mamários, a cirurgia plástica facial, a retirada das mamas, a retirada do pomo de Adão.

Transexual: Transgênero cujo sentimento de mal-estar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo anatômico resulta no desejo de submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a um tratamento hormonal a fim de tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo desejado.

Por Ananda Figueiredo 05/03/2018 - 22:00 Atualizado em 06/03/2018 - 09:59

Na última semana comecei a receber os convites para falar sobre ser mulher. Aceitei. Mas, percebi a limitação do meu conceito de mulher, circunscrito àquilo que EU vivi. Por isso, aqui será diferente: todos os dias, um texto escrito por uma mulher, especialmente para o blog.

Deleitem-se (ou revoltem-se) com as palavras da Patrícia Guollo*:

 

"Confesso que eu escrevi e apaguei algumas vezes para tentar achar uma definição do que é ser mulher, me recusei a usar o Google e preferi ouvir a minha voz interior. Sinceramente, eu só consigo pensar em luta. Então, tudo que eu vou escrever aqui é com o meu coração.

Se eu tivesse nascido homem eu não seria nem metade da pessoa que eu sou. Não, eu não estou diminuindo os homens. Mas cada dificuldade que eu passei por ser mulher me tornou mais forte, aprendi com elas. Então os obstáculos no meu caminho fizeram com que eu percebesse cada vez mais a minha importância no mundo, o meu valor e o meu poder de construir a minha história. Isso me mudou.

Talvez você esteja lendo esse texto e pensando: bobagem! Pois é, ser mulher me ensinou que às vezes as pessoas iriam achar que minhas dores e aflições não passavam de bobagens ou que eram coisas que eu mesma inventei. Por muito tempo acreditei nisso e carreguei o peso de uma culpa que nunca foi minha. E sim, as vezes é melhor ficar quieta. Mas que seja por opção nossa e não por opressão.

Ser mulher é lutar contra as pequenas e grandes vozes que volta e meia tentam nos calar, nos encaixar e nos fazer pensar que não podemos, ou que só podemos se seguirmos regras pré estabelecidas e nos encaixarmos em padrões inalcançáveis.

Quem é mulher sabe que nadar contra a maré todos os dias não é fácil. Por isso volta e meia a gente até agradece quando ela está a nosso favor. Essa luta está longe de acabar, porém, eu estou determinada a vencer todas as barreiras, todos os obstáculos e a falar mais alto (se for preciso) quando uma voz quiser colocar palavras na minha boca.

Digo isso porque na minha vivência ser mulher é se posicionar sempre. Mesmo sem poder medir o efeito que isso vai ter sinto que não posso mais deixar que ninguém diminua ou desmereça o que é nosso, nosso corpo, nosso comportamento, nossa forma de viver, nossas escolhas e nós mesmas. Ser mulher é somar essas pequenas vitórias com a sensação de estarmos fazendo a nossa parte em prol de um mundo melhor para todas!

Obrigada pela oportunidade de expressar o que sinto a respeito do que é ser mulher!"

 

Patrícia, obrigada eu por compartilhar o seu sentir!

 

*Patrícia Guollo e psicóloga, youtuber e escritora  no www.entrecabelosebarba.com.br.

Por Ananda Figueiredo 06/03/2018 - 16:30 Atualizado em 06/03/2018 - 16:47

Você já elaborou as palavras da Patrícia Guollo? Seguindo nossa série colaborativa, hoje convido você a refletir com as palavras da inspiradora e questionadora Márcia Silva*:

 

"Ser mulher, estar mulher, se sentir mulher...

Para mim, o termo “mulher” tem um aspecto pejorativo. Não soa como realmente é. Usamos palavras menos fortes, como feminino, menina, moça, mocinha, senhora. A sociedade carrega tanto nas tintas que a palavra Mulher soa forte, sexual, posse, ou designa uma mulher inferior, como em “aquela mulher”, “mulher da vida”, “mulher fácil”, mulher do fulano. As outras são mocinhas, esposas, senhoras... Ao refletir sobre ser mulher, lutei contra essas primeiras impressões.

Cada fase da vida descobrimos as dores e as delícias de ser mulher, como diz a música. Na infância ficamos o tempo todo ajeitando vestidinhos e quando não usamos, lutamos para não parecer um moleque com aquela roupa, com aquele cabelo, com essa sujeira toda de brincar lá fora. Era legal ser menina na escola, porque a professora era mulher. Era chato ser menina para brincar porque as brincadeiras mais legais nos fazia parecer menino, andar com menino era divertido, mas não podia ser aquela-menina-que-só-anda-com-meninos que as mães das amiguinhas não deixava brincar. Descobri cedo que devia me comportar para ter a aprovação não só dos meus pais, mas dos pais das amigas também e da professora. Um pedaço fica para trás. A sociedade cobra uma mocinha.

Na adolescência, os aspectos de mulher florescem e você começa a receber olhares na rua. Vem a recomendação de não olhar para ninguém, passar na rua olhando para o chão. Vem a menstruação e você tem vergonha de estar menstruada. Não pode parecer que está menstruada, você tem cólicas, dores e aprende que precisa fazer tudo normalmente. Você descobre que tem cheiro de menstruação, que você pode engravidar, que se alguém mexer com você na rua a culpa é sua. Você já é uma mulher para fazer determinadas tarefas, mas muito criança para fazer outras. A sociedade cobra uma mocinha bem comportada e cheirosa, penteada, maquiada também.

Os primeiros relacionamentos nos mostram que ser mulher é esperar que o rapaz te convide. Se você convidar primeiro, é oferecida. Se sair e beijar no primeiro encontro é fácil. Se transar, é passada de mão em mão pelos “amigos” porque homem nenhum quer mulher fácil. Você não pode experimentar o sexo, a não ser que o rapaz queira, e então todos da família fazem de conta que você não faz sexo. Você descobre que se engravidar, o amor da sua vida não te dará suporte. Você será julgada por toda opção. Aborto? O rapaz paga mas o risco é seu. E você vai se derreter pelo rapaz que abre a porta do carro para você entrar. Mas se você tivesse um filho de outro relacionamento, ele nunca se casaria com você. Porque rapazes querem uma moça direita para se casar. Ele também precisa satisfazer as expectativas dos seus pais ao apresentar uma moça para se casar. Não uma mulher, ainda mais com filho já. A sociedade cobra moças direitas que escondem que fazem sexo. Elas não fazem, elas são virgens. Não são mulheres.

O divórcio é um aspecto interessante para ser mulher. Você já é mulher, decide que não quer estar casada com esse homem. Você perde todo o respeito da família, amigos do casal e dos amigos homens também. Eles se sentem no direito de te cantar da maneira mais abjeta possível porque você não tem nada a preservar (nem virgindade, nem casamento). Se você se separou porque o marido te traiu foi porque ele foi buscar fora o que não tinha em casa: uma mulher magra, sexy, sempre disposta com um copo de cerveja gelada na mão, de calcinha.  Se separou porque não quer mais viver com ele, é porque quer festar e transar com todo mundo e tem amantes por todos os lados. Uma máquina sexual, que era fria com o marido. Uma puta. Você pode ser, mas ninguém pode saber. A sociedade exige uma puta casada, que faça o Sr. Gray corar, mas com um marido que às vezes é grosseiro, não sabe fazer sexo e não se importa se você tem orgasmos. Porque exigir orgasmo é coisa de feminista mal comida. Se você não tem orgasmo com seu marido é porque você é fria.

Com filhos, a sentença é até engraçada, se não fosse trágica. Se o filho se der bem na vida, foi porque teve um pai rígido e educador. Se não corresponder ao que a sociedade espera de alguém bem sucedido, teve uma mãe que lhe fazia todas as vontades. A sociedade exige uma mãe incansável, com atitudes impecáveis. Não pode se queixar porque na hora de fazer foi bom, na hora de abrir as pernas não pensou e ser mãe é o destino sagrado de toda a mulher, não se queixe porque tem mulher que queria ter um filho e não pode.

Mas como nem tudo são espinhos no caminho, ter filhos é muito bom, o abraço, o cheiro do filho, o amor que aquelas criaturinhas te proporciona é algo insubstituível, Você descobre o que é amar e ser amada, com os filhos.

Eu descobri a beleza de ver meu corpo envelhecendo e minha mente amadurecendo. Eu desejo e gosto de ajudar outras mulheres a superar etapas. Eu aprendi a não julgar uma mulher por suas atitudes, mas ainda preciso me trabalhar muito mais para não reproduzir o que a sociedade me ofereceu por minhas atitudes. Eu quero que minha filha se sinta livre para amar o seu corpo e usar o seu corpo para ter experiências maravilhosas de vida. Eu quero que minha mãe ame o seu corpo e se aceite, valorizando a sabedoria que ela conquistou, aprendendo a duras penas por essa vida.

Eu amo a minha experiência como mulher!"

 

Márcia, graças à sua experiência como mulher, você nos permite refletir sobre as nossas. Obrigada pela sensibilidade nas palavras!

 

* Márcia Silva é mulher, mãe, educadora física e empresária na Personal Studio Academia.

Por Ananda Figueiredo 07/03/2018 - 09:06 Atualizado em 09/03/2018 - 07:01

Às vésperas do dia internacional da mulher, trago as palavras da corajosa e inspiradora Laís Costa*. Apreciem:

"Laís, o que é ser mulher para voce?"

Ao ser questionada, a verdade é que se passaram milhares de respostas na cabeça, e que elas jamais irão caber aqui nesse depoimento.  
Eu não consigo ser apenas mulher, eu sou mulher, negra, empreendedora, questionadora, em processo de empoderamento. 
Li e reli a frase a cima algumas vezes, tentando organizar o que é ser tudo isso. E o que todas essas em uma só me fez, e me faz.
Antes de me descobrir mulher, me descobri negra, ainda pequena 4/5 anos descobri o racismo, ao ponto de não querer ser mais dessa cor. Graças a uma mãe incrível que me ensinou de maneira lúdica naquela idade, e depois de tantas outras formas, tenho orgulho de quem sou.
Antes de me descobri mulher, me descobriram, em uma puberdade precoce, descobri o assédio.
 Aos 12/13 anos era assediada com certa frequência, quando naquela época ia ao centro pagar contas para minha mãe, até que aquilo se tornou rotina em todos os quintos dias úteis de cada mês.
Antes de me descobri mulher, descobri o racismo, o assédio, o preterimento, a hipersexualização. 
Quando me descobri mulher, descobri que tudo que eu tinha descoberto até então iria continuar em meus dias até hoje, e que teria que encontrar formas de conviver com tudo isso, e que pior, eu iria encontrar formas de agravar ainda mais. Ter uma personalidade questionadora, ser sonhadora, e querer empreender, e se não bastasse começar um processo interno de empoderamento e reconhecimento de si. 
Ser mulher para mim, é resistir, resistir todos os dias para um hoje e  um amanhã melhor.
É acordar na certeza que é possível passar por cada obstáculo, com dificuldade, ou não. 
Que é possível se conhecer, e se respeitar. Que é possível decidir o não, ao invés do sim. Que é possível escolher o difícil e ser feliz.
Que é possível olhar no espelho e amar o que se vê.
Que é possível ser o que eu quiser ser, ainda que o mundo não seja justo e igualitário. 
Porque sim, nós podemos!"

Lais, histórias como a sua nos empoderam. Termino a leitura do teu texto com a certeza de que nós podemos, sim!

*Lais Costa e designer de moda e empresária da marca Zakii

Por Ananda Figueiredo 08/03/2018 - 17:41 Atualizado em 08/03/2018 - 18:19

Você está acompanhando a série colaborativa de posts sobre "Ser Mulher"? Já tivemos textos da Patrícia Guollo, da Márcia Silva, da Laís Costa e, hoje, te convido a experimentar o olhar da incrível Deise Duarte*:

 

"Eu nasci mulher e desde o início não me perguntaram o que eu preferia.
Quando disseram que nasci mulher, vieram os brincos e laços, trazidos pelas mãos de todos aqueles que me amavam mesmo antes de saber "o que" eu seria.
A fragilidade começava a ser expressada nos tecidos macios e nas cores pastéis. 
Me disseram sempre que a delicadeza é que me caia bem.

Insistiram tanto nessa fragilidade que por algum tempo, acreditei na "proteção" de ser incapaz de fazer escolhas.

Hoje, não vejo proteção nas orelhas furadas, nos sapatos apertados de saltos altíssimos, nos peitos amassados e empinados, no jeans estreito e em tudo o que me disseram que eram "coisas de mulher".
Inclusive, por mais que digam que não há mais "Coisas de mulher", ainda vejo minhas amigas esconderem seus anticoncepcionais ou absorventes no fundo das sacolas na saída das farmácias, o que talvez demonstre que o termo não está em desuso. 

Como também não está em desuso o "papo de mulherzinha", sempre que mulheres se reúnem para conversar. Homens tem papo de macho. Mulheres têm “papo de mulherzinha”. Ser mulher dá ao mundo o direito de nos colocar no diminutivo.

Diminutivo onde também querem colocar a nossa voz...ah... Como mandam baixar a nossa voz.
Ela sempre é um incômodo.

Mulher argumentando é histérica, é descompassada.
Mulher que fala alto é deselegante.
Mulher bem sucedida é mal-amada.

Amélia que era a de verdade. Boa mesmo é a do lar. 

Fizeram tantas escolhas por nós… e nos beijaram, nos tocaram, nos enganaram. 
Nos deram ordens e  roupas cor de rosa.
Nos mandaram fazer silêncio.

Mas eles não sabiam que a gente ia conhecer o arco-íris e guardávamos um megafone chamado sororidade.

Eles não sabiam que ia chegar o dia que nasceríamos mulheres de nós mesmas é que faríamos nossas próprias escolhas: existir."

 

Deise, que bom poder encontrar com você no final do arco-íris. Obrigada!

* Deise Duarte é mulher, mãe de dois filhos e escritora.

Por Ananda Figueiredo 09/03/2018 - 21:30 Atualizado em 10/03/2018 - 19:20

Último post de convidada para a nossa série colaborativa da "semana da mulher" e não podia ser com nenhuma outra. O texto da Elaine Külkamp* traz a história, as dores e as alegrias por trás do corpo feminino que ela, como nós, habita. Recebam suas palavras:

 

"Agora sim... Após cuidar da casa, da filha, do trabalho e de mim, posso finalmente me sentar e definir (a meu modo), o que é ser mulher.

É ser multitarefas, hiperdinâmica e ultrarresistente.

É dar conta da casa, do trabalho, da família, de si mesma... ou não.

É ser mãe de um, dois, três, quatro... ou de nenhum.

É viver insegura.

E, acima de tudo, ser julgada o tempo todo.

A sociedade é cruel, e tenta nos empurrar goela abaixo padrões e posturas ditas ideais. Mas e nosso direito de escolha, como fica? E o amor próprio?

O corpo perfeito, cabelo sedoso e brilhante, pele de pêssego sem manchas e imperfeições, olhos brilhantes e vívidos, roupas ideais para a idade e ocasião determinados. Vou falar de experiência própria, que ilustrará um pouco o que quero dizer.

Nasci estrábica, quase cega de um dos olhos, sempre fui gordinha e assim, sofri bullying durante toda a infância e adolescência. Por conta disso, fiz quatro cirurgias em meu olho para tentar corrigir o desvio (sem muito sucesso), e mudei hábitos alimentares que me fizeram emagrecer alguns quilos.

Mas nunca foi suficiente.

O olho não estava no ângulo correto, os quilos perdidos nunca foram suficientes, a pele começava a mostrar sinais de envelhecimento. Mas eis que um acidente vem a mudar todo o panorama, e me mostrar que essas preocupações eram tolas.

Com 35% do corpo queimado, com manchas que me acompanharão por toda a vida, amadureci e enxerguei que somos muito mais que uma casca moldada pela imposição estética. Não somos bonecas de porcelana, belas, porém intocáveis. A perfeição existe na particularidade de cada uma de nós, e naquilo que não está visível e palpável.

Ser mulher é amar a si mesma, irradiar essa beleza e conquistar nosso espaço.

É ser dona de casa, empresária, frentista, astronauta, motorista, enfermeira, atleta, cigana... o que ela quiser!

É lutar por aquilo que somos ou queremos ser.

É lutar por nossos direitos e por respeito."

 

Ao falar de perfeição, você nos apresenta a beleza de sermos, todas, igualmente imperfeitas. Obrigada pela coragem e pela luta!

 

* Elaine Külkamp Silveira Venâncio é mulher, mãe, e sócia proprietária na empresa Armazém Burger & Bier

Por Ananda Figueiredo 22/03/2018 - 12:00 Atualizado em 22/03/2018 - 14:26

Ontem foi o Dia Internacional da Síndrome de Down e, como a data tem como princípio promover discussões e conscientização sobre a trissomia do 21, a programação da rádio, os telejornais, enfim, por toda parte, vimos informações e respostas às principais dúvidas da população geral – e isso é ótimo!

Enquanto lia e ouvia, dois aspectos comuns chamaram minha atenção: O primeiro deles, o respeito à diferença. O segundo ponto, a preocupação com a capacidade funcional e a procura por certezas de um desenvolvimento cognitivo e motor “adequados à idade”. Como ontem vocês ouviram as respostas de profissionais especialistas e que atuam diretamente com pessoas com síndrome de down, não vou respondê-las. O que quero trazer para a discussão é que, salvas as proporções, as perguntas e preocupações com relação ao desenvolvimento das crianças que não possuem trissomia do 21 são praticamente as mesmas.

Quando atendo crianças no consultório, a primeira sessão é sempre com os familiares responsáveis. E aí, independente do quadro clínico, costumamos ter dois momentos: o primeiro, em que, sem que eu pergunte, ressaltam tudo aquilo que consideram que a criança está à frente da sua idade; e um segundo momento, em que questionam o que seu filho deveria ser capaz de fazer e ainda não faz. Ontem mesmo ouvi a pergunta: “o que uma criança deve saber fazer aos quatro anos de idade?” E vou responder a vocês da mesma forma que respondi àquela mãe e àquele pai:

Uma criança de 2, 3, 4, 5 anos ou mais deve saber que está segura e como manter-se a salvo em lugares públicos e quando houverem pessoas que ela não conhece. Ela deve saber brincar, ser vilã, ser mamãe, ser médica, ser o que quiser. Deve saber que o mundo é mágico e que ela é mais ainda. Uma criança deve saber que é inteligente, capaz, maravilhosa e amada incondicionalmente. Fim.

Tendo dito isto, quero acrescentar o que nós, mães, tias, avós, pais, padrinhos, precisamos saber:

Que cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer cálculos a seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos na vida adulta. Nós, adultos, precisamos saber que ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa da turma nunca significou ser a mais feliz, nem mesmo o adulto mais bem sucedido no futuro. Estamos tão obstinados em garantir a nossos filhos e filhas todas as “oportunidades” que acabamos lhes oferecendo vidas com múltiplas atividades e cheias de tensão, tais como as nossas próprias vidas (inclusive, vidas das quais reclamamos e, com frequência, nos fazem adoecer). Nós precisamos saber que uma das melhores coisas que podemos oferecer a nossos filhos é uma infância simples e despreocupada. Precisamos saber que nossos filhos precisam de algo completamente alcançável: precisam de nós.

Vivemos um tempo em que revistas voltadas à maternidade nos ensinam a pôr na agenda minutos diários para ficarmos com os filhos e a reservarmos um sábado por mês para eles. Eu não sei para vocês, mas para mim isso é completamente absurdo! Estamos ausentes – este é um fato. Como compensação e em uma tentativa de acalentar nossa culpa, criamos uma competição entre nós adultos, mas que têm nas crianças os peões do tabuleiro. E, assim, aquele respeito à diferença do qual falamos lá no começo do texto fica absurdamente restrito aos programas de rádio e aos escritos do jornal, circunscritos a datas bem específicas como a de ontem e os quais compartilhamos rapidamente em nossas redes sociais. Em casa, ah não, em casa a diferença só é bem vinda se for para vencer.

Infância não é competição porque filho não pode ser troféu ;)

 

Este foi o tema do quadro Fica a Dica do Jornal das Nove de hoje. Se você quiser ouvir, aqui está o Podcast - o quadro inicia aos 41minutos.

Por Ananda Figueiredo 13/04/2018 - 15:00 Atualizado em 13/04/2018 - 15:08

Esta semana recebi num grupo de whattsapp um texto que defendia a palmada com o argumento de que boa parte de nós, hoje adultos, apanhamos quando crianças e sobrevivemos a isso. Obviamente, não é a primeira vez que tenho contato com esse argumento, mas cada vez mais me incomoda perceber que nós avançamos em muitas coisas, mas ainda achamos ok bater em crianças. Por isso, decidi trazer para o blog uma reflexão sobre a disciplina positiva.

A disciplina positiva é uma moderna abordagem da psicologia da educação que acredita que “controlar” os filhos pelo medo ou pela dor só provoca vergonha e baixa auto estima, mas nenhum ou, no máximo, muito pouco resultado. Quem afirma isso é uma pesquisa recentemente publicada, que envolveu mais de 15 mil famílias de 20 países, especialmente com pais de crianças de 2 à 10 anos e com comportamento explosivo. A pesquisa confirmou que a melhor intervenção com as crianças, ou seja, aquela que obteve maiores e melhores alterações de comportamento, levava em conta a empatia e fazia com que a criança percebesse que suas atitudes têm consequência. Podemos dizer, portanto, que o exercício na disciplina positiva é nos colocarmos no lugar da criança - nunca no mesmo patamar para competirmos com ela.

Uma régua que o próprio estudo aponta é: elogiar bons comportamentos ao menos duas vezes mais do que recriminar por mau comportamento. Será que você já cumpre esta medida?

O fato é que nós vivemos pedindo por respeito nas nossas relações, então por que a criança não merece o mesmo? Além disso, todos nós sabemos que crianças aprendem pelo exemplo e não pelo que falamos. Então, do que adianta dizer que ela não pode bater o colega da escola se, quando isso acontece, o que nós fazemos é justamente bater?

Tudo bem, eu sei que você foi educado assim e sei mais ainda que nós temos uma incrível tendência a reproduzir aquilo que conhecemos. Mas pense um pouquinho: como é que você se sentia quando apanhava? Eu sei que é difícil mudar nossa forma de agir diante do mau comportamento dos pequenos, mas sei também que ttambém dói em você quando a criança apanha. Então, vou te dar uma dica: ficou incomodado? Estressado? Irritado? Vai perder a razão? Saia de perto, respire, retome seu controle. Afinal, é justamente o seu descontrole que aparece quando você bate,nunca o da criança.

"Agora, Ananda, quer dizer que eu nunca vou poder dar uma palmada?" Ora, se isso é realmente importante para você, lembre-se de uma coisa: você não quer espancar seu filho, eu tenho certeza disso. Mas, a verdade é que se da primeira vez nós dermos um tapa, a segunda pedirá por dois, depois por três, e aí recorreremos à cinta, à varinha, ou seja lá o que for, para não corrermos o risco de ouvir da criança aquilo que todos nós já dissemos um dia: “nem doeu”. Então, vamos lá: se não consegue abrir mão da palmada, use-a apenas diante do mau comportamento mais grave do seu filho ou filha. Na pior de todas as situações, no pior comportamento de toda a vida de seu pequeno. Se você, algum dia, tiver a certeza absoluta de que ele nunca fará nada pior, eu prometo que não vou te julgar pela palmadinha. Mas, será mesmo que você conseguirá ter esta certeza?

Por Ananda Figueiredo 03/05/2018 - 10:00 Atualizado em 03/05/2018 - 10:07

Maio começou e, assim, começamos a falar sobre maternidade - afinal, como você sabe, dia 13 será o dia das mães no Brasil. Aqui, então, não será diferente, e vamos portanto honrá-las com nossos parabéns, mas sobretudo usar este espaço para questionar algumas verdades supostamente absolutas no campo da maternidade e da maternagem. Vamos comigo?

Me parece que não havia outro caminho para percorrer se não iniciarmos discutindo o tal instinto materno e o amor de mãe, dois temas que sempre vêm a tona quando pensamos sobre as expectativas sociais para a mulher, mesmo antes desta optar por ter um filho, mas certamente quando ela inicia o processo de gestar.

Vamos ao tão falado instinto materno. Ora, o que é um instinto? Tecnicamente, instinto é um impulso natural, um comportamento pré-determinado que é comum em toda uma espécie. Ele apela para o nosso lado mais primitivo, mais "animalesco" e, assim, nada racional. Uma ação instintiva seria, então, um comportamento impulsivo, não pensado, que qualquer indivíduo de uma espécie em específico adotaria igualmente. Neste ponto começa nosso questionamento: para falarmos de instinto materno precisaríamos, então, que todas as mulheres, sem exceção, desejassem impulsivamente e primitivamente um filho. Deste modo, não haveria rejeição, não haveria abandono afetivo, nem mesmo a opção de entregar, voluntariamente, uma criança para adoção. Não é nosso ponto aqui mas, assim como não há, portanto, um instinto materno, não há, igualmente, um instinto paterno, pois ninguém está pré-determinado, biologicamente, a ser mãe e nem pai.

Desconstruído o princípio do instinto, te convido a entrar comigo no amor materno. Em uma sociedade que supõe uma pré-determinação para o ser mãe, não é estranho notar a cobrança do amor materno. No "mundo de Alice" que vendemos para todas as mulheres, o amor deve brotar como mágica, no minutinho em que olhamos para aquele serzinho que acaba de nascer. Mas, vamos refletir um pouco: o amor nasce assim, magicamente? Quando você e seu parceiro ou parceira se conheceram, por exemplo, o amor brotou no exato momento em que os olhos se cruzaram? Como já falamos, aqui cabe lembrar: amor a primeira vista é, em verdade, uma visão romântica de uma paixão avassaladora, que só se sustenta com o tempo através do convívio, do vínculo, da construção, ou seja, com o advento do amor. Com seu filho, mamãe, não é diferente. O amor materno vem do dia a dia, vem do olhinho brilhando quando o bebê lhe vê e da sua emoção em afagar um choro com um simples toque. O amor materno, como todo amor, é construção.

Então, não se culpe se, com o nascimento do seu bebê, diante de todas as mudanças, do repentino secundarizar de si, das responsabilidades, da rotina, do medo, da insegurança e, até mesmo, dos infinitos palpites, não se culpe se no meio de tudo isso não brotar um imediato amor. Ele ainda virá, eu tenho certeza, assim que a ambivalência entre a paixão pelo bebê e o luto pelo aparente fim de sua antiga vida se acomodarem dentro de você. Sim, você é capaz de amar este bebê, e você o fará. Não por uma pré-determinação biológica, ou seja, não porquê você não teve escolha. Pelo contrário: diante de todas as escolhas possíveis, você escolheu amá-lo. E viva o amor materno!

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