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Os estilos iguais e, no entanto, diferentes do jornalismo da família Machado

Um detalhe: o único a permanecer na atividade fui eu

Por Aderbal Machado 30/03/2024 - 08:52 Atualizado em 30/03/2024 - 09:57

O desejo meu é homenagear os irmãos jornalistas – César, Aryovaldo, Agilmar -, precursores da saga familiar inspirados nos ditames éticos, culturais e profissionais do Velho Telésforo, como o chamavam todos os irmãos, incluindo-se Aimberê e Icleia, também dois jornalistas e radialistas eventuais em vários momentos, sem profissionalizar-se ou consagrar-se à carreira. Eu, nem tanto. Ao menos enquanto ele viveu. Nunca me referi como Velho Telésforo, apenas pai. Afinal, ele se foi quando completei 15 anos (1959). 

Em tantos instantes, mentalizo o estilo de cada um, César (Attahualpa César Machado), Aryovaldo (Aryovaldo Huascar Machado) e Agilmar Machado (e somos ambos, ele e eu, donos de apenas nome e sobrenome, sem enfeites nos meios. Coincidência cabalística: 7 letras (Aderbal e Agilmar) e 7 letras (Machado).

Pois César tinha seu estilo fino, castiço, sem meneios maiores, objetivo, direto. Polemista, chegava forte na primeira investida. Metralhava de uma só vez. Ou demolia num tiro só ou encerrava a polêmica ali. 

Já Aryovaldo, caprichoso também com o português, tinha uma habilidade única: caprichava em terminologias poéticas e citações históricas, ávido leitor vívido que foi. Cáustico ao extremo. Em suas polêmicas profissionais via rádio, jornal ou televisão, curtia o tempo, ia cercando o opositor, jogando-o para campo aberto e então aplicava o torniquete final – guardava as balas de prata para os derradeiros ataques ou contra-ataques.

O Agilmar seguia uma linha diferenciada. Tinha seus arroubos de chegar forte também pelos flancos do “adversário”, fustigando devagar e forte. Culminava com ironias e cozinhava em banho lento, o banho-maria, até ferver. E então batia pra derrubar.

Por mim, nem cheguei a aproximar de todos, porém reuni um pouco do estilo de cada um. Mais do Aryovaldo, meu padrinho como profissional. Foi ele quem me conduziu ao rádio e ao jornal. E, mais adiante, eu o conduzi para a televisão. Com ele aprendi referenciais interessantes de redação e de locução. Na televisão, sem falsa modéstia, o superei, cuidando para manter a devida humildade. Afinal, lidava com meu mestre. 

Conto essa história familiar circunstanciando um jeito de agraciar lições a quem interessar. É importante absorver aprendizados práticos. Mesmo sem desejar, mesmo sem programar. Eu soube disso muito depois. Foi na base do piloto automático. Talvez porque isso já estivesse em mim, por atavismo. Depois de apanhar um monte.

Um detalhe: o único a permanecer na atividade fui eu. E aqui estou ainda, me esfregando nos 80 anos de idade e beirando os 60 anos de exercício profissional, como aprendiz ou como “carteira assinada” e devidos registros profissionais como radialista e jornalista. 

E olha rapaziada da profissão: esta merda passa rápido demais, sô!

Termino citando Quintana, traduzindo isto tudo, muito apropriadamente:

“A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”

Aprendam a lição. Ou se arrependerão muito depois. E tarde demais.

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