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E Portugal me fascinou...

Por Aderbal Machado 23/12/2023 - 09:00 Atualizado em 23/12/2023 - 09:28

Em dezembro de 2019 Dona Sonia e eu seguimos pra Portugal. Objetivo, o nascimento da neta Liz, hoje cabelos de fogo linda do vô e da vó. Portuguesa da gema. Lá ficamos de 9 a 29 de dezembro. Inverno duro, muita chuva. Restaram dez dias esplendorosos, entanto, de sol. Frio, ok. Porém luminosidade absoluta.

A lenga-lenga para por aqui.

Circulamos intensamente, Dona Sonia a observar belezas e contrastes. Ela ama natureza e lidamos muito com ela, nas bem cuidadas árvores frutíferas em plenas praças públicas e nos terrenos privados, jogando frutas para fora dos muros.  E sem freios a quem quisesse usufruir. Civilidade, isto se chama.

E eu, um bocado além, quis aspectos históricos e culturais. Mania de família, herança do velho Telésforo, professor emérito, poliglota (alemão, italiano, espanhol – fluentes) e escritor, advogado e observador de tudo relacionado ao mundo.

E observei comportamentos, detalhes de serviços e atitudes pessoais e coletivas. Contarei parte – servindo, no fundo, de paradigma.

Nos mercados – carrinhos de compra disponíveis, só podendo ser liberados com imposição de um euro. Devolvido o carrinho ao lugar devido, o euro voltava. Carrinho abandonado, por exemplo, no estacionamento, o euro ia embora.

Na saúde – no nascimento de Liz, tendo em mãos o PB-4, papel do SUS do Brasil válido por um ano lá, nos Açores e, creio, na Itália, ocorreu num hospital normal. Estrutura modesta, perfeita nos atendimentos. De lá a criança nascida só saia com o registro pronto e exames pós natividade completos. Documento: identidade plástica. 

As receitas – vinham (ou vem, ainda) com o nome do remédio, laboratório e PREÇO. E aquele preço valia EM TODO O PAÍS. Só mudaria se o cliente preferisse de outro laboratório.

Lixo – Missão impossível encontrar nas ruas. E, vejam: prédios e casas não têm permissão para lixeiras nas ruas. Nem pensar. Junta-se o lixo em casa, separa-se como manda o figurino e, final do dia, deposita-se nas cisternas lá fora, existentes em todas as quadras.
E, falando de lixo, nos 20 dias lá vividos, jamais vi garis varrendo rua. Como o lixo, também não consegui ver caminhão de coleta circulando. Eles só passavam na noite para recolher dos contêineres públicos (ou cisternas, como disse lá atrás).

Pera aí, sem lixeiras nos prédios e casas? Sim, e raríssimas lixeiras nas ruas. Só em pontos estratégicos, próximo a mercados e coisas parecidas. No mercado, sacola de plástico – nem pensar, mano. Ou se usava as sacolas recicláveis (trouxemos algumas de lá) ou se levava na mão. Responsabilidade do comprador.

Como aquilo tudo era limpo, sem lixeiras? Ah, veio: educação, cultura. É pra poucos...

Bicicletas circulando, só vi nas praias. Moto: vi UMA. Assim mesmo porque meu nariz apontava praquele lado. Nenhum ruído. Parecia um Mercedes.

Lá tudo é trem. Ônibus só os micro para circular entre as gares ou ir a locais específicos. O trem? Meninos, eu vi: tudo na hora marcada. Uma hora a saída, era uma hora a saída. Nada de 12,59 ou 13,01. Uma hora, uma hora. Chega, abre a porta, a gente entra e ele arranca com tudo. Lá dentro, informações totais num painel luminoso: locais, vento, temperatura, itinerário, destino. Compra-se um tíquete e com ele se vai embora só passando nas cancelas. Ninguém controla. Não burlam isso? Raramente acontecia. Em acontecendo, ai do transgressor. Entra nas portas do inferno.

Ah, e os monumentos. E as histórias contadas. E os ídolos do mundo lá: Vasco da Gama, Fernando Pessoa, príncipes, imperadores e princesas – em todos os lugares. Monumentos distribuídos aos montes pelas ruas e praças. Virei fã de Fernando Pessoa lá, ao posar ao lado do seu túmulo, no Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, tocando-o carinhosamente. Ali também toquei no túmulo de Camões. Sensação irresistível e imorredoura.

Comemos o Pastel de Belém famoso, ao lado do Mosteiro dos Jerônimos. Inevitável passar pela Torre de Belém, claro. Mas meu fascínio foi o Mosteiro. E, noutro dia, o ápice: a visita ao Cabo da Roca, ponto mais ocidental do continente europeu, na freguesia de Colares, município de Sintra. Luís Vaz de Camões descreveu-o como o local “Onde a terra se acaba e o mar começa” (Os Lusíadas, Canto III).

Há muito mais. Vinte dias foram poucos. Minha alma, quando me for, se dividirá entre minha terra e aquilo tudo lá. Voarei por sobre o Atlântico sem fechar os olhos para a transição dos meridianos. 

E reviverei a luz e a noite como vivo hoje a transição soberba do mundo giratório de cada dia como se fosse o último. E um dia será.

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