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Os corridões da infância, o Juja e os papos na esquina

Não consigo – e nem quero - me separar de um passado muito venerado
Por Aderbal Machado 27/01/2024 - 07:48 Atualizado em 27/01/2024 - 07:52

Lembro, vez por outra, de episódios vividos na infância no Araranguá. Quando, em turma, íamos à Lagoa da Serra a pé, só pra zoar à beira da água, sobre a relva fresca e sob as árvores selvagens. O medo de jacaré saindo de repente do lago existia. Todo cuidado com cobras. À noite, sapos e outros bichos. E a mosquitada comia solta.

No caminho, ida ou volta, metia-se a mão em melancias dando sopa ao lado da rodovia. Muitas melancias amarelas, hoje raras. Se ombreavam com as vermelhas em quantidade. E algumas vezes éramos surpreendidos pelo dono da roça. Um corridão e pronto. Estávamos a uma distância segura.

Noutras ocasiões, ficava-se de papo na esquina da Sete com a Regimento Barriga Verde, gastando bobagens e mentindo muito sobre conquistas amorosas nunca havidas, só pra dar sintoma de galã. Juntos, ali, quase toda noite, Galo Cego (Sérgio Benito Maciel); Nego Dido; Juarez e o irmão, filhos de Edmundo Grisard – então já falecido e outros “menos votados”. O Galo morava na esquina, ali mesmo. Eu, na Regimento, terreno ao lado. Éramos vizinhos.

O Nego Dido e os filhos de Edmundo Grisard eram funcionários da marcenaria do Bilo, fabricante de caixões funerários. De tal modo virou moda, ao falar de alguém mal de saúde ou colocando em risco a própria segurança – a referência do bordão: “Chama o Bilo”.

É ficção falar disso agora. Muitas gerações passaram desde a época e parece loucura essas referências. Até eu duvido, pois foi tudo tão assustadoramente rápido que me causa uma sensação de perdição, como se tivesse deixado passar uma série de verdades da vida. E quando tento comparar com as coisas d’hoje, piora bem.

E termino relembrando minha amizade com o Juja (José Francisco Grechi), filho de Urivaldi e Eufêmia, irmão de Humberto Ronald e de Dom Moacir Grechi, emérito religioso de alta tradição na Igreja Católica do Brasil.

Juja foi, depois, funcionário destacado do Banco do Brasil. Nossa amizade se moldava em longos passeios de bicicleta pelos recantos da cidade, jogar pião e bolinha de gude ao lado da casa dele, esquina da Sete com a Caetano Lummertz, em frente da casa do Pedrinho Mello, motorista de táxi preferido de papai. A casa de Pedrinho, mais tarde, virou fórum. E hoje é o que é.

Os tempos passados, na comparação com o hoje, foram desfigurados pelo seguir de cada um e pelo alegado “progresso” urbano. Eu, por mim, ainda misturo as imagens e as liquidifico para selecionar as melhores e entronizá-las indelevelmente cá dentro de mim.

Porque não consigo – e nem quero - me separar de um passado muito venerado.

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