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A mão de Dona Zulcema

Artigo publicado na edição desta semana do Toda Sexta
Por Adelor Lessa 05/10/2020 - 10:38 Atualizado em 05/10/2020 - 10:46

Década de 70, eleição no sindicato dos mineiros de Rio Maina.
Eu fui para lá, me misturei entre os mineiros, e passei o dia ouvindo as conversas.
Era um garoto ainda, começando no jornalismo, vindo de Araranguá fazia pouco tempo, ninguém me conhecia.

Rio Maina já era distrito de Criciúma e o sindicato de lá foi criado na década de 60 para dividir a base do sindicato dos mineiros de Criciúma, que tinha tradição de movimentos de greve na região.
O sindicato de Rio Mana era comandado por mineiros ligados aos empresários do setor, os chamados “pelegos”, e as eleições tinham histórico de fraudes. De todos os tipos. Inclusive, como a votação era em dois dias, uma vez levavam as urnas para “dormir" na praia, e lá fizeram a “troca de votos”.

Pois, tudo isso eu ouvi, e tudo eu contei na matéria especial publicada no outro dia em O Estado. Que foi o primeiro grande jornal estadual, que circulava em todo o território catarinense.

A reportagem “citou” várias vezes o nome do Delegado Regional do Ministério do Trabalho da época. Que anos antes havia sido advogado em Criciúma, sempre muito ligado aos empresários do carvão.  E que foi sempre ligado às “operações" de eleições passadas.

Exatamente naquele tempo, meu pedido de registro de jornalista começava a tramitar na Delegacia do Ministério do Trabalho. E lá ficou, ficou, ficou.
Saiu o registro de todo mundo, menos o meu.
Foram meses de atraso. Anos.

Até que um dia, de novo fui na Delegacia do Trabalho, em Florianópolis, em busca da liberação do meu registro, e encontrei uma Senhora, muito querida, entrando no prédio.
A Delegacia estava fechada. Era ponto facultativo na Capital.
Mas, essa Senhora perguntou o que eu queria, eu disse que era de Criciúma e estava pela centésima vez indo lá em busca do meu registro.

Ela disse que também era de Criciúma, me colocou para dentro, deu água, café e tratamento vip.

Era “dona" Zulcema Póvoas Carneiro, chefe de gabinete do Delegado do Trabalho.
Alma boa, ela se compadeceu com minha situação. Se fez solidária, e prometeu tentar resolver.

Uma ou duas semanas depois, ela me ligou, pediu para ir até lá.
Fui no outro dia.
Levado direto na frente do Delegado. Que estava com todos os meus documentos, e todos os meus textos em mãos que falavam dele (e não eram poucos).

Ele anunciou:
“Está assinado, mas só quero dizer que você deve o seu registro à dona Zulcema”.

E assim terminou a conversa. Já saí dali com o registro na mão. Saltitante.

E todas as vezes que encontrei “dona" Zulcema, fiz questão de lembrá-la - “a Senhora é a culpada”.

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