No último ano, um fenômeno digital tem preocupado pais: o crescente interesse das crianças por chatbots baseados em inteligência artificial (IA). Apenas nos EUA, o número de buscas por tal tecnologia mais que dobrou nos últimos meses, colocando em discussão o nível de segurança dos pequenos ao acessar plataformas do gênero.
Fascinante, mas perigoso
Não é difícil entender o fascínio dos chatbots. Entre respostas rápidas, ajuda com a lição de casa e conselhos sociais, esses serviços oferecem um espaço de acolhimento e amparo. Para algumas crianças, sobretudo aquelas que enfrentam desafios emocionais, esses bots podem parecer tão familiares e próximos quanto um amigo. De fato, cerca de um terço dos usuários infantis descrevem sua relação com a tecnologia como semelhante a uma amizade real, com essa cifra chegando a 50% no caso de crianças vulneráveis.
Isso é preocupante por diversas razões. Em primeiro lugar, a IA não foi desenvolvida pensando em menores. Assim, a IA pode produzir conteúdos enganosos, inflamatórios ou inapropriados para os pequenos. Em segundo, essas plataformas não apresentam inteligência emocional realista. Isso pode acarretar consequências sérias no desenvolvimento das crianças, como a confusão de limites, dependência emocional e, até mesmo, a chamada “psicose da IA”, na qual os usuários experimentam delírios em relação aos bots.
Como os pais podem lidar com a situação
Para navegar nesse cenário e proteger os filhos, os pais devem adotar uma postura proativa, fazendo uso de estratégias pedagógicas e ferramentas adequadas de segurança. Abaixo estão algumas das principais medidas a serem implementadas.
1. Conversar aberta e frequentemente
A palavra de ouro é “empatia”. Os pais devem deixar seus filhos explicarem por que interagem com a IA, seja para trabalhos escolares, companhia ou curiosidade. Reconhecer os motivos é o primeiro passo para poder ajudá-los a entender as limitações da IA. Isto é, que os chatbots podem não ter censura, não ser verificados ou até mesmo ser enganosos. Pesquisas mostram que, embora muitos pais se preocupem com essas questões, apenas uma minoria discute ativamente esses tópicos com seus filhos.
2. Estabelecer diretrizes claras
Após uma conversa franca, é importante que os pais definam quando, por quanto tempo e para quais propósitos as ferramentas de IA podem ser usadas. Para manter certo controle da situação, deve-se incentivar a discussão antes e depois de cada interação com os chatbots, usando o “tempo da IA” como uma atividade compartilhada e segura. Uma boa estratégia, neste sentido, é convidar os pequenos para ler e revisar as conversas nos bots juntos. Essa abertura gera confiança e consciência crítica.
3. Usar a tecnologia para reforçar limites
Para elevar o nível de segurança, além do diálogo, é fundamental ter ferramentas digitais que auxiliem no processo. Escolhas interessantes incluem, por exemplo, configurações de controle parental (tanto nos dispositivos quanto nos próprios aplicativos), revisão de termos de privacidade, e uso de programas voltados à segurança. Nesse último caso, softwares antimalware e redes virtuais privadas (VPN) são duas opções prioritárias. Enquanto os serviços antimalware defendem os dispositivos contra ataques e violações maliciosas, uma VPN brasileira ajuda a criptografar o tráfego de internet, adicionando uma camada de proteção quando as crianças interagem com plataformas de IA.
4. Estimular o pensamento crítico
Outro passo essencial é equipar as crianças com ferramentas para avaliar criticamente os resultados da IA e se suas interações com ela podem ou não serem positivas. Perguntas que devem ser incentivadas abordam temas como a precisão das informações, a presença de exageros ou generalizações, e a adequação das respostas (“Um adulto conhecido, como os professores ou familiares, diria algo do tipo?”).
5. Priorizar as conexões humanas e a saúde mental
Em um nível mais pessoal, deve-se ajudar as crianças a verem a IA como uma ferramenta, não como um amigo substituto. Isso pode ser feito ao se promoverem interações sociais reais, levando-as a clubes e encontros para brincar, por exemplo. Ao notar que elas buscam apoio emocional em chatbots, é aconselhável incentivá-las a conversar com um adulto de confiança ou profissional de saúde mental. Pesquisas mostram que a companhia da IA não substitui os laços humanos e, de fato, pode prejudicar o bem-estar de usuários isolados.
A ascendente popularidade do uso de chatbots por crianças levanta importantes questões familiares, especialmente no campo do diálogo e da formação crítica. Diante dos riscos que o uso frequente dessa tecnologia pode acarretar, a resposta mais eficaz que os pais podem adotar está justamente em fortalecer essas áreas, buscando empoderar os pequenos no discernimento entre aquilo que é útil e o que é prejudicial em plataformas do gênero. Ao fazer isso, as famílias podem orientar seus filhos rumo a um engajamento mais seguro, informado e equilibrado com a IA.