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Pacote fechado

Por Arthur Lessa 02/09/2021 - 18:02

Uma das piores coisas que podemos fazer na vida é deixar os outros pensarem por você. Ou definir o que você deve pensar, ou o que pode pensar.

A imagem que ilustra esse texto é a melhor ilustração que conheço pro problema que vejo cada vez mais agravado na sociedade brasileira.

Para contextualizar, a charge (já relativamente antiga), faz referência à relação diferente dos usuários de tecnologia que usam computadores normalmente operados com Windows, da Microsoft, daqueles adeptos da Apple.

Enquanto os primeiros comumente montam (ou encomendam) seu equipamento de acordo com as especificações que necessitam para o trabalho e, em caso de algum problema ou necessidade de upgrade, substituem uma peça por outra, os  fãs da “maçã mordida” tem uma quantidade limitada de produtos pré-definidos para escolher e, em caso de necessidade, normalmente substituem o conjunto todo por um novo.

Não vou aqui criticar o modelo de negócio criado por Steve Jobs. O conceito de criar um sistema operacional sob medida para um equipamento padronizado, garantindo que tudo se encaixe perfeitamente para uma experiência otimizada, foi um dos grandes trunfos da empresa. Mas, reduzindo ao mínimo, se trata de um pacote fechado e pré-definido.     

Hoje esse raciocínio (infelizmente) tem se mostrado gritante nas questões políticas, com extremistas (dos dois lados) passando do ponto de rotular para o ponto de empacotar. Ou você é fascista, negacionista, terraplanista [+ n adjetivos], ou você é comunista, defensor de ditadura, alarmista [+ n adjetivos].

Nesse jogo forçado, quem não abraçou alguma das cartilhas, mais ensaiadas que o coro da missa de domingo, se sente até mal. “Será que eu sou um criminoso por concordar com algumas coisas de um lado e outras coisas do outro lado?”

Esse grupo é o que chamam de “isentão”. Qual é a do isentão? Se não quer entrar pra guerra, quer o que? Quer viver a sua vida em paz e pensa sozinho.

Agora vamos sair da política e voltar ao tema recorrente desse espaço.

Uma história que o Adelor adora contar é de quando saiu da Rádio Eldorado AM, depois de anos na emissora, onde comandava o principal programa jornalístico e chegou a diretor-geral e sócio proprietário.

Isso aconteceu por volta de 2003/2004. Ele estava fora do ar, precisava de uma emissora para continuar seu programa, encontrou um sócio e comprou a Rádio Som Maior, que na época reproduzia a programação da Band FM, que se destacava pelo estilo popular.

Depois de pesquisar o público local, encontrou uma demanda não atendida para o público adulto contemporâneo e buscou para o lugar da Band FM a rede paulista Antena 1, que, ao mesmo tempo que atendia perfeitamente a necessidade musical, não tinha nenhum espaço “falado”, muito menos local. Tocava música, entrava o locutor anunciando a que tocou, a que vai tocar e vinha mais música. E o Programa Adelor Lessa, faz como?

 Pra resolver a questão, ele foi até São Paulo, conversou diretamente com o dono da rede e conseguiu convencê-lo a ceder quatro horas de programação local para a afiliada criciumense. Pra quem tem alguma familiaridade com franquia, sabe que sair do padrão estabelecido pela marcar é uma conquista.

Depois de lançada a nova programação, o que lhe chamou atenção foram as perguntas que ouviu, inclusive de pessoas próximas e clientes: “mas pode ter jornalismo em FM? A lei permite?”

Se não era uma pergunta jurídica, vinha uma previsão assertiva, característica daqueles que pouco entendem de algum assunto, mas querem dar pitaco: “isso não vai funcionar!” 

Hoje, em 2021, chega a ser estranho pensar que houvesse essa dúvida. E não faz tanto tempo, hein! Brasil já era penta, Google já ajudava a descobrir a capital do Butão e celular já tocava na hora errada.

Mas não era por maldade que perguntavam se podia, nem por falta de cultura geral, mas porque na “caixa” que tinham recebido estava a informação de que AM é informação e FM é música. Não muito diferente de “Bolsa é só pra rico” ou “faculdade garante emprego”. Ideias antigas, podem ter feito sentido um dia, mas não fazem mais.

Então pare pra pensar um pouco.

Quais caixinhas prontas que você recebeu até hoje?

E quais você acha que já não valem mais?

 

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