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O segredo é não pessoalizar (?)

Por Arthur Lessa 19/02/2021 - 06:22

Meu pai me perguntou, há alguns dias, por que motivo eu estava tão sério, pensativo e com cara de preocupado. Falei um dos motivos pra ele: vendi todas as ações que tinha de uma empresa na carteira e estava pensando se havia acertado na decisão, já que ela deu uma pernada de alta no dia seguinte (mais um belo exemplo da inescrupulosa Lei de Murphy). Ele, quase de bate pronto, me respondeu: “Mas o segredo nesse tipo de negócio é não ‘pessoalizar’ os investimentos, certo?”

Sim e não... O raciocínio que deu origem a essa pergunta dele está correto, mas uns dias depois a construção da frase voltou à minha cabeça (provavelmente estava passeando no meu subconsciente até então), me colocou a pensar de novo (sim... sou daqueles que facilmente se perde dentro da própria cabeça) e me pus a definir a diferença.

O ato específico de “pessoalizar”, que é dar identidade ao sujeito de uma situação (ou ação de uma empresa, nesse caso), é uma das atitudes mais indicadas em qualquer curso introdutório de investimentos, principalmente em renda variável, quando o investidor está vinculando seu dinheiro à gestão de terceiros, na qual não terá poder algum de interferência, e, por conta disso, terá praticamente terceirizado se e o quanto seus recursos (agora convertidos em pedaços da empresa investida) vão ganhar ou perder valor.

Um exemplo contrário é o investimento em um CDB. Você sabe quando e quanto irá receber de volta o dinheiro com a valorização contratada. O único fator a ser acompanhado é o risco de o banco quebrar, que, convenhamos, normalmente é quase nulo.

Dar um nome, pensar no produto ou serviço desta empresa é extremamente importante e, via de regra, define o sucesso de um investimento, tanto pelo momento de entrar (comprar ações) quanto de sair (vender as ações e recuperar o dinheiro). Além de analisar os múltiplos financeiros (lucro por ação, margens de resultado e afins) em busca de barganhas, ou cigar butts (bitucas de charuto, em inglês), como diria Warren Buffett, é importante olhar com atenção a empresa em si. Qual a participação no setor? Quais as perspectivas futuras do mercado em que a empresa está inserida? Quais as vantagens competitivas frente às concorrentes? Quem é que “pensa” a empresa e o que está sendo pensado ali?

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Há menos de seis anos, a Magazine Luíza era uma rede de lojas que batalhava para se recuperar financeiramente e sobreviver no mercado. Hoje é praticamente o Pelé da B3, já que todos buscam “a Nova Magalu”. Por que? Porque ali tinha a arrojada Luiza Helena Trajano e o inovador (e filho de Luíza) Fred Trajano, hoje referências em varejo no Brasil. Essa história e não se vê em números frios, apenas os resultados gerados. Foram essas pessoas que criaram essa história.

Por outro lado, aí sim entrando no raciocínio correto que captei no termo “pessoalizar” eu ajustaria para “se apegar”. E nesse sentido, sem dúvida, é um mindset imprescindível para o sucesso no campo dos investimentos.

Essa lição aparece recorrentemente no livro Axiomas de Zurique (1985), de Max Gunther, principalmente no terceiro capítulo (O Axioma da Esperança), que começa com a objetiva e didática frase “Quando o barco começar a afundar, não reze. Abandone-o”. Gunther explica que o foco de tudo no investimento é o dinheiro e este não tem carimbo e, se um investimento não teve sucesso e você não tem informações confiáveis de que a situação irá melhorar, encerre a posição, aceite o prejuízo e procure a próxima oportunidade. Se o investimento nas ações da XYZ Chuveiros der prejuízo e não há indicativos de melhora, não faz sentido manter a posição para que o investimento retorne o que “lhe deve”. O mercado não deve nada para ninguém e dinheiro não tem carimbo.

De qualquer maneira, o mais interessante desse texto que você acabou de ler é que nasceu de um diálogo de poucos segundos. Quando me perguntam porque leio tanto sobre investimentos, esse tipo de episódio é um bom exemplo. Assim como muitos assuntos futebol, guerra, pôquer, Big Brother,..), quanto mais se aprofunda no estudo, mais vê exemplos ao seu redor. Investimento, assim como a própria economia, é tanto uma ciência de gente quanto de números.

[o texto acima foi publicado na edição 018 do Toda Sexta, em 29/01/2021]

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