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As águas-vivas voltaram com tudo

Há pouco mais de uma semana, adolescente sofria forte ataque no Balneário Esplanada
Por Denis Luciano & Fagner Santos Criciúma, SC, 25/12/2018 - 14:50
Arquivo / A Tribuna
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A jovem Maria Luiza, 13 anos, estava com calor no sábado passado. Tirando proveito da pouca distância do mar, durante o veraneio no Balneário Esplanada, tomou a companhia do pai e correu. Queria água. Tomavam banho havia alguns minutos quando “uma esponja, parecia branca”, chamou a atenção dele. Poucos segundos depois e a menina reagiu. Partiu em direção à areia correndo, chorando, gritando.

“Foi imediato. Aquele bicho passou por ela e a minha filha sentiu muita dor”. Poderia ser uma queimadura comum de água-viva, de tantas que se multiplicam nessa época do ano, não fosse a extensão dos ferimentos e da dor sentida pela adolescente. “De certeza, é um tipo de água-viva diferente”, conta a mãe, Ana Paula Bertan, que estava na casa de verão da família quando notou a filha, aos prantos.

“E com a perna muito queimada. Eram vários riscos vermelhos, fortes, e algo grudado nela. Eram os tentáculos da água-viva, cada um com uns 25 centímetros, transparentes e com uma gosma vermelha dentro”, detalhou a mãe, assustada. Foram duas noites sem dormir, com muita dor, até que o socorro médico depois procurado e os muitos medicamentos tomados fizessem efeito. “Ela não tinha nem como sentar. Mas não sentiu febre, mas sim muita dor”, detalhou Ana Paula.

A menina teve atingidas a sua perna esquerda, do pé até o joelho, pela frente, e também a parte posterior da coxa direita. “As queimaduras chegaram até perto da vagina e do ânus”, observou. “A própria médica nos disse que era um tipo diferente de água-viva. Daí fizemos muita compressa com vinagre branco de álcool”. A família reside em Morro da Fumaça.

O que fazer com as águas-vivas

Há duas temporadas houve tanta água-viva no litoral catarinense que os bombeiros militares, que fazem os atendimentos na orla, adotaram um expediente internacional: a bandeira lilás. “Já tivemos alguns casos nessas últimas semanas, nada de grande concentração, casos esparsos. Temos a bandeira lilás que identifica a grande concentração em todo o mundo e adotamos aqui faz dois anos”, comentou o capitão Samuel Ambrósio, do setor de instrução e ensino dos bombeiros de Criciúma.

O capitão comenta que as águas-vivas da costa catarinense não são das mais perigosas. “Elas causam vermelhidão, ardência, dor, mas logo em seguida passada. A não ser que a pessoa tenha alguma alergia mais específica”, ponderou. “Ou é alguma nova água-viva que possa estar chegando”, observou, ao saber do caso da adolescente de Morro da Fumaça.

O procedimento da mãe no Balneário Esplanada foi elogiado. “Ela fez o correto, usando vinagre. Colocar água doce é o pior, pois daí libera toxinas no corpo, o que pode causar lesão mais grave”, destacou o capitão. Ele lembrou que nos postos de guarda-vidas os homens estão preparados para os procedimentos corretos. “Sábado fiz rondas nas praias e identifiquei algumas águas vivas grandes, das rosadas, mortas nas áreas mais desertas das nossas praias. Do Rincão a Passo de Torres”, informou.

A temperatura do mar pode influenciar com o número mais elevado das águas-vivas. “Nosso litoral tem praias semelhantes, água mais gelada, mas não é comprovado cientificamente que água quente traga água viva, há estudos no mundo inteiro, não há estudo comprovado”, percebeu.

A explicação dos biólogos

No litoral de SC, foram 7,7 mil queimaduras durante o ano. Mas, o número é intensificado no verão. Apenas no mês de janeiro de 2018, foram 6,5 mil casos. No Litoral Sul, os animais envolvidos nos casos costumam ser as águas-vivas, as mães d’água, as caravelas e as medusas. “No caso da moça atacada, é certo de que foi uma medusa, e das grandes”, observou o professor e biólogo do Museu de Zoologia da Unesc, Rodrigo de Freitas. Os invertebrados aparecem mais no verão, quando as águas estão mais quentes. 

A presença dos animais é normal na zona costeira. Os casos mais comuns de queimaduras não envolvem as medusas e as caravelas. “Esses dois tipos de animais marinhos podem infligir mais dor do que as águas-vivas comuns”, alerta o especialista. Elas possuem tentáculos, responsáveis por emitir as toxinas ao entrarem em contato com outros organismos. No ser humano, as toxinas acabam por causar dor. Em muitos casos, extrema, como foi com a jovem em Jaguaruna. Mas, o que não é comum é a presença de medusas ou caravelas com toxina suficiente para matar um ser humano. “Esse tipo de animal mais letal é comum na Austrália”, exemplifica. 

O que ocorre é que o tempo de contato do animal e a vítima pode aumentar a dor, ou diminuí-la, caso seja rapidamente retirado. “No caso da menina, os tentáculos provavelmente se enrolaram na perna dela, o que causou muitas queimaduras graves”, diz Freitas. Existem grupos de risco que podem ter encontros mais sérios com as águas-vivas e outros animais marinhos. “Crianças entre zero e sete anos, adultos acima dos 50 e quem tem muitas alergias devem ficar atentos para este tipo de animal no oceano”, alerta o biólogo. 

O correto a se fazer em caso de queimaduras é aplicar vinagre. “Como os pais da menina fizeram, corretíssimo”, enfatiza. A água doce acaba facilitando a entrada dos ferrões e, consequentemente, da toxina do animal na pele. “Vai queimar mais, piorar muito”, alerta Freitas. Para evitar o problema, é importante não entrar na água caso aviste um destes animais. “Também é possível se basear na bandeira que os guarda-vidas fixam na areia”, enfatiza. A de cor rosa indica a presença das águas-vivas no local.

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