Há pouco tempo participei de uma entrevista com o jornalista Antonio Colossi. Questionado sobre a minha infância e início da adolescência em Nova Veneza, lembrei com saudades dos inúmeros banhos no rio Mãe Luzia, ainda possíveis apesar da poluição já estar presente. Comentei sobre a extrema importância da despoluição do Mãe Luzia para as cidades às suas margens, principalmente para a vocação turística de minha Veneza natal, já consagrada com o Carnevale e a Festa da Gastronomia. Por coincidência, poucos dias depois, Adelor Lessa abordou o mesmo assunto no seu programa na Som Maior, com a precisão que lhe é peculiar. Discorreu sobre a participação do procurador Demerval Ribeiro Vianna Filho na Câmara de Vereadores de Criciúma, que forneceu importantes dados sobre a degradação ambiental na nossa região.
“Há muito a ser feito. A despoluição dos rios, por exemplo. É preciso recuperar, pela poluição de ontem, e inadmissível que continuem a poluir. É um absurdo aquele rio que corta o centro da Nova Veneza estar daquele jeito.” Comentário textual de Adelor. Mas acrescentou: “É fato que a partir da década de 90 as coisas mudaram. E mudaram bem. As empresas se modernizaram, a degradação diminuiu sensivelmente, e o meio ambiente passou a ser mais respeitado. Seja por ações do Ministério Público, seguidas por decisões firmes do Judiciário, ou por entendimento dos operadores dos negócios. Mas, mudou.”
Leitura perfeita e em um momento oportuno, uma semana antes do 22 de março, data em que se comemora o Dia Mundial da Água. O tema deste ano é “Salvem Nossos Glaciares”, mas para a realidade local deveria ser “Salvem os Nossos Rios”.
Como fundador do Moto Trail Criciúma percorri inúmeras trilhas da nossa região e pude constatar a enorme devastação do meio ambiente. Entre as preferidas estavam as trilhas que conduziam às belas paisagens do Montanhão, totalmente poluídas pela extração a céu aberto da gigante Marion. E sou testemunha da observação de Adelor. Muito já foi feito. As regiões de Rio Fiorita e Rio Morosini, antes paisagens lunares, agora estão em ritmo avançado de recuperação, com vários sítios e construções no local. Mas muito ainda precisa ser feito. Temos que continuar lutando pela despoluição de nossa bacia hidrográfica.
Minha prima, a jornalista Brigite Josefa Felicita Gorini (o meu tio Dino e seu irmão Mário Gorini, meu avô, tinham o hábito de colocar nomes pomposos nos filhos), descreve em “Nova Veneza – Uma Dádiva” no apropriado capítulo inicial do seu livro ”Bons Tempos” : “As terras banhadas pelo piscoso, belo e cristalino rio Mãe Luzia , cujas águas vagavam entre pedras, formando pequenas correntezas nuns pontos e remansos com poços fundos adiante, povoada por imigrantes em sua maioria vindos do norte da Itália, umas poucas famílias de origem alemã e outras negras em reduzido número, compondo uma comunidade laboriosa e tranquila. Assim era Nova Veneza, nossa terra natal”.
Infelizmente não terei mais a ventura de tomar banho no Mãe Luzia. Talvez meus filhos. Mas com maior probabilidade, meus netos. Principalmente se o Plano Rio Mãe Luzia 2045 – apresentado recentemente aos prefeitos de Treviso, Siderópolis, Nova Veneza e Forquilhinha – for bem sucedido.
As águas cristalinas da Cascata do Mãe Luzia, na Comunidade Guanabara, no Munícipio de Treviso I Foto: Andrea Chaves Borges de Souza
O rio Mãe Luzia no Município de Nova Veneza, totalmente poluído
Leia mais
- Bons Tempos, livro da jornalista Brigite Gorini
- Era uma vez o Rio Mãe Luzia, livro dos historiadores Nilso Dassi e Carlos Renato Carola