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Nascida para ser mãe

Por Grayce Guglielmi Balod 12/05/2018 - 23:15 Atualizado em 12/05/2018 - 23:17

Hoje quero compartilhar uma descoberta que fiz na homenagem às mães da escola de minha filha caçula há uns anos atrás.

Quando vi minha foto projetada no telão pensei:

- Faltam filhos meus aí!

Na foto escolhida para a homenagem estávamos apenas eu e minha filha caçula. 

Que vacilo - pensei - tenho outros filhos. 

Mas mesmo que eu quisesse ver ali uma foto minha com todos os meus filhos não conseguiria. Porque não caberiam todos na foto.

Oficialmente, tenho duas filhas.

Mas são incontáveis os  filhos que adotei ao longo de minha vida.

Fui mãe de meus avós, mãe de meu pai e mãe de minha mãe.

Fui mãe de meu irmão e mãe de minhas irmãs.

Fui mãe de meus maridos e de meus "genrinhos", entre aspas, namoradinhos da minha filha.

Fui mãe de filhos de alguns namorados que tive.

Fui mãe de amigas e de amigos.

Fui mãe de primos e até de tios.

Fui mãe de meus sobrinhos.

Fui mãe de amigas das minhas filhas.

Fui mãe de filhas das minhas amigas.


Nenhuma destas mães biológicas me deu seu filho em adoção.

E nenhum destes filhos me pediu para que eu fosse sua mãe.

Alguns, possivelmente, nem queriam!

Mas nada pude - nem eles  poderiam - fazer para me impedir de adotá-los.

A maternidade era tudo o que eu tinha a lhes oferecer, por isso eu a oferecia.

Era o que eu sabia fazer: cuidar - do meu jeito.

Adotava e me mostrava super protetora e até meio possessiva - eis a prova de que não adotava para colher os louros da ação de adotar.

Alguns de meus filhos rebelaram-se, como era previsível. 

Outros esmeraram-se no papel de filho cuidando sempre para que eu estivesse feliz no papel de mãe.


Minha irmã caçula foi a primeira que 'adotei' conscientemente, tipo, sabendo que aquele papel que eu decidira desempenhar era papel de mãe.

Antes dela eu já me relacionava como mãe com muitas pessoas mas ainda não percebia isso.

Enquanto sua 'mãe' assumi, ainda na minha puberdade, sua criação e educação. Tomei para mim, como responsabilidade minha sabe? Não é fácil...

Dei-lhe todo o amor que tinha e ensinei tudo o que sabia.

Confesso que era pouco, assim como era pouca a minha maturidade.

Casei de véu e grinalda - grávida - com minha irmãzinha grudada em minhas pernas.

Como uma mãe canguru, que tem sua bolsa ocupada por outro filhote e diz para o maiorzinho:

- Não posso te levar na bolsa mas grude em minhas pernas e te levarei aonde eu for.

Ela entendeu o recado e grudou. 

Ficou ali durante toda a cerimônia do casamento. Ficou durante a festa. E ficou enquanto aguentou.

Durante minha gravidez ela dormia quando eu tinha sono e eu sentia sono quando ela dormia.

Uma simbiose, sem dúvida. 

Nossos instintos indicavam a direção, substituindo experiência e maturidade

Com o pouco de discernimento que a idade me permitiu, dias antes do parto conversei com minha filha enquanto acariciava a barriga:

- Tem uma criança aqui fora junto comigo te esperando. Ela é pequena, nasceu pouco antes de voce. Eu a amo muito e espero que a ames também.

Minha primeira filha nasceu na condição de primeira filha biológica de uma mãe que já tinha outros filhos. Um deles, sua tia.


Com o tempo percebi que não era possível fazer com que  todos os meus filhos se reconhecessem como irmãos.

Cada um deles com sua singularidade mostrou mais afinidade com uns  e menos com outros.

Ser mãe de muitos filhos não faz, necessariamente, com que todos sejam irmãos.

Mas nunca me senti menos mãe de nenhum deles por isso.


Muito tempo depois...Fui mãe novamente. 

De outra filha biológica.

E de muitos outros filhos que fui adotando pela vida.

Até que tornei-me mãe de mim mesma.

E hoje sou minha própria mãe. 

As mulheres que perderam sua mãe sabem a importância de nos tornarmos mãe de nós mesmas.


Quando digo que nasci para ser mãe não me refiro ao conceito tradicional da palavra mãe.

Não quero os méritos da mãe que é homenageada no segundo domingo de maio.

Nunca fui mãe em período integral.

Não sei o que é estar disponível vinte e quatro horas do dia para um filho. Preciso de um tempo pra mim.

Não sou uma mãe muito prendada.

Exerço outros papéis na vida - além do papel de mãe e não abro mão deles.

Se digo que nasci pra ser mãe e fui mãe desta gente toda é porque, para mim, ser mãe é ter a capacidade de ser feliz através da felicidade do filho. 

Sim! É  sofrer com seu sofrimento também. 

Mas ser mãe - inclusive de mim mesma - é, acima de tudo, encontrar um certo sentido pra vida no sentido que os filhos - todos os filhos - dão para suas próprias vidas.


Sob esse ponto de vista, talvez toda mulher tenha nascido para ser mãe.

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