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Antes de ser avó

Por Grayce Guglielmi Balod 08/08/2019 - 18:29 Atualizado em 08/08/2019 - 18:34

Estamos prontas para ser avó.

Mas antes queríamos apenas uma nova chance de ser mãe de nossos filhos.

Isso mesmo. 
Engravidar novamente de vocês, filhos.

Curtir cada momento da gestação.

Tirar muitas 'selfies' da barriga crescendo. Do primeiro ao nono mês.

Fazer o pré-natal inteirinho e guardar as fotos de todos os ultra-sons.

Falar pra todo mundo do teu nascimento e viver só pra ser tua mãe.

Te matricular na pré-escola pela tua necessidade de conviver com outras pessoas - não pela nossa necessidade de estudar ou trabalhar, desta vez.

Queriamos uma nova chance de ir as apresentações da escola. Não ia ter pra ninguém, porque iriamos munidas de cornetas e faixas!

Urgentemente queriamos a chance de um novo Dia das Crianças para reparar aquele em que só chegamos para a Noite das Crianças.

Uma nova chance para te buscar na escola no horário em que ela terminava e não no horário em que saíamos do trabalho.

E desta vez, nós que levariamos nossos filhos ao médico. Ou melhor, uma nova chance e nem viajariamos, porque aquelas crises de dor de garganta só ocorriam quando estavamos longe.

Uma nova chance de acompanhar nos temas e nos trabalhos de casa.

Uma nova chance para pentear teus cabelos embaraçados de criança ou colocar lacinhos, elásticos e tiaras.

Uma nova chance para te pegar no colo e depois levantar bem alto. Ver teu rosto assim, de baixo, e te fazer flutuar.

Apertar tuas bochechas e te fazer gargalhar.

Uma nova chance para ir junto aos lugares onde fostes somente com teus avós e tios.

Um nova chance para dizer não para todas as coisas que dissemos sim - quando deveriamos ter dito não.

Uma nova chance para dizer sim para todas as coisas que dissemos não - quando deveriamos ter dito sim.

Uma nova chance para voltar nossa atenção toda para ti, criança.

E então perceberiamos que não eras mais criança.

E passariamos a te tratar como adolescente.

E fariamos de novo tudo o que fizemos: assistir novelas toscas, viajar, bagunçar, encher a casa de gente, comprar guloseimas, sair para comprar roupas para ti nas sextas-feiras, buscar teu irmão de fim de semana e curtirmos muito juntos até o domingo a noite, brigarmos pelo vídeo-game como se fossemos irmãos...

Uma nova chance para te levar a todas aquelas festinhas e buscar depois.

Uma nova chance para responder a tua pergunta:

- Mãe, me dá um cachorro?

Nós diríamos sim! 

 

Não haverá segunda chance, nós sabemos.

Foi como pode ser. 

É que foi tanta coisa ao mesmo tempo que as vezes esquecemos de algumas, justamente as que são mais raras e preciosas.

E ficamos com a sensação de que estava tudo fora do nosso controle. De que nada foi como planejamos.

Mas querem saber? 

Nada nunca esteve sob nosso controle mesmo. É assim até hoje.

E, por mais incrível que possa parecer, tudo foi bem melhor do que nosso plano mais perfeito. 

E aprendemos bem mais do que ensinamos. O mérito é todo de vocês, nossos filhos.


O que sentimos é que agora isso não é mais importante.

Porque, agora, é a vez de nossos filhos viverem tudo isto - e muito mais - com seus próprios filhos.

É a vez deles se desdobrarem entre os papéis de pai e homem, mãe e mulher, profissional e todos os outros que surgirão nestes caminhos que escolherem.

Sai de cena, agora, a mãe que não pudemos ser.

Entra em cena a avó que seremos.

São vocês, agora, nossos filhos, os atores principais.

Este papel agora - quem diria - é de vocês.

Sejam inteiros! Vivam-no da melhor forma que puderem.

Não existe segunda chance para o papel de pai e mãe.

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