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E quem quer pagar ônibus no dinheiro, como faz?

São vários os relatos de gente que precisa desembarcar em Criciúma por não ter o cartão
Por Denis Luciano 31/01/2022 - 11:09 Atualizado em 31/01/2022 - 11:15

O decreto do prefeito Clésio Salvaro na última sexta-feira (28), que apontou o reajuste da tarifa do transporte coletivo em Criciúma que entrou em vigor neste domingo (30), confirmou o que já vem vigorando desde o início da pandemia de Covid-19: não é mais possível pagar passagem de ônibus em dinheiro. Tanto que os R$ 4,25, que eram o valor que vigorava desde 2017 para essa modalidade, nem contou com nova previsão no que está decretado e já em vigor.

Quem não for professor ou estudante (que já usufruem de categorias e preços especiais para uso do transporte), precisa ter o Criciúmacard. Mas e o cidadão que não usa o transporte rotineiramente e necessita do serviço? Alguns situações constrangedoras estão acontecendo, e isso é contado por usuários.

Um cidadão nos contou nesta manhã, na Rádio Som Maior, que precisou do ônibus e não sabia que o pagamento em espécie não era aceito. Lhe foi solicitado pelo motorista que descesse do ônibus. O cidadão respondeu que não desembarcaria. O condutor retrucou, que não estava autorizado a seguir viagem sem que houvesse ou o pagamento com cartão ou em dinheiro. O usuário, então, ameaçou acionar a polícia, já que tinha como pagar e não desejava viajar de graça. Um passageiro, notando o conflito, passou o seu cartão e recebeu o dinheiro do cidadão, permitindo que ele seguisse viagem.

Outro caso. Uma senhora nos procurou para relatar que ficou sem carro em dezembro. Precisou do transporte coletivo. Certo dia, chegou no Terminal Central e ali soube que não tinha como comprar passagem. Precisou descer da plataforma até a galeria, ir ao escritório da ACTU e então fazer um cartão, abastecendo-o com o mínimo de crédito. Logo na viagem de estreia, testemunhou o caso de outro cidadão que embarcou sem cartão, e sem saber que o dinheiro não era aceito. "Ele ficou preso na catraca e o motorista ainda veio dar uma bronca", contou a mulher, preocupada com o que viu.

A solução, novamente, veio de um popular que estava dentro do ônibus, que levantou-se, usou seu crédito para liberar a catraca e foi "indenizado" pelo novo usuário. 

Recebi mais um relato nesta manhã. Um criciumense recebeu familiares de São Paulo para uma visita. Eles desembarcaram na Rodoviária numa noite da semana passada. Naquele instante, não havia táxi ali. Eles atravessaram a rua e tomaram um Amarelinho na Centenário. Foram barrados pelo motorista. Óbvio, eram paulistas, não teriam Criciúmacard. Foram obrigados a desembarcar. Acionaram então o familiar que deixou a sua casa e foi resgatá-los. Logo, o problema se estende tanto aos nativos que eventualmente precisam do ônibus, quanto os visitantes que vêm a Criciúma e gostariam de andar de ônibus.

E tudo isso num momento em que, com extrema razão, Criciúma trabalha o turismo. Quer se vocacionar mas acaba afastamento dos ônibus os eventuais usuários. Isso empobrece o sistema, que já está carente de passageiros e que, com medidas antipáticas como essa, afasta ainda mais o possível cliente. Há saídas. Florianópolis, por exemplo, adotou alternativas tecnológicas. Até pix é possível usar.

É preciso sair do lugar comum. E lembrar que transporte coletivo é uma concessão pública, não um serviço privado que faz o que bem entende. Criciúma precisa dar atenção aos seus ônibus, qualidade, pontualidade, número de horários e o movimento econômico inerente. E há, claro, a passagem. O prefeito insiste que é das mais baratas de Santa Catarina, mas esse acréscimo de R$ 0,55, carente de melhores explicações, impacta em R$ 1,10 diários, para ida e volta, no cidadão da periferia, mais carente, que precisa do serviço. O reajuste impacta em R$ 44 por mês. É menos comida na mesa. É menos dinheiro para os gastos essenciais de famílias humildes. 

Há razões para o aumento? Sabemos que há. Uma conjuntura complexa, que precisa ser melhor explicada. E que voltem a aceitar dinheiro nos ônibus.

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