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* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Benito Gorini 05/01/2023 - 05:00

O calendário é um sistema utilizado para designar o ano e suas unidades menores, os meses e os dias. Tinha como objetivo inicial prever as estações e determinar a época ideal para o plantio e colheita. Com o passar do tempo novas utilidades foram surgindo como a determinação de festas religiosas e feitos militares. 

Os rudimentos de um calendário surgiram há 4000 anos, com a construção de pedras alinhadas, como as de Stonehenge na Inglaterra. Os calendários primitivos eram baseados nas observações lunares. O mês lunar, de 29 dias, era fácil de ser determinado pelas fases da lua e apropriado para funções que se repetiam durante o mês, porém inadequado para finalidades agrícolas. Havia a necessidade de se acrescentar um mês lunar após certo número de anos para “corrigir” o erro, como ocorre com o calendário hebraico, lunissolar. O calendário muçulmano, exclusivamente lunar, começa com a Hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, em 622 d.C. Atualmente, os judeus comemoram o ano 5782 e os muçulmanos o ano 1444.

Outros povos utilizaram o sol como padrão de  medida do tempo, porém com grande margem de erro. Júlio César, em 46 a.C. corrigiu o calendário solar, tendo o ano a duração de 445 dias. Os anos subsequentes passaram a ter 365 dias, com o acréscimo de 1 dia a cada 4 anos (anos bissextos). O Calendário Juliano apresentava, no entanto, anos bissextos em excesso, ocorrendo problemas para determinar a data correta das colheitas e da páscoa, que é baseada em eventos solares e lunares  e fixada pelo Concílio de Nicéia de 325 d.C.  

A Páscoa ocorre no primeiro domingo após a lua cheia que sucede o equinócio da primavera no hemisfério norte, com data móvel que varia de 22 de março a 25 de abril. O papa Gregório XIII solicitou ao astrônomo Cristopher Clavius que fizesse um estudo corrigindo a defasagem, resultando no calendário que utilizamos atualmente, o gregoriano. Ao dia 4 de outubro de 1582, uma quinta-feira no Calendário Juliano, sucedeu-se o dia 15 de outubro, sexta-feira no Calendário Gregoriano. 

História do Calendário | Vídeo:  Tzolkin

Acabou gerando graves transtornos. Após o Tratado de Augsburgo de 1555, que pôs fim as hostilidades entre católicos e protestantes na Guerra dos Trinta Anos, ficou consagrado o principio latino “Cujus Regio, Ejus Religio”, obrigando os súditos a seguirem a religião de seus governantes. Se lembrarmos que a Alemanha era constituída de inúmeros burgos, muito próximos e com religiões diferentes, poderemos ter ideia das inúmeras complicações surgidas dificultando o comércio e as relações entre as cidades católicas, já “gregorianas”,  e as protestantes, que não aceitaram o calendário.  A Grã-Bretanha e colônias só o introduziram em 1752, o Japão em 1873, a Rússia em 1923 e a China em 1949. 

Por Benito Gorini 29/12/2022 - 09:00 Atualizado em 29/12/2022 - 10:48

 “Guarda  qua, chistu ciardino
  Sienti,  si sti sciure arance
  Nu profumo accussi fino
  Dinto ´o core se ne va “
                           
 Torna a Surriento, no dialeto napolitano

São 100 km de litoral, formando um dos mais fascinantes  cenários europeus. A estrada, serpenteando às margens do Tirreno, liga a cidade de Sorrento à Salerno. As estreitas ruas de Sorrento, repletas de artesanato, os românticos restaurantes e as encostas cobertas de laranjeiras, limoeiros, oliveiras e vinhedos, fazem da cidade um excelente ponto de partida. 

Sorrento I Foto: Brasil na Italia

Torna a Surriento, canção de  Ernesto e Giambattista de Curtis com Peppino di Capri I Belas imagens da Costa Amalfitana I Vídeo: Gisele de Padua

A cidade a seguir, Positano, localizada no topo de uma colina e antiga vila de pescadores, é um dos mais famosos e populares destinos de toda a costa. Não deixe de visitar a Igreja da Assunção de Santa Maria, com suas pinturas bizantinas. Praiano, poucos quilômetros à frente,  merece uma breve parada para conhecer a sua marina, ladeada por enormes paredões.  Prosseguindo a viagem chegamos a Amalfi, de origem romana,  a primeira república marítima da Itália, rival de Gênova  e de Veneza, a Sereníssima.  A bússola, que teria sido inventada em Amalfi por Flavio Gioia, revolucionou o comércio no Mediterrâneo e possibilitou as grandes navegações que tiveram início no século XV.  O mar, fonte da enorme riqueza e prosperidade de Amalfi, também foi o responsável pelo seu declínio. A cidade, varrida por um maremoto em 1343, nunca mais recuperou sua antiga glória.  O poeta Petrarca, que estava em Nápoles, descreveu toda a tragédia em suas “Epístolas Familiares”. O interessante é que um outro escritor, Plínio o Jovem, foi testemunha ocular da erupção do Vesúvio que destruiu Pompeia e Herculano em 79 d.C.  O seu tio, o naturalista  Plínio, o Velho que comandava uma frota romana no golfo de Nápoles, perdeu a vida ao tentar salvar os habitantes da costa que fugiam.  Atualmente Amalfi é um tranqüilo balneário, com uma bela catedral e campanário.

Positano I Foto: Partiu Viajar

 Em Ravello podem ser apreciadas as  melhores vistas de toda a costa. Em Salerno, no final da rota, surgiu a primeira Faculdade de Medicina da Itália, no século XII.. Seu rico passado  greco-romano está preservado no Museu Arqueológico da Província. O Duomo, construção do século XI, conserva a tumba de São Mateus. 

DESTAQUES

    • As  vistas panorâmicas da Estrada Amalfitana
    • Passeio de barco à ilha de Capri, partindo de Sorrento
    • O artesanato de Sorrento , em especial os trabalhos em  marchetaria
    • A culinária de toda a região e o Limoncello de Sorrento

SUGESTÕES

    • A Tarantella, dança folclórica da região
    • Jerusalém Liberada, do poeta sorrentino Torquato Tasso
    • Casa de Bonecas , livro escrito pelo norueguês Ibsen em Amalfi
    • Bússola, a invenção que mudou o mundo, livro de Amir D. Aczel
    • Parsifal, de Wagner. Cenários da  ópera foram baseados em paisagens de Ravello

Por Benito Gorini 22/12/2022 - 05:00

Bérgamo é uma cidade antiquíssima. Ruínas do VI século  a.C. foram encontradas na região, antigos remanescentes das habitações construídas neste sítio de localização privilegiada  na Planície Padana, entre o Rio Pó  e os Alpes.

O Palazzo della Ragione, local da Meridiana de Bérgamo. Ao fundo a Capella Colleoni e
A Basilica di Santa Maria Maggiore, na Piazza Vecchia I Foto: Gabi Torrezani
blog Estrangeira

A cidade é dividida em duas partes: a mais antiga, situada sobre a colina e circundada por altas muralhas, e a cidade baixa, com construções mais modernas e sede da Pinacoteca Carrara e do Teatro Donizetti, em homenagem ao célebre compositor bergamasco.  Ângelo Roncalli é o filho mais ilustre de Bérgamo. O humilde padre de Sotto il Monte, delegado apostólico em Istambul, núncio apostólico em Paris e Patriarca de Veneza, tornou-se o Papa João XXIII, um dos mais queridos da história recente do papado. Eleito como um Papa de transição pela idade avançada e saúde frágil, acabou se revelando um grande líder, tendo convocado o Concílio Vaticano II contra a vontade da conservadora Cúria Romana  e redigido as encíclicas progressistas Mater et Magistra e Pacem in Terris.

De todas as províncias da Lombardia, a região de Bérgamo contribuiu com o maior contingente de imigrantes para o Sul de Santa Catarina.

As atrações turísticas mais importantes são encontradas na parte alta da cidade. As muralhas e os pórticos de acesso, construídos pela República de Veneza, ostentam leões alados, símbolos da “Sereníssima”, que dominava toda a região no século XVI.

A Porta de Santo Agostinho, que dá acesso à cidade alta

 Ao redor da  Piazza Vecchia, com suas torres, campanários e cúpulas, situa-se o centro histórico de Bérgamo. Lá se encontram a Basilica di Santa Maria Maggiore, com maravilhosas obras em marchetaria de Lorenzo Lotto  e a ornamentada  Cappella Colleoni. O famoso condottiero foi homenageado com uma estátua equestre na Praça São João e Paulo em Veneza, pelos serviços prestados à República Marítima. Muito interessante é a Meridiana de Bérgamo, em frente à basílica.  O sol do meio dia projeta sua luz no solo através de um disco suspenso, indicando as estações do ano e os signos do zodíaco, desenhados no piso da praça.

A estátua equestre de Colleoni, obra do escultor Verrochio, no Campo San Giovanni e Paolo. Na mesma praça a igreja de mesmo nome onde estão sepultados os doges de Veneza e a Scuola Grande di San Marco | Foto: Tripadvisor

 O Palazzo della Ragione  e a Torre Cívica, com o famoso sino “Campanone”, conjuntos arquitetônicos do século XI, complementam a bela praça. O acesso ao centro histórico, proibido a veículos maiores, é facilitado por dois funiculares, com belas vistas das muralhas e da  planície padana.

O funicular de Bérgamo I Vídeo: Mondovagando

DESTAQUES

  • O belo patrimônio artístico e arquitetônico da Piazza Vecchia, na cidade alta
  • A Porta de Santo Agostinho, local de acesso ao centro histórico
  • Os funiculares e as estreitas ruas da cidade alta
  • O Teatro Donizetti e a Pinacoteca Carrara, na cidade baixa

SUGESTÕES

  • O filme “O Papa Bom”, sobre João XXIII
  • O livro “A Queda”, de Diogo Mainardi, homenageando o filho que nasceu no hospital da Scuola Grande di San Marco
  • A ária  “Una Furtiva Lagrima”, do L’Elisir d’Amore,  e o famoso sexteto “Chi mi frena in  tal momento”, da  “Lucia de Lammermoor”, óperas de Donizetti
  • Al  Me Murus, música do CD “Bauco ma non tanto”  de Nicola Gava, no incompreensível dialeto bergamasco.
Por Benito Gorini 15/12/2022 - 05:00

No blog da semana anterior lembrei com saudades dos bondes de Porto Alegre. Mas o futebol também me traz boas recordações.  Cheguei na capital gaúcha em 1969 com 15 anos de idade e  no dia 06 de abril assisti ao jogo inaugural no Beira Rio entre o Internacional e Benfica. Vitória colorada por 2x1 com gols de Claudiomiro e Gilson Porto e do grande Eusébio pelo Benfica. Torcedor do Santos, do Botafogo (é claro, Pelé e Garrincha) e do Grêmio, que era heptacampeão gaúcho, não perdia os jogos no Olímpico e Beira Rio, utilizando os bondes até meados de 1970, quando foram desativados.

A inauguração do Beira Rio. Claudiomiro fez o primeiro gol, com cruzamento de Valdomiro | Vídeo: Canal 100

Em 1971 joguei por pouco tempo no juvenil do Internacional, no velho campo dos Eucaliptos, apesar de ser gremista. Meu tio Célio Borges era muito amigo de José Ferreira Laz,  o Zezé, treinador muito conhecido em Santa Catarina na época, que por sua vez tinha bom relacionamento com Marco Eugênio, treinador do juvenil do Inter. Por pressão familiar fui obrigado a optar entre o futebol e o curso pré-vestibular. Apesar de ser bom jogador tinha consciência que Falcão e Batista, da mesma geração, eram melhores e optei pelos estudos, tendo sido aprovado no curso de Medicina da UFRGS.

Valdomiro Vaz Franco era jogador do Comerciário, meu clube de coração onde joguei como juvenil, e foi contratado pelo Internacional em 1968, ano da única conquista do Bacharel da Pelota no Campeonato Catarinense.

Comerciário Esporte Clube, campeão catarinense de 1968. Valdomiro já havia se transferido para o Internacional antes do final do campeonato. Infelizmente perdemos os dois craques, Chiquinho há 1 ano e Marcos Cavalo há poucos dias | Foto: Arquivo 4oito
Chiquinho homenageado no mural “Eternizando os Heróis do Passado”, do artista Ricardo Herok | Foto: Blog Post Criciúma Esporte Clube

Muito contestado pela torcida no  início, com muito esforço, determinação e grande auxílio de sua esposa Natália, superou as dificuldades tornando-se um dos maiores ídolos de toda a história do colorado. Único jogador octacampeão gaúcho, conquistou ainda três títulos do campeonato brasileiro, participou da Copa do Mundo de 1974 na Alemanha onde marcou um gol contra o Zaire que salvou o Brasil de uma vexatória eliminação ainda na primeira fase.  

Classificação da fase de grupos. O gol de Valdomiro manteve o Brasil na Copa de 1974 | Fonte: Almanaque das Copas, de João Nassif

 

O gol de Valdomiro na Copa de 1974, contra o Zaire | Vídeo: jogosdobrasil

Detém ainda o recorde de partidas jogadas pelo Internacional. Apesar de torcer pelo sucesso de  Valdomiro e também de Chiquinho pelo fato de serem meus conterrâneos, ficava muito descontente pelas derrotas nos Grenais, geralmente com gols ou assistências do Valdomiro. Nos 10 anos que morei em Porto Alegre só vi o Grêmio ser campeão em 1977. E em parte a culpa é do Valdomiro, meu vizinho na Praia do Rincão.

Por Benito Gorini 08/12/2022 - 09:00 Atualizado em 08/12/2022 - 14:15

Oh que saudades que eu tenho,

Dos bondes de Porto Alegre,

Da aurora de minha vida,

Que os anos não trazem mais"

A pequena alteração dos  versos de Casimiro de Abreu não poderia expressar melhor  a minha paixão pelos bondes de Porto Alegre. O poeta, assim como grande número de  escritores, músicos, pintores e escultores do período romântico do século XIX, morreu na mais tenra idade, aos 21 anos. 

Aderbal Machado,  no Portal 4oito, e Nei Manique, com o Idade Mídia, têm escrito excelentes artigos resgatando eventos históricos  de nossa região ou lembrando fatos do passado. Como escritor diletante e neófito nas plataformas digitais, vou me inspirar e seguir  o exemplo dos renomados colegas, começando porém pela capital gaúcha.

Cheguei em Porto Alegre em 1969, com 15 anos de idade. A minha convivência com os bondes foi fugaz, só 13 meses, mas deixou marcas indeléveis. Fiquei muito triste quando no  dia 08 de março de 1970 os bondes circularam pela última vez.

Bondes no Mercado Público de Porto Alegre. Foto Foster M. Palmer


Oriundo de uma cidade provinciana em direção à capital  gaúcha, me assustei com as dimensões  da metrópole.  Me perdi várias vezes e  o uso quase diário dos bondes  foi a minha salvação. Ia de  bonde para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho,  e costumava ir até aos pontos finais para conhecer a cidade. Passei a conhecer não só os  distantes bairros de Teresópolis, Glória, Partenon, Petrópolis, IAPI e Auxiliadora,  mas também os nomes das ruas e avenidas de Porto Alegre, que lembro até hoje. Quando comprei o meu primeiro “fusquinha”, já no final do curso de medicina, circulava por toda a cidade sem me perder, graças aos bondes. 

Fonte: GHZ

E eles também me ensinaram na prática a lei da inércia,  a primeira das três leis de Newton : “Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em um linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele”. Desci de em bonde em movimento e fiquei parado. Levei o maior tombo e machuquei o joelho. “Eta catarina  chucro”  do interior. Mas depois aprendi a lição, subindo e descendo dos bondes até em velocidades maiores, o que me permitia escapar dos cobradores quando faltavam os bilhetes do carnê mensal, comprados na Companhia Carris Porto Alegrense.

A sede da Cia Carris em 1970, na esquina da Av. João Pessoa com Sarmento Leite, bem em frente à Faculdade de Medicina da URGS. Foi demolida para a construção da perimetral

 Minha mulher conversando com um motorneiro, que era o condutor do bonde, comentou que eu tinha andado muito de bonde. E ele  prontamente respondeu: “Então pede para ele pagar as passagens que deixou de pagar”. Eles sabiam que as passagens às vezes terminavam antes do  final do  mês. Mas geralmente faziam vistas grossas.

Nos dias de jogos no Olímpico os bondes superlotavam e ao fazer a curva  fechada da Av. da Azenha com a Carlos Barbosa, alguém que não tinha conseguido se segurar muito bem saía pela tangente. Mas felizmente eram só escoriações e esfoladuras, graças à baixa velocidade dos bondes.

O Elétrico de Lisboa I Foto: Arquivo Pessoal

É uma pena que Porto Alegre tenha resolvido se livrar dos bondes, procurando uma alternativa “mais moderna”.  Importantes cidades ainda preservam os bondes, algumas ainda utilizando o velho modelo  como Lisboa, São Francisco e Milão. Outras utilizam frotas mistas como Nápoles, Praga, Basileia, Viena e Friburgo, enquanto Zurique, Berna e Munique  optaram por modernos bondes. Nas minhas viagens sempre procuro andar de bonde, uma recordação do meu já distante passado em Porto Alegre.

O moderno bonde de Munique | Foto: Arquivo Pessoal
O bonde de Friburgo, na região da Floresta Negra I Foto: Arquivo Pessoal
Os bondes vermelhos de Berna, a bela capital da Suiça I Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 01/12/2022 - 11:00 Atualizado em 01/12/2022 - 11:01

Davos ocupa as manchetes de todo o mundo durante o Fórum Econômico Mundial, que normalmente ocorre em janeiro, sempre com muita neve. A cidade suíça nos traz boas recordações. Havíamos saído de Luzerna, bela cidade às margens do lago dos Quatro Cantões, e pretendíamos chegar a Innsbruck, na Áustria. Escolhemos um roteiro alternativo pelos passos alpinos, fugindo das autoestradas europeias, rápidas porém sem grandes atrativos. A viagem de Luzerna a Göschenen, na entrada do túnel de São Gotardo, foi bem rápida. Contornamos a entrada do túnel e começamos a subir em direção a Andermatt, em uma estrada estreita e sinuosa, com desfiladeiros assustadores. Andermatt é excelente ponto de partida para os passos alpinos Furka, Susten, Grimsel, Oberalp, São Gotardo e Nufenen, que fizemos nos Giros Alpinos I e II.

 

A Ponte do Diabo, perto de Andermatt I Vídeo: Mazinho Rocha 

O Giro Alpino no Nufenenpass I Vídeo: Mazinho Rocha

Amigos do Giro Alpino no Grimselpass | Foto: Giro Alpino

 

O Passo de São Gotardo, com o lago ainda congelado | Foto: Daniel Garcia

A vista panorâmica do alto das montanhas é magnífica. Esta região, o maciço de São Gotardo, é o maior divisor de águas da Europa, dando origem a 5 grandes rios ( Reno, Ródano, Ticino, Aare e Reuss ). Seguimos margeando o Vorderrhein, o braço esquerdo do Reno, até Reichenau, onde o rio se torna mais caudaloso pelo encontro com o Hinterrhein. A região é repleta de antigos castelos e fortalezas, que controlavam o tráfego pelos passos de São Bernardino e Julier, da época do Império Romano. Chegamos em Davos ao entardecer e  o frio era intenso, apesar de estarmos no final de junho.  A distância até Innsbruck era de apenas 150 km mas tínhamos que enfrentar mais um passo, o Fluela. Resolvemos pernoitar em Davos. Foi a nossa sorte pois em menos de 1 hora começou a nevar, em pleno verão europeu.

Limpando a neve no hotel em Davos | Foto: Arquivo Pessoal

A cidade, por seu clima frio e seco, foi importante centro de tratamento de tuberculosos, tendo sido descrita com precisão por Thomas Mann em seu livro A Montanha Mágica. Com a descoberta das vacinas e dos quimioterápicos, no início do século XX, Davos entrou em declínio. O turismo devolveu o antigo brilho a Davos. Atualmente a região destaca-se nos esportes de verão e inverno, atraindo cabeças coroadas como a da realeza britânica, que costuma passar as férias em Klosters, pequena cidade ao lado de Davos. O rei Charles III escapou por pouco de uma avalanche enquanto esquiava em 1988. No acidente acabou falecendo o major Hugh Lindsay, grande amigo do então Príncipe de Gales. O episódio “Avalanche”, o nono da quarta temporada da série “The Crown”, explora com detalhes o trágico evento.

Por Benito Gorini 24/11/2022 - 07:00

Como todo bom brasileiro, “entendido” de futebol, vou também dar os meus “pitacos” sobre a Copa do Mundo no Catar, embora o assunto poderia ser melhor desenvolvido por João Nassif, no seu blog com excelentes artigos sobre as copas. Mas vamos lá. 

Almanaque das Copas, do mestre João Nassif 

O Brasil é o favorito nesta copa e pelo retrospecto, em vez de ser um dado positivo, é preocupante. Em várias ocasiões em que entramos como favoritos não levantamos o caneco. Em 1950, o gol de Ghiggia calou os 200 mil torcedores que lotavam o Maracanã, na derrota de 2x1 para o Uruguai. Em 66, depois do brilhante bicampeonato de 62, apesar da presença do rei Pelé (que acabou contundido), a campanha foi um vexame. A seleção de Telê Santana encantou o mundo em 82, mas a Itália de Paolo Rossi nos mandou mais cedo para casa. O mesmo ocorreu na final contra a França em 98, com atuação brilhante de Zidane e a convulsão de Ronaldo, até hoje não bem esclarecida. E o pior aconteceu em 2014, com a humilhante goleada sofrida contra a Alemanha.

Em outras ocasiões, o nosso time não era favorito e, no entanto, conquistamos o título. Em 70, a seleção sob o comando de João Saldanha  foi jogar em Porto Alegre e hospedou-se no Hotel Everest, ao lado do viaduto da rua Duque de Caxias. Eu morava bem perto do hotel e acompanhei toda a movimentação da seleção, que levou um passeio e perdeu de 2x0 para a Argentina no Beira Rio, inaugurado em 1969. Apesar da vitória na revanche no Maracanã, o treinador foi demitido. Zagalo assumiu e modificou totalmente o sistema de jogo da seleção, colocando os melhores jogadores, mas fora de posição. Piazza passou para quarto-zagueiro, Clodoaldo assumiu a titularidade no meio-campo e Rivelino atuou como falso ponta-esquerda. Felizmente deu certo e a seleção é considerada  a melhor de todos os tempos. Lembro até hoje das manchetes nos jornais italianos: “Abbiamo ceduto solo al grande Brasile”.

O gol de Carlos Alberto na goleada de 4x1 sobre a Itália l Vídeo: JP News

Em 94, não tínhamos uma grande seleção mas a garra e liderança de Dunga, somadas ao brilho de Romário e Bebeto,levaram à conquista do quarto título. Talvez tenha contribuído o fato de Airton Senna ter dado o pontapé inicial em um jogo da seleção no Parc des Princes. Em 1 de maio, 11 dias depois do jogo, aconteceria o acidente fatal em Ímola. O grupo se uniu e prometeu ganhar a copa em homenagem ao nosso maior piloto de F1. 

A homenagem a Airton Senna na conquista do tetracampeonato l Vídeo : Rede Globo

E o mesmo se deu em 2002, com a seleção de Felipão desacreditada. Entre as favoritas, a França caiu na primeira fase e a Itália na segunda. E a Alemanha, com o grande goleiro Oliver Kahn, sucumbiu ao futebol de Ronaldo Fenômeno. A “Família Scolari” superou as dificuldades e conquistamos o pentacampeonato. 

Kahn, o melhor jogador da Copa 2002, bateu roupa e o Fenômeno não perdoou l Vídeo: Rede Globo

E como Deus é brasileiro, vamos torcer para tudo dar certo desta vez. O meu medo é que o Papa é argentino e o E.T. Messi está em grande fase.

P.S. O texto estava pronto antes do jogo da Argentina. Os hermanos perderam e Messi jogou mal. Viva.

Por Benito Gorini 17/11/2022 - 09:00 Atualizado em 17/11/2022 - 10:37

Com todo este frio do início de novembro somos tentados a dar razão aos que não acreditam no aquecimento global. No entanto, os estudiosos do assunto informam que desequilíbrios extremos de temperatura, como fortes ondas de frio ou calor, fazem parte do quadro. A UNESCO relacionou as geleiras que fazem parte do Patrimônio Natural da Humanidade e que vão desaparecer em 30 anos caso não sejam revertidas as políticas climáticas. A Internet aceita tudo em todas as áreas do conhecimento humano. As opiniões e comentários sem embasamento científico proliferam nas redes sociais. Por isso temos que pesquisar e avaliar o que foi postado e nada melhor do que uma experiência pessoal sobre o assunto. Tive a oportunidade de conhecer bem os Alpes em viagens de trem, ônibus, carro ou moto. E posso afirmar com certeza que as geleiras estão diminuindo assustadoramente e modificando as paisagens alpinas. A Geleira do Ródano, ao lado do Passo de Furka, uma das estradas mais bonitas das Suiça,  está com uma cobertura de lona branca para reduzir o derretimento do gelo.

Grupo de amigos motociclistas na Geleira do Ródano l Vídeo: Mazinho Rocha

Giro Alpino na Geleira do Ródano l Foto: Mazinho Rocha

Na Geleira Morteratsch, próxima a St. Moritz e ao lado de uma estação de trem do famoso Bernina Express, placas foram colocadas informando o recuo do gelo de acordo com o ano. 

Vídeo mostrando as placas informando o recuo da Geleira Morteratsch l Video : Christian Davide Milano

Mas o efeito mais notável se encontra na Geleira Pasterze, a maior nos Alpes do leste. No início do século XX a geleira ocupava todo o espaço, quase ao nível do mirante Kaiser Franz Joseph Höhe. O local é um dos maiores destinos turísticos da Áustria, com magnífica visão  do Grossglockner, a montanha mais alta do país com 3.797 m. 

O belvedere Francisco José, com hotel, restaurante e funicular descendo até a Geleira Pasterze l Foto: Arquivo Pessoal
A Geleira Pasterze, na base da montanha l Foto: Arquivo Pessoal

 
Na Itália há pouco tempo, uma avalanche com 11 mortos atingiu a Marmolada, a montanha mais alta das Dolomitas, na bela região entre o Vêneto e o Trentino. As altas temperaturas causaram o destacamento de um “serac”, um enorme bloco de gelo. No nosso Giro Alpino passamos por Canazei, ao lado da Marmolada. E em Bolzano, bem próximo, a temperatura era de 40ºC. 

O calor em Canazei l Foto: Arquivo Pessoal

 Nos Alpes, não é mais possível esquiar em muitos locais em que a neve ocorria com frequência. E infelizmente a situação tende a piorar, mesmo se medidas forem tomadas agora para minimizar as consequências do efeito estufa. 

Por Benito Gorini 10/11/2022 - 09:00 Atualizado em 10/11/2022 - 10:18

O assunto desta semana seria o "Aquecimento Global", aproveitando a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que está se realizando às margens do Mar Vermelho em Sharm el Sheikh, no Egito. No entanto, estou viajando e como esqueci de enviar o artigo do computador para o celular vamos transferir o assunto para a próxima semana. Mas o que está acontecendo em Santa Catarina, com neve e temperaturas abaixo de zero e chuvas torrenciais no sertão nordestino, apenas anteciparam o assunto. 

Estamos hospedados em Porto de Galinhas, na Praia de Muro Alto. As águas quentes das piscinas naturais e as paisagens paradisíacas transformaram a região em um dos maiores destinos do país, com turistas de várias procedências.

Piscinas naturais de Muro Alto na maré baixa | Foto: Arquivo Pessoal
Piscinas naturais de Muro Alto na maré alta | Foto: Arquivo Pessoal

 

Piscina natural da Praia dos Carneiros. Passeio de 1 dia partindo de Porto de Galinhas | Foto: Arquivo Pessoal


Encontramos franceses, italianos,estadunidenses e, é lógico, holandeses. Afinal, a Companhia das Índias Ocidentais instalou-se em Pernambuco no século XVII, deixando um rico legado cultural. Mas o que chamou a atenção foram as chuvas no sertão nordestino, extremamente raras nesta época do ano. Acho que trouxemos um pouco da "instabilidade" de Santa Catarina. Pelo menos no que diz respeito ao clima.

Por Benito Gorini 03/11/2022 - 12:55 Atualizado em 03/11/2022 - 15:12

Durante a Revolução Francesa o rei Luís XVI foi obrigado a deixar Versalhes e abrigar-se no Palácio das Tulherias. Em  1792 os revoltosos invadiram o Palácio e massacraram 760 guardas suíços que faziam a proteção do rei. Episódio semelhante já tinha ocorrido em 1527 no  infame  Saque de Roma quando as tropas de Carlos V,  Imperador do Sacro-Império Romano Germânico, invadiram a cidade. O Papa Clemente VII, da famosa família Medici de Florença, refugiou-se no Castel Sant´Angelo.  A Guarda Suíça havia sido criada poucos anos antes pelo Papa Júlio II e 147 membros  morreram defendendo o papa.

O Passetto, o corredor que liga os aposentos papais ao Castel Sant´Angelo. Dan Brown, no livro Anjos e Demônios, o descreve com precisão | Foto: Arquivo Pessoal

Na bela cidade de Luzerna, às margens do Lago dos Quatro Cantões, foi esculpido em uma pedreira de arenito próxima ao centro um portentoso leão, de 10 m de largura por 6 m de altura, concebido pelo escultor dinamarquês Thorvaldsen e executado por  Lukas Ahorn. Mark Twain o considerava “O mais lúgubre e comovente monumento de pedra do mundo”.  O leão moribundo  é  representado atravessado por uma lança , protegendo um escudo com a flor-de-lis da monarquia francesa e ao lado o brasão de armas da Suiça.  Embaixo da escultura os nomes dos oficiais e o número de mortos em algarismos romanos  (DCCLX = 760) e sobreviventes (CCCL = 350).

O Leão de Luzerna Foto: Arquivo Pessoal
Tumba do Papa Pio VII na Basílica de São Pedro, obra do escultor Thorvaldsen

Lucerna é uma das mais belas cidades da Suiça, com a ponte sobre o Rio Reuss, um centro histórico preservado e magníficas paisagens alpinas como o Monte Pilatus, com fácil acesso por barcos, funiculares, trens de montanha e teleféricos.

O programa turístico para o Monte Pilatus (Golden Round Trip  Pilatus). Vídeo: Rihlat Europe

Do outro lado do lago encontra-se a pequena cidade de Weggis, que dá acesso ao teleférico com destino ao Monte Rigi e local da polêmica preparação da Seleção Brasileira na Copa de 2006.

Segundo muitos analistas o ambiente festivo da preparação em Weggis na Copa de 2006 prejudicou o foco da seleção brasileira | Foto: Onefootball
Por Benito Gorini 27/10/2022 - 07:00

“Que el mundo fue y será una porquería,
Ya lo sé;
En el quinientos seis
Y en el dos mil también”

O termo cambalache, semelhante ao nosso cambalacho, significa “fazer um negócio em que há fraude ou trapaça”. Enrique Santos Discépolo o utilizou na letra de seu famoso tango, composto para o filme “El Alma del Bandoneón” em 1934 . 

“Siglo veinte, cambalache
Problematico y  febril;
El que no llora, no mama,
Y el que no afana es un gil”

É uma crítica explícita à corrupção do século XX, mas a grave crise institucional que estamos vivendo, com o congresso legislando em causa própria, o ativismo político do judiciário e os desmandos do executivo o tornam muito atual. Particularmente agora, onde teremos que optar entre um candidato condenado em 3 instâncias, com sentenças anuladas por manobras e filigranas jurídicas, e outro com uma conduta deplorável durante a pandemia, estimulando o descumprimento de normas recomendadas por toda a comunidade científica internacional. O Brasil, que já foi mundialmente reconhecido como modelo de vacinação, corre o risco do retorno de doenças que estavam praticamente erradicadas.

Hoy resulta que es lo mismo ser derecho que traidor;
Ignorante, sábio o chorro pretensioso estafador;
Todo es igual, nada es mejor;
Lo mismo um burro que um gran professor

Fico estarrecido com a memória curta do povo brasileiro. Pazuello, o pior ministro da saúde que o Brasil já teve, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com votação expressiva. Mandetta, que procurou salvar vidas na pandemia e José Serra, com uma conduta exemplar como Ministro da Saúde, só para citar alguns exemplos, não conseguiram se eleger. 

É a mais pura verdade: um burro (para não dizer coisa pior) significa o mesmo que um grande professor.

E para concluir com a estrofe final de Cambalache: “A ninguém importa se nasceste honrado; vale o mesmo o que labuta noite e dia como um boi; que o que vive dos outros, o que mata o que cura e o que está fora da lei”. Mas tudo bem. “Allá en el horno  nos vamo ´ a encontrar”.

Sugestão

Ouvir Cambalache em espanhol com Julio Sosa, “el varón del tango”, ou em português com o maluco beleza Raul Seixas. 

Por Benito Gorini 20/10/2022 - 07:00

Comemora-se a 14 de julho a queda da Bastilha, um “divisor de águas” na história da França e do todo o mundo.  Houve a Revolução Francesa e o rompimento com o “ancien-régime”, que possibilitaram a Napoleão Bonaparte a ascensão ao poder. 

A contribuição de Napoleão à glória da França foi enorme, mas os malefícios causados também não podem ser desprezados. Embora tenha realizado inovações e aperfeiçoamentos, como a administração centralizada, um novo código de leis, a reforma do sistema educacional e o embelezamento de Paris com a construção de monumentos como o Arco do Triunfo, a Madeleine e  grande parte do Louvre, causou grandes perdas humanas com suas guerras e atraiu o ódio das nações pelos saques, humilhações e  apropriação de vasto patrimônio artístico e cultural.

Napoleão sendo coroado pela deusa Vitória. Detalhe do Arco do Triunfo | Foto: Arquivo Pessoal

Suas conquistas despertaram sentimentos contraditórios no mundo da arte. A “Abertura 1812” de  Tchaikovski procurou  traduzir  em música a fracassada invasão russa. Acordes da marselhesa são ouvidos a medida que as tropas francesas penetram em território russo. Instrumentos imitam o ruído do vento, as tempestades de neve e o ribombar dos canhões. Como se sabe, as perdas francesas foram enormes. Os russos recuavam e queimavam as cidades. Com a chegada do inverno o exército napoleônico tentou voltar mas foi vencido pela fome, frio, cansaço e ataques na retaguarda.

Trecho final da Abertura 1812 de Tchaikovski | Vídeo: Boston Pops

Beethoven ficou impressionado com o carisma de Napoleão e como um dos primeiros músicos independentes - até a sua época a realeza, a nobreza e o clero eram os patrocinadores - louvou as  suas conquistas, dedicando a terceira sinfonia, a “Eróica” (assim mesmo, sem “H”), ao general corso. No entanto, rasgou a dedicatória quando Bonaparte tornou-se imperador, o que significava um retorno ao status quo que Beethoven desprezava.

O pintor neoclássico Jacques Louis David retratou em imensas telas (Louvre e Versalhes) a “auto-coroação” de Napoleão e sua esposa Josefina na catedral de Notre-Dame. O Papa Pio VII (Barnaba Luigi Chiaramonti), que deveria presidir a cerimônia, está sentado resignadamente ao lado do imperador. Posteriormente Napoleão aprisionou o Papa e saqueou os Museus do Vaticano. Com a queda do ditador, Pio VII retornou a Roma e criou a ala Chiaramonti no vaticano, recuperando muitas obras de arte. 

Coroação de Napoleão, do pintor neoclássico Jacques Louis David | Imagem: Museu do Louvre
 

O grande escritor francês Stendhal, autor de O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, romances com temática napoleônica, escreveu também uma biografia de Napoleão com destaque para as campanhas italianas de 1796-97 contra o Império Austro-Húngaro, até então senhores do norte da Itália. São descritas com riqueza de detalhes as batalhas de Lodi, Arcole, Rivoli e Tagliamento, todas vencidas por Napoleão. Pelo Tratado de Campoformio, que encerrou as hostilidades, a Áustria cedia a Lombardia e parte do Vêneto aos franceses,  que por sua vez decretaram o fim da República de Veneza, a Sereníssima, cedendo-a aos austríacos.  

Local do antigo monastério, atualmente um hotel, no Passo do Grande São Bernardo, com 2473 metros de altitude. Napoleão utilizou essa rota na segunda invasão da Itália

Os cães São Bernardo resgataram muitas pessoas nos Alpes, antes da utilização de helicópteros. Só o famoso cão Barri resgatou mais de 40 | Vídeo: Fundação Barry

Após uma série de vitórias e derrotas o Império Napoleônico chegou ao fim com a perda da batalha de Waterloo. O imperador foi exilado na ilha de Santa Helena, onde faleceu e foi sepultado em 1821. Seus restos foram transladados em 1840 para o “Dome des Invalides”, memorial militar francês, que em conjunto com a Museu da Armada e a ponte Alexandre III, bem em frente, são importantes atrações turísticas de Paris.

O Dôme des Invalides, construído por Luís XIV e local da enorme tumba de Napoleão | Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 13/10/2022 - 18:22 Atualizado em 13/10/2022 - 18:27

No início da Primeira Guerra Mundial, os alemães desfecharam violenta ofensiva contra  franceses e ingleses, invadindo a Bélgica a caminho de Paris. Na guerra franco-prussiana de 1870 os alemães haviam anexado a Alsácia e a Lorena, mas suas ambições agora eram maiores:  a formação de um grande império germânico. 

Riquewihr, bela cidade da Alsácia com vinhedos nas encostas

A Alemanha havia declarado guerra à Bélgica pela recusa do seu soberano, o rei Albert, em franquear a passagem  do seu território ao exército do Kaiser Guilherme II. Os alemães avançaram rapidamente e em poucos dias conquistaram as fortalezas de Liège e Namur, obrigando o exército belga a refugiar-se em Antuérpia. No final de setembro, após 1 mês de lutas, as forças teutônicas tinham devastado a Bélgica e estavam às portas de Paris, tendo encurralado os exércitos aliados entre os rios Marne e Sena. No entanto, um erro do ambicioso general Von Kluck, que pretendia ser o primeiro a entrar em Paris, permitiu a contra-ofensiva aliada. Von Kluck, comandante do I Exército, havia avançado muito rapidamente, extenuando suas tropas de infantaria, afastando-se dos demais exércitos alemães e das fontes de suprimento. Os franceses, abatidos após sucessivas derrotas, aproveitaram sua última chance e atacaram com todas as forças que restaram. Um fato curioso aconteceu:  6000 soldados que chegaram de trem a Paris foram transportados por 600 táxis, em duas viagens de 60 km da capital francesa à frente de batalha, no Marne. A vitória foi esmagadora, impedindo o avanço até Paris e mantendo os exércitos na região de Champagne por 4 longos anos, em uma desgastante guerra de trincheiras.  

Os Táxis do Marne

O livro “Os Canhões de Agosto”, da escritora americana Barbara Tuchman (excelente indicação do culto e voraz leitor Dr Marco Schmitz) descreve em minúcias o primeiro mês de guerra. O “Milagre do Marne” impediu a completa aniquilação dos aliados, o que mudaria a história do século XX. As atrocidades da guerra, com saques, estupros, fuzilamento de civis, incêndios, bombardeios e destruição de importantes patrimônios artísticos e culturais das nações revela a insensatez dos governantes, a exemplo do que ocorre atualmente na Ucrânia. A região de Champagne, por sua localização geográfica entre a Alemanha e Paris, foi o epicentro de inúmeros combates nos confrontos franco-germânicos. 

A Cave Mercier em Epernay, com o imenso barril que foi levado a Paris por ocasião da Exposição Universal de 1889, a mesma que apresentou ao mundo a Torre Eiffel

Após a guerra os franceses construíram a Linha Maginot, extensa rede de fortificações ao longo do Reno da Suiça até a Bélgica, que julgavam inexpugnável. Na Segunda Guerra Mundial  as divisões Panzer do General Guderian desviaram da linha, invadiram a Bélgica pelas Ardenas e em poucos dias entraram em Paris. Atualmente, após 67 anos de paz, a magnífica Catedral de Reims, sede da coroação dos reis franceses, as inúmeras caves com quilômetros de galerias subterrâneas, os belíssimos vinhedos  e a qualidade do champanhe  atraem  milhares de turistas de todo o mundo. O livro Vinho e Guerra, de Don e Petie Kladstrup, retrata muito bem os eventos ocorridos nas regiões vinícolas da França, principalmente na Segunda Guerra Mundial.

Por Benito Gorini 06/10/2022 - 10:50 Atualizado em 06/10/2022 - 11:16

Aprendemos nos bancos escolares que a Idade Média foi uma era de trevas, com grande retrocesso em todas as formas de conhecimento até então existentes. Esta afirmação é válida apenas para o período entre a  queda do Império Romano em 476 d.C. e o chamado renascimento carolíngio, no século IX de nossa era, quando surgiram novas ideias no campo da música, literatura e arquitetura. Mas é a partir do século XII que profundas modificações  artísticas, culturais e religiosas nos obrigam a encarar de forma diversa a Idade Média. Surgiram as universidades de Paris e Montpellier na França, Bolonha, Pádua e Pavia na Itália, Oxford e Cambridge, na Inglaterra, Salamanca na Espanha, Heidelberg, na Alemanha e Coimbra, em Portugal.

A Faculdade de Medicina de Coimbra, criada em 1290 pelo rei Dom Dinis | Foto: Arquivo Pessoal

A arquitetura sofreu profunda modificação, passando da pesada estrutura românica para o gótico mais leve, com suas altas naves e magníficos vitrais, permitindo a passagem de diversos tons de luz para o interior das construções. A Catedral de Chartres, a  Sainte Chapelle em Paris, o magnifico Duomo de Milão e a imensa Catedral de Colônia são bons exemplos. 

O Duomo de Milão | Foto: Arquivo Pessoal

A Ordem Cisterciense introduziu novos conceitos arquitetônicos nas suas abadias e foi a responsável por importantes inovações na viticultura, que perduram até hoje com os maravilhosos vinhos da Borgonha.

Os vinhedos da Borgonha, que pertenciam à Ordem Cisterciense até a Revolução Francesa de 1789 | Foto: Arquivo Pessoal

São Francisco escrevia suas belas páginas em Assis, Santo Antonio, português de nascimento, pregava em Pádua e São Tomás de Aquino doutrinava em Nápoles. Dante Alighieri escrevia a Divina Comédia, Petrarca descrevia a vida dissoluta da corte papal em Avignon. Boccaccio, nos contos do  seu Decameron, divertia seus companheiros que isolados nos arredores de Florença procuravam escapar a terrível peste negra que exterminou um terço da população europeia. Giotto rompia com a tradição bizantina, fornecendo o arcabouço da futura pintura renascentista.

A Capella degli Scrovegni, em Pádua, foi financiada pela rica família Scrovegni, na tentativa de expiar os pecados e salvar a alma de um de seus membros, grande agiota e explorador. Em 1304 os afrescos de Giotto nas paredes da capela com cenas da vida de Cristo causaram uma revolução na história da pintura | Foto: Arquivo Pessoal

As lentes de aumento, permitindo a leitura para os portadores de deficiência visual, surgiram também nesta época. As letras de câmbio, os bancos e as guildas, espécie de sindicatos que representavam as diferentes atividades comerciais e que financiavam a construção de igrejas e hospitais, foram também invenções medievais.

Período de trevas ? Não creio, apesar dos horrores da Inquisição, da guerra dos cem anos e das cruzadas, intolerância religiosa que sob outros nomes perdura até hoje.
      

Por Benito Gorini 29/09/2022 - 09:00 Atualizado em 29/09/2022 - 10:43

Com a proximidade das eleições me vem à mente três obras de arte intimamente relacionadas aos políticos. O pintor holandês Hieronymus Bosch externava seus sentimentos de forma bastante peculiar. Embora tenha vivido durante a Alta Renascença, contemporâneo de Michelangelo, da Vinci e Rafael, sua temática situava-se na idade média. Bosch era um moralista com uma visão pessimista da humanidade, julgando que o ser humano, pelos atos que praticava, estava definitivamente condenado às trevas. Os temas dos quadros de Bosch são alegorias sobre os pecados, as virtudes e a insensatez dos seres humanos. Sua pintura era tão bizarra que elementos fantásticos, demônios, criaturas meio humanas, meio animais, povoavam um ambiente arquitetônico e paisagístico imaginário. Suas obras influenciaram os poetas simbolistas e pintores expressionistas e surrealistas. O perfil psicológico de seus personagens também auxiliou Freud a desenvolver seus conceitos psicanalíticos.  Particularmente interessante é a tela “A Nau dos Insensatos”, exposta no Louvre, na qual Bosch retrata características como a luxúria, a gula, as falcatruas e os interesses escusos. 

A Nau dos Insensatos, também conhecida como a Nave dos Loucos, de Bosch (Museu do Louvre)

O pintor Ambrogio Lorenzetti, natural de Siena, decorou com afrescos os salões do Palácio Público, em frente a bela Praça do Campo, onde desde a idade média se realiza a corrida do Pálio. Os afrescos mais conhecidos de Lorenzetti são “O Bom Governo na Cidade e no Campo”, onde se notam os efeitos de uma boa administração, como grandes colheitas, um comércio ativo, a construção de casas, a felicidade do povo e “O Mau Governo”, onde os governantes são condenados ao inferno pelo sofrimento imposto aos seus súditos. As obras de arte estavam expostas no palácio, sede do governo, para mostrar aos representantes do povo a sua enorme responsabilidade no desempenho de suas funções.  Lorenzetti , contemporâneo de Giotto, o grande mestre da período gótico e precursor da pintura renascentista, morreu em 1348, vitimado pela peste negra que dizimou a Europa, matando 1/3 de sua população. Infelizmente o segundo afresco é muito mais apropriado ao momento que estamos vivendo. Os 2 candidatos que lideram as pesquisas  têm graves antecedentes. Um deles, condenado em 3 instâncias, teve seus julgamentos anulados por manobras e filigranas jurídicas. E o outro, com várias ações sendo julgadas no STF, adotou e incentivou práticas totalmente condenadas pela comunidade científica mundial no combate à pandemia. O futuro que nos reserva é sombrio. Tristes Trópicos, como diria Lévi-Strauss. 

Alegoria do Mau Governo, de Ambrogio Lorenzetti, no Palazzo Pubblico de Siena
A Fonte Gaia, com esculturas de Jacopo della Quercia, em frente ao Palazzo Pubblico (Arq, pessoal)

 

Portanto, caro eleitor, reflita sobre estes assuntos no próximo domingo.

Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Não venda seu voto nem se deixe enganar por propostas, projetos e promessas mirabolantes, típicas das campanhas eleitorais. Eleja pessoas idôneas, honestas, com um projeto de governo voltado para a  geração de empregos, a saúde,  a educação, a cultura e a preservação ambiental  (embora sejam poucas, certamente   elas existem). Vote com consciência para não aumentar os passageiros do barco de Bosch.

 

Por Benito Gorini 22/09/2022 - 17:55 Atualizado em 22/09/2022 - 17:55

Que milagre é este? Nós te imploramos, terra,

fontes potáveis! O que nos manda o teu seio?

Também há vida no abismo? Mora oculta na

lava nova raça? Volta o que fugiu?

Vinde, ó gregos e romanos! Vêde! Pompeia,

A velha Pompeia é de novo encontrada!

De novo se constrói a cidade de Hércules!“

O poema de Schiller nos revela o assombro que a descoberta de Pompeia e Herculano despertou no século XVIII. Em 1738 Maria Amália Cristina, da corte de Dresden, desposou Carlos de Bourbon, rei das Duas Sicílias. A rainha, amante das artes, estimulou a exploração das áreas próximas a Nápoles, descobrindo estátuas e imagens soterradas pela última grande erupção do Vesúvio, no ano anterior. Graças ao interesse da rainha as escavações prosseguiram, trazendo à tona as cidades de Herculano, encontrada sob 15 metros de lava vulcânica e Pompéia, soterrada a menor profundidade por cinzas e “lapilli”, formações rochosas de diversos tamanhos expelidas pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. Ao contrário de outras descobertas arqueológicas, parcialmente destruídas pelo tempo, o trágico destino das duas cidades italianas revelou o exato instante da catástrofe, conservando o “modus vivendi” da época, fonte de muitos conhecimentos históricos, arquitetônicos, artísticos e sociais para a nossa época. 

A visita a Pompeia nos revela todos os detalhes da cidade. Após ingressarmos no sítio arqueológico pela Porta Marina, uma pequena caminhada por uma estreita rua calçada com pedras irregulares nos leva ao centro da antiga cidade. A visão das ruínas do Templo de Júpiter, com o Vesúvio desafiador ao fundo, é inesquecível. A Basílica, uma construção originalmente destinada à magistratura e posteriormente copiada pela igreja para a construção de seus templos, e o senado, complementam  o Fórum, sede das decisões políticas, religiosas e jurídicas.

O imponente Vesúvio visto do Fórum | Foto: Istockphoto

As termas, próximas ao Fórum contavam com água quente (caldarium), morna (tepidarium) e fria (frigidarium). A arquitetura das casas era bastante peculiar, com um espaço aberto no centro para recolher a água da chuva, um local para refeições (triclinium), os quartos e um jardim nos fundos da residência, o peristilo. O famoso mosaico do cão com a advertência “cave canem” na casa do poeta trágico, é  uma atração muito visitada. Nos arredores da cidade encontram-se os afrescos eróticos da Vila dos Mistérios e como não poderia deixar de ser, os bordéis.

A inscrição “Cave Canem” na Casa do Poeta Trágico | Foto: Wikipedia

Os turistas, viajando pela Itália, não podem deixar de visitar e admirar estes monumentos históricos, inspiradores de filmes, livros, teses acadêmicas e pinturas. Na região da Campânia, onde se localiza Pompeia, poderão subir a íngreme encosta do vulcão até a enorme cratera, visitar Nápoles e seus inúmeros museus, a maravilhosa ilha de Capri e sua gruta azul, a encantadora Sorrento com sua bela música e o visual incomparável da magnífica estrada que serpenteia pela costa amalfitana.

O Castel Nuovo (Maschio Angioino), em Nápoles | Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Benito Gorini 15/09/2022 - 09:00 Atualizado em 15/09/2022 - 09:02

A Suíça é um país de paisagens exuberantes, facilmente explorada em poucos dias graças a sua reduzida extensão territorial. Um dos roteiros mais pitorescos, o Bernina Express, utiliza uma combinação rodoferroviária, partindo de Chur e chegando a Lugano, na fronteira com a Itália. 

A ferrovia de adesão (sem utilização de cremalheiras)  é a mais alta da Europa, ligando a cidade de Chur à Tirano. Percorre regiões de grande beleza e diversidades culturais, étnicas e linguísticas. Gargantas, desfiladeiros, rios, castelos, túneis em alça, teleféricos, funiculares, estações de esqui, animais selvagens nas negras florestas de pinheiros, lagos congelados, picos nevados e vinhedos, são tantas e tão variadas as paisagens que ficarão para sempre registradas em nossa memória. Às vezes a sensação é de estarmos viajando nas nuvens, tal a altura de suas inúmeras pontes como a de Solis e a de Landwasser.

O Bernina Express no viaduto de Landwasser | Foto: Wikipedia

A viagem tem origem em Chur, capital de Graubünden (Grisões em português), o maior cantão da Suiça, onde se fala o Romanche, derivado do latim vulgar e um dos 4 idiomas oficiais do país. A cidade também é o ponto de partida do Glacier Express, que se dirige à Zermatt, local da montanha mais famosa da Suiça, o Matterhorn, conhecido como Monte Cervino na Itália.

Em Reichenau atravessa-se o Reno, bem próximo às nascentes nos Alpes. O trem percorre o vale paralelo ao rio, origem dos antigos passos alpinos de Splügen, Julier e San Bernardino.

O Splügen Pass (Passo dello Spluga), perto de Chur em uma recente viagem de moto pelos Alpes | Foto: Arquivo Pessoal

Observam-se inúmeros castelos, fortes e ruínas, pontos estratégicos para o controle das antigas rotas transalpinas. O trecho entre Bergun e Prada é considerado como uma obra-prima de engenharia. Em 12 km ascendem-se 416 metros através de 5 túneis circulares, 2 túneis retilineos e 9 viadutos. Em Samedan, um vale a 1781 metros de altitude, encontra-se um pequeno aeroporto, o mais alto da Europa, utilizado pelos ricos e famosos  que se dirigem a St. Moritz. Esta cidade, a beira de um lago que congela no inverno, é uma das estações de esqui mais importantes do mundo.

A Geleira Morteratsch recuou 550 metros desde o ano 2000 | Foto: C.Levy

A próxima parada é em Pontresina, um centro para a prática de esqui,  ciclismo, alpinismo e caminhadas. A estação seguinte é Morteratsch, nome de uma geleira que está reduzindo de tamanho a cada ano. Continuando a viagem temos o teleférico de Diavolezza e em  seguida Ospizio Bernina, o ponto culminante da viagem, a 2250m de altitude. Daqui o expresso inicia a descida até Tirano, já na Itália. As paisagens que se descortinam a nossa frente são de tirar o fôlego, como a cidade de Poschiavo, vista do alto e o famoso viaduto circular de Brusio. 

O Bernina Express chegando ao teleférico da estação Diavolezza | Foto: Powderhounds)

Tirano é o ponto de partida do percurso rodoviário, que funciona de maio a outubro. O ônibus de luxo percorre o fértil vale da Valtellina, com vinhedos nas encostas ensolaradas onde predomina a nobre casta Nebbiolo, a mesma do famoso Barolo do Piemonte. O Sforzato di Valtellina, vinho DOCG  “passito” semelhante ao Amarone do Veneto, é de excelente qualidade. O ônibus passa por um trecho do Lago de Como e segue até Lugano por paisagens tipicamente mediterrâneas, como vilas junto ao lago, pomares, oliveiras, figueiras e palmeiras. Lugano, à beira do lago do mesmo nome e importante centro de esportes aquáticos, é também conhecida por seus dois montes, o Bré e o San Salvatore, muito parecido com o nosso Pão de Açúcar.   

Tendo oportunidade de viajar para a Europa, não deixe de incluir o Bernina Express em seu roteiro. E também o Glacier Express, se tiver tempo. Vale a pena.
 

Por Benito Gorini 08/09/2022 - 14:00 Atualizado em 08/09/2022 - 16:24

A bela ilha de Capri, situada no golfo de Nápoles, possui inúmeros atrativos turísticos como a água azul-turquesa da “Grotta Azzurra”, a Marina Grande com seu funicular transportando passageiros cantando alegremente o “funiculi-funiculà”, o teleférico do Monte Solaro, as ruínas do Palácio de Tibério, os Faraglioni, gigantescos blocos de pedra próximos à Marina Pequena e a impressionante subida até Anacapri. Podemos alcançá-la pela estrada que serpenteia junto à encosta da montanha ou através dos 777 degraus da escada fenícia, que tantas vezes serviu de passagem ao médico sueco Axel Munthe, em busca de sua Villa San Michelle.

A escada fenícia

Munthe construiu sua vila em um promontório, com excepcional vista do golfo de Nápoles, do Vesúvio e do mar Mediterrâneo. Por muitos anos viveu em Anacapri, atendendo gratuitamente os pobres da ilha e edificando um santuário ecológico, com seu amor aos animais tão bem descrito em sua obra “A História de San Michelle”. A visita à vila é imperdível para quem leu o livro.   O autor relata a sua vida em Paris como “médico da moda”, atendendo as cabeças coroadas da Europa e sua posterior transferência para Roma, onde morou na casa onde residiram  John Keats e Percy Shelley. Os poetas morreram prematuramente, como muitos românticos do mundo da arte do século XIX.  Estão sepultados no Cemitério Protestante de  Roma...

À direita da escadaria o Museu Keats-Shelley. No alto a igreja Trinità dei Monte

Atualmente, a Villa San Michelle faz parte de uma fundação filantrópica, com as obras de arte adquiridas por Munthe decorando as peças da casa e os jardins,  como a esfinge que, voltada para o mediterrâneo, parece proteger a vila da horda de turistas que chegam diariamente à marina grande.

A esfinge e a marina grande

 

Por Benito Gorini 01/09/2022 - 14:00

O Papa Francisco esteve visitando na semana passada a Basílica di Santa Maria di Collemaggio, em L´Aquila, ainda em reconstrução pelos enormes danos causados pelo terrível terremoto de  6 de abril de 2009, com 309 mortos. Homenageou o Papa Celestino V, que está sepultado na basílica. 

Papa Francisco rezando diante da tumba de Celestino V na Basilica di Santa Maria di Collemaggio (Vatican News)

Celestino, virtuoso monge eremita, foi eleito aos 85 anos e renunciou após 6 meses de mandato, aconselhado pelo cardeal Benedetto Caetani, que  após assumir o papado com o nome de Bonifácio VIII, condenou o ancião papa à prisão domiciliar. Bonifácio fundou a Universidade La Sapienza em  Roma, codificou o direito canônico e em 1300 convocou o primeiro Jubileu ou Ano Santo,  que concedia a indulgência plenária – o perdão de todos os pecados – a todos que visitassem as basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Pedro no Vaticano (em Roma existe também a Basílica de São Pedro Acorrentado, com o maravilhoso Moisés de Michelangelo).

O Moisés de Michelangelo na Basilica di San Pietro in Vincoli, bem perto do Coliseu. A escultura faria parte do mausoléu do papa Júlio II

No entanto foi um papa soberbo, ambicioso e cruel. O rei francês  Filipe IV odiava o papa e provavelmente contribuiu para a sua morte no episódio conhecido como Ultraje de Anagni,  que chocou a Europa. Dante esteve presente no jubileu e colocou Bonifácio no inferno na sua Divina Comédia.  Com o apoio de Filipe IV, Bertrand de Got assumiu o trono de Pedro com o nome de Clemente V e transferiu a sede do papado para Avignon. O conhecido vinho Châteauneuf du Pape é produzido na região (Côtes du Rhône). 

O Palácio dos Papas em Avignon, às margens do Rio Ródano

Pressionado pelo rei o novo papa suprimiu a ordem dos Cavaleiros Templários e  condenou à morte o seu grão-mestre, Jacques de Molay. “O Rei de Ferro”, primeiro volume da série de sete livros “Os Reis Malditos” de Maurice Druon, descreve com  precisão os eventos ocorridos. 

Placa na Place Vert Galant, local da execução na fogueira de Jacques de Molay. A praça fica na Île de la Cité, no lado oposto à Catedral de Notre Dame

Clemente era arcebispo de Bordeaux e sua família era proprietária de vinhedos na região. O excelente e caro vinho Château Pape Clément, em homenagem ao papa, juntamente com os famosos grand-crus que recebem o nome do Château de origem, como Haut-Brion, Latife, Mouton Rotschild, Latour e Margaux, transformaram Bordeaux em uma das mais famosas regiões vinícolas do mundo.

Sugestões

A série “Os Reis Malditos”, com participação de Gerard Depardieu (Asterix e Obelix, Danton, Vatel, Os Miseráveis)  e Jeanne Moreau (Jules e Jim, Viva Maria, O Processo). 

O  filme  “Agonia e Êxtase”, com Charlton Heston (Ben-Hur, Os Dez Mandamentos,  Planeta dos Macacos, Terremoto)  e Rex Harrison (My Fair Lady,  O Fantástico Dr Dolittle,  O Príncipe e o Mendigo), revelando o difícil relacionamento entre Michelangelo e o papa Júlio II durante a construção da Capela Sistina. O livro “Santos & Pecadores – História dos Papas, de Eamon Duffy.

Por Benito Gorini 23/08/2022 - 19:00 Atualizado em 23/08/2022 - 23:14

A nossa região terá a oportunidade de presenciar um grande evento no dia 25 de agosto. Trata-se do “Legado da Imigração – Canto e Dança”, espetáculo gratuito que será realizado no Auditório Jaime Zanatta da Acic, às 19:30 horas.  Estão programados 3 eventos, sendo que neste primeiro momento serão homenageadas as etnias  italiana e polonesa. No próximo ano as etnias portuguesa, alemã, negra, árabe e espanhola serão contempladas. 

Criciúma conta com 3 parques homenageando as etnias que participaram na formação da cidade. O Monumento das Etnias, localizado no Parque Centenário, foi erguido em homenagem aos colonizadores italianos, poloneses, alemães, portugueses e afrodescendentes.  Foi inaugurado em 1981, no mandato do prefeito Altair Guidi, em celebração aos 100 anos  da chegada dos  primeiros imigrantes europeus à Criciúma. O monumento se refere à riqueza do subsolo da cidade, representando os cinco dedos de uma mão no gesto de retirar o carvão e a argila, materiais de grande importância no desenvolvimento de toda a região. Na parte subterrânea encontra-se o Memorial Dino Gorini, justa homenagem ao meu saudoso tio que presidiu a Comissão Central dos Festejos do Centenário de Criciúma. Há necessidade urgente de revitalizar este importante espaço cultural, que conta com obras de   Jussara Guimarães, Vilmar Kestering e Gilberto Pegoraro.

O Memorial das Etnias no Parque Municipal Altair Guidi

 

Painéis homenageando as etnias no Memorial Dino Gorini, importante espaço cultural necessitando de urgente restauro e reabertura

 O Parque das Nações Cincinato Naspolini e entorno,  imenso espaço cultural, gastronômico e de lazer localizado no Bairro Próspera, foi inaugurado pelo Prefeito Clésio Salvaro em 2011. Com a homenagem ao  segundo prefeito de Criciúma resgatou-se uma dívida histórica, pois com o Paço Municipal Marcos Rovaris e o Teatro Elias Angeloni já haviam sido homenageados o primeiro e terceiro prefeitos. No parque estão hasteadas 7  bandeiras, as 5  que  participaram da formação original da cidade, acrescidas das bandeiras das etnias árabe e espanhola. 

As bandeiras das etnias no Parque das Nações Cincinato Naspolini
O Parque do Imigrante no distrito do Rio Maina
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