Ir para o Conteúdo da página Ir para o Menu da página
Carregando Dados...
FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS INFORMAÇÕES DAS ELEIÇÕES 2024!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito

Ut Queant Laxis

Por Benito Gorini 23/11/2023 - 06:32

Comemora-se a 24 de junho o dia de São João Batista. A data tem relação com o solstício de verão no hemisfério norte, ou seja, o sol encontra-se sobre o trópico de câncer, com dias longos e noites curtas nas altas latitudes da Europa. Neste dia grandes festas eram realizadas pelos povos pagãos e enormes fogueiras eram acesas para comemorar o poder do sol. A tetralogia “As Brumas de Avalon”, da escritora Marion Zimmer Bradley, narra a saga do rei Arthur e descreve as fogueiras de Beltane, em homenagem ao deus Sol. Com a posterior invasão romana e a cristianização da Grã-Bretanha, as manifestações pagãs e os poder dos druidas foram sendo exterminados. A religião católica incorporou as datas das festas pagãs, que eram baseadas em eventos astronômicos, para elaborar seu próprio calendário. O equinócio da primavera no hemisfério norte, comemorado nos dia 23 de março, foi adaptado para a determinação da data da Páscoa. O dia 25 de dezembro corresponde ao fim do solstício de inverno no hemisfério norte, ou seja, o sol estava sobre o Trópico de Capricórnio, no sul, no seu ponto mais afastado em relação ao hemisfério setentrional. A data era comemorada com grandes festas pelos povos pagãos e o evento foi incorporado pela religião católica. Hinos eram cantados nas igrejas e um deles, em particular, foi muito importante na história da música, graças ao monge beneditino Guido Monaco, mais conhecido como Guido d´Arezzo, que utilizou as sílabas iniciais (acróstico) de um hino gregoriano a São João para designar as notas musicais. As principais obras de Guido são Micrologus, na qual expõe seus métodos de ensino, e De Ignoto Cantu, um tratado sobre o canto não educado, com uma cáustica introdução na qual afirma que “os homens mais ignorantes do nosso tempo são os cantores”. Guido d´Arezzo colocou as notas numa pauta de quatro linhas, precursoras do atual pentagrama, que eram cantadas pelos monges na missa do dia dedicado ao santo:

  • UT queant laxis,
  • REsonare fibris,
  • MIra gestorum,
  • FAmuli tuorum,
  • SOLve polluti,
  • LAbii reatum,
  • Sancte Ioannes

(Para que possam com voz clara teus feitos admiráveis os teus fâmulos exaltar, retira-lhes toda a impureza dos lábios, ó São João).

Monumento em homenagem a Guido Monaco em uma praça de Arezzo I Fonte: visititaly.com

O sistema do monge d´Arezzo, em que todas as notas tinham a mesma duração era muito limitado, tendo sido aperfeiçoado no século XIII. O “UT”, que ainda se conserva em alguns países, foi substituído pelo DÓ na Itália por razões de solfejo. Em notações modernas também se utilizam as sete primeiras letras do alfabeto para designar as notas musicais (A,B,C,D,E,F,G correspondem ao Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, respectivamente).

O famoso ciclo “A Lenda da Verdadeira Cruz”, de Piero della Francesca, na Cappella Bacci, também conhecida como capela maior, na Basílica de São Francisco em Arezzo. A cidade aparece no canto superior esquerdo. Fonte: discoverarezzo.com

Nossa cidade vinha se destacando na arte do canto. Nos Festivais Internacionais de Corais de Criciúma, que não se realizam há alguns anos, tínhamos a oportunidade de retificar a afirmação do frade beneditino, comprovando que o canto evoluiu de forma magistral através do tempo, exigindo persistência, conhecimento e grande treinamento dos cantores.

Copyright © 2022.
Todos os direitos reservados ao Portal 4oito