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Entenda crédito para fugir dos golpes

Por Arthur Lessa 19/08/2021 - 18:09 Atualizado em 19/08/2021 - 19:21

No último domingo, mais uma vez, o Fantástico teve golpes financeiros entre os principais assuntos do programa.

Os casos envolvem os elementos básicos dos golpes, sejam eles pirâmides ou não:

a) ostentação dos vendedores, que mostra montes de dinheiro, dirigem carros de luxo e convidam as suscetíveis para alcançar o mesmo nível financeiro;

b) probabilidade irreais garantidos, como 30% por mês, que nem os melhores investidores e empreendedores da história conseguiram;

c) ativos ativos, hoje com predominância das criptomoedas, que estão na moda e muito pouca gente entende como funciona.

Muitos tem pena de quem cai, mas já citei em outras oportunidades que, normalmente, essas pessoas merecem o que o destino os reservou, já que o “investimento” feito foi motivado por nada menos que ganância. Aspas em “investimento” são necessários já que o dinheiro depositado pelo golpeado não vai para nenhum ativo financeiro, mas para a conta do golpeador, que normalmente gasta os recursos para ostentar e atrair mais presas. E a roda da desgraça vai girando.

Para quem não se acha malandro e pode cair por desconhecimento, apresento o raciocínio que ocupou a minha cabeça na última semana, unindo noção básica de crédito com promessas irreais.

Pra que serve o crédito?

 Você pode pensar, num primeiro momento, que empréstimo são a bóia de salvação dos descontrolados financeiros. Isso pode ser creditado a muitos educadores financeiros, principalmente os pouco estudados ou que focam no público mais iniciante, defendem que um dos segredos da vida financeira sadia é “fugir dos empréstimos” como o diabo foge da cruz.

Há hipóteses, realmente, em que o cidadão busca crédito para compensar o próprio descontrole orçamentário, mas não foi nem por isso que o crédito nasceu. Crédito é o catalisador da economia e tem, como razão de existir, intensificar o aumento da capacidade de produtividade dos negócios. Explico com meu personagem favorito: o padeiro.

Manoel é um ótimo padeiro e tem boa visão de negócio, o que o possibilitou criar, depois de anos de crescimento e experiências, a melhor padaria do bairro Comerciário. Não há, na cidade, padoca com melhor oferta de pães e afins, além de ambiente agradável e equipe extremamente bem treinada. Mas ela é uma só e fica bairro bairro, tirando dos moradores do Pinheirinho como possibilidade de aproveitamento de serviço.

Manoel gostaria muito de levar essa experiência para outros bairros, mas tudo o que tinha sido investido na unidade de hoje. O que sobra de lucro todo mês é bom como resultado do investimento, mas pouco para se pensar nos investimentos gastos para a abertura de uma segunda loja, que aluguel, reforma do ambiente, mobiliário, equipamentos, equipe, treinamentos, publicidade e afins. Ou ele levaria uma vida frugal por anos (ou décadas) ou teria que abrir a segunda como abrir a primeira, num espaço reduzido, equipamentos básicos, ambiente pouco receptivo e tal. Nada do que evoluiu em uma séria transferida para a segunda, perdendo seu grande trunfo.

Mas Manoel confia no seu projeto. Sabe que, tendo o capital inicial, conseguir replicar o sucesso da matriz em uma ou duas filiais, estimar um investimento necessário de R $ 100 mil para um lucro de R $ 300 mil em um ano. E com essa margem, ele vai ao banco e pega um empréstimo. Isso é o crédito na essência.

Entendendo o que é, vamos para como funciona.

Os bancos [normalmente] não são vilões, mas também não são entidades filantrópicas. Nem os públicos, como Banco do Brasil ou Caixa. Eles, como todos os negócios, nascem e vivem com o mesmo objetivo: lucro. Ou, simplificando, recebendo mais do que gasta.

Então Manoel chega ao banco e requisitos os R $ 100 mil que precisa. Oferece, recebe o dinheiro e sai da agência com o compromisso de devolver, em 12 parcelas, R $ 130 mil. A diferença de R $ 30 milhões são os 30% de juros cobrados pelo banco pelo dinheiro que vendeu para o empreendedor. Sim ... O banco vende dinheiro. Parece estranho, mas na prática é isso.

Mas de onde vem o dinheiro que o banco empresta? Ele não é o Banco Central, então não pode imprimir (nem o BC imprimir imprimir tanto quanto o faz, mas é outro assunto). Aí entram os investidores, que podem ser os sócios do banco (fundadores, acionistas pela bolsa, acionistas diretos, ...) ou os compradores de renda fixa como CDBs.

Então, simplificando, funciona assim:

CDB> Banco> Tomador> Banco + juros> CDB + juros

Agora vamos falar de espalhar .

Se o banco pagar ao comprador de CDB o mesmo que cobra do tomador, não fica com nada além do risco da inadimplência. Por isso existe uma diferença das duas taxas de juros, que é o chamado spread bancário. O CDB promete 10% depois de um ano, transformando os R $ 10 mil investidos em R $ 11 mil (antes de aplicar o IR). Para o Manoel, uma taxa cobrada foi de 30%. O banco, ao fim de tudo, fica com 20%.

Todos os números acima são simbólicos, mas não estão muito longe da realidade do mercado. O spread normalmente é maior, mas pouca coisa. O mecanismo é esse.

E o que isso tem a ver com golpe?

Pensa comigo ... Se no banco eu consigo pegar um empréstimo que me cobra 30% no ano e consigo, operando no mercado financeiro, 30% de rendimento garantido no mês , por que eu iria espalhar isso para o mundo? Pelo contrário! Eu me esconderia meu pc num bunker com uma rede criptografada para que ninguém soubesse além além da Receita, que me mandaria cartões de Natal todo ano (imagina o tamanho das Darfs!).

Deixa eu ilustrar melhor: 30% ao mês dá 2.230% de rendimento no ano. R $ 100 mil se transforma em R $ 2,33 milhões (R $ 2.329.808,51).

Você pode defender que o bitcoin (BTC) teve essa valorização recentemente em reais, então é factível. Mas essa “pernada” levou mais de dois anos (jan / 19 a abr / 21) e não foi nada garantido, já que nos três meses seguintes o mesmo bitcoin caiu 55%.

Aí te pergunto: O que acreditar nos picaretraders difere de quando se acreditarava em comprar terrenos na lua?

Sempre que você receber esse tipo de proposta, cosméticos a análise pela matemática básica. Se os números forem impressionantes, parta a pergunta: se é tão bom, por que ele não enriquece sozinho?

Isso vai livrar de 99,9% das picaretas.

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