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Uma lembrança de eleições do passado

Por Archimedes Naspolini Filho 15/06/2020 - 11:42 Atualizado em 15/06/2020 - 11:44

Faz algum tempo, meses eu diria, que falei, nesta emissora, que as eleições para escolha de prefeitos e vereadores, marcadas para outubro deste ano, não seriam suspensas. E arrematei: podem até ser adiadas para até o mês de dezembro, mas terão que ser feitas neste ano.

Pelo menos duas pessoas me retrucaram, afirmando que seriam suspensas e haveria uma prorrogação de mandatos para fazer coincidir todas as eleições e, ipso facto, coincidir mandatos.

Reafirmei – como reafirmo agora – que eleições municipais de quatro em quatro anos é matéria constitucional e, em o sendo, só uma emenda à Constituição poderia fazer tal cirurgia, o que parece muito distante dos congressistas que gostam que se enroscam de uma eleição.

Portanto, favas contadas: se não for dia 4 de outubro será num outro domingo de novembro ou de dezembro, mas, com absoluta certeza, eleições neste ano de 2020.

E, falando em eleições, passa um filme na minha cabeça – que não é pequena – e me traz à tona detalhes da eleição que levou ao paço municipal o engenheiro Ruy Hülse. Reporto-me às eleições de 1965. Ruy Hülse concorreu contra a maior liderança pessedista de então: Addo Caldas Faraco, candidato da Aliança Social Trabalhista, formada pelo velho PSD e pelo PTB de Getúlio Vargas. Essa Aliança elegia um poste, diria aquele conhecido presidiário da República de Curitiba. E elegia, mesmo. A hegemonia política de Criciúma era representada por esses dois partidos. De 1946 a 1965 essa Aliança elegeu todos os prefeitos de Criciúma, mas em 1965 perdeu para o udenista Ruy Hülse, única eleição vencida pela velha UDN.

O principal ingrediente do período eleitoral, à época, eram os comícios. Isso acontecia, praticamente, todas as noites, nos últimos 15 dias de campanha.

E naquele dia, que já não lembro qual, de muito calor, céu estrelado, o comício da Aliança seria na localidade de São Marcos. Durante o dia, uma Kombi com serviço de som, o Dino do Bá, ao microfone, conclamava o povo da localidade e localidades vizinhas para comparecer ao local pré escolhido para ouvir a pregação do candidato Addo Caldas Faraco. A eleição não era casada com a de vereador, nem com a de deputado. Era solteira.

E nós fomos: o Lucio Nuernberg, o Adair Lima e eu. E ficamos sobre um pequeno monte de pirita, a uns 50 metros da aglomeração, a acompanhar a verborreia. E concluímos: que xaropada! Era tudo igual aos comícios de outras localidades. O mesmo discurso, o mesmo orador, o mesmo caminhão-palco, o mesmo som cheio de microfonia, o cheiro forte da combustão de perita a céu aberto, a mesma penumbra e, pior de tudo, o mesmo povo. Era sempre o mesmo público que, sei lá se com mortadela ou sem, vibrava a cada noite participando daqueles comícios.

Foi a última eleição antes da extinção dos partidos, decretada por Castello Branco. Dali pra frente, durante muito tempo, era Arena e MDB, com suas sublegendas. Aí, os comícios em logradouros públicos acabaram e deram lugar a reuniões em clubes recreativos e centros sociais urbanos. Só não mudou a plateia: a de ontem à noite era a de hoje à noite e seria a de amanhã à noite. Havia gente que recitava o discurso do candidato de ponta a ponta, tantas vezes o ouvira.

Dinheiro grosso envolvido nas eleições, certamente não havia. Os candidatos gastavam muito pouco, mas gastavam sim. Guardadas as proporções e circunstâncias dos pleitos atuais, havia candidato que dispendia volumosas somas para perder ou amargar uma suplência, com uma diferença: não precisava prestar contas, à justiça eleitoral, do que arrecadou e do que gastou no respectivo pleito.

Não sei se aquele processo de então – e volto a me referir a 1965 – era melhor que o de hoje, mas que era mais romântico e de pureza lúdica, não tenho a menor dúvida!

E que todos comecemos o dia como queremos termina-lo! Bom dia!

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