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Os versos de Camões e o coronavírus

Por Archimedes Naspolini Filho 15/04/2020 - 11:35 Atualizado em 15/04/2020 - 11:37

“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”

Estes são versos que faziam o terror dos ginasiano de minha geração, que tínhamos que decorar os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões,  o poeta maior português, publicado pela primeira vez em 1572.

Busco Camões e os Lusíadas para repetir: Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta.

A pandemia que chicoteia a população terráquea com o Novo Coronavirus, ou o Covid-19, impõe um comportamento tão singular que, a partir dela, novos valores e novos rumos hão que ser adotados pela humanidade. E não sobra ninguém: essa pandemia não escolhe sexo, nem raça, nem condição social, nem poderio econômico, nem religião, nem etnia: somos todos iguais no medo, na contaminação e na morte.

Levados para dentro de nossas próprias casas, das quais somos verdadeiros prisioneiros, ela, a pandemia, nos obrigou a utilizar melhor nossos neurônios e a buscar novas alternativas para ocupar o tempo e desenhar o futuro próximo.

Um clima de solidariedade toma conta de todos, embora todos não se vejam, não se cumprimentem, não se abracem. A necessidade nos fez e faz pensar diferente; nos fez valorizar a liberdade, a dar valor ao ir-e-vir sem restrições, a tomar conta do que é de maior valor a cada um: da vida.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta. O que valia para o patrão, já não vale tanto como ele supunha. O que valia para o empregado, é bem diferente do que praticava. O sindicato mudou o tom da conversa. O emprego passou a ter peso e valor diferentes. O conceito de contrato de trabalho mudou o verniz. O aluno não precisa mais ir à escola, esta vem ao aluno e isto já faz parte do calendário escolar. Videoconferências reúnem centenas de pessoas, de todos os lugares, ao mesmo tempo, dispensando eventos de altos custos. A medicina já avança para consultas pelas câmeras dos aparelhos celulares. O próprio parlamento brasileiro já ouve discussões e faz votações por intermédio das redes sociais. A Suprema Corte toma decisões por meio virtual. Há uma nova realidade no ar. Novos valores afloram e darão um Norte diferente a tudo o que se faz em todos os lugares.

No confinamento buscamos novas ideias e, mercê de Deus, ao sairmos dele - do confinamento - viveremos novos tempos. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta, dizia, Luiz Camões, nos anos 1500, para os viventes de 2020, 520 anos depois. Os estabelecimentos comerciais repensam sobre o seu modus operandi e já se vislumbra que suas operações, em todos os setores da economia, serão tratadas e executadas via internet. Os serviços de tele entrega, moto-entrega e até byke-entrega se avolumam e preenchem um espaço nunca dantes imaginado, cuja tendência é crescer cada vez mais. Empregados trabalham em casa, num novo conceito empregatício, os vales de todos os adjetivos desaparecerão, os funcionários públicos trabalharão em casa e a estabilidade funcional conta seus últimos dias, os governos fazem o seu mea culpa concentrados na necessidade de melhor se prepararem para crises assemelhadas.

São as lições impostas por Luiz Vaz de Camões, que a professora de português nos exigia à ponta da língua: Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta, querendo transmitir: o que passou, passou! Agora, a realidade é outra, é depois da pandemia do Novo Coronavirus, verdadeiro divisor de águas do mundo contemporâneo. É ela que passa a dar as cartas, determinando: Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta. 

Psiu, você aí: está preparado para o valor mais alto que se alevantará a partir do Corona?

E que todos comecemos o dia como queremos termina-lo! Bom dia!

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