Uma comitiva de Criciúma esteve nesta semana nos municípios de Timbó e São Bento do Sul, no Norte de Santa Catarina, para conhecer de perto o funcionamento de duas usinas consideradas modelo no tratamento e valorização de resíduos sólidos. A visita técnica foi liderada pelo vereador Aldinei João Potelecki, que representou a Câmara de Vereadores, e teve como principal objetivo avaliar alternativas mais modernas, sustentáveis e economicamente viáveis para o destino do lixo coletado diariamente em Criciúma.
Na região do Médio Vale do Itajaí, os representantes visitaram a Central de Valorização de Resíduos do Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí (CIMVI), que atende 14 municípios, incluindo Timbó. O consórcio é referência nacional na transformação de resíduos em subprodutos e no aproveitamento quase total do lixo que antes era destinado a aterros sanitários.
Segundo Potelecki, a visita foi uma oportunidade de entender como essas usinas foram implantadas, qual modelo de gestão adotam, como operam na prática e, principalmente, se são efetivamente sustentáveis e ambientalmente corretas. "Santa Catarina pode se orgulhar por ter sido um dos primeiros estados brasileiros a eliminar os lixões a céu aberto e a implementar aterros sanitários. Mas isso já é passado. O futuro está nas usinas que transformam resíduos em energia e outros produtos úteis", destacou o vereador.
Transformação de 95% do lixo
O que mais chamou a atenção do parlamentar foi o índice de aproveitamento das usinas. De acordo com ele, 95% dos resíduos recebidos pelas estruturas são reaproveitados. Apenas 5% são enviados para aterros. "É um avanço gigantesco. E o mais interessante: tudo com tecnologia 100% nacional e patenteada no Brasil. Essas são as únicas usinas com esse tipo de tecnologia em operação no país", explicou.
O funcionamento é eficiente e rápido. O lixo comum, aquele coletado nas ruas diariamente, é levado diretamente para as usinas, onde passa por um processo de separação. Os resíduos orgânicos seguem para um biodigestor, que gera gás utilizado na produção de energia para abastecer a própria usina. O excedente é direcionado para a rede elétrica. Já os resíduos recicláveis passam por triagem e parte deles vira matéria-prima para a fabricação de pavers, telhas, tampas de boca de lobo, bancos de praça, entre outros itens de infraestrutura urbana.
"Vimos calçadas feitas com os pavers fabricados na usina, bancos em praças e até boca de lobo, tudo com material reciclado. É impressionante o quanto esse modelo é aplicável à realidade de Criciúma", reforçou Potelecki.
Sem chorume e com impacto social positivo
Outro aspecto importante apontado pelo vereador é o fato de que o lixo é processado no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte à coleta, o que evita a geração de chorume, um dos grandes problemas ambientais de aterros sanitários. Além disso, as usinas contam com cooperativas de catadores, que atuam na triagem dos resíduos recicláveis e ajudam a sustentar dezenas de famílias. Só em Timbó, são 91 cooperados diretamente envolvidos no processo.
"Esse modelo não apenas é ambientalmente correto, mas também tem um importante impacto social, ao incluir e beneficiar cooperativas de catadores. São famílias que vivem da reciclagem e que participam de um sistema organizado e eficiente", observou.
Atualmente, Criciúma coleta cerca de 150 toneladas de lixo por dia, volume muito semelhante ao da região atendida pelo CIMVI, que processa aproximadamente 160 toneladas diárias. Segundo Potelecki, isso demonstra que a tecnologia empregada em Timbó e São Bento do Sul é plenamente aplicável à realidade criciumense.
"Vimos em São Bento do Sul que cerca de 60 toneladas de resíduos são processadas diariamente, e lá eles vendem parte do subproduto, chamado de CDR (Combustível Derivado de Resíduo), para empresas como a Votorantim, que utilizam esse material na queima para produção de cimento", exemplificou.
Além de gerar receita, o reaproveitamento dos resíduos também poupa recursos públicos. Hoje, segundo o vereador, Criciúma gasta cerca de R$ 7 milhões por ano apenas com a destinação final do lixo — ou seja, para enterrar resíduos em aterros sanitários. "Estamos enterrando dinheiro. Em vez de pagar para enterrar o lixo, podemos transformá-lo em produtos que o próprio município pode usar na manutenção de ruas, praças e obras públicas", argumentou.
Requerimento ao Executivo
Após a visita técnica, o vereador Aldinei Potelecki anunciou que irá apresentar um requerimento ao governo municipal solicitando a elaboração de estudos de viabilidade para implantação de uma usina semelhante em Criciúma. O objetivo, segundo ele, é iniciar o debate sobre um novo modelo de gestão de resíduos sólidos na cidade.
"Queremos que o município possa, nos próximos anos, adotar uma estrutura como essa. Seja com gestão direta ou por meio de concessão, é preciso encontrar formas de transformar o lixo em benefício. Isso, no final das contas, pode resultar até mesmo na redução da taxa de lixo paga pelo cidadão", disse.
A taxa cobrada hoje embute custos de coleta, transporte e destinação final. Ao eliminar a necessidade de enviar o lixo para aterros, o município pode baratear esse processo. "A economia gerada com a destinação pode ser revertida para o contribuinte, que deixará de pagar para enterrar lixo e poderá ter uma conta mais justa, ao mesmo tempo em que contribuímos com o meio ambiente e geramos emprego", finalizou Potelecki.
Para Potelecki, o exemplo de Timbó e São Bento do Sul coloca Santa Catarina mais uma vez na vanguarda da gestão ambiental. "O que vimos lá é o futuro. Um modelo sustentável, eficiente, com impacto social e econômico. Criciúma precisa olhar para isso com atenção e começar a construir esse caminho desde já", concluiu.