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Futuro do pretérito: jornalista de dados explica incertezas das pesquisas eleitorais

Para incentivar a análise inteligente, o especialista Marcelo Soares criou o projeto Lagom Data
Por Stefanie Machado São Paulo, SP, 11/06/2022 - 18:01 Atualizado em 11/06/2022 - 18:55
Foto: Arquivo/4oito
Foto: Arquivo/4oito

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O futuro do pretérito é um tempo verbal conjugado no modo indicativo. Isto é, representa incerteza, algo que poderia ter acontecido em uma situação do passado. Mas o que isso tem a ver com política? Em tempos de pesquisas eleitorais, quem explica essa relação é o jornalista e especialista em análise de dados, Marcelo Soares. 

“A principal falha de entendimento das pesquisas é pensar que elas preveem o futuro. Elas não preveem o futuro. Elas falam do momento atual. E dá pra dizer que é o futuro do pretérito porque elas perguntam hoje, o que a pessoa pretende fazer daqui a quatro meses, com base no que ela sabia até ontem”, pontua. “O futuro do pretérito é o tempo mais pantanoso de todos porque ele é feito para mudar”, acrescenta. 

Com o objetivo de fazer uma análise mais precisa, o estúdio de inteligência de dados Lagom Data, criado por Soares, reúne as principais pesquisas eleitorais do Brasil. “A ideia desse projeto é analisar melhor a profusão das pesquisas que estão saindo”, afirma. Além disso, o jornalista disponibilizou uma série de vídeos didáticos sobre o assunto. 

“Temos visto nessas pesquisas, quando elas saem mais positivas para um lado, o pessoal comemora dizendo: ‘agora está garantido’. Só que não é assim. São muitos institutos diferentes, que têm metodologias diferentes, têm formas diferentes de abordar”, ressalta. 

Como as pesquisas eleitorais são feitas

Segundo o especialista, o principal fator que define a metodologia é o custo. Nesse contexto, as pesquisas ‘face a face’, ou seja, quando o entrevistador aborda o eleitor na rua, costuma ter um valor mais elevado. Isso porque se faz necessário encaminhar o pesquisador para diversos locais do país, o que resulta em gastos com diária e transporte. 

Outra possibilidade é a pesquisa por telefone residencial, realizada por discagem automática e com a participação de um entrevistador. “Geralmente, quem está em casa é idoso, é difícil pegar uma boa amostra representativa”, destaca. 

A terceira opção é uma discagem automática feita com gravação, sem a presença de um entrevistador do outro lado. “O curioso é que nessas pesquisas em que a pessoa não fala com um ser humano, ela acabava declarando mais, proporcionalmente, o voto em candidatos com maior rejeição. Ou seja, às vezes, a pessoa no olho no olho com o entrevistador na rua, fica com vergonha de falar uma escolha que é pouco popular”, conta. 

Por conta de falhas na metodologia e nas escolhas da pesquisa, não há como saber qual delas é a certa. “Tem vários problemas, a pesquisa pode ter o erro amostral, ou seja, na escolha de quem vai votar. Se a gente vai fazer uma pesquisa eleitoral e vai entrevistar as pessoas só em alguns bairros da cidade e não em outros, pode pegar um resultado muito diferente do que poderia ser no final com uma variedade maior da população”, comenta Soares. 

As incertezas das pesquisas eleitorais 

Como uma pesquisa que ouviu 3 mil pessoas pode corresponder à realidade de 200 milhões de brasileiros? O jornalista explica como funciona. “Da mesma forma que o exame de sangue. A gente tem tantos litros de sangue no corpo e eles tiram alguns mililitros para verificar se a gente está com o colesterol alto ou algum problema”, explica. 

Assim, quando se tem uma amostra bem selecionada e bem variada, é mais fácil chegar próximo da realidade. Contudo, tanto no exame de sangue quanto nas pesquisas eleitorais, existe a margem de erro que carrega algumas incertezas. “A única pesquisa que ouve o Brasil inteiro é a urna eletrônica”, enfatiza. 

Para explicar melhor as incertezas das pesquisas, Soares cita como exemplo as eleições estaduais de 1998, no Rio Grande do Sul. Em um cenário polarizado, o atual governador Antônio Britto buscava a reeleição enquanto Olívio Dutra concorria como seu principal opositor. 

“Para os eleitores do Olívio, os grandes institutos estariam manipulando a favor de Britto. Então, eles se negaram a responder. No momento em que se negavam a responder quando abordados e os outros eleitores respondiam, naturalmente, isso aumentava a votação dos outros e reduzia a [votação] deles”, conta. 

Dessa forma, Britto aparecia em várias pesquisas na frente de Olívio. No entanto, esse resultado não se verificou e, em uma disputa acirrada, Olívio ganhou o segundo turno daquelas eleições

Diante dessa perspectiva, entende-se que as pesquisas dificilmente vão representar o resultado final, mas nem por isso devem ser descartadas. “A gente precisa ficar de olho para onde essas pesquisas estão indo porque o caminho é mais informativo do que o ponto final”, conclui. 

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