A guerra que ocorre no Oriente Médio, envolvendo Estados Unidos, Israel e Irã, não deve causar impactos diretos no preço da gasolina no Brasil. É o que afirma Alexandre Jorge, presidente do Sindipetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo).
“Um conflito como esse, em países que são grandes produtores, se for pegar o Irã, e a gente está falando da terceira maior reserva de petróleo do mundo, não é pouca coisa. Mas realmente, o mercado precifica expectativa de demanda e produção. Então, por óbvio, uma guerra em torno de uma região grande produtora, você tem uma expectativa de produzir menos" explicou Jorge, em entrevista ao programa 60 Minutos, da Rádio Som Maior.
O dirigente destacou que, embora o preço do barril tenha chegado a picos de quase 75 dólares na última sexta-feira (20), o valor recuou rapidamente. “Se pegar o pico de sexta-feira para ontem e hoje, que está mais ou menos parecido, a gente está falando de cerca de 10 dólares do barril, que é uma diferença muito grande”, conta.
Questionado sobre como essa oscilação chega até o consumidor brasileiro, Alexandre esclareceu que o país tem atualmente uma política diferente da antiga paridade de importação. “Hoje a política adotada é uma do preço olhando a condição do Brasil. Então, a Petrobras tem sido esse colchão de amortecimento, tanto para um lado quanto para o outro. Você vai ver cair o preço do petróleo e ela não vai reduzir no dia seguinte, mas também nas altas, como esses picos que a gente viu nos últimos dias, ela também não vai repassar”
Diesel ainda preocupa
Sobre a dependência externa, Alexandre destaca que ela é pequena, e se concentra no diesel. “Todas as refinarias hoje no Brasil foram adaptadas para maximizar a produção de diesel. Mas qual é a questão? Como o nosso transporte é basicamente rodoviário, muitos caminhões na estrada, a questão do agro, tratores, colheitadeiras que usam o diesel… mesmo o perfil das nossas refinarias para maximizar a produção de diesel ainda não dá conta de produzir tudo que é demandado”, informa.
Ele ressalta que resolver isso exigiria novos investimentos. “O que daria conta disso seria construir novas refinarias, mas são investimentos de grande monta, uma decisão de política de Estado mesmo”, adiciona.
Impostos pesam mais que o conflito
Apesar do conflito não impactar no preço da gasolina, Alexandre explica que a maior pressão sobre os preços vem dos tributos, principalmente os estaduais. “Hoje o ICMS responde por quase 24% do preço da composição da gasolina. Então ali sim, qualquer variação, como foi essa de 10 centavos, que a gente pagava até fevereiro desse ano R$ 1,37, foi para R$ 1,47 o imposto por litro. Então é 10 centavos no litro, aí sim é um impacto bem relevante para o consumidor”, aponta o presidente do SindiPetro.
Ele também detalhou a composição do preço atual: “A gente tem hoje uma gasolina que sai a R$ 2,85 da refinaria. Obrigatoriamente você tem que pôr o etanol, então os 27% de etanol sairiam em torno de R$ 0,78. Então o custo de produção médio, abaixo dos R$ 3,00. E você vê nas capitais, por exemplo, do Paraná e Santa Catarina, acima dos R$ 6,00. Então impostos e principalmente a distribuição e revenda que a gente vê aí um incremento desse custo ou das margens”, finaliza.
Ouça o programa 60 Minutos, na íntegra, com a entrevista do presidente do SindiPetro: