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Pensamentos Ruminantes

Questione os pensamentos repetitivos que insistem em lhe incomodar.
Por Grayce Guglielmi Balod 04/07/2018 - 14:42 Atualizado em 04/07/2018 - 14:54

Com tantas coisas boas pra sonhar, imaginar, lembrar, em certos dias nossos pensamentos encalham numa coisa só. Um único fato, gesto ou olhar. Uma única atitude, reação ou frase. E um pensamento atrevido, insistente, prepotente, insiste em ficar assombrando cada minuto, de cada hora de nosso dia. 
Tantas coisas mais importantes e até interessantes pra pensar, meu Deus. Mas não. Só tal pensamento consegue despertar nossa atenção. 
Então passamos a analisá-lo de todas as perspectivas, de todos os (nossos próprios) pontos de vista, destinando-lhe os mais diferentes significados, as mais ensandecidas interpretações, as mais ridículas importâncias. 
Com um mundo inteiro a nossa frente para contemplar, percebemo-nos impossibilitados de ver coisa alguma. Presos dentro de nossa mente, o pensamento movendo-se em círculos, acreditamos que a qualquer momento teremos um 'insight' e tudo estará explicado. Poderemos, então, tomar as medidas necessárias e assim, só assim, descansaremos.
Quanta bobagem. 
Certa vez uma psicanalista me ouviu por um longo tempo durante o qual relatei minuciosamente minha preocupação crônica com uma pessoa próxima a mim. Seus comportamentos, consequências de suas escolhas, resultados de suas ações, o que eu pensava que deveria fazer, como eu pensava que deveria proceder e por aí em diante. A vida do outro - ainda que este outro fosse alguém muito próximo a mim - ganhou uma dimensão gigantesca e eu passei a pensar para ele e por ele, muito embora, possivelmente ele não estivesse interessado. 
Depois de um tempo me ouvindo a psicanalista ajeitou-se em sua poltrona e buscou lá de dentro uma pergunta que saiu quase em forma de um suspiro: 
- Em que você não quer pensar?
Não consegui lhe responder na hora. Na verdade, na hora, nem ao menos entendi sua pergunta. Fiquei com ela durante um tempo, cozinhando meus neurônios. Fato interessante pois enquanto pensava no que eu estava evitando pensar, já não me preocupava com as escolhas e a vida da pessoa querida, as quais não podia modificar.
Mais interessante ainda foi perceber, dias depois, quanta coisa tinha pra pensar sobre a minha própria vida, quantas escolhas a fazer, quantas decisões a tomar e - o mais difícil - por onde começar.
Ainda me perco em pensamentos repetitivos. Eventualmente dou importância maior do que deveria a situações corriqueiras, do cotidiano. Mas não mais por muito tempo. Logo que me percebo 'noiada' pergunto a mim mesma:
 - No que você não quer pensar?
Aprendi pagando pois fazer análise sai caro, e repasso o aprendizado de graça.
Quando pensamentos repetitivos, ruminantes, insistirem em lhe incomodar questione-se:
O que você está evitando pensar? Viver? Mudar em sua vida?
A pergunta tem quase o mesmo efeito de quando balançamos a cabeça forte e rapidamente. Provocamos  o movimento necessário para a interrupção momentânea dos pensamentos, o que nos permite uma trégua na qual podemos rever nossas preocupações.
E, o que é melhor, leva-nos do estado de pré-ocupação para o de ocupação, a melhor maneira, sem dúvida, de afugentar nossas 'nóias'.

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