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Pilares da Medicina criciumense

Esses médicos podem ser reduzidos apenas a quatro profissionais
Por Henrique Packter 08/01/2024 - 08:57 Atualizado em 08/01/2024 - 09:02

Virá o dia em que alguém escreverá sobre os nomes maiúsculos da Medicina carvoeira, nomes que desbravaram caminhos e que foram autores dos diagnósticos fundamentais. Não foram muitos esses médicos que podem ser reduzidos apenas a quatro profissionais.

Lá, bem no início, avultam dois nomes, pai e filho, Francisco de Paula Boa Nova e o médico Boa Nova Júnior. Eles apontaram o problema. O terceiro, Manif Zacharias, investigou o problema e quantificou-o. Coube ao último, David Luiz Boianowski, dar solução à questão, da mesma forma, como alguns anos depois, criaria, em Brasília o PAT (Projeto de Alimentação do Trabalhador), solucionando outro problema crucial: aquele da alimentação do trabalhador na empresa.

  1. Engenheiro civil Francisco de Paula Boa Nova, chefe do escritório em nossa cidade do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) em 1942 e 1943.
  2. Médico Francisco de Paula Boa Nova Júnior Também funcionário do DNPM,- exercendo também clínica particular, de 1946 até o fim da década de 50. Em 18.04.1948 participou da criação do Rotary Clube de Criciúma.
  3. Manif Zacarias médico, intelectual, escritor, empresário, maçom, jornalista, radialista, comunista, ateu.
  4. Pediatra e nutrólogo Davis Luiz Boianowski.

OS 4 DE OURO

MANIF (do árabe, ser privilegiado) nasceu em Curitiba (05.08.1918), plena epidemia de gripe espanhola. Na Saldanha Marinho moravam e labutavam seus pais – Assad e Zalfa, – tocando fabriqueta de acolchoados e uma lojinha de turco. De calças curtas, MANIF subia a rua para estudar no Gymnásio Paranaense. Mostrava inclinação para os livros, mas, decidiu-se pela Medicina. Graduou-se Médico pela FMUPR em 12.12.1940, 22 anos. 

Discutindo assunto relevante, falava às pessoas como professor paciente que ensina aluno pouco dado ao estudo. Às vezes, ignorava o interlocutor e falava a outra pessoa do grupo, em geral pouco interessada no fato em questão. Essas artimanhas de oratória funcionavam quase sempre.

O casal, Manif Zacarias e Dulce Rovaris terá três filhos, as professoras MIRIAM e DORIS e MIGUEL ZACHARIAS Sº, este, médico como o pai, e também funcionário do IML em Curitiba. DULCE faleceu em Curitiba a 29.12.1996. Manif virá a Criciúma em 1º.05.1944. Exerceu clínica geral, cirurgia e obstetrícia. Médico do IAPETC e um dos criadores do Hospital Santa Catarina foi membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt e do Rotary Clube de Criciúma. Preso pelo governo militar em 1964 transfere residência para Curitiba (setembro de 1965). Intelectual, tinha bem fornida biblioteca, doada integralmente para entidades criciumenses.

A BIBLIOTECA DE MANIF

MANIF reuniu respeitável acervo de literatura sacra (livros médicos) e profana (todos os demais livros). Em 20.11.1987 doou 823 obras (900 volumes) à Biblioteca Pública Municipal DONATILA TEIXEIRA BORBA, Criciúma. Doou 360 livros à Biblioteca da FUCRI, futura UNESC, a 14.6.1988. Os restantes livros sacros foram doados ao Hospital São José quando de sua transformação em Hospital-Escola. O manuseio dos livros da vasta biblioteca de MANIF permitia ver comentários, observações, críticas, contestações -, rabiscadas nas margens, orelhas, páginas em branco, tudo na sua inconfundível e miúda caligrafia.

JORNALISTA, RADIALISTA, MAÇON, ESCRITOR, EMPRESÁRIO, COMUNISTA

Em Criciúma publicaria crônicas nos jornais locais baseadas em causos do consultório. Foi clínico geral, cirurgião, obstetra e pediatra. Chefiaria os serviços médicos do IAPTEC e SAMDU e seria um dos criadores (1961) do Hospital Santa Catarina, além ser seu diretor administrativo

Grandalhão, de guarda-pó, culto, vozeirão de locutor, defende os operários das minas de carvão, Émile Zola caboclo, sem Germinal. “Papai arrumou briga até com um padre polaco”, provoca a filha Dóris. A irmã Nabia: “Até de carroça atendia o povo.”

Maçom há 70 anos (1945), membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt, elaborou os anteprojetos de Constituição e Regulamento Geral. Membro honorário dessa Potência Maçônica e membro fundador, benemérito e honorário de Lojas de Florianópolis e do sul do estado. Membro fundador do Rotary Club de Criciúma.

CRICIÚMA ANOS 40   

MANIF chega a Criciúma em 1º.05.1944, data natalícia de MAX FINSTER, comerciante e maçom, de quem se torna amigo irremediável. Vinha para trabalhar, sob contrato, no atendimento dos operários da Mineração Geral do Brasil, empresa do Grupo Jafet. Pouco se sabe das atividades profissionais de MANIF, anteriores a Criciúma. Certo é que seu espírito inquieto, sensível, culto, encontraria aqui refúgio em ideologias de esquerda e em sociedades fraternais. Um mês e dias antes de chegar à cidade é criada a Comarca de Criciúma (20.3.1944) e quase 3 meses depois (18.06.1944), vem a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Criciúma. Discursará na UNIÃO MINEIRA, apo ntando para bairros ricos: Ó estulta ignorância da mediocridade enfatuada! Parece que teria falado da vagarosa noite da cultura criciumense...

CRICIÚMA É COMARCA. O CINQUENTENÁRIO.

A cidade recebia seu primeiro juiz, EUCLIDES CERQUEIRA CINTRA. Em 1994, 50 anos depois, coube a mim, Diretor Presidente da Fundação Cultural de Criciúma, homenageá-lo (pois ainda vivia) e ouvir seu discurso (que ainda tenho), no antigo Fórum da cidade, na Getúlio Vargas.  Ele leva seu nome por sugestão do Desembargador FRANCISCO May F°, Juiz por muitos anos em Criciúma. O primeiro promotor público da cidade, FRANCISCO JOSÉ RODRIGUES de OLIVEIRA Fº era falecido, mas seu filho, homônimo e Desembargador, participou do evento.

A CHEGADA

MANIF chegava em meio a grande efervescência política e econômica. Era o Estado Novo (1937-1947), da censura aos meios de comunicação, centralização do poder, dissolução do Congresso e dos legislativos. MANIF descrevia no único jornal semanário ruas esburacadas em cujas crateras a água das chuvas se acumulava e as raras ruas pavimentadas a macadame. Seis meses antes (24.10.1943), inaugurado o prédio da Prefeitura (hoje Casa da Cultura, Praça Nereu Ramos), onde logo se alojariam Fórum e Câmara de Vereadores.

O Colégio Casa da Criança, hoje Colégio São Bento e o prédio do DNPM, hoje Centro Cultural Jorge Zanatta são de 1945. Movimentos reivindicativos dos mineiros locais, materializam-se na fundação do Sindicato dos Trabalhadores das Minas de Carvão em Criciúma e na greve da Carbonífera Próspera (1945). Polícia civil, lideranças patronais, políticas e religiosas atuam afanosamente para controlar as inquietas populações mineiras. MANIF faz amigos rapidamente na aberta sociedade criciumense, sociedade na qual todos eram forasteiros bem-vindos, desde que viessem para somar. HERMÍNIO DELAVI (São Jerônimo, RS, 1910), 8 anos mais velho que MANIF, industrial, administrador (depo is proprietário de mina de carvão), comerciante, era um desses. Casou-se com MARCOLINA, filha de MARCOS ROVARIS, primeiro prefeito.

MARCOLINA ROVARIS era tia de DULCE, esposa de MANIF. Ela e DELAVI eram proprietários da loja LINAMAR (Lina de Marcolina e Mar de Marta, sua sócia). Na LINAMAR trabalhava Meigi, filha de TUFFI JOÃO SCHEAD funcionário da PRÓSPERA, bom enxadrista e membro fundador da Loja Maçônica Presidente Roosevelt de Criciúma.  Para MANIF, DELAVI, ao lado do dentista ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS, seriam as pessoas mais espirituosas da cidade.

E contava causos: do cavalo que DELAVI cavalgara fugindo de tempestade. O animal disparou desde a praia do Rincão à cidade, com a chuva em seu encalço, molhando apenas e tão somente e durante todo o percurso sua cauda! Quanto a DELAVI, nenhum respingo o atingira! Este soberbo animal morreria vitimado por dose excessiva de medicamento. Piscando um dos olhos, DELAVI dizia que fora ministrado pelo farmacêutico ad hoc ADAMASTOR ROCHA. Que ADAMASTOR aplicara em seu cavalo dose de remédio para elefante. A expressão correu mundo. Foi adotada em todo o país, talvez mais. Então, DOSE PARA ELEFANTE é coisa nossa, de criciumenses e de HERMÍNIO DELAVI!

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