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BENEDITO NARCISO DA ROCHA

Por Henrique Packter 19/02/2024 - 09:17 Atualizado em 19/02/2024 - 09:18

“As pessoas que significaram tanto para tantos precisam ter as memórias preservadas, agora que já não estão mais aqui. E as histórias que construíram com perspicácia, ironia e bom-humor precisam ser armazenadas no bazar das letras definitivas para que o tempo, esse triturador de memórias, não alcance destruí-las.” JJ Camargo, cirurgião torácico, diretor do Centro de Transplantes da Santa Casa de POA, membro titular da Academia Nacional de Medicina, em BAÚ DAS MEMÓRIAS, Jornal Zero Hora, 17 e 18 de fevereiro de 2024.

BENEDITO NARCISO DA ROCHA, natural de União (Piauí); você sabia que a palavra em língua portuguesa, com mais vogais, uma após a outra, sem interposição de consoante, é piauiense?

Filho de João Narciso da Rocha e de Maria Dolores Bona da Rocha, era casado com Amélia Alygia Tonon da Rocha, filha de Teodoro Tonon e Maria de Oliveira Tonon. Teria chegado em Criciúma em 1958, embora tenhamos comprovado sua presença na cidade já em 1957. Teve o casal 3 filhos: Eduardo, Paulo Henrique e Maria das Graças. Bacharel em Direito e professor, na área jurídica prestou assistência a várias entidades públicas e privadas (Parnaíba, PI, Carlópolis, Imbituba, São José dos Pinhais, e Criciúma). No magistério lecionou e foi diretor em Recife , PE,  do Ginásio Castro Alves,  professor de História Administrativa e Econômica  do Brasil e de Prática Jurídica e Comercial na Escola Técnica de Comércio Nossa Senhora das Graças em Parnaíba , PI; professor de Física e Química e Prática Jurídica e Comercial na Escola Técnica de Comércio da União Caixeira  também em Parnaíba , PI; professor de História no Colégio Madre Tereza Michel, de Criciúma, professor de História Administrativa e Econômica e Comércio de Criciúma do Brasil, de Direito Usual    e de outras disciplinas na Escola Técnica de Criciúma e professor de Fundamentos da Política na FUCRI, Fundação Universitária de Criciúma.

Fundador da CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, entidade à qual deve a concessão do título de Sócio Benemérito; presidente da APAE  e diretor do Círculo Operário Criciumense; membro e dirigente da Liga Católica Jesus, Maria, José (Cizeski, ordenado padre em Orleans 21.12.1947, com Padre Santos Sprícigo, construiu e habitou a Casa Paroquial de Criciúma.  Paróquia São José de Criciúma, criada-erigida-confirmada por Dom Joaquim, arcebispo metropolitano. Isso em 21.12.1950. Cizeski, em 23.02.1951, era vigário cooperador de Criciúma.  Em 17.06. 1951 após missa campal, foi instalada a LIGA CATÓLICA JESUS, MARIA, JOSÉ, cuja 1ª diretoria foi: presidente: PAULO PREIS, 1º secretário: ERNESTO BIANCHINI GÓES; 2º secretário: RUY HULSE, conselheiros: JORGE DA CUNHA CARNEIRO e OSVALDO HULSE; Assistente Eclesiástico: Pe. ESTANISLAU CIZESKI (Do livro de JORGE DAROS, PADRE ESTANISLAU, UM LÍDER EM SEU TEMPO).

Benedito foi membro da Sociedade Teosófica de Criciúma, do Rotary Club de Criciúma e da loja Maçônica Presidente Roosevelt. Membro da Associação Ecológica Mina Verde. Cidadão Honorário de Criciúma em 29.07.1972, aqui faleceu em 09.03.1994 aos 75 anos de idade.

PRONTUÁRIO MÉDICO DE OFTALMO E OTORRINO DE BENEDITO NARCISO DA ROCHA

Em 08.01.1957: surdez fazia 5 anos, pior à direita. Estava pedido um Rx seios da face (quando voltasse o Dr. Perez, único radiologista da cidade). Tinha indicação para amigdalectomia e depois cirurgia do desvio de septo. Em 1964 receitei-lhe lentes bifocais e tratamento para otite média aguda com Ledermicina, Conmel e Berlison gotas auriculares.

Em 30.12.1964 após gripe e viagem de avião, tinha surdez e rouquidão.  Dei Rinofen, Otonal, Omcilom nasal, Lisocilina anticatarral. Em 24.01.1972 receitei-lhe óculos tinha PA de 10,5 x 8 e PIO 14/14.

Em 29.12.1975   aos 56 anos referia ter sido soqueado na orelha esquerda ficando mais surdo fazia 2 dias. Um audiograma mostrou disacusia de transmissão em AO; disacusia mista, uma perda de audição.  O caso foi para a justiça e tive de responder questionário.

  1. Houve lesão da MT do OE com o impacto? R.: Sim Deslocamento de pressão sobre o conduto auditivo externo OE. R.: Impacto de instrumento rombo sobre o ouvido 3. Não 4. Resultou queda da audição e possibilidade de infecção, otite média? Sim; 5. Perda apreciável de 25 dB na audição.  6. É cedo para avaliar; 7. Sim. Só parcialmente recuperável através de cirurgia.
  2. ORL: História: zumbido AO como antes. Não nota diferença na audição em AO. Nega purgação pelo OE.

Exame: OD continua idêntico. OE traumatizado com ruptura de MT, cicatrização quase completa, permanecendo pequeno pertuito. O audiograma fechou o GAP. Apresenta só disacusia neurossensorial bilateral simétrica c/ queda em sons agudos devido à presbiacusia. Conduta: prótese otofônica bilateral.

Em 17.12.1981 Dr. Silvestre receitou-lhe óculos; a PIO era 14/14 a visão OD cc era 0,7 e a visão do OE era normal e igual a 1.0. Tinha catarata incipiente OD.

Retornou em 05.03.1984: perdera os óculos: Silvestre receitou novas lentes.

O CALVÁRIO DE OUTRO SURDINHO, TANCREDO NEVES, RECÉM-PRESIDENTE. A MORTE DE TANCREDO NEVES.

Velório de Tancredo foi no Senado Federal resultando a posse de José Sarnei como presidente efetivo.

A morte de Tancredo Neves, então presidente eleito do Brasil, ocorreu em 21.04.1985. A versão oficial informava que a causa da morte foi uma diverticulite, mas, estudos posteriores indicaram que se tratava de um leiomioma benigno, tumor intestinal benigno, mas infectado; a verdadeira causa do óbito não foi divulgada para evitar comoção popular pelo impacto que o termo "câncer" poderia provocar à época.

A doença do carismático político prestes a assumir a presidência causou grande apreensão na população, sendo até publicada foto do presidente eleito ao lado de médicos para acalmar o país, sua morte teve acompanhamento de cerca de duas milhões de pessoas em cortejo fúnebre. Ao longo dos anos descobriu-se uma série de erros médicos, diagnósticos apressados, cirurgias malsucedidas, corrida de cirurgiões a Brasília atrás de publicidade gratuita.

A versão oficial, inserida no laudo médico, é que a morte foi por infecção generalizada. Porém, em 2005, médicos admitiram que o laudo estava incorreto, errado, e que a verdadeira causa seria síndrome da resposta inflamatória sistêmica.

Morrendo Tancredo, presidente eleito da República Federativa do Brasil, José Sarney, vice-presidente, até então presidente interino, assumiu a presidência de forma definitiva.

VOCÊ LEMBRA?

Após 21 anos de regime militar, grande era a expectativa de ter-se no país o primeiro presidente civil em décadas. Eleito indiretamente pelo Congresso, Tancredo de Almeida Neves e seu vice, José Sarney tomariam posse em 15.03.1985. Tancredo havia se submetido a extenuante agenda de campanha, articulando apoios do Congresso Nacional e com governadores, viajando ao exterior na qualidade de presidente da República. Tancredo vinha sofrendo de fortes dores abdominais durante os dias que antecederam a posse. Aconselhado por médicos a procurar tratamento, teria dito:

“Façam de mim o que quiserem - depois da posse!”

Tancredo temia que os militares da chamada "linha-dura" se recusassem a passar o poder ao vice-presidente. Decidiu só anunciar a doença no dia da posse, 15 de março, quando já estivessem em Brasília os chefes de Estado esperados para a cerimônia, com o que ficaria mais difícil uma ruptura política. A sua grande preocupação com a garantia da posse era respaldada pela frase que ouvira de Getúlio Vargas a esse respeito:

“No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!”

Adoeceu com fortes e repetidas dores abdominais durante cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco, em Brasília, véspera da posse em 14.03.1985. Internado às pressas no Hospital de Base do DF, Tancredo disse a seu primo Francisco Dornelles, indicado à época para assumir o Ministério da Fazenda, que não se submeteria à operação caso não tivesse garantia de que Figueiredo empossaria Sarney. Dornelles garantiu ao primo que Sarney seria empossado. Articulações para a posse de Sarney, segundo informações compiladas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), já estavam, naquele momento, sob a condução do então presidente da Câmara Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e do ex-ministro-chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu.

Causa da morte

Devido às complicações cirúrgicas ocorridas — para o que concorreram as péssimas condições ambientais do Hospital de Base do DF, com a Unidade de Tratamento Intensivo demolida, em obras —, o estado de saúde presidencial se agravou, tendo de ser transferido em 26.03.1985 para o Hospital das Clínicas de SP. Um dia antes da transferência, foram divulgadas fotos de Tancredo no hospital, produzindo a impressão de que ele melhorava, mas, horas depois vem a notícia de que Tancredo estava com grave hemorragia intestinal. Em SP, debilitado e sofrendo, Tancredo teria dito:

“Eu não merecia isso”

Sofre, então, sete cirurgias em 27 dias, mas não resiste e vem a falecer em 21.04, aos 75 anos, sem assumir a presidência da República. Num enterro no RJ, mesma data, alguém chegou a informar que Tancredo estaria sendo operado mais uma vez, a oitava.

— Coitado! Mais uma vez?

Pessoas condoídas perguntavam:

— Do que?

— Do ouvido! Jesus tá chamando o homem faz horas e ele não escuta!

A PRETENSA SURDEZ DE TANCREDO E O IMAGINÁRIO ANEDÓTICO POPULAR DA ÉPOCA

Piadas sobre surdez, audição e coisas que tais tiveram grande popularidade em Criciúma na oportunidade. O delegado regional de polícia em Criciúma, Helvídio de Castro Veloso Filho, era surdo como uma porta surda. Benedito também e, ao que parece, Tancredo Neves não ficava muito atrás.

Sua morte foi anunciada à população pelo então porta-voz oficial da presidência, Antônio Britto, logo governador do RS:

“Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos (...)”

Teria sido vítima de diverticulite, mas, apurações posteriores indicaram que se tratava de um leiomioma benigno, mas infectado. Grande parte da população acreditava que Tancredo morreu de infecção generalizada, mas em 2005 médicos de SP negaram isso.

Em 2010, o pesquisador Luís Mir lançou livro com depoimentos dos médicos e documentos obtidos no Hospital de Base de Brasília e no Instituto do Coração, SP, onde Tancredo morreu. O autor do livro concluiu que Tancredo Neves foi vítima de vários erros médicos e que ele poderia ter tomado posse. Segundo as pesquisas de Luís Mir, na noite de 14/março, jatinho estava preparado para levar Tancredo a SP, mas os responsáveis em Brasília vetaram a viagem. Ainda segundo o pesquisador, quando foram registradas as fotos de Tancredo no dia 25, destinadas a dar tranquilidade ao país, já havia um forte sangramento, devido a erro técnico na sutura da primeira cirurgia. Segundo apurou também, técnica equivocada atingira vaso arterial, causando hemorragia interna intestinal.

Em 2012, filhos de Tancredo Neves entraram com pedido de Habeas Data na Justiça Federal de Brasília para que o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Regional do DF, entregassem todas as sindicâncias, inquéritos ético-disciplinares, documentos e depoimentos dos médicos referentes ao atendimento prestado ao presidente. A família Neves foi representada pelo historiador e pesquisador Luís Mir, escritor do livro O paciente, o caso Tancredo Neves, e por três outros advogados. Segundo eles, a documentação requerida permitiria investigação histórica do que efetivamente ocorrera, inclusive com identificação dos médicos responsáveis pelo atendimento do presidente. Três anos depois, a documentação ainda não havia sido liberada e Luís Mir disse que iriam pedir reabertura do processo ao Conselho Federal de Medicina e aos conselhos regionais de Brasília e de SP.

ENTERRO E SEPULTAMENTO

O epitáfio jocoso que Tancredo previra certa feita, em roda de amigos no Senado, não chegou a ser esculpido em lápide do cemitério, ao lado da Igreja de São Francisco de Assis, São João del-Rei:

“Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves!”

Seu enterro, em São João del-Rei, foi transmitido em rede nacional de televisão, tendo discursado, à beira do túmulo 85 (que lembra tanto o ano em que foi eleito presidente, quanto o de seu falecimento) o deputado federal Ulysses Silveira Guimarães, na época presidente da Câmara dos Deputados. No cemitério da Igreja de São Francisco há placa comemorativa da visita do presidente francês François Mitterrand que conhecera Tancredo, quando este viajara à Europa. Em março de 2008 a sepultura de Tancredo foi violada e a peça de mármore da parte superior do túmulo foi quebrada.

SUCESSÃO E POSSE PRESIDENCIAL

Existia grande tensão na época pela possibilidade de interrupção na abertura democrática em andamento. Não assumindo Sarney, caso muito pouco provável, deveria ser empossado em seu lugar o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães do PMDB, pouco aceito pelos militares.Na época os setores militares mais conservadores, a chamada linha-dura, tentava desestabilizar a redemocratização e manter o regime militar.

Na madrugada de 14 para 15.03.1985, numa reunião, presentes Ulysses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso, Sarney e o ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, venceu a interpretação da Constituição de 1967, que o vice presidente deveria assumir. Na manhã de 15.03.1985 , às 10 horas, o Congresso Nacional deu posse a Sarney, que  jurou a Constituição de 1967, aguardando o restabelecimento de Tancredo. Leu o discurso de posse que Tancredo havia escrito e que pregava conciliação nacional e a instalação de uma assembleia nacional constituinte. O discurso permanece atual.

“Ao assumir esta enorme responsabilidade, o homem público se entrega a destino maior do que todas as suas aspirações, e que ele não poderá cumprir senão como permanente submissão ao povo.

 

A grandeza de um povo pode ser medida pela fraternidade. A coesão nacional, que não deve ser confundida com as manifestações patológicas do nacionalismo extremista, resulta do sentimento de solidariedade da cidadania. Essa solidariedade se expressa na consciência política. Não basta, porém, a consciência da responsabilidade coletiva, se não houver a oportunidade de participação de todos na vida do Estado, que é o instrumento comum da ação social.

 

Não celebramos, hoje, uma vitória política. Esta solenidade não é a do júbilo de uma facção que tenha submetido a outra, mas festa da conciliação nacional, em torno de um programa político amplo, destinado a abrir novo e fecundo tempo ao nosso País. A adesão aos princípios que defendemos não significa, necessariamente, a adesão ao governo que vamos chefiar. Ela se manifestará também no exercício da oposição. Não chegamos ao poder com o propósito de submeter a Nação a um projeto, mas com o de lutar para que ela reassuma, pela soberania do povo, o pleno controle sobre o Estado. A isso chamamos democracia!”

Na cerimônia de transmissão do cargo, no Palácio do Planalto, o presidente João Figueiredo, seguindo sugestão de Leitão de Abreu, então chefe da Casa Civil, não compareceu, não passando a faixa presidencial a José Sarney. Isto, porque Sarney entraria no exercício do cargo como substituto e não como sucessor. Gervázio Batista, então fotógrafo oficial do Palácio do Planalto, foi responsável pela entrega da faixa ao novo presidente.

Em 28.06.1985, Sarney cumpriu promessa de campanha de Tancredo Neves e encaminhou mensagem ao Congresso Nacional propondo convocação da Constituinte, que resultou na Emenda Constitucional 26, de 27.11.1985. Eleitos em novembro de 1986 e empossados em 1º.02.1987, os constituintes iniciaram a elaboração da nova Constituição brasileira de 1988.

Em meio a grande comoção nacional, em especial porque Tancredo Neves era o primeiro civil eleito presidente da república desde 1960, quando Jânio Quadros foi eleito presidente, e era o primeiro político de oposição ao regime militar a ser eleito presidente da república desde o Golpe Militar de 1964. Assumiu a Presidência da República o vice José Sarney, encerrando período de seis governos conduzidos por militares. O Brasil, que acompanhara tenso e comovido a agonia do político mineiro, promoveu um dos maiores funerais da história nacional. Calculou-se na época que, entre SP, Brasília,  e São João del-Rei, mais de dois milhões de pessoas viram passar o esquife. Coração de Estudante, canção do cantor mineiro Milton Nascimento, marcou o episódio na memória nacional. Em 21.04. 1986, exatamente um ano após a morte de Tancredo, foi sancionada a lei 7465/1986, determinando que Tancredo Neves deve estar na galeria dos Presidentes do Brasil, para todos os efeitos legais. Assim, apesar de Tancredo não ter tomado posse, a lei garantiu a ele o título de Presidente da República.

(Conclui na próxima semana)

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