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Dinheiro e o poder da confiança

Por Arthur Lessa 22/02/2021 - 06:31

“Um milhão de reais em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro”. Frase célebre do comunicador e empresário Senor Abravanel, o Silvio Santos.

Eu não vou tratar abaixo sobre o motivo de ouro valer mais que as onças, garoupas e, recentemente, lobos que tanto gostamos de receber, mas sim do porquê de o dinheiro valer alguma coisa.

Pra quem tem pressa, resumir a resposta afirmando que “porque sim” pode ser válido. O dinheiro vale porque sabemos que ele vale. Se não soubéssemos, não valeria nada.

Pense na seguinte situação: o dono de uma pizzaria de um pequeno município está atendendo normalmente quando, por uma pizza de R$ 45, recebe de um cliente uma nota de US$ 10. Se ele acompanha os noticiários com certa frequência, atento à oscilação da moeda americana, pode aceitar o “câmbio forçado” por conta do ganho que teria (são R$ 55, se considerarmos uma cotação de R$ 5,50) e da própria popularidade do dólar. Todo mundo conhece, ou já ouviu falar, da principal moeda do mundo.

Porém, se seguirmos o mesmo exemplo, mas no lugar do dólar é lhe oferecida uma nota de 100 kroner (cem coroas norueguesas, cerca de R$ 60), ele aceitaria? Se não estiver planejando uma viagem para os fiordes escandinavos, certamente não. E o motivo é simples: ele nunca viu esse pedaço de papel, não conhece nenhum lugar onde possa trocar por produtos nem quanto vale. Ou seja, é um pedaço de papel bonito, mas sem valor.

Os exemplos acima ajudam a explicar um termo que você já pode ter ouvido, mas não sabe o significado: fiduciário. Segundo os dicionários, é a característica de algo “cujo valor depende somente da confiança a ele dispensada”.

E o motivo para isso é que, se o sistema monetário de um país é lastreado em algum material com valor intrínseco (como ouro), o mesmo que garante validade à moeda engessa o crescimento econômico. Em caso de necessidade de emissão de mais dinheiro para oxigenar a economia - como aconteceu muito recentemente por conta da pandemia - seria necessário encontrar uma nova jazida para minerar mais ouro para lastrear mais moeda.

- Sugestão de leitura sobre o assunto: Crash: Uma breve história da economia
- Confira a edição 006 do Toda Sexta

Talvez você nunca tenha pensado nisso. Possivelmente causou um certo desconforto chegar à conclusão de que uma nota de dinheiro nada mais é que um pedaço de papel que promete um valor, não diferente de um cheque ou uma promissória. E é basicamente isso mesmo.

Ainda sobre o exemplo da pizzaria, para facilitar a visualização, foquei nas notas de dinheiro. Mas mesmo elas estão ficando cada vez menos participativas no giro dos negócios. Hoje nosso dinheiro é contado em sinais elétricos e dados de computador. Sabemos quanto temos de “valor acumulado pra trocar” olhando em aplicativos e sites de internet banking. Pura confiança.

 E tudo indica que, com a inserção cada vez maior das contas digitais, do Pix e das criptomoedas (ainda tão nebulosas para muitos), as próprias notas e moedas tem pouco tempo. Esse movimento deve contribuir para uma mudança importante de relação das pessoas com o dinheiro.

Não foque no dinheiro em si, em cofres cheios onde é possível nadar como o Tio Patinhas, mas sim no esforço que criou este valor. Seja o quanto vale o seu tempo, conhecimento e experiência, no caso do trabalho, e quanto seu estudo e disciplina reverte ganhos nos investimentos.

- Para saber mais sobre a história do dinheiro, recomendo o livro "Crash"

[este texto foi publicado na edição 007 do Toda Sexta, em 06/11/2020]

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